Você está na página 1de 36

Notas de Aula 1.

Introdução
Microeconomia

Anderson M. Teixeira

Economia

Março, 2018

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 1 / 36


Objetivo e Introdução
O objetivo dessas notas é oferecer o material de acompanhamento
para as aulas de Microeconomia 1 do curso de Economia da
Universidade Federal de Goiás (UFG). Essas notas acompanham e
complementam o curso. O propósito da disciplina é fornecer uma
base microeconômica sólida, que será extensivamente usada em
outras disciplinas de economia.
Os temas dessas notas são:
Teoria do Consumidor
Teoria da Firma
Equilı́brio Parcial
Essas notas tem base em diversas fontes. Algumas são notas dos
seguintes professores: José Guilherme Lara Resende (Principal fonte),
Rodrigo Penaloza, Gil Riella, Kevin Murphy (University of Chicago), e
Gary Becker (University of Chicago). Porém, essas notas é um
material de acompanhamento didático e não têm nenhum objetivo em
substituir a leitura obrigatório do livro texto básico.
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 2 / 36
Guia Matemático
Esse guia tem como objetivo apresentar o instrumental matemático
mı́nimo para o desenvolvimento do curso. Recomendo fortemente
uma revisão cuidadosa dos capı́tulos mencionados abaixo.
Matemática para Economistas. Alpha C. Chiang e Kevin
Wainwright. Elsevier. 2006.

Cap.6 - Estática Comparativa e o Conceito de Derivada;


Cap.7 - Regras de Diferenciação e sua Utilização em Estática
Comparativa;
Cap.8 - Análise Estática Comparativa de modelos de Funções gerais;
Cap.9 - Otimização;
Cap.11 - O caso de mais de uma variável;
Cap.12 - Otimização com restrições de igualdade;
Cap.13 - Tópicos adicionais de Otimização;
Cap.14 - Cálculo Integral;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 3 / 36
Introdução: O escopo da Economia

Vamos discutir o ”escopo” e o ”método” da microeconomia;


A ênfase do curso é compreender a ”rationale” das decisões dos
agentes econômicos;
A primeira pergunta que se apresenta no curso é: O que é
economia?
Existem várias definições, porém a mais utilizada pelo economista é:
”economia é o estudo da alocação dos recursos escassos”;
É uma definição bastante abrangente e capta a essência do que a
economia pretende estudar: ”entender como os agentes econômicos
se organizam para lidar com a escassez”.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 4 / 36


Introdução: O escopo da Economia

Vivemos em um mundo com recursos escassos e com demandas quase


ilimitadas: todos gostariam de possuir residências, casas de campo e
de praia, barcos, aviões particulares, automóveis importados, etc;
Infelizmente, não existem recursos naturais, capital e tecnologia para
produzir todos os bens e serviços desejados por todos;
Então é necessário estabelecer critérios para decidir que bens e
serviços serão produzidos, em que quantidades serão produzidos, e
por fim, quanto desses bens e serviços caberá a cada pessoa;
O mecanismo de alocar recursos escassos às pessoas (agentes) é o
cerne da ciência econômica;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 5 / 36


Introdução: O escopo da Economia Introdução
A ciência econômica procura estudar a sociedade a partir da
perspectiva do indivı́duo;;
Por hipótese fundamental tomamos a idéia de que as ações dos
indivı́duos são munidas de propósitos;
Visão mais especifica: Chamaremos de visão de economista a uma
visão de uma questão das ciências sociais baseadas em três
ingredientes:
(i) Otimização; (ii) Equilı́brio e (iii) Eficiência;
Para determinar a alocação ótima dos recursos, a economia precisa
estudar o comportamento dos agentes no ambiente econômico.
Existem dois tipos e agentes: consumidores/famı́lias e as firmas;
Podemos inserir um terceiro o Governo;
O estudo dos agentes econômicos, no âmbito individual é o objetivo
de estudo da microeconomia;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 6 / 36


