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Padre Cesar Estudo Sobre o Vale Do Amanhecer
Padre Cesar Estudo Sobre o Vale Do Amanhecer
NA
APRECIA
ÇÃO DO
PADRE CÉSAR
O Padre José Vicente César foi um estudioso da Doutrina do
Amanhecer, acompanhando de perto os trabalhos de Tia Neiva, participando
de reportagens e avaliações desde o início do Vale do Amanhecer, fazendo
observações criteriosas e pertinentes não só em publicações no Brasil como
no exterior, principalmente na Alemanha.
Temos algum material produzido pelo Pe. César, inclusive uma fita cassete
contendo palestra que o Pe. César fez na Universidade de Brasília, sobre o
Vale, e as imagens dele quando do desencarne de Tia Neiva.
A T U A L I Z A Ç Ã O
Revista de Divulgação Teológica Para o Cristão de Hoje.
EDITORA O LUTADOR
DIREÇÃO E ADMINISTRAÇÃO:
Rua Irmã Celeste, 185, Bairro Pe. Júlio Maria Caixa Postal 2428 30000 –
Belo Horizonte, MG
INTRODUZINDO
1 . Um Assunto quase inteiramente original, que só recebeu
cuidados publicitários por parte de algumas revistas ilustradas, mais
na base de informações leves e fotos/documentários, além de notícias
rápidas da imprensa de Brasília, praticamente confinada ao DF,
merece hoje um primeiro artigo de fundo do Pe. José Vicente César,
SVD, diretor do Instituto Anthropos do Brasil. Com rigor científico, o
antropólogo mineiro, residente em Brasília, tem pesquisado, já vai
mais de um ano e meio seguido, o fenômeno ao mesmo tempo social,
religioso, comportamental, antropológico, do “Vale do Amanhecer”.
Vamos publicar uma série de três artigos sobre o assunto, Este
primeiro tenta historiar o fenômeno, mostrando suas origens,
descrevendo o local, o Templo, alguns ritos, assim como estudando as
figuras-chave do „movimento‟: Mário Sassi, o „intelectual‟ do “Vale do
Amanhecer” e o sistematizador de sua “Doutrina”, e Tia Neiva, a
vidente, ou como prefere dizer o Sr. Mário Sassi a “Clarividente”, que
deu início a todo aquele movimento, em torno à qual se centraliza a
fenomenologia e a „revelação‟ da Doutrina do Vale. O artigo nos
pareceu interessantíssimo, sobretudo quando se considera que uma
das preocupações maiores da Pastoral Católica atual é a religiosidade
popular. Nos artigos seguintes o Autor fará um estudo da doutrina e
fenomenologia, numa profundeza e objetividade que está fazendo ficar
admirado o próprio Mário Sassi, com quem o Pe. Vicente César tem
mantido contato freqüente e esclarecedor, com o qual tem conferido
inclusive na fonte, as interpretações que dá.
A DIREÇÃO.
O VALE DO
AMANHECER
Pe. José Vicente César.
PARTE I
INFORMAÇÕES GERAIS
BIBLIOGRAFIA
No mais, cumpre salientar que existe abundante bibliografia a
respeito do Vale e da Doutrina do Amanhecer, principalmente nos
jornais diários da Capital Federal. Foi escrita inclusive uma dissertação
de mestrado, apresentada em 31 de agosto deste ano de 1977 ao
programa de Pós–Graduação em Antropologia Social do
Departamento de Ciências Sociais da Universidade de Brasília. A tese
que leva o título de “A Cura no Vale do Amanhecer”, tem como autora
Ana Lúcia Galinkin sob orientação do professor Roberto Cardoso de
Oliveira. Deixando de lado os muitos erros de linguagem nela
contidos, faz mister lê-la com reservas e “cum granu salis”, porquanto
o mais capacitado informante sobre a Doutrina do Amanhecer, Mário
Sassi, não concorda com várias asserções da pesquisadora da
Universidade de Brasília. De molde a evitar polêmicas não entraremos
em apreciação de trabalhos já publicados a respeito do Vale do
Amanhecer, restringindo-nos tão-somente ao que se pode averiguar
em fonte segura e fidedigna. Os folhetos e livros, todos publicados
pela Editora Vale do Amanhecer, são redigidos pelo “Intelectual” Mário
Sassi:
I. PERSONAGENS DA “HISTÓRIA”
Quem passa pelo VALE DO AMANHECER, sem tomar
conhecimento ou travar contacto com seus dois líderes religiosos e
carismáticos, corre risco de pouco ou nada entender de como funciona
e pode funcionar todo aquele ecletismo de atividades „para
religiosas’. O fenômeno não surgiu da noite para o dia, mas teve sua
própria evolução histórica com um surpreendente desenvolvimento
para tão curto espaço de tempo. De acordo com o líder intelectual da
Vale do Amanhecer, Mário Sassi (1977:1), o movimento doutrinário e
religioso como tal, remonta fundo na história num “caminho percorrido
pelos Espíritos... veteranos neste Planeta, todos com 19 ou mais
encarnações, juramentados ao Cristo e que se especializaram no
trabalho de socorro, em períodos de confusão e insegurança”. Trata-
se de “ciclos embora variáveis em termos de contagem do tempo” que
se repetem a cada dois milênios, havendo séculos intermediários com
interpretações de fases. Por exemplo: estes últimos três séculos da
bimilenária Era Cristã estariam explodindo em “fantásticas conquistas
sócio-econômicas” embora perdendo notoriamente em questão de
humanismo e solidariedade Cristã. Ante a assim chamada “morte
civilizatória” surgem os anseios da alma humana em torno de bases
mentais “mais firmes, mais calcadas na imortalidade da civilização”.
“Atender a essa necessidade, é exatamente a finalidade e a missão
desse grupo de espíritos, que aparecem sob a égide da Vale do
Amanhecer” (ib. p. 2).
PARTE 2
Introduzindo
1 . Publicamos em nosso último número a 1ª parte de um
trabalho exaustivo de pesquisa e interpretação, do Pe. José Vicente
César, SVD, diretor do Instituto Anthropos do Brasil, com sede em
Brasília, sobre o fenômeno sócio-religioso do “Vale do Amanhecer”.
Hoje, publicamos a 2ª parte do estudo. Este, muito mais
exigente, pois o Pe. César se impôs à tarefa nada fácil de articular,
esclarecer, dividir sistematicamente e interpretar a “Doutrina do
Amanhecer”. O trabalho dele, de cunho estritamente científico, procura
ser o mais objetivo possível, apolêmico, descritivo, permitindo-se
apenas aqui e ali algumas pequenas observações sobre incoerências,
contradições, imprecisões, enganos dos “Mestres” ou “Doutrinadores”
do Vale. Na prática, toda a doutrina vem através de Tia Neiva que
recebe as „revelações‟ por meio de vozes ou visões, ou nítidas
inspirações.
