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É possível excitar alguns núcleos e consequentemente inverter o seu spin nuclear com
frequência eletromagnética (ondas de rádio – energia muito baixa) – frequência de Larmor (𝜔 =
𝐵0 × 𝛾). É neste processo que se deteta sinal.
Procedimento:
Agentes que possam alterar T1 ou T2 podem ser úteis como agentes de contraste em
RMN. Entre estes estão os elementos paramagnéticos (têm eletrões desemparelhados).
• Radicais: geralmente só têm 1 eletrão desemparelhado e são muito reativos.
Têm tempos de vida curtos, pelo que se torna complicado serem utilizados.
• Metais de transição: possuem mais eletrões desemparelhados e são mais
estáveis.
Os metais a utilizar devem ser lábeis, de modo a que as moléculas de água ligadas ao
centro metálico possam ser trocadas mais rapidamente com moléculas de água do exterior (2ª
esfera de coordenação ou ainda mais externo), para que o efeito magnético se transmita ao
maior número de protões possível.
Assim, quanto menor for a distância média metal-protão (rH), quanto maior for a
velocidade de permuta das moléculas de água e quanto maior for o momento magnético (µ ef),
maior vai ser o efeito nos tempos de relaxação, e consequentemente no sinal de RMN.
Relaxividade (r1 – associado a T1): o agente de contraste com uma elevada relaxividade
pode ser detetado em baixas concentrações, o que permite avaliar alterações subtis ao nível
molecular. Ou seja, quanto maior for o valor de relaxividade, menor é a concentração do
complexo que tem de ser utilizada para se observar uma alteração considerável na velocidade
de relaxação efetiva (o que é vantajoso para não se administrarem grandes concentrações de
complexos metálicos ao paciente).
❖ Agentes de contraste T2
❖ Agentes SPECT
99m
Tc (metaestável) é muito utilizado pois emite radiação γ. A produção deste composto
pode ser realizada por um reator nuclear, ciclotrão ou gerador, sendo este último o mais
utilizado pois pode estar no local da análise.
A produção é feita através de
[99MoO]2- que decai naturalmente (com
emissão de radiação γ e β) para o 99mTc (decai
a 100% por radiação γ a um comprimento de
onda muito específico), devendo esta ser uma
reação simples, rápida e eficiente (sem criação
de outros produtos). O 99mTc tem um tempo
de meia-vida de 6 horas, de 99mTc para 99Tc,
sendo que este decai por emissão β, o que é
péssimo, mas o seu tempo de meia-vida é de
2,12 x 105 anos, sendo mínimo o risco para o
paciente (é quase estável).
A química do Tc é muito diversa, pois pode adotar estados de oxidação de -1 a +7, sendo
que pode formar uma variedade de complexos muito elevada. Então, é possível ajustar os
ligandos de modo a ter as características pretendidas.
NOTA: O 67Ga também decai 100% por radiação γ, mas isto ocorre a 3 comprimentos de onda
(correspondentes a 3 valores de energia diferentes), o que torna complicada a análise pois as
câmaras não apanham todos os comprimentos de onda --> menos intensidade de sinal. A sua
química é bastante simples, podendo substituir o Fe (III) por terem tamanhos e cargas iguais, e
acumula-se em zonas de inflamação e rápida divisão celular. Como é um elemento lábil, deve-
se saturar a sua coordenação, usando ligandos polidentados (para “ocuparem espaço” e
❖ Aplicações:
Oncologia: nenhum agente de diagnóstico tem uma aplicação universal pois cada tecido
tumoral tem as suas características, o que dificulta a análise e o tratamento. Os ligandos do
agente têm de ser bifuncionais – o radionuclídeo funciona como a fonte de radiação para a
imagiologia e o ligando mimetiza uma molécula que se liga a um recetor específico nos tecidos
tumorais. Não é garantido que, ao ligar o ligando ao Tc (ou outro metal), ele continue a ter a
molécula na conformação correta para ser reconhecido pelos recetores. Uso de anticorpos ou
fragmentos de anticorpos: não se costumam utilizar anticorpos intactos, pois eles são
lentamente eliminados dos tecidos não-alvo (muita radiação de fundo) e podem ficar demasiado
tempo retidos no fígado. O anticorpo reage com o ligando.
