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REVISÃO REVIEW 1547

A fenomenologia e as abordagens sistêmicas


nos estudos sócio-antropológicos da doença:
breve revisão crítica

Phenomenology and systemic approaches


in socio-anthropological studies of illness:
a brief critical review

Paulo César Alves 1

Abstract Introdução

1 Faculdade de Filosofia This paper aims to identify the ways by which Atualmente uma das principais preocupações
e Ciências Humanas,
the principal frames of reference in the social nos estudos sócio-antropológicos sobre saúde
Universidade Federal da
Bahia, Salvador, Brasil. sciences explain the structure of social actors’ refere-se às pesquisas relacionadas à “expe-
knowledge, practices, values, and behaviors re- riência da doença”. Emergidas no início da dé-
Correspondência
garding health care. The article begins by exam- cada de 1980 e inicialmente voltadas para a in-
P. C. Alves
Departamento de Sociologia, ining some of the assumptions underlying stud- terpretação de doenças crônicas, essas pesqui-
Faculdade de Filosofia ies produced within what are called systemic sas passaram a ocupar, nos últimos anos, qua-
e Ciências Humanas,
theories. It then proceeds to discuss phenome- se todas as áreas de interesse das ciências so-
Universidade Federal
da Bahia. nological approaches to the health and illness ciais em saúde. De uma maneira geral, são tra-
Estrada de São Lázaro 197, experience. The goal is to clarify how these ap- balhos substancializados pela abordagem fe-
Salvador, BA
40210-730, Brasil.
proaches focus on experience and depart from nomenológica-hermenêutica e que expressam
paulo.c.alves@uol.com.br prevailing systemic models. uma preocupação em compreender e proble-
matizar como os indivíduos vivenciam uma
Sick Role; Disease; Health Knowledge, Attitudes, “experiência de sentir-se mal” e como atribuem
Practice; Social Sciences significações a esta experiência. Esses estudos
apresentam um conjunto de características teó-
rico-metodológicas específicas que contrasta
com os principais quadros de referência para-
digmáticos que dominaram a história das ciên-
cias sociais em saúde.
Com objetivo de identificar algumas das
premissas básicas (filosóficas ou epistemológi-
cas) desses estudos, o presente artigo começa
por examinar em linhas gerais os pressupostos
e tendências das análises sócio-antropológicas
tradicionais, que denominamos de “teorias sis-
têmicas”. De forma mais específica, buscamos
inicialmente caracterizar como os principais
quadros de referência das “teorias sistêmicas”
explicam as concepções, práticas, valores e

