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02/04/21 Lula diz que PT tentará aliança com centro 'se for preciso' contra
Bolsonaro
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Para Pires, a essência da “Lei do Mexerico Malicioso” ressurge agora com outras
roupagens, como as tentativas de punição ao youtuber Felipe Neto, ao sociólogo
Tiago Costa Rodrigues e ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT) em razão de críticas ao clã
Bolsonaro, tendo o então ministro André Mendonça (que deixou a pasta da Justiça
nesta semana) como um dos “delatores”.
Felipe Neto, Rodrigues e Ciro foram acusados com base na Lei de Segurança
Nacional, gestada durante a ditadura militar (1964-1985), de fazer
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criminosas contra o presidente.
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Mais do que o sucesso das atuais tentativas, segundo o livro, a semelhança mais
perigosa entre a Alemanha de Hitler e o Brasil comandado por Bolsonaro é a
participação voluntária de parte da população na delação desses “crimes” e na
concordância com punições a críticos do capitão reformado do Exército, revelando
a existência de um campo fértil para a instalação de “estados de exceção”.
O sucesso da “Lei do Mexerico Malicioso” só foi possível nos anos 1930 porque
foram pessoas do povo que delataram à polícia pessoas do povo, afirma o juiz Pires.
“A servidão voluntária é a chave de interpretação do papel do direito nos estados
de exceção”, diz trecho da obra. “Para o tirano exercer o seu domínio é preciso
consentimento de quem sofre a sua injunção.”
Outro exemplo que estaria no livro, se não já estivesse pronto, seria o movimento
da entidade de promotores de Justiça, o MPPS (Ministério Público Pró-Sociedade),
que defende a intervenção federal nos estados e a decretação do estado de defesa
pelo presidente.
“Este livro não permite a resposta fácil e anticientífica que via de regra se
apresenta no campo jurídico: contra a barbárie, o direito. Pelo contrário, a barbárie
se faz com o direito”, resume o advogado e professor Alysson Leandro Mascaro,
que assina o prefácio.
A maioria dos exemplos da obra são tirados do período entre 2018 e 2020 e listam
os ataques sistemáticos do governo Bolsonaro à educação, cultura, liberdade de
imprensa e à democracia. O que inclui a lembrança do ex-secretário da Cultura
Roberto Alvim, que plagiou trechos de mensagens nazistas para justificar a busca
por uma arte "heroica" e "imperativa".
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“A minha expectativa é de algo contribuir à conscientização do grave processo em
curso de formação de estados de exceção no Brasil, sugerir e reforçar chaves de
interpretação que possam colaborar, a quem preza a democracia, a resistência e
confronto a regimes autoritários que usurpam a soberania popular”, diz o autor na
sua apresentação da obra.
De acordo com o livro, o medo coletivo, por exemplo, torna-se uma arma política de
comoção e faz com que as pessoas concedam direitos passivamente. As GLOs
(Garantia da Lei e da Ordem) implementadas no Rio de Janeiro são exemplo. A
presença das Forças Armadas, assumindo o papel de polícia, é aceita pela
população porque, no íntimo, todos temem serem mortos por criminosos.
Para Pires, isso também vale para o ódio que parte da sociedade sente por grupos
específicos, minorias, os "inimigos do povo", como os “comunistas” dos tempos de
Hitler. “Ódio enquanto afeto político a arregimentar adesão social, e para isso
inimigos, mesmo fictícios, precisam ser combatidos”, aponta o autor. Por isso, a
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necessidade constante do presidente em eleger inimigos, o tempo todo.
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Um dos inimigos fictícios criados por Bolsonaro, segundo a obra, foram as ONGs
acusadas por ele, em 2019, de serem responsáveis pelas queimadas na Amazônia,
mesmo tendo algumas delas o reconhecimento internacional de combater os
ataques na região.
Embora seja rica em exemplos do governo Bolsonaro, a obra não é só sobre ele.
Traz referências a outros líderes autoritários contemporâneos, na América Latina e
no mundo, para reforçar o padrão de comportamento de líderes nos estados de
exceção –no plural, por serem muitos os direitos “usurpados” da soberania popular.
Juiz, Pires atua na Vara da Fazenda Pública, é mestre e doutor em direito pela PUC-
SP, onde é livre docente em direito administrativo. Também é professor da Escola
Paulista da Magistratura. “Escrevo este livro como acadêmico, não como juiz”, diz.
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Capa do livro (Foto: Reprodução)
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