Cérebro: os complexos têm de ser neutros, com massa molecular baixa, e devem ter um
balanço adequado entre as propriedades hidrofílicas e lipofílicas (se forem muito hidrofílicos
não atravessam a barreira; se forem muito lipofílicos há competição com outras estruturas
celulares, sendo baixa a quantidade de complexos que atravessa a barreira (alguns vão para o
fígado e são rapidamente excretados)). Se a barreira hematoencefálica estiver danificada, os
agentes de diagnóstico atravessam facilmente nesses locais onde há lesão. Se a barreira não
estiver danificada, os complexos devem ser capazes de a atravessar e de se acumularem dentro
dela (conseguem atravessar a barreira, mas não podem sair imediatamente). Então, eles devem
ter características que lhes permitam ser alterados (ex: hidrólise) no interior do cérebro para
ficarem mais hidrofílicos, dificultando a sua passagem no sentido contrário (para fora do
cérebro).
SNC: Verifica-se o mesmo problema da bifuncionalidade. Utilizar um ligando grande não
resolveria este problema pois, apesar de a ligação do Tc pouco influenciar a molécula (porque
está longe), o complexo deixaria de conseguir atravessar a barreira hematoencefálica e poderia
ser metabolizado antes.
Qualquer tratamento para o cancro tem efeitos secundários muito severos (rins, bexiga,
etc) porque a maior parte dos fármacos não são seletivos – afetam maioritariamente células
com divisão celular descontrolada, mas acabam por afetar outras células.
Vários complexos de diversos metais têm apresentado atividade antitumoral em ensaios
laboratoriais, sendo o complexo por excelência a cisplatina (cis-[Pt(NH3)2(Cl)2]), muito utilizado
para o tratamento de cancro nos testículos e nos ovários.
Devido à toxicidade da cisplatina para os rins e à resistência que em determinados casos
os tumores desenvolvem a este fármaco, outros complexos de platina estão aprovados para uso
clínico ou em fase final de aprovação. Alguns complexos de platina de 2ª geração estão
aprovados e permitem ultrapassar a resistência do organismo à cisplatina e outros têm
aplicações para outros tipos de tumores (ex: carboplatina, nedaplatina, oxaliplatina, lobaplatina,
etc). Todos eles têm um grupo carboxilato bidentado, que altera a velocidade de substituição
❖ Estrutura e atividade
O complexo cisplatina possui 2 ligandos lábeis (Cl-) e 2 ligandos neutros (NH3) que são
inertes em condições biológicas. Verificou-se que complexos neutros com 2 ligandos lábeis em
posição cis e 2 ligandos com fraco efeito trans são os que apresentam melhores resultados. Além
disso, ligandos volumosos podem exercer efeitos estereoquímicos que alteram a sua labilidade.
O complexo trans é inativo, assim como complexos com piridina em vez da amina e
complexos análogos de 46Pd (Pd(NH3)2(Cl)2]). Como o Pd é da 2ª série de transição, é mais lábil
do que a Pt (3ª série de transição), sendo as reações de substituição mais rápidas, podendo
mesmo ocorrer antes de atingir as células-alvo – são inativos. No entanto, há alguns complexos
de Pd que têm atividade antitumoral, quando estão associados a ligandos quelantes que
diminuem a labilidade e a velocidade das reações de substituição (efeito quelante), conseguindo
levar os complexos para o interior das células, já apresentando atividade citotóxica.
❖ Complexos de Pt4+
Os complexos de Pt4+ são octaédricos e muito mais inertes do que os complexos com
2+
Pt , tendo potencial para evitar a inativação antes de atingirem as células-alvo e ultrapassar
algumas das limitações da Pt (II). Pt (IV) é facilmente reduzida a Pt (II) no interior das células,
libertando os ligandos axiais e o fármaco ativo de Pt (II), mas com um maior potencial
terapêutico.
A fácil modificação dos ligandos axiais permite uma via efetiva e conveniente para a
construção de novos complexos com propriedades específicas. Os ligandos axiais podem ter
algumas potencialidades como a direcionamento para estruturas específicas (DNA,
mitocôndrias, enzimas, etc), ligação a certos recetores, terem atividade, etc.
