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GOIÂNIA
2017
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
ESEFFEGO - UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE GOIÂNIA
CURSO DE LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO FÍSICA
GOIÂNIA
2017
MARCOS VINICIUS MORAIS FERREIRA
__________________________________________
Prof. Dr. Álcio Crisóstomo Magalhães - Orientador
_____________________________________________
Prof. Me. Orley Olavo Filemon - Parecerista 1
_____________________________________________
Prof. Me. Renato Coelho - Parecerista 2
EPÍGRAFE
(Taylor Swift)
Dedico este trabalho ao colega de
curso Pedro Henrique Rodrigues, o Pedrão
(in memorian), com quem tive a oportunidade
de disputar Festivais Esportivos Culturais da
Universidade como companheiro e também
como adversário. Infelizmente teve sua
trajetória interrompida durante este percurso,
com isso, que descanse em paz.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço aos meus pais, Edineis Morais Ciqueira e José Roberto
Ferreira, por todo o apoio que me deram durante esse processo de graduação, sempre me
apoiando, independente da situação. Nesse sentido, deixo aqui o meu agradecimento especial
a eles.
As minhas amigas Jhenifer Martins e Helena Garcia (Leninha), por todo o apoio que
me deram nos momentos mais conturbados, onde sempre me incentivaram a não desistir,
deixando claro que eu poderia contar com elas, e a cada conversa me passaram confiança e
demonstraram acreditar no meu potencial, dessa forma, foram extremamente importantes
nesta trajetória.
Aos meus colegas Eli, Coral, Léo, Marik, Marquinhos, Muniz, Coelho e Luigi,
integrantes do grupo ‘gangue do amendoim’ por todas as risadas proporcionadas nesses
últimos anos, além, é claro, das discussões futebolísticas envolvendo o ‘palmeirão’.
Agradeço aos meus colegas de turma por cada contribuição durante esses quatro anos,
na realização de trabalhos, na realização dos estágios, não esquecendo das críticas
construtivas, seja nos debates realizados em sala de aula, nas discussões após as aulas do
estágio, contribuições que boas ou ruins, de alguma forma contribuíram para a minha
formação.
Ao meu orientador Álcio Crisóstomo Magalhães, com quem não tive a oportunidade
de trabalhar em alguma disciplina, porém, ainda sem nos conhecermos, aceitou me orientar
neste trabalho de conclusão de curso, e apesar de toda a cobrança, todas as correções (que não
foram poucas) surtiram efeito, hoje percebemos isso com essa aprovação com a nota máxima.
Este trabalho tem como objetivo analisar o sentido da Educação Física em uma escola de
resultados. Para isso, foi realizada uma pesquisa de campo, onde durante um trimestre
observou-se as aulas desta disciplina. Realizou-se entrevista estruturada com um dos
professores da disciplina e um dos coordenadores pedagógicos da instituição. A pesquisa foi
realizada à partir do método de materialismo histórico-dialético. Nos resultados obtidos,
encontra-se que a Educação Física assume o papel de iniciação esportiva, ou seja,
treinamento. Concluindo que esta reproduz a lógica da sociedade capitalista.
Palavras-chave: Classe Social, Índices, Escola de Resultados, Empresariado, Educação Física.
ABSTRACT
This paper aims to analyze the meaning of Physical Education in a Results School. For this
was carried out a field research, where during a quarter was observed the classes of this
subject. A structured interview was conducted with one of the teachers of the refereed subject
and one of the pedagogical coordinators of the institution. The research was carried out using
the dialectical and historical materialism method. In the obtained results, it is found that
Physical Education assumes the role of sports initiation, that is: training. Concluding that it
reproduces the capitalist society logic.
Keywords: Social Classes, Indexes, Results School, Entrepreneurship, Physical Education.
LISTA DE SIGLAS
1. INTRODUÇÃO...................................................................................................................10
2. METODOLOGIA E MÉTODO........................................................................................16
3. REFERENCIAL TEÓRICO..............................................................................................20
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................48
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................65
REFERÊNCIAS......................................................................................................................68
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1. INTRODUÇÃO
mudanças ainda pode-se observar que este nunca conseguiu uma maneira de gerar riqueza que
não seja por meio da exploração do trabalho alheio, ou seja, por meio da alienação do
potencial criador humano.
Nesse sentido, mesmo que alguns defendam que a categoria classe não seja mais
suficiente para explicar a organização de nossa sociedade, ainda assim, podemos perceber que
em qualquer princípio de crise financeira o conflito entre capital e trabalho torna-se evidente,
ou seja, a relação entre os patrões (classe dominante) e os trabalhadores (classe dominada)
atinge picos de tensão. O atual momento de crise institucional brasileira, que acaba de
produzir um novo golpe do capital contra o trabalho evidencia isso.
Diferentemente do que entidades representativas do capital como a ABEP buscam
frisar, a categoria classe segue viva dentro da sociedade, porém, não como índice de consumo,
mas por meio do sistema de exploração. Nesse sentido, Marx (1983) afirma que quando se
utiliza a força de trabalho, isso acaba representando o próprio trabalho, segundo o autor de
fato o que ocorre é que o indivíduo que compra a força de trabalho, neste caso, o da classe
dominante, a consome fazendo com que o vendedor (classe dominada) desta força trabalhe.
Sendo assim, ao falarmos de classe social primeiramente é necessário entender as
definições de classe dominante ou classe burguesa e classe dominada ou classe operária. Na
particularidade do sistema de acumulação do capital a classe dominante corresponde aos
sujeitos que detém a posse dos meios de produção. Por seu lado, a classe dominada
corresponde aos que são obrigados a vender sua capacidade produtiva à bem de garantir sua
sobrevivência. Portanto, trata-se de uma categoria inerente ao modo de produção capitalista,
conforme afirma Engels (1984), onde a riqueza centraliza em uma minoria, no caso, a classe
dominante, enquanto as massas (classe dominada) vão sendo empobrecidas.
Nesse sentido o Coletivo de Autores (1992) explica que os interesses da classe
dominante estão relacionados com necessidade de acúmulo de riqueza, aumento de renda,
consumo e patrimônio. Já os interesses da classe dominada relacionam-se com necessidade de
sobrevivência, direito de trabalho, salário, saúde, dentre outros aspectos dignos de existência.
Desse modo deve-se considerar que essas são as duas classes fundamentais que fazem
com que a sociedade capitalista se desenvolva. De acordo com Marx (1981):
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Por isso ao analisarmos a categoria classe, entendemos que ela, mesmo nos dias atuais,
ainda segue presente dentro da sociedade, e como consequência disso podemos citar o estudo
da Oxfam1, que baseou-se em dados do banco Credit Suisse (referente ao mês de outubro de
2015) e foi divulgado nos principais portais de notícias do Brasil e do Mundo, expondo que
uma minoria da população é detentora da mesma riqueza que todo o restante dela, conforme
apresenta a reportagem do G12. “A riqueza acumulada pelo 1% mais abastado da população
mundial agora equivale, pela primeira vez, à riqueza dos 99% restantes.”
Com o estudo realizado pela Oxfam, podemos observar o que vem sendo abordado
pelos autores citados neste trabalho, apontando que a riqueza concentra-se em uma minoria,
enquanto a maioria, no caso, a chamada classe trabalhadora vem sendo empobrecida. Dessa
maneira, neste estudo produzido pela Oxfam é relatado que os 62 indivíduos mais ricos do
mundo possuem o mesmo em riqueza que toda a metade da sociedade.
