Você está na página 1de 9

Justiça Federal da 3ª Região

PJe - Processo Judicial Eletrônico

27/05/2021

Número: 5003206-47.2020.4.03.6100
Classe: MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL
Órgão julgador: 2ª Vara Cível Federal de São Paulo
Última distribuição : 02/03/2020
Valor da causa: R$ 1.000.000,00
Assuntos: Suspensão da Exigibilidade, Compensação, Contribuições Sociais, Contribuições para o
SEBRAE, SESC, SENAC, SENAI e outros
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? NÃO
Partes Procurador/Terceiro vinculado
SOUZA LIMA SEGURANCA PATRIMONIAL LTDA. BRUNO LASAS LONG (ADVOGADO)
(APELANTE)
SOUZA LIMA TERCEIRIZACOES LTDA. (APELANTE) BRUNO LASAS LONG (ADVOGADO)
UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL (APELADO) SERVICO SOCIAL DO COMERCIO - SESC -
ADMINISTRACAO REGIONAL NO ESTADO DE SAO PAULO
(ASSISTENTE)
Delegado da Delegacia de Administração Tributária da
Receita Federal do Brasil (DERAT/SPO) (APELADO)
Ministério Público Federal (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
33820 25/06/2020 16:23 Sentença Sentença
791
MANDADO DE SEGURANÇA CÍVEL (120) Nº 5003206-47.2020.4.03.6100 / 2ª Vara Cível Federal de São Paulo
IMPETRANTE: SOUZA LIMA SEGURANCA PATRIMONIAL LTDA., SOUZA LIMA TERCEIRIZACOES LTDA.
Advogado do(a) IMPETRANTE: BRUNO LASAS LONG - SP331249
Advogado do(a) IMPETRANTE: BRUNO LASAS LONG - SP331249
IMPETRADO: . DELEGADO DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL EM SÃO PAULO - DELEGACIA DA RECEITA FEDERAL
DO BRASIL DE ADMINISTRAÇÃO TRIBUTÁRIA - DERAT,, UNIAO FEDERAL - FAZENDA NACIONAL

SENTENÇA

Trata-se de Mandado de Segurança, com pedido liminar, por meio do qual o impetrante
pretende obter provimento jurisdicional que declare a inconstitucionalidade da incidência das contribuições
sociais destinadas ao SEBRAE, INCRA, APEX, ABDI, “Sistema S” (SESI, SENAI, SESC SENAC,
SENAT) e salário educação sobre a folha de salários, a partir da emenda constitucional nº 33/2001 ou,
subsidiariamente, limitar a base de cálculo das contribuições ao teto de 20 (vinte salários mínimos).

Pretende, ainda, seja declarado o direito de compensação dos valores indevidamente pagos, no
período dos últimos 5 (cinco) anos, desde o ajuizamento da ação até o efetivo trânsito em julgado, com as
futuras contribuições de mesma espécie, devidamente corrigidos pela Selic.

Requer seja concedida medida liminar para obstar a autoridade coatora no sentido de exigir as
contribuições mencionadas, ou limitar a base de cálculo ao teto de 20 (vinte) salários mínimos.

A liminar foi parcialmente deferida, no que se refere às contribuições relativas ao SEBRAE,


INCRA, APEX, ABDI, SESI, SENAI, SESC, SENAC E SENAT, observando-se o limite de 20
salários-mínimos para a sua base de cálculo. INDEFIRO quanto ao salário-educação, nos termos da
fundamentação supra.

Devidamente intimada a autoridade impetrada apresentou informações alegando, em


preliminar, do não cabimento do mandado de segurança. No mérito, alegou a constitucionalidade as
contribuições questionadas, por fim, requereram a denegação da segurança (id 29459130).

A União Federal requereu o seu ingresso no feito nos termos do art. 7º, II da Lei 12.016/09,
bem como apresentou manifestação (id 29357469)

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 1
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
O Ministério Público Federal opinou pelo prosseguimento da presente demanda (id
29847785)

Breve relatório. Passo a decidir.

Deixo de apreciar a preliminar aventada em informações, uma vez que se confunde com o
mérito e com este será apreciada.

Passo ao exame do mérito, propriamente dito.

No mérito, discute-se se a exigibilidade das contribuições SEBRAE, INCRA, APEX, ABDI,


SESI, SENAI, SESC, SENAC E SENAT e salário educação sobre a folha de salários, a partir da emenda
constitucional nº 33/2001 ou, subsidiariamente, limitar a base de cálculo das contribuições ao teto de 20
(vinte salários mínimos).

