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A IMAGINARIZAÇÃO DO CAMPO POLÍTICO E SUAS CONSEQUÊNCIAS

A imaginarização do campo político e suas


consequências
DOI: https://doi.org/10.5935/1984-9044.20200004

Luís Otavio Pereira Nicodemos - Universidade Federal de São João Del-Rei (UFSJ)

Resumo: O campo político no Brasil vem passando por momentos de turbulência, principalmente após
o ano de 2013. Diante disso, os fenômenos de agressividade e intolerância política vêm ganhando no-
toriedade e, no intuito de analisar tais questões, nos utilizaremos da psicanálise freudiana e de alguns
conceitos da metapsicologia, como narcisismo, bem como do Lacan do imaginário, em textos como O
Estádio do Espelho como formador da função do Eu (1949/1998), para tentar lançar luz sobre algumas
dessas questões, como a contribuição dessa imaginarização dos fenômenos de intolerância política no
país, nos últimos anos, em especial até o ano de 2018.

PALAVRAS-CHAVE: psicanálise; política; agressividade; Brasil

The imaginarization of the political field and it’s


consequences
Abstract: The political field in Brazil has been going through moments of turbulence, especially after
the year of 2013. In face of this, the phenomena of aggressiviness and political intolerance have been
gaining notoriety and in order to analyze such issues, we will use Freudian psychoanalysis and his con-
cepts such as narcissism, as well as the Lacan of the imaginary in texts such as The Mirror Stage as
Formative of the Function of the I (Lacan, 1949/1998) to try to shed light on some of these issues, such
as the contribution of this imaginarization of politics to the phenomena of political intolerance in the
country, specially until the year of 2018

KEY WORDS: psychoanalysis; politics; aggressiveness; Brazil

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A
psicanálise é tradicional- Vladimir Safatle, em Pensamento Binário
mente pensada como um (2015) e Por uma crítica da economia li-
campo de investigação e de bidinal (2008).
tratamento psíquico que pri-
Com esse referencial de pensa-
vilegia a clínica. Entretanto, desde Freud,
mento, propomos discutir a agressivi-
nos seus mais de 30 anos de prática e de-
dade pautada na intolerância política que
senvolvimento teórico, outras áreas de
se desenha no Brasil nos últimos anos,
aplicações da psicanálise já foram se de-
principalmente a partir de 2013, com as
senhando. Podemos citar, por exemplo,
grandes manifestações nas ruas e suas
os ditos textos sociológicos de Freud,
consequências no cenário político.
como Psicologia das Massas e Análise do
De acordo com Secco (2013), essas
Ego (1922/2011) ou o Mal-Estar na Civili-
zação (1930/2010), onde o autor traba- manifestações não eram marcadas ideo-
logicamente, mas tinham em comum o
lha as relações sociais e seus paradigmas,
bem como as relações dos processos psí- fato de serem contra a política tradicio-

quicos do indivíduo com o campo social nal de modo geral, com 84% das pessoas
se declarando sem partido. Um indicativo
em que está inserido.
Tal tradição de pensamento da psica- plausível da crise de legitimidade que a
política enfrentava e que, possivelmente,
nálise dentro do social se expandiu e se
encontra cada vez mais articulada com culminou nos resultados dos dois últimos

outras áreas do conhecimento, como a ciclos eleitorais do país, com a presença


de figuras tidas como outsiders do campo
sociologia, a filosofia e a ciência política.
Podemos citar como exemplos os traba- político tradicional.

lhos do teórico esloveno Slavoj Zizek, Vi- As eleições que se seguiram em 2014
olência (2007/2014) e Pensar o Atentado já colocaram em evidência situações re-
ao Charlie Hebdo (2015) e, no Brasil, os lacionadas a esse tipo de agressividade
trabalhos feitos por pesquisadores como com motivações políticas que até então
Christian Dunker, em Mal-Estar, Sofri- não se mostrava com tanta evidência.
mento e Sintoma (2015), ou como Uma notícia veiculada em 2014 pelo site