Para assegurar a presença da categoria classe social em território nacional, nos dias
atuais, Leher (2015, p. 02) comenta que “em virtude da correlação de forças negativa para os
trabalhadores nas duas últimas décadas do século XX, expressa na redução abrupta do número
de greves anuais (que passam de mais de 2,5 mil por ano em 1989 para menos de 500 greves
no final da década)”.
Porém, com essa categorização da categoria classe não queremos somente apresentá-la
a partir deste sistema de exploração, e sim, abordá-la dentro da educação, mais
especificamente, apontá-la no ambiente escolar, pois o que temos hoje no país são escolas
traçadas a partir de resultados, ou ‘Escola de Resultados’ como chamaremos daqui para frente
às escolas que organizam seu trabalho pedagógico a partir da racionalidade da divisão social
do trabalho.
Percebe-se que essa categoria segue viva quando observamos o processo de ocupação
das escolas por grupos privados como o “Todos Pela Educação/TPE” onde identifica-se uma
ação de classe burguesa, que Leher (2015, p. 03), comenta a respeito da hegemonia neoliberal,
1
Confederação Internacional de 18 organizações que trabalham em conjunto com os parceiros e comunidades
locais em mais de 90 países. Website: https://www.oxfam.org/en/about/
2
O texto na íntegra pode ser visualizado em: http://g1.globo.com/economia/noticia/2016/01/1-da-populacao-
global-detem-mesma-riqueza-dos-99-restantes-diz-estudo.html
13
onde a educação básica passa por um “drástico esvaziamento de seu conteúdo cientifico,
histórico-cultural, tecnológico e artístico.” O autor chama isso de um processo em que o
conhecimento é relexicalizado por uma noção de competência, que para ele nada tem de
científico, onde implementa-se o sistema mundial de avaliação padronizada através dos
agentes do capital, como o Todos Pela Educação e a Associação Brasileira do
Agronegócio/ABAG, etc, os organismos internacionais, como o Banco Mundial e a OCDE.
Leher (2015) explica que esse processo na educação básica tem como ponto de partida
iniciativas articuladas, em que a escola limite-se a livros didáticos, apostilas elaboradas por
corporações, de modo que, o ensino torne-se balizado por avaliações de competências, na qual
dão suporte ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica/Ideb. Dessa forma o autor
explica que os setores dominantes pensam a educação como uma forma de converter
conhecimento e formação humana em “capital humano”, que para ele trata-se de uma:
Essas iniciativas articuladas que Leher (2015) chama atenção também são comentadas
por Freitas (2012) que enfatiza que atualmente a educação básica do país passa pela
ação/coordenação de empresários a partir do movimento conhecido como “Todos Pela
Educação”. Esse movimento segundo Martins (2013) surge a partir de grupos empresariais,
com o argumento de que os estudantes brasileiros apresentaram baixos resultados e ficaram
em péssimas colocações nos exames internacionais, o que não visão do empresariado tem
relação direita na determinação de algumas ações, como por exemplo, a competitividade, o
crescimento econômico e a coesão social do país.
Esse é a justificativa que os grupos empresariais utilizam na articulação dessas
iniciativas. Por sua vez, Martins (2013) afirma que isso oculta o conflito que envolve entre as
classes sociais, segundo a autora:
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A forma como o TPE foi estruturado – a partir de um pacto entre iniciativa privada,
terceiro setor e governos – contribui para a ocultação dos conflitos entre classes e
frações de classe, tornando mais complexa a compreensão da realidade, sobretudo
no que se refere aos tênues limites entre o público e o privado – de modo a tornar
também menos nítida a distinção entre os direitos sociais e os direitos individuais.
As propostas desse grupo contribuem para sustentar a possibilidade de aliar as
práticas de mercado à justiça social, integrando e promovendo pactos por supostos
interesses em comum entre as classes sociais (p. 154).
Sendo assim, Martins (2013) ressalta que se tem um processo de descentralização para
o mercado, de modo que, ocorre uma articulação entre o Estado, os setores privados e os
órgãos não governamentais, para compartilharem juntos as responsabilidades de
implementarem políticas, partindo do pressuposto em que a educação pode ser assumida por
qualquer segmento dentro da sociedade, não necessariamente sendo uma responsabilidade
única e exclusiva do Estado.
Com isso, Martins (2013) aponta que os grupos de empresários, partem de sua posição
de poder, que é privilegiada, e assim apresentam posicionamentos e estratégias no sentido de
discutirem, planejarem e tomarem decisões políticas juntamente ao governo. Assim, o que se
percebe de acordo com a autora é que “suas estratégias, essencialmente no que tange o
fomento da filantropia, do voluntariado e da responsabilidade social empresarial, se efetivam
através de uma ação organizada que ultrapassa o âmbito da produção e da lucratividade
imediata (2013, p. 03).”
Neste sentido, justifica-se a relevância deste estudo o momento atual em que a
educação passa, onde esta que por obrigação devia ser um dever do Estado para com a
sociedade, passa a ser realizada por grupos empresariais. Partindo do pressuposto que foi
postulado acima onde a categoria classe social ainda é essencial para compreender a
organização da sociedade, e que a educação insere-se como um dos pilares dos setores
dominantes, sendo transformada cada vez mais em capital humano, o presente estudo
pretende analisar como ocorre esse processo da gestão empresarial na educação, onde as
escolas passam a ser orientadas por índices.
Para, além disso, objetiva-se compreender a lógica de uma Escola de Resultados na
prática, porém, não de qualquer escola, mas sim de uma que comprova seguir esses índices a
risca. E investigar como a Educação Física adentra-se nesse processo, no intuito de entender a
sua real função/papel nesse tipo de escola. Os indicadores para a escolha da escola a ser
pesquisada foram: estar situada em Goiânia, seguir um viés de classe e apresentar bons
índices no Ideb. Neste sentido a escola que se encaixou nesses indicadores foi uma instituição
privada.
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Nosso primeiro contato com a escola aconteceu no mês de junho de 2016, quando por
meio de um ofício da Universidade Estadual de Goiás - Unidade Universitária de
Goiânia/Eseffego, solicitamos a entrada na escola, que concedeu e permitiu que fizéssemos a
pesquisa lá. Sendo assim, no segundo semestre do ano letivo, acompanhamos um trimestre da
escola, durante os meses de agosto, setembro e outubro.
A escola permitiu nossa entrada uma vez por semana, nesse sentido, todas as quartas-
feiras acompanhávamos a aula de Educação Física. A instituição conta com turmas do sexto
ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio. Durante o trimestre
acompanhamos as aulas do sexto ano, que foi a turma que coincidiu com o dia da semana que
nos foi disponibilizado. Como nas aulas de Educação Física os alunos são divididos por
grupos de interesse, e acontecem 4 aulas simultâneas, observamos as aulas de Futsal.