Do Pedido Principal

Inicialmente, consigno que o meu entendimento era no sentido de que as alterações trazidas
pela EC Nº 33/2001, excluíram a possibilidade de incidência das contribuições sociais gerais e as
contribuições destinadas a terceiros incidentes sobre a folha de salários, todavia, revejo o meu
posicionamento para me alinhar ao entendimento da jurisprudência mais recente do o E. Tribunal
Regional Federal da 3ª. Região.

Ademais, a questão está em discussão com mérito pendente junto ao C. STF, em sede de
repercussão geral (Recursos Extraordinários nºs 603.624 e 630.898) – especificamente em relação ao
INCRA, mas que se aplica às demais contribuições.

Ressalto, ainda, que que o C. STJ já firmou a legalidade da exação e, quando da elaboração da
súmula 516, exarou o entendimento de que a contribuição ao INCRA possui natureza jurídica de contribuição
de intervenção no domínio econômico (CIDE) e encontra fundamento no artigo 149 da CF/88.

Vejamos.

Segundo o artigo 149 da Constituição Federal, as contribuições que integram o denominado


sistema S (SENAI, SESC, SESI e SEBRAE) bem como aquela destinada ao INCRA, são de interesse das
categorias profissionais ou econômicas e utilizadas como instrumento de atuação em suas respectivas áreas,
para o desenvolvimento de atividades de amparo aos trabalhadores, com natureza jurídica de contribuição de
intervenção no domínio econômico.

Em relação a Emenda Constitucional nº 33/01, cumpre esclarecer que a alteração


promovida no artigo 149, § 2º, inciso II, alínea a, do CF, ao dispor sobre a alíquota ad valoren com base

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 2
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
no faturamento, receita bruta ou valor da operação, não restringiu as bases econômicas sobre as quais pode
incidir, uma vez que se refere a um rol exemplificativo, razão pela qual não há proibição de que a lei
adote outras. Portanto, nenhuma mácula de inconstitucionalidade paira sobre a utilização da folha de
salários, como base de cálculo para incidência das contribuições ao sistema S (SENAI, SESC, SESI e
SEBRAE) e a destinada ao INCRA.

Diz a jurisprudência:

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. CONTRIBUIÇÕES AO


SEBRAE-APEX-ABDI. PRELIMINAR. ILEGITIMIDADE PASSIVA DAS ENTIDADES
DESTINATÁRIAS DOS RECURSOS ARRECADADOS RECONHECIDA DE OFÍCIO. EC
33/01. A ALTERAÇÃO CONSTITUCIONAL NÃO IMPÔS RESTRIÇÃO ÀS
CONTRIBUIÇÕES, MAS APENAS EXEMPLIFICOU BASES DE CÁLCULO A SEREM
ELENCADAS CASO SEJAM INSTITUÍDAS NOVAS CONTRIBUIÇÕES. RECURSO
DESPROVIDO.

(...)

2. Quanto à tese restritiva atinente à EC 33/01, este Tribunal sedimentou jurisprudência no


sentido de que as alternativas de base de cálculo agora previstas no art. 149, § 2º, da CF não
são taxativas, mantendo-se hígidas as contribuições então incidentes sobre a folha de salários -
até porque se esta fosse a intenção do constituinte derivado, certamente disciplinaria a nova
fonte de custeio das entidades favorecidas pelas contribuições.

(ApCiv 5000225-18.2017.4.03.6143, Sexta Turma, Rel. Des. Fed. Johonson Di Salvo, j.


20.09.2019, e - DJF3 Judicial 1 de 25.09.2019, destaquei).

TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. CONTRIBUIÇÕES AO INCRA, SESC,


SENAI, SEBRAE E SALÁRIO-EDUCAÇÃO APÓS O INÍCIO DA VIGÊNCIA DA
EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 33/2001 – LEGITIMIDADE DA EXIGÊNCIA. ARTIGO
149, § 2º, INCISO III, ALÍNEA “A” – ROL NÃO EXAURIENTE. HIGIDEZ DA
UTILIZAÇÃO DA FOLHA DE SALÁRIOS COMO BASE DE CÁLCULO. APELAÇÃO
DO CONTRIBUINTE IMPROVIDA.

(...)

5. A constitucionalidade das contribuições ao Sesc, ao Senai e ao Sebrae também é


reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal, igualmente em julgados proferidos após a EC nº
33/2001.