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UOL, em parceria com a Folha, apontava Romualdo Rosário da Costa, conhecido


o grande aumento no número de crimes como Moa do Katendê, foi morto com
de ódio nas redes sociais. De acordo com doze facadas após o primeiro turno da
o texto, “discussões em redes sociais so- eleição presidencial, em decorrência de
bre as eleições fizeram aumentar em 84% uma discussão política. Segundo o irmão
o número de denúncias de crimes de ódio da vítima que estava presente no ocor-
cometidos na web. As páginas incluem rido, ele e Romualdo estavam em um bar
conteúdo relacionado a racismo, homo- com um primo e começaram a falar sobre
fobia, xenofobia, neonazismo e intole- o resultado do primeiro turno das elei-
rância religiosa.”1 Segundo levantamento ções. Eles haviam votado no candidato
presente na notícia, a diferença entre o do PT, Fernando Haddad, quando, no de-
período logo antecedeu as eleições de correr da conversa, o agressor se intro-
2014 em comparação com o mesmo pe- meteu defendendo o outro candidato a ir
ríodo sem eleições de 2013, é enorme: para o segundo turno, Jair Bolsonaro. A
“8.429 denúncias envolvendo crimes de discussão se agravou até que o criminoso
ódio no Facebook e no Twitter foram fei- pagou a conta, foi em casa, buscou uma
tas entre 1º de julho e 6 de outubro deste faca e esfaqueou Romualdo e mais uma
ano; 3.018 páginas hospedavam os con- pessoa. De acordo com a Delegada do
teúdos. No mesmo período de 2013 – caso "Foi mesmo uma discussão por
sem eleições–, foram 4.583 denúncias causa de política, até a vítima sobrevi-
para 1.719 páginas” (UOL, 2014). vente já confirmou. O autor do crime es-
tava defendendo Bolsonaro e a vítima, do
Quatro anos depois, já nas eleições
lado do PT. De acordo com as testemu-
presidenciais de 2018, a situação se mos-
nhas, houve ofensas verbais de lado a
tra agravada e a polarização alcança no-
vos patamares, culminando até em
assassinato. O mestre de capoeira

1 odio-em-redes-sociais-disparam-no-periodo-eleito-
Uol (2014). Crimes de ódio em redes sociais dispa-
ral.shtml>. Data de acesso: 13 ago.2017.
ram durante período eleitoral. <http://www1.fo-
lha.uol.com.br/poder/2014/10/1530211-crimes-de-

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lado. O autor então foi em casa, pegou a e 2017, segundo levantamento do Grupo
faca, voltou e fez o que fez" 2. Gay da Bahia (GGB), em reportagem do
jornal O Globo em 2018. De acordo com
A própria facada sofrida pelo então
a notícia, “a cada 19 horas um LGBT é as-
candidato à presidência Jair Bolsonaro,
sassinado ou se suicida vítima da ‘LGBT-
amplamente noticiada pela mídia no pe-
fobia’, o que faz do Brasil o campeão
ríodo, pode ser citada como um dos
mundial desse tipo de crime. ” O número
exemplos do clima político intenso que
se torna ainda mais impressionante ao se
atravessa o país nesses últimos anos, em
levar em conta outro trecho da notícia:
conjunto com outros dados.
“Segundo agências internacionais de di-
As posições que o Brasil ocupa no reitos humanos, matam-se mais homos-
ranking de crimes contra minorias nos úl-
sexuais no Brasil do que nos 13 países do
timos anos é outra informação relevante Oriente e África onde há pena de morte
nesse contexto. Em 2013, nosso país foi
contra os LGBTs” 4
responsável por 44% das mortes LGBT no
A intolerância religiosa se faz pre-
mundo, além de ocupar o primeiro lugar
sente também dentro desse cenário. De
no ranking mundial de assassinatos de
acordo com notícia do Correio Brasili-
transexuais no mesmo período.3
ense5, o Brasil apresenta pelo menos 200
Tal tendência se agravou nos anos se-
casos desse tipo por semestre, sendo as
guintes, sendo registrado um aumento religiões de matriz africana as que mais
de 30% nos assassinatos LGBT entre 2016 sofrem esse tipo de violência.

2 BBC (2018). Moa do Katend ê: Os mi- Data de acesso: 17 ago.2017.


nutos que antecederam o assassinato 4 O Globo. (2018). Assassinatos de LGBT crescem

