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Introdução à
Entrevista Diagnóstica
Transtornos em vez de
Enfermidades ou Doenças
Ao conduzir uma entrevista diagnóstica, você gera um diagnóstico. Os
diagnósticos gerados por uma entrevista baseada no DSM-5 são chama-
dos de transtornos, em vez de doenças ou enfermidades. Os três termos
descrevem prejuízos do funcionamento normal, mas o sistema DSM
usa transtornos para reconhecer a complexa interação entre os fatores
biológicos, sociais, culturais e psicológicos envolvidos na perturbação
mental.
Os médicos comumente pensam em termos de doenças, que podem
ser descritas como anormalidades patológicas na estrutura e na função
de órgãos e sistemas corporais. Os pacientes comumente se apresentam
como portadores de uma enfermidade, o que decorre de sua experiência
com anormalidades patológicas ou de se sentirem doentes. Olhando de
longe, as doenças e as enfermidades podem parecer a mesma experiên-
cia vista a partir das diferentes perspectivas do paciente e do médico.
Contudo, considere uma condição como a hipertensão, que é frequente-
mente identificada de modo incidental, sem quaisquer achados clínicos
associados. Para o médico que faz o diagnóstico, a hipertensão é uma
doença crônica do sistema vascular, que aumenta o risco de acidente
vascular cerebral ou de um ataque cardíaco, mas os pacientes muitas
vezes não se reconhecem como doentes ou portadores de uma enfermi-
dade. Por sua vez, uma paciente pode dizer que se sente bastante en-
ferma e que está sofrendo por estar longe de casa, mas os médicos não
reconhecem isso como uma doença. Doenças e enfermidades são, com
frequência, experiências divergentes, e não meras perspectivas diferen-
tes, conforme os antropólogos têm documentado repetidamente (Estroff
e Henderson, 2005).
Um antropólogo também pode dizer a você que essas experiências
são culturalmente construídas: condições diferentes serão reconhecidas
como doenças ou enfermidades em diferentes locais e épocas. Contu-
do, para que o seu sofrimento seja reconhecido como uma doença ou
enfermidade, um indivíduo precisa de algum tipo de diagnóstico, com
frequência um diagnóstico feito por um médico.
Quando uma cultura particular reconhece que uma pessoa sofre de
uma condição que altera sua posição na comunidade, a pessoa entra na-
quilo que o sociólogo Talcott Parsons (1951) reconhecidamente chamou
Conclusão
Os críticos do DSM-5 estão preocupados com o fato de que ele será usa-
do como uma lista de verificação psiquiátrica e não como um meio para
um exame abrangente (McHugh e Slaveny, 2012). Ele certamente pode
ser recebido e usado dessa maneira. Você também pode empregá-lo
como parte de uma entrevista diagnóstica que caracterize a perturbação
descrita pela pessoa e ajude a entendê-la. A despeito de seus críticos,
nada no DSM-5 o impede de conduzir um exame abrangente. É ver-
dade que o DSM continua a se basear nas experiências e nos sintomas
relatados por uma pessoa, mas você pode entender isso como um reco-
nhecimento implícito dos limites do conhecimento disponível sobre as
perturbações mentais. Dessa forma, o uso que faz do DSM-5 reflete a sua
orientação em relação ao bem-estar de seus pacientes, assim como sua
humildade e sua disposição para rever suas opiniões conforme adquire
um insight mais aprofundado. Em suma, você pode usar um diagnós-
tico do DSM-5 como um convite para o entendimento da perturbação
mental de alguém e como o início de uma conversa, em vez de como
sua conclusão.