6. O cerne da controvérsia tem sido objeto de apreciação no âmbito deste Tribunal, que
reiteradamente atesta a legitimidade da exigência das contribuições impugnadas nestes autos,
inclusive após o início da vigência da EC nº 33/2001.

7. Predomina o entendimento de que a inovação trazida pela emenda constitucional em apreço,


na parte em que menciona algumas bases de cálculo sobre as quais podem incidir tais
contribuições (adição do § 2º, inciso III, alínea “a”, ao artigo 149 da CF/1988), refere-se a um

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 3
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
rol exemplificativo. Nenhuma mácula de inconstitucionalidade paira sobre a utilização da
folha de salários como base de cálculo destas contribuições. Precedentes do TRF3.

8. Diante da improcedência do pedido principal, resta prejudicada a pretensão de compensação


dos valores pagos no quinquênio anterior à impetração.

9. Remessa oficial não conhecida. Apelação da impetrante a que se nega provimento.

(ApReeNec 5004568-74.2018.4.03.6126, Terceira Turma, Rel. Des. Fed. Cecilia Marcondes, j.


05.09.2019, Intimação via sistema em 09.09.2019, destaquei).

Portanto, reconhecida a legalidade da exigência da contribuição ao SEBRAE, INCRA,


APEX, ABDI, SESI, SENAI, SESC, SENAC E SENAT, após a edição da EC n. 33/01, é de rigor a
denegação da segurança neste ponto..

Já o salário educação tem por finalidade o financiamento de programas, projetos e ações


voltadas à educação básica, pública, nos termos do artigo 212, § 5º, da CF. Sua constitucionalidade já foi
examinada pelo Colendo Supremo Tribunal Federal, quando da edição da súmula 732.

Ao contrário do que alega a impetrante, a edição da EC n. 33/01, que modificou o artigo


149, § 2º, alínea a, da CF não alterou a incidência do salário-educação sobre a folha salário, pois a exação
tem matriz constitucional própria (artigo 212, §5º).

O entendimento firmado na jurisprudência é o seguinte:

APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA. TRIBUTÁRIO. SALÁRIO-EDUCAÇÃO.


CONSTITUCIONALIDADE JÁ ASSENTADA PELO STF. IRRELEVÂNCIA DA
ENTRADA EM VIGOR DA EC 33/01, POSTO TER A CONTRIBUIÇÃO MATRIZ
CONSTITUCIONAL PRÓPRIA - ART. 212, § 5º, DA CF.

1.O plenário do Supremo Tribunal Federal em sessão de 17/10/2001, por maioria de votos -
vencido apenas o Min. Marco Aurélio - concluiu o julgamento do RE nº 290.079/SC onde
reconheceu a inexistência de incompatibilidade do salário - educação tanto com a EC nº 1/69,
quanto com a atual Magna Carta; considerou ainda válida a alíquota prevista no DL 1.422/75,
e ainda que a circunstância de a Carta atual fazer remissão no § 5º do art. 212 ao instituto
jurídico do salário - educação já existente na ordem jurídica anterior, deve ser compreendida
no sentido da recepção da contribuição na forma em que se encontrava, aproveitando-se tudo
aquilo que fosse compatível com sua nova natureza tributária.

2.Aduz a parte impetrante que a inclusão do § 2º ao art. 149 da CF acabou por limitar a
instituição das contribuições sociais aos fatos geradores ali elencados, o que tornaria
inconstitucional a incidência do salário-educação sobre a folha de salários a partir da EC
33/01. Porém, olvida-se do fato de a referida contribuição social geral ter matriz constitucional

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 4
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
própria - o art. 212, § 2º, da CF - permitindo a manutenção da exação após a entrada em vigor
da emenda constitucional, conforme sedimentado pela jurisprudência dos Tribunais
Superiores.

(TRF 3ª Região, AC 0001990-46.2016.4.03.6143, Sexta Turma, Rel. Des. Fed. Johonsom Di


Salvo, j. 20.07.2017, e-DJF3 Judicial 1 de 28.07.2017, destaquei).

TRIBUTÁRIO. CONSTITUCIONAL. MANDADO DE SEGURANÇA.


SALÁRIO-EDUCAÇÃO. EC 33/2001. ACRÉSCIMO DO § 2º. ARTIGO 149, CF.
CONSTITUCIONALIDADE. APELAÇÃO DESPROVIDA.