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crenças que os atores sociais têm sobre ques- neira como os indivíduos compreendem e se
tões relacionadas aos cuidados com a saúde engajam ativamente nas situações em que se
para, em seguida, analisar brevemente em que encontram ao longo de suas vidas é resultado
sentido as pesquisas sobre experiência de doen- de um sistema coerente e ordenado de idéias,
ça contrastam com os modelos dominantes. símbolos ou representações. Em outras pala-
Desnecessário é dizer que o presente traba- vras, o que essa teoria solicita ao pesquisador é
lho não pretende ser exaustivo. Serve apenas que explique o significado das ações humanas
para mapear algumas questões. Chamamos por meio da análise das estruturas ou regulari-
atenção também para o fato de que utilizamos dades que estão presentes em dados contextos
exclusivamente uma bibliografia estrangeira, sociais.
principalmente de língua inglesa. Essa escolha Em que pese as críticas sobre Parsons, é im-
não significa dizer que a substancial produção portante salientar que ele abriu um espaço sig-
brasileira nessa área tenha uma importância nificativo para as análises sociais sobre a enfer-
secundária para a discussão sobre a temática midade. Um primeiro aspecto a ser observado
em apreço. Apenas procuramos oferecer refe- é que sua teoria forneceu subsídios para a con-
rências que serviram como textos norteadores cepção de “sistema médico”, isto é, um modelo
da literatura sócio-antropológica internacional conceitual que tem por objetivo explicar o fun-
e que, de alguma forma, exerceram influências cionamento de concepções e práticas relacio-
no nosso mundo acadêmico. Por último, obser- nadas aos cuidados com a saúde. A teoria par-
vamos que o presente artigo constitui uma atua- soniana também estabeleceu implicitamente
lização de trabalho anteriormente publicado 1. uma separação entre duas concepções de doen-
ça: disease e illness. A primeira refere-se usual-
mente à doença como um processo patológico
O desenvolvimento de teorias sistêmicas concebido por um determinado modelo insti-
tucionalizado ou profissional da medicina. En-
A primeira grande orientação teórico-metodo- quanto illness, doença diz respeito à percepção
lógica de base sistêmica foi formulada por Par- subjetiva dos indivíduos e, nesse sentido, en-
sons 2. Apesar das críticas feitas a essa teoria, a volve questões morais, sociais, psicológicas e
contribuição parsoniana para o entendimento físicas 9,10,11. A separação entre esses dois ter-
das determinações sócio-culturais da enfermi- mos fomentou nas analises sobre a medicina
dade é significativa até os dias atuais. Em ter- ocidental uma oposição idealizada entre os sis-
mos gerais, a abordagem parsoniana pode ser temas profissionais e tradicionais no que con-
resumida nos seguintes termos: a saúde cons- cerne às concepções de corpo, natureza da do-
titui um importante pré-requisito funcional ença e papel do terapeuta.
para a manutenção de uma dada estrutura so- A idéia de “conflito” no sistema de cuidados
cial e como a doença se constitui em um des- à saúde foi amplamente desenvolvida na lite-
vio da normalidade, é necessário que o doente ratura sócio-antropológica. Freidson 12, por
busque tratamento. Ao assumir a sua condição exemplo, foi um dos grandes representantes da
de doente, isto é, ao adotar o papel de enfermo “teoria do conflito”. Pra ele, as diversas defini-
(sick role), o indivíduo passa a não ser mais con- ções de doença, principalmente nas socieda-
siderado como totalmente responsável pelo des modernas, são determinadas por um siste-
seu estado, ficando legitimamente isento das ma pluralístico de valores e princípios sociais.
suas obrigações sociais normais, desde que pro- Dessas definições, duas delas são fundamen-
cure ajuda competente (dentro dos parâmetros tais: a biomédica, que concebe a doença como
oferecidos pela sua sociedade) e coopere com desvio de fatores eminentemente morfo-fisio-
o tratamento indicado. O papel de paciente ar- lógicos e psicológicos (disease), e a dos pacien-
ticula-se com o do terapeuta e é complementar tes (illness). A primeira é dominante na nossa
àquele. Nesse sentido, a abordagem parsonia- sociedade devido ao processo social pelo qual
na parte do princípio de que a medicina se cons- os médicos obtiveram um certo monopólio em
titui como um sistema, um campo de interação estabelecer a jurisdição na definição e no tra-
social, e não apenas uma aplicação tecnológica tamento da doença. Pautada pelas referências
de conhecimentos científicos 3,4,5,6,7,8. das ciências biofísicas, a medicina se contra-
Parsons adotou uma postura “estrutural- põe ao “sistema leigo de referência”, isto é, um
coletivista”, alicerçada no princípio da anterio- corpo de conhecimentos, crenças e ações que
ridade ontológica da sociedade. Nessa pers- estruturam a percepção leiga do doente. Con-
pectiva, as normas e valores institucionaliza- forme Freidson 12, é pela análise das estruturas
dos correspondem a uma realidade objetiva cognitivas que estão subjacentes nos “sistemas
que é internalizada pelos atores. Assim, a ma- leigos de referência” que compreendemos co-

