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JULHO/ 2011 – Edição nº2, ano I

BOLETIM EPIDEMIOLÓGICO
ACIDENTES DE TRABALHO NÃO-FATAIS
INFORME DO CENTRO COLABORADOR UFBA/ISC/PISAT – MS/DSAST/CGSAT

Acidentes de trabalho não-fatais no Brasil, 2006-2010


O Instituto Nacional de Seguro Social, INSS, para as mulheres: 1,6x1.000 e 2,6x1.000 (aumento de
concedeu, em 2006, 89.004 benefícios por acidente 38,5%), respectivamente (Figura 1). Isso demonstra
de trabalho (AT) não-fatais. Este valor quase duplicou que apesar das diferenças de magnitude entre os
em 2008, com 171.960 registros, o que corresponde a sexos, a tendência de crescimento dos coeficientes foi
um aumento de 48,2%, em apenas dois anos, entre os praticamente semelhante. Portanto, o risco de AT não-
trabalhadores segurados. Com o aumento desses fatal entre os homens foi aproximadamente três vezes
trabalhadores no País, o uso de coeficientes de maior do que o estimado entre as mulheres, a cada
incidência anual (também chamado de risco) facilita ano.
uma melhor compreensão da ocorrência desses
Figura 1 - Coeficiente de incidência anual (CIx1.000) de acidentes de trabalho, por
eventos. O coeficiente de incidência de AT não-fatal foi ano, específico por sexo, entre trabalhadores segurados da Previdência Social,
3,7x1.000 trabalhadores em 2006, e atingiu 5,6x1.000 Brasil.
8

em 2008, um aumento de 33,9%, no período. O 7

número de AT não-fatais entre os homens foi maior 6

5
que entre as mulheres. Entre os homens, foram
CI x 1.000

4
75.444 casos em 2006 e 142.437 em 2008, aumento 3

de 47,0%. Entre as mulheres ocorreram 13.560 e 2

29.523 casos, respectivamente, com um incremento 1

0
de 54,1%. Nesse mesmo período, o coeficiente de 2006 2007 2008
Homens 4,7 6,1 7,6
incidência anual de AT não-fatais passou de 4,7x1.000 Mulheres 1,6 2,3 2,6
Total 3,7 4,8 5,6
para 7,6x1.000 entre os homens (crescimento de
ANOS
38,1%), levemente menor do que o estimado Fonte: SUB 2006-2008 e AEPS 2008.

Trabalhadores jovens têm maior risco de acidente de trabalho não-fatal


Em 2006 e 2007, o coeficiente de incidência anual de Em ambos os sexos, o maior risco de AT não-fatais
AT não-fatal foi maior entre os de 16 a 19 anos de ocorreu no grupo de 20 a 29 anos e houve redução do
idade (Figuras 2 e 3) em ambos os sexos. Também risco entre os mais jovens. Isso pode ser o resultado
entre 2006 e 2007, houve crescimento do risco de AT de problemas no registro ou aumento de
não-fatais, em todas as idades, tanto em homens trabalhadores em atividades menos perigosas ou
como entre as mulheres. Em 2008 isto mudou. insalubres.
Figura 2 - Coeficiente de incidência anual (CIx1.000) por acidentes de trabalho não- Figura 3 - Coeficiente de incidência anual (CIx1.000) por acidentes de trabalho não-
fatais, no sexo masculino, por faixa etária, 2006 - 2008, Brasil. fatais, no sexo feminino, por faixa etária, 2006 - 2008, Brasil.
6
1,6
5,7
1,5
5,1 1,4 1,4
5
4,9
4,5 4,4 1,2 1,2 1,2
4 1,1
3,4 1 1
CI x 1.000

CI x 1.000

3,3 3,4
3
0,8 0,8
2,7
0,6
2

1,5 0,4 0,4


1 1 0,3
0,7 0,2 0,2

2006 2007 2008


0 1
2006 2007 2008
16-19 20-29 30-59 > 59 16-19 20-29 30-59 > 59
Faixa-etária Faixa-etária

Fonte: SUB, 2006-2008 e AEPS, 2008. Fonte: SUB, 2006-2008 e AEPS, 2008.
Figura 4 - Coeficiente de incidência anual (CIx1.000) de acidente de trabalho não-
O crescimento do risco de AT não-fatal entre fatais entre segurados, por região do País, 2006-2008.
7,0
trabalhadores segurados, entre 2006 e 2008, ocorreu 6,0
em todo País, e em todas as regiões (Figura 4). Os 5,0

maiores aumentos ocorreram na região Sul, Centro- 4,0

CI x 1.000
Oeste, Sudeste, Norte e Nordeste, nesta ordem. Vale 3,0

notar que a menor elevação foi observada na região 2,0

Norte, enquanto a maior ocorreu na região Sul. Esta foi 1,0

também a única região que superou a média nacional, 0,0


2006 2007 2008
Norte 3,0 3,3 3,3
no ano de 2008. Nordeste 1,8 2,1 2,6
Sudeste 2,5 3,5 4,2
Sul 3,7 4,8 5,9
Centro Oeste 2,7 3,6 4,3
Brasil 3,7 4,8 5,7

ANOS
Fonte: SUB, 2006-2008 e AEPS, 2008.

