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O livro se propõe a fazer uma importante contribuição intelectual e prática ao debate


da consolidação da democracia brasileira, considerado carente de novas idéias, com ênfase
nas estratégias apresentadas pelos atores sociais envolvidos no processo. A abordagem em
questão implica a recusa de explicações que reduzam a singularidade dos fenômenos
estudados a uma análise macroestrutural de caráter determinista.
Os autores afirmam não se munirem de uma visão politicista ingênua, isto é, não
entendem o fator político como autônomo ou como determinante dentro do quadro da vida
social, o que afirmam resultar via de regra em posições conservadoras. Ao contrário, o livro
busca relacionar o campo analisado de forma isolada com a realidade macroestrutural e
histórica.
Diante de perguntas como ͞Quais são as possibilidades de propostas de ação política a
curto e médio prazo a favor da construção de uma ordem democrática?͟ e ͞Que questões,
mesmo que de suma importância, devem encontrar sua solução em um horizonte posterior ao
da construção democrática?͟ os autores trabalham as incertezas a que está sujeito o atual
processo político brasileiro, buscando produzir análises intelectuais que possam ser
reconhecidas e articuladas na prática de forma a defender os valores democráticos.

 
      
  

O processo de democratização do Brasil e da Espanha é fruto, em ambos os casos, de


um pacto entre as forças políticas, e não do triunfo de uma sobre a outra, sendo possível
recorrer ao termo O  
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paralelo entre os dois processos, o autor prefere fixar-se no que há de peculiar em cada um.

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A primeira diferença a ser ressaltada é que enquanto no Brasil houve um processo de


fortalecimento da oposição no MDB (posterior PMDB), na Espanha a transição começa
precipitada pela morte de Franco em 1975. No Brasil, portanto, foi possível construir uma
força majoritária de oposição, em contraponto ao sectarismo dos partidos e sindicatos
espanhóis. A resistência a transição até o último momento na Espanha se explica também pelo
fato de que, em se tratando de uma ditadura pessoal e sendo Franco simpático a ela, o país
teve um posicionamento firme e intransigente quanto à questão. O autor ressalta que não
necessariamente o caso brasileiro foi o vantajoso. Com a morte de Tancredo Neves, o Brasil se
viu em meio a uma confusão de ideologias políticas desde a centro-direita até a esquerda,
contrastando com a unidade da transição espanhola ao redor da esquerda.



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Uma das idéias centrais de Przeworski é que para que um processo de transição à
democracia funcione é preciso dar garantias para manutenção do OO, isto é, é preciso
que as classes dominantes não temam que o processo venha a lesar seus bens materiais ʹ
idéia válida para as chamadas transições pactadas. O autor do livro questiona a idéia de
Przeworski e divide o movimento em três etapas: 1) pacto para a transição a democracia; 2)
pacto de definição das regras do jogo; 3) o processo para a cristalização do novo modelo de
sociedade. A primeira etapa trata-se do reconhecimento da necessidade de mudança, sem
garantias mútuas, enquanto na segunda, durante o delineamento de uma Constituição, têm-se
garantias substanciais da manutenção do modelo anterior.
Uma diferença entre os processos do Brasil e da Espanha é que o primeiro se deu de
forma pública enquanto o segundo foi conduzido por um grupo reservado. O caráter secreto
da comissão era uma condição para impor o consenso, pois evitava que a pressão da opinião
pública gerasse aspectos contraditórios que inviabilizassem o acordo. Como aconteceu no
Brasil, a Constituição não se deteve a delimitar as regras do jogo político, mas determinou
relações trabalhistas e modelo de sociedade, o que tende a dificultar a flexibilidade
característica do jogo democrático. O autor frisa que a expectativa de que o regime
democrático seja capaz de resolver a questão social corre o risco de provocar desapontamento
e perda da legitimidade do sistema, gerando apatia política, desmobilização e cinismo.

 

Cabe analisar também algumas diferenças institucionais dos processos de transição a


partir da perspectiva simbólica. Um código de interpretação simbólica da realidade pode levar
a sociedade a buscar soluções ilusórias, e por isso mesmo catastróficas. Salienta-se que no
caso espanhol a figura do rei como depositário da legitimidade nacional deu respaldo
simbólico a transição democrática. Sugere-se ainda que talvez a separação entre chefe de
estado (legitimidade tradicional) e chefe de governo (legitimidade legal-racional) possa ser a
chave para a estabilidade do processo.
A partir de então se chega à distinção entre eficácia e efetividade. Por essa
entendemos a capacidade de um regime encontrar soluções para seus problemas e por esta a
capacidade de colocar em prática as propostas formuladas. Portanto temos a efetividade como
pré-requisito para a eficácia, uma vez que de pouco valem soluções que não consigam ser
articuladas de forma coerente com as causas dos problemas que pretendem solucionar. A
primeira tende a desgastar mais facilmente a legitimidade do que a segunda, visto que a
inexistência de propostas é menos frustrante do que o sentimento de incapacidade do
governo.
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O processo de transição é permeado por incertezas, como se estas fossem inerentes a
democracia. Distingui-se, no entanto, as inseguranças características do jogo democrático
daquelas provenientes de processos de rompimento com ditaduras, que dizem respeito as
possibilidades de implantação do regime.


   
     

As preocupações pessimistas que assolam as expectativas do processo são de natureza
política; destaca-se o alto grau de controle dos herdeiros do regime anterior, as práticas
patrimonialistas e clientelistas e a desorganização dos setores populares que facilitam a união
entre burguesia e Estado.
Henrique Simonsen, ex-ministro do governo do general Ernesto Geisel chama atenção
para o risco de uma ͞argentinização͟ do Brasil, isto é, da volta de um governo populista tal
qual foi o peronismo, que coloque fim aos avanços democráticos conquistados. No entanto,
sabe-se que a Argentina encontra-se a frente do Brasil no processo de transição, embora
também compartilhe o receio de um retrocesso.
A questão que se coloca é que se a democracia pode ser entendida como fruto de
conflitos, e mais, como força administradora desses conflitos, é lícito assumir que os riscos da
transição fazem parte do jogo democrático? Se as incertezas forem de fato de outra natureza
que não a esperada, a ameaça deve ser tida como real.

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Os períodos das décadas de 20 e 30 e das décadas de 60 e 70 são dois grandes


momentos de inflexão na história da América Latina. Essas épocas foram marcadas pela busca
de uma resposta para as necessidades objetivas e mais reais dos países latino-americanos. Os
grandes temas eram a mudança da estrutura da sociedade, da economia e do Estado.O tema
da democracia estava presente, mas em segundo plano. Os temas principais eram a estrutura
agrária, o crescimento econômico nacional, os desequilíbrios regionais, a formação do
mercado interno, as desigualdades sociais, a distribuição de renda, a marginalidade social.
Por parte dos militares, o projeto histórico foi, no início, um projeto negativo de direito
próprio. Segundo os próprios disseram, foi um projeto antiestatista, anticomunista,
antipopulista e antirevolucionário. Foi também um projeto antidemocrático, de caráter
fascista. No entanto, parece ser possível constatar êxito relativo no plano econômico brasileiro
com relação aos demais países latino-americanos.

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