A Doutrina do Amanhecer é um sincretismo espírita-católico-
hindú-indígena-africano. As fontes de pesquisas são relativamente
abundantes e originais, porém de árduo manuseio. O mérito principal
do trabalho que publicamos está na organização das idéias. Mas há
outra coisa: o Pe. César, no seu afã de objetividade, tem ido
freqüentemente ao Vale e conferido pessoalmente com Mário Sassi e
Tia Neiva tudo o que escreveu. Suas interpretações estão, pois,
“sacramentadas”, aprovadas pelo Doutrinador e pela “Clarividente”.
Apesar de mais metodicamente ordenadas, o ecletismo enorme que
permeia a Doutrina do Amanhecer, torna a leitura meio árdua. Para o
estudioso, porém, um manancial riquíssimo.
2 e 3. (...)
I I - A DOUTRINA DO AMANHECER
Associada à médium Dona Neném, que a ajudou no
desenvolvimento de suas forças espirituais e mediúnicas, Tia Neiva
funda no Núcleo Bandeirante de Brasília a UNIÃO ESPIRITUALISTA
SETA BRANCA (UESB), registrando-a em cartório a 4 de julho de
1959. Neste mesmo ano, recebe a Clarividente ordens de cima para
se mudarem de localidade, procurando um ambiente rural. E se
transferem para Serra do Ouro, próximo a Alexânia, km 73 da Estrada
Federal BR-060 que liga Brasília
a Anápolis, onde a rodovia faz
“sete curvas” dentro de
majestoso panorama.
Acompanharam-nos as quarenta
crianças que a entidade atendia
de maneira precária através da
generosidade de amigos e
admiradores. Em Serra do Ouro
montaram farmácia, pequena
serraria, produção de farinha, além de um sistema de hospedagem
oferecida aos clientes que deveriam submeter-se a tratamento mais
prolongado, o que tudo em proveito da manutenção dos órfãos
indigentes.
Em 1964, Dona Neném separa-se de Tia Neiva, rumando para
Goiânia onde estabeleceu seu próprio grupo de “trabalhos espirituais”.
Neiva Chaves Zelaya, acompanhada de seus quatro filhos, uma nora,
quatro famílias e as quarenta crianças retornam ao Distrito Federal,
fixando-se em Taguatinga (Lote 15 – QNC 11), onde funda a ORDEM
ESPIRITUALISTA CRISTÃ, que em cartório a 15 de abril de 1964,
leva o nome oficial de OBRAS SOCIAIS DA ORDEM
ESPIRITUALISTA CRISTÃ. “Neste mesmo ano – as informações são
de A. Lúcia Galinkin (1977:28) – iniciaram a construção de um Templo
em um outro lote, distante três quadras da residência, cujo direito de
posse fora comprado pela Ordem Espiritualista Cristã, e em 25 de
maio do ano seguinte (1965) inauguraram o Templo, para onde
transferiram os trabalhos espirituais”. Em 15 de dezembro de 1966 a
entidade jurídica LAR DAS CRIANÇAS DE MATILDE, recebeu registro
em cartório e no Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), sob o
nº 244.741/67. Em 1973 foi a mesma instituição declarada de utilidade
pública pelo Governo do Distrito Federal.
Passados quatro anos em Taguatinga, perde a Ordem
Espiritualista Cristã o direito à posse do terreno por ela ocupado. Em
1969 insistem os mensageiros espirituais de Tia Neiva que volte para
a zona rural e, neste mesmo ano e começos de 1970, instala-se a
Ordem Espiritualista Cristã ao sul da cidade de Planaltina, no local da
antiga Fazenda Mestre D‟Armas, de Francisco M. Guimarães,
desapropriada em 1948, quando já se planejava a transferência da
Capital Federal para o Planalto Central. De Galinkin (1977:1) ainda se
colhem estas informações: “O fazendeiro F.M. Guimarães obteve dos
órgãos competentes o direito de arrendamento de uma extensão de 22
alqueires ao redor da sede da fazenda; quando a Ordem religiosa teve
autorização do proprietário para ocupar o terreno, tentou comprar este
direito de arrendamento, o que foi negado pelos órgãos oficiais”.
Permanece, pois, certa expectativa por parte dos moradores que
já estão construindo casas de alvenaria e definitivas ao redor do
Templo do Amanhecer. Por fim dar-se-á um “jeito brasileiro” na
situação. Além disso, o Vale do Amanhecer dispõe (em suas casas
rústicas e pobres), de água encanada, de energia e luz da Companhia
de Eletricidade de Brasília (CEB).
Funcionam também uma escola com 200 alunos, dirigida pela
Secretaria de Educação do governo do Distrito Federal, algumas
lanchonetes (com preços razoáveis sem nenhum propósito fraudulento
de explorar os freqüentadores e clientes do Vale), oficina mecânica
(desde que são numerosos os veículos que lá acorrem), salão de
costura, pomar, lavoura, etc. Além do Amanhecer no Distrito Federal,
há outros Templos (que Sassi denomina “físicos”) em Minas Gerais:
Abaeté, Pirapora e Unaí; em Goiás: Alvorada do Norte, Anápolis e
Luziânia; em Pernambuco: Olinda; no Amazonas: Manaus. A
Clarividente e o Intelectual, entretanto, manifestam-se contra a
proliferação de tais Templos, por isso que reafirmam o propósito de
não estarem criando nova religião. Cerca de quinze mil médiuns se
acham inscritos no fichário do Vale, e comprometidos a certo número
de horas de trabalho Espiritual dentro de seus muros. Não percebem
nenhum provento pelos serviços prestados. A própria Tia Neiva,
recebe através do Banco Real, uma pensão de viúva no valor de
apenas Cr$ 509,02. O orçamento financeiro do Vale do Amanhecer
gira em torno de cem mil cruzeiros mensais.
Em todas as publicações escritas se insiste que aos clientes e
médiuns, fora dos limites do Vale do Amanhecer, não é exigido
nenhum compromisso de comportamento moral ou social. Isto
constitui ponto pacífico, confirmado a mim pessoalmente pelo Sr.
Mário Sassi. Mães solteiras, prostitutas, desquitadas, amigadas
conjugalmente participam ativamente dos serviços e ofícios.
