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Monografia - Eficiência de Grupos de Estacas
Monografia - Eficiência de Grupos de Estacas
DEPARTAMENTO DE TECNOLOGIA
GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
FEIRA DE SANTANA
2009
1
GIORDANO NEPOMUCENO DE CERQUEIRA
FEIRA DE SANTANA
2009
2
GIORDANO NEPOMUCENO DE CERQUEIRA
Aprovada por:
3
Dedico este trabalho ao Engenheiro do
Universo, Jeová Deus, a seu amado Mestre de
Obras, Jesus Cristo, aos meus pais, João Lopes
e Ana Maria, e ao meu irmão Camilo, que
foram a fonte de minhas forças para concretizá-
lo.
4
AGRADECIMENTOS
Aos meus maiores amigos, Jeová Deus e Jesus Cristo, que me acompanharam nessa longa
jornada e me deram o apoio necessário para concluir mais esta etapa.
5
RESUMO
Agosto/2009
6
ABSTRACT
August/2009
This work studies some methodologies about pile groups efficiency and its application to
three different situations: a commercial building in Salvador-Ba, using root pile foundations,
the bridgeways in Feira de Santana-Ba with continuous augered pile foundations and the
results published by Silva e Cintra (1996) about some tests carried out at the experimental
field in EESC-USP campus. Some parameters about subsoil characteristics, foundation design
and the executive method were collected and some peculiarities of each them. It was done a
review about pile groups efficiency from books, papers, periodic and internet. Based on
review and collected data, some piles group efficiency methods were applied and analysed,
considering the different characteristics of the situations. The results showed that the obtained
values using pile groups efficiency equations are almost the same, in dispite of subsoil or
foundation characteristics.
7
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 2
Figura 7. Tubulão a céu aberto e ferramentas utilizadas na execução (JÚNIOR, 2007) .......24
Figura 8. Estaca Strauss e Equipamentos Utilizados na sua Execução (JÚNIOR, 2007) .....29
Figura 10. Tubo-manchete de válvulas (indicadas pelas setas) múltiplas (AUTOR, 2008)...31
Figura 11. Fases de execução das microestacas (LAMARE NETO, 1985, apud BENATI,
2007) ......................................................................................................................................32
Figura 12. Interstício anelar entre revestimento e parede de escavação (AUTOR, 2008) ....36
8
Figura 15. Transpasse de segmentos de armadura (AUTOR, 2007)........................................38
Figura 18. Fatores de capacidade de carga em função do ângulo de atrito φ (CAPUTO, 1983)
..................................................................................................................................................42
CAPÍTULO 3
Figura 21. Pilar de uma ponte fundada em grupo de 64 microestacas (PRADO, FARIA E
VAZ, 2009)..............................................................................................................................57
Figura 22. Bloco confeccionado acima do solo, usual de estruturas marinhas (BRAJA,
1995)........................................................................................................................................57
Figura 25. Variação da eficiência de grupo em função de d/D (BRAND et al, 1972, apud
BRAJA, 1995)..........................................................................................................................61
Figura 26. Recalque de um grupo de estacas em vários estágios da carga teste (BRAND et al,
1972, apud BRAJA, 1995)........................................................................................................62
Figura 27. Resultados de testes modelos da eficiência de grupo de estacas em areia compacta
(BRAJA, 1995).........................................................................................................................62
9
Figura 28 (a). Comportamento de um grupo de estacas, sem elevação do bloco de coroamento,
em relação à média do atrito superficial (LIU et al, 1985, apud BRAJA, 1995).....................64
Figura 29. Variação da média do atrito lateral baseada na localização da estaca no grupo (LIU
et al, 1985, apud BRAJA, 1995)...............................................................................................65
Figura 33. Esquema do método de Aoki e Lopes (1975); (a) estaca real e sua modelagem (b)
modo de divisão das superfícies da base e do fuste (Velloso e Lopes, 2002, apud SANTANA,
2008)........................................................................................................................................71
Figura 34. Esquema do método de radier fictício (Velloso e Lopes, 2002, apud SANTANA,
2008)........................................................................................................................................73
Figura 36. Ábacos de fatores de eficiência apresentados por Fleming et al, 1992, apud
SANTANA, 2008..................................................................................................................77
10
CAPÍTULO 4
Figura 37. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados
para o grupo de duas estacas..................................................................................................85
Figura 38. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados
para o grupo de quatro estacas.................................................................................................85
Figura 39. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de
Braja (1995).............................................................................................................................86
Figura 40. Gráfico com resultados de eficiência obtidos por Silva e Cintra (1996), com a
consideração do bloco de coroamento (ηpc) e sem a contribuição do mesmo (ηpc’).............88
Figura 41. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados
para o grupo de estacas 1 x 2...................................................................................................88
Figura 42. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados
para o grupo de estacas 1 x 3....................................................................................................89
Figura 43. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados
para o grupo de estacas 2 x 2....................................................................................................89
Figura 44. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de
Braja (1995) para os três grupos apresentados.........................................................................90
Figura 45. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de
Braja (1995) para os dois grupos apresentados........................................................................94
11
LISTA DE TABELAS E QUADROS
CAPÍTULO 2
TABELAS
12
Tabela 12. Valores atribuídos a K (DÉCOURT & QUARESMA, 1978, apud LOBO,
2005).......................................................................................................................................46
Tabela 13. Valores atribuídos ao coeficiente α (QUARESMA et al, 1996, apud LOBO,
2005).......................................................................................................................................46
Tabela 14. Valores atribuídos ao coeficiente β (QUARESMA et al, 1996, apud LOBO,
2005).......................................................................................................................................46
CAPÍTULO 3
Tabela 20. Valores de carga última obtidos nas provas de carga e de carga última dos grupos
sem a contribuição do bloco (SILVA E CINTRA, 1996)....................................................68
Tabela 21. Valores de eficiência para os ensaios realizados (SILVA E CINTRA, 1996)...69
CAPÍTULO 4
13
QUADROS
CAPÍTULO 2
Quadro 1 - Características e propriedades mecânicas das rochas (CARNERO, 1995 modificado apud
CARREGÃ, BALZAN, 1998)..............................................................................................................53
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
14
Quadro 13. Valores utilizados no cálculo de η.......................................................................88
15
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ...............................................................................................................17
1.1 JUSTIFICATIVA...........................................................................................18
1.2 OBJETIVOS...................................................................................................18
1.2.1 Objetivo Geral.................................................................................................18
1.2.2 Objetivos Específicos......................................................................................19
1.3 HIPÓTESE.....................................................................................................19
1.4 METODOLOGIA ADOTADA NA PESQUISA...........................................20
1.5 ESTRUTURA DA MONOGRAFIA.............................................................21
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ........................................................................................22
2.1 TIPOS DE FUNDAÇÕES E CARACTERÍSTICAS .................................. 24
2.2 ESTACA RAIZ...............................................................................................34
2.2.1 Fases de Execução das Estacas Raiz...............................................................36
2.3 CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS (MOLDADAS “IN LOCO”).41
2.3.1 Cálculo da capacidade de carga da estaca engastada na rocha.......................53
3. EFICIÊNCIA DE GRUPO DE ESTACAS....................................................................57
3.1 ESTACAS NA AREIA-estudo da eficiência de grupo..................................62
3.2 ESTACAS NA ARGILA-estudo da eficiência de grupo...............................65
3.3 ESTACAS EM AREIA ARGILOSA - estudo da eficiência de grupo..........66
3.4 ESTACAS NA ROCHA- estudo da eficiência de grupo...............................69
4. APLICAÇÃO DO ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE GRUPO DE ESTACAS...........81
4.1 Obra localizada na avenida Manoel Dias da Silva, no bairro Pituba, na cidade
de Salvador – BA.....................................................................................................................81
4.2 Aplicação do estudo da eficiência para o caso já apresentado de Silva e Cintra
(1996) ......................................................................................................................................87
4.3 Complexo de viadutos em Feira de Santana-BA...........................................90
5. CONCLUSÃO..................................................................................................................95
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................98
ANEXOS................................................................................................................................102
16
1 – INTRODUÇÃO
17
fundações em estacas raiz, complexo de viadutos em Feira de Santana-Ba com fundações em
estacas hélice contínua e São Carlos-SP a partir de dados publicados por Silva e Cintra
(1996), resultados de testes em campo experimental, visando estudar os parâmetros que são
levados em consideração nas equações.