O estudo é organizado em 2 capítulos, sendo apresentando no capítulo 1 (referencial
teórico), este que possui dois eixos centrais, onde apresentamos um recorte histórico
mostrando que a escola desde os seus primórdios segue uma orientação de classe social
presente em uma sociedade capitalista, vale ressaltar que a Educação Física está inserida
nesse processo. Já o segundo eixo deste capítulo apresentamos o atual momento da educação,
que é quando o empresariado passa a coordená-la. E no capítulo 2 (resultados e discussão)
apresentamos a funcionalidade de uma Escola de Resultados na prática, a partir da pesquisa
que realizamos entre os meses de agosto, setembro e outubro, dentro de uma Escola que
apresenta essa orientação, apresentando como funciona a Educação Física na mesma.
Nesse sentido, o estudo pode ser caracterizado em três momentos, A) entender o que é
uma educação orientada por índices e metas. B) Apresentar os dados de uma escola que segue
esse princípio a risca, digamos que “bem feito” seguindo a lógica do empresariado. C) o
motivo pelo qual fomos a campo, que tem como intuito entender como a disciplina da
Educação Física se insere nesse processo, se é que ela está inserida nisso.
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2. METODOLOGIA E MÉTODO
A metodologia de coleta de dados desse estudo foi um estudo de campo, que para Gil
(2008, p. 10) “procura o aprofundamento de uma realidade específica. É basicamente
realizada por meio da observação direta das atividades do grupo estudado e de entrevistas
com informantes para captar as explicações e interpretações do que ocorre naquela realidade.”
A escola escolhida para a realização da pesquisa está situada no município de Goiânia,
mais especificamente na zona norte da região, sendo de caráter privado, contando com turma
do sexto ano do ensino fundamental ao terceiro ano do ensino médio, e como abordado
anteriormente os critérios para a escolha foram: organização do trabalho pedagógico a partir
de uma perspectiva de classe, ou seja, tendo a ideologia do mérito ou da igualdade de
oportunidade como princípio e apresentar bons índices nos parâmetros do Ideb. A questão é
analisar o sentido da Educação Física nesse tipo de proposta pedagógica, nisso que, estamos
chamando de escola de resultados ou orientada por índices.
Essa escola que está situada em um bairro nobre da região e que trata-se de um campo
claramente restrito a uma parte da população, onde apenas indivíduos com uma condição
econômica alta frequentam, como é apontado em reportagem do Jornal O Popular (2014) que
explicita que as instituições de ensino em Goiás que apresentaram os melhores resultados na
classificação do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) são particulares e todas
representam indicador socioeconômico muito alto.
Quanto aos mecanismos utilizados especificamente, os mesmos se deram por meio de
observação simples, que Costa (2012, p. 19) “afirma que consiste na participação real do
pesquisador com a comunidade ou grupo”, onde observou-se as aulas do sexto ano do ensino
fundamental durante o trimestre.
Além da observação, fez-se o uso da entrevista estruturada, que segundo Costa (2012,
p. 04) “o entrevistador segue um roteiro previamente estabelecido. Não é permitido adaptar as
perguntas a determinada situação, inverter a ordem ou elaborar outras perguntas.” Realizou-se
duas entrevistas estruturadas, uma com um dos professores de Educação Física da Instituição
e outra com um dos coordenadores pedagógicos.
Como método o que se apresenta como o correto para o estudo é o Materialismo
Histórico Dialético, pois estamos pensando na escola por meio de um viés de classe na
perspectiva marxista, sendo assim, como a particularidade do nosso objeto de estudo é tratar
de uma instituição que se caracteriza a partir do desenvolvimento do sistema de acumulação
17
capitalista, neste primeiro momento, a base epistemológica não pode ser outra senão o
Materialismo Dialético, para definir este método, Gil (1999) expõe que:
Sendo assim, esse método encontra-se como o mais correto para o nosso estudo, pois
como afirma Gomide (2008):
Para, além disso, esse método é fundamental para a realização desta pesquisa, pois o
objeto está sendo pensado a partir da categoria trabalho, problematizando acerca dessa
realidade e não querendo apenas verificar essa realidade funcionando, mas sim a projetando,
pois não conhecemos a educação física dessa escola, e como a mesma se relaciona com o
projeto político pedagógico da escola e queremos compreender isso, o que exige uma
problematização, uma reflexão, uma crítica e um movimento de práxis.
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3. REFERENCIAL TEÓRICO
As definições de escola de acordo com o dicionário são expostas como “lugar com
autoridades capazes de nos ensinar. Lugar de aprendizado e ensino, capacitante. Lugar de
informatização.” Na segunda edição de seu livro escola, classe e luta de classes, Snyders
(1981, p. 30) traz o conceito de Lénine, que apresenta a definição de escola como um
“instrumento de predomínio de classe nas mãos da burguesia”.
Por sua vez, Snyders (1981) ainda ressalta que a burguesia faz o possível para que as
escolas sejam submetidas aos seus próprios interesses de classe, nesse sentido, implicando
que esta contribua na emancipação do proletariado.
A respeito da instituição escola, Enguita (1989) comenta que ela:
Com isso, percebe-se que a escola é uma instituição em que as crianças realizam então
suas primeiras experiências com terceiros. Antes da década de 1920, Gramsci (1982) explica
que a escola um esquema racional que se dividia fundamentalmente em clássica e
profissional, dessa forma a profissional era destinada às classes instrumentais, ou seja, a
classe trabalhadora, em contrapartida, a clássica destinava-se às classes dominantes e aos
intelectuais.
Essa escola profissional tem sua multiplicação voltada a uma tendência de eternizar
diferenças tradicionais, porém, a partir dessas diferenças, tende-se a criar estratificações
internas, criando uma impressão que esta possua uma tendência democrática, que o autor
chama de ‘democracia política’, cujo objetivo é fazer governantes e governados “assegurando
a cada governado a aprendizagem gratuita das capacidades e da preparação técnica geral
necessárias ao fim de governar” (GRAMSCI, 1982, p. 137).
Porém, esse tipo de impressão criada dentro da escola profissional a respeito de uma
ilusão democrática deixa de existir, nesse sentido Gramsci (1982) aborda o seguinte:
21
Mas o tipo de escola que se desenvolve como escola para o povo não tende mais
nem sequer a conservar a ilusão, já que ela cada vez mais se organiza de modo a
restringir a base da camada governante tecnicamente preparada, num ambiente
social político que restringe ainda mais a “iniciativa privada” no sentido de fornecer
esta capacidade e preparação técnico-política, de modo que, na realidade, retorne-se
às divisões em ordens “juridicamente” fixadas e cristalizadas ao invés de superar as
divisões em grupos: a multiplicação das escolas profissionais, cada vez mais
especializadas desde o inicio da carreira escolar, é uma das mais evidentes
manifestações desta tendência (p. 137).
Em grande medida, por meio de uma ideologia prática, Enguita (1989) baseando-se no
estudo de Sharp (1980), ratifica que a escola consegue assegurar as condições necessárias
para acúmulo contínuo de capital e a reprodução das classes capitalistas, isso ocorre, pois a
forma em que socialmente esta se organiza, desde as salas de aula, as práticas e rotinas, além
do aprendizado e do ensino, tais fatores medeiam esse contexto, que através de conhecimento,
conceitos e teorias formais a escola consegue assegurar isso. A respeito do termo ideologia
prática, o autor explica como “um modo socialmente definido de pensar e agir, uma série de
convenções e suposições que tornam possível a significação” (SHARP, 1980 apud
ENGUITA, 1989, p. 149).