de mestre de capoeira esfaqueado 30% entre 2016 e 2017, segundo relatório


após discussão política. https://oglobo.globo.com/sociedade/assassinatos-
https://www.bbc.com/portuguese/bra- de-lgbt-crescem-30-entre-2016-2017-segundo-rela-
sil-45806355 . Data de acesso: torio-22295785 Data de acesso: 19 jun.2019
12/08/2020 5 Correio Brasiliense. (2018). Em seis meses, Brasil
3Estado de Minas. (2014). Brasil amarga o preço da teve mais de 200 casos de intolerância religiosa
intolerância e lidera ranking de violência contra ho- https://www.correiobraziliense.com.br/app/noti-
mossexuais<http://www.em.com.br/app/noti- cia/brasil/2018/11/03/interna-brasil,717238/em-
cia/nacional/2014/09/22/interna_nacional,571621/ seis-meses-brasil-teve-mais-de-200-casos-de-intole-
brasil-amarga-o-preco-da-intolerancia-e-lidera-ran- rancia-religiosa.shtml. Data de acesso: 19 jun.2019
king-de-violencia-contra-homossexuais.shtml>.

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A quantidade de exemplos que podemos tensão fundamental que visa satisfazer


extrair da mídia é enorme e evidencia o tanto o indivíduo quanto a cultura (ou ci-
patamar que o Brasil ocupa como um vilização), por meio desse conflito direto
país altamente intolerante. Essa dificul- e duradouro (1930/2010).
dade de lidar com as diferenças, cada vez
Por vezes, essa renúncia às tendên-
mais presente nos regimes democráticos
cias agressivas não se dá de forma com-
ocidentais, parece resultar nesse tipo de
pletamente eficiente, ocasionando
agressividade dentro da política que cir-
episódios de violência que atravessam o
cula fortemente no Brasil de hoje.
cotidiano da sociedade e a história da ci-
Podemos, então, tomar, como uma
vilização como um todo. O debate sobre
primeira base teórica para pensarmos
esses episódios não é novo e vem sendo
essa agressividade, os textos freudianos
feita desde a antiguidade por filósofos
que apontam essa tendência inata para a
como Platão, Sócrates e depois, na mo-
agressividade que nós, seres humanos ci-
dernidade, por Kant (Perine, 2002).
vilizados, possuímos, mas tentamos re-
primir para sustentar a vida em Já no século XX, temos a famosa troca
de cartas entre Albert Einstein e Freud no
sociedade.
período entre guerras do século passado.
No decorrer de sua obra, Freud
O mundo, traumatizado com os horrores
aponta que o psiquismo humano é orga- da Primeira Guerra e na beira da ocorrên-
nizado entre o conflito de forças antagô- cia da Segunda, buscava caminhos e dis-
nicas entre si e que a civilização se utiliza cutia sobre nossa capacidade para a
de dispositivos que levam o indivíduo a violência com os outros, a fim de que se
renunciar a essas tendências primitivas, entendesse e tentasse evitar novos con-
pois, se elas fossem exercidas livre- flitos de tal magnitude (Monteiro, 2002).
mente, levariam a uma autodestruição
Nessas cartas, Einstein questiona
da sociedade. Posteriormente, tais ten-
Freud não só sobre as guerras entre na-
dências foram nomeadas como pulsões
ções, mas também sobre as guerras civis,
de vida e pulsões de morte (Freud,
com base na intolerância religiosa e nas
1920/2010) e apresentam entre si uma

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perseguições às minorias, que viriam a indivíduo adquire a capacidade de poder


ganhar outro capítulo na Segunda amar ou odiar o outro e de formar grupos
Guerra. ( Freud, 1933/1996). entre si, mostrando as implicações da
forma como a identificação atravessa
Freud responde comentando que
nossos afetos cotidianos e a sua impor-
essa dimensão agressiva é inerente à
nossa constituição do Eu e que, por mais tância para o entendimento de como nos

que nós, enquanto sociedade, desenvol- organizamos socialmente (Freud,

vemos mecanismos para reprimir tais 1914/2010).

tendências, essas pulsões agressivas en- Desse processo do narcisismo primá-


contram caminhos para sua satisfação. rio, temos ainda dois subprodutos: o Eu

Tal constituição do Eu pode ser re- Ideal e o Ideal do Eu, como proposto por
montada ao nosso primeiro momento de Freud no texto Introdução ao Narcisismo
relação com nossa imagem, no narci- de 1914. De modo sucinto, o Eu Ideal se-
sismo primário, quando o indivíduo passa ria a imagem da criança que ainda des-
a ter uma organização das suas pulsões, fruta de plena satisfação libidinal e ocupa

antes autoeuróticas, e passa a direci- o lugar da fantasia e expectativa dos pais

oná-las a outros objetos externos. Nessa e da sociedade; trata-se do eu enquanto

passagem pelo narcisismo, a criança se objeto dos outros que a circundam. Po-

torna capaz de identificar sua própria rém, a passagem pelo processo do narci-

imagem de modo organizado e é a partir sismo provoca o afastamento dessa

desse momento que a identificação com imagem.