A bleomicina é administrada como fármaco por si só, mas atua na forma de complexo:
a bleomicina será um ligando que se liga a um metal, formando um complexo. O metal pode ser
Fe2+, Co2+, Cu+, que será oxidado pelo O2 (formando um peróxido que irá provocar a cisão das
cadeias de DNA). No entanto, se o complexo for com Zn2+, o mesmo não se verifica.
O mecanismo de atuação da bleomicina é um processo de oxidação-redução, iniciado
no metal. A bleomicina tem uma zona planar que lhe permite ser intercalada entre 2 bases do
DNA, fixando o complexo e ficando o metal junto à desoxirribose, iniciando o ataque redox,
levando à fragmentação da cadeia do DNA.
Em complexos simples de Fe2+ e Co2+, a reação com oxigénio molecular leva à oxidação
irreversível do complexo e eventualmente à decomposição. No entanto, quando os ligandos
protegem estruturalmente o Fe2+ (hemoglobina, citocromo P450, etc), isto já não acontece, pois
já não ocorre formação de um complexo binuclear (não é possível ligarem-se 2 moléculas de
hemoglobina).
❖ Intercaladores de DNA
São complexos que têm uma ou mais zonas planares que se conseguem encaixar (pontes
de H ou forças de Van der Waals) entre as bases das hélices, o que pode provocar reação redox
ou distorção.
Estes complexos têm interesse para terapia fotodinâmica (reação radicalar iniciada por
luz – fotocatálise). Os metais utilizados são fotoativos e provocam a cisão do DNA por
mecanismos radicalares na ausência de oxigénio (porque os tecidos tumorais estão em hipoxia).
A seletividade de intercalação é condicionada pelos ligandos e tem sido mostrado que é
possível a interação com bases específicas dependendo do ligando (que é capaz de fazer certas
ligações com certas bases), podendo causar perturbações a vários níveis sem cisão das cadeias.
Os complexos de Ru têm tido algum interesse para fármacos para oncologia, já que, em
termos químicos, pode ser esperado que Ru3+ se comporte de forma similar ao Fe3+.
O Ru forma complexos octaédricos e ligações fortes com diferentes elementos,
indicando que se podem variar os ligandos e a química de coordenação. Em condições
fisiológicas, pode apresentar estados de oxidação +2, +3 e +4, o que comprova a possibilidade
de realizar reações de oxidação-redução, além das reações de substituição (Pt só efetua reações
de substituição). Além disso, a velocidade de troca de ligandos é da ordem de grandeza da
velocidade da divisão celular (troca relativamente lenta – se se liga a alguma estrutura, fica lá
ligado enquanto a células existir (quase), podendo exercer o seu efeito).
❖ Crisoterapia
Utiliza Au com estados de oxidação (+1) e (+3), com geometrias e afinidades diferentes.
É um metal completamente inerte, mas na forma de complexo pode ter alguns efeitos
secundários.
• Au(+1): geometria linear, trigonal e tetraédrica. Tem grande afinidade para
ligandos “macios” com átomos S ou P, e também CN- devido à sua carga negativa e propriedades
de aceitador π
• Au(+3): geometria quadrangular plana
Por vezes, por causas genéticas ou por intoxicações pontuais, ficamos com um
desequilíbrio de determinado metal, o que é bastante prejudicial. A remoção do metal pode ser
feita através de um quelante muito seletivo, que não seja tóxico e que seja excretado com
facilidade para que não se acumule, o que não é nada fácil.
❖ Antibióticos macrocíclicos
A terapia por quelação surgiu no século XX para moderar os efeitos tóxicos dos
compostos de arsénio (As) no tratamento da sífilis.
Os ligandos EDTA e DTPA foram usados para tratar a intoxicação por chumbo (Pb) e por
radionuclídeos. Apesar de se distribuírem no espaço extracelular e de serem rapidamente
excretados, são pouco seletivos e podem complexar com vários metais. Por exemplo, têm um
efeito tóxico porque também sequestram e removem muito bem o Ca2+ e o Zn2+, que são
importantes para diversos processos celulares. Estes efeitos podem ser moderados usando
EDTA na forma de sal de cálcio ou zinco, em vez de EDTA na forma sódica/protónica.
