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Autor
Dr. Flávio Maciel
Andreas Vesalius foi um médico belga, considerado o “pai da anatomia moderna” e autor do
histórico atlas de anatomia De Humani Corporis Fabrica (1543). Fonte: History of Medicine Di-
vision, National Library of Medicine, National Institutes of Health. Dream anatomy: De humani
corporis fabrica. Available from: http://www.nlm.nih.gov/dreamanatomy/da_g_I-B-1-02.html
Robert Hooke foi um cientista inglês do século XVII, considerado uma figura chave da
revolução científica. Fonte: disponível em https://biologo.com.br/bio/robert-hooke/
Nesse tipo de dispositivo, todo o corpo do(a) paciente era posicionado no interi-
or de uma câmara hermeticamente fechada (completamente vedada, sem ocorrên-
cia de vazamentos), mantendo-se apenas sua cabeça para fora. Periodicamente era
gerada uma pressão negativa no interior do dispositivo e sobre a superfície corpórea,
responsável pela expansão da caixa torácica e surgimento de um gradiente de pressão
transpulmonar que favorecia a insuflação pulmonar.
Essa forma de ventilação reproduzia exatamente o que ocorre durante uma insu-
flação pulmonar espontânea, onde se observa o aumento da negatividade da pressão
intrapleural. O pulmão de aço mostrou-se eficiente até o ano de 1952, quando uma
epidemia de poliomielite instalou-se em Copenhague (Dinamarca), acometendo 2722
pessoas. Muitas mortes ocorreram por conta da forma grave da doença e o número
de pulmões de aço disponíveis era insuficiente.
Foi aí que o médico anestesiologista Bjorn Aage Ibsen realizou ventilação manual
com uma bolsa reservatória, através de uma traqueostomia, demonstrando ser pos-
sível ventilar de forma invasiva, utilizando um mecanismo gerador de pressão alveolar
positiva.
Estudantes revezavam-se
em escalas de 8 (oito) horas
de ventilação manual durante
a epidemia de poliomielite
em Copenhague (Dinamarca,
1952). Fonte: Medical History
Museum in Copenhagen.
Expansão do tórax
A B
C D
A B C D
A B C D
A B C D
Condensado
de H2O no
circuito Conexão
do paciente
Temperatura
ambiente:
Umidificador aquecido 22ºC
Por sua vez, o trocador de calor e umidade é posicionado entre a conexão Y e a via
aérea artificial (tubo endotraqueal ou cânula de traqueostomia), retendo a umidade
e calor proveniente do gás expirado pelo paciente e fornecendo-os ao gás inspirado
proveniente do ventilador mecânico. Alguns destes dispositivos possuem função fil-
trante, sendo denominados de HMEF (filtro trocador de calor e umidade, do inglês
heat and moisture exchanger filter).
O vapor de água é
Componente
coletado pelo HME
higroscópico
durante a expiração
Filtro
Fonte de ar
Paciente
Fonte de O2
Aquecedor/umidificador
Em outras palavras, o foguete iniciou sua trajetória, o atleta iniciou a corrida. Pois
é! É exatamente esse o significado do termo disparo em VM. O disparo do ventilador
mecânico corresponde ao início do ciclo ventilatório, trata-se da transição da fase ex-
piratória para inspiratória, o início da inspiração, o momento onde a válvula inspiratória
abre-se para permitir a entrada do fluxo aéreo no ramo inspiratório do circuito do ven-
tilador.
Imagine que você ajustou uma FR = 12 ipm (incursões por minuto). Neste cenário,
o ventilador precisa disponibilizar no mínimo 12 ciclos ventilatórios ao longo de um
minuto (60 segundos). A distribuição desses ciclos precisa ocorrer de forma uniforme,
assim, cada ciclo ventilatório será liberado após cinco segundos (60 segundos / FR).
Desta forma, o ventilador espera cinco segundos por um esforço inspiratório capaz de
disparar o ventilador. Não havendo, após esse intervalo de tempo, um novo ciclo venti-
latório controlado será liberado.
Pressão (cmH2O)
10
Fluxo (L/min)
50
Volume
(ml)
500
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (segundos)
Frequência respiratória ajustada = 12
Portanto, intervalo de tempo entre ciclos respiratórios: 5 segundos
Gráficos de pressão, fluxo e volume em função do tempo exibindo dois ciclos controla-
dos liberados durante o ajuste de uma frequência respiratória (FR) = 12 ipm.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
E-book Características Técnicas e Modos Ventilatórios Básicos | CVFM - Flávio Maciel | 16
E os ciclos assistidos? No que consistem? Ciclos ventilatórios iniciados a partir de
um esforço muscular inspiratório detectado pelo ventilador, que alcança o chamado
limiar de disparo. E como é estabelecido esse limiar? Através do ajuste de um parâme-
tro denominado sensibilidade inspiratória (do inglês trigger).