1.1 - JUSTIFICATIVA
1.2 - OBJETIVOS
18
1.2.2 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
1.3 - HIPÓTESE
19
desses ensaios é predominantemente individual, não sendo suficientes para fornecerem
informações substanciais quanto à interferência causada pela transferência de esforços entre
estacas de um mesmo bloco.
Apesar da adoção de coeficientes de segurança para a determinação da capacidade de
carga admissível das estacas, fatores como distância entre estacas e método de execução
interferem na forma como grupos de estacas transferem os esforços solicitantes da estrutura
para o solo. A questão é prever com precisão o quanto e até quando esses fatores provocam
interferências. Por exemplo, a distância mínima entre eixos de estacas de um mesmo bloco
deverá ser de duas vezes e meia a três vezes o diâmetro dessas estacas. Será que esse valor
mínimo estará sempre garantindo uma boa eficiência no grupo?
Outro aspecto está relacionado com as equações utilizadas para o cálculo da eficiência
de grupos de estacas: estas equações conseguem representar todos os fatores intervenientes,
incluindo a variabilidade de tipos de solos existentes?
Para conhecer com certa profundidade o tema proposto nesta monografia e, também,
conhecer os estudos desenvolvidos e avanços alcançados até o momento, realizou-se revisão
bibliográfica buscando abranger livros, artigos técnico-científicos e materiais obtidos através
do acesso à internet.
A revisão bibliográfica também incluiu os diferentes tipos de fundações existentes,
características, vantagens e desvantagens, métodos utilizados no cálculo da capacidade de
carga e, especificamente, os métodos executivos e de cálculo de estacas injetadas.
Em seguida, como os métodos para cálculo da eficiência de grupo seriam aplicados a
casos reais de obra, definiu-se inicialmente uma obra com fundação em estaca raiz e, em
seguida, mais outras duas obras. Realizou-se levantamento das informações relacionadas com
as obras e as suas fundações, referentes ao tipo e localização do empreendimento, aspectos
gerais, cargas nas fundações, furos de sondagem realizados no terreno, tipo de fundação
utilizada, quantidade, disposição geométrica das fundações, dimensões, cota de apoio. Para a
primeira obra, foram acrescentadas as etapas executivas das fundações, dados referentes aos
materiais utilizados no processo executivo, registros fotográficos da obra e do processo
executivo das fundações, para ilustrar e caracterizar detalhadamente um dos locais estudados.
Buscou-se também verificar a existência de ensaios de provas de carga.
20
Após a descrição geral dos locais estudados, fez-se a aplicação e análise dos métodos
para verificação da eficiência de estacas em grupos.
Por fim, foram levantados os fatores que mais influem nos resultados, buscando
subsídios em trabalhos encontrados na literatura.
21
2 – REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Segundo Caputo (1983), “chama-se fundação a parte de uma estrutura que transmite
ao terreno subjacente a carga da obra”. Azeredo (1977), também apresenta uma definição
semelhante ao afirmar que “fundações são os elementos estruturais com função de transmitir
as cargas da estrutura ao terreno onde elas se apóiam”.
São diversos os tipos de fundações, e estes podem ser reunidos em dois grupos
principais: fundações superficiais (ou rasas) e fundações profundas.
As fundações superficiais, empregadas quando as camadas pouco profundas do
subsolo são suficientemente capazes de suportar as cargas, podem se apresentar de várias
formas: blocos de fundação (figura 1), sapatas isoladas (figura 2), associadas (figura 3) e
corridas (figura 4), vigas de fundação (figura 5) e placas de fundação (“radiers ou “mat
foundations”, figura 6). Segundo a NBR 6122/1996, a profundidade de assentamento dessas
fundações “é inferior a duas vezes a menor dimensão da fundação”.
Figura 1. Bloco de fundação (Revista Téchne, 2004) Figura 2. Sapata isolada (Revista Téchne, 2004)
Figura 3. Sapata associada (Revista Téchne, 2004) Figura 4. Sapata corrida (Revista Téchne, 2004)
22
Figura 5. Vigas de fundação (http://grupoconstrumont.com.br) Figura 6. Radier (Revista Téchne, 2004)
23
2.1 TIPOS DE FUNDAÇÕES E CARACTERÍSTICAS
As fundações superficiais são uma opção interessante, pois para executá-las não é
necessária a utilização de equipamentos e mão-de-obra especializada, necessitando-se apenas
de uma equipe simples composta por armadores, carpinteiros e serventes. Isto torna a
fundação direta atraente no que se refere ao aspecto econômico (JOPPERT JR, 2007).
No que diz respeito ao aspecto técnico, é uma vantagem das fundações superficiais a
facilidade de inspeção do solo no qual a fundação está apoiada, aliada ao controle final de
qualidade do material utilizado quanto à resistência e aplicação.
Estes dois aspectos favorecem as fundações rasas como primeira solução a ser
analisada.
Por outro lado, as fundações profundas são executadas, normalmente, utilizando-se
equipamentos e mão-de-obra especializados, a exemplo das estacas hélice contínua e estacas
cravadas. Os tubulões a céu aberto (figura 7) necessitam utilizar uma equipe de poceiros, caso
o poço seja escavado manualmente, ou uma perfuratriz rotativa, caso a execução seja
mecânica.
Figura 7. Tubulão a céu aberto e ferramentas utilizadas na execução (JOPPERT JR, 2007)
24
Dentre as fundações profundas com elevada capacidade de suporte, Joppert Jr. (2007)
afirma que o tubulão é uma solução atrativa economicamente, pois, além de ser extremamente
barata a mão-de-obra de escavação, o tubulão é preenchido com concreto simples (sem
armação na base e fôrmas) com baixo consumo de cimento. No entanto, devido a eventuais
dificuldades no corte e retirada do material do poço (presença de argila e siltes de consistência
rija a dura, matacões ou pedregulho) ou ocorrência de água no subsolo, o preço da mão-de-
obra poderá sofrer aumento significativo.
Quanto ao aspecto técnico, a adoção de tubulões é uma excelente opção de fundações,
pois através do poço escavado pode-se verificar visualmente o solo de apoio e as dimensões
finais de escavação do fuste e da base (JOPPERT JR, 2007).
No caso de se executar tubulões em solo onde haja água e não seja possível esgotá-la
devido ao perigo de desmoronamento das paredes, utilizam-se tubulões pneumáticos com
camisa de concreto (onde o serviço será feito manualmente sob ar comprimido) ou de aço
(cravada com auxílio de equipamentos a céu aberto, sendo apenas os serviços de abertura e
concretagem da base feitos sob ar comprimido) (ALONSO, 1983).
Quanto às estacas, sejam elas de aço, concreto ou madeira, também são necessários
equipamentos e equipes especiais, para a instalação das mesmas no solo por cravação, através
de equipamento percussivo.
Para as estacas de concreto pré-moldado, uma grande vantagem é que, uma vez que
são fabricadas antes da sua utilização, é possível inspecionar e controlar o processo de
confecção das mesmas minuciosamente. Em geral, são empregadas em qualquer tipo de solo
acima ou abaixo do nível de água subterrâneo e possuem duração quase ilimitada. Fazendo-se
uma comparação com as estacas de madeira, as pré-moldadas de concreto possibilitam uma
redução dos volumes de escavação e de construção (TSCHEBOTARIOFF, 1978; OLIVEIRA
FILHO, 1985; CAPUTO, 1983).
Algumas desvantagens das estacas pré – moldadas que ainda persistem são as
seguintes: peso considerável, transporte dificultado pela possibilidade de quebra das estacas,
sua cravação provoca vibrações consideráveis e, nos solos arenosos de baixa compacidade,
provocam a densificação da massa em suas adjacências, ocorrendo grandes diferenças entre os
comprimentos cravados nas estacas de um mesmo bloco (OLIVEIRA FILHO, 1985). Outra
desvantagem é que em terrenos pedregulhosos e resistentes, poderão quebrar durante a
cravação.