Acões das famı́lias e das firmas na economia

Os consumidores manifestam suas ações na economia por intermédio


de suas demandas, isto é, da quantidade de cada bem que desejam
comprar;
Eles manifestam suas demandas ao buscar obter a satisfação máxima
a partir de sua riqueza e dos preços dos bens e serviços disponı́veis
para consumo;
As firmas manifestam suas ações na economia por intermédio de sua
demanda por insumos ou fatores de produção e por sua oferta de
bens e serviços produzidos;
Elas manifestam essas demandas e ofertas procurando maximizar seu
lucro a partir da tecnologia de que dispõem para produzir o bem
ofertado e dos preços dos insumos que compõem o bem ofertado;
Essas ofertas e demandas são representadas no mercado;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 7 / 36


O Mercado

As quantidades demandadas e ofertadas por cada agente dependem,


portanto, dos preços dos bens e insumos;
O mercado funciona cotando preços e verificando as quantidades
ofertadas e demandadas a cada preço;;
Quando a quantidade ofertada iguala a quantidade demandada,
dizemos que o mercado está em equilı́brio
Existem vários mercados na economia, pelo menos um para cada bem
ou serviço;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 8 / 36


Análise Econômica: Positivismo Lógico de Friedman
A análise econômica pode ser classificada como positiva ou normativa;
A análise de economia positiva descreve o comportamento dos
agentes e os resultados da interação entre os comportamentos dos
agentes;
A análise de economia normativa estuda como os resultados
deveriam ser e o que fazer para obtê-los;
Por exemplo, um modelo de economia positiva constata que existe
monopólio em algum setor da economia;
A economia normativa estuda como este monopólio atinge a
sociedade e o que pode ser feito para corrigi-lo.
Um outro exemplo pode ser dado com o salário mı́nimo. A análise
positiva pode constatar que a existência de salário mı́nimo aumenta o
desemprego. Uma análise normativa pode recomendar a elevação do
salário mı́nimo ou a diminuição do salário.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 9 / 36


Princı́pios Básicos que norteiam a Teoria Econômica:
Microeconomia
Existem dois princı́pios básicos por detrás da economia neoclássica,
que fundamenta a microeconomia;
O primeiro é o comportamento maximizador dos agentes
econômicos/comportamento otimizador/otimização, sujeito a
restrições (devido há escassez de recursos);
Uma questão mais delicada é estabelecer o que é melhor, ou o que é
percebido como melhor;
Em geral, aqui não há julgamento de valor, mas simplesmente a idéia
de que as pessoas são capazes de hierarquizar opções;
Na maior parte do que se segue estaremos supondo que as pessoas
são racionais, i.e., que têm uma estrutura de preferências racional; (a
ser definida com precisão ao longo do curso) e que escolhem a
alternativas preferida de acordo com esta estrutura de preferências
dentre as alternativas viáveis;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 10 / 36
Princı́pios Básicos que norteiam a Teoria Econômica:
Microeconomia
O segundo é o princı́pio de Equilı́brio. Naturalmente, os indivı́duos
(pelo menos a grande maioria dos indivı́duos) não agem em
isolamento;
Queremos entender a forma como as decisões individuais interagem de
forma a determinar à forma como a sociedade aloca recursos escassos;
Usamos o conceito de equilı́brio para expressar a situação em que
dadas todas as ações e reações possı́veis dos agentes, eles não
encontram nenhum incentivo para mudar suas decisões;
Assim, podemos, passar da ação individual para o resultado social;
Finalmente a ideı́a de Eficiência. Eficiência para nós será sempre
eficiência no sentido de Pareto: uma situação tal que não é possı́vel
melhorar ninguém sem piorar alguém; (tema do curso de
microeconomia 2).