Figura 5 - Coeficiente de incidência anual (CIx1.000) de acidente de trabalho não-


fatal, entre trabalhadores segurados, por Unidade Federada, 2007. Há grande variação do coeficiente de incidência anual
de AT não-fatais entre as unidades federadas. Em
2007, variou de 20,1x1.000 no Acre a 62,9x1.000
trabalhadores segurados em Santa Catarina, estado
que teve a maior estimativa do País. Na região Norte, o
estado com maior risco de AT não-fatal foi Rondônia
(31,7x1.000), no Nordeste foi a Bahia (31,9x1.000), no
Sudeste foi o Rio de Janeiro (42,9x1.000), e no
Centro-Oeste foi o Mato Grosso do Sul (47,2x1.000)
(Figura 5).

Fonte: SUB, 2007 e


AEPS, 2008.

Trabalhadores do ramo de Transportes têm maior risco de sofrer acidente


de trabalho não-fatal
Na Figura 6, com base nos dados de 2008, observa-se (7,2x1.000), respectivamente(7,2x1.000),
que o maior número de acidentes de trabalho não- respectivamente. Não se considerou o grupo Outros,
fatais ocorreu na Indústria (n=63.252), seguida pelos nessa análise.
Serviços e Administração (n=46.007), e Transporte Analisando a tendência do risco de AT não-fatais entre
(n=39.478), respectivamente. Esses números são 2006 e 2008, observam-se diferenças de acordo com
influenciados pelo contingente de trabalhadores o ramo de atividade econômica. O maior aumento do
segurados nesses ramos de atividade econômica. Por risco de AT não-fatais ocorreu no ramo de Transporte
isso as estimativas de risco mostram um cenário (57,7%), seguido pela Indústria (54,6%), e Serviços e
diferente: os trabalhadores com maior risco de sofrer Administração (54,3%). Enquanto o menor
AT não-fatal são, de fato, os do ramo de Transporte crescimento ocorreu entre os trabalhadores da
(23,4x1.000), Indústria (8,6x1.000) e Construção Construção Civil (11,1%) perigosas ou insalubres.
Figura 6 - Coeficiente de incidência anual (CI-ATx1.000) e número de acidentes de trabalho não-fatais entre trabalhadores segurados, por grupo de atividade
econômica, 2006-2008, Brasil. CI-AT x 1.000

Fonte: SUB, 2006-2008 e AEPS, 2008.


Quedas e veículos automotores Tabela 1 - Distribuição das circunstâncias envolvidas em
acidentes de trabalho não-fatais notificados no Sinan, 2007-
estiveram envolvidos na maior parte 2010, Brasil.
dos acidentes de trabalho não-fatais Ano calendário

Circunstâncias 2007 2008 2009 2010

N % N % N % N %
O número de casos de AT não-fatais registrados no
Total 12.948 100,0 19.004 100,0 21.404 100,0 26.588 100,0
Sinan vem aumentando ano a ano, revelando
Queda 3.133 24,2 4.814 25,3 5.187 24,2 6.013 22,6
melhoria do sistema de vigilância e notificação
Com envolvimento
disponível para o total de trabalhadores do País, não de veículo
2.648 20,5 4.473 23,5 5.058 23,6 6.860 25,8
apenas os segurados. Com base nos dados de 2010, Impacto com objeto
2.953 22,8 3.698 19,5 3.854 18,0 4.337 16,3
observou-se que quedas e veículos automotores em movimento

estiveram envolvidos em quase metade dos AT não- Manuseio de


ferramenta
1.761 13,6 2.370 12,5 3.071 14,3 4.275 16,1
fatais notificados. As quedas representaram 24,2% Tentativa de
1.656 12,8 1.919 10,1 2.402 11,2 2.710 10,2
em 2007, e diminuíram para 22,6% em 2010. homicídio

Enquanto isso, a participação de veículos Esmagamento 540 4,4 1.251 6,6 1.268 5,9 1.645 6,2

automotores nos AT não-fatais variou de 20,5% em Mordida/picada de


107 0,8 154 0,8 170 0,8 263 1,0
animais
2007 para 25,8% em 2010 (Tabela 1). Em 2010, a
Eletrocussão 57 0,4 111 0,6 163 0,8 195 0,7
terceira causa mais comum de AT não-fatal, foi o
Explosão 49 0,4 110 0,6 108 0,5 132 0,5
impacto com objetos em movimento (16,3%), seguido
Exposição
pelo manuseio de ferramentas (16,1%), e tentativas fogo/fumaça
48 0,4 98 0,5 122 0,6 145 0,6

de homicídio (10,2%). Fonte: Sinan, 2007 – 2010 (atualização em 13/04/2011).