1. A Emenda Constitucional nº 33, de 2001, modificou a redação do artigo 149 da


Constituição, acrescentando-lhe o parágrafo 2º, no qual está previsto que as contribuições
sociais e de intervenção no domínio econômico poderão ter alíquotas ad valorem.

2. A Emenda Constitucional 33/2001 não impede a incidência de contribuições sobre a folha


de salários, continuando a ser devida a contribuição para o salário educação. O § 2º do art. 149
da Constituição Federal, com a redação atual, estabelece que as contribuições sociais e de
intervenção no domínio econômico podem ter as bases de cálculo nele mencionadas (o
faturamento, a receita bruta, o valor da operação e o valor aduaneiro), sem prejuízo das demais
bases de cálculo já indicadas em outras normas.

3. Incidência do enunciado da Súmula nº 732 do Supremo Tribunal Federal.

4. Não merece acolhimento a alegada inexigibilidade da contribuição social destinada ao


salário educação referente aos fatos geradores ocorridos após a promulgação da Emenda
Constitucional 33/2001, razão pela qual é de ser mantida a r. sentença.

5. Apelação desprovida.

(TRF 3ª Região, AC 0012340-28.2016.4.03.6100, Sexta Turma, Rel. Des. Fed. Diva Malerbi,
j. 29.11.2018, e-DJF3 Judicial 1 de 07.12.2018, destaquei).

Portanto, reconhecida a legalidade da exigência da contribuição do salário educação, após a


edição da EC n. 33/01, é de rigor a denegação da segurança quanto a esse pedido.

Do Pedido Subsidiário.

A questão da controvérsia cinge-se em verificar o direito ou não da impetrante em apurar e


recolher as contribuições parafiscais por conta de terceiros, com a limitação da sua base de cálculo até 20
(vinte) salários mínimos, na forma prevista no art. 4º, parágrafo único, da Lei nº 6.950/81.

O artigo 4º da Lei n. 6.950 de 1981 dispõe:

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 5
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
Art 4º - O limite máximo do salário-de-contribuição, previsto no art. 5º da Lei nº 6.332, de 18 de
maio de 1976, é fixado em valor correspondente a 20 (vinte) vezes o maior salário-mínimo
vigente no País.

Parágrafo único - O limite a que se refere o presente artigo aplica-se às contribuições parafiscais
arrecadadas por conta de terceiros.

O artigo 3º do Decreto-lei n. 2.318 de 1986, por sua vez, estabelece:

Art 3º Para efeito do cálculo da contribuição da empresa para a previdência social, o salário de
contribuição não está sujeito ao limite de vinte vezes o salário mínimo, imposto pelo art. 4º da
Lei nº 6.950, de 4 de novembro de 1981.

Percebe-se que o limite é afastado apenas para as contribuições à previdência social, o que não
se confunde com as demais contribuições para a seguridade social, em especial às contribuições para
terceiros.

Contudo, há de ressaltar que a limitação foi parcialmente derrogada no que tange ao


Salário-Educação, por força do artigo 15 da Lei n. 9.424 de 1996:

Art 15. O Salário-Educação, previsto no art. 212, § 5º, da Constituição Federal e devido pelas
empresas, na forma em que vier a ser disposto em regulamento, é calculado com base na
alíquota de 2,5% (dois e meio por cento) sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, a
qualquer título, aos segurados empregados, assim definidos no art. 12, inciso I, da Lei nº 8.212,
de 24 de julho de 1991.

A alíquota instituída foi a de 2,5% sobre o total de remunerações pagas ou creditadas, sem a
menção a qualquer limite, o que afasta o limite imposto por norma geral anterior:

CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. BASE DE CÁLCULO. CONTRIBUIÇÃO DE