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 11 / 36


Princı́pios Básicos que norteiam a Teoria Econômica:
Microeconomia
Por detrás desses princı́pios está a idéia de racionalidade dos agentes
econômicos. Racionalidade em economia não significa a exclusão de
comportamentos prejudiciais ao próprio indivı́duo, como fumar ou
usar drogas;
OBS: Gary Becker, Michael Grossman e Kevin Murphy mostram que
o cigarro é viciante e prejudicial os autores formulam a idéia - ”vı́cio
racional”. Os viciados analisam os custos e os benefı́cios de consumir
tal bem. Para eles, o benefı́cio (prazer momentêneo) seria maior do
que os custos (possı́veis doenças no futuro). Ou seja, os indivı́duos
reconhecem a natureza viciante de algumas de suas escolhas, mas as
fazem baseados na ideia de que os ganhos provenientes excedem os
custos existentes (Dana e Almeida, 2017);
Os agentes econômicos são racionais no sentido de que suas ações são
coerentes com a busca da sua felicidade ou de seu propósito, mesmo
que essa busca resulte em um comportamento prejudicial à pessoa ou
à sociedade;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 12 / 36
Economia de Mercado
Uma economia onde o sistema de preços opera livremente, isto é, os
preços se movem sem impedimento, é chamada de economia de
mercado;
O sistema de preços é dee fundamental importância na alocação dos
recursos de uma sociedade. Ele provê informação e incentivos que
coordenam a decisão de milhares de consumidores e produtores (esse
ponto foi argumentado por Hayek, em seu artigo The use of
knowledge in society, American Economic Review, 1945).
Cada agente econômico precisa conhecer apenas os preços dos
produtos que afetam o seu objetivo. Para isso se diz que a economia
é ”descentralizada”;
Cada agente decide o que consumir ou produzir, sem a existência de
um ”ente” que coordene as suas ações. Apesar da falta aparente de
coordenação, a forma de mercado ”Competição Perfeita é eficiente
do ponto de vista econômico. Está é a famosa ”Mão invisı́vel de
Adam Smith
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 13 / 36
Mercado como mecanismo de alocação de recuros

Duas razões preponderam a favor do mercado como mecanismo de


alocação de recursos;
Primeira:Numa economia centralizada, o planejador central precisa
conhecer todas as preferências dos consumidores e as tecnologias das
firmas para decidir o que e quanto produzir;
Já numa economia de mercado competitiva, cada consumidor precisa
conhecer apenas suas preferências e os preços dos bens e serviços
Por sua vez, cada firma precisa saber a tecnologia e os preços dos
insumos utilizados no processo de produção, bem como o preço dos
bens e serviços que ela produz - esses preços são dados pelo mercado;
Portanto, existe uma economia fantástica de informação ao utilizar o
mecanismo de mercado e decisões descentralizadas para alocar
recursos escassos;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 14 / 36


Mercado como mecanismo de alocação de recursos

Segunda razão é que, como os consumidores desejam pagar o menor


preço possı́vel pelos bens e serviços, eles compram apenas de
empresas que podem ofertar mais barato - as que podem oferecer
produtos e serviços a preços inferiores por terem tecnologia mais
avançada ou pagarem menos pelos seus insumos;
Por outro lado, como as empresas querem vender pelo preço mais
caro, elas venderão para os consumidores dispostos a pagar mais pelo
bem ou serviço - aqueles que atribuem o maior valor ao bem;
Na economia de mercado os bens são produzidos pelos produtores
mais eficientes e consumidos pelos consumidores que atribuem o
maior valor ao bem.
”Mão invisı́vel” de Adam Smith, onde cada agente, agindo de
maneira egoı́sta e visando apenas ao seu próprio bem, num mercado
competitivo, acaba gerando o bem comum.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 15 / 36


