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ENSINANDO SOBRE OS MICRORGANISMOS POR MEIO

DA SUA IMPORTÂNCIA NA PRODUÇÃO, CONSUMO E


CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS

Cintia Faiele Hensel – cintia_hensel@hotmail.com


Universidade Federal Mato Grosso do Sul, Instituto de Física, Programa de Pós-
Graduação em Ensino de Ciências.
Campo Grande - Mato Grosso do Sul
João José Caluzi – caluzi@fc.unesp.br
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências, Departamento de Física,
Programa de Pós-graduação em Educação para a Ciência/Unesp-Bauru e Professor
colaborador do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências – UFMS-Campo
Grande.
Bauru – São Paulo

Resumo: Os Microrganismos estão presentes em tudo o que fazemos em nosso dia-a-


dia, e não somente quando ficamos doentes ou passamos mal, como a maioria das
pessoas acredita. Essa concepção negativa relacionada aos microrganismos é
frequente e persistente entre os alunos e a população em geral, como constatamos em
uma pesquisa bibliográfica prévia, e é essa ideia de que os microrganismos devem ser
associados somente como agentes patogênicos que almejamos mudar com este projeto.
Para isso propusemos a elaboração de um material didático diferenciado, com
abordagens práticas e investigativas a respeito da temática “Produção, Consumo e
Conservação de Alimentos” para o ensino de Microrganismos. O material didático foi
elaborado seguindo uma proposta problematizadora, levantando questões do cotidiano
dos alunos, sempre valorizando o conhecimento prévio dos mesmos. Os conhecimentos
prévios foram obtidos por meio de questionários respondidos pelos alunos antes da
aplicação do material didático, os quais foram tabulados e analisados segundo
Bauer&Gaskel, para posterior construção do material didático. Também foram
filmadas as aulas, as quais serão transcritas e analisadas microgeneticamente para
verificarmos se houve evolução conceitual mediante a interação dos alunos durante as
atividades propostas. Após a aplicação do material didático, transcrição e análise dos
dados obtidos, o material didático será reelaborado pela pesquisadora para ajustes em
sua estrutura para que os mesmo se tornem realmente um material interdisciplinar, e
que permita que os alunos possam modificar sua visão a respeito dos microrganismos e
que possa orientar os professores para um ensino mais científico e contextualizado.

