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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

CAMPUS XVIII – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E


TECNOLOGIA
DOCENTE: DAISE DINIZ

HEGEL E A SOCIEDADE MODERNA

Exercício solicitado na disciplina de


História da Filosofia, do 4º semestre.
Sob a orientação da Prof. Daise Diniz

POR: ANA PAULA ASSUNÇÃO SANTOS


EUNÁPOLIS/2007

3- A substância ética.

Hegel foi o responsável pela distinção na dialética do Espírito Objetivo, tanto na


Enciclopédia das Ciências Filosóficas, como na Filosofia do Direito, entre o domínio da
Moralität (moralidade) e da Sittlichkeit (eticidade). Sittlichkeit conotava o campo da
eticidade social e política e Moralität compreendia o domínio da moralidade interior.
Com efeito, na Enciclopédia, Hegel afirma que, na moralidade a determinidade da
vontade está assim posta no interior, moral aqui tem o sentido de uma determinação da
vontade, na medida em que ela está no interior da vontade. Enquanto que a eticidade é
a plena realização do espírito objetivo, a verdade do espírito subjetivo e do espírito
objetivo mesmos. Portanto, podemos dizer que, para a dialética hegeliana, a eticidade
é a verdade da moralidade, isto é, constitui a sua realização concreta, sem a qual a
segunda permaneceria puramente formal ou ao nível de uma particularidade abstrata.
Longe de se opor estruturalmente a Eticidade - é evidente que, enquanto momentos da
vida do Espírito, elas se opõem dialeticamente - a Moralidade representa para Hegel
um estágio elevado do pensamento da Liberdade. Já a passagem da Moralidade para
a Eticidade significa o início da vida propriamente ética - o campo das virtu - e da
realização efetiva da liberdade na esfera prática. Existindo na substância ética, o
indivíduo se submete livremente ao sistema de seus deveres dando à sua ação, ao
cumpri-los, a qualidade de virtude e participando, assim, do universo ético dos
costumes. Na Filosofia do Direito Hegel indica que a ética, embora pertença ao mundo
dos valores e dos hábitos, pode ser verificada e ser colhida de modo não subjetivo.
Hegel parte da seguinte idéia: a ética não é de todo livre para os indivíduos de uma
sociedade existente histórica. Os indivíduos nascem num tempo e num espaço
definidos e num coletivo, cujos valores se expressam em hábitos comuns, não
pertencentes apenas a esta ou aquela pessoa singular. O ethos grego é traduzido por
Hegel com a palavra Gewohnheit, hábito, que não se exerce na invisível consciência
individual, mas numa sede comum a muitos indivíduos. A ética é o modo pelo qual
muitos indivíduos agem em comum com os mesmos padrões de comportamento,
desde os corporais até os espirituais. Assim, os indivíduos que agem de certo modo,
possuem certa língua comum, usam traços semiológicos comuns para se comunicar
com os seus semelhantes, partilham uma ética, a qual pode, perfeitamente, ser visível
a todos os que compõem o universo pensante e particularmente visível e significativa
para os que possuem as chaves de interpretação dos sinais particulares a um grupo, a
uma sociedade, a um povo. A ética procura descrever os costumes de cada povo ou
grupo, pretende atingir um âmbito mais amplo de valores do que a moral, sem
prender-se aos indivíduos que os empregam.

4 – As metas da História.

A história deve ser entendida como direcionada por Deus, com o propósito de realizar o
Espírito, que por sua vez tem como meta o autoconhecimento e tornar o mundo
consciente. Ao levar uma comunidade a plena conformidade com a razão, onde o
Espírito tem a consciência e realização plena da liberdade ela atinge o seu auge.
Porém essa liberdade não é a realização dos caprichos individuais e sim o segmento
da razão, ou seja, a sua verdadeira essência. A história passa por várias fases, uma
sucessão de comunidades, onde provavelmente culminará em sua consciência plena e
a verdade, levada pelos sujeitos históricos e pela contradição que a sua força motriz,
que leva ao colapso de uma primeira forma e ao surgimento de outro, revelando assim
um movimento dialético. A compreensão deste movimento nos leva à filosofia da
história, que quanto mais minuciosas mais dúvidas suscitam, por este motivo algumas
vezes estas minúcias são afastadas, pois assim ela se torna mais persuasiva.

6 – O dilema moderno.

A liberdade absoluta requer homogeneidade. Porém, caso isso não ocorra, ou seja, a
maioria impor sua vontade sobre a minoria, essa liberdade não será universal. A
sociedade moderna procura buscar a homogeneidade, tentando levar os interesses da
maioria para as minorias, tentando convencê-las que tal ato seria a inclusão, o que os
levam à alienação e ao ressentimento. Mas a resposta radical é converter essa
percepção de alienação em liberdade absoluta, ou seja, criar uma sociedade onde
todos, sem exceção, participem das decisões. Entretanto estas propostas parecem
inviáveis a priori, pois a participação de todos numa decisão só será possível caso haja
uma base de acordo, um propósito comum a todos. O nacionalismo tende a levar a
Estados homogêneos e unitários, mas junto com isso também leva ao risco de extinção
extrema das diversidades, ao nacionalismo exacerbado e irracional. Mesmo após
vários estudos de Hegel e outros filósofos esse dilema ainda perdura e podemos ver
que o seu fim não é algo próximo, pois isso só ocorrerá quando os centros de interesse
dos cidadãos se conectem com o todo, de forma única.
● Período colonial, independência do Brasil e teoria hegeliana.

