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MACHADO DE ASSIS

PROFESSOR SÉRGIO RIBEIRO


MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Brás Cubas inicia a historia narrando sua morte, ocorrida numa sexta-feira de agosto de 1869, às 2
horas da tarde, na chácara de Catumbi, aos 64 anos, motivada por pneumonia. Seu féretro é
acompanhado por 11 amigos. A narrativa se volta para os desejos ocultos, o orgulho, as máscaras
que os seres humanos usam para levarem a cabo seu destino, como descreve o defunto-autor:
"trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado,
filantropia e lucro; de outro lado, sede de nomeado. Digamos: - amor da glória". Tal desprezo já
está presente na dedicatória: "Ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver dedico
como saudosa lembrança estas memórias póstumas".

Antes de seu falecimento, a amante da juventude, Virgília, vem visitá-lo no leito de morte. Durante
20 a 30 minutos, Brás Cubas tem um delírio, tomando primeiro, a figura de um barbeiro chinês que
faz a barba de um mandarim, recebendo como recompensa beliscões e confeito. Depois
transformado em livro, a Suma Teológica de Santo Tomás, é restituído à forma humana e
arrebatado por um hipopótamo em direção à origem dos séculos, passando por lugares
extremamente gelados.
Encontra, a seguir, uma figura feminina gigantesca a fitar-lhe com olhos rutilantes como o sol, dizendo
chamar-se Natureza ou Pandora, mãe e amiga de Brás Cubas que a observa por certo tempo, notando
sua expressão glacial. Ela diz também se chamar Pandora, porque traz na bolsa os bens e os males e,
o maior deles, a esperança, aponta como a consolação dos homens, acrescentando que é, a um só
tempo, vida e morte, restando ao interlocutor "a voluptuosidade do nada".
Brás Cubas implora por mais alguns anos de vida e a resposta não é alentadora. Chama-o de idiota,
lembrando-lhe que o momento da morte é chegado e a ela não pode fugir. Dito isso, o leva para cima
de uma montanha de onde o protagonista avista, por entre um nevoeiro, o desfile dos séculos e com
ele todas as raças, paixões, guerras, ódios, tumultos e a destruição mútua dos seres e coisas, numa
espécie de "condensação viva de todos os tempos". Brás Cubas vê o homem correndo ora atrás da
"quimera da felicidade", ora fugindo dela e quando a apanha, esta some como uma ilusão. Finalmente,
decide se entregar a Pandora, pedindo que o devore e, mais uma vez, observa a passagem dos
séculos, cada vez mais veloz até que o hipopótamo, em que viaja, vai diminuindo de tamanho,
tornando-se um gato. Desperta e vê Sultão, seu gato, brincando com uma bola de papel.
Quando criança o protagonista era um verdadeiro menino diabo, adorado pelos pais que se deleitam com as
traquinagens do rebento; enquanto os adultos, seus educadores, revelam vulgaridade de caráter, amor
pelas aparências, falta de vontade e tendência aos caprichos. Marcela, o primeiro amor, ocorrido aos 18
anos, tem um jeito todo especial de pedir jóias e dar amor que dura, segundo Brás Cubas: "15 meses e 11
contos de réis; nada menos". Finalmente, quando lhe dá um pente cravejado de brilhantes, o pai que lhe
vinha pagando todos os excessos, o coloca, à força, em um barco com destino à Lisboa, onde passa de 8 a
9 anos, retornando para ver a mãe à beira da morte.