O sentido dessa escola é apresentado por Gramsci (1982), quando o autor comenta que
esta devia seguir uma linha única inicial de cultura geral, humanista, formativa, que
mantivesse um equilíbrio equânime quanto ao desenvolvimento da capacidade de trabalho
manual (técnico, industrial) e desenvolvimento de capacidade de trabalho intelectual. Esse
modelo de escola única correspondia através de repetidas experiências de orientação
profissional, que passará a uma das escolas especializadas ou ao trabalho produtivo. Ainda
sobre esse modelo de escola unitária, Gramsci (1982) destaca um ponto importante quanto a
sua organização prática, no que diz respeito à carreira escolar nos seus mais variados níveis,
de acordo com a idade e com o desenvolvimento intelectual-moral dos alunos e os fins que a
própria escola visa alcançar, segundo ele:
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Enguita (1989) ao falar do ambiente escolar traz o estudo de outros autores, como
Dreeben (1968), este que por sua vez comenta que neste cenário os alunos aprendem a aceitar
princípios de condutas e normas sociais, de modo que ajam de acordo com elas, e Querrien
(1979) que aponta a escola como um aparato a fim de transformar e realizar operações, no
intuito de ocasionar efeitos, ou seja, seguindo a lógica capitalista, onde a operação é
fundamental a aplicação ao trabalho.
Nesse sentido, Enguita (1989) comenta a lógica da organização escolar, e explica que:
chamado ciclo de institucionalização do chamado estado social burguês. Segundo o autor esse
ensino tradicional predominante atualmente surgiu na Europa de meados do século XIX com
amplas redes oficiais, no momento que o poderio da classe burguesa estava se consolidando, a
escola gratuita e obrigatória foi idealizada como um instrumento de consolidação da ordem
democrática segundo a perspectiva burguesa. Nesta época constituíram-se então os chamados
sistemas de ensino, de modo que partiu-se do princípio de que a escola deveria ser um direito
de todos e um dever do Estado.
Nesse sentido, Saviani (2008) explica que a sociedade fundada em senhores e servos
não podia persistir, dessa maneira tem-se a necessidade de que esta seja substituída por uma
sociedade igualitária, ao menos como ideologia (ilusão) é claro. A burguesia então busca
realizar essa reforma, de modo que a sociedade com base no direito natural dê lugar a uma
sociedade contratual. A trama de acordo com Saviani (2008) consiste em:
Assim o direito de todos terem acesso à educação formal nascia como uma premissa
do novo projeto de sociedade. A sociedade de classes nasce criando suas instituições
educativas próprias, sendo a escola uma delas. Surge então a escola tradicional, que Saviani
(2008) aponta que possui sua organização centrada no professor, no qual este é o transmissor
do conhecimento enquanto o aluno deve apenas assimilar aquilo que lhe é ensinado. Dessa
forma a exigência passa a ser contar com um professor razoavelmente bem preparado, e,
dessa maneira a escola era organizada por meio de níveis ou salas. Cada nível ou sala contaria
com um professor que passasse as lições e aplicasse os exercícios, e os alunos ficavam atentos
e realizavam suas atividades de modo disciplinado.
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Porém, Saviani (2008) explica que com este modelo surgiram as críticas, pois ocorreu
que nem todos entraram nesta escola, e boa parte dos que entraram não saíram-se bem, e
aquele grupo que foi bem-sucedido neste modelo escolar ainda assim nem todos conseguiram
se ajustar no modelo de sociedade que se almejava na época. A partir das críticas que
surgiram contra este modelo escolar no final do século XIX, aos poucos foi dando espaço ao
surgimento de outra teoria educacional, que foi mais nítida no século XX, a chamada
Pedagogia Nova. Aqui se tinha uma crença no poder da escola e na função desta realizar
equalização social.
Sendo assim surge um movimento ampliado de reforma, que ficou conhecido
popularmente como ‘escolanovismo’. Saviani (2008) ressalta que passou então a agrupar os
alunos pelos seus interesses, sendo o professor um estimulador, de modo que a iniciativa
principal do aprendizado ocorreria pelo próprio aluno, assim abandonando o ambiente escolar
silencioso e disciplinado por um novo alegre e barulhento, porém, esse modelo não conseguiu
mostrar alternância significativa em relação ao anterior (tradicional) se tratando da
organização do sistema escolar, devido a fatores como o custo mais elevado que a escola
tradicional, de modo que a escola nova foi organizada num formato experimental e de núcleo
raro, tornando-se circunscrito a pequenos grupos elitizados.
Com isso, Saviani (2008) explica que ao tratar as disciplinas de modo frouxo, se
preocupando pouco em transmitir conhecimento, ocorreu que os professores rebaixaram o
nível de ensino das camadas populares, sendo que boa parte destas tem na escola seu único
recurso de conhecimento elaborado. E nesse sentido, aqui aprimorou-se a qualidade de ensino
que tinha como principal destino a elite, de modo que, ao invés de solucionar a problemática
da marginalidade, a Escola Nova fez o oposto, ou seja, o agravou, uma vez que se passou a
pensar o ensino escolar segundo uma dicotomia de classe, ou seja, uma concepção de escola
submetida a esses princípios de classe, que em outras palavras podemos dizer como escola
para quem vai pensar e escola para quem vai executar.
O que se tem é uma modernização do país cujo um de seus pilares é a escola
organizada a partir de uma divisão de classes, do trabalho pensado a partir da divisão social
do trabalho na perspectiva da reprodução do capital, ou seja, pensar e executar em conflito.
Nesse sentido, ambos os modelos de escola, tanto o tradicional como o escolanovismo
mantiveram uma submissão ao princípio de classe, o que diferenciou as duas vertentes foi
apenas o conteúdo.
Com isso no final da metade do século XX, segundo Saviani (2008) começam a surgir
tentativas de desenvolver uma nova teoria educacional, se de um lado almejava criar uma
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espécie de escola nova popular, do outro, buscava-se radicalizar as preocupações acerca dos
métodos pedagógicos presentes no escolanovismo, eis que foi articulada uma nova teoria, ou,
pedagogia tecnicista. Acerca da suposição da neutralidade científica e tendo como inspiração
racionalidade, eficácia e produção, essa nova pedagogia defende que o projeto educacional
seja reordenado seguindo um viés objetivo e operacional.
Dessa forma, Saviani (2008) explica que nesta pedagogia quem será compreendido
como marginalizado é o improdutivo, necessita-se aqui aprender a fazer, ou, em outras
palavras, somente reproduzir. O tecnicismo contribui para aumentar o caos no campo
educacional, com características como a fragmentação, que contribuíram para inviabilizar o
trabalho pedagógico, assim a marginalidade só se agravou. Ainda com esse novo modelo, o
que se tem é que os princípios de classe persistiram. Nesse sentido, Snyders (1981) demonstra
então que o capitalismo exige da escola que ela forme trabalhadores vulneráveis, que tenham
formação restrita de modo a não serem exigentes quando se trata de salários, de modo que
tenham o mínimo possível de instrumentos intelectuais que os ajudem a questionarem o
sistema.