INTERVENÇÃO NO DOMÍNIO ECONÔMICO (CIDE). INCRA. SEBRAE. SENAI. SESI.
SALÁRIO-EDUCAÇÃO. EC 33/2001. ACRÉSCIMO DO § 2° DO ARTIGO 149, CF. TESE
DE RESTRIÇÃO DA HIPÓTESE DE INCIDÊNCIA REJEITADA. APELAÇÃO
DESPROVIDA. 1. O cerne da presente controvérsia consiste na constitucionalidade ou
inconstitucionalidade de Contribuições Sociais de Intervenção no Domínio Econômico, que
adotem como base de cálculo a "folha de salários", tendo em vista que o artigo 149, § 2º, inciso
III, alínea "a", da Constituição Federal, na redação atribuída pelo artigo 1º, da Emenda
Constitucional nº 33/2001, teria estabelecido um rol taxativo de bases de cálculo ad valorem
possíveis, no qual está não estaria inclusa. 2. O § 2º do artigo 149 da Constituição Federal não é
proibitivo, no sentido de impedir que a lei adote outras bases de cálculo. O objetivo do
constituinte derivado não foi o de restringir a ação do legislador, como sempre se fez
relativamente às contribuições do artigo 195, mas o de preencher o enorme vazio normativo da
redação anterior, indicando, agora, possibilidades, que ficam de logo asseguradas para a
imposição fiscal, sem prejuízo de que a lei preveja, em cada situação concreta, a base de cálculo
ou material respectiva, e a alíquota pertinente, específica ou ad valorem. 3. Consolidada a
jurisprudência desta Corte a respeito da possibilidade de utilização da folha de salários como
base de cálculo das contribuições referidas no caput do artigo 149 da Constituição Federal,
frente à Emenda Constitucional 33/2001. 4. Reconhecida a repercussão geral do tema discutido
nestes autos no julgamento do RE 603.624, que ainda pende de julgamento. Em verdade, o que
se observa é que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, presentemente, está orientada
em sentido contrário à pretensão da apelante. 5. Quanto à alegação subsidiária da apelante de
que deve ser afastada a exigência de tais tributos na parte em que exceder a base de cálculo de
20 salários-mínimos sobre a folha de salários, nos termos do parágrafo único do 4º da Lei nº

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 6
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
6.950/81 vislumbra-se que com a edição do Decreto-Lei nº 2.318/86 ocorreu expressa
revogação do limite apenas para as contribuições previdenciárias devidas pelas empresas,
preservando-se o limite somente para as contribuições a terceiros. Ainda, posteriormente, a Lei
nº 9.426/96 determinou de forma expressa que a alíquota de 2,5% tem incidência sobre o total
de remunerações pagas ou creditadas, a qualquer título, aos segurados empregados, sem
qualquer imposição de limite. 6. A lei nº 9.426/96 constitui-se no diploma regulador específico
do salário-de-contribuição, de modo que a Lei nº 6.950/81, que cuidava unicamente de alterar a
legislação previdenciária, não se pode sobrepor aos ditames da nova lei, posterior e específica,
até porque suas disposições, na questão em foco, são eminentemente conflitantes com a nova
regra. 7. Apelação desprovida. (ApCiv 5002018-37.2017.4.03.6128, Desembargador Federal
NELTON AGNALDO MORAES DOS SANTOS, TRF3 - 3ª Turma, e - DJF3 Judicial 1
DATA: 28/06/2019, grifei)

Ante o exposto CONFIRMO A LIMINAR E CONCEDO PARCIALMENTE A


SEGURANÇA, julgando PROCEDENTE EM PARTE O PEDIDO, resolvendo o mérito, nos termos do
art. 487, inciso I, do Código de Processo Civil para assegurar o direito da impetrante de apurar e recolher as
contribuições relativas ao SEBRAE, INCRA, APEX, ABDI, SESI, SENAI, SESC, SENAC E SENAT,
excetuando-se o salário educação, com a limitação da sua base de cálculo até vinte salários mínimos, na
forma prevista no artigo 4º. parágrafo único da Lei nº 6.950/81.

JULGO IMPROCEDENTE E DENEGO A SEGURANÇA em relação ao pedido principal,


conforme a fundamentação supra, com resolução do mérito, nos termos do art. 487, inciso I, do Código de
Processo Civil.

O contribuinte poderá compensar ou restituir o período não prescrito e serão aplicadas as regras
e índices vigentes no momento do requerimento.

Incabível a condenação em verba honorária, em face dos dizeres do artigo 25 da Lei nº


12.016/2009.

Custas ex lege.

Sentença sujeita ao duplo grau de jurisdição (artigo 14, §1º, Lei nº 12.016/09).

Oportunamente, remetam-se os autos ao Egrégio Tribunal Regional Federal da 3ª. Região.

P.R.I.

São Paulo, data de registro em sistema.

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 7
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242
lsa

Assinado eletronicamente por: ROSANA FERRI - 25/06/2020 16:23:16 Num. 33820791 - Pág. 8
https://pje1g.trf3.jus.br:443/pje/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?x=20062516231622200000030700242
Número do documento: 20062516231622200000030700242

Você também pode gostar