Condições mı́nimas para o modus operandi da Mão Invisı́vel
Para que a ”mão invisı́vel” de Adam Smith funcione, são necessárias
algumas condições, como ausência de externalidades, ausência de
poder de mercado, entre outras. Quando estas condições não são
válidas, dizemos que existe uma falha de mercado (as falhas de
mercado discutidas abaixo serão temas de um curso de microeconomia
2 e outros cursos, tais como Economia do Setor Público).
Uma Externalidade ocorre quando a decisão de um agente afeta as
preferências de outros consumidores ou as tecnologias de outras
firmas.
Exemplos de externalidades - Poluição é um exemplo de
externalidade, Quando o seu vizinho quer ouvir musica alta até tarde
da noite e você deseja dormir cedo por ter um compromisso na
manhã do dia seguinte, logo o mercado não irá funcionar bem;
E preciso a ação do estado, por meio de normas juridı́cas e a ação da
polı́cia, para garantir a aloação do direito ao silênciio de maneira
correta
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 16 / 36
Condições mı́nimas para o modus operandi da Mão Invisı́vel

Outro exemplo é quando uma grande fábrica polui o rio que abastece
de água potável uma comunidade. Neste caso, há necessidade de
regulação ambiental para garantir alto nı́vel de bem-estar para a
comunidade;
Poder de mercado: ocorre geralmente quando existe um ou poucos
produtores de um determinado bem. Isto é muito comum nos
mercados de infraestrutura água encanada e esgoto sanitário,
eletricidade, transportes, telefonia e um problema sério no Brasil
Crédito);
Deixadas livremente, as fı́rmas operadoras nestes mercados podem
elevar demasiadamente seus preços, muito além do ótimo social;
A presença do estado, através da regulação de preços, pode melhorar
a alocação desses bens e serviços para a sociedade.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 17 / 36


Microeconomia e os modelos
A microeconomia faz uso constante de modelos econômicos. Modelos
são simplicações da realidade que ajudam a entender um problema
complexo;
Um ”bom” modelo explica o problema em maõs, sem complicações
desnecessárias. Um mapa rodoviário é um ”bom” modelo, pois
simplifica a realidade (tamanho muito menor do que a área original) e
serve ao propósito desejado: indicar ruas e direções;
Portanto modelos são simplificações não realistas do mundo que
servem para entender como o mundo funciona;
Navalha de Occan: é uma regra para a escolha entre modelos: se
temos dois modelos que explicam o mesmo fenômeno da mesma
maneira, escolhemos o modelo mais simples (dentro do possı́vel é
claro!);
Importante: Ou seja, não necessariamente o modelo mais realista é
melhor, mas sim o modelo mais simples. Portanto julgamos um
modelo pela capacidade de suas previsões e não pelo realismo de suas
hipósteses.
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 18 / 36
Postulados Básicos da Economia
Algumas idéias são primordiais no raciocı́nio econômico e seu claro
entendimento facilita a compreensão de diversos modelos econômicos.

Postulado 1: Escassez
Escassez significa que os recursos da sociedade são limitados. É impossı́vel
todos terem todas as coisas que querem. Sem escassez não existe
problema econômico.

Quando se toma uma decisão econômica, geralmente se paga alguma


coisa, devido à escassez de recursos;
Um indivı́duo, ao vender uma casa, paga em bens, entregando a casa,
Jà o indivı́duo que compra a casa, paga em dinheiro. Qual o custo de
comprar a casa? qual é o custo de comprar um i-phone? O valor
pago? Esta é uma primeira aproximação, mas o custo pode incluir o
tempo da negociação, a perda de renda que o valor pago pela casa ou
celular poderia render em aplicações alternativas, etc;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 19 / 36
Postulados Básicos da Economia
Mas, em algumas desições econômicas, o custo do bem pode ser
muito diferente do valor pago. Por exemplo, qual o custo de se fazer
uma graduação?
O custo da mensaliade é apenas um dos custos, mas no caso de vocês
a UFG é gratuita;
Mas o sacrifı́cio de não poder trabalhar ou trabalhar em horário
reduzido (ser estagiário ou bolsisa) gera grande perda de renda
corrente, e este custo pode ser bastante elevado;
O verdadeiro custo de algum bem ou serviço é o valor da melhor
alternativa de uso dos recursos utilizados para se adquirir esse bem;
o custo de uma universidade pública gratuita, que só oferece cursos
diurnos e com horário disperso ao longo do dia, pode ser muito maior
que o custo de uma universidade privada noturna, mesmo com
mensalidade alta. Este custo econômico é chamado de custo de
oportunidade.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 20 / 36