Acerca da escola voltada para a burguesia, Snyders (1981) ressalta que ela é um
mecanismo cuidadosamente montado para organizar o fracasso daqueles socialmente
desfavorecidos, e, dessa forma assegurar, por conseguinte, o conservantismo. Sendo assim,
afirmar que ela é apenas uma cúmplice voluntária não cabe, pois ela surge como um elemento
chave da reprodução. Saviani (2008) aponta a escola como um instrumento de reprodução das
relações de produção, que neste modelo de sociedade, ou seja, capitalista, ela necessariamente
reproduz a dominação e a exploração, possuindo então um caráter segregador e
marginalizador, dessa forma o autor expõe que:
A respeito dessa escola, Paro (1999) afirma que sempre quando fala-se da mesma, a
primeira preocupação, ou a preocupação que se tem são as questões relacionadas ao trabalho,
dessa forma, sempre que perguntado sobre a função desta, as respostas dos alunos, de seus
pais, dos professores e demais educadores, são sempre voltadas para esta questão, como “ter
uma vida melhor”, “passar no vestibular”, “ter sucesso” (é conseguido com o trabalho), o fim
26
é sempre essa relação. Ou seja, o princípio orientador dessa escola, qual seja ela, é o trabalho
submetido à racionalidade do sistema de produção de mais valia.
Nessa perspectiva, Paro (1999) aponta a escola como o local onde se dá (ou deveria
dar-se) a educação sistematizada. A escola segundo o autor participa da divisão social do
trabalho, no intuito de que seja atribuído a estes os elementos culturais necessários para
viverem na sociedade a qual pertencem. Sendo que, isto é colocado pela própria Constituição
Federal, quando esta reconhece como imprescindível um mínimo de educação formal para
que o indivíduo exerça o papel de cidadão, trata-se do ensino fundamental que é posto como
gratuito e obrigatório, ou seja, é postulado um mínimo de conteúdos culturais nos quais todo
cidadão deve apropriar-se para que não seja prejudicado no usufruto de tudo aquilo que possui
como direito ao pertencer à sociedade. Dessa maneira, a respeito do que a escola busca fazer,
Paro (1999) comenta que:
A Educação Física, que é o nosso objeto principal de estudo, não fica para trás nessa
lógica, sendo possível por meio dela mostrar como a escola no Brasil constitui-se sendo
submetida à divisão social do trabalho ou ao princípio de classe. Ou seja, historicamente a
Educação Física possui um viés de classe em sua racionalização, como apresentaremos a
seguir.
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desenvolver aptidão física dos indivíduos. Além deste profissional, o Coletivo de Autores
(2012) aponta que essas aulas também eram ministradas por instrutores físicos do Exército,
por meio de métodos rígidos de disciplina e hierarquia.
Tal fator é importante para compreender essa racionalidade, com isso, segundo o
Coletivo de Autores (2012) tem-se então a construção de uma identidade pedagógica de
Educação Física escolar composto por normas e valores da instituição militar, e, dessa forma,
constrói-se então “um projeto de homem disciplinado, obediente, submisso, profundo
respeitador da hierarquia social” (p. 53).
É nesse período que a Educação Física passa a ser enxergada exclusivamente como
prática, o que contribuía para não diferenciá-la da instrução física militar, com isso, na época,
as aulas de Educação Física eram ministradas por profissionais formados em instituições
militares, sendo que, somente no ano de 1939 foi que se criou uma escola civil para formação
de professores na área (COLETIVO DE AUTORES, 2012).
Ao fim da segunda Guerra Mundial, período em que coincide com o fim da ditadura
militar do Estado Novo no Brasil, é que começam a surgir novas tendências com o objetivo de
ocuparem o interior da instituição escolar, como os métodos “Natural Austríaco” e
“Desportiva Generalizada” que ganham destaque (COLETIVO DE AUTORES, 2012).
No período pós-guerra, segundo o Coletivo de Autores (2012) o esporte ganha ênfase,
com isso o método Desportivo Generalizada acaba predominando, o que ocasiona em uma
influência do esporte dentro do sistema escolar, onde a Educação Física passa a ser
subordinada aos códigos e sentidos da instituição esportiva, de modo que, “caracterizando-se
o esporte na escola como um prolongamento da instituição esportiva: esporte olímpico,
sistema desportivo nacional e internacional” (p. 53). Os autores ressaltam que esses códigos
estão relacionados com princípio de rendimento atlético/desportivo, competição, rendimento,
sucesso no esporte como sinônimo de vitória, recordes, etc.
Dessa forma, de acordo com o Coletivo de Autores (2012) o esporte é quem passa a
determinar os conteúdos das aulas de Educação Físicas no sistema escolar, onde cria-se uma
nova relação entre professor e aluno, saindo da lógica militarista professor-instrutor e aluno-
recruta para professor-treinador e aluno-atleta. Sendo que, os professores aqui são contratados
a partir de seus desempenhos em atividades esportivas.
Nesse sentido, após essa apresentação da escola enquanto instituição que
historicamente segue a linha de racionalidade da sociedade capitalista, e compreendendo que
a Educação Física se insere dentro disso e contribui para isso, no próximo capítulo
abordaremos a escola nos dias atuais.
29
Porém, de acordo com Yanaguita (2010), no mandato de Itamar Franco ocorreu uma
descontinuidade dessas políticas neoliberais que se ascenderam no governo Fernando Collor,
em contrapartida, na gestão Fernando Henrique Cardoso teve-se então um aceleração dessas
políticas, principalmente no primeiro mandato do mesmo.
Os anos que compreenderam a década de 1990, de acordo com Martins (2013), foram
marcados pelo fato de as políticas públicas terem sido reorganizadas em função da redefinição
da agenda pública. Trata-se do período de implementação do estado mínimo no Brasil, a
adesão do país à ideologia neoliberal 3apresentada eufemisticamente pela grande mídia e
pelos donos do poder como o movimento de estabilização econômica e de reformas
estruturais, evidentemente orientadas pelo e para o mercado. É o contexto das privatizações,
neoliberalização comercial (abertura externa) toda uma série de mudanças de natureza social
democrata psdbista, capitaneadas pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso
(FHC) ao longo dois mandatos (1995 a 1998 e 1999 a 2002).
Martins (2013) explica que Fernando Henrique Cardoso é a síntese histórica que
revela a articulação dos grandes grupos econômicos nacionais, os verdadeiros donos do poder
no Brasil. Tanto é verdade que antes mesmo de Fernando Henrique ser eleito entidades
empresariais aderiram à agenda neoliberal. No ano de 1993, criou-se a Ação Empresarial,
Movimento de articulação empresarial, liderado por Jorge Gerdau, do grupo Gerdau, que
contou com o apoio da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com o intuito de exercer
influência sobre os três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) na defesa dos postulados
liberais e a reforma tributária. Não por acaso Fernando Henrique Cardoso chega à presidência
3
Segundo o Dicionário Informal, Neoliberalismo é um termo que foi usado em duas épocas diferentes com dois
significados semelhantes, porém com algumas distinções: A) na primeira metade do sec. XX significava a
doutrina proposta por economistas franceses, alemães e norte-americanos, voltada para a adaptação dos
princípios do liberalismo clássico às exigências de um Estado regulado. B) a partir da década de 1970, passou a
significar a doutrina econômica que defende a absoluta liberdade de mercado e a não intervenção estatal sobre a
economia.