25
Os valores de carga admissível em função de algumas seções de estacas pré-moldadas
de concreto, aconselhados pela Norma Alemã DIN 1054 (1953) (apud CAPUTO, 1983), se
encontram na tabela 1.
Atualmente as estacas pré – moldadas são fabricadas no Brasil com seção quadrada e
sextavada (tabela 2) e circular (tabela 3).
Bitola
quadrada(cm) Seção quadrada Seção sextavada
Capacidade 15 x 15 17 x17 21,5 x 21,5 23,5 x 23,5 26,5 x 26,5 29,5 x 29,5 Ø 36 Ø 42 Ø 52
estrutural(tf) 32 40 67 82 106 134 138 158 244
26
produtos químicos variados (a exemplo do creosoto), é possível retardar o processo de
deterioração.
A utilização dos diversos tipos de madeira depende do local em que as estacas serão
executadas e da disponibilidade das mesmas na região. Suas qualidades mais desejáveis são
durabilidade e resistência. As madeiras que melhor se adaptam a este fim (em nosso país) são:
aroeira, maçaranduba, eucalipto, peroba-do-campo, dentre outras (CAPUTO, 1983).
Os valores de carga admissível em função de alguns diâmetros de estacas de madeira,
segundo a Norma Alemã DIN 1054 (1953) (apud CAPUTO, 1983), se encontram na tabela 4.
27
Tabela 5. Principais características mecânicas de madeiras brasileiras (OLIVEIRA FILHO,
1985)
As estacas de aço ou metálicas podem ser constituídas por perfis de aço laminados ou
soldados (como, por exemplo, os perfis de seção I e H), tubos de chapa dobrada (seções
circulares, quadradas ou retangulares), tubos sem costura e trilhos (estes geralmente
reaproveitados após sua remoção de linhas férreas). Tanto os perfis quanto os trilhos podem
ser empregados como estacas em sua forma simples ou múltipla (duplos ou geminados,
triplos, etc.) (SECRETARIA DE SERVIÇOS PÚBLICOS/PREFEITURA DO RECIFE,
2004).
As estacas de aço podem ser cravadas em quase todos os tipos de terreno; possuem
facilidade de corte e emenda; podem atingir grande capacidade de carga; trabalham bem à
flexão e, se utilizadas em serviços provisórios, podem ser reaproveitadas várias vezes. No
entanto, os perfis metálicos são corrosivos quando em contato com água, variação de umidade
e salinidade, sendo necessário, neste caso, prever um excesso de seção ou recobrimento do
perfil com pintura especial asfáltica antes de sua cravação. Sua maior desvantagem é o custo
maior em relação às estacas pré-moldadas de concreto, no entanto, se reaproveitadas, podem
sair mais barato (FILHO, 1985; MELHADO et al, 2002).
28
As estacas moldadas “in loco” destacam-se pela sua diversidade, devido às novas
tecnologias empregadas na execução das mesmas. Algumas são mais simples, como é o caso
das estacas broca, e outras mais modernas, como as estacas ômega e hélice contínua
monitorada.
As estacas broca são estacas moldadas “in loco” através de preenchimento de
perfuração efetuada com trado manual ou mecânico, sem a utilização de revestimento. As
estacas em questão, face às condições executivas, somente devem ser utilizadas abaixo do
nível de água se o furo puder ser esgotado antes da concretagem (DEPARTAMENTO DE
ESTRADAS DE RODAGEM/SP, 2006). Em vista de suas características, como baixa
capacidade de carga (geralmente entre 4 e 5 tf), comprimento máximo em torno de 6m, o fato
de trabalhar apenas à compressão e não haver garantia de verticalidade, essas estacas são
utilizadas apenas em casos limitados, sendo sua execução feita normalmente pelo próprio
pessoal da obra (MELHADO et al, 2002).
As estacas tipo Strauss (figura 8) são estacas ‘executadas por perfuração através de
balde sonda (piteira), com uso parcial ou total de revestimento recuperável e posterior
concretagem’ (NBR 6122, 1996).
Figura 8. Estaca Strauss e Equipamentos Utilizados na sua Execução (JOPPERT JR, 2007)
30
As microestacas (pressoancoragens) constituem uma modalidade de estaca escavada
com injeção de calda de cimento. É executada mediante a tecnologia de tirantes injetados em
múltiplos estágios com o auxílio de um tubo-manchete de válvulas múltiplas (figura 10), que
impedem o retorno da calda de cimento. Na injeção da bainha e posterior injeção de calda de
cimento em cada estágio de abertura das válvulas ou manchetes, são usadas altas pressões
(normalmente de 1 a 3 MPa) (PRESA E POUSADA, 2001).
Figura 10. Tubo-manchete de válvulas (indicadas pelas setas) múltiplas (AUTOR, 2008)
31
Figura 11. Fases de execução das microestacas (LAMARE NETO, 1985, apud BENATI, 2007)
As microestacas não devem ser confundidas com as estacas raiz. Estas últimas são
executadas mediante injeção de ar comprimido sobre a argamassa com baixas pressões,
enquanto as microestacas são executadas através de injeção de calda de cimento com pressões
elevadas, em que o tubo-manchete impede o refluxo da calda sob pressão, durante a execução.
Nas estacas raiz, ocorrem apenas notáveis irregularidades ao longo do fuste, que favorecem a
resistência por atrito lateral, ao passo que nas microestacas surgem protuberâncias (bulbos) ao
longo do fuste da estaca, que melhoram substancialmente o comportamento da mesma
(PRESA E POUSADA, 2001).
São diversos os métodos de execução de estacas, possuindo, cada uma dessas, suas
próprias características. A tabela 6 apresenta, em resumo, as vantagens e desvantagens das
diferentes estacas e a tabela 7 as características das mesmas.
32
Tabela 6. Vantagens e desvantagens das diferentes estacas (OLIVEIRA FILHO, 1985)
Estacas Vantagens Desvantagens
Madeira • Baixo preço; • Só para solos submersos;
• Fácil emenda; • Atacável por
• Resiste à cravação e microorganismos.
transporte;
• Fácil corte.
Aço • Absorve cargas verticais e • Elevado custo;
empuxos horizontais; • Atacável por águas
• Fácil cravação e emendas. agressivas;
• Comprimentos finais
excessivos.
Pré- • Concreto de boa qualidade; • Dificuldades de transporte;
moldadas • Boa capacidade de carga; • Armada para transporte e
de • Emendas para seções suspensão;
concreto anelares. • Limitadas em seção e
comprimento;
• Dificuldades de cravação em
solos compactos.
Moldadas • Eliminam transporte; • Concreto de má qualidade;
“in loco” • Comprimento variável; • Problemas da pega do
• Evitam vibrações na concreto;
cravação. • Descontinuidade do fuste
decorrente da recuperação do
molde;
• Desalinhamento do fuste;
• Danificação de estacas ainda
em fase de cura.
Brocas • Baixo custo. • Baixa capacidade de carga.
Strauss • Revestida – ponta aberta. • Concreto de má qualidade.
Franki • Armadura do fuste. • Em solos arenosos e abaixo
do nível de água,
possibilidade de
seccionamento do fuste.
33
Tabela 7. Principais características das diferentes estacas (OLIVEIRA FILHO, 1985)
Como um dos locais de estudo foi acompanhado passo a passo, que é a obra de
Salvador cujas fundações são em estaca raiz, esse tipo de fundação será descrito neste
trabalho em um item separadamente, conforme segue.
A estaca raiz foi concebida na década de 50, em Nápoles, na Itália, pelo Diretor
Técnico da empresa FONDEDILE SpA., Eng. Fernando Lizzi (LIZZI, 1982, apud SODRÉ,
1996) e patenteada sob a denominação de “pali radice”.
Essas estacas foram originalmente concebidas para reforço de fundações e
melhoramento do terreno, imaginando-se criar com as mesmas um reticulado de estacas
inclinadas em varias direções, lembrando as raízes de árvores, daí a denominação estacas raiz.
