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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO - CAMPUS I


CURSO DE LICENCIATURA EM FILOSOFIA
2019.2

DISCIPLINA: Estética
DOCENTE: José Martins de Lima Neto
DISCENTE: Antonio Samuel Cardoso Nascimento

OLHO E O ESPÍRITO
Resumo do texto de Merleau Ponty

Trabalho apresentado como requisito parcial para


aprovação na Disciplina Estética, ministrada pelo
professor José Martins de Lima Neto, no curso de
Licenciatura em Filosofia.

Salvador-Ba
2020

1
Introdução

Este resumo tem como objetivo elencar os principais pontos do texto Olho e o
Espírito de Merleau Ponty. Voltado ao tema da pintura, o texto tenta dar conta de tudo
que se possa relacionar nos aspectos internos e externos ao pintor, dando um tratamento
científico e filosófico.
Não se tratando de um texto de fácil leitura, apenas um composto se sínteses e
destaques é realizado em função do curto prazo. A crítica do filósofo ao olhar
tradicional levanta diversas perspectivas que norteiam a composição do pintor. Desde a
motivação à ontologia espacial.

Prefácio do autor

“A ciência manipula as coisas


e renuncia a habitá-las.”
Merleau Ponty

Ponty inicia lançando dúvidas sobre a manipulação científica. Se o método é


seguro, se é confiável, se a natureza está para o laboratório e o risco de aprisionamento
intelectual que pode ocorrer. Em seguida sugere um novo ponto de vista para o
observador cientista. Do distanciamento aéreo para o térreo aproximado.
A defesa do filósofo ao pintor se faz pelo aspecto despretensioso e, portanto,
livre e ilimitado na realização de seus experimentos.

Corpo e pintura

“o olho é aquilo que foi comovido


por um certo impacto do mundo,
e que o restitui ao visível pelos traços da mão”
Merleau Ponty

Resgatando um termo católico, transubstanciação, Ponty associa o corpo do


pintor ao momento da pintura como o sujeito sendo um mecanismo vivo de captação
das ideias do mundo visível.

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Problema da imagem

A despeito do tom poético, o autor apresenta um problema de interpretação da


imagem. O reflexo da imagem é fruto de uma dialética incessante do interior com o
exterior do artista. E, distante do que se proponha ser real, o quadro interessa apenas
pelas relações de semelhança ou coincidência.

Motivação

“Pinto, talvez, para ressurgir”


André Marchand

A metafísica foi identificada como algo presente na inspiração do pintor.


Diversas são as motivações, mas a subjetividade é o que governa a mão do artista.
Dentro disso descreve uma série de experiências sensoriais e monólogos que tentem dar
conta dessa experiência.

Técnica

Como já dito, o corpo do artista cientista observador que trocou de perspectiva,


observa o próprio reflexo como recurso técnico para, à partir dessa observação, realizar
seu experimento artístico. Sendo o próprio sujeito elemento na dialética, interpretando e
sendo interpretado.
A semelhança é dos paradoxos apontados por Merleau Ponty, que vê a
correspondência de símbolos com o imaginário e sua dialética permanente. Critica a
visão de Descartes sobre a pintura mas concorda que “o estudo da pintura delinearia
outra filosofia”. Concorda também que “Não é, então, a pintura senão um artificio que
apresenta aos nossos olhos uma projeção semelhante à que as coisas nela inscreveriam
e nela inscrevem na percepção comum, que, na ausência do objeto verdadeiro, faz-nos
ver como se vê o objeto verdadeiro na vida, e que especialmente nos faz ver espaço
onde não há. O quadro é uma coisa plana, que nos proporciona artificiosamente aquilo
que veríamos em presença de coisas "diversamente salientadas", porque ele nos dá

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segundo a altura e a largura sinais diacríticos suficientes da dimensão que lhe falta. A
profundidade é uma terceira dimensão derivada das outras duas”.
Discutir as leis que podem orientar a demarcação espacial da pintura, foi um
momento intenso no texto. De Descartes a Euclides, o filósofo se esmerou por pontuar
todas as possibilidades. Depois reconheceu a dificuldade de se estabelecer algum
parâmetro de exatidão.

