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Uma das idéias centrais de Przeworski é que para que um processo de transição à
democracia funcione é preciso dar garantias para manutenção do OO, isto é, é preciso
que as classes dominantes não temam que o processo venha a lesar seus bens materiais ʹ
idéia válida para as chamadas transições pactadas. O autor do livro questiona a idéia de
Przeworski e divide o movimento em três etapas: 1) pacto para a transição a democracia; 2)
pacto de definição das regras do jogo; 3) o processo para a cristalização do novo modelo de
sociedade. A primeira etapa trata-se do reconhecimento da necessidade de mudança, sem
garantias mútuas, enquanto na segunda, durante o delineamento de uma Constituição, têm-se
garantias substanciais da manutenção do modelo anterior.
Uma diferença entre os processos do Brasil e da Espanha é que o primeiro se deu de
forma pública enquanto o segundo foi conduzido por um grupo reservado. O caráter secreto
da comissão era uma condição para impor o consenso, pois evitava que a pressão da opinião
pública gerasse aspectos contraditórios que inviabilizassem o acordo. Como aconteceu no
Brasil, a Constituição não se deteve a delimitar as regras do jogo político, mas determinou
relações trabalhistas e modelo de sociedade, o que tende a dificultar a flexibilidade
característica do jogo democrático. O autor frisa que a expectativa de que o regime
democrático seja capaz de resolver a questão social corre o risco de provocar desapontamento
e perda da legitimidade do sistema, gerando apatia política, desmobilização e cinismo.
As preocupações pessimistas que assolam as expectativas do processo são de natureza
política; destaca-se o alto grau de controle dos herdeiros do regime anterior, as práticas
patrimonialistas e clientelistas e a desorganização dos setores populares que facilitam a união
entre burguesia e Estado.
Henrique Simonsen, ex-ministro do governo do general Ernesto Geisel chama atenção
para o risco de uma ͞argentinização͟ do Brasil, isto é, da volta de um governo populista tal
qual foi o peronismo, que coloque fim aos avanços democráticos conquistados. No entanto,
sabe-se que a Argentina encontra-se a frente do Brasil no processo de transição, embora
também compartilhe o receio de um retrocesso.
A questão que se coloca é que se a democracia pode ser entendida como fruto de
conflitos, e mais, como força administradora desses conflitos, é lícito assumir que os riscos da
transição fazem parte do jogo democrático? Se as incertezas forem de fato de outra natureza
que não a esperada, a ameaça deve ser tida como real.