Concernente às meretrizes (insignificante minoria no Vale),
cumpre advertir que, exatamente na vizinha cidade de Planaltina,
funcionam “legalmente” os únicos bordéis do Distrito Federal,
profissão preexistente no lugar cuja continuidade foi reivindicada pelas
autoridades locais como „conditio sine qua non‟ para a vida econômica
do antigo município. Intra muros não se serve nenhuma espécie de
bebida alcoólica. Aos médiuns e demais filiados ao serviço
permanente do Vale, é rigorosamente defeso, também fora de casa,
mesmo em festas sociais, a ingestão de qualquer líquido espirituoso.
Neste contexto cabe recordar que “Seu Mário”, em sua vida
pregressa, descendente de italianos, apreciava mesa farta, regada de
vinhos generosos e outros licores. Aliás, em conversa com ele, percebi
que conta com inumeráveis casos de alcoólatras cujo
restabelecimento neurovegetativo sucede praticamente irrecuperável.
* * *
“O Vale do Amanhecer é uma comunidade Espírita de Brasília,
fundada a quase dois decênios. Nesse recanto Espiritual não existe
preocupação em provar a existência dos Espíritos ou contacto com
Eles. Esses fatos são traduzidos em resultados palpáveis, para os
quais nenhuma ciência ou teologia tem explicações. Mas a Missão do
Vale não é fazer doutrina, fundar religião, congregar prosélitos ou
profetizar. A missão tem sido tão somente atender angustiados que
procuram alívio”.
Assim consta na orelha da primeira capa, interna do livro de
Mário Sassi “Dois mil: A Conjunção de Dois Planos”, 2ª edição -1976.
Os grifos são nossos e salientam os elementos chaves seguintes:
Trata-se de ideologia espírita ou espiritista; as curas espirituais obtidas
no Vale são resultados palpáveis, inexplicáveis pelos conhecimentos
atuais da Ciência, não se deseja fazer doutrina, etc. na realidade
existe a “Doutrina do Amanhecer”, o fenômeno tem aparência de
religião organizado com prosélitos, apóia-se prenúncios de um terceiro
milênio com data marcada para 1984 e faz “profecias” sobre
terremotos e assuntos políticos (“Correio Brasiliense” de 18/09/1977;
cf. também Mensagem nº 2, que reflete a de 31/12/1972, 1976:24. O
ponto culminante, porém, está no atender angustiados... ou sejam as
“curas” ocorridas, os “milagres” do Vale. Como argumentava o próprio
Cristo Jesus: “se não acreditais em mim, acreditai ao menos em
minhas obras” (João, 10,38;14,11).
Os adeptos ou, pelo menos alguns deles como Mário Sassi
(1976 “Dois Mil: A Conjunção de Dois Planos”, p.31 e ss.), vivem a
convicção de estarem preparando a humanidade para o fim da Era
Crística, e entrada no terceiro milênio: “Daqui partirá a preparação
correta dos fatos extraordinários que irão ocorrer nos dias que se
seguirão. Aqui seremos os porta-vozes do Espírito da Verdade, que
tão alto falou através de Kardec. Não advogamos exclusivismo, nem
julgamos sermos os únicos portadores das mensagens celestiais.
Apenas proclamamos nossa autenticidade espiritual, nossa dedicação
integral à ajuda aos nossos semelhantes e ausência de qualquer
interesse, seja pecuniário ou doutrinário.”
“Ninguém tem qualquer obrigação para conosco; nós é que
temos obrigações para com a Humanidade. Neste livro seremos os
portadores das notícias de um povo de outro planeta, apelidado por
nós de „O Planeta Monstro‟ devido ao seu tamanho em relação à
Terra. Seus habitantes são gente como nós, espíritos ocupando
corpos físicos. São moleculares, mas sua composição é diferente da
nossa”.
Planeta Monstro é a Estrela Capela, a maior da constelação do
Cocheiro ou Auriga, e das mais gigantescas até hoje divisadas.
Conhecida também pelo nome de Cabra, está situada no hemisfério
celeste boreal, não longe do Touro e dos Gêmeos. O papel deste
Astro descomunal que Sassi (1976:32; 1977:28) designa como
„Planeta Monstro‟, revela-se de suma importância para correta
inteligência da filosofia do Amanhecer. Preside os destinos da Terra
desde o princípio, estabelecendo variados contactos com os
„terráqueos‟, intensificados e „materializados‟ de acordo com as
necessidades cá de baixo. “Todos os espíritos encarnados na Terra –
Acentua Sassi (1977:28) – vieram de Capela e um dia retornarão para
este Mundo. Os Capelinos são físicos, embora não se possa afirmar
que sejam da nossa natureza física. Sabemos apenas que sua forma
é semelhante à nossa, ou melhor, nós nos assemelhamos a eles”.
“Entre Capela e a Terra existem os „planos intermediários‟, que
também poderiam ser chamados de „lugares‟ ou „etapas‟, da trajetória
dos espíritos que vêm ou que vão nesse percurso entre dois pontos
físicos”. Aí os espíritos se revestem de corpos adequados às leis dos
mencionados planos, sendo denominados precariamente de „corpos
etéricos‟ ou estado etérico. Forçando uma explicação, conclui o
próprio Seu Mário “que os espíritos viajam mas os seus corpos físicos
não”, revestindo-se então de corpos etéricos, „extra-sensoriais ou
paranormais‟
Após minhas advertências
sobre o risco de atribuir
importância religiosa aos „Discos
Voadores”, o intelectual do Vale
procura minimizar esses
„fenômenos‟ de fantasia popular.
Em todo o caso, porém, não
poderá negar que seus escritos
andam inçados desses
aparecimentos duvidosos. É sua
esta reflexão de 1977 (p.28/29) :
“O registro no campo
consciencional das atividades
etéricas, é feito de maneira
diferente das atividades sensoriais;
ele é feito e traduzido para a percepção e elaboração mental de
acordo com dados pré-existentes no banco de memória cerebral. Por
esse fato básico é que as coisas do Céu são concebidas de acordo
com as coisas da Terra. Portanto, não existe coisa mais terráquea do
que os Discos Voadores que „comprovadamente‟ são „vistos‟.
E prossegue mais adiante na mesma preocupação; „Se os seres
que se apresentam com suas naves forem apenas espíritos da Terra,
isto é, espíritos desencarnados que habitam o etérico da Terra, eles
são os construtores dessas naves e podem ser vistos e apalpados,
uma vez que são materiais ou materializados; se porém forem Seres
de Capela eles serão vistos apenas pela visão etérica – também
chamada de mediúnica – uma vez que essa é a maneira natural de se
relacionarem conosco, maneira essa que não interfere com a Lei da
Terra e respeita o livre arbítrio do Homem‟.