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mo surgem as expectativas sociais envolvidas tação social”. São trabalhos que tratam dos mo-
com a enfermidade e por que elas diferem en- dos pelos quais os indivíduos e grupos sociais
tre indivíduos pertencentes a um mesmo gru- nomeiam e definem conjuntamente os dife-
po social. rentes aspectos da realidade, interpretam seus
A literatura sócio-antropológica no campo contextos e tomam decisões. A “teoria da repre-
da saúde foi amplamente marcada, a partir do sentação” pretende trazer concomitantemente
final da década de 1950, pela produção de inú- para a análise a marca do sujeito que se repor-
meras pesquisas convencionalmente intitula- ta a um objeto, as estruturas mais amplas de
das de illness behavior (“comportamento do pensamento (ideológicos ou culturais) e as con-
doente”), cujo objetivo principal é analisar co- dições sociais efetivas dos indivíduos e grupos.
mo os indivíduos e grupos sociais assumem o Para os seus teóricos, as representações for-
papel de enfermo de formas diferenciadas 13. mam “sistemas de interpretação” que regem
Mechanic 14, o criador do termo, juntamente nossas relações com o mundo e com os outros,
com Kosa & Robertson 15, entre outros, voltou-se orientam e organizam as condutas e as comu-
principalmente para analisar os comportamen- nicações sociais. Em outras palavras, as repre-
tos, motivações e condutas específicos de indi- sentações são “sistemas cognitivos” resultantes
víduos, isto é, para a explicação de como os sin- da interiorização de modelos de conduta e pen-
tomas da enfermidade ou do mal-estar são per- samento, socialmente inculcados ou transmiti-
cebidos e avaliados por diferentes tipos de pes- dos por processos sociais.
soas em diferentes situações sociais. Essa orien- O termo representação tem uma longa, di-
tação de base “psicossociológica” foi desde ce- versificada e ambígua história. O uso que a psi-
do contrabalançada por uma abordagem “es- cologia social faz desse termo não é consen-
trutural-coletivista”, iniciada por Zborowski 16, sual. Representação ora é equiparada com a
Kassebaum & Baumann 17, Zola 18 e Rosens- percepção, com a lembrança, com a imagina-
tock 19, a qual enfatiza mais os fatores sócio- ção ou até mesmo com a alucinação. Nas ciên-
culturais da doença, chamando atenção para cias sociais, Durkheim foi o primeiro a fixar os
as diferenças de variáveis como classes sociais, contornos desse conceito ao identificar as idea-
faixas etárias e etnias, que atuam nas concep- lizações coletivas como produções mentais e a
ções dos valores e atitudes relacionados à en- estabelecer um isomorfismo entre elas e as ins-
fermidade. tituições. Para uma análise durkheimiana so-
Embora sigam orientações diferenciadas, bre a doença ver Taylor & Ashworth 21. Funda-
ambas as concepções partilham de algumas mentado em Durkheim, Serge Moscovici reto-
premissas em comum. Como observam McKin- mou e expandiu esse conceito, situando-o na
lay 20 e Dingwall 13, os estudos sobre illness be- interface do psicológico e do social. Para esse
havior estão voltados principalmente para ex- autor, a representação social tem com o seu
plicar fatores de baixa ou alta utilização dos objeto uma relação de simbolização e de inter-
serviços médicos profissionais e usualmente pretação (conferindo-lhe significações) que é
analisam indivíduos ou grupos sociais que es- resultado de uma construção e uma expressão
tão ou estiveram sob determinado tratamento do sujeito. É uma forma de saber que se refere
e, portanto, que já tomaram a decisão de seguir à experiência a partir da qual ele é produzido,
uma modalidade terapêutica. Assim, tendem a aos contextos e condições em que ele o é. A re-
não levar em devida consideração como as de- presentação preenche, portanto, certas fun-
cisões foram tomadas e quais os diferentes cur- ções na manutenção da identidade social e do
sos e possibilidades de ação adotados antes da equilíbrio sociocognitivo a ela ligados.
consulta ou tratamento médico. Além do mais, Atualmente um conjunto significativo de
pressupondo a existência e o poder de normas pesquisadores no campo da saúde desenvol-
fixas prescritas, sejam de ordem psicológica ou vem pesquisas sob a ótica das “representações
cultural, subestimam a presença de grupos com sociais”, como Denise Jodelet, Rory Williams,
aspirações antagônicas na sociedade, a capaci- Claudine Herzlich, Janine Pierret e François
dade dos agentes de modificar as regras prees- Laplantine, para citar apenas alguns. Em ter-
tabelecidas ou de redefini-las no decorrer dos mos gerais, essa teoria fundamenta-se no pres-
processos interativos. Nesse sentido, esses es- suposto de que, ao descrever e explicar seus so-
tudos terminam por desencorajar as pesquisas frimentos, os indivíduos apóiam-se em concei-
sobre concepções médicas que não estão in- tos, estruturas de referências e “visões de mun-
cluídas nos modelos biomédicos. do” interiorizadas conforme os grupos sócio-
Paralelo – e complementando – os pressu- culturais a que pertençam. Em outras palavras,
postos das teorias sobre o illness behavior, en- as representações são formas de conhecimen-
contramos os estudos intitulados de “represen- to ou sistemas de interpretação, socialmente