Postulados Básicos da Economia
Postulado 2: Escolha (Trade-off)
Escassez impõem a necessidade de escolher entre alternativas possı́veis. Se
queremos produzir mais de um bem, teremos que produzir menos de outro
bem. A palavra tradeoff ilustra essa situação em que para se obter alguma
coisa deve-se sacrificar outra.

Um casal tem diversos programas para fazer no domingo: ir ao


cinema, ao teatro ou visitar amigos. A escolha de um programa
implica não realização de outros. Os economistas usam a frase ”não
existe almoço grátis ” para ilustrar a profundidade dos tradeoffs.
Muitas vezes alguém nos convida para um almoço gratuito, mas, na
verdade, não é! sacrificá-se outras oportunidades eg. vê a Premier
League!
Se o almoço ”grátis” é oferecido por alguém que quer obter algo do
convidado, então, pode-se até medir mais facilmente o verdadeiro
custo do almoço ”grátis”;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 21 / 36
Postulados Básicos da Economia

Outros exemplos: Familia tem que decidir entre reformar o apt ou


comprar um carro novo;
As firmas estão, também, sempre se defrontando com tradeoffs. Uma
situação clara de tradeoffs é quando uma firma tem recursos e
necessita decidir se investe em aperfeiçoamento da linha de produtos
atuais ou no desenvolvimento de uma nova linha de produtos;
Dois tradeoffs são bastante importantes por envolverem toda a
economia: O tradeoff entre canhões e manteiga” e o tradeoff entre
”eficiência e equidade.
O tradeoffs entre canhões e manteiga é uma metáfora sobre a escolha
que a sociedade tem que fazer sobre quanto investir em segurança e
quanto investir na produção de alimentos. Quanto mais investir em
segurança, menos se tem para investir na prudução de alimentos e
vice-versa.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 22 / 36


Postulados Básicos da Economia
O tradeoff entre eqüidade e eficiência ocorre porque geralmente, para
a sociedade obter eqüidade, deve sacrificar a eficiência e, se for
escolhida a eficiência, geralmente terá que sacrificar a equidade;
Por exemplo, se todos ganharem a mesma remuneração,
independentemente do cargo e dedicação ao trabalho, pouquı́ssimas
pessoas irão querer ocupar os cargos de maior responsabilidade ou
dedicar-se-ão com afinco às suas tarefas. O resultado é a queda de
produção, ocorrendo grande perda de eficiência;
Por outro lado, para se gerar eficiência, deve-se remunerar muito bem
as pessoas altamente produtivas e inventivas, pois elas produzem
riqueza para a sociedade.
Todavia, essa diferenciação de remuneração pode levar à excessiva
desigualdade social, e o governo pode tentar diminuir essa
desigualdade por meio de impostos; Um exemplo concreto é o
imposto de renda progressivo. O resultado é uma maior eqüidade
social, porém pode acarretar em uma perda de eficiência;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 23 / 36
Postulado Básicos da Economia

Outro exemplo se dá quando a sociedade introduz o


seguro-desemprego. O seguro-desemprego reduz a desigualdade de
renda entre o empregado e o desempregado, porém, reduz a pressa
com que o desempregado busca emprego, causando perda de eficiênci;
Um outro tipo de tradeoff vem ganhando proeminiência nos tempos
atuais. Para reduzir a poluição, há necessidade de leis que elevem os
custos das firmas poluidoras.
Com isto, seus produtos ficam mais caros e menos bens são
produzidos. Todavia, o uso indiscriminado e sem controle ambiental
pode também deteriorar seriamente a qualidade de vida da sociedade;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 24 / 36


Postulado Básicos da Economia

Postulado 3: Comportamento Individual Maximizador


Os agentes econômicos tomam decisões com algum objetivo em mente, e
essas decisões são tomadas para se alcançar esse objetivo.