Existem portanto, espíritos da Terra, materiais ou materializados,
desencarnados, no âmbito „etérico da Terra‟ – e os “Seres de Capela”
perceptíveis tão somente pela visão mediúnica, donde surge
comumente confusão entre os dois fenômenos mercê de nossa
ciência „limitada pelo conceito bi-polarizado de positivo e negativo, e
não sabe que esses dois pólos se fundem num só, chamado espírito‟.
Neste contexto, merece explicação a doutrina espírita em torno
do ectoplasma, termo criado pelo fisiologista francês Carlos Roberto
Richet (1850-1935) para designar algo fluido e misterioso que se
desprenderia do corpo dos médiuns em transe, donde o fenômeno das
„materializações‟ dos fantasmas. Em anatomia ou fisiologia, o
ectoplasma, como significa o próprio nome grego é um a camada
periférica de transparência vítrea, envolvendo a zona central da célula
ou endoplasma. Ectoplasma é o mesmo que exoplasma.
Os Capelinos do sr. Mário e da Tia Neiva manipulam energias
mais sutis que nosso ectoplasma, podendo manifestar-se fisicamente
agora, como o fizeram outrora. “Esse dispêndio energético entretanto
não é feito pelo simples fato de que sua mensagem pode ser e é
transmitida pelo processo mediúnico, como foi dito acima, o qual não
dispensa a participação voluntária do Homem, não interferindo assim
no seu livre arbítrio, nem com as leis do planeta” (Sassi 1977:30).
As naves de capela são chamadas pela clarividente de
“Chalanas” e “Estufas”, diferentes em forma e constituição dos falados
„Disco Voadores‟, segundo ela, freqüentes nas visões bíblicas. E o
argumento dessas naves fantasiosas ocupa o cerne da Doutrina do
Amanhecer, interpretando o „jogo‟ preparatório do iminente Terceiro
Milênio. Senão vejamos o que escreve sr. Mário em 1976 (2000 – A
Conjunção de Dois Planos‟, pp.32/33): “Os Capelinos virão ajudar na
difícil e catastrófica passagem deste milênio para o próximo...”como
socorristas, para nos conduzir através dos desastres físicos, psíquicos
e espirituais que se abaterão sobre nós nos próximos 20 ou 30 anos...
Seus aparelhos irão causar assombro... Basta imaginar, por exemplo,
um imenso aparelho metálico sulcando os céus em velocidade
fantástica, com resultados danosos para as aerovias, as
comunicações e o equilíbrio da atmosfera, para termos uma idéia do
que pode acontecer...Os pólos da Terra se aquecerão e o gelo neles
contido irá se derreter. A imensa quantidade de água resultante irá se
derramar pelos Continentes e com isso os mares mudarão de
posição...” – Aliás, a maioria desses fenômenos se deram no correr de
milhões de anos da história da Terra, continuam se sucedendo
normalmente, quase que de maneira imperceptível tal a lentidão da
natureza. A migração dos pólos, v.g., é fato aceito pacificamente pela
ciência, conhecido desde o começo do século. Mas voltemos aos
líderes do Vale: “O ser humano dos próximos 30 anos será um
excepcional, e nisso os nossos amigos de Capela irão nos ajudar
muito. Seus missionários já estão prontos para a tarefa e suas
vanguardas já estão ativas em muitos pontos da Terra...Na verdade
eles estão fazendo muitas experiências, na busca da melhor forma
para sua presença na Terra. Os „Discos Voadores‟ são amostra disso.
Entre eles e nós existe um plano intermediário, o Plano Etérico. O
problema deles é manipular as forças e homogeneizá-las em cada
plano: o deles, o etérico e o nosso. Sua maior atividade atual reside na
preparação dos seres que irão habitar a Terra no terceiro milênio.
Milhões de seres humanos freqüentam suas escolas e vão sendo
preparados para o futuro, mas esses seres não têm consciência disso
na sua memória física; sabem-no pela sua mediunidade, sua
inspiração... Esses alunos de Capela são os que procuram amar o
próximo desinteressadamente, os missionários de todas as categorias,
os precursores das idéias novas”.
Muito mais ainda se poderia falar a respeito do planeta monstro
Capela, cuja importância na mundividência (Weltanschauung) do Vale
do Amanhecer os temas subseqüentes demonstrarão à farta.
2. Conceitos fundamentais
No estabelecimento e precisação dos elementos básicos da
Doutrina do Amanhecer, não se perca de vista que o sr. Sassi é o
intérprete oficial das coisas todas que Tia Neiva julga ver e perceber
em seus transportes místicos e mediúnicos. Tratando-se de pessoa
muito lida e experimentada, forçoso é admitir que as visões da
Clarividente passam por alguma reelaboração. Assim, nem sempre se
pode averiguar o que seja mensagem de Tia Neiva ou elucubração do
„Intelectual‟. Donde o estilo desta pesquisa, escorada à medida do
possível em literatura escrita e já dada a lume. O complexo ecletismo
da Doutrina do Amanhecer não permite esclarecer tudo e todos os
conceitos de uma só penada, num único capítulo. Doravante é que o
paciente leitor irá se informando de idéias, de termos e conceituações,
citados aqui e acolá.
O subjetivismo, a carência de lógica do Espiritismo do
Mediunismo e, no caso, do Vale do Amanhecer, é reconhecida pelo
próprio Mentor (Sassi 1974:87/88) de Tia Neiva: “A vidência é
mediunidade interpretativa; o que o vidente vê, ele é obrigado a
traduzir em imagens e palavras compreensíveis aos de fora de sua
vidência. Não há, portanto, maneira alguma de ser comprovado...
Quem então terá condições de interpretar uma orientação espiritual
com autenticidade? A resposta é única: O Doutrinador. Somente este
médium tem condições de interpretação correta de uma mensagem,
pelo simples fato de que seu raciocínio normal é iluminado pela sua
mediunidade. O Doutrinador ouve, lê, compara e sintetiza com muito
maior possibilidade de isenção”. Analisemos todavia alguns conceitos
à maneira de como apresentados nas publicações do Vale.
b) Reencarnação e Mediunismo
a) Hierarquia celeste
Caboclos – Reencarnações de
espíritos indígenas com funções
análogas às de Pretos Velhos, um
pouco mais rudes e fortes quando
incorporados. Alguns nomes
masculinos: Tupã, Sete Flechas,
Caboclo das Pedreiras,
Tupinambá...Femininos: Cabocla
Jurema, Janaína, estas com grandes e
belos retratos nos painéis do Templo.
