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Universidade Federal do Pará

Instituto de Letras e Comunicação

Oficina de Ensino da Literatura

BNCC: Base Nacional Curricular Comum

1. Aspectos Gerais:

 Documento de caráter normativo;


 Define as bases fundamentais da aprendizagem – da educação
infantil ao ensino médio;
 Desenvolve-se por competências – mobilização de conhecimentos,
atitudes e valores – que servem para resolver as demandas
complexas da vida cotidiana.

2. Para a BNCC, a literatura integra a área da linguagem. Não se trata de


conhecimento isolado. Com ela, trabalha-se de forma integrada: Arte, Língua Portuguesa,
Língua Estrangeira Moderna e Educação Física.

3. A BNCC define 10 competências1 para a educação básica. A literatura está


contemplada no terceiro item. Ei-la: “Valorizar e fruir as diversas manifestações artísticas
e culturais, das locais às mundiais, e também participar de práticas diversificadas da
produção artístico-cultural”.

1
Conhecimento; Pensamento crítico, científico e criativo; Repertório Cultural; Comunicação; Cultura
Digital; Trabalho e Projeto de Vida; Argumentação; Autoconhecimento e Autocuidado; Empatia e
Cooperação; Responsabilidade e Cidadania.
4. Despertar nos Jovens a: fruição, deleite, autoria, produção e autonomia
(Participação na vida pública cultural).

Estimular a prática das chamadas “culturas juvenis”: músicas, danças,


manifestações da cultura corporal, vídeos, moda, rádios comunitárias, redes de mídia da
internet, etc.

5. Ao lado das dez competências gerais, temos ainda competências específicas


para cada área. Na área de linguagem, temos sete.

Na literatura, destaca-se a sexta competência: “Apreciar esteticamente as mais


diversas produções artísticas e culturais, considerando suas características locais,
regionais e globais, e mobilizar seus conhecimentos sobre as linguagens artísticas para
dar significado e (re) construir produções autorais individuais e coletivas, de maneira
crítica e criativa, com respeito à diversidade de saberes, identidades e culturais.”

Para o presente objetivo, a área prioriza 5 campos de atuação social: vida social,
práticas de estudo e de pesquisa, jornalístico-midiático, atuação na vida pública, artístico-
literário.

Artístico-literário: Fruir, produzir, valorizar e reconhecer as manifestações


artísticas com base na sensibilidade e na percepção estética.

6. Ponto de partida (plano de aula): Leitura e análise do texto literário –


“corpo a corpo”. Recusa-se o excesso biográfico, características de escolas literárias.

Na análise, a historicidade do texto é fundamental: produção, circulação e


recepção das obras literárias, promovendo o diálogo entre obras, leitores, tempos
históricos.

7. Outras questões pontuais:

 Abordagem da manutenção e rupturas de tradições – tensões entre


códigos estéticos
 Interpretar as obras a partir da crítica cultural e política – A
arte apresenta uma visão de mundo e uma forma de conhecimento,
tendo como dinâmica a construção estética.
8. Na BNCC, a literatura é definida como conhecimento “artisticamente
organizado”. Com ela, enriquece-se a visão de mundo dos estudantes – ampliar
repertórios. Para isto, é preciso estimulá-los na seleção particular de obras – literatura
juvenil, literatura marginal, o clássico, o popular, cultura de massa, cultura das mídias,
etc.

9. No Ensino Médio, de acordo com a BNCC, há um avanço da análise


contextualizada – caráter mais sistematizado. No processo de ensino-aprendizagem, é
possível trabalhar com adaptações, estilizações, paródias, minissérie, filmes,
videominuto, games, etc.

10. A Escrita literária, praticada no Ensino Fundamental, deve ser ampliada no


Ensino Médio. Para isto, é possível aproveitar os interesses dos jovens – não esquecer
que fruição e produção fazem parte de um mesmo objetivo: experiência estético-literária.