o outro é possível. Já o Ideal do Eu é uma instância for-

Se agora o Eu tem uma imagem de si, mada num segundo momento do pro-

ele consegue se relacionar e identificar cesso de narcisismo e cumpre uma


função de direcionar o Eu a determinado
com a imagem dos outros e, portanto,
objeto, tomado como referência, para
determinar se tal imagem lhe agrada, de-
poder desejar e ser aceito. É também res-
sagrada ou, ainda, se lhe parece, ou se é,
ponsável pelo movimento que fazemos
diferente e estranho ao Eu. É assim que o

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de substituição das nossas referências, sua relação com o contexto político naci-
como os pais ou outras figuras que admi- onal.
ramos e tentamos ser iguais, no decorrer
Ainda sobre o processo de constitui-
da vida. No entanto, aquilo que tomamos
ção do Eu, Jaques Lacan realiza, em sua
como nosso Ideal do Eu é, portanto, um
releitura da obra freudiana, um retorno a
lugar inalcançável e mutável em nossa
esse conceito do narcisismo e faz alguns
constituição e traz outras implicações.
apontamentos sobre a nossa constitui-
Dentre tais implicações, podemos co- ção imaginária, em referência ao que fi-
mentar em que medida, no relaciona- cou marcado no ensino de Lacan como
mento com os outros, o Eu é atravessado registro Imaginário. Esse registro corres-
pelas escolhas narcísicas, ora sendo influ- ponde a um dos três aspectos da reali-
enciado por essa tentativa de retorno a dade humana – os outros dois registros
essa imagem perfeita que ocupava na são o Simbólico e o Real – e diz respeito
fantasia e expectativa dos pais e da soci- à nossa relação com a construção da
edade, ora influenciado por essa instân- nossa imagem e a constituição do Eu,
cia que o direciona a ser como com a identificação e a nossa relação

determinada pessoa, ideia ou valor que com a imagem dos outros, com nossos

toma como referencial. Desse modo, po- afetos de amor e ódio e também com

demos destacar que, nas formações gru- tudo que tem uma representação imagé-

pais, o Ideal do Eu ocupa um papel tica ao nosso redor. É, também, o territó-

importante no processo de construção e rio da alienação do Eu em relação à sua

coesão de um grupo, quando indivíduos própria imagem, da dificuldade em lidar

colocam a mesma determinada figura ou com aquilo que não reconhecemos como

ideia nesse lugar de Ideal do Eu. Há ainda semelhantes e, ainda, o território da ên-

outros mecanismos, cujo processo de fase no valor do Eu para o indivíduo (La-

identificação contribui para essa dinâ- can, 1953/2012).

mica psíquica grupal que comentaremos


O registro Simbólico representa o
mais à frente, com o texto Psicologia das
campo da linguagem, da introdução da
Massas e Análise do Eu (1922/2011), e

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lei em nosso processo de subjetivação, criança de sua própria imagem. Tais fases
do inconsciente estruturado como lin- se dariam por um reconhecimento de sua
guagem, visto que Lacan, baseado na lin- imagem do reflexo no espelho ou na ima-
guística de Ferdinand de Saussure, gem de um outro semelhante.
introduz na psicanálise o conceito de sig- Num primeiro momento, a criança
nificante e sua cadeia. O Simbólico é, não tem a representação de uma ima-

por excelência, a intermediação dos con- gem daquilo que a representa, enxer-

flitos pela palavra, nossa capacidade de gando-se como um corpo em pedaços,

significar experiências e elaborar sobre sem unificação. Quando ela se vê no es-

elas, enquanto o Real é tudo aquilo que pelho, ela não reconhece o reflexo como

escapa ao Imaginário e ao Simbólico, o uma representação virtual daquilo que se

que sobra na realidade, mas que ainda apresenta, mas sim como a imagem de

assim ajuda a dar forma a todo o con- um outro que é real. Daí vem o fenômeno

junto dos três registros, revelando as re- das crianças pequenas que, quando se

petições na vida do sujeito que veem no espelho, tentam olhar atrás do

aparentam carecer de sentido, mas ainda espelho para verificar se tem alguém ali.