Nos anos 50, foram desenvolvidos diversos antídotos (agentes complexantes) para o gás
Lewisite (é um composto de As).
❖ Aplicações
❖ Talassémia
Este tipo de anemia é tratado com frequentes transfusões de sangue, o que leva a uma
acumulação de ferro. A remoção desse ferro excessivo por quelação prolonga a esperança de
vida destes doentes.
O EDTA não é um bom agente sequestrante neste caso, devido à falta de seletividade.
O primeiro agente a ser utilizado foi o dfoH3, mas que não pode ser tomado por via oral, é caro
e tem efeitos secundários significativos.
Têm sido considerados outros agentes sequestrantes mais pequenos, que conseguem
resistir melhor a ambientes ácidos e não removem o ferro da hemoglobina e citocromos. Além
disso, podem entrar na estrutura da ferritina e mobilizar o ferro armazenado. Os ligandos
polidentados são vantajosos porque diminuem a possibilidade de reações redox Fe3+/Fe2+.
❖ Doença de Wilson
Resulta de uma desordem genética que leva à acumulação de cobre no fígado e que,
devido à deficiente excreção biliar, resulta na libertação de um excesso de cobre na corrente
sanguínea, o que vai afetar vários órgãos. O tratamento de excesso de cobre por quelação tem
que ter em conta que será um tratamento durante toda a vida, logo a toxicidade do agente
sequestrante é um fator muito importante.
Radioterapia
• Tratamento externo: tudo o que está entre a fonte de radiação e o tecido alvo é
afetado pela radiação
• Tratamento interno: administra-se um radionuclídeo e, com os ligandos adequados,
ele é direcionado para o tecido alvo - os tecidos que estão saudáveis são poupados à radiação.
NOTA: A radiação por si só não causa grandes danos, mas cria radicais livres (ex: OH.) que depois
vão participar em reações radicalares que levam à destruição das estruturas celulares. Ex: reação
da bleomicina que quebra as cadeias de DNA.
O primeiro fármaco a ser aprovado foi o 89Sr (estrôncio), na forma de SrCl2, utilizado para
paliação da dor em metástases ósseas. É incorporado na matriz da hidroxiapatite do osso por
troca com iões Ca2+, já que são parecidos. É bastante lábil e acumula-se preferencialmente nos
ossos, mais concretamente nas lesões.
Além deste, também o complexo de 153Sm (samário) com edtmpH8 foi aprovado. Tem
uma energia inferior e consequentemente um menor alcance. O ligando utilizado permite a
coordenação 8 e a transmetalação com a hidroxiapatite dos ossos.
Também o 186Re (rénio), na forma de Re-HEDP, foi aprovado na Europa. Tem um tempo
de resposta menor (menor tempo de meia vida) mas também atua durante um menor período
(exerce a sua função, mas não afeta negativamente outros tecidos). O 188Re pode ser obtido por
um gerador, mas a sua energia e distância de penetração são elevadas e, como é utilizado para
os ossos, pode afetar a medula óssea, causando problemas de mielossupressão (diminuição da
atividade da medula óssea).
Outros radionuclídeos têm sido investigados para este efeito, como os complexos de
117m
Sn (estanho) e 166Ho (hólmio). Como os complexos de Sm3+ e Ho3+ são muito lábeis, usa-se
normalmente um excesso de ligandos (razão ligando:metal muito elevada (300:1)) ou ligandos
❖ Radioimunoterapia
❖ Radiossensibilizadores
A maior parte dos danos causados nas moléculas biológicas pela radiação ionizante
resulta da formação de espécies reativas (radicais) na presença de oxigénio.
Os radiossensibilizadores aumentam a sensibilidade dos tecidos à radiação: com a
mesma quantidade de radiação conseguem-se danos maiores nas estruturas celulares, com o
aumento do número de radicais.
Como muitos dos tecidos tumorais são deficientes em oxigénio, usam-se estes
radiossensibilizadores para aumentar a quantidade de radicais (e não a quantidade de O2!!!)
quando sujeitos a radiação. Ex: diversos complexos de Pt, Co, Ni e Ru, assim como quinonas e
grupos nitro.