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Disciplina: Metodologia de Pesquisa Jurídica

Curso: Direito – Quarto Período Turmas: (2019 - 2)


Professor (a): Mônica Sette Lopes
Alunos: Anderson Cardoso Duque – Gabriela Souza Silva

Um buteco com marca registrada

Quem mora na periferia sabe; o lugar mais democrático do mundo é um “buteco copo
sujo”. É lá que você presencia discussões sobre qualquer assunto. Já ouvi discurso sobre o
momento político do país feito por gente que já passou por vários governos, escutei análises
futebolísticas feitas pelos melhores “peladeiros” que não perdem em nada para os comentários
dos ex-jogadores contratados pela SPORTV. Até testemunhei conselhos amorosos que
causariam inveja ao casal do Programa Minuto do Casamento.
No buteco tem de tudo!
Foi por causa desta variedade de assuntos que o Seu Zé, aqui da Vila da Fé, resolveu se
embrenhar em uma nova empreitada e transformar sua birosca em uma empresa. Sua lojinha,
com duas portas de aço, um balcão e um banheiro (dividido por homens e mulheres) foi
inaugurada na mesma época que aconteceu a ocupação que deu origem a vila. Seu Zé viu a
luta do povo pela moradia. Acompanhou, também, o crescimento de cada filho daquelas
famílias humildes. Por isso não é difícil ele contar histórias de como muito destes jovens
usaram as politicas de popularização da educação para entrar no ensino superior e realizar os
sonhos de seus pais:
_Os filhos das empregadas, dos pedreiros e garis estão se tornando doutores!
Orgulhava-se.
E foi justamente um destes moleques que colocou na cabeça de Seu Zé que ele poderia
deixar de ser dono de “inferninho” para se tornar empresário.
Todos os dias quando Lucas se dirigia à faculdade, parava no buteco do Seu Zé para
tomar um suco e comer um pacotinho de salgadinho. Enquanto esperava a lotação ia falando
como o bar poderia se tornar uma EIRELI, uma MEI ou uma sociedade anônima. Usando o
jargão jurídico que aprendia na disciplina de direito empresarial, Lucas enchia seu Zé de
esperança, descrevendo que isso lhe facilitaria o crédito, proporcionaria receber os “fiados” e
que lhe daria personalidade jurídica. O que fazia Seu Zé dizer em tom de brincadeira:
_ A única coisa que sei é que personalidade é uma coisa que todo mundo tem, mas
muitos perdem ela aqui, depois de tomar umas pingas.
De tanto ouvir o jovem estudante, Seu Zé um dia resolveu se dirigir a JUCEMG (Junta
Comercial de Minas Gerais) e registrar seu bar como uma empresa.
Em uma segunda-feira bem cedinho, ele já estava na porta da repartição com sua bolsa
“Sansonite” (só quem viveu nos anos 90 sabe o que é) cheia de documentos. Na mesma hora
que identificou o funcionário responsável pelo serviço, foi logo dizendo:
_ Vim aqui abrir uma empresa. O Bar do Seu Zé.
O funcionário meio descrente e com um ar de deboche, respondeu:
_Bar do Seu Zé? Só no mês passado apareceram pelo menos cem pessoas querendo
registrar este mesmo nome. Dá pra pensar em outro não?
Seu Zé, matuto que era, pediu um tempo e sentou-se nas cadeiras de espera onde
começou a relembrar a história da Vila.
A área onde morava foi ocupada, primeiramente, por um grupo de mulheres que
trabalhavam descascando cabeças de alho para uma fábrica de tempero que ficava nas
redondezas. Por esta razão, o local foi chamado inicialmente de “Favelinha do Alho”, nome que
não demoraria a ser substituído.
Como foram muitos os pedidos de reintegração de posse e ameaças de despejo, as
moradoras se mobilizaram e, lideradas pela mãe de Lucas, criaram uma associação de luta
pela moradia onde o lema era moradia e fé. Foram tantas as pelejas que conseguiram a posse
do terreno e muitas melhorias no local. Então rebatizaram a ocupação de Vila da Fé e
repudiaram o antigo nome, usado, muitas das vezes, para ridicularizar os moradores.
Neste momento, Seu Zé teve uma ideia. Se dirigiu ao escriturário, jogou os documentos
na mesa e “lascou”:
_ O nome vai ser: Bar do Zé da Fé.
Sem força para questioná-lo diante de tão incisiva decisão, o servidor conferiu os
documentos e lavrou o registro.
Naquela mesma tarde, Seu Zé já pintou um letreiro improvisado onde se lia:
_ BAR DO ZÉ DA FÉ LTDA.
A todos que passavam pela porta de aço ele se reapresentava:
_ Bem vindo. Eu sou o José, o empresário dono do “BAR DO ZÉ DA FÉ”
De tão motivado que ficou o pequeno comerciante cismou também de se tornar
publicitário. Criou até um slogan.
Se você for a Vila da Fé e encontrar o Buteco do Zé, vai dar de cara com um cartaz
dizendo:

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