31
Essa aproximação também pode ser interpretada como um complexo jogo de forças
com o objetivo de abrir negociações com o governo de Cardoso em torno da
condução da política econômica e, particularmente, da taxa de juros e da
minirreforma tributária. Outro motivo para essa aproximação, seria o de que o grau
de conflitividade do empresariado com as candidaturas da oposição, principalmente,
com a de Lula da Silva, era menor do que nas eleições anteriores. Tal fato, elevou o
índice de aceitação dessa candidatura. A chave para tal consistiu na percepção que o
empresariado tinha da crescente moderação do discurso dos dirigentes petistas e de
Lula da Silva. Por fim, o baixo grau de conflitividade do empresariado com a
candidatura de Lula da Silva representava dois fatores: 1) a confiança de que sua
eleição não significaria uma ameaça à propriedade privada nacional e estrangeira e
2) a política do candidato da oposição não produziria uma descontinuidade radical
da política econômica (p. 19).
Com esse fortalecimento Lula da Silva foi eleito no Segundo Turno das eleições de
2002. O novo Presidente da República assumiu o cargo em 2003, essa ascensão a presidência
segundo Martins (2013, p. 23) não pode ser vista de forma alheia, para ela “a dinâmica que
esse governo pretendeu implantar nas suas relações internacionais, tal dinâmica tinha o
propósito de colocar o Brasil em outro patamar no mercado mundial.” Devido a sua situação
de crise econômica produzida pela política da social democracia do PSDB, a
socialdemocracia lulopetista teve que passar a adotar novas prioridades em sua agenda: “ao
lado do crescimento econômico, disponibilidade de mão de obra e de geração de emprego,
intensifica-se a formulação de uma nova estratégia de projeção internacional, em que estão
incluídas as reformas no sistema educacional nacional” (MARTINS, 2013, p. 26).
O País torna-se assim, protagonista emergente na economia mundial, e, dessa maneira,
passa a ser um integrante do grupo de países com grandes mercados, os chamados BRICS.
Porém, Martins (2013) ressalta que com essa perspectiva econômica o país abriu-se, ficando
refém do movimento do capital especulativo, o campo livre tornou-se uma espécie de bolsa de
apostas para instituições financeiras e grupos econômicos internacionais, tornando-se assim
dependente do movimento do grande capital que por sua vez constitui-se no vigia da política
econômica nacional, indicando inclusive suas prioridades internas. A Goldman Sachs (grupo
financeiro multinacional) é um exemplo desses novos senhores do controle total. Devido ao
que chama de desempenho inferior do PIB do Brasil em relação aos outros países do BRICS
recomendou-se então que o país realizasse reformas educacionais.
Nesse sentido, compreendendo como procederam as reformas educacionais que
surgiram no Governo FCH, dando continuidade no Governo Lula e que se estendem até os
dias atuais, aqui entraremos de fato em nosso objeto de estudo, abrangendo como essas
reformas educacionais puxadas por esse novo contexto (setor empresarial) em que se tem uma
educação balizada por índices e metas, apresentando como isso funciona de fato, e o impacto
que esse processo social tem sobre o sistema educacional brasileiro.
33
Boa parte das políticas educacionais que foram lançadas durante o Governo FHC, de
acordo com Leher e Evangelista (2012) não efetivaram-se em sua plenitude, muito em função
da crise de popularidade do final do mandato. Curiosamente encontraram menor resistência
durante o Governo Lula da Silva. Tanto é verdade que:
uma escola continue pública, mas que possua sua gestão privada. Acerca disso Freitas (p. 386)
ainda enfatiza que a escola “continua gratuita para os alunos, mas o Estado transfere para a
iniciativa privada um pagamento pela sua gestão. Há um “contrato de gestão” entre a
iniciativa privada e o governo.”
Por sua vez, Leher (2015) explica que esse movimento teve uma vitória importante
que foi incorporar a sua agenda como política governamental, segundo ele:
A forma como o TPE foi estruturado – a partir de um pacto entre iniciativa privada,
terceiro setor e governos – contribui para a ocultação dos conflitos entre classes e
frações de classe, tornando mais complexa a compreensão da realidade, sobretudo
no que se refere aos tênues limites entre o público e o privado – de modo a tornar
também menos nítida a distinção entre os direitos sociais e os direitos individuais.
As propostas desse grupo contribuem para sustentar a possibilidade de aliar as
práticas de mercado à justiça social, integrando e promovendo pactos por supostos
interesses em comum entre as classes sociais (p. 154).
A respeito disso Leher (2015) comenta que o padrão de acumulação nessa ótica dos
setores dominantes, desobriga uma formação com maior grau de complexidade científica e
cultural dos jovens trabalhadores. A lógica consiste em tal maneira que os locais de trabalho
constituem-se de atividade com requerimento simples de escolarização, dessa maneira tem-se
uma educação focalizada em arranjos produtivos locais (como o caso do PRONATEC), sendo
que esta pode ser menos sofisticada (conforme os arranjos educativos locais), o importante é
que seja assegurado o que a pedagogia hegemônica chama de competências básica, vinculadas
ao aprender a aprender.
36
Nesse sentido Martins (2013) chama atenção para o processo de descentralização que
ocorre para o mercado, onde se tem uma articulação entre o Estado, os setores privados e os
órgãos não governamentais, para compartilharem juntas as responsabilidades de programarem
políticas, partindo do pressuposto em que a educação pode ser assumida por qualquer
segmento dentro da sociedade, não necessariamente sendo uma responsabilidade única e
exclusiva do Estado.
A respeito do “Todos Pela Educação”, Leher e Evangelista (2012) apresentam que
houve uma convocatória através do setor bancário, liderado pelo Itaú, articulando-se com o
setor de commodities. Essa convocatória foi expandida pelo Itaú Unibanco Holdings S.A. e
passou a contar com outras entidades e organizações representativas de frações do capital.
Ainda segundo esses autores:
Como exposto pelos autores acima, percebe-se que essa educação de “resultados”
defendida pela Organização “Movimento Todos Pela Educação” tem como princípio a divisão
social do trabalho a partir de um princípio de classe. Com isso, Martins (2013) aponta que os
grupos de empresários, partem de sua posição de poder, que é privilegiada, e assim
apresentam posicionamentos e estratégias no sentido de discutirem, planejarem e tomarem
decisões políticas e influenciarem as políticas públicas nas três esferas de governo. Assim, o
que se percebe de acordo com a autora é que “suas estratégias, essencialmente no que tange o
fomento da filantropia, do voluntariado e da responsabilidade social empresarial, se efetivam
através de uma ação organizada que ultrapassa o âmbito da produção e da lucratividade
imediata” (p. 03).
Um ponto importante que Martins (2013) aponta foi o fato em que os grupos
empresariais, que futuramente formariam o “Todos Pela Educação”, durante a primeira
década dos anos 2000 começaram a estimular organizações, de modo que, em parceria com o
poder público tinham interesse em atuar nas mais distintas áreas da administração pública.
37
Nesse sentido, Leher (2015) enfatiza que expressou-se essa liderança do setor financeiro no
bloco do poder e no estado maior do capital, onde os bancos convocaram uma aliança mais
ampla e orgânica, com o objetivo de interferir na educação, por meio do “Todos Pela
Educação”. Atuando então em forma de partido esse movimento incorporou as iniciativas
burguesas na educação, que até então se encontravam dispersas, e estabeleceu uma agenda em
forma de metas e compromissos que segundo as palavras do autor "organizou um robusto
aparato de circulação de suas ideias nos grandes meios de comunicação, situação facilitada
pela adesão dos mesmos ao TPE” (p. 04).