Tradicionalmente, a sensibilidade pode ser ajustada a partir de um critério de pressão
ou fluxo. O esforço muscular inspiratório produz queda de pressão e geração de fluxo
no interior do ramo inspiratório do circuito do ventilador. Essas variações são captadas
pelos sensores de fluxo ou pressão do ventilador, e quando atingem o limiar de disparo
estabelecido na sensibilidade inspiratória produzem o disparo do ventilador.
50
Limiar de
disparo a
pressão
estabelecido
pelo ajuste
Volume (ml) da sensibilida-
de inspiratória
500
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (segundos)
Frequência respiratória = 24ipm
O tempo entre as respirações é determinado pelo paciente
Gráficos de pressão, fluxo e volume em função do tempo exibindo três ciclos assistidos
disparados pelos esforços inspiratórios do paciente, detectados a partir de
variações de pressão (disparo a pressão). Fonte: arquivo pessoal do autor.
50
Volume (ml)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (segundos)
Frequência respiratória = 24ipm
O tempo entre as respirações é determinado pelo paciente
Gráficos de pressão, fluxo e volume em função do tempo exibindo três ciclos assistidos
disparados pelos esforços inspiratórios do paciente, detectados a partir de
variações de fluxo (disparo a fluxo). Fonte: arquivo pessoal do autor.
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NOTA: O disparo a tempo é característica dos ciclos
controlados, enquanto o disparo a pressão ou a fluxo
caracterizam os ciclos assistidos.
Note que quanto mais sensível for o ventilador mecânico, menor esforço muscu-
lar inspiratório será necessário para iniciar um ciclo ventilatório. A fase de disparo do
ventilador pode ser um momento associado a diversos tipos de assincronias venti-
lador-paciente. Em outras palavras, um ajuste equivocado da sensibilidade inspiratória
pode deixar o paciente mal-adaptado ao ventilador, a famosa “briga entre ventilador
e paciente”. Visando evitar parte dessas assincronias, a sensibilidade inspiratória deve
ser ajustada em um valor que não aumente excessivamente o trabalho muscular
necessário para disparar o ventilador, mas que também não contribua para o auto
disparo do mesmo.
Dessa forma, diversas variáveis relacionadas à fase inspiratória podem ser pro-
gramadas, dependendo do modo ventilatório básico escolhido e estão listadas no
quadro abaixo.
Volume de ar disponi-
Volume corrente VCV
bilizado pelo ventilador
(VC) mecânico.
Fluxo inspiratório
. Velocidade de entrega do
(FI ou Vins) volume corrente VCV
(VC / Tins)
Onde:
VCV = ventilação com volume controlado;
PCV = ventilação com pressão controlada;
PSV = ventilação com pressão de suporte.
Discutiremos mais sobre essas variáveis quando abordarmos os modos ventilatórios
básicos.
Embora fundamental, a PEEP também pode contribuir para eventos adversos quan-
do ajustada de forma inadequada, incluindo alterações hemodinâmicas e injúria pul-
monar.
Volume corrente
Mas como identificar o peso predito? Para fins de cálculo do VC, o peso predito é cal-
culado através de fórmulas que levam em consideração o sexo e a altura do paciente.
Existem diversas fórmulas matemáticas propostas, entretanto, as mais utilizadas são
as equações empregadas pelo grupo de pesquisa internacional denominado ARDSnet
e apresentadas abaixo.
Equações para cálculo do peso predito e posterior ajuste do VC ideal. Fonte: Barbas
CSV et al. Recomendações brasileiras de ventilação mecânica 2013. Parte 1. Rev Bras
Ter Intensiva 2014;26(2):89-121.
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Além do VC, outras variáveis são ajustadas durante o emprego do modo VCV, in-
.
cluindo Vins, sensibilidade inspiratória, PEEP e FiO2.
.
O Vins no modo VCV é ajustado pelo operador, sendo limitado a este valor e deter-
.
minante do Tins. E qual é a relação entre Vins e Tins no modo VCV? Quanto maior o
.
Vins, menor será o tempo necessário para entrega do VC e vice-versa. Não entendeu?
Tranquilo! Vou te ajudar.
Qual o Tins?
.
Vins = VC / Tins
.
Tins = VC / Vins
Tins = 0,5 / 0,83
Tins = 0,6 segundo
.
Ex 2: Um paciente ventilado no modo VCV, com VC = 500 ml (0,5 L) e Vins = 40 L/min
(0,66 L/s).
Qual o Tins?