34
No início de sua comercialização, se utilizavam diâmetros de até 20 cm (daí a denominação
de “estacas de pequeno diâmetro”, como aparece na NBR 6122/86) (HACHICH et al, 1998).
Atualmente, essas estacas são geralmente executadas com diâmetros entre 20 e 25 cm,
chegando a alcançar até valores em torno de 40 cm e 50 cm’ (HACHICH et al, 1998). Em
função disso, a NBR 6122 (1996) substituiu a denominação de “estacas de pequeno diâmetro”
por “estacas escavadas, com injeção”.
A evolução das técnicas de execução das estacas raiz permitiu que a carga estrutural
admissível (máxima) adotada fosse sendo aumentada, atingindo hoje valores que variam de 20
a 100 tf para diâmetros entre 12 e 40 cm.
Na Tabela 8, encontram-se os diâmetros nominais das estacas, diâmetros externos e
internos dos tubos de revestimento mais usuais:
Diâmetro da estaca (mm) 100 120 150 160 200 250 310 410
Diâmetro externo do tubo (mm) 89 102 127 141 168 220 273 356
Diâmetro interno do tubo (mm) 73 86 109 122 146 224 284 384
As estacas raiz também têm excelentes vantagens em comparação com outros tipos
executados. Podem, por exemplo, ser executadas com maiores inclinações, entre 0º e 90º,
provocam reduzida descompressão do terreno durante a execução e têm ausência de vibração,
preservando a integridade das estruturas adjacentes, principal opção em áreas industriais e em
locais de construções antigas. Essas estacas também são ideais para serem executadas em
locais confinados ou com altura limitada, permitem atravessar terrenos resistentes (inclusive
rocha), atingindo grandes profundidades, acima ou abaixo do lençol freático e, além do mais,
possuem elevada capacidade de carga, considerando suas pequenas seções.
35
2.2.1 FASES DE EXECUÇÃO DAS ESTACAS RAIZ
a) PERFURAÇÃO
Na etapa de perfuração introduz-se no solo, por meio de rotação imposta por uma
perfuratriz, uma tubulação munida na ponta de uma coroa mais larga que o diâmetro externo
do tubo, formando a composição de revestimento (JOPPERT JR, 2007).
Os detritos gerados pela perfuração são expelidos pela circulação de água injetada com
pressão na parte interna da tubulação de revestimento (do topo para a ponta), retornando pelo
interstício anelar formado entre a parede externa do tubo e a parede de escavação (figura 12).
Figura 12. Interstício anelar entre revestimento e parede de escavação (AUTOR, 2008)
Isso determina, portanto, que o diâmetro acabado da estaca seja sempre consideravelmente
maior que o diâmetro nominal da bateria de perfuração (SODRÉ, 1996).
O revestimento é instalado ao longo de toda perfuração (em segmentos rosqueáveis),
sendo sacado após o seu preenchimento com argamassa e instalação da armadura. No entanto,
a NBR 6122/1996 faz uma ressalva ao afirmar que “as estacas tipo raiz são revestidas pelo
menos em parte do seu comprimento”, ou seja, o revestimento do furo pode ser parcial
36
(dependendo da natureza do terreno). Neste caso, a perfuração abaixo do tubo pode ocorrer
com a utilização de tricone (figura 13) com auxílio de circulação de água ou com elementos
estabilizantes das paredes das perfurações (JOPPERT JR, 2007).
38
c) INJEÇÃO
39
Figura 16. Demolição da argamassa do topo das estacas (AUTOR, 2007)
Essa demolição (ou arrasamento) deve ser feita para a execução do bloco de coroamento
(figura 17), para embutir o topo da estaca, “no mínimo 5 cm” (ABEF, 2004), dentro do bloco,
e acima do lastro de concreto, tomando-se a precaução de que a armadura, que é parte
fundamental da resistência, fique ancorada adequadamente ao bloco de coroamento.
40
2.3 CAPACIDADE DE CARGA DE ESTACAS MOLDADAS “IN LOCO”
R = Ra + Rρ (1)
41
Rp = πr2ρrr (2)
onde ρrr pode ser calculada pela fórmula semi-empírica de Terzaghi apresentada abaixo:
(4)
(5)
-1) (6)
sendo α = e[(3π/4)-(φ/2)]tgφ.
Para os dois tipos de ruptura (generalizada e localizada) obtém-se, em função de φ (ângulo de
atrito), os valores de Nc, Nγ e Nq (CAPUTO, 1983), fornecidos pelo ábaco apresentado na
figura 18.
Figura 18. Fatores de capacidade de carga em função do ângulo de atrito φ (CAPUTO, 1983)
42
Os demais elementos apresentados na fórmula de Terzaghi são designados como:
coesão (c), peso específico do solo (γ) e h (profundidade de implantação da base da
fundação).
Os fatores Nc, Nγ e Nq referem-se à ruptura generalizada, para o caso de “solos
argilosos rijos a duros e arenosos compactos a muito compactos” (JOPPERT JR, 2007). Em
se tratando de ruptura localizada, os fatores a usar serão N’c, N’γ e N’q (figura 18), para “solos
argilosos moles e arenosos fofos” (JOPPERT JR, 2007), adotando-se um φ’ dado por tg φ’ =
2/3tg φ e c’ = 2/3c. Os valores N’ são obtidos adotando-se φ’ nas linhas cheias ou φ nas linhas
tracejadas.
A resistência de atrito lateral (Ra) será calculada pela seguinte expressão:
Ra = 2πrhf (7)
onde f é o coeficiente de atrito entre o solo e a fundação. Os seus valores, para fins práticos,
são apresentados na tabela 9.
Segundo Lobo (2005) como o ensaio de SPT é geralmente o único ensaio de campo
disponível, difundiu-se no Brasil a prática de relacionar medidas de Nspt diretamente com a
capacidade de carga de estacas. Embora os métodos (semi-empíricos) normalmente adotados
constituírem-se em ferramentas valiosas á engenharia de fundações é importante reconhecer
que, devido a sua natureza estatística, a validade está limitada a prática construtiva regional e
às condições específicas dos casos históricos utilizados em seu estabelecimento (Schnaid,
2000, apud LOBO, 2005). Dois dos métodos semi-empíricos consagrados nacionalmente de
previsão de capacidade de carga são os métodos de Aoki & Velloso (1975) e o de Décourt &
Quaresma (1978).
43
O método de Aoki & Velloso (1975) foi concebido originalmente a partir da
comparação de resultados de prova de carga em estacas com resultados de ensaios de cone.
Para que a metodologia proposta possa ser aplicada à ensaios de penetração dinâmica, deve-se
utilizar um coeficiente de conversão “k” da resistência da ponta do cone para Nspt. A
expressão da capacidade de carga última é representada pela equação (8):
(8)
Os coeficientes “k” e “α” são dependentes do tipo de solo e, assim como os valores de
“F1” e “F2”, existem trabalhos recentes sugerindo novos valores. Na tabela 11 são
44
apresentados os valores de “k” e “α” propostos originalmente por Aoki & Velloso (1975), os
valores propostos por Laprovitera (1988) e por Monteiro (1997).
(9)
45
Tabela 12. Valores atribuídos a K (DÉCOURT & QUARESMA, 1978, apud LOBO, 2005)
Tabela 13. Valores atribuídos ao coeficiente α (QUARESMA et al, 1996, apud LOBO, 2005)
Tabela 14. Valores atribuídos ao coeficiente β (QUARESMA et al, 1996, apud LOBO, 2005)
46
onde D é o diâmetro nominal da estaca, ou seja, o diâmetro de perfuração, L é o
comprimento da estaca, K é o coeficiente que representa a interação média entre a estaca e o
solo, ou seja, a aderência solo-estaca, ou as tensões induzidas no solo pela estaca, ou a coesão
do solo, etc (tabela 15) e I, o coeficiente adimensional de forma, que depende do diâmetro
nominal da estaca (tabela 16).