se mantêm. É o que sentimos, mas é im- O segundo momento é a fase do transiti-

possível de ser nomeável na nossa reali- vismo na relação com o espelho, quando

dade psíquica (Lacan, 1953/2012). já há o reconhecimento de que aquilo


que se apresenta no espelho não é algo
Sendo assim, o enfoque no registro Ima-
real, mas sim a representação de algo.
ginário nesse escrito se mostra como
uma chave de leitura privilegiada para a Já no terceiro momento, a criança

análise do indivíduo com a sociedade, os aprende que aquilo que se apresenta no

grupos que a compõem e a importância espelho é a representação da imagem

da imagem nas relações e no surgimento daquilo que é o seu corpo e, portanto,

do Eu, como Lacan indicou no texto Está- ocorre uma simbolização daquilo que ela

dio do Espelho Como Formador da Fun- é. Sua imagem unificada, então, se sus-

ção do Eu (1949/1998), em que comenta tenta por meio desse espectro

as três fases do reconhecimento da

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imaginário onde ela também se aliena simbólica da intermediação da lingua-


(Lacan, 1949/1998). gem e, portanto, não se estrutura como
um Sujeito capaz de elaborar e reconhe-
Todo esse processo de identificação
cer as contradições de si mesmo e do
da própria imagem possibilita algumas
mundo a sua volta (Lacan, 1956-
conclusões. O Eu só é reconhecido por si
57/1995).
mesmo a partir da imagem do outro (La-
can 1949/1998). Esse momento é atra- Desse modo, só podemos pensar em
vessado por duas dimensões distintas, identificação se pensarmos também em
uma erótica, resultante do enfoque do agressividade, e as implicações sociais
investimento libidinal em sua própria dessa dualidade são importantes. O pri-
imagem, e outra agressiva, pois, se o Eu meiro apontamento diz respeito ao
só é reconhecido pelo outro, esse outro grande valor psíquico que essa crença na
pode ameaçar o seu lugar. É o surgi- unidade do Eu tem para o indivíduo.
mento da paranoia original do Eu em re- Como consequência, quando a imagem
lação ao outro, marcado pela dessa unidade é abalada por algum fator
agressividade constitutiva da formação externo, por exemplo, ao se deparar com
de sua imagem (Guillot, 2014). alguém que se mostra oposto ao que te-
nho como de mais fundamental no meu
A criança, ao passar por esse pro-
Ideal de Eu, o indivíduo levanta todas as
cesso dentro dessa dimensão imaginária,
suas defesas em meio ao medo de re-
expõe uma dualidade na forma que se re-
torno àquele estado anterior à pré-iden-
laciona com o outro: ou ela o ama ou o
tificação de sua própria imagem. Além
odeia. A possibilidade de amar e odiar, do
disso, a noção da importância dessa
reconhecimento da incoerência de que o
crença pode ser extrapolada para a
outro possa ser bom e ruim, amado e odi-
crença da unidade grupal, e os paralelos
ado, ainda não existe em seu repertório.
entre as reações de agressividade, ao ser
O Eu, por ser imaginário, é sentido como
ameaçados, da mesma forma, são signifi-
completo e sem contradições, e seus sen-
cativos.
timentos devem se comportar como tal,
já que ainda não possui a capacidade

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Num segundo momento, podemos processo de constituição do eu e de sua


supor que a agressividade circundante na própria imagem são chaves de leitura
política atual brasileira seria uma inflação plausíveis para o esforço de lançar luz so-
imaginária e, por consequência, uma de- bre essa questão da intolerância política
flação simbólica da palavra e da nossa ca- brasileira e a sua relação com a imagina-
pacidade de intermediar nossos conflitos rização das nossas relações dentro da po-
internos e lidar com o que é diferente. lítica nacional.
Dessa forma, as implicações advindas do

A “imaginarização” na política brasileira

Um dos possíveis pontos de partida corrupção e resultados econômicos não


para analisarmos nosso problema são as muito animadores. A disputa, acirrada
eleições presidenciais de 2014. Dentre os como foi, acabou sendo vencida por
candidatos mais fortes naquele páreo, pouca vantagem por Dilma, sendo então
dois se destacaram e levaram a disputa reeleita a um mandato que não chegaria
para o segundo turno. Um deles era Aé- ao fim.
cio Neves, neto de Tancredo, carregando
Anos após o impeachment de Dilma,
o importante sobrenome do avô e to-
nas eleições presidenciais de 2018, seu
mando para si contornos de única boa al-
predecessor Lula volta ao debate como
ternativa ao governo petista que se
uma das opções de voto mais fortes para
perpetuava há três mandatos.
as eleições de 2018, sendo o candidato
Do outro lado, tínhamos Dilma Rous- mais próximo do ex-presidente na dis-
sef, a “Dilmãe” de seus eleitores, ten- puta ao cargo presidencial o deputado fe-
tando a reeleição em meio a um governo deral ultraconservador Jair Bolsonaro.
desgastado pelos escândalos de