Tabela 2 - Distribuição dos acidentes de trabalho não- fatais


notificados no Sinan, de acordo com o tipo de vínculo, em
2010. Brasil.

Informal Formal
Variáveis
N=7.044 24,9% N=28.281 75,1%
Sexo
Feminino 851 12,0 5.759 20,4
Foto: Eduardo Marinho
Masculino 6.193 88,0 22.522 79,6

A distribuição dos acidentes de trabalho não- fatais


Faixa etária (anos)
notificados no Sinan, por tipo de vínculo, mostra que a
16 - 19 810 11,6 2.585 9,2 proporção de casos de trabalhadores informais é de
20 - 29 1.990 28,4 10.339 36,7 apenas 24,9%, menor do que o percentual estimado
30 - 59 3.888 55,6 14.733 52,4 entre os trabalhadores ocupados no País. Isto deve
estar revelando o menor acesso relativo dos
> 59 308 4,4 485 1,7
trabalhadores informais em relação aos formais. Entre
os casos de trabalhadores informais, as mulheres
Grupo de atividade econômica
tiveram uma menor representação (12,0%) do que
Agricultura 112 9,0 302 2,6 entre os trabalhadores formais (20,4%). Os acidentes
Indústria 281 22,5 2.772 24,0 em trabalhadores informais ocorreram em grupos
Construção 172 13,8 1.231 10,7 mais jovens e mais velhos do que nos formais. A
proporção de casos ocorridos em trabalhadores
Comércio 339 27,2 2.797 24,2
informais era maior do que a dos formais na
Transporte 108 8,7 909 7,9 Agricultura, Construção, Comércio, e Transporte. Ao
Int. financeira 147 11,8 2.245 19,5 contrário, no grupo de casos de AT não-fatal de
Educação 67 5,4 682 5,9 trabalhadores formais, as maiores proporções em
Saúde 20 1,6 603 5,2 comparação aos informais ocorreram na Indústria, 3
Intermediação financeira, e Saúde, nesta ordem.
Fonte: Sinan, 2010 (atualização em 13/04/2011).
Os dados apresentados devem ser analisados com
cuidado, considerando-se a parcialidade das
estatísticas do INSS, que cobrem apenas os
trabalhadores segurados pelo Seguro Acidente de
Trabalho, que conformam apenas um terço da
população economicamente ativa ocupada no País.
Isso pode afetar expressivamente o número de casos,
mas possivelmente em menor intensidade o risco de
AT não-fatais. Pesquisas conduzidas com amostras
populacionais no País não revelaram grandes
diferenças no risco de AT não-fatal entre
trabalhadores formais e informais, em geral, mas em
alguns ramos de atividade econômica em especial. O
número crescente das notificações do Sinan mostra
que o acesso de trabalhadores vem aumentando,
como também, aparentemente, a eficiência do SUS na
identificação e registro de casos de AT não-fatal.
Como todos os AT são evitáveis, a ocorrência desses
eventos demanda ações de prevenção efetivas.
Nesse sentido, embora haja evidências de que os
sistemas de informação venham melhorando ao longo
dos anos, como a identificação, registro, cobertura,
qualidade do dado, análise e divulgação, é necessária
a criação de programas de prevenção dirigidos para
grupos em maior risco, como foram apontados. Isso
deve levar em conta as realidades regionais ou locais.
Com os dados disponíveis, já é possível a avaliação
de programas implementados pelos Cerest. A Renast,
com a sua capilaridade nacional na atenção primária
de saúde, tem um papel fundamental nessas ações,
juntamente com outras instituições que
tradicionalmente têm realizado o controle de riscos
nos ambientes de trabalho.

Foto: Autor desconhecido

Centro Colaborador em Vigilância dos Acidentes


de Trabalho. Instituto de Saúde Coletiva, Campus
Universitário do Canela, Rua Augusto Vianna s/n,
Salvador Bahia, 40110-060. Fone: 71-3336-0034

Universidade Federal da Bahia, Instituto de Saúde


Coletiva, Programa Integrado em Saúde
Ambiental e do Trabalhador.

Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância à


Saúde, Departamento de Saúde Ambiental e do
Trabalhador, Coordenação Geral em Saúde do
Trabalhador.

Dados do SUB-INSS foram cedidos pelo MPS com


a intermediação do Dr. Paulo Rogério Oliveira. Do
Sinan os dados foram repassados pelos técnicos
da Análise de Situação de Saúde Ambiental e do
Trabalhador, ASISAST/DSAST/SVS/MS. 4

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