Palavras-chave: Ensino de microrganismos, Conhecimentos prévios, Material


Didático, Evolução conceitual.
1 INTRODUÇÃO

2 A MICROBIOLOGIA E A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DOS


MICRORGANISMOS

A Microbiologia é o ramo da Biologia que estuda os seres microscópicos,


popularmente conhecidos por micróbios, nos seus mais variados aspectos como
morfologia, fisiologia, reprodução, genética e taxonomia. Também se estudam as suas
interações com outros seres vivos e com o ambiente. Estes estudos incluem sua
distribuição natural, suas relações recíprocas e com outros seres vivos, seus efeitos
sobre os homens e as alterações físicas e químicas que provocam em seu meio,
(BOSSOLAN, 2002, p.1). A Microbiologia abrange ainda o estudo das aplicações
industriais dos microrganismos, embora a tendência atual seja deixar esta função para a
biotecnologia, (TRABULSI, 2005, p.5).
Em sua maior parte, a Microbiologia trata com organismos microscópicos
unicelulares. Nas assim chamadas formas superiores de vida, os organismos são
compostos de muitas células, que constituem tecidos altamente especializados e órgãos
destinados a exercer funções específicas. Nos indivíduos unicelulares, todos os
processos vitais são realizados numa única célula (BOSSOLAN, 2002, p.1), facilitando
o seu estudo em grande detalhe e permitindo a observação de seus processos vitais
durante seu crescimento, a sua reprodução, o seu envelhecimento e sua morte.
Modificando-se a composição do meio, é possível alterar as atividades metabólicas,
regular o crescimento e, até alterar alguns detalhes do padrão genético, tudo sem causar
a destruição do microrganismo, como afirma BOSSOLAN (2002).
Os princípios da Biologia podem ser mostrados por meio do estudo da
Microbiologia, pois os microrganismos têm muitas características que os tornam
instrumentos ideais para a pesquisa dos fenômenos biológicos. Eles fornecem sistemas
específicos para a investigação das reações fisiológicas, genéticas e bioquímicas, que
são a base da vida. Podem crescer, de maneira conveniente, em tubos de ensaio ou
frascos, exigindo, assim, menos espaço e cuidados de manutenção do que as plantas
superiores e os animais. Além disso, crescem rapidamente e se reproduzem num ritmo
muito alto; algumas espécies bacterianas demonstram quase 100 gerações num período
de 24 horas. Os processos metabólicos dos microrganismos seguem os padrões que
ocorrem nos vegetais superiores e nos animais (BOSSOLAN, 2002, p.1).
Como afirma Tortora (2012), infelizmente tendemos a associar os microrganismos,
por exemplo, as doenças graves como a AIDS, as infecções e a deterioração dos
alimentos. Contudo, a maioria dos micro-organismos contribui de modo essencial na
manutenção do equilíbrio dos organismos vivos e dos elementos químicos no nosso
ambiente.
São vários exemplos da importância dos microrganismos no meio, em ambientes
marinhos e de água doce constituem a base das cadeias alimentares, já nos solos ajudam
a degradar detritos e incorporam nitrogênio gasoso do ar em compostos orgânicos,
reciclando assim os elementos químicos entre o solo, a água, os seres vivos e o ar
(TORTORA, 2012, p.2). Certos micróbios têm um papel fundamental na fotossíntese,
processo gerador de oxigênio e alimento que é crucial para a vida na Terra. Os micro-
organismos também possuem muitas aplicações comerciais, sendo usados na síntese de
produtos químicos como vitaminas, ácidos orgânicos, enzimas, alcoóis e muitas drogas
(TORTORA, 2012, p.2). Como esse mesmo autor afirma ainda, os seres humanos e
muitos outros animais dependem dos micróbios em seus intestinos para a digestão e a
síntese de algumas vitaminas que seus corpos requerem, incluindo algumas vitaminas
do complexo B, para o metabolismo, e vitamina K, para a coagulação do sangue.
A indústria de alimentos também usa micróbios, por meio da sua ação fermentativa,
para produzir vinagre, picles, bebidas alcoólicas, azeitonas verdes, molhos de soja,
manteiga, queijos, iogurte, pão, etc.. Além disso, enzimas produzidas por micróbios
podem ser manipuladas de modo que os micróbios produzam substâncias que
normalmente não sintetizariam. Estas substâncias incluem celulose, digestivos e
compostos para limpeza das tubulações, além de substâncias de grande importância
terapêutica como a insulina (TORTORA, 2012, p.2).