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Assim como no ciclo eleitoral ante- mais de debate, mas sim de embate en-
rior, de 2014, as redes sociais efervesce- tre esses grupos opostos.
ram com o debate e o grau de mitificação
A política se torna, então, dominada
que os candidatos tomaram em 2018.
pela eterna disputa entre dois lados que
Um rápido exame nas redes sociais dos
se atacam e buscam subjugar o outro nos
candidatos já tornava possível ver a gran-
territórios de conflito, seja nas ruas, seja
deza e a força de suas bases de apoio,
na internet. A possibilidade de debate e
bem como a maneira como essas figuras
comprometimento entre as partes se
eram representadas: enquanto um apre-
mostra inerte e o foco se torna a vitória
sentava fotos de caráter messiânico e pa-
de um e a derrota do outro. As tentativas
ternas em relação ao povo, o outro era
de entendimento e diálogo com aquele
chamado pelos seus apoiadores como
que se mostra diferente é substituída
“Bolsomito”, num chiste criado pelos
pelo desejo da sua destruição. O próprio
seus apoiadores na junção do sobrenome
fato de se pensar a política com dois la-
do candidato e a palavra “mito”.
dos opostos já marca a dimensão imagi-
A agressividade que esses grupos ma- nária em que são organizados esses
nifestavam entre si também era evi- conflitos, em referência à própria duali-
dente. Não só envoltos numa figura dade da nossa relação com o outro,
política específica, mas também nas dife- quando passamos pelo processo do nar-
rentes opiniões que, devido a esse atra- cisismo.
vessamento político circulante na
Se, por um lado, os processos psíqui-
sociedade, esses grupos são identificados
cos fazem o indivíduo ser e agir de certa
como sendo do espectro da “esquerda”
maneira, por outro, a sociedade favorece
ou da “direita”. Inclusão, igualdade de di-
determinadas formas de ação e de pen-
reitos, políticas sociais, como o Bolsa Fa-
samento. Então, quais seriam as
mília6, e nível de controle do Estado na
economia são exemplos do campo não

6“Bolsa Família emerge como agenda de polarização, http://dapp.fgv.br/bolsa-familia-emerge-como-


mostra DAPP Report”: acessado no agenda-de-polarizacao-mostra-dapp-report/

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influências da nossa forma de organiza- indivíduo e de sua imagem. É a era do


ção social atual no modo como nos rela- “eu” focado constantemente, do incen-
cionamos? tivo ao empreendedorismo individual, da
valorização excessiva da imagem nas mí-
Nosso contexto de uma sociedade
dias sociais, do incentivo à competição e
capitalista contemporânea provoca a
ao crescimento profissional, em detri-
mercantilização de todos os aspectos da
mento de ações coletivas: é o momento
vida, e a imagem é um deles. Ela se torna
do “Você S.A.”.
não apenas um produto do mercado,
mas a sua razão final (Debord, 1963). O Os fatores que determinam as nossas
indivíduo então se torna alienado nessa formas de subjetivação na sociedade são
espetacularização e vive atravessado muitos, porém é possível ver a influência
pelo enfoque nessa lógica da imagem, in- importante dessa lógica narcísica, focada
clusive na maneira como escolhemos no objeto “eu”, que é impulsionado em
nossas profissões, como construímos nossa sociedade brasileira atual. Logo, se
nossos relacionamentos e como desfru- a nossa constituição é atravessada por
tamos de nosso tempo. A cultura da os- esses fatores, a forma como criamos la-
tentação em conjunto com a vastidão do ços também parece ser influenciada por
alcance das redes sociais como Insta- eles. Ou seja, criamos laços, formamos
gram e Facebook parecem consequên- grupos e nos afeiçoamos àqueles com os
cias esperadas desse modo de quais nos identificamos e enxergamos
subjetivação. como mais parecidos com nós mesmos, e
não conseguimos ser tolerantes com
O capitalismo neoliberal, longe de ser
aqueles que se apresentam tão diferen-
apenas uma política econômica ou uma
tes de nós.
ideologia, se configura mais como uma
racionalidade que interfere nos modos O campo da política, epítome do
de subjetivação dos indivíduos e na con- modo como nos relacionamos, ganha
figuração da sociedade (Dardot; Laval contornos excessivamente narcísicos, di-
2008/2016). Nessa racionalidade, a ên- ficultando a característica mais funda-
fase se encontra na supervalorização do mental do regime democrático – o