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elaboradas e partilhadas, que orientam e orga- situação vivida pelos atores sociais em contex-
nizam as condutas e as comunicações sociais. tos culturais e históricos concretos. O “mundo
Em resumo, as “teorias sistêmicas” partem da vida” (“Lebenswelt”) é o horizonte de refe-
de um axioma central: as propriedades coati- rência paradigmático por meio do qual os indi-
vas (“normativas”) da organização social são víduos e grupos sociais interagem entre si, de-
“introjetadas” nos indivíduos. Mais especifica- finem ações previstas de sentido e realizam
mente, a matriz fulcral dessas teorias é a de qualquer empreendimento cognitivo, como as
que o ator é definido pela interiorização do so- “representações”. As experiências originalmen-
cial e a ação é simplesmente a realização das te fundadas dentro do mundo da vida consti-
normas de um conjunto social previamente es- tuem a base sobre a qual se erguem todas as
tabelecido. A partir desse teorema, as análises demais “realidades” humanas, como o “sonho”,
desenvolvidas podem se concentrar ou sobre a a arte, os sistemas simbólicos e o fazer científi-
integração de elementos motivadores, cultu- co, por exemplo. É, portanto, o mundo das ati-
rais ou simbólicos, unidos em uma determina- vidades práticas que possui desde um primeiro
da espécie de sistema ordenado (a ênfase, por- momento significações humanas.
tanto, recai no “problema da ordem” e do “con- Os primeiros grandes estudos sobre expe-
trole” nas interações sociais como nas aborda- riência da enfermidade começaram a surgir no
gens influenciadas pelas teorias durkheimiana início da década de 1980. Byron Good e Arthur
ou parsoniana) ou sobre os conflitos, poder e Kleinman, ambos professores da Universidade
mudanças sociais nos processos interativos de Harvard, foram os principais pesquisadores
(concepção defendida, entre outras, pela orien- que inicialmente deram um caráter mais siste-
tação marxista de cunho estrutural). Qualquer matizado a essas pesquisas. Fundamentado
que seja o ângulo de análise, contudo, ambas teoricamente pelos trabalhos de Berger & Luck-
afirmam tanto o primado transcendente e on- mann 22 e por Geertz 23, Good 24,25 e Kleinman
tológico da sociedade (como “prévio” aos indi- 26,27 conceberam o conceito de “modelos expli-