De acordo com Cabral (1986), a capacidade de carga a compressão de uma estaca raiz,
com um diâmetro final D ≤ 45 cm e injetada com uma pressão σ ≤ 0,4 MPa, pode ser obtida
através da equação 11:
Pr = Pl + Pp (11)
onde, Pr é a carga de ruptura, Pl, a carga resistida pelo atrito lateral e Pp, a carga
resistida pela ponta (obs: segundo a NBR 6122/1996, as estacas escavadas com injeção,
quando não penetrarem na rocha, devem ser dimensionadas levando em conta apenas o atrito
lateral)
A carga resistida pelo atrito lateral (Pl) é encontrada através da seguinte equação:
47
Pl = Σβ0β1NU∆l (12)
O valor a ser adotado para σ deve ser analisado em conjunto com a firma executora da
estaca.
Para a comprovação dos valores de β0, β1 e β2, é recomendada a realização de testes,
em provas de carga à compressão, de preferência logo no início da obra (SODRÉ, 1996).
Segundo Brasfond (1991) (apud SODRÉ, 1996), a carga de ruptura (Pr) pode ser
encontrada através da equação (15):
De acordo com BRAJA (1995), para estacas raiz executadas em argila saturada na
condição não-drenada (Ø = 0), tem-se:
49
Qp = Ap[9cu(p)] (16)
Qs = αpcu∆L (17)
Pode-se determinar a capacidade de carga de uma estaca, também, por meio de prova
de carga, sendo, na verdade, “o único processo capaz de fornecer um valor incontestável”
(CAPUTO, 1983) dessa capacidade. Existe a prova de carga estática e a dinâmica.
Prova de carga estática é o ensaio que consiste na aplicação de incrementos de carga
em estágios à fundação (figura 19) com finalidade de se conhecer os deslocamentos
associados a estes incrementos e definir qual o comportamento real do elemento de fundação
no local onde foi executado (BENATI, 2007).
50
condições de trabalho, para comparar os resultados obtidos com os valores esperados no
projeto.
A norma que prescreve o método de prova de carga em estacas é a NBR 12131/1992
(Estacas – prova de carga estática) e a que permite sua interpretação é a NBR 6122 (1996).
São vários os dispositivos de montagem de uma prova de carga estática (figura 20),
distinguindo-se também as técnicas para sua execução.
A NBR 6122 (1996) prescreve o seguinte: “na avaliação da carga admissível, o fator
de segurança contra ruptura deve ser igual a 2”; caso não seja atingida a ruptura, a carga
admissível será adotada admitindo “1/1,5 daquela que produz o recalque” (NBR 6122, 1996)
compatível com a sensibilidade da construção projetada. De qualquer modo, o valor que for
adotado “não pode ser superior ao que resultaria da aplicação do coeficiente de segurança 2 à
carga de ruptura estimada” (CAPUTO, 1983). Esta pode ser feita pela carga que conduz ao
recalque expresso pela seguinte equação:
(18)
) (19)
(20)
52
2.3.1 CÁLCULO DA CAPACIDADE DE CARGA DA ESTACA ENGASTADA NA
ROCHA
RB = αRu (21)
onde,
Ru = Resistência a compressão simples da rocha obtida através do Quadro 1.
Quadro 1 - Características e propriedades mecânicas das rochas (CARNERO, 1995 modificado apud
CARREGÃ, BALZAN, 1998)
sendo α ≤ 1, tomando-se este valor para os casos em que a equação (22) conduzir a resultados
superiores. Os elementos apresentados representam o seguinte:
53
Quadro 2 - β em função da natureza da rocha (SALAS, ALPAÑES E GONZALEZ, 1976)
Natureza da rocha β
- Granito, pórfiro, diabásio, granodiorito 0,6
- Calcáreo 0,8
- Cascalho, filito, micaxisto, etc. 0,3
- Arenitos compactos 0,8
ou,
54
As estacas foram engastadas (em média, 1m) em rocha granítica, respeitando-se a
NBR 6122/1996 que recomenda um embutimento mínimo de três diâmetros (3B). Neste caso,
para a obtenção da resistência unitária da base, podemos adotar Ru (tomando-se como
referência os valores apresentados no quadro 1) como sendo 10% de 100 MPa (ou 1000
kgf/cm2). Esta considerável redução da resistência a compressão simples da rocha foi em
função da ausência de informações sobre as condições da mesma (alterações quaisquer de
suas propriedades e características originais). Os valores apresentados no Quadro 3 foram
utilizados para o cálculo da constante α.
Neste caso,
RB = 63 kgf/cm2
55
A fim de obtermos a resistência total de ponta, é necessário encontrar os demais
elementos (Ae, Ap e RHt) que constituem a equação da mesma, através de expressões já
conhecidas. O quadro 5 apresenta esses elementos e seus valores calculados:
56
3 - EFICIÊNCIA DE GRUPO DE ESTACAS
Figura 21. Pilar de uma ponte fundada em grupo de 64 microestacas (PRADO, FARIA E VAZ, 2009)
Figura 22. Bloco confeccionado acima do solo, usual de estruturas marítimas (BRAJA, 1995)
57
Muitos autores têm tentado determinar a capacidade de carga de um grupo de estacas,
mas não tem sido uma tarefa muito simples nem plenamente efetiva. Uma das razões para isso
é que, quando as estacas estão localizadas próximas umas das outras, os diagramas de tensões
se sobrepõem (figura 23) e assim a tensão total em qualquer ponto é o somatório. Desta forma
esta tensão excede a tensão para o caso da estaca isolada (BELL, 1985). Neste caso, o ideal
seria que as estacas em um grupo fossem espaçadas de tal modo que a capacidade de carga do
grupo não fosse inferior à soma da capacidade individual das estacas. Na prática, o
espaçamento mínimo de centro a centro entre estacas, d, é 2,5D (onde D é o diâmetro da
estaca) e em situações usuais, cerca de 3 a 3,5D (BRAJA, 1995).
(26)
Onde,
η = eficiência de grupo;
Qg(u) = capacidade última de carga do grupo de estacas;
Qu = capacidade última de carga de cada estaca sem o efeito de grupo.
58
Muitos engenheiros projetistas têm usado uma análise simplificada para obter a
eficiência de grupo de estacas flutuantes, particularmente em areias (BRAJA, 1995). Esta
análise pode ser esclarecida com o auxilio da figura (24) abaixo:
Nº de estacas no grupo
= n1 x n2
Lg ≥ Bg
onde,
pg (perímetro da seção transversal do bloco) = 2(n1 + n2 – 2)d + 4D
fav = média da resistência unitária de atrito das estacas
= = (28)
59
Conseqüentemente,
Qg(u) = (29)
Percebe-se da equação (29) que, se o espaçamento de centro a centro, d, for grande o bastante,
η > 1. Neste caso, as estacas se comportarão como estacas individuais (BRAJA, 1995). Então,
na prática, se η < 1,
Qg(u) = (30)
e, se η ≥ 1,
Qg(u) = (31)
(32)
60
A figura 25 apresenta uma comparação de resultados de testes em campo, na argila,
com a teoria da eficiência de grupo calculada da equação de Converse-Labarre. Apresentado
por Brand et al. (1972) (apud BRAJA, 1995), esses testes tinham as seguintes características:
Figura 25. Variação da eficiência de grupo em função de d/D (BRAND et al, 1972, apud BRAJA, 1995)
Os testes foram realizados com e sem bloco de coroamento. Observa-se na figura que
para d/D ≥ 2, a magnitude de η foi maior que 1.0, nos resultados dos testes e, a eficiência de
grupo foi maior com o bloco de coroamento do que sem o mesmo. Esses resultados foram
muito maiores que aqueles previstos pela equação de Converse-Labarre. A figura 26 mostra o
recalque do grupo de estacas em vários estágios da carga teste.