Médicos do Espaço ou
Espirituais – Formados em Medicina
na Universidade do Espaço. Eis alguns
nomes famosos na história: José de
Arimatéia, Juliana Lindemberg, Eurípedes Bastos, Dr. Fritz (Zé Arigó
em Congonhas, Minas Gerais), José Sarrasseno, Ana Maria, José
Queirós – Segundo Galinkin (1977: 59). Mas corrige M. Sassi:
Espíritos não trabalham no Vale do Amanhecer, pois pertencem à
falange dos Kardecistas. Informação pessoal, em 20-2-78.
b) Hierarquia terráquea
Planaltina – Brasília.
Rodovia - DF- 15 UNAÍ – MG.
A A 6
9
8 7
1
11
3
5 Pombal 10
4
NORTE 2 SUL
TEMPLO.
A – Muros .
1 – Residência de Mário e Tia Neiva.
2 – Castelo das Mensagens.
3 – Creche.
4 – Estrela de concreto armado.
5 – Toca do Pequeno Pajé. – Estrela Candente.
6 - Futebol.
7 – Rodoviária.
8 – Oficinas Mecânicas.
9 – Escola.
10 – Casas de alvenaria.
11 – Residências dos Médiuns. + ou – 500 metros p/ a “extensão do
Templo” ou “Estrela Candente”.
OESTE .
Nota: Estes dois Gráficos ilustram a descrição do “Vale do Amanhecer “ (Gráfico I), e o “Templo do Vale” (Gráfico II).
Esta descrição saiu em o Nº 93 / 94 de ATUALIZAÇÃO.
GRÁFICO I I NASCENTE.
Defumador Divindades
de mescla inferiores
do campo. da Índia.
Oráculo
de Pai Radar.
Seta Elipse (Comando)
Branca. Meias
Luas.
Mesa Evangélica.
NORTE Presença DIVI NA.
SUL .
Castelo 00
da Água. Pira. Castelo dos
Indução. Aparás.
POENTE.
TEMPLO – VALE DO AMANHECER – BRASÍLIA – DF. 1977 / 78.
ANTROPHOS DO BRASIL
PARTE 3
I I I . A LITURGIA DO VALE
Conjuntura ímpar, facultada pelo Vale do Amanhecer ao
pesquisador, é dispor de um informante intelectualmente preparado,
pessoa equilibrada e aberta a profícuas discussões em todos os
campos de “seu Reino Espiritualista”, o Sr. Mário Sassi, sempre pronto
e lesto, paciente em esclarecer, sem se alterar, nos pontos de
inumeráveis dúvidas com que se defronta alguém interessado em
penetrar os escrínios daquela organização. Apesar das incessantes
mudanças, levantadas com freqüência pela Clarividente sobre planos
e realizações da Ordem Espiritualista Cristã, o secretário-geral vai
conseguindo coordenar todo um sistema ideológico extremamente
complexo sem resvalar em aparentes e desagradáveis contradições.
Mercê de sua benevolência, é que este despretensioso estudo vem
assumindo um caráter de inesperado aprofundamento não previsto de
início.
Ao redigir esta terceira parte (fins
de fevereiro de 1978), chegaram-me ao
alcance mais algumas fontes escritas
sobre a Doutrina do Amanhecer, que
serão, evidentemente, aproveitadas e
emalhetadas no presente contexto,
embora alguns desses dados se
enquadrassem com melhor propriedade
em capítulos anteriores. Além do
material impresso, temos também o
falado, continuamente renovado através
de longos e contínuos contactos com o
Vale em demoradas conversas com M.
Sassi e Tia Neiva. Possuímos os
folhetos com as mensagens de fim de
ano do Pai Seta Branca, em 31 de Dezembro de 1976 e 1977, ambas
perpassadas de terrores apocalípticos, cabendo aos “Jaguares do
Amanhecer”, escudados por Jesus a heróica missão de impedir “a
força dos irrealizados cavaleiros milenares, que vem cavalgando na ira
de uma vingança desproporcionada”. Os adeptos do Vale serão “os
primeiros conquistadores do limiar do Terceiro Milênio”. A mensagem
de 1977, além dos cavaleiros apocalípticos “da guerra, da discórdia,
das enfermidades”, registra uma frase de conceitos discrepantes (os
grifos são nossos): A fé sem a Ciência é o perigo iminente do espírito
empreendedor nesta Era Atual, enigma intraduzível do homem
piedoso, inseguro, que, distante da crença, é lançado às velhas
estradas, destruindo sua personalidade, renunciando às conquistas e
permanecendo em suas crenças, perdendo-se na busca real do
caminho, e se distanciando de suas origens e de seus mundos
colonizados”. Avalie-a o leitor mesmo.
Todavia a aquisição de maior vulto foi a do “Manual de
Instruções, para os Médiuns da Corrente Indiana do Espaço”,
impresso no Serviço Gráfico do Senado Federal em 1972. Trata-se da
1ª edição impressa, já que uma mimeografada correra em 1970 com o
novo Título NO LIMIAR DO III MILÊNIO, arrolada no começo deste
estudo. O cotejo das duas edições impressas, assume valor peculiar
por apresentarem modificações de monta na Doutrina do Amanhecer,
o que se aduzirá nos respectivos contextos.
A missão primordial do Vale identifica-se com prestar
atendimento sobretudo espiritual aos necessitados de alívio,
propiciando ao “homem angustiado e inseguro, uma explicação de si
mesmo e um roteiro para sua vida imediata” (Sassi 1977:2). Portanto
faz-se mister uma palavrinha inicial sobre as doenças e suas possíveis
causas que os “liturgos” da Tia Neiva procuram, através de energias
mediúnicas, detectar e sanar. Doença é falta de saúde, anormalidade
física ou psíquica, que perturba o estado da pessoa. “As alterações
psicológicas tanto podem ter sua origem num fato expresso
conscientizado, como num fato inconsciente ou subliminar” (Sassi
1974:57). Nem a medicina tradicional nem a psiquiatria conseguem
explanar satisfatoriamente os mistérios do inconsciente e
subconsciente, donde a necessidade das práticas mediúnicas que
desta ou daquela maneira, são cumpridas na quase totalidade das
religiões conhecidas.