3 ENSINO DE MICROBIOLOGIA

Um tema relativamente complexo e de grande importância na formação dos alunos


do ensino Fundamental e Médio é o estudo da Microbiologia. O conhecimento básico
sobre microbiologia é muito importante para nos tornarmos indivíduos mais conscientes
em nosso dia-a-dia, principalmente porque essa área está diretamente relacionada à
nossa higiene pessoal e saúde, bem como a inúmeros outros aspectos relacionados ao
funcionamento do ambiente (CASSANTI et al., 2008, p.02). Na Educação Básica, a
Microbiologia faz parte do conteúdo de Ciências Naturais em todos os níveis de ensino,
estando presente no estudo de Citologia, Ecologia, Saúde Pública, Ciclos
Biogeoquímicos, Genética e Biotecnologia. Havendo destaque para abordagem do tema
nos eixos temáticos “Vida e Ambiente”, “Ser Humano e Saúde” e “Tecnologia e
Sociedade” (BRASIL, 1998). Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998,
p.19) também preconizam que o professor problematize os conteúdos a ser ensinado
com os alunos, mostrando as verdadeiras interações do conteúdo com o seu cotidiano
(ANTUNES et al, 2013).
Mas diversos conceitos em Microbiologia são abstratos, e por isso são considerados
de difícil aprendizagem em Biologia. Desta maneira, atividades empíricas se utilizando
do método por investigação seria uma alternativa que possibilitaria a desmistificação da
informação de que os microrganismos são apenas agentes patogênicos, e sensibilizaria
os alunos quanto à existência e importância dos microrganismos na natureza e me nossa
vida cotidiana (SANTOS & COSTA, 2012, p.3).
Para reforçar essa ideia, Barbosa & Barbosa (2010, p.140) também afirmam que a
grande dificuldade de se ensinar Microbiologia está no fato de que os “personagens
principais” deste ramo da biologia são seres que, apesar de serem encontrados em toda
parte, não podem ser vistos facilmente.
Outro fator que dificulta o ensino da Microbiologia apontado por Kimura et
al.(2013), é a falta de conexão entre a Microbiologia e o cotidiano do aluno, o que torna
necessário o desenvolvimento de estratégias e tecnologias de ensino-aprendizagem que
auxiliem o professor na tarefa de estimular os estudantes para o conhecimento dos
microrganismos, bem como sua relação com a vida cotidiana que possibilita o despertar
do aluno para a conscientização da aplicabilidade desta Ciência na vida das pessoas.
Como afirma Alcamo & Elson (2004), citado por Antunes et al. (2012) pelo fato
dos microrganismos serem organismos invisíveis a olho nu, o desenvolvimento da
Microbiologia acabou sendo dependente do desenvolvimento do microscópio e da
ciência da microscopia. Contudo, na maioria das escolas públicas há carência de
materiais e equipamentos, como o microscópio, dificultando a realização de aulas
práticas para a visualização dos microrganismos, como rebate Antunes et al. (2012),
ficando o ensino de Microbiologia apenas no conceitual.
Kimura et al. (2013) ainda ressalta que a importância da Educação em
Microbiologia refere-se ao contexto social e das pesquisas na área e pelas inovações
tecnológicas que devem estar acessíveis para todos, pois as pessoas em geral têm receio
dos microrganismos porque geralmente são difundidos somente os impactos negativos a
respeito deles e muito pouco a respeito do papel essencial que desempenham à vida na
Terra.
O desenvolvimento de uma determinada área científica ou tecnológica, como é o
caso da Microbiologia, requer a elaboração de um conjunto de estratégias em educação
e disseminação do conhecimento produzido para aproximar e informar a sociedade
sobre os avanços na área, abrindo espaço para uma análise crítica das contribuições
dessas inovações (OVIGLI & SILVA, 2009, p. 401).
Uma peculiaridade do ensino de Microbiologia refere-se à necessidade de
atividades que permitam a percepção de um universo totalmente novo, o universo dos
organismos infinitamente pequenos. Esta vivência deve ser suficientemente significativa
para promover mudança de hábitos e atitudes por parte daqueles que participam do
processo de aprendizagem e assimilação de conteúdos relacionados à Microbiologia
(BARBOSA & BARBOSA, 2010, p.138). Estes autores também afirmam que as
atividades práticas são fundamentais para a compreensão, interpretação e assimilação
dos conteúdos de Microbiologia, além de permitirem desenvolver no aluno a capacidade
de observar, interpretar, formular hipóteses, fazer predições e julgamentos críticos a
partir da análise de dados. Segundo eles as atividades práticas despertam o interesse
pela descoberta, da qual o aluno se torna agente, sentindo-se motivado e capaz de
explicar os fenômenos com base em sua experiência profissional.
Durante os últimos anos, o incremento de procedimentos laboratoriais na área
microbiológica e biotecnológica elevou os preços de materiais como vidrarias, meios de
cultura, equipamentos e outros. Isso tem dificultado a aquisição de materiais e a
manutenção de laboratórios de microbiologia em instituições de ensino, principalmente
em Faculdades e Centros Universitários fazendo com que o ensino superior em muitos
casos, também seja trabalhado apenas de modo teórico, inviabilizando o aprendizado
prático (BARBOSA & BARBOSA, 2010, p.138). Então, se nas Instituições Superiores
há essa dificuldade na escola básica da rede pública, a realização das aulas práticas de
Microbiologia, como preconizam alguns pesquisadores torna-se quase impossível. Mas
a alternativa adotada por alguns professores e sugerida por algumas pesquisas como
Barbosa & Barbosa (2010), Cassanti et al. (2008), Carvalhal (1997), Silva & Bastos
(2012) é a utilização de materiais alternativos que podem ser facilmente adquiridos por
alunos e professores e que podem substituir os materiais e técnicas clássicas de
laboratório por outras baseadas na utilização destes materiais de fácil obtenção e custo
acessível, como proposto por Barbosa & Barbosa (2010) em seu trabalho. Devemos
observar também que há muito tempo, a microbiologia deixou de ser tema restrito às
salas de aula do ensino superior ou a laboratórios de pesquisa para ser tema relacionado
a questões básicas de cidadania, envolvendo o ambiente, o cotidiano, a higiene, etc.
(PRADO et al., 2004, p.127).