Parte dos sócio-fundadores do “Todos Pela Educação”, de acordo com Martins (2013,
p. 28) cientes de que para influenciarem a opinião pública da necessidade das reformas
educacionais “[...] tem como uma de suas estratégias incorporarem intelectuais que atuem
junto às instâncias de poder, às universidades, às associações de classe ou aos canais
influentes de comunicação.” Isso é o que se pode chamar de ação de partido, travestida de
apartidária.
Ainda segundo a autora, submetido pelas determinações do mercado internacional e
pressionado pela ideia de sistema educacional falido, criada pela força midiática da elite
empresarial brasileira, o Governo então buscou um processo de reorganização da educação
pública. Partindo da premissa da ideologia do mérito ou da meritocracia passou a pensar e
organizar o Sistema de Ensino Nacional a partir da perspectiva da melhoria dos índices
educacionais e do financiamento do treinamento de mão de obra para o mercado de trabalho.
Freitas (2012) acentua outros dois conceitos fundamentais para o entendimento do
empresariamento da educação brasileira, são eles: responsabilização e meritocracia. Acerca da
primeira o autor (p. 383) ressalta que gira em torno de “expectativas de aprendizagens
medidas em testes padronizados, com ênfase nos processos de gerenciamento da força de
trabalho da escola (controle pelo processo, bônus e punições)” e apresenta o estudo de Kane e
Staiger (2002). Ambos destacam que um sistema de responsabilização envolve três elementos,
no caso, os testes para os estudantes, a divulgação pública do desempenho da escola e
recompensas e sanções. A meritocracia segundo Freitas (2012) se insere a partir das
recompensas e sanções no interior do sistema. A divulgação dos resultados das escolas é uma
exposição pública que envolve recompensas, sanções e responsabilização, para o autor:
38
Com isso o Inep passou a apresentar como uma de suas principais prerrogativas
produzir os indicadores de desempenho e rendimento, e divulgar os resultados das provas
nacionais e fazer a projeção da melhoria do Ideb do País. O próprio Inep indica que “as metas
40
Essas metas intermediárias de cada município e estado são diferentes, de modo que, as
que possuem o Ideb mais baixo, devem esforçar para chegarem mais próximas da meta
nacional, em contrapartida as que possuem o Ideb mais alto, devem buscar superar a meta
para o Brasil, como explicado no site oficial do Inep (2011):
Metas são diferenciadas para cada rede e escola. As metas são diferenciadas para
todos, e são apresentadas bienalmente de 2007 a 2021. Estados, municípios e escolas
deverão melhorar seus índices e contribuir, em conjunto, para que o Brasil chegue à
meta 6,0 em 2022, ano do bicentenário da Independência. Mesmo quem já tem um
bom índice deve continuar a evoluir. No caso das redes e escolas com maior
dificuldade, as metas prevêem um esforço mais concentrado, para que elas
melhorem mais rapidamente, diminuindo assim a desigualdade entre esferas. O
Ministério da Educação prevê apoio específico para reduzir essa desigualdade.
Desde 2005, foram estabelecidas metas bienais nacionais para as escolas, no sentido
de sugerir que atingir esses padrões objetivos corresponderia a aproximar-se
41
α
O Ideb, esse índice nascido por meio da articulação privada do “Movimento
Todos Pela Educação” que tornou-se a expressão do que deve ser entendido como “educação
de resultado”, mascara o problema da educação. Por trás da ideia de objetividade, de
eficiência, de mensuração tem se um grande aparente que necessita ser questionado em sua
essência, qual seja a ideologia do produto nota.
De acordo com o Inep (2011) a forma geral do Ideb é dada por (1):
em que,
i = ano do exame (Saeb e Prova Brasil) e do Censo Escolar;
indicador entre 0 e 10, dos alunos da unidade j, obtida em determinada edição do exame
realizado ao final da etapa de ensino;
Pji = indicador de rendimento baseado na taxa de aprovação da etapa de ensino dos alunos da
unidade j;
Em (1), a média de proficiência padronizada dos estudantes da unidade j, N ji, é
obtida a partir das proficiências médias em Língua Portuguesa e Matemática dos estudantes
submetidos a determinada edição do exame realizado ao final da etapa educacional
considerada (Prova Brasil ou Saeb). A proficiência média é padronizada para estar entre zero
e dez, de modo que 0 ≤ IDEB ≤ 10 . N ji é obtida de acordo com (2).
α α
N ji = n lpji + n matji α S ji − S inf
e n ji = α
*10 (2)
2 Sα − S
sup Inf
em que,
α
n ji = proficiência na disciplina α, obtida pela unidade j, no ano i, padronizada para valores entre
0 e 10;
α
S inf = limite inferior da média de proficiência (Língua Portuguesa ou Matemática) do Saeb
1997;
α
S sup = limite superior da média de proficiência (Língua Portuguesa ou Matemática) do Saeb
1997.
α α
Para as unidades escolares (ou redes) que obtiverem S ji < S inf , a proficiência média é
α α α
fixada em S inf . Por sua vez, aquelas unidades que obtiverem S ji > S sup têm o desempenho
α
fixado em S sup .
Na educação básica, este processo vem ocorrendo por meio de uma miríade de
iniciativas articuladas que pretende erodir os últimos fundamentos públicos da
educação em prol de uma escola em que o que é dado a ensinar está limitado a livros
didáticos e, cada vez mais, a apostilas elaboradas por corporações que, no lugar de
conhecimentos científicos, veicula os referidos descritores de competências a serem
aferidos pelos sistemas centralizados de avaliação que dão suporte ao Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (p. 03).
Com isso, Freitas (2012) crítica esse tipo de programa com incentivos baseados em
testes, para ele, esse tipo de experiência só revela como os gestores da política demonstram
descaso em se tratando da dimensão ética de sua ação. Esse tipo de política pública quando
praticada sem algum tipo de evidência empírica não apresenta erro somente se tratando de
gasto inadequado de dinheiro, para ele isso “caracteriza violação da ética já que não se devem
fazer experimentos sociais com ideias pouco consolidadas pela evidência empírica disponível.
A avaliação mexe com a vida de alunos, professores, pais e gestores” (p. 386).
Os resultados desses exames que balizam a educação segundo Leher e Evangelista
(2012) possuem um caráter cínico que visa convencer a população de que a educação pública
é de má qualidade, por culpa dos professores, e de que o serviço estatal é ruim devido a um
problema de gestão incompetente. Segundo os autores (p. 12) essa é “uma das raízes axiais”
neogerencialismo que vem invadindo o debate público dos anos 1990 em diante, abrindo
caminho para essa inserção do empresariado na educação. Esses “supostamente portadores da
varinha de condão cujo toque conduzirá a educação à “boa qualidade”, afinal, os empresários
sabem buscar resultados!” (p. 12).
Com isso, Paro (1999) critica essa perspectiva educacional que tem como objetivo
somente que os muitos milhões de alunos de nossas escolas apenas se saiam bem nas provas
realizadas para medir aquisição de conteúdos, para ele, é necessário uma perspectiva
educacional que comprometa-se “com uma escola que, acima de tudo, concorra para a
apropriação dos valores de cidadania e o desenvolvimento de comportamentos compatíveis
com a colaboração recíproca entre os homens, para além das leis naturais do mercado” (p.