O rapaz se ressente da perda materna, mas o pai lhe traz notícias, planeja para o filho o casamento com
uma bela moça, Virgília, filha do Conselheiro Dutra, que certamente o fará deputado. Abandona a
namorada, a pobre e coxa Eugênia, sua vizinha, mas acaba perdendo Virgília para Lobo Neves e,
evidentemente, a cadeira de deputado. O pai desencantado falece, ladeado pelos filhos: Sabina e Brás
Cubas. Ao acertarem a divisão dos bens, os irmãos brigam pela herança e acabam separados. Mais tarde, o
protagonista reencontra Virgília casada e termina como seu amante.
Nesse período, um velho colega de escola, Quincas Borba, lhe aparece mal vestido, quase
maltrapilho, contando-lhe as desventuras e miséria a que se vê submetido, parte levando 5
mil-réis e mais o relógio do amigo, furtado ao abraçá-lo. Mas é a Virgília que Brás Cubas
destina toda sua paixão, correspondida com o mesmo ardor, até que a Baronesa X conta a
amante que a presença do moço na casa tem sido motivo de comentários e suspeita pública. O
rapaz acha melhor encontrar um local para os encontros, pois Virgília não deseja se separar do
marido e muito menos do filho Nhonhô. O casal escolhe uma velha empregada de Virgília,
Dona Plácida, para ser a moradora da casa dos encontros.
Quincas Borba, que lhe havia roubado, manda a Brás Cubas uma carta, acompanhada de um
novo relógio e informa que inventou um novo sistema de filosofia a que deu o nome de
Humanitismo, derivado de Humanitas, o princípio das coisas. Enquanto isso, a irmã e o marido,
Cotrim, preocupados com os falatórios sobre os encontros secretos do irmão, resolvem reatar a
amizade e apresentar Nhã-loló ao rapaz que a acha bonita, mas não se interessa muito por ela.
O marido de Virgília, nomeado presidente de província, aponta Brás Cubas para seu secretário, entretanto
como a nomeação ocorre em um dia 13, o supersticioso, Lobo Neves, desiste da posição para regozijo dos
amantes. Posteriormente, o marido recebe carta anônima sobre os encontros na casa de Plácida. Chega a ir
até o endereço e encontrando a esposa, que oculta Brás Cubas, no quarto ao lado, e, lhe diz ter ido visitar a
amiga, a traz de volta para casa sem haver o menor percalço. Mais uma vez, apontado para presidente e a
nomeação, recaindo no dia 31, Lobo Neves aceita a indicação prontamente, partindo com a esposa e filho.
Brás Cubas diz simplesmente adeus a Virgília, sentindo-se aliviado e saudoso, mas almoça normalmente
como se nada de importante tivesse acontecido. A irmã e o cunhado persistem nos planos do namoro com
Nhã-loló. Mas a moça falece, vítima de febre amarela, e ele permanece solteiro, tornando-se deputado,
perdendo, mais tarde, a cadeira. A conselho do amigo Quincas Borba, escreve para um jornal de curta
duração. Vai rotineiramente levando a vida, sabe da morte de Lobo Neves, quando este está prestes a se
tornar ministro; do enlouquecimento de Quincas Borba, e assiste seu primeiro amor, Marcela, a morrer. Não
chega a ministro e nem a se casa. Inventa um remédio contra a hipocondria, o emplasto Brás Cubas. Mas,
como está doente, não pode sair de casa para registrar o invento. Morre certo de uma coisa: não teve filhos
e, assim, não passou adiante a miséria humana.
DOM CASMURRO
Apelidado de "Dom Casmurro" por um homem na rua, Bentinho começa a narrar sua vida e todo o seu relacionamento amoroso com
Capitu, sua ex-esposa, acusada por ele de adúltera. A narrativa começa com a infância de ambos, onde o menino, órfão de pai, convive
com a vontade da mãe em torná-lo padre e a admiração aliada ao amor ainda inocente pela vizinha Capitu. Os desejos da mãe são
cumpridos, mesmo a contragosto, e Bentinho vai para o seminário. O amor por Capitu é mais forte, e o rapaz consegue, por intermédio
de José Dias (um amigo da família), sua saída daquele tão tormentoso destino.

Cursando Direito, Bentinho namora e se casa com o grande amor de sua vida, sendo que desta união nasce o menino Ezequiel. Com
alegria, também assiste ao casamento de seu velho amigo de seminário Escobar com Sancha, amiga de Capitu. As duas novas famílias
mantêm um laço forte de amizade, até a trágica morte de Escobar por afogamento.

A intriga começa quando Bentinho acha estranho o modo com que Capitu age e olha para o corpo de Escobar no velório. A partir daí
começam as suspeitas e o ciúme. Bentinho começa a reparar com mais atenção o próprio filho e nota que há muita semelhança entre
ele e o velho amigo morto. Crescem as crises de ciúmes, o que leva o já desesperado Bentinho a pensar até em cometer uma tragédia.
Capitu nega tudo e já não suporta mais o estado conflituoso que chegou seu casamento. Separa-se do marido e vai morar na Europa
com Ezequiel, morrendo algum tempo depois. Este, já moço, vem visitar o pai e mostra-se realmente muito parecido com Escobar.
Ezequiel parte e morre pouco depois na África, enquanto Bentinho passa o resto da vida solitário e triste (casmurro). O que há de mais
interessante na narração é que, como todos os episódios são contados pela visão única e possivelmente cega pelos ciúmes do narrador,
resta-nos sempre o grande mistério não resolvido: a traição ou a inocência de Capitu.
QUINCAS BORBA
Quincas Borba, filósofo e ateu, torna-se um homem rico, após herdar os bens de um velho
tio, morador de Barbacena, Minas Gerais. Apaixonado pela tímida viúva Maria da Piedade,
Quincas permanece algum tempo nessa cidade, antes de morrer. Pedro Rubião de
Alvarenga, irmão de Piedade e diretor de uma escola de meninos, faz todo o possível para
casá-los, mas a irmã, resistindo sempre, acaba morrendo, vítima de um pleuris.

Quincas Borba também adoece e Rubião, seu único amigo naquele lugar e interessado na
possível herança, fecha a escola para cuidar do enfermo, tornando-se assim seu enfermeiro
e discípulo. Um outro Quincas - um belo cachorro cor de chumbo - é rival de Rubião no
coração de Quincas. O filósofo acredita que Humanitas - o princípio da vida - está presente
em tudo, até nos cães. Por motivos particulares e na crença da imortalidade, acha, também,
que poderá sobreviver através de seus escritos, ou no nome de seu bom cachorro.
Para melhor ilustrar o princípio do Humanitismo a Rubião, Quincas Borba apóia-se na
alegoria das duas tribos famintas diante de um único campo de batatas. Na fórmula "ao
vencedor, as batatas" está implícita a aceitação da luta ou de outras formas de violência
como meio de seleção dos mais fortes. Os que morrem nessa disputa servem ao princípio do
qual descendem, que é Humanitas. Não há morte; e sim, vida. A morte de um ser, como
condição de sobrevivência de outro, revela a presença constante da vida. Ao vencido, o ódio
ou compaixão; ao vencedor, a glória, as batatas. Achando tudo muito esquisito, Rubião
pouco entende da doutrina pregada pelo amigo.
Deixando seu adorado cachorro sob os cuidados de Rubião, Quincas Borba parte para o Rio
de Janeiro, onde, muito doente e tomado pela loucura, vem a falecer. Quincas faz de Rubião
seu herdeiro universal, sob a condição de olhar e amparar seu amado cão. Milionário, e em
busca de luxo e prazeres, Rubião muda-se para o Rio.
Durante a viagem, na estação de Vassouras, conhece o casal Palha; Cristiano de 32 anos, e
a formosa Sofia de 28. Ingênuo, Rubião conta-lhes sobre a herança recebida, fazendo com
que Cristiano veja nele o trampolim necessário para sua ascensão econômica e social.
Oferecem seus préstimos e Rubião, encantado pelos olhares e delicadezas insinuantes de
Sofia, visita-os com freqüência, deixando, cegamente, que o auxiliem em tudo, desde o
advogado para cuidar dos negócios até a decoração do palacete em Botafogo, onde sempre
tem amigos para as refeições.

Um dia, ao almoçar com os amigos, Freitas e Carlos Maria, Rubião que, a essa altura já está
apaixonado por Sofia, recebe desta um presentinho. A caixa de morangos e o bilhete,
convidando-o para jantar, fazem com que perca o equilíbrio e declare, sob a luz das estrelas
no jardim, seu amor pela dama.
Sofia revela ao esposo o ocorrido, mas, como este devia dinheiro ao galanteador,
explica-lhe que é impossível cortar relações com o amigo, naquele momento. Sofia,
por sua vez, seduzida pelas atenções e presentes recebidos, também, não deseja
afastar o rico mineiro de sua casa.

Constrangido por sua atitude, Rubião se afasta do convívio dos Palha por muitos dias,
o que leva Cristiano procurá-lo em Botafogo. Lá se encontra também com Camacho,
advogado e político, que necessita de dinheiro para financiar o seu jornal Atalaia,
sendo prontamente atendido por Rubião. Aproveitando a oportunidade, o anfitrião
conta-lhes acerca de seu desejo de retornar a Minas. Os amigos, vislumbrando a
perda de dinheiro fácil, logo discordam.
Voltando ao convívio do casal Palha, Rubião conhece Maria Augusta e Maria Benedita, tia e prima de Sofia
que moram no interior. Encontra-se com o pretensioso Carlos Maria, que fascina Sofia. Sem motivo
aparente, a não ser o amparo financeiro, o rico mineiro torna-se sócio de Cristiano, mas está cada vez mais
apaixonado pela esposa que, agora, exerce conscientemente a condição de chamariz, dispensando-lhe
delicadezas e insinuações afetuosas. Mas, a bem da verdade, está interessada em Carlos Maria, seu par
preferido nas valsas. Um dia, durante uma valsa, este se declara abertamente, deixando-a em êxtase e
apreensão.
O amor não correspondido por Sofia desperta-lhe, aos poucos, a loucura. Rubião acredita que o casamento
seria uma forma de libertá-lo dessa paixão doentia. Ao invés de, primeiramente, imaginar uma noiva, o que
seria normal, sonha com o luxo e a riqueza da festa, da qual participaria a mais alta aristocracia. Imagina
carruagens, danças, champagne. Para ele, dinheiro não é problema; numa exacerbada mania de grandeza,
recebe diariamente à sua mesa os mais famigerados convivas. Pouco antes do amigo Freitas morrer,
compadecido com a situação de penúria do rapaz, socorre-o financeiramente. Sem querer saber de nada,
deixa tudo nas mãos de Cristiano. Conseqüentemente, o gasto desenfreado e o descuido com os negócios
fazem com que seu capital diminua.
Sofia e Cristiano, após a morte da tia Maria Augusta, recebem Maria Benedita em casa.
Pretendem casá-la com o amigo milionário a fim de torná-lo parente e, dessa forma,
tê-lo mais próximo de sua influência. Além disso, Sofia tem outra intenção: impedir um
possível casamento da prima com Carlos Maria; alimenta esperanças de se tornar sua
amante. Todavia, o belo Carlos Maria, cínico e narcisista para levar o flerte adiante,
cuida para que a atração mútua não resulte em nada.
Por ocasião de uma epidemia em Alagoas, Sofia e Maria Benedita trabalham para
angariar fundos. D. Fernanda, prima de Carlos Maria e esposa do deputado Teófilo,
também as auxilia e acaba promovendo o casamento de Carlos Maria com Maria
Benedita, cuja lua-de-mel se dá na Europa. Embora se sentindo ultrajada, Sofia nada
demonstra.
A loucura de Rubião torna-se mais visível. Um dia, sonhando ser Napoleão III, corta a barba para se parecer
com ele. Depois disso, os acessos tornam-se constantes e intensos. Certa vez, vendo na apavorada Sofia, a
imperatriz Eugênia, entra com ela num carro e, freneticamente, expõe-lhe os planos, prometendo-lhe luxo e
riqueza. Distribui títulos e patentes aos conhecidos e, como o dinheiro vai acabando, os amigos,
impiedosamente, passam a evitá-lo.

Pela intercessão de D. Fernanda, única pessoa a se compadecer de Rubião, Cristiano retira-o do palacete de
Botafogo, instalando-o em uma pequena casa, perto do mar, onde os acessos continuam. Passa a ser chacota
de todos, sobretudo, de meninos, o que faz com que Cristiano, indiferente àquilo, interne o ex-sócio numa casa
de saúde, junto com seu cachorro Quincas Borba.

Abandonado por todos, foge para Barbacena, levando consigo o faminto Quincas. Colhidos por uma
tempestade, dormem ao relento. Rubião, enfermo e delirante, vaga pelas ruas de sua cidade natal até ser
acolhido pela comadre Angélica. Alguns dias depois, morre coroando-se Napoleão III e repetindo
constantemente a máxima do filósofo Quincas Borba: "Ao vencedor, as batatas", compreendendo, somente
agora, seu sentido; sua fortuna ficara com os vencedores do Rio. Dias depois morre, abandonado, o cachorro
Quincas, nas ruas de Barbacena.

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