Imanência e transcendência

“O desvio pela metafisica, que, apesar de tudo,


Descartes fizera uma vez em sua vida,
a ciência dispensa-se dele:
ela parte daquilo que foi o seu ponto de chegada.”
Merleau Ponty

O capítulo quarto, trecho com maior conteúdo filosófico, trata da influência


histórica da pintura, dos efeitos nas histórias individuais e como se dão esses processos
no imaginário e comportamento coletivo. Volta ainda a poetizar sobre a relação do
pintor com o meio ambiente, sugerindo que este é fruto da natureza e, por isso, a
representa nos quadros. Um retorno à metafísica.
Noutro momento tenta enumerar elementos do cotidiano, bem como a
diversidade de perspectivas e leituras geométricas, que servem de sugestões para a
composição artística.
Voltando aos elementos motivadores da arte cabe aqui transcrever, como
prometido, trechos auto explicativos. “Da Vinci invoca uma "ciência pictural" que não
fala por palavras... Esta ciência, que calada, que [...] vem do olho e ao olho se dirige.
Há que compreender o olho como a "janela da alma". “pode um cartesiano crer que o
mundo existente não é visível, que a única luz é de espírito, que toda visão se faz em
Deus. Um pintor não Pode consentir em que a nossa abertura ao mundo seja ilusória
ou indireta, em que o que vemos não seja o próprio mundo, em que o espírito só tem
que se avir com os seus pensamentos ou com outro espírito”.
Por fim o autor afirma, já no capítulo quinto, que cada pintura, por ser única,
exclusiva, inédita, cuja singularidade se dá durante a história da humanidade, e que só
estará concluída quando findarem os homens no mundo. Ponty ainda nivela o
pensamento pictórico com o literário e o filosófico num mesmo patamar

4
Conclusão

“A idéia de uma pintura universal, de uma totalização da pintura,


de uma pintura inteiramente realizada, é destituída de sentido.
Mesmo que durasse milhões de anos ainda,
para os pintores o mundo, se permanecer mundo,
ainda estará por pintar, findará sem ter sido acabado.”
Merleau Ponty

Indubitavelmente a pintura é uma forma de expressão do pensamento e é isso


que Merleau Ponty salienta. Já o pensar com a pintura é uma arte, técnica, tão complexa
quanto seus textos e apenas sujeitos dedicados e dotados de capacidade inata poderão
efetuar.
Grande parte do texto tem valor inspirativo e sedutor aos amantes das artes
plásticas. Muito de verborragia e pouco de filosofia. No entanto, nós filósofos temos o
poder de abstração e de absorção, convertendo em útil tudo o que for necessário.
Compreendo então do texto, que o olho é a sensibilidade, cuja capacidade pode
traduzir o que do mundo se pode perceber e o espírito é o que há de comum entre as
ciências. Dois pensamentos próximos são possíveis de identificar. Um de Hegel, cuja
síntese é a soma e elevação da tese e antítese e outro do conhecimento do mundo
espiritual pelo estudo bíblico, que nos dá um panorama de inter-relacionamento físico
com o espiritual, onde as distâncias são relativas. Sobre a profundidade ainda é possível
dizer da complexidade qual elaboração tem variações em diversos campos, inclusive,
fotografia e filosofia. Na pintura poderíamos, talvez, utilizar as mesmas referências
subjetivas expostas no texto.
Quando se trata de espírito no âmbito científico é inevitável se remeter a Hegel,
inicialmente. Para além da síntese, captar o espírito das coisas não é tarefa simples e,
apenas embasado de grande arcabouço erudito, poderemos chegar a algum
entendimento aproximado. Hume que o diga.
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REFERÊNCIAS:

MERLEAU-PONTY, M – O Olho e o Espírito – São Paulo: Cosac & Naify, 2004.

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