61
Figura 26. Recalque de um grupo de estacas em vários estágios da carga teste (BRAND et al, 1972, apud BRAJA, 1995)
Figura 27. Resultados de testes modelos da eficiência de grupo de estacas em areia compacta (BRAJA, 1995)
62
Liu et al. (1985) (apud BRAJA, 1995) relatam os resultados de testes de campo em 58
grupos de estacas e 23 estacas isoladas embutidas em solo granular. Detalhes do teste
incluem:
Figura 28 (a). Comportamento de um grupo de estacas, sem elevação do bloco de coroamento, em relação à média do atrito
superficial (LIU et al, 1985, apud BRAJA, 1995)
63
Figura 28 (b). Comportamento de um grupo de estacas com elevação do bloco de coroamento em relação à média do atrito
superficial (LIU et al, 1985, apud BRAJA, 1995)
Figura 29. Variação do atrito lateral médio baseada na localização da estaca no grupo (LIU et al, 1985, apud BRAJA, 1995)
64
1 - Para um grupo de estacas cravadas na areia com d ≥ 3D, Qg(u) pode ser tomado
como sendo Σ Qu, o que inclui o atrito lateral e a capacidade de ponta das estacas individuais;
65
Figura 30. Variação de Nc em função de H/B (BRAJA, 1995)
Silva e Cintra (1996) realizaram seis provas de carga, in situ, no Campo Experimental
de Fundações da USP/São Carlos, para estacas escavadas, duas ensaiadas isoladamente (IN e
IS) e quatro grupos com as seguintes configurações (figura 31): duas e três estacas em linha,
três estacas em triângulo e quatro estacas em quadrado (2x2). Todas as estacas são do tipo
broca, com 0,25 m de diâmetro (d) e 6 m de comprimento (L), com um espaçamento (s) entre
os centros das estacas de 3d. Os blocos de coroamento estavam assentes na cota -0,50 m e a
ponta das estacas na cota -6,5 m. Para reação, foram executadas 14 estacas do tipo Strauss,
com 0,32 m de diâmetro e 10 m de comprimento.
66
Figura 31. Configuração dos grupos (SILVA e CINTRA, 1996)
Figura 32. Seção esquemática da geologia de pequena profundidade em São Carlos (BORTOLUCCI, 1983, apud SOARES,
2002)
67
Os valores da carga última (Pupc) obtidos nos ensaios estão apresentados na Tabela 20,
bem como os valores de carga última dos grupos sem a consideração da contribuição do bloco
de coroamento (Pugpc’) deduzidos por SENNA JR. (1993) (apud SILVA E CINTRA, 1996).
Tabela 20. Valores de carga última obtidos nas provas de carga e de carga última dos grupos
sem a contribuição do bloco (SILVA E CINTRA, 1996)
A capacidade de carga dos grupos das estacas (Pug) foi comparada com a das estacas
isoladas (Pui) através da relação:
Pu g
η=
n Pu i (37)
onde:
η = fator de eficiência
n = número de estacas do grupo
Os valores calculados de eficiência (ηpc) dos grupos para os ensaios realizados estão
apresentados na Tabela 21, bem como os valores correspondentes de eficiência sem a
contribuição do bloco de coroamento (ηpc’). Nesses cálculos utilizou-se o valor médio de 142
kN para a carga última da estaca isolada.
68
Tabela 21. Valores de eficiência para os ensaios realizados (SILVA E CINTRA, 1996)
Grupo ηpc (com a contribuição do bloco de coroamento) ηpc’ (sem a contribuição do bloco de coroamento)
3∆ 1,20 1,09
Pela análise da Tabela 21 percebe-se que foram obtidos valores de eficiência (ηpc)
maiores do que a unidade em todos os grupos de estacas, quando se considerou a contribuição
do bloco de coroamento. Descontando-se a parcela da capacidade de carga do bloco, obteve-
se uma redução de 25% na eficiência dos grupos lineares e 10% na eficiência dos grupos não-
lineares, resultando valores em torno de 1, sendo os valores máximo e mínimo iguais a 1,09 e
0,90, respectivamente. Estes valores parecem indicar que o efeito de grupo se dá apenas pela
contribuição do bloco de coroamento (SILVA, 1996, apud SILVA E CINTRA, 1996).
Para estacas apoiadas na rocha, a maioria dos códigos de construção especifica que
Qg(u) = Qu, contanto que o espaçamento mínimo de centro a centro das estacas seja D +
300mm (BRAJA, 1995). Geralmente, o espaçamento para estacas de ponta (na rocha) pode
ser muito menor que para estacas de atrito, já que a tensão de ponta mais elevada e o efeito de
superposição de tensão das estacas de ponta, muito provavelmente, não ultrapassarão a tensão
latente do material ou causará recalque excessivo (BOWLES, 1982). O espaçamento na rocha
pode ser calculado como:
S= , (38)
69
sendo Scalculado ≥ D + 300 mm, onde D = diâmetro da estaca ou a dimensão diagonal de estacas
quadradas ou estacas H, mm.
A capacidade de um grupo de estacas, apoiadas na rocha, pode ser otimizada, como a
soma da capacidade de estacas individuais, por se adotar um espaçamento da ordem de 1,75D
a 2,5D (BOWLES, 1982).
As técnicas de análise de grupos de estacas podem quantificar ou não a interação entre
estacas através do solo (“interação estaca-solo-estaca”). Em geral, as que não consideram essa
interação (como as equações de eficiência vistas anteriormente) podem cometer erros
consideráveis nas análises de recalques e distribuição de carga em grupos de estacas pouco
espaçadas (SANTANA, 2008). Segundo Caputo (1983), por não levarem em conta fatores
importantes, como o tipo de solo e o comprimento das estacas, são pouco confiáveis.
Santana (2008) estudou eficiência de grupos de estacas, baseado nos recalques. Ele
fez referência a duas formas de analisar grupos de estacas (GUO e RANDOLPH, 1999),
levando em conta a sua interação através do solo. Uma é a análise direta e completa do grupo
como um todo e a outra é a análise do grupo por partes e determinação do comportamento
global com base no princípio da superposição. O trabalho desenvolvido por Santana (2008)
será descrito, conforme segue.
A primeira metodologia leva em conta a não homogeneidade do meio, respeitando a
diferença de rigidez entre os vários elementos da fundação e o solo, e naturalmente sua
influência sobre o comportamento global do sistema solo-fundação. Em contrapartida, essa
metodologia, quando aplicada a grandes grupos de estacas, torna-se demasiadamente
trabalhosa. Em geral é feita por meio de métodos numéricos, como nos trabalhos de
Butterfield e Banerjee (1971) e Ottaviani (1975).
A segunda opção de análise baseia-se na superposição dos campos de deformações
provocados por cada estaca analisada como isolada. Exemplos dessas metodologias são: o
método de Aoki e Lopes (1975) e o trabalho de Randolph e Wroth (1979), que resultou no
programa Piglet. Esse tipo de análise tem a seu favor a sua simplicidade.
O método de Aoki e Lopes (1975), segundo Santana (2008), permite a estimativa de
recalques em grupos de estacas com seções circulares ou retangulares, sem levar em conta o
bloco de coroamento. A carga aplicada em cada estaca é conhecida previamente, sendo
dividida em duas parcelas, uma aplicada ao longo do fuste (que pode ser dividida em
diagramas de atrito, cada um com variação linear), e outra uniformemente distribuída na base
(figura 30), sendo a divisão dessas duas parcelas fornecida pelo usuário. As duas parcelas de
70
carregamento são discretizadas como cargas concentradas, formando um sistema
estaticamente equivalente. É admitido que o ponto analisado esteja suficientemente afastado
das cargas para que seja válido o princípio de Saint-Venant.
A figura 33 mostra o esquema do método de Aoki e Lopes (1975), em que D1
representa a profundidade inicial de um diagrama de atrito, D2 a profundidade final do mesmo
diagrama, qP a carga na ponta da estaca e τf o atrito na interface estaca-solo a uma dada
profundidade.
Figura 33. Esquema do método de Aoki e Lopes (1975); (a) estaca real e sua modelagem (b) modo de divisão das superfícies
da base e do fuste (Velloso e Lopes, 2002, apud SANTANA, 2008).
71
seções transversais da base da estaca (que é analisada como uma placa) e do fuste tenham
dimensões diferentes.
Os parâmetros de entrada referentes ao solo nessa metodologia são: a profundidade da
base da camada, o módulo de Young e o coeficiente de Poisson de cada camada.
A metodologia de Aoki e Lopes (1975) não calcula o encurtamento elástico da estaca,
que pode ser encontrado com o conhecimento do diagrama de esforço normal versus
profundidade da estaca e a utilização da equação (39).