11. Parâmetros para a progressão dos estudantes no que diz respeito à


literatura:

 Ampliar o repertório da literatura clássica/brasileira e estrangeira;


 Estabelecer relações de obras – perspectivas comparativas;
 Trabalhar com obras de diferentes períodos históricos;
 Abordar as culturas jovens contemporâneas;
 Contextualizar a época, circulação e recepção das obras
selecionadas;
 Escrita literária e crítica – uso de ferramentas digitais;
 Produção criativa – oficina literária, projetos de escrita literária.

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Propostas de aulas: Ensino da Literatura

Público: estudantes do terceiro ano/ ensino médio

Aula 1.
Competências Específicas: Estabelecer relações entre o Manifesto Antropófago e o
momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.

Habilidades: Ler e analisar fragmentos do Manifesto. Selecionar trechos que indicam


problemas do Brasil atual.

Retorno do estudante: Produzir uma análise do Manifesto, enfatizando os fragmentos


selecionados. O texto crítico deverá ter como mote a seguinte questão: atualidade política
do Manifesto – confrontos sociais no Brasil.

Recursos: Verificar.

Aula 2.

Competências Específicas: Relacionar informações sobre concepções críticas e


artísticas, enfatizando o caráter da leitura e recepção.

Habilidades: Leitura e seleção de argumentos críticos. (Texto Palimpsesto Selvagem, de


Beatriz Azevedo).

Retorno do estudante: Em forma de esquema, organizar os pontos relacionados à


presença de “Pindorama” no texto de Azevedo.

Recursos: Verificar.

Aula 3.

Competências Específicas: Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-


relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e
étnicos, assim como diferentes épocas.

Habilidades: Desenvolver leituras críticas comparativas entre textos literários e outras


artes.

Retorno do Estudante: Escrever um texto crítico comparativo entre a letra “Brasis”,


canção interpretada por Elza Soares no álbum Planeta Fome (2019), e passagens do
Manifesto Antropófago.

Recursos: caixa de som/verificar.


Aula 4.

Competências Específicas: Apropriar-se das discussões contemporâneas presentes no


Manifesto, formulando pontos de vistas que permitem relacioná-los com os problemas da
comunidade do estudante.

Habilidades: Partindo de diferentes objetivos comunicacionais, aprofundar a discussão


sobre o futuro à luz das questões contemporâneas.

Retorno do estudante: Utilizando-se da tecnologia de gravação (celular), o estudante


deverá entrevistar três ou mais moradores de sua comunidade. A pergunta terá como foco
a noção de “Futuro do Brasil”.

Em formato de exposição oral, os estudantes formularão uma análise dos pontos de vistas.

Exemplo:

 Para você, o que significa um Brasil do Futuro?


 Diante de tantos problemas sociais, é possível imaginar um país do futuro?

Recursos: Aparelho de gravação/ verificar.


SOARES, Elza. Planeta Fome. Arte da Capa: Laerte. Rio de Janeiro: Philips, 2019. 1
disco sonoro.

Acesso em: https://namiradogroove.com.br/blog/wp-content/uploads/2019/09/Elza-Soares-


Planeta-Fome-capa.jpg. Acesso em: 21 de fevereiro de 2023.

Brasis

Tem um Brasil que é próspero

Outro não muda

Um Brasil que investe

Outro que suga

Um de sunga
Outro de gravata

Tem um que faz amor

E tem o outro que mata

Brasil do ouro

Brasil da prata

Brasil do balacochê

Da mulata

Tem o Brasil que cheira

Outro que fede

O Brasil que dá

É igualzinho ao que pede

Pede paz e saúde

Trabalho e dinheiro

Pede pelas crianças

Do país inteiro

Tem um Brasil que soca

Outro que apanha

Um Brasil que saca

Outro que chuta

Perde, ganha
Sobe, desce

Vai à luta, bate bola

Porém não vai à escola

Brasil de cobre

Brasil de lata

É negro, é branco, é nissei

É verde, é índio peladão

É mameluco, é cafuzo

É confusão

Oh, Pindorama eu quero o seu porto seguro

Suas palmeiras, suas feiras, seu café

Suas riquezas, praias, cachoeiras

Quero ver o seu povo de cabeça em pé

Vai pra frente Brasil!