víduos) quanto a existência de “leis”, “mode- cativos da doença” como um ponto de partida
los”, “códigos” ou “estruturas” regidas por prin- das suas pesquisas. Esses modelos são defini-
cípios intrínsecos a qualquer forma “ordenada” dos como noções, conjunto de proposições ou
da vida social. Essa tese é problemática, entre generalizações, explícitas ou tácitas, que são
outros aspectos, porque estabelece como pon- empregadas por todos aqueles indivíduos en-
to de partida analítico uma dicotomia – ou opo- gajados em um processo terapêutico. Eles ser-
sição – entre o “indivíduo” (visto como “ator vem para determinar o que é considerado co-
abstrato”) e a “sociedade” (pensada como um mo “evidência clínica relevante” e como esta é
“modelo” ou um “padrão normativo comunitá- organizada e interpretada em tratamentos es-
rio”). Assim, a “sociedade” é concebida como pecíficos. Estruturalmente, os modelos diferem
um universo substantivo e “pré-dado” de obje- entre si na resposta que oferecem à etiologia,
tos e idéias. Nessa perspectiva, há uma forte ao tempo e modo do aparecimento de sinto-
tendência em minimizar o ator como um agen- mas, ao curso e gravidade da doença e do trata-
te criativo, inovador, reflexivo e que às vezes mento. Os modelos explicativos referem-se, por-
procura romper com os esquemas nos quais a tanto, a conhecimentos e valores que são cons-
conduta humana não se diferencia. Por outro truídos socialmente pelos diferentes “sistemas
lado, uma concepção dicotômica entre indiví- de cuidados à saúde” (health care systems).
duo e sociedade também pressupõe a existên- Como regra, os teóricos dos “modelos expli-
cia apriorística de um “sujeito” sobre o qual re- cativos” observam que os sistemas de cuidado
caem os componentes reguladores de um dado à saúde são compartimentalizados, divididos
sistema social. Assim, as “teorias sistêmicas” ao em subsetores. Para Kleinman 26,28,29, a estru-
postular a existência prévia do indivíduo – o tura desses sistemas é composta por três gran-
“sujeito do social” – terminam por admitir de- des arenas: profissional, “folk” e o popular. Em-
terminadas dimensões “a-históricas” (ou mes- bora sejam entendidos em relação um com os
mo, “anti-históricas”) do ser humano. outros, esses três setores guardam suas pró-
prias especificidades com relação às crenças,
papéis, expectativas, avaliações e concepções
Experiência da enfermidade: médicas (“realidades clínicas”). A primeira are-
a emergência de um conceito na diz respeito às práticas e saberes que são
constituídas por um conhecimento científico
Os estudos sobre experiência da doença to- ou por uma tradição específica de cuidados à
mam como ponto de partida analítico o pres- saúde como a biomedicina, a homeopatia, a
suposto de que o social é originalmente toda a medicina chinesa, a Yunani e Ayurvedica. O

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“folk” refere-se às atividades de tratamento e aspectos diferenciadores na teoria dos “mode-