(39)
72
Figura 34. Esquema do método de radier fictício (Velloso e Lopes, 2002, apud SANTANA, 2008).
(40)
(41)
73
Figura 35. Metodologia da estaca equivalente (RANDOLPH, 1994, apud SANTANA, 2008).
(42)
Nessa equação, i é a estaca que sofre o acréscimo de recalque (estaca receptora) e j a estaca
que gera esse efeito (estaca fonte).
É possível também analisar o efeito de grupo num estaqueamento através da relação
entre o recalque médio de um grupo de estacas (wG) e o recalque de uma estaca isolada
carregada com a carga média por estaca do grupo (wi), utilizando a relação de recalque RS
(equação 43).
74
(43)
Dessa maneira, a equação (43) para o recalque médio no grupo de estacas pode ser reescrita:
wG = wi * RS (44)
(45)
(46)
75
sendo “e” o expoente de eficiência do grupo, que varia normalmente entre 0,4 e 0,6 para a
maioria dos grupos (FLEMING et al., 1992, apud SANTANA, 2008). O valor desse expoente
é influenciado pela esbeltez relativa das estacas (L/d), coeficiente de Poisson do solo, rigidez
relativa estaca-solo (λ = EP/GL), heterogeneidade do solo (representada por ρ) e espaçamento
relativo entre estacas (s/d), conforme equação 47.
(47)
sendo e1(L/d), c1(Ep/GL), c2(s/d), c3(ρ) e c4(ν). Esses valores podem ser extraídos dos ábacos
apresentados na figura 36, os quais atendem a grupos de estacas com afastamentos de até 12
diâmetros.
76
Figura 36. Ábacos de fatores de eficiência apresentados por Fleming et al, 1992, apud SANTANA, 2008.
77
Considerando-se a estaca isolada submetida a uma carga P/n e o grupo de n estacas a
uma carga P tem-se:
(48)
78
O quadro 7 apresenta os aspectos mais importantes referentes às análises de estacas
verticalmente carregadas com os programas Piglet, Defpig e Group 7.0 e a metodologia Aoki-
Lopes modificada.
79
solos argilosos, relativamente homogêneos e a níveis de carregamento inferiores a 50% da
carga última do grupo. No caso de solos arenosos, os programas Piglet e Defpig e o método
Aoki-Lopes modificado não conduzem a resultados satisfatórios, o que pode ser atribuído
principalmente ao efeito da instalação das estacas em areias, não quantificada por nenhuma
das metodologias empregadas. No programa Group 7.0 não há sugestões em seu manual
quanto ao modo de consideração da interação entre as estacas de um grupo, portanto, sua
utilização conduz a previsões distantes da realidade, tanto no caso de recalques do grupo
como no de distribuição de cargas das estacas do grupo.
80
4 – APLICAÇÃO DO ESTUDO DA EFICIÊNCIA DE GRUPO DE ESTACAS
Neste item, estão descritas algumas obras e situações para as quais se calculou a
eficiência de grupos de estacas, destacando-se uma obra na cidade de Salvador-Ba, onde foi
realizado estágio.
Foram realizados quatro furos de sondagem (Anexo B), espaçados conforme croqui
mostrado no Anexo C. O solo foi classificado como silte argiloso com areia e pedregulho, em
dois furos, apresentando alteração de rocha, sendo que o impenetrável se apresentou a poucos
metros de profundidade (aproximadamente a 5 m da superfície).
A camada de solo siltosa com areia e argila (predominante acima do impenetrável)
apresentou um SPT variando de 5 a 20, crescente com a profundidade, porém desprezível para
efeitos de cálculo da capacidade de carga frente à resistência à compressão da rocha,
suficiente para absorver as tensões que chegam através da ponta das estacas.
81
4.1.2 Eficiência de grupo das estacas
Neste item, são aplicadas as expressões de eficiência para os grupos de estacas da obra de
Salvador-Ba.
Neste caso,
η = 90 %
- Método extraído de Braja (1995):
82
Quadro 9. Valores utilizados no cálculo de η
Elementos da Equação Valores
n1 2
n2 1
d 0,90 m
D 0,30 m
p 0,94 m
Neste caso,
83
Quadro 10. Valores utilizados no cálculo de η
Elementos da Equação Valores
n1 2
n2 2
18,43
Neste caso,
η = 80 %
Conseqüentemente,
84
eficiências reais calculadas, através do método encontrado em Braja (1995), para os grupos de
duas (grupo 2 x 1) e quatro estacas (grupo 2 x 2).
Figura 37. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados para o grupo de duas estacas.
Figura 38. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados para o grupo de quatro estacas.
85
Figura 39. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de Braja (1995).
Tabela 22. Valores de eficiência obtidos pelas equações de Converse-Labarre e Braja para o
estudo de Silva e Cintra (1996): comparação com os valores obtidos pelos autores
3∆ - - 1,20 1,09
Figura 41. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados para o grupo de estacas 1 x 2.
88
Figura 42. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados para o grupo de estacas 1 x 3.
Figura 43. Gráfico comparativo da eficiência calculada através dos dois métodos apresentados para o grupo de estacas 2 x 2.
89
Figura 44. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de Braja (1995) para os três grupos
apresentados.
Embora tenham sido realizados oito furos de sondagem a percussão no local, apenas
dois furos foram utilizados e anexados, SP-05 (anexo E) e SP-08 (anexo D), referentes aos
grupos de estacas estudados por Andrade (2009) (apoios 1 e 5, conforme apresentado em
planta de localização no anexo F).
90
Os furos de sondagem SP-05 e SP-08 mostram os gráficos de variação de N SPT com a
profundidade. Observa-se que no SP-08 o solo é composto basicamente de uma camada de
N SPT
areia siltosa de 1,60 m de espessura ( de 4) e por uma extensa camada de silte-argiloso
N SPT
(com variando de 2 a 35), o que também pode ser observado no furo de sondagem SP-
05. O nível de água encontra-se na cota de aproximadamente 232m, a cerca de 7 metros de
profundidade.
Neste item, são aplicadas as expressões de eficiência para os grupos de estacas da obra do
viaduto de Feira de Santana-BA.
Neste caso,
η = 76 %
91
O quadro 13 apresenta os valores utilizados para o cálculo de η através da equação
encontrada em Braja (1995):
Neste caso,
Neste caso,
η = 66 %
92
- Método encontrado em Braja (1995):
Conseqüentemente,
η = 0,86
93
Figura 45. Gráfico comparativo da eficiência real calculada através da equação extraída de Braja (1995) para os dois grupos
apresentados.
94
5- CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir da análise dos três casos apresentados neste trabalho e da aplicação das
equações de eficiência, as configurações de grupo de estacas apresentadas, cada um com suas
características peculiares, como diâmetro, espaçamento e número de estacas, percebemos que,
mesmo para solos com características distintas, a eficiência de grupo (para grupos de mesma
configuração) é praticamente a mesma, isto se deve ao fato dessas equações de eficiência não
levarem em conta fatores importantes, como o tipo de solo, suas características e o
comprimento das estacas. Neste caso, segundo Caputo (1983), estas equações de eficiência se
mostram pouco confiáveis.
Observando-se a equação (28), que define fator de eficiência de grupo como sendo a
relação entre a capacidade de carga do grupo de estacas e do somatório das estacas isoladas
pertencentes ao grupo, verificou-se que ela se reduz a uma dependência da geometria quando
se utilizam as equações teóricas de capacidade de carga. Se substituirmos pelas equações
semi-empíricas de capacidade de carga, observaremos que os fatores representantes das
características dos solos e dos tipos de estacas (K, α, por exemplo) não são eliminados,
mostrando a importância dos mesmos sobre o efeito de grupo das estacas.
Ainda na análise dos três casos, verificou-se que as equações divergem quanto aos
resultados de eficiência para uma mesma configuração de grupo, sendo o menor valor obtido
pela equação de Converse-Labarre.