Tem o Brasil que cheira

Outro que fede

O Brasil que dá

É igualzinho ao que pede

Pede paz e saúde


Trabalho e dinheiro

Pede pelas crianças

Do país inteiro

Brasil do ouro

Brasil da prata

É negro, é branco, é nissei

É verde, é índio peladão

É mameluco, é cafuzo

É confusão

Oh, Pindorama eu quero o seu porto seguro

Suas palmeiras, suas feiras, seu café

Suas riquezas, praias, cachoeiras

Quero ver o seu povo de cabeça em pé

Quero ver esse povo de cabeça em pé

Quero ver o seu povo de cabeça em pé

Brasil de cabeça em pé!

Composição: Gabriel Moura / Jovi Joviniano / Seu Jorge

Disponível em: https://www.letras.mus.br/elza-soares/brasis/. Acesso em: 21 de fevereiro


de 2023.
ANDRADE, Oswald de. O manifesto antropófago. In: Do Pau-Brasil à Antropofagia e
às Utopias: Manifestos, teses de concursos e ensaios. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1978, p. 11-19.

1. “Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.”

2. “Contra todas as catequeses”

3. “Só me interessa o que não é meu. Lei do homem. Lei do antropófago.”

4. “Queremos a Revolução Caraíba. Maior que a revolução Francesa. A unificação de


todas as revoltas eficazes na direção do homem. Sem nós a Europa não teria sequer a sua
pobre declaração dos direitos do homem.”

5. “Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos


Cristo nascer na Bahia. Ou em Belém do Pará”

6. “Contra as sublimações antagônicas. Trazidas nas caravelas.”

7. “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”

8. “No matriarcado de Pindorama. Contra a Memória fonte do costume. A experiência


pessoal renovada”

9. “Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, - o patriarca
João Ramalho fundador de São Paulo.”

10. “A nossa independência ainda não foi proclamada.”

11. “Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud - a realidade sem
complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado de
Pindorama.”

AZEVEDO, Ana Beatriz Sampaio Soares. Antropofagia – palimpsesto selvagem. São


Paulo, 2012, 199 p. Dissertação de Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada,
Universidade de São Paulo.
No matriarcado de Pindorama

“Saliento que, mesmo com as palavras ‘matriarcado’ e ‘Pindorama’ primariamente


associadas ao passado arcaico, para Oswald de Andrade o Matriarcado de Pindorama é
uma formulação contemporânea, que aponta para o futuro” (AZEVEDO, 2012, p. 152);

Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade


sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado
de Pindorama.

“Ao final do manifesto, Oswald retoma a ideia de que ‘vestir’ é um ato opressor. Em
todos esses 51 aforismos, ele reitera a importância do corpo, da nudez, da liberdade do
índio nu que ‘pensava a céu aberto’ – em contraposição ao mundo ‘civilizado’ com seus
complexos, prostituições e penitenciárias” (AZEVEDO, 2012, p. 160)

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Outras Propostas

De acordo com o aforismo “A nossa independência ainda não foi proclamada” presente
no Manifesto Antropófago e as canções Pindorama e Brasil Que Pode Dar Certo, de
Fabio Brazza, desenvolva um plano de aula que contemple a BNCC.