4 METODOLOGIA

O projeto está sendo desenvolvido em uma escola pública da Rede Estadual do


Município de Ponta Porã, no estado do Mato Grosso do Sul, com duas turmas do 2º ano
do Ensino Médio, totalizando 44 alunos. As atividades do projeto estão sendo realizadas
nas aulas de Biologia e o conteúdo trabalhado coincide com o conteúdo previsto pelo
Referencial Curricular da SED-MS proposto para o período. Este projeto terá quatro
momentos distintos, a saber, avaliação dos conhecimentos prévios dos alunos, a
elaboração da sequência didática, bem como, do material instrucional relacionada a ela,
a avaliação deste material e reelaboração final do material.
Primeira etapa: levantamento das concepções espontâneas sobre o tema
microbiologia. Durante esta etapa do projeto realizamos uma pesquisa bibliográfica em
artigos científicos, em que outros pesquisadores já tenham trabalhado sobre a
investigação das concepções prévias que os alunos apresentam sobre os
microrganismos. Após esse levantamento e estudo do material levantado elaboramos
um questionário que foi respondido pelos alunos do 2º Ano do Ensino Médio
participantes da pesquisa. As respostas a três questões estão tabuladas nos Quadros 1 a
3.
Segunda etapa: elaboração da sequencia didática e o material instrucional. Para a
elaboração da sequência didática e do material instrucional adotaremos e adaptaremos a
concepção educacional de Paulo Freire, pois acreditamos que a prática educacional
oriunda desta é a mais adequada. Nesta etapa levaremos em consideração os resultados
da análise na primeira fase bem como resultados já publicados na literatura
Terceira etapa: avaliação da sequencia didática proposta e do material instrucional
vinculada a ela. Os dados coletados por esta pesquisa serão analisados por meio da
“Análise Microgenética” proposta pela Teoria Histórico Cultural do Desenvolvimento
proposta por Lev Semionovich Vygotsky (1896 – 1934).
Quarta etapa: reelaboração do material didático. Após a avaliação do material na
terceira etapa será realizado uma nova versão do material instrucional que será
disponibilizado aos professores por meio da página do programa de pós-graduação em
Ensino de Ciências.