Ressaltamos nesse postulado a idéia de individualidade;


A razão para estudarmos agentes individuais e não grupos é prática;
Existem teorias bem estabelecidas sobre o comportamento individual,
enquanto a teoria de comportamento em grupo não é tão bem
desenvolvida. Isso não é razão para não estudarmos decisões em
grupos. Pelo contrário, decisões em grupo são fundamentais em
macroeconomia e em certos campos de microeconomia.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 25 / 36


Postulado Básicos da Econoia

Postulado 4: Substituição
Substituição significa que as pessoas estão dispostas a fazer as escolhas
que a escassez de recursos exige. Esse postulado diz que entre quaisquer
dois bens A e B que desejamos, estamos dispostos a abrir mão de um
pouco de A para receber um pouco de B. Esse postulado pode soar
inócuo, porém é bastante geral: estamos dispostos a abrir mão de um
pouco do bem A para recebermos um pouco do bem B, quaisquer que
sejam os bens A e B.

Essa substituição normalmente envolve pequenos incrementos dos


bens;
Esses pequenos incrementos são chamados de marginais pelos
economistas;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 26 / 36


Implicações dos Postulados

As pessoas e firmas tomam decisões dependendo dos custos e


benefı́cios destas decisões. Assim, se houver alteração nestes custos e
benefı́cios, as decisões se modificam;
Portanto, podem ser colocados incentivos na economia para induzir
as pessoas ou firmas a tomarem certas decisões;
Por exemplo, se o preço do combustı́vel aumentar, os consumidores
reduzem o uso do automóvel.
O reconhecimento de que os agentes econômicos (pessoas e firmas)
respondem a incentivos é de fundamental importância em economia.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 27 / 36


Implicações dos Postulados
Por exemplo, o desenho de polı́ticas públicas deve levar em conta que
as pessoas podem alterar seu comportamento devido a uma nova lei,
e essa mudança pode ter efeitos não desejáveis;
Os Estados Unidos, nos anos 20, se interessaram em reprimir o
consumo de bebidas alcoólicas, onde um dos objetivos era diminuir a
criminalidade, pois se argumentava que esta vinha muito em parte
acompanhada pelo uso abusivo da bebida;
Todavia, os agentes econômicos responderam a esta repressão via
aumento da produção e distribuição ilegal de bebida e, com o
incremento da renda das atividades ilegais (agora com o novo
mercado de bebidas alcoólicas compondo o grupo destas atividades
ilegais), veio o aumento do crime organizado, mais perigoso que os
crimes gerados pelo excesso de consumo de álcool;
Resultado lı́quido para a sociedade da redução de um grande número
de pequenos crimes provocados por bêbados e o aumento dos crimes
violentos provocados pelo aumento do crime organizado não é fácil de
ser determinado,mas os EUA rapidamente desistiram de tal lei;
Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 28 / 36
Exemplo do Problema Econômico de Escassez

Suponha uma economia que produz dois bens apenas, X e Y. Na


figura abaixo abaixo, a quantidade do bem X é mostrada no eixo
horizontal e a quantidade do bem Y é mostrada no eixo vertical.
Dados os recursos limitados (terras, número de trabalhadores, fábricas
existentes, etc) dessa economia, a quantidade que pode ser produzida
de X e Y também é limitada.