Texto 1

Pindorama

Tá vendo a maldade do branco

Tá vendo o chicote que estrala

Tá vendo o batuque do banto

E o canto que vem da senzala


Um povo que já sofreu tanto

E ainda assim não se abala

Portanto eu já te garanto amigo

Não tem opressão que lhe cala

A reza e a fé no seu santo

O jeito que a gente fala

De fora até causa espanto

No entanto seguimos que nem mestre-sala

Eu caio, mas eu me levanto

A arte é a prova de bala

É parte do nosso encanto

Não tem um país que se iguala, não

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar

E o samba que é da Bahia não veio de lá, de lá

E antes de ter Português já tinha Guarani, aqui

E esse Brasil que a gente hoje chama de lar, de lar

Nem é assim que se chama

Antes era Pindorama Tupi

Nem é assim que se chama


Antes era Pindorama Tupi

Esse batuque que a gente rebola vem lá de Angola de Congo, Cabinda e Cambondo

Preto quilombola bole feito mola se embala na ginga do jongo

Não tem ginga dura, swinga a cintura, é nosso coringa é mandinga pura

Seu santo é forte que nem pinga pura e cura o que nem a seringa cura

Não posso negar eu sou brasileiro eu sou o tambor do terreiro

Mas também sou o grito dor que ecoou pelo cativeiro

Eu não posso negar meu roteiro não, será que um dia a gente vai pagar

Por todo pecado do nosso passado que não se pode apagar, jamais!

E desde o cultivo de cana que o preto ainda vai em cana

Mas a mão tirana e toda desgraça vai virar fumaça na raça da raça africana

Não se pode negar o passado hostil, mas podemos mudar o presente

Vamo Brasil, quebra o quadril, mas quebra de vez a corrente

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo que é do Brasil não se pode o Brasil negar

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo que é do Brasil não se pode o Brasil negar

Nem tudo que é do Brasil é daqui do Brasil, nega

Mas tudo o que é do Brasil não se pode o Brasil negar


É preciso sabe de onde a gente veio

Pra saber pra onde é que vai, pra saber como é que tá

Mãe lusitana e africana meio a meio, mas também bebi no seio

Da madre Tupinambá

Filho bastardo sem direito a orfanato

Vi o capitão do mato matar mulato na marra

Estupefato com tanto assassinato

A favela é só o retrato de um mal que não desgarra

E o candidato no mandato faz contrato

Praticando estelionato numa audácia tão bizarra

Mais uma vez é o povo que paga o pato

Lava mão e lava jato e o País vira uma farra

Um triste fato, quem dera fosse boato

Porém esse é o relato que a realidade narra

E o nossa gente aprende com o desacato

Da um jeito faz um gato e arranja uma gambiarra

Ou eu combato esse mal de imediato

Ou também como no prato dessa mesma algazarra

Pra ser sensato eu sou brasileiro nato

E não vou deixar barato, essa mão que nos amarra!

Composição: Fábio Brazza / Mortão VMG

In: É Ritmo, mas também é poesia (2017).

Disponível: https://www.letras.mus.br/fabio-brazza/pindorama/. Acesso em: 21 de fevereiro de


2023.
Texto 2

Brasil Que Pode Dar Certo

Se é pra falar de Brasil então deixa eu pensar

Que Brasil vou falar, pois existem milhares

Há em cada esquina um país diferente

Que é retratado pela nossa gente

que é encontrado em todos lugares

Sim, existe um Brasil com os braços abertos

Existe um outro com as mão atadas

Existe um Brasil que não foi descoberto

E aquele Brasil de inocência roubada

O que tem de mais e o que tem nada

Que vê de longe e o que se vê de perto

Existe um Brasil que ainda pode dar certo

E aquele já se perdeu nessa estrada

E em meio a essa vida sofrida, de cabeça erguida, ainda vejo um povo que quer ser feliz

Que luta mantém a conduta, segura a batuta e faz o melhor para nosso País

Por isso é que eu tenho fé, que a gente ainda pode vencer

Existe um País que é e aquele que podemos ser

Um Brasil que não deixo de amar, não importam os contras e prós

Um País que precisa mudar pois o povo precisa ter voz

Um Brasil que não seja de poucos


Mas que seja de fato um pouco de nós

Composição: Fábio Brazza

In: Tupi or not tupi (2016)

Disponível em: https://www.letras.mus.br/fabio-brazza/brasil-que-pode-dar-certo/. Acesso em:


21 de fevereiro de 2023.

Disponível em: https://studiosol-


a.akamaihd.net/uploadfile/letras/albuns/3/9/9/0/575021493126484.jpg. Acesso em: 21 de
fevereiro de 2023.

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