5 RESULTADO E DISCUSSÕES

Estes dados representam os primeiros resultados de um projeto de pesquisa que tem


a finalidade de investigar os limites e as potencialidades de uma sequência didática
sobre a utilização do tema “Produção, Consumo e Conservação de Alimentos” para o
ensino de conceitos sobre microrganismos, como bactérias e fungos. Tendo em vista as
dificuldades apresentadas acima. Centramos nosso trabalho na elaboração de uma
sequencia didática que tem por base o cotidiano dos alunos. Levaremos em
consideração os seguintes temas Qualidade de vida, Interação entre seres vivos e
Diversidade da vida proposto pelo PCEN. Os resultados que serão apresentados a seguir
representam a primeira etapa do projeto de pesquisa, que consistiu no levantamento das
concepções prévias que os alunos têm sobre os microrganismos e a relação destes com
os processos de produção, consumo, conservação e deterioração dos alimentos.
Neste trabalho vamos analisar três questões respondidas pelos alunos na primeira
etapa do projeto, a saber: 1) Para você, quando um alimento está estragado? 2) Como
você sabe que um alimento está estragado? 3) Por que os alimentos estragam? O total de
alunos que responderam o questionário foi 44.

Questão 01: Para você, quando um alimento está estragado?


Essa questão investigou a percepção dos alunos sobre alimentos estragados e uma
possível relação desta percepção com micro-organismos.

Quadro 1 – Quando um alimento está estragado?

Categorias identificadas nas respostas dos alunos Frequência


das
respostas
“quando tem cheiro ruim/ desagradável/ mal cheiro” 25
“prazo de validade vencido” 13
“ tem gosto ruim/estranho /diferente” 11
“tem aspecto estanho / aparência estranha” 09
“cor diferente/ coloração diferente” 08
“tá mofado” 03
“olhando/vendo” 02
“começa a fica mole” 02
“faz passar mal depois que come” 02
“quando perde suas características” 01
“tem bichos dentro” 01
“tá murcho” 01
“ fica muito tempo na geladeira” 01

Os questionários aplicados forneceram importantes informações a respeito dos


conhecimentos prévios dos alunos sobre o aspecto dos alimentos que podem ou não ser
consumidos pelas pessoas. Ao analisar as respostas não procurávamos uma ou outra
categoria específica de respostas, mas estas foram sendo identificadas a partir do que os
alunos respondiam, para depois tabularmos e verificarmos quantas vezes cada uma delas
aparecia nas respostas dos alunos.
Com isso percebemos que em 25 das respostas, os alunos afirmavam que um
alimento está estragado quando “apresenta cheiro ruim/odor desagradável/mal cheiro”,
estando a resposta relacionada ao cheiro do alimento, uma característica sensorial do
mesmo. Outros 13 alunos afirmaram que um alimento está estragado quando o “prazo
de validade está vencido”. Já 11 alunos, responderam que para eles um alimento está
estragado quando este apresenta “gosto ruim/diferente/estranho”. Ainda, 9 alunos
afirmaram que um alimento está estragado quando apresenta “um aspecto
estranho/aparência estranha”. Para 08 alunos, o alimento está estragado quando
apresenta “cor diferente/coloração diferente”.
Apareceram outras inúmeras respostas, pois como era um questionário com
questões abertas um mesmo aluno poderia colocar várias respostas ao mesmo tempo.
Dentre as outras respostas que apareceram para a questão proposta temos 03 alunos que