116). Para o autor as coisas devem tomar um rumo diferente, saindo dessa concepção
conservadora onde o importante é apenas que os alunos aprendam o máximo de conteúdos das
disciplinas tradicionais, tais como Português e Matemática.
Dessa forma, na entrevista ao Portal Aprendiz, a coordenadora de educação do
Instituto Ayrton Senna, Inês Kisil Miskalo (2012) apresenta que o crescimento do Ideb não
necessariamente diz respeito ao aluno ter aprendido mais, para ela muitas vezes isso ocorre
pelo fato dos estudantes estarem sendo menos reprovados, nesse sentido ela comenta que
44
“pode estar ocorrendo uma exclusão dos que estão piores e aprovação dos que estão melhores,
por exemplo. Podemos chegar a uma estagnação do Ideb. O fluxo escolar pode estar
melhorando, mas não com bom desempenho”.
Freitas (2012, p. 392/393) chama esse processo de fraude, para o autor “as variáveis
que afetam a aprendizagem do aluno não estão todas sob controle do professor. Esta pressão e
controle produzem um sentimento de impotência, associada à necessidade de sobreviver, que
tem levado à fraude.” Além disso, respalda-se em Tucker (2010), Georgia (2011) e Leung
(2004), e comenta que por vezes tem-se casos de ajuda do próprio professor durante a
realização dos exames, quando isso não ocorre até mesma na alteração da nota que o aluno
obteve no exame.
A respeito disso Scachetti (2012) apresenta que há relatos de escolas que não
respeitam o processo de avaliação, ou seja, fraudam/manipulam o processo de avaliação. Isso
ocorre segundo ela, pois algumas escolas colocam apenas aqueles estudantes com melhor
desempenho para realizá-la, “coincidentemente” os com baixo desempenho faltam no dia que
a mesma é aplicada. Dessa forma a autora realiza uma crítica a isso, apontando como uma
maneira de querer chegar ao topo, o que é causado devido o principal foco ser as listas, no
caso, o ranking. Além disso, ela afirma que grupos de economistas ligados a essa questão
esmiuçaram dados da Prova Brasil 2009, e constataram que a cada quatro alunos, um faltou à
realização da prova.
Esse fator por vezes pode estar relacionado com as verbas ou bonificações que são
repassadas às escolas de acordo com suas colocações no Ideb. Como o estudo de Borin (2011,
p. 33) onde ela apresenta que “a Coordenadoria percebe que as próprias escolas acabam
querendo superar as demais para receber a verba, e sentem-se prestigiadas quando alcançam
ou superam os índices e recebem a verba.”
Tais fatores puderam ser vistos na prática com a acusação de escolas estaduais de
Goiás, de expulsarem alunos para melhorarem o Ideb, como noticiado em reportagem do
Portal G1. Os alunos que apresentavam mau comportamento e rendimento baixo no Ideb eram
desligados da escola. O objetivo disso era receber mais verba da Seduce. Acerca disso, em
entrevista ao G1, Dantas (2013) representante do Conselho Tutelar disse o seguinte: “estão
procurando o meio mais fácil. O meio mais fácil é chamar o pai do aluno e dizer: 'Está aqui a
transferência do seu filho, Procure outra escola”.
Essas bonificações aparecem como uma forma de “motivação” para que as escolas
atinjam o objetivo, ou seja, melhoraria dos índices. A Seduce, por exemplo, conta com o
chamado “prêmio escola nota 10”. Para que a escola consiga o bônus, um dos critérios é
45
apresentar nota entre 8,5 a 10 no Índice de Desempenho Escolar (IDE). Portanto, contrariando
Borin (2011) que ressalta que somente o aporte de recursos por si só não consegue ocasionar
em uma evolução do Ideb, no caso, a melhoria da educação.
A respeito da verba do Ideb destinada as escolas, Borin (2011, p. 35) comenta que “a
verba é direcionada (transporte, alimentação, material permanente...), existe um formato pré-
determinado na utilização das verbas. O não cumprimento das exigências burocráticas implica
perda de verba para a unidade escolar.” Com isso, Freitas (2012) apresenta reportagem da
Folha de S. Paulo, realizada por Setubal (2012) onde ela comenta esse sistema de bônus cria
competição que causa danos, de modo que afastam os professores bons dos alunos ruins.
Isso implica no que Freitas (2012) elenca como ‘aumento da segregação
socioeconômica no território’ e ‘aumento da segregação socioeconômica dentro da escola’.
No primeiro caso o autor cita que as escolas podem especializar-se em uma clientela
específica de alunos, sendo assim, vão travando a entrada dos alunos de risco (alunos com
baixo desempenho), e dessa maneira vão direcionando esses alunos para outras escolas.
No segundo caso, Freitas (2012) comenta que quando tal seleção não ocorre na
entrada, ela aparece na própria sala de aula, onde as escolas criam turmas com os estudantes
que se destacam, para que este “segurem” a média visando os benefícios, verbas,
bonificações. Sendo assim, ocorre então a segregação daqueles alunos tidos como risco. Com
isso, baseado no estudo de Neal e Schanzenbach (2010), Freitas (2012) explica que tem-se
então pressões para que os professores segreguem os alunos de alto e baixo desempenho e
concentrem-se no centro, ou seja, naqueles que estão próximos de atingirem a média.
Outro ponto apresentado por Freitas (2012) são pressões acarretadas nos alunos para
que este apresentem bons desempenhos. O autor explica que a lógica consiste em políticas de
responsabilização que pressionam os professores, no intuito que estes obtenham desempenhos
crescentes dos alunos, “para tal, associam o desempenho do aluno ao próprio pagamento dos
professores. Premidos pela necessidade de assegurar um salário variável na forma de bônus,
os professores pressionam seus alunos, aumentando a tensão entre estes” (p. 391). Dessa
forma, os alunos são pressionados por meio de simulados e atividades preparatórias para os
testes, ocasionando em um desgaste neles.
Em reportagem do Jornal Informativo Regional de Goianésia e Vale do São Patrício,
Bordoni (2014) provoca dizendo que “os governadores sucateiam a educação em seus
Estados, determinam que se aprove ao máximo e o MEC, feliz com os índices que melhoram
a imagem do país junto aos organismos da ONU, bate palmas.”. Para o autor “é sempre bom
lembrar aos festeiros do índice de que esse crescimento na nota do Ideb também se dá pelo
46
número de alunos que se evadiram. Quanto menos pessoas você avalia, mais a chance de elas
terem um resultado melhor” (BORDONI, 2014, p. 1).
Por sua vez, Paro (1999) respalda-se em Gentili (1995), para ele se tratando de
políticos, empresários, intelectuais e sindicalistas conservadores, todo e qualquer debate
vinculado à educação sempre receberá o argumento problema de “custos”. Nesse sentido, os
autores abordam que nessa altura dos acontecimentos o que está em jogo é educar “para a
cultura do trabalho”, simplificando “educar para a cultura do mercado”, com isso cada vez
mais terminologias como eficiência, produto educativo, rentabilidade, produtividade, custo da
educação, competição efetiva, excelência, cliente-aluno, dentro outros termos estarão
presentes no vocabulário dos que pregam essa nova oratória.