Teriam as enfermidades, pela teoria do Amanhecer, sua etiologia
num plano invisível, no campo do plano físico. O espírito como tal se
acha isento de doenças, mas pode ser portador delas. “Ao reencarnar,
ele traz, na sua „memória‟, o esquema de outras encarnações e se
liga, pelos corpos invisíveis, aos déficits energéticos de sua „cota‟ e
procura fazer ressarcimento” (ib.). Sob este aspecto o mal-estar passa
a ter sentido educativo, como parte do mecanismo cármico, e coerente
com a situação atual do planeta. Neste argumento, além da conhecida
tríade corpo-alma-espírito, insiste o intérprete do Amanhecer na
existência do livre arbítrio que, neste caso, significa o pleno uso da
razão (pp. 58/59). Uma criança que ainda não atingiu o uso da razão,
quando doente, causa mais sofrimento a seus pais e parentes que a si
mesma. A morte “em nada afeta seu espírito, mas atinge muito o
espírito dos pais”. Os menores de idade “não têm vida mediúnica da
mesma forma que não têm autonomia sócio-econômica”. Somente os
adultos possuem “livre arbítrio em condições de viver uma dor” ou
evitá-la pelo trabalho espiritual. Deixando o campo espiritual das
enfermidades cármicas, até “programadas”, ocorrem também outros
fatores, cármicos de algum modo, provocadores de doenças, como
sejam: “viver numa região insalubre ou trabalhar em condições” que
lhe são favoráveis, não se perdendo de vista ser a “Terra um Planeta
de retificação dos espíritos, e os destinos particulares de cada
espírito”.
Esgotados os
recursos médicos
para os males
físicos, mentais e
sociais, busca,
então, o paciente
angustiado alívio
junto ao espiritismo
que lhe acena com a
solução pelo fator
transcendental,
aspecto em que o
doente passa a ser
visto como um reencarnado, com existência antes do nascimento
neste mundo e – depois de morto. De per si deveria o espiritismo
circunscrever-se ao campo afeto aos fatores transcendentais, mas na
realidade as enfermidades se confundem, dada a unidade do ser
humano. Concluem seguros os espíritas que o mediunismo soluciona
o problema, apresentando-se como “traço de união entre a Ciência
Médica e a Ciência Espiritual” Sassi (1972, Manual de Instruções, p.
32).
1. Sacerdócio mediúnico.
Num dos primeiros contactos pessoais com Mário Sassi, foi ele
dizendo que sua vida no Vale do Amanhecer era como de um
sacerdote, dedicado inteiramente, dia e noite, ao serviço dos
necessitados. Tanto o Intelectual como a Clarividente levam realmente
uma vida pobre, repleta de desprendimentos, cheia de sacrifícios e
mesmo de angústias financeiras, pois não é nada fácil manter obras
sociais e de assistência espiritual gratuitas sem rendas financeiras
estáveis, dependendo-se de dotações oficiais e da boa vontade dos
médiuns.
Todo o trabalho do Vale se baseia na mediunidade, técnica de
manipulação de energias espirituais de origens e conteúdos ainda
pouco precisos e determinados do mundo psíquico. Estas forças extra-
sensoriais parecem alimentadas pela própria energia animal do
organismo, recebendo as denominações de ectoplasma, fluído ou
magnético animal. A mediunidade constitui uma “arma de Deus”, uma
espada de dois gumes, que defende mas também pode prejudicar a
quem dela faz usos indevidos, é um “espinho atravessado na carne”.
Cada ser humano carrega consigo um “turbilhão de energias”, de
forças desconhecidas, uma combinação de fatores diversíssimos e
incalculáveis que o tornam único e incomparável em sua
individualidade. Em antropologia dizemos: cada homem constitui um
mistério ou enigma a ser estudado e considerado à parte. A Doutrina
do Amanhecer mostra preferência pelos termos “indivíduo,
individualidade”, procurando eliminar o de “personalidade” mais ao
saber da teologia aristotélico-tomística para as explanações do
mistério de Deus Uno, e Trino nas pessoas.
O Vale só conhece duas “classes” de médiuns: Doutrinadores e
Aparás, os primeiros caracterizados pela “tônica cerebral”, oriunda na
predominância do sistema nervoso ativo, os Aparás com a tônica
neurovegetativa das regiões inferiores do corpo, aptos para os
fenômenos da incorporação. Tanto um, como o outro, operam em
qualquer tipo de trabalho do Templo, e é de acordo com isso que
recebem um “guia assistente”. Os guias dos Aparás no plano espiritual
acima da faixa reencarnatória, chamam-se espíritos de luz,
preparados em escolas para se manifestarem como “Pretos-Velhos”,
“Caboclos”, “Médicos”, etc. Um mesmo médium exercita a função nos
“Tronos” com seu Preto Velho ou Preta Velha, na Linha de Passe com
seu Caboclo, ou na Sala de Curas com seu Médico.
Os Doutrinadores possuem, do mesmo modo, seus guias mas
com outra ordem de idéias, de vez que lhes cabe a responsabilidade
total do trabalho durante a manipulação mediúnica. Seus guias são as
sete Princesas, de que houve fala no capítulo do “Pai Seta Branca”,
“espíritos fidalgos, são os que se preocupam com o sentido doutrinário
da Lei de Jesus, os que ensinam a pescar”. As 7 princesas, todas
crioulas ou mestiças, com exceção de Janaína que é portuguesa, têm
nomes de origem indígena: Iracema, Iramar, Janaína, Janara, Jandaia,
Jurema e Juremá; Janaína denomina outrossim, Iemanjá, origem
africana, mãe d‟água dos Iorubas, correspondendo às várias
invocações de Nossa Senhora no culto Católico.
No Vale do Amanhecer sobressaem três categorias de pessoas:
os clientes, pacientes ou doentes, os Aparás como instrumentos de
comunicação dos espíritos e os Doutrinadores, que são os
responsáveis pela pureza da comunicação, ou seja desse intercâmbio
espiritual. Para uma mais profunda inteligência do fenômeno
mediúnico, damos o esquema das funções psicofísicas como
aparecem no Manual de Instruções (1972, página 21) :
Estômago. Sofredores.
Solar Fígado. Magia – Negra.
Umbilical. ou Rins. Obsessão.
Epigástrico. Ovários.
Testículos.
Baço.
Pâncreas.
Bexiga.
1ª - Passagem de sofredores;
2ª - Cura de doenças;
3ª - Comunicações;
4ª - Passes;
5ª - Desobsessão;
6ª - Psicografia automática;
7ª - Materialização;
8ª - Transporte;
9ª - Desdobramento, desenvolvimento com fonia.