comentaram que o alimento deveria estar “mofado”, outros 02 alunos identificavam o
alimento estragando apenas “olhando/vendo”, outros 02 acham que é quando o
alimento “começa a fica mole” e outros 02 alunos acreditam que um alimento está
estragado quando “faz passar mal depois que come”. Ainda observaram-se respostas
como “quando perde suas características”, ou quando o alimento “tem bichos dentro”,
ou quando o alimento “tá murcho” ou quando “fica muito tempo na geladeira”, sendo
apenas 01 aluno para cada resposta citada acima.
Então, o que podemos perceber após uma rápida análise das respostas é que a
maioria dos alunos utilizou as características sensoriais para identificar quando um
alimento está estragado. Essa observação é importante, pois são os nossos sentidos
(olfato, paladar, visão, tato) que nos previnem de ingerirmos um alimento impróprio
para o consumo evitando, consequentemente, que passemos mal. Esse tópico será
reforçado na apostila que produziremos, pois a mesma ensina os alunos que um
alimento está estragado quando suas características organolépticas (odor, cor, saber,
textura) estão alteradas. As respostas estão relacionadas com hábitos alimentares.
Somente sabemos que um alimento está estragado por suas características
organolépticas se estamos habituados a consumi-lo. Vamos supor que alguém nunca
provou um queijo gorgonzola ou roquefort. Eles possuem cheiro forte e intenso e com
fungos azulados. Em um primeiro momento podemos classifica-lo como estragado,
quando não estão.
Outro ponto que podemos perceber nas respostas é que muitos alunos associaram os
alimentos estragados a alimentos com prazo de validade vencido, o que é um bom sinal,
pois indica que provavelmente alguns alunos tomam esse cuidado na hora de adquirir
um produto alimentício. Esse assunto também será comentado no material didático a ser
produzido por nós, pois temos que mostrar aos alunos que muitas vezes um alimento
está dentro do seu prazo de validade e mesmo assim pode estar estragado, por ter sido
muitas vezes armazenado de forma inadequada ou ter tido sua embalagem avariada.
Este é um ponto importante para trabalharmos com os alunos, para que os mesmos
possam estar se prevenindo contra a ingestão de alimentos estragados ou alterados ou
que contenham alguma substância tóxica que possa causar algum mal estar ou até uma
intoxicação alimentar.
Como propõem os PCNS (BRASIL, 1998, p.263) em seu Tema Transversal -
Saúde, “a escola precisa permitir que seus alunos reelaborem conhecimentos de maneira
a conformar valores, habilidade e práticas favoráveis à saúde para que estes possam
estruturar e fortalecer comportamentos e hábitos saudáveis, tornando-se sujeitos capazes
de influencia mudanças que tenham repercussão em sua vida pessoal e na qualidade de
vida da coletividade”. Outro ponto que temos que esclarecer aos alunos é que muitos
deles responderam que identificam um alimento estragado pelo gosto (ruim, diferente,
estranho, azedo), o que pode se tornar um perigo a sua saúde, pois muitas vezes o
alimento estragado também pode estar contaminado por algum tipo de microrganismo
ou substância química e que pode provocar alguma doença.
As questões 02 e 03 investigaram o conhecimento (não percepção) dos alimentos
estragados e uma possível relação com micro-organismo.