Definição: A fronteira de possibilidade de produção (FPP)


(FPP) mostra a quantidade máxima do bem Y (digamos vinho) que a
sociedade pode produzir, para qualquer quantidade do bem X (digamos
pão) produzida.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 29 / 36


Exemplo do Problema Econômico de Excassez
A figura abaixo mostra uma possı́vel FPP para a economia descrita
acima.

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 30 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez

Pontos na FPP representam a quantidade máxima de vinho que pode


ser produzida para certa quantidade de pão;
Por exemplo, se a economia produz X0 unidades de pão, então a
produção máxima possı́vel de vinho para o perı́odo de tempo em
questão(digamos um ano) é Y0 litros de vinho;
Obviamente, essa sociedade pode produzir menos vinho dada a
quantidade X0 de pão, escolhendo o ponto c da figura, onde são
produzidos X0 de pão e Y1 de vinho. O ponto C é no interior da
região definida pela FPP, o que indica que nem todos os recursos da
economia estão sendo plenamente usados e algum desperdicı́o está
ocorrendo;
FPP tem inclinação negativa devido à escassez de recursos;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 31 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez

Se estamos no ponto a e queremos produzir mais pão, precisamos


abrir mão de um pouco de vinho (a sociedade realoca alguns dos
recursos usados na produção de vinho para a produção de pão);
Portanto, o postulado da escassez implica que a FPP é negativamente
inclinada;
Porem A FPP não necessariamente tem que ser uma linha reta;
Outras formas importantes são FPP côncava e FPP convexa;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 32 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 33 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez

O formato da curva da FPP reflete como o custo marginal de um


bem muda com a quantidade do outro bem sendo produzida. Vamos
primeiro definir o que é o custo marginal.
Definição - Custo Marginal: O custo marginal do bem X é o custo
de produzir uma unidade adicional de X, expresso em unidades do
outro bem que deixa de ser produzido. Matematicamente:
CMgx,m = −dY /dX |FPP;
Esse custo de oportunidade marginal da FPP recebe um nome: é a
taxa marginal de transformação dos bens. Essa taxa mede a taxa à
qual um bem pode ser transformado no outro, no sentido de que os
fatores de produção são realocados da produção de um dos bens para
a produção do outro bem;
No caso de nossa economia com dois bens, o custo marginal é dado
pela inclinação da FPP;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 34 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez
Uma FPP com inclinação constante (isto é, uma reta, como na
primeira figura) significa que o custo marginal é constante,
independente da quantidade produzida. Para produzir mais uma
unidade de vinho, temos que abrir mão sempre da mesma quantidade
de pão;
Uma FPP côncava significa que o custo marginal do bem aumenta
quanto mais desse bem é produzido. Ou seja, quanto maior a
produção de vinho, para produzir mais um litro de vinho, temos que
abrir mão de uma quantidade maior de pão;
Uma FPP convexa significa que o custo marginal do bem diminui
quanto mais desse bem é produzido. Ou seja, quanto maior a
produção de vinho, para produzir mais um litro de vinho, temos que
abrir mão de uma quantidade menor de pão;
Qual forma da FPP é mais razoável? Depende da tecnologia de
produção da indústria em considração;

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 35 / 36


Exemplo do Problema Econômico de escassez

Uma FPP convexa ilustra uma situação onde os custos marginais


decrescem com a quantidade produzida, situação em que se configura
economias de escala. Quanto mais produzimos, maior a economia na
unidade adicional produzida;
Um provável exemplo de uma indústria com economia de escala é a
de software. Dado que o software foi desenvolvido, a prdução de uma
cópia adicional é praticamente nula. Analisaremos esses pontos com
mais detalhe na parte da teoria da firma;
Ler Varian, cap. 1 - ”O mercado” e F.A. von Hayek, Economics and
Knowledge (1937, Economica 4: 33-54).

Anderson M. Teixeira (UFG) Notas de Aula 1. Introdução Março, 2018 36 / 36

Você também pode gostar