cura desenvolvidas por grupos religiosos, reza- los explicativos”. Resumidamente, essa concep-
dores, curandeirismo etc. O popular é o setor ção: (a) critica as formulações “hipersocializa-
composto pelos “leigos” e constitui o mais im- das” da ação, isso é, aquelas que ao postular
portante dessas três arenas, pois nela se con- uma programação total ou puramente estraté-
centra a maioria dos nossos saberes e práticas gica da ação terminam por fazer do indivíduo,
cotidianas que estão relacionadas ao fenôme- no dizer de Garfinkel, um “idiota cultural”; (b)
no saúde-doença. São pelos pressupostos des- sublinha que existe na experiência alguma coi-
se setor que diferentes indivíduos e grupos so- sa de inacabado e de opaco porque não há ade-
ciais constroem concepções de tratamento e quação absoluta da subjetividade do ator e da
cura; ingressam em um itinerário terapêutico; objetividade do sistema; (c) advoga que a ex-
assimilam, avaliam, julgam os conhecimentos periência não é pura questão individual, pois é
e práticas provenientes dos outros setores. A socialmente construída (ela só existe verdadei-
teoria dos “modelos explicativos” (MEs) nos ramente, aos olhos do indivíduo, na medida
permite estabelecer, portanto, quadros analíti- em que é reconhecida por outros, eventual-
cos comparativos entre diferentes culturas e mente partilhada e confirmada por outros); (d)
sistemas de tratamento (ver Kleinman 28,29 e argumenta que ação é definida pela natureza
Young 30). das relações sociais (ação é uma orientação
Dentro dessa perspectiva, alguns pesquisa- subjetiva e, simultaneamente, uma relação);
dores argumentam, a exemplo de Harrel 31, que (e) sustenta uma tipologia da “ação múltipla”,
em contextos pluralísticos, os subsistemas mé- isso é, a de que não existe um sistema e uma
dicos tendem a se tornar ligados a doenças es- lógica da ação, mas uma pluralidade não hie-
pecíficas, de tal forma que os padrões de pro- rárquica e uma “tensão” entre lógicas diferen-
cura de auxílio (pathways of resort) podem ser tes; (f ) afirma que a tarefa do pesquisador não
delineados por diferentes tipos de situação de é analisar apenas as representações do ator so-
enfermidade. Afirmam, portanto, que certos ti- cial mas, principalmente, os seus sentimentos
pos de práticas são considerados socialmente e a relação que ele constrói com ele mesmo e
como os mais adequados para explicar certos com os outros.
tipos de aflição. Para Kleinmam 26, os diversos
subsetores terapêuticos não instituem frontei-
ras definidas entre si, podendo ser interconec- A experiência da doença e as ciências
tados de diversas formas. Conforme esse an- sociais de base fenomenológica:
tropólogo, os relacionamentos sociais estabe- fundamentos teóricos
lecidos por indivíduos e grupos destinados ao
cuidado com a saúde – como, por exemplo, nas O conceito básico nos trabalhos desenvolvidos
relações entre paciente-família e paciente-te- por cientistas sociais que utilizam os quadros
rapeuta – devem ser estudados e comparados de referências de base fenomenológica e her-
como transações entre diferentes modelos ex- menêutica – como a etnometodologia, a análi-
plicativos. O argumento de Kleinman chama se conversacional e a sociologia existencial – é
atenção para o fato de que não podemos con- o de experiência.
siderar as concepções populares sobre a doen- Embora o termo “experiência” seja ampla-
ça como pertencentes a um “modelo unitário” mente empregado pelos cientistas, há pouca
mas, pelo contrário, como resultado das expe- concordância e muita polêmica sobre o seu
riências pessoais, das combinações e intera- significado. Trata-se de uma noção que apre-
ções que os atores e grupos sociais desenvol- senta vários sentidos e, muitas vezes, é utiliza-
vem em diferentes contextos. do de forma demasiadamente vaga nas análi-
A teoria dos “modelos explicativos” consti- ses. Usualmente é concebida como ensinamen-
tuiu uma reviravolta significativa nos estudos to adquirido com a prática (quando se fala, por
sócio-antropológicos da saúde e uma impor- exemplo, em “experiência de vida”) ou como a
tante porta de entrada à análise fenomenológi- confirmação dos juízos sobre uma realidade
ca. Cabe notar, porém, que os teóricos dos MEs por meio de uma verificação sensível (as cha-
tendem muitas vezes a explicar os conheci- madas “experiências científicas”) ou então pa-
mentos e crenças que os indivíduos têm sobre ra indicar um fato de alguém suportar ou de
questões de saúde e doença em termos de es- sofrer algo (“experiência de uma dor”). Para o
truturas cognitivas. Assim, terminam por prio- movimento fenomenológico, experiência é a
rizar as representações e não propriamente as forma original pela qual os sujeitos concretos
experiências que os atores sociais têm sobre o vivenciam o seu mundo. Em outras palavras,
mundo em que vivem. Contudo, vale salientar experiência diz respeito ao modo de ser do su-