Questão 02: Como você sabe que um alimento está estragado?


Essa questão tinha por objetivo perceber como os alunos conseguem identificar quando
um alimento está estragado, que critérios eles usam para tal propósito.

Quadro 2 – Questão nº 02 – Como você sabe que um alimento está estragado?

Categorias identificadas nas respostas dos alunos Nº de vezes


encontrada

“quando tem cheiro ruim/ desagradável/ mau cheiro” 27 respostas


“ tem gosto ruim/desagradável/estranho /diferente” 12 respostas
“com bolor/mofado/fungos” 10 respostas
“tem aspecto estanho / aparência estranha” 08 respostas
“prazo de validade vencido” 07 respostas
“cor diferente/ coloração diferente” 07 respostas
“resposta igual a questão número 03” 07 respostas
“apodrecimento” 02 respostas
“não responderam” 02 respostas
“a forma como se encontra” 01 resposta
“a textura muda” 01 resposta
“estragado” 01 resposta
“parte está escura” 01 resposta
“mais murcho” 01 resposta
“ fica mole” 01 resposta
“a imagem muda” 01 resposta

Ao analisarmos essa questão podemos perceber que os alunos não tiveram tanta
segurança em responder a mesma, pois no momento do teste os mesmos afirmavam que
seria a mesma resposta da questão anterior, de número 01. Isto pode ser um indicativo
que os alunos confundem conhecimento com percepção. Assim, muito dos alunos
colocaram a mesma resposta da pergunta de nº 01 enquanto outros exploraram um
pouco mais e outros um pouco menos sua resposta anterior.
Analisando a questão foi possível perceber que houve um aumento no número de
respostas de alunos que utilizam a categoria alteração no “cheiro” do alimento para
classificá-lo como um alimento estragado. Também podemos perceber um aumento nas
respostas de alunos que utilizam o sentido do “gosto ruim” para classificar um alimento
como estragado, o que pode não ser uma boa escolha, pois ele entra em contato com
esse alimento estragado, que além de estragado pode estar contaminado com
microrganismos ou toxinas produzidas por eles e que podem fazê-lo passar mal ou
provocar uma intoxicação alimentar, como comentado anteriormente.
Um critério que os alunos usaram muito em suas respostas para indicar como eles
sabem que um alimento está estragado é o da presença de “mofo/bolor/fungos” nos
alimentos, sendo encontrado em 10 das 44 respostas analisadas. Isso pode ter ocorrido,
pois os alunos já tiveram o conteúdo sobre os Fungos no 7º ano do Ensino Fundamental
e normalmente os professores fazem experimentos sobre a decomposição dos alimentos
e se comenta que esses alimentos não podem ser ingeridos.
Quanto a categoria “aspecto estranho/aparência estranha”, 08 alunos responderam
utilizar esse critério para identificarem um alimento estragado. Apenas 07 alunos
responderam utilizar a categoria “prazo de validade/vencimento” como um critério para
saber se um alimento está estragado ou não, talvez por já terem percebido que nem
sempre podemos confiar na validade dos produtos, pois como comentamos
anteriormente, tem alimentos que já passaram do prazo de validade e ainda mantém suas
características normais, e outros que estão dentro do prazo de validade,podem não
apresentar mais condições adequadas para serem consumidos.Já 07 alunos afirmaram
que sabem que um alimento está estragado quando este apresenta alterações em sua
“coloração diferente/ cor diferente”.
Das 44 respostas analisadas, em 07 delas os alunos colocaram respostas iguais ou
quase iguais a questão de nº 01 e também 02 alunos não responderam a esta questão.
Também pudemos identificar outras respostas que explicam como os alunos fazem para
saber se um alimento está estragado, pois 02 alunos responderam que seria pelo
“apodrecimento” do alimento, ou pela “forma como o alimento se encontra”, ou
quando “a textura muda”, ou quando está “estragado” ou quando o alimento está com
“uma parte escura”, sendo apenas um aluno para cada resposta citada acima.
Analisando as respostas para esta questão, percebemos que os alunos também utilizaram
as alterações nas características sensoriais do alimento para saber se ele está estragado
ou não.

Questão 03: “Por que os alimentos estragam?” e as respostas encontradas foram as


seguintes:

Quadro 3 - Questão 03 – Por que os alimentos estragam?

Categorias identificadas nas respostas dos alunos Frequência


de respostas

“pela data de validade” 15


“ conservação inadequada” 14
“fungos entram nele” 10
“deixa fora da geladeira” 6
“ficam expostos ao ar/ lugar aberto” 5
“fica guardado muito tempo” 4
“do aumento da temperatura” 2
“por causa dos insetos” 2
“muitos dias na geladeira” 1
“ficam velhos” 1
“estão contaminados” 1
“não são perecíveis” 1
“o ambiente ajuda” 1
“por causa das mãos sujas” 1
“não estão mais no seu lugar de origem” 1