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debate com objetivo da conciliação – e se No primeiro aspecto, a instância do


transforma num território dominado pe- Ideal do Eu é que exerce o papel principal
las identificações, apaixonamentos e ao nos direcionar a tomar determinado
ódios, onde a escolha de candidato é me- objeto como referência do que quere-
ramente pautada naquele que se vê mos ser, deixando marcas no indivíduo
como igual, enquanto quem é oposto que se modifica de acordo com o “mo-
merece apenas hostilidade. Portanto, a delo” que está seguindo, em comum
política excessivamente gerida pelas ima- acordo com os outros membros (Roudi-
gens e identificações, a imaginarização nesco, Plon, 1997).
da política, vem também como uma das
No cenário político brasileiro, essa re-
consequências da influência da subjetiva-
lação fica evidente com o engajamento
ção neoliberal, individualista, que favo-
massivo focado nas figuras de maior rele-
rece laços primordialmente entre
vância no país, movimentando milhões
“iguais”.
de pessoas. Nas suas redes sociais, nas
Tratando-se desse registro imaginá- ruas ou em seus atos e caravanas, a ima-
rio, um dos conceitos que devemos reto- gem de Lula e Bolsonaro são cultuadas
mar como chave de leitura privilegiada como profetas bíblicos de outras eras.
para a análise de nossas questões é a Não apenas isso... todo esse afeto inves-
identificação, fundamental no modo tido nessas figuras provoca como conse-
como nos constituímos e nos relaciona- quência a inflação narcísica das suas
mos com os outros. Freud, no texto Psi- imagens (Freud, 1914/2010). Se, por um
cologia das Massas e Análise do Eu lado, temos um político que toma para si
(1922/2011), comenta a importância da o papel de herói salvador da pátria so-
identificação na construção e sustenta- frida de outros governos, o defensor da
ção de um grupo. Sua atuação se daria “moral e bons costumes”, do outro
por duas maneiras distintas: a primeira é
a identificação do Eu com a figura de um
líder ou uma ideia; a segunda, a identifi-
cação com o grupo.

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temos uma figura que se considera trans- que gira primordialmente em torno de
cendendo as limitações da carne.7 quem se vê como semelhante.

Já no segundo aspecto, a identifica- Se não podemos pensar identificação


ção atua na formação grupal, em relação sem agressividade, as consequências
à ligação que os membros têm entre si, dessa dificuldade de lidar com alteridade
por meio do afeto que circula entre seus são evidentes. O indivíduo que reco-
pares, advindo do reconhecimento de nhece o outro como parte de um grupo
que são integrantes de um mesmo grupo oposto aos seus ideais, demonstra nada
e que possuem um mesmo objetivo. É, mais do que a intolerância, manifesta
também, um reconhecimento da ima- agressivamente nas diversas áreas de dis-
gem do ideal ou líder que os uniu, e isso puta como a internet, com os ataques vir-
é principalmente representado na polí- tuais e cancelamentos, e nas ruas, com
tica brasileira pelo antagonismo entre os episódios que muitas vezes acabam em
grupos “bolsonarista” e “petista”, um pa- violência física.
ralelo da dualidade entre direita e es-
Essa relação imaginária e dual do “so-
querda, conservadores e progressistas.
mos nós contra eles” favorece que a se-
Desse modo, tratando-se de política, gregação entre os grupos se acentue,
o foco no Eu e na imagem, reforçado pelo enquanto o campo da política é cada vez
individualismo dessa forma atual de sub- mais extremado e perde sua capacidade
jetividade neoliberal, favorece apenas as de debate e conclusões comuns, em de-
conexões entre versões de si mesmo, re- trimento do poder da imagem e da iden-
ferenciadas num mesmo ideal coletivo tificação: é a deflação da palavra como
centrado na mesma figura. Ou seja, mais mediadora de conflitos na sociedade di-
do que indivíduos relacionando propria- ante da inflação do imaginário.
mente com a alteridade, temos o laço
Dentro dessa hostilidade ao dife-
rente, o indivíduo ou grupo é atravessado