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jeito no mundo. É o meio pelo qual o mundo se Na vontade de explicitar constantemente as


coloca face a nós e dentro de nós e, como tal, camadas de sentido mais originárias, a feno-
está sempre localizada no tempo e no espaço. menologia torna-se uma hermenêutica e, co-
Nesse aspecto, as pesquisas desenvolvidas por mo tal, alia-se ao quadro de referência da “com-
esse referencial insistem na reabilitação do preensão” (“Verstehen”). Atribui, contudo, um
sensível, de que as tradições da filosofia e das novo sentido para a hermenêutica: não é sim-
ciências sociais sempre desconfiaram. plesmente um método para compreender as
O ponto de partida é “voltar às próprias coi- ações humanas (como pressupunha Dilthey)
sas”, segundo o programa husserliano de trans- mas, prioritariamente, a base sobre a qual se
cender as representações espontâneas do sen- fundamenta toda compreensão. A compreen-
so comum. O primeiro passo do método feno- são não é uma faculdade humana entre outras,
menológico é reconhecer a prioridade da prá- é o modo essencial que o homem tem de exis-
tica, da esfera do fazer e agir, sobre o pensamen- tir no mundo. Ela está subjacente a tudo, pois é
to e a reflexão. A experiência não se resume à sempre a posição a partir da qual vemos tudo
capacidade humana de representar o mundo aquilo que vemos. Assim, compreender é expe-
por meio de processos cognitivos, pois guarda rienciar algo. Para um estudo sobre saúde com
em si mesma “significações” ou “unidades base na hermenêutica ver Gadamer 34.
ideais significativas”. Para a fenomenologia, a O terceiro aspecto fundamental da análise
operação primordial de significação é que o ex- fenomenológica diz respeito à idéia de inter-
presso não existe separadamente da expressão subjetividade. Para essa perspectiva, o social
e, como tal, é “encarnada” (embodiment), ou se- não é soma de subjetividades e tampouco uma
ja, é um fenômeno sensível ao corpo (e não uma realidade objetiva (como “estrutura simbólica”
mera questão de “subjetividade”). Nesse aspec- ou integração entre sistemas), mas modos de
to, o método fenomenológico está voltado para coexistência entre indivíduos, isso é, processos
apreender as significações na medida em que de interação com os outros desenvolvidos na
são simplesmente dadas e tal como são dadas esfera da vida cotidiana. O encontro com o ou-
pelas nossas experiências. Ou seja, preocupa-se tro não é, portanto, uma realidade contingente
com o solo originário do sentido, com o implíci- da ação humana, mas o próprio campo do qual
to que prepara a explicitação. Por conseguinte, torna-se possível os nossos esforços para inter-
as ciências sociais de base fenomenológica pro- vir na realidade. A intersubjetividade refere-se
põem descrever o “que se passa” efetivamente justamente a essa “compreensão mútua” que
do ponto de vista daqueles que vivem uma dada preexiste nas relações entre os diversos “eus”,
situação concreta e como, por meio desse pro- isso é, o mundo compartilhado por todos nós.
cesso, os indivíduos e grupos sociais concebem Tomando como ponto de partida a idéia de
reflexivamente ou representam o seu mundo. intersubjetividade, as ciências sociais de base
Contudo, é necessário observar que nenhuma fenomenológica compreendem a doença como
análise é definitiva. O real contém uma infinida- um processo de rompimento com os pressu-
de de “significações” que é necessário trazer à postos da vida cotidiana, daí as dúvidas, incer-
luz e os esquemas de inteligibilidade possíveis tezas e vacilações que marcam muitas das ex-
estão em constante transformação. periências cotidianas de adoecer e lidar social-
mente com a enfermidade 35,36. Só nesses ter-
Três aspectos são fundamentais mos podemos entender por que a doença ou
para a análise fenomenológica: sofrimento, ao romper com o caráter dado ou
corpo, compreensão e intersubjetividade pressuposto de esferas da vida cotidiana, colo-
ca em questão aspectos da conduta dos indiví-
Colocar o acento sobre o domínio da experiên- duos e grupos sociais. Eis por que a preocupa-
cia pressupõe, como já observado, resgatar a ção que alguns pesquisadores têm em analisar
mediação do corpo enquanto fundamento de a doença como disrupção através de “história
nossa inserção prática no mundo. Para a feno- de vida” 37,38,39,40,41,42,43,44,45.
menologia, o corpo é o entrelaçamento entre Em síntese, partindo da premissa de que a
natureza e cultura e desempenha o papel fun- intersubjetividade é o solo sobre qual são ela-
damental de colocar-nos em contato com o boradas as diversas interpretações do mundo
mundo. Tal postulado nos leva a novas ques- da vida cotidiana, para a fenomenologia-her-
tões sobre a experiência da doença. Por exem- menêutica a doença, antes de ser um fenôme-
plo, como observa Csordas 32,33, a doença nos no de disease ou de illness, é originalmente
conduz a problematizar o processo mesmo sickness. Isso quer dizer que a doença é um fe-
quando a vivência do sentir-se mal se constitui nômeno que diz respeito a um conjunto de ele-
e ganha expressão. mentos sócio-culturais que estão interligados