Nesta questão, 15 alunos associaram a deterioração do alimento ao vencimento do


prazo de validade de consumo do mesmo, já 14 relacionaram a deterioração ao fato da
conservação inadequada do alimento e 10 dos alunos associaram o processo de
deterioração do alimento a instalação de fungos nos mesmos. Então, percebemos que
uma pequena minoria dos alunos consegue relacionar o processo de deterioração dos
alimentos a presença de microrganismos nos mesmos. E realmente não são somente os
microrganismos os responsáveis por tal fenômeno, porque como afirma Pereda (2005,
p.103) mesmo que os alimentos se encontrassem em ambiente totalmente estéril, sua
vida útil não seria indefinida, pois são intrinsecamente portadores de outros agentes de
alteração, como as enzimas autolíticas e as reações químicas do próprio alimento, não
menos poderosos que os microrganismos.
As reações químicas constituem uma série de fenômenos muito complexos dos
quais participam agentes de origem física, química ou até mecânica. Dentre os agentes
de natureza física, vale destacar a luz solar e as temperaturas excessivamente elevadas
que podem provocar alterações nos alimentos. Já dentre os agentes químicos capazes de
causar alteração nos alimentos podemos citar os ácidos, os álcalis, os metais e o
oxigênio atmosférico. E por agentes mecânicos, as alterações nos alimentos são
resultantes de descuidos dos manipuladores ou de acidentes durante a manipulação dos
alimentos pelos mesmos, como golpes ou amassamentos, explica Pereda ( 2005) em sua
obra.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados obtidos por meio do questionário para o levantamento das
concepções prévias que os alunos têm sobre os microrganismos e a relação destes com
os processos de produção, consumo, conservação e deterioração dos alimentos
demonstrou que a maioria dos alunos tem facilidade em identificar quando um alimento
está estragado. Mas, podemos observar que apesar dos alunos saberem identificar
quando um alimento está estragado, eles não conseguem explicar claramente o porquê
os mesmos estragam.
As informações obtidas por este levantamento foram muito importantes para
nossa pesquisa, pois foi a partir deste diagnóstico que chegamos aos conteúdos que
seriam empregados na elaboração do material didático que será utilizado por nós na 2ª
etapa desse projeto.
Estas informações também foram essenciais para a contextualização inicial das
aulas e para a adoção de uma prática educativa diferenciada pelos educadores, pautada
no diálogo e na problematização da temática apresentada, a “produção, o consumo e a
conservação dos alimentos”, permitindo que os educandos tivessem sua curiosidade
aguçada e que fossem capazes de refletir a respeito do que está sendo dialogado para
que se tornem capazes de transformar a realidade na qual estão inseridos.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Processos – Vol.1. Porto Alegre: Artmed, 2005, p.104.

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graduação. Universidade do Vale do Paraíba. 2004, p.127-129.

SANTOS, A. S.; COSTA, A. S. Prática Investigativa: experimentando o mundo da


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SILVA, M. S.; BASTOS, S. N. D. Formação Continuada de Professores: o ensino da
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http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R0120-2.pdf. Acesso em: 29 set.
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Artmed.10ª Ed. 2012, p.02.

TRABULSI, L. R.; ALTERTHUN, F. Microbiologia. São Paulo: Ed. Atheneu, 2005.

TEACHING ON MICROORGANISMS THROUGH ITS


IMPORTANCE IN PRODUCTION, CONSUMPTION AND
CONSERVATION OF FOOD

Abstract: Microorganisms are present in everything we do in our day-to-day, and not


only when we get sick or evil, as most people believe. This negative perception related
to microorganisms is frequent and persistent among students and the general
population, as found in prior literature, and it is this idea that microorganisms must be
associated only as pathogens that aim to change with this project. For this reason we
proposed the development of a differentiated teaching materials, with practical and
investigative about the theme "Production, Consumption and Food Preservation"
Microorganisms for teaching approaches. The material was prepared by following a
problem-based proposal, raising questions of the daily lives of students, always valuing
prior knowledge of them. Prior knowledge were obtained through questionnaires
answered by the students before the implementation of courseware, which were
tabulated and analyzed according to Dr. Gaskell & Bauer, for subsequent construction
of teaching material. Classes, which will be transcribed and analyzed to verify whether
there was microgeneticamente conceptual evolution through the interaction of students
during the proposed activities were also filmed. After application of didactic material,
transcription and data analysis, courseware will be reworked by the researcher to make
adjustments in its structure so that it can truly become an interdisciplinary material,
and allows students to modify their vision about the and microorganisms that can guide
teachers to a more scientific and contextualized learning.

Key-words: Teaching of Microorganisms, Prior knowledge, Microgenetic analysis,


Conceptual evolution.

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