7 El Pais (2018). “Lula: ‘Eu não sou um ser humano, https://brasil.elpais.com/brasil/2018/04/08/poli-


sou uma ideia. E não adianta tentar acabar com as tica/1523145272_467301.html
ideias.’” Acessado no dia 18 jun.2018

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por um processo de despersonalização notícia, após gritar ofensas em frente ao


do outro que passa a ser encarado como Instituto Lula, ele foi confrontado por se-
um objeto a ser destruído.8 A noção civi- guidores e “Quando tentava atravessar a
lizada de que possam ser adversários – e pista, recebeu um chute de um apoiador
não inimigos –, em uma competição polí- de Lula. Ele bateu a cabeça na caçamba
tica, parece difícil de ser alcançada. de um caminhão que passava na hora e
Freud, inclusive, em 1930 já nos alertava, caiu desacordado. Jornalistas e outras
no texto O Mal-estar na Civilização, sobre pessoas que testemunharam a cena pe-
a força das pulsões movidas por paixões, diram socorro.”9 Em outro exemplo,
como essa identificação excessiva com ainda no mesmo ano, a caravana do ex-
um líder ou ideal, serem mais intensas do presidente Lula, que já vinha sendo hos-
que as pulsões movidas pela razão. Logo, tilizada e atacada com pedras e ovos pelo
quanto mais intensa a paixão, mais forte sul do país, foi alvejada por tiros, quando
é a identificação e mais agressiva é a rea- passava no estado do Paraná, no per-
ção a quem se oponha a isso. curso entre Quedas do Iguaçu e Laranjei-
ras do Sul. Dois dos veículos foram
Alguns outros exemplos podem ser
atingidos, porém ninguém ficou ferido.10
citados para ilustrar a agressividade pro-
vocada entre grupos opostos no ano elei- É notável que, ao observarmos a
toral de 2018, como o caso do troca de hostilidade entre dois grupos
empresário de 57 anos, oposto ao par- que se enxergam de forma tão diferentes
tido dos trabalhadores (PT), que foi agre- entre si, podemos verificar uma dinâmica
dido e acabou desacordado após ofender grupal semelhante. Essa intolerância,
figuras políticas desse partido. Segundo a que se transforma em episódios de

8 Exame (2018). “ ‘Vamos fuzilar a petralhada’ diz civil-encerra-inquerito-de-agredido-em-frente-a-ins-


Bolsonaro em campanha no Acre”. Acessado em 15 tituto-lula.shtml
ago. 2020, disponível em: https://exame.com/bra- 10 G1 (2018). “Ônibus da caravana de Lula no Paraná

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9 Estado de Minas (2018). “Polícia civil encerra in- este/noticia/onibus-da-caravana-de-lula-sao-atingi-
quérito de empresário agredido em frente ao Insti- dos-por-tiros-no-oeste-do-parana-diz-
tuto Lula” Acessado no dia 15 jun.2018, em: assessoria.ghtml
https://www.em.com.br/app/noticia/poli-
tica/2018/04/21/interna_politica,953273/policia-

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violência entre os grupos, parece vir, en- laços, as consequências da pouca media-
tão, como uma representação das con- ção por meio da palavra, como forma de
tradições que não foram elaboradas e intermediar e sustentar as diferenças,
significadas propriamente pelos seus abre caminho para que a identificação
membros, possivelmente devido à inten- seja a principal amarração entre indiví-
sidade das formas de relações imaginá- duos e torne possível a deflagração de
rias centradas na dualidade do tantos fenômenos de intolerância e
semelhante/diferente que temos atual- agressividade no Brasil de hoje. Mais do
mente. que indivíduos em contato com a alteri-
dade, temos laços que se estruturam em
Desse modo, podemos concluir que a
torno do semelhante como igual e rival, e
formação do Eu – e sua realidade psí-
que são agravados pelas consequências
quica imaginária, de acordo com a meta-
da individualização advinda da subjetivi-
psicologia psicanalítica, associada a essa
dade neoliberal, tendo como destaque a
lógica social neoliberal focada na imagem
imaginarização do campo político.
e na hipertrofia do eu – conduz a um de-
sinvestimento na dimensão da palavra
como principal mediadora de laços. No
que se refere à estruturação desses

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Recebido em: 16/09/2019


Aprovado em: 12/08/2020

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