.
Vins = VC / Tins
.
Tins = VC / Vins
Tins = 0,5 / 0,66
Tins = 0,75 segundo
.
Ex 3: Um paciente ventilado no modo VCV, com VC = 500 ml (0,5 L) e Vins = 30 L/min
(0,5 L/s).
Qual o Tins?
.
Vins= VC / Tins
.
Tins = VC / Vins
Tins = 0,5 / 0,5
Tins = 1,0 segundo
.
Um outro ponto importante relacionado ao Vins é que independente do esforço
muscular inspiratório do paciente, a velocidade de entrega do VC será sempre a mes-
ma. Essa característica pode favorecer em alguns pacientes que apresentem aumento
da demanda ventilatória um fenômeno denominado “fome de fluxo”, ou assincronia
de fluxo insuficiente.
E qual a variável que não é controlada durante o uso do modo VCV? Nesse modo
ventilatório, a pressão inspiratória gerada no interior do sistema respiratório é variável,
não sendo ajustada pelo operador, sofrendo influência das alterações da mecânica
respiratória.
Pressão
Fluxo
Volume
Aumento linear do
Complacência Baixa volume
pulmonar normal complacência
pulmonar
O Tins deve ser programado visando garantir uma adequada expansão pulmonar,
evitando a sobredistensão e a ocorrência de ciclagem precoce (Tins do ventilador <
Tins programado pelo drive respiratório do paciente) ou tardia (Tins do ventilador >
Tins programado pelo drive respiratório do paciente). Mas qual seria o valor ideal? Mais
uma vez, a resposta é a mesma: deve ser individualizado. Apenas como sugestão, em
pacientes adultos com mecânica respiratória normal, um Tins = 0,8 a 1,2 s é capaz de
permitir uma adequada adaptação e ventilação alveolar.
Pressão (cmH2O)
10
Fluxo (L/min)
50 Diminuição progressiva do pico de fluxo inspiratório
Volume (ml)
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Tempo (segundos)
Dependendo do ventilador mecânico, o ajuste do rise time pode ser realizado através
da programação direta do tempo de subida em valor absoluto (tempo em segundo ou
milissegundo), percentual do tempo do ciclo, ou indiretamente através do fluxo de
ataque.
E quais as variáveis que não são controladas durante o uso do modo PCV? VC e
.
Vins. Esses são livres e dependentes da mecânica respiratória e do esforço muscular
inspiratório do paciente.
Pressão
O pico de fluxo permanece
o mesmo, mas o fluxo total
varia dependendo da
complacência pulmonar
Fluxo
Volume
Aumento linear do
volume
Redução da
O volume
complacência
corrente varia
do sistema
Respiratório
Pressão (cmH2O)
30
20
10
0
Esforço Esforço
-10 Inspiratório Inspiratório
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tempo (s)
40
30
Pressão (cmH2O)
PCV
20
10
0
Esforço
-10 Inspiratório
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Tempo (s)
Gráfico pressão x tempo nos modos VCV e PCV exibindo o impacto da “fome de fluxo”
sobre a pressurização do sistema respiratório.
Fonte: arquivo pessoal do autor.
O mais importante é optar pelo modo ventilatório com o qual a equipe está mais fa-
miliarizada e saber quais as variáveis que devem ser monitorizadas durante o emprego
de cada um desses modos.
100%
Fluxo
25%
Tempo
Ti=.60* Ti=.30
100
50% Esens
25% Esens
Tempo (seg)
O rise time, explicado anteriormente quando abordamos o modo PCV, também in-
terfere no Tins durante o emprego do modo PSV. Quanto menor o rise time, menor o
Tins e vice-versa.
0
100%
Airflow (L/min)
VT VT 25%
0
A B
PEEP
Pressão
Tempo
Ciclagem em um %
predefinido
de fluxo inspiratório
Fluxo
Tempo
Vc espontâneo
e livre
Volume
Tempo
Entretanto, estudos científicos prévios têm demonstrado que o modo SIMV con-
tribui para ocorrência de assincronias ventilador-paciente, aumento do tempo de des-
mame e de VM, de forma que as Recomendações Brasileiras de Ventilação Mecânica
(2014) afirmam que não deve ser utilizado. Portanto, se você utiliza o modo SIMV para
ventilar pacientes adultos, independente do quadro clínico, revise seus conceitos.
PEEP
Pressão
Tempo
Fluxo pré-definido com
padrão desacelerado
Fluxo
Tempo
VC pré-definido VC espontâneo
Volume
Tempo
@flaviomacielandrade
@flaviomacielandrade
Conecte-se @flaviomaciel
comigo
@flaviomaciel_
flaviomaciel.com