Segundo Hegel, a liberdade humana é preservada em um movimento dialético de


tensão entre as forças interativas da sociedade civil, no qual o sujeito faz a si mesmo
num processo permanente de construir-se. Seria correto então, afirmar que há um fio
condutor da história, que seria a realização da idéia de liberdade, mas não um fim
determinado. Tal fio condutor apenas nos mostra que há uma razão na história, que os
acontecimentos não se dão ao acaso, mas antes são guiados pelo desejo de
realização da liberdade, que por sua vez é um desejo infinito, de tal sorte que não há
um momento da história que nos traga a liberdade como acabada, no sentido de
plenamente realizada. Porém, ela jamais será plenamente realizada, porque sua
realização hoje implica necessariamente um novo horizonte que se estende e se abre
em novas possibilidades, novas faltas e novos desejos. A história da humanidade,
afirmou Hegel, confunde-se com a história de realização da liberdade, e, portanto, não
tem um final, é antes um eterno produzir-se. O processo dialético no qual a contradição
não mais é o que deve ser evitado a qualquer preço, mas, ao contrário, se transforma
no próprio motor do pensamento, ao mesmo tempo em que é o motor da história. Hegel
põe a contradição no próprio núcleo do pensamento e das coisas simultaneamente. O
pensamento não é mais estático, ele procede por meio de contradições superadas, da
tese à antítese e, daí, a síntese, como num diálogo em que a verdade surge a partir da
discussão e das contradições.
Um dos fatos históricos que podemos discutir segundo a dialética hegeliana é a
independência do Brasil:
1º) Tese: Brasil colônia.
2º) Antítese: Revoltas pela independência.
3º) Síntese: Império.
Em 1530, Portugal decidiu implementar a colonização nas terras americanas. A
decisão foi tomada por três razões: por um lado, o governo português estava
preocupado com o risco de perder as terras para os franceses, caso não promovesse a
ocupação (esses ignoravam os termos do Tratado de Tordesilhas e ameaçavam tomar
as terras que não estivessem efetivamente ocupadas por portugueses ou espanhóis).
Por outro lado, o comércio de especiarias com o Oriente estava cada vez mais
complicado e para completar, sua grande rival, a Espanha obtinha êxito com a
ocupação dos territórios americanos, onde exploravam ouro e prata.
Para tornar viável o processo de colonização e ocupação o governo adotou o sistema
de capitanias hereditárias, que por não ter surtido o efeito esperado (muitos dos
beneficiados nem aqui vieram tomar posse das terras recebidas) foi substituído pelos
governos gerais, que foi quando a Coroa passou a ampliar seu controle, intensificando
a exploração da colônia que posteriormente foi organizada em torno do cultivo da
cana-de-açúcar. No decorrer dos anos a colônia passou por processos de povoamento,
expansão, inúmeras invasões (francesas, inglesa e holandesas) e a decadência do
sistema açucareiro dando lugar à exploração de ouro e diamantes.
O ciclo do ouro aumentou consideravelmente a população, o que aumentou também o
consumo.
A colonização, mesmo tendo caráter explorador, promoveu o crescimento da colônia.
As elites locais, apesar das divergências momentâneas, beneficiavam-se com a própria
dominação que sofriam. No entanto, os mesmos instrumentos responsáveis pelo
crescimento da economia colonial tornaram-se, a partir do século XVIII, insuportáveis à
população colonial.
Os monopólios, a severa fiscalização e a alta tributação coincidiram com uma situação
internacional propícia a independência (a Revolução industrial, que incentivava as
colônias a independência a fim de aumentar o mercado consumidor). O pacto colonial,
que ficou nitidamente caracterizado como beneficiador das metrópoles, representando
agora um obstáculo e levando ao descontentamento dos povos colonizados, que
pretendiam percorrer seus próprios caminhos.
Assim surgiram as primeiras rebeliões que não foram para conseguir a independência
e sim se opor à opressão da metrópole (A revolta de Beckman (1684), A guerra dos
Emboabas (1707-9), a guerra dos Mascates (1710) e outras mais). Com o declínio da
mineração, houve uma ascensão na produção agrícola e a Revolução Industrial
favoreceu o comércio dos produtos coloniais. Entretanto, no final do século XVIII as
restrições econômicas de Portugal ao Brasil, chegaram ao seu ponto máximo, para
insatisfação dos colonos, e ao mesmo tempo as idéias liberais difundiam-se pelo país.
A começar pela Inconfidência Mineira, vários movimentos manifestaram claramente a
intenção de romper com Portugal. Alguns anos depois a Conjuração Baiana (único da
época com características acentuadamente populares) e em 1817 a Insurreição
Pernambucana, a maior rebelião colonial ela independência, dentre outras que foram
duramente reprimidas.
A independência do Brasil não foi um fato isolado, restrito ao 7 de setembro de 1822,
mas um processo histórico cujas origens remontam às tentativas de emancipação
políticas do século XVII, tendo relação com a abertura dos portos e com a elevação do
Brasil à condição de reino unido a Portugal e Algarves. Em 7 de setembro apenas se
formalizou a separação de Portugal, mas a consolidação de independência só viria a
ocorrer em 1831 com a abdicação de D. Pedro I. Houve assim, independência política
sem independência econômica, ou seja, inexistência de significativas mudanças
sociais. Assim o Brasil independente herdou parte da estrutura do Brasil colonial, para
que assim ocorressem outros processos e a histórica não permanecesse estática.

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