No terceiro caso analisado, dos grupos de estacas do viaduto de Feira de Santana –
Ba, em especial o grupo de vinte estacas (2 x 10), percebe-se uma redução significativa da
eficiência de grupo em função do grande número de estacas. Embora, as equações utilizadas
não representem as condições do subsolo e não se saiba ao certo se o valor obtido nos cálculos
seja o real valor, ainda assim, elas mostram que há uma interferência entre as estacas de um
mesmo grupo. Segundo Santana (2008), desconsiderar esse efeito de grupo, especialmente em
grupos com grande número de estacas, pode conduzir o projeto de fundação a significativos
erros.
Considerando esses resultados específicos, pode-se verificar que as equações
existentes para cálculo de eficiência de grupos apresenta limitações. Adicionalmente, conclui-
se que uma melhor avaliação poderia ter sido realizada, se existissem resultados de provas de
carga para todos os três casos analisados.
95
Propostas para estudo de eficiência de estacas em grupo, que só consideram a
geometria do problema, deverão ser utilizadas com cuidado e apenas para os casos onde as
condições gerais são similares àquelas nas quais as correlações foram baseadas. Essas foram as
considerações de Polo & Clemente (1988) apud Rezende (1996), para as primeiras propostas de
previsão de recalques de grupos de estacas.
Para avaliar o comportamento de grupos de estaca, dentre outros aspectos de interesse,
Russo Neto (2005) mediu recalques na base de diversos pilares de uma mesma obra, desde a
construção até a sua utilização. Esse autor utilizou também programa para aferir os resultados
com os valores medidos. Como resultado dos estudos, verificou que a extrapolação do
comportamento de uma estaca isolada (para o caso de prova de carga estática) para o grupo ao
qual ela pertence poderá conduzir a erros consideráveis, uma vez que o nível de deformação
imposto pelo grupo é muito maior que o das estacas isoladas.
Em função dessa afirmação de Russo Neto (2005), talvez seja possível pensar que a
execução de provas de carga dinâmica consiga ter melhor representatividade com relação ao
efeito de grupo no comportamento das estacas, uma vez que a mesma é realizada, em geral,
após o grupo ter sido formado e, portanto, ter alterado o estado inicial de tensões do solo.
Ainda em seu estudo, Russo Neto (2005) usou a solução de Mindlin para modelar o
efeito de grupo das estacas de concreto armado, com seção transversal quadrada e lados iguais
a 32cm e 35cm, totalizando 99 estacas. A equação de Mindlin (1936) é utilizada para calcular
os deslocamentos de estacas, mediante o estudo dos deslocamentos (recalques) de uma massa
de solo causados por um carregamento dentro da massa. Essa equação considera a interação
solo-estaca (Rezende, 1996) e tem sido utilizada nos diversos estudos sobre recalques de
grupos de estacas, a exemplo de Bezerra (2003), Russo Neto (2005) e Santana (2008).
Russo Neto (2005) verificou também que uma extrapolação do comportamento de
estacas isoladas para o grupo poderá representar erros ainda maiores, pois a relação tensão-
deformação para o nível de deformação apresentada, não é linear; isto conduz a valores
menores de “E” para o grupo, quando comparado com estacas isoladas desse grupo. Ressaltou
que o comportamento visco-elástico dos materiais e sistemas envolvidos na análise da
interação solo-estrutura deverão ser incluídos, e que as observações de obra em escala natural
continuam sendo um campo de pesquisa a ser explorado. Concluiu que as variabilidades da
formação geotécnica devem ser consideradas, para que as previsões sejam mais realistas.
Bezerra (2003) em seus estudos verificou que os principais agentes redutores do efeito
de grupo são a redução da quantidade de estacas e o aumento do espaçamento. Os efeitos de
96
interação no grupo reduzem bastante (70%) a rigidez nas estacas isoladas do grupo,
principalmente para aquelas localizadas no centro do bloco.
Pelo exposto em Bezerra (2003), Russo Neto (2005) e Santana (2008), observa-se uma
tendência de análise de grupos de estaca, considerando-se como radier estaqueado e
analisando-se os recalques ao invés de capacidade de carga e aplicando a solução de Mindlin
(1936), conforme já mencionado.
Poulos já em 1989 afirmava que os parâmetros geotécnicos adotados e a maneira como o
perfil geotécnico é idealizado são aspectos mais relevantes na análise do comportamento de
grupos de estacas, do que o método de análise dos recalques (Rezende, 1996).
Na revisão bibliográfica dos trabalhos de Rezende (1996), Bezerra (2003), Russo Neto
(2005) e Santana (2008), ou seja, tendo sido decorridos 12 anos, observa-se que poucos ou
quase nenhum avanço foi alcançado no que se refere à avaliação de comportamento de grupos
de estacas, no sentido de simplificar as análises dentro de um limite aceitável. Há uma
complexidade muito grande envolvida.
Diante do exposto, parece que a existência das equações de eficiência de grupos de
estacas, apesar de considerarem apenas a geometria do grupo de estacas, poderá alimentar
contínuas discussões quanto ao mecanismo de funcionamento das fundações em estacas,
visando o dimensionamento de fundações mais seguras e econômicas. O objetivo é aproveitar
ao máximo a capacidade de carga das estacas trabalhando em grupo, sob o efeito da interação
entre si, muitas vezes desconsiderado nos projetos. Esse nível de preocupação por parte de
empresas, assim como a tentativa de buscar soluções para preencher as lacunas existentes em
projetos de fundações e obras de terra, torna essas empresas mais competitivas no mercado na
medida em que estas se mostram preocupadas com o desempenho das obras projetadas.
97
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Guido Martins de. Fundação em estaca hélice contínua: estudo de caso em
obra de viaduto no município de Feira de Santana-Ba. Trabalho de conclusão de Curso de
Graduação. UEFS-Universidade Estadual de Feira de Santana, 2009.
AZEVEDO, Hélio Alves de O Edifício até Sua Cobertura. São Paulo, Brasil: Ed. Edgar
Blucher Ltda., 1977.
BELL, Brian J. Fundações em Concreto Armado. 2ª Edição. São Paulo, Brasil: Editora
Guanabara Koogan S.A.,1985.
98
BEZERRA, John Eloi Estudo do Comportamento de Fundações em Radier
Estaqueado: Conceitos e Aplicações. Dissertação (Mestrado em Geotecnia), UnB,
Brasília-DF, 2003.
CAPUTO, Homero P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações. 5ª. edição. LTC: Rio de
Janeiro. V.2, 1983.
CARREGÃ, D. L.; BALZAN G. Propriedades dos Maciços Rochosos e Algumas
Aplicações na Engenharia Civil. São Paulo, Brasil, 1998.
HACHICH, Waldemar et al. Fundações: Teoria e Prática. 2ª Edição. São Paulo, Brasil:
Editora PINI Ltda,1998.
99
MELHADO, Silvio Burrattino, et al. Fundações. Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo. Depart. de Eng. da construção civil, PCC-2435 Tecnologia da construção de
edifícios I, março, 2002. Disponível em:<http://www.pcc2435.pcc.usp.br. />. Acesso em:
20 julho 2008.
OLIVEIRA, Lílian de S.; SANTOS, Michelle C.; SOUZA, Rubiane C. Estacas Moldadas
“In Loco”. Faculdade de Tecnologia de São Paulo. Disponível
em:<http://www.edificios.eng.br />. Acesso em: 20 julho 2008.
100
SALAS, J. A. Jimenez; ALPAÑES J. L. de Justo; GONZALEZ Acibíades A. S.
Geotecnia y cimientos II – Mecanica del Suelo y de las Rocas. Madrid, España: Editorial
Rueda, 1976.
101
ANEXO A – Planta de locação das fundações
102
ANEXO B – Perfis de sondagem do terreno
103
104
105
106
ANEXO C: obra em Salvador-Ba
107
ANEXO D – Furo SP-08: obra dos viadutos em Feira de Santana-Ba (ANDRADE, 2009)
108
ANEXO E – Furo SP-05: obra dos viadutos em Feira de Santana-Ba
(ANDRADE, 2009)
109
ANEXO F – Planta com a localização dos SP-05 e SP-08 (ANDRADE, 2009)
110