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entre si. Sickness refere-se ao “mundo da doen- apenas que um pressuposto fundamental da
ça”, isso é, a um horizonte de significados, con- metodologia proposta pelas ciências sociais de
dutas e instituições associadas à enfermidade base fenomenológica é a de que o pesquisador
ou ao sofrimento. desenvolva uma cuidadosa atenção para os
processos interativos e discursivos, particular-
mente para as situações e contextos do objeto
Conclusão de investigação. Partindo-se da premissa de
que as “realidades objetivas” são resultados des-
O objetivo geral do presente artigo foi tão so- ses processos, a etnometodologia, a análise con-
mente explicitar – e contrastar – alguns dos pres- versacional e a sociologia existencial susten-
supostos (filosóficos ou epistemológicos) que tam que significação nunca é completamente
estão subjacentes em grande parte dos traba- predeterminada; ela está sempre articulada em
lhos sócio-antropológicos da saúde. Longe de contextos interativos específicos. Nesse aspec-
ser exaustivo, apresentamos brevemente duas to, as narrativas, relatos e descrições elabora-
grandes linhas de análise sobre como esses es- dos pelos indivíduos não se resumem apenas
tudos interpretam as formas pelas quais os ato- ao que é dito nesses discursos sobre o mundo
res sociais pensam e atuam em questões rela- social mas, principalmente, são elementos cons-
cionadas aos cuidados com a doença ou sofri- titutivos desse mundo. Como observam Hols-
mento. A primeira diz respeito às premissas de tein & Gubrium 48, essas abordagens não bus-
caráter “sistêmico”; a segunda, de ordem “fe- cam informações generalizadas sobre intera-
nomenológica-hermenêutia”. ção e discurso por meio de entrevistas estrutu-
Para concluir, chamamos atenção para o fa- radas ou questionários. Para compreender co-
to de que as ciências sociais de base fenome- mo são produzidas as ordens sociais em deter-
nológica-hermenêutica apresentam desafios minados contextos, as pesquisas recorrem prin-
metodológicos significativos. Não há espaço cipalmente a conversas e diversas modalidades
aqui para discutir esses desafios (ver, para isso, de discursos, entre eles cartas, depoimentos e
os trabalhos de Cicourel 46, Ten Have 47, Hols- até mesmo textos literários.
tein & Gubrium 48 e Moustakaf 49). Observamos

Resumo Referências

O presente artigo tem por objetivo identificar, em li- 1. Alves PC. A experiência da enfermidade: conside-
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Recebido em 26/Out/2005
Versão final reapresentada em 20/Mar/2006
Aprovado em 31/Mar/2006

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 22(8):1547-1554, ago, 2006

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