* * *
Os médiuns de ambos os sexos, inscritos e fichados na Corrente
Indiana do Espaço, em serviço regular no Vale do Amanhecer de
acordo com seus cronogramas e rituais, são chamados missionários, e
se têm na conta de sacerdotes em analogia com outras confissões
religiosas. Missionários de outros credos, particularmente da Igreja
Católica, merecem os Líderes do Vale toda estima e respeito,
considerados como grandes heróis e mensageiros da paz e do amor
de Deus. Intra muros, no recinto do Vale, o médium só esteja a serviço
dos necessitados: “Não tente ser amigo nem admita ser inimigo de
ninguém... Seja apenas o médium e evite ser o cidadão. O médium
não faz negócios, não namora, não discute futebol, nem pede dinheiro
emprestado...”(Fasc. 1, 1977: 25).
O Sol e a Lua e o número sete, simbolizam “algo de sagrado” na
devoção do Vale do Amanhecer.
Completando a
descrição inicial do Templo,
resta realçar o centro
geométrico do recinto, onde
se sente a Presença Divina
entre a Pira Sagrada e a
Mesa Doutrinária. Ali, no
“Sanctum Sanctorum”, diante
da Imagem de Jesus Cristo, o
Caminheiro, está
representada a Terra,
ladeada pelo Sol e pela Lua.
Por detrás das leves cortinas transparentes e discretamente
iluminadas, figuram os sete (7) planos do Homem, espírito encarnado
com 7 Raios de forças. Em seu corpo físico, os sete (7) “Plexos e
respectivos Chakras”. “O círculo maior destaca o Plexo Solar com seu
chakra Umbilical. As duas taças representam o sangue que fornece o
ectoplasma. As duas setas, uma subindo e a outra descendo,
simbolizam a macrocirculação... As estrelas simbolizam Maianti e as
nossas casas transitórias” (Fasc. 3, 1977:81). No Solar dos Médiuns
ou extensão do Templo ao ar livre levanta-se imponente e radiosa
uma gigantesca imagem dourada do Sol Nascente com sete raios,
cada qual com sete linhas que “Alimentam o Planeta Terra”, elementos
sidero-magnéticos catalisáveis pelos médiuns consoante a capacidade
espiritual de cada um. Relembre-se que as Princesas somam também
sete, preenchendo uma das sete linhas de um Raio solar. Mário Sassi
e Tia Neiva são o sétimo de um sete, posições únicas no Vale,
significando que completam uma “linha” de representação crística na
Terra. Propriamente falando, não se filiam a nenhuma falange: ela
“Mestre Jaguar Lua” recebendo ordens diretas de Pai Seta Branca, e
executando-as através da falange de Nityamas, Magos e Aparás; ele
“Mestre Jaguar Sol, Tumuchy número único”, interpretando as
mensagens, como chefe dos Doutrinadores.
1. Classes hierárquicas.
As posições
“hierárquicas” dos
médiuns no Vale do
Amanhecer são criadas
para eles no sentido
estrito e radical do
serviço evangélico do
“vim para servir, e não
para ser servido”. Os
cargos apresentam-se
como verdadeiros
encargos, cargas de trabalho gratuito e voluntário em favor dos
necessitados e angustiados. Os postos foram criados para os
médiuns, e não estes para aqueles. Cada qual, situado num ponto da
longa trajetória de seu espírito, se engaja em determinada missão que
escapa a qualquer apreciação humana: como médium ele atua em
individualidade transcendente, libertando-se de sua personalidade
transitória de cidadão. A caridade evangélica – mandamento máximo
Sistema Crístico – consubstancia-se na Lei do Auxílio, razão de ser da
Doutrina do Amanhecer. Despertadas as heranças energéticas
adormecidas no íntimo do ser humano, vai o principiante,
paulatinamente, revelando suas afinidades com os diversos tipos de
trabalho, donde se formam as falanges dos médiuns, nascidas
espontaneamente, quando então a Clarividente, e só ela
pessoalmente, as classifica, conferindo a cada um sua “Placa” de
ofício.
O critério de conglomeração de grupos ou falanges não deriva
de suas personalidades presentes, transitórias – de vez que se
patenteiam suas disparidades no campo econômico e social –, mas
remontam às suas “origens” no mundo dos espíritos ao qual o médium
se vê vinculado desde o início de sua carreira encarnatória. De acordo
com as tendências espirituais de cada indivíduo, os médiuns se
agrupam em falanges ou, melhor, “Linhas” de trabalho na missão da
Lei do Auxílio, não havendo, portanto, organização hierárquica
propriamente dita. Naturalmente se dá o caso de estas linhas
comporem em seus quadros com maior ou menor número de
participantes, duas delas, de Tia Neiva e Seu Mário, com um único
indivíduo: Primeira Mestra Sol Jaguar e Primeiro Mestre Sol Tumuchy
sem falanges neste planeta. O que, cabe realçar, não os diferencia
dos demais colegas, a não ser na função sagrada de servir.
b) Falanges Especializadas
3. Cura Espiritual
a) Tratamento Mediúnico
1-Existentes
Intencional no caso de Específico 1- Existentes -
“Obsessor” Amor, Amizade, (Ajudar, ou estarem na (quem Pessoas que se
Ódio Prejudicar). mesma faixa se entrega à entregam ao
vibracional; bebida, à vício
2- drogas, às 2- Amigos ou
Inexistente ações vis). inimigos.
c) Angical
Na primeira parte
deste estudo, no capítulo
de Pai Seta Branca, houve uma ligeira referência ao topônimo
ANGICAL para onde se teriam retirados escravos e outros
aventureiros – Gongá de Mãe Tildes – parece uma fazenda da ex-
escrava Matildes. Tratando-se embora de uma região no atual
território baiano, onde existe uma cidade e município com este nome,
até o presente, a Clarividente não “revelou” o local daquele antigo
arraial do Império. O argumento inteiro da participação africana nas
doutrinas e ritos do Amanhecer, remonta fundo na história, começando
pela América antecolombiana. Mário Sassi está convencido de que, há
20 ou 25 mil anos, floresceu uma pujante civilização em Yucatan no
México, cujos habitantes manipularam tremendas energias (como
hoje, as nucleares) que, irracionalmente desencadeadas, os
destruíram. Cumpre, todavia, observar que a presença do Homem em
terras americanas, embora tenha acontecido para lá de 50 ou mesmo
100 mil anos, é considerada recente. No caso da península de
Yucatan a arqueologia só nos fala da cultura dos Mayas, ao tempo de
Cristo, ergueram na região grandes marcos monólitos com inscrições,
v.g., as do sítio Caminaljuyú, denominados estelas, “stela” em
castelhano. Mais anciãs, porém menos conhecidas são as culturas
Izapa e La Victória, retrocedendo até um milênio antes da nossa Era.
Sigamos, entretanto, as ponderações do Intelectual: Os Íncolas
de Yucatan conservaram recolhidos e ocultos estupendos
conhecimentos que foram parar na África Central junto à cabeceira do
rio Nilo. Houve uma longa preparação a fim de que tais “planos” ou
conhecimentos pudessem ser revelados, e isto se deu através da
escravidão negra que entrou no Brasil, trazendo as energias e
sabedorias dos “Pretos Velhos”, resignados com o destino, nada
obstante tivessem poder misterioso capaz de destruir seus patrões e
algozes. “No Congá , é que se ocultava a verdadeira Ciência, fato não
explorado pelo sociólogo Gilberto Freyre em suas publicações” –
finaliza M.Sassi (22,20,78).
Angical – É um trabalho tradicional do Vale do Amanhecer,
realizado exclusivamente pelos Médiuns, duas vezes por mês,
oportunidade que lhes vem sendo facultada de libertar seus
“cobradores espirituais”. Deriva-se, parece, de uma antiga
“encarnação” passada no Brasil Português ou Imperial, ocasião em
que numerosos integrantes dessa „corrente‟ se encontram no sítio
acima referido e – discutido. Nos últimos tempos, como pude verificar
em fevereiro de 1978, houve alguma situação crítica na organização
de seus „trabalhos‟ no Vale, provavelmente já superada.
Outra expressão muito comum entre os seguidores da Doutrina
do Amanhecer é a do Retiro ou Plantão. Estão de “Retiro” os médiuns
da Corrente Indígena (*) do Espaço presentes no recinto do Vale,
particularmente nas imediações do Templo e do Solar dos Médiuns,
em trajes rituais, à disposição da clientela que por ventura comparecer
em dias não destinadas ao atendimento público, como sejam:
segunda, terça, quinta e sextas-feiras. Os médiuns, todos devem
“fazer Retiro” uma vez por mês pelo menos. Os que moram
extramuros, desobrigam-se geralmente desse preceito nos dias de
“Trabalho Oficial”, quarta-feira, sábado e domingo, quando então
inúmeros pacientes acodem ao Vale em busca de solução para seus
problemas e angústias. O ritual e horário do atendimento nos dias de
“Retiro”, são basicamente o pouco antes descrito, mais simplificado
evidentemente.
d) Hinos Mântricos
Mayanty, Mayanty
Do Astral Superior
Tu que És refúgio
De enfermeiros do Senhor.
CONCLUSÕES
O Vale do Amanhecer impressiona em todos os sentidos, pelo
simples fato de tratar-se de uma realidade, uma experiência religiosa
ou de cunho espiritual atraindo a seus portões, mensalmente, cerca de
70.000 (setenta mil) pessoas à busca de alívio para suas angústias e
de remédio para suas dores. A maioria dos visitantes ou clientes,
pertencem às camadas pobres e deserdadas da população, sem
veículos próprios de locomoção, tendo de quedar-se lá, em meio a
muito desconforto, cinco e mais horas até que sejam atendidos,
cumprindo todo o extenso e complexo ritual da “cura espiritual”. Pois,
convém acentuar, o tratamento mediúnico do Amanhecer é
exclusivamente espiritual. A beber ou ingerir, somente a água
cristalina das fontes “fluídicas” nas bicas e torneiras do Templo.
Divergências sérias na doutrina e na práxis ritual ou mesmo na
administração material dos bens da comunidade, parece-me, não
existem. As poucas que têm ocorrido, foram atalhadas com facilidade
mercê a liderança inconteste de Tia Neiva, a Clarividente. A confiança
na autenticidade da Doutrina e sua viabilidade prática pairam acima de
qualquer dúvida, por isso que toda a “práxis”, antes de
institucionalizada, é aplicada e vivida voluntária e descontraidamente
por todos.
Humanamente falando, revela-se incerto e inseguro o futuro da
obra de Neiva e Mário Sassi, como incerto e volúvel é o “modus
vivendi” de ciganos, ainda que “espirituais”, por quem se querem
ambos passar: penúrias monetárias, contas fechadas nas instituições
financeiras. O que tudo tem induzido a lançar-se mão de recursos em
negócios de loteamento de terrenos, cujos proventos mantenham ao
menos, as obras sociais de assistência às crianças lá recolhidas.
Outro elemento marcante que pervaga o Vale é o da sinceridade
entre todos, líderes, médiuns e mais humildes servidores. Reina
naturalmente muita credulidade, ingenuidade mesma, inexplicável em
pessoas lidas e cultas como Mário Sassi e o livreiro luso José Manuel
dos Anjos Soares Guedes. Então a convicção com que o “Intelectual”
narra suas experiências espirituais e mediúnicas, a manipulação das
forças sidero-magnéticas, é de deixar o pesquisador abasbacado,
desorientado. Ele e a Clarividente mostraram-me grandes fotografias
coloridas de cerimônias realizadas no Solar dos Médiuns, em que
aparecem lindos raios de linhas brilhantes como se misteriosas faíscas
elétricas brotassem do solo. Interessante como pessoas inteligentes,
grandes gênios da Humanidade, com o apagar dos anos, na velhice,
demonstram tendência a aceitar fatos extra-sensoriais. Que Tia Neiva
esteja convicta de tantos fenômenos “espirituais”que se passem com
ela, a gente admite, visto tratar-se de mulheres, por natureza
inclinadas a acreditar em fenômenos preternaturais. Mas, no caso do
Sr. Sassi, resta um verdadeiro mistério difícil de ser deslindado.
Ele vive a pobreza evangélica em todos os riscos da
interpretação do Poverello de Assis: Sobriedade, frugalidade,
abstenção de bebidas alcoólicas. Moram em construções rústicas com
miseráveis instalações higiênicas, falta de esgotos, numa palavra, uma
existência de favelados.
O Milenarismo ou, mais propriamente, o bimilenarismo não
representa papel decisivo na realização da Doutrina do Amanhecer,
como pudesse parecer pela literatura publicada até o momento. Do
mesmo modo a data de 1984, prefixada para término da Era Crística e
concomitantemente, início da terceira fase de atuação do Vale, ou seja
o desencadear do Sistema Iniciático-Científico, não inspira cuidados
aos corifeus Neiva e Mário que interpretam mais flexível e menos
rigidamente esta determinação calendarística. Da parte dos adeptos
quase ninguém se preocupa com leituras e especulações deste
gênero – queixa, aliás, de seu Mário.
* * *
SALVE DEUS!