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Um dia como outro qualquer

Mais um dia nesta cadeia! Dormindo no catre, percebi alguém acendendo a lâmpada e,
mesmo que não quisesse, sentir-me obrigado a pegar os chinelos para atravessar a praia.
Assim, fui em direção ao sanitário, quando o companheiro encostado na porta da cela deu um
aviso aos berros:

_ Está chegando o transporte!!! Veio bilhete com a informação.

Fiquei logo ansioso. Pedi um trago do cigarro do colega na intenção de me acalmar.Como ele
estava apagando, tentei reacende-lo com meu esqueiro, mas o gás tinha acabado. Eu só queria
um café acompanhado de um pão francês, porem o que tinha era biscoito. Estava com fome e
ainda atordoado pelo remédio para dormir da noite anterior. Demorei a perceber a conversa
dos amigos que apontavam pra mim.

Meu alvará de soltura estava pronto. Meu nome estava na circular do dia anterior, me disse o
responsável pela limpeza. Era necessário um bom banho e para o comboio, com direito a
aparar o cabelo e fazer as unhas com o cortador. Em cima da latrina, sentia o barbeador quase
arrancando a pele, o vento vindo da janelinha aliviava o desconforto. Queria sair dali logo!

Botei uma calça e sentei na cadeira ouvindo o bater da tesoura e vendo meu cabelo cair como
gotas de garoa.

Após me desfazer de toda aquela sujeira, levantei a pensante e avistei meu advogado na porta
junto com o figia que me pediu pra virar e botar as algemas. Será que havia valido a pena toda
ao grana que ele me tirou? Aquele ganancioso... Como gosta de cobrar caro dos irmãos! Isso
não me deixou triste, estava alegre por não pegar uma pena pesada.

Já avançava as batidas do relógio quando entrei na no carro, na hora do almoço. Recebi uma
marmitex bem cheia. Não tinha colher, então tive que usar a mão mesmo. Rodei muito
tempo na viatura, gritando no ouvido o rádio com as notícias das atividades das facções.

Não fiquei interessado nisso! Pensava apenas que, em todo este tempo, consegui me proteger
dos facas, das balas, das ciladas e, até, dos traidores que ficara me rondando. Deus deve ter
intercedido por mim. Oh! Agora vou ver meus filhos e minha esposa, mulher fiel que nunca
deixou de me ajudar. Ela não merece nenhum ser maltratada, devo-lhe muito respeito. Nunca
se envolveu com amante, não merecia que eu transasse com homossexuais naquelas tendas
improvisadas do presídio.

Todo este tempo no sistema prisional, agora é pensar em me esforçar, arranjar um emprego,
porque necessito me reestabelecer. A única coisa que levo no bolso é a cante e na cabeça a
ideia de aconselhar os jovens pra irem à escola, parar de traficar e usar armas, pois o sistema é
cruel. Bandido pobre sofre muito, os chefões e os espertos não morrem.

Nunca mais, companheiro!!! Livre eu voou, evito ser penalizado de novo. Espero que este dia
tão incomum seja apenas um dia como outro qualquer. Troco meu lápis de cor por um pincel
pra desenhar o futuro.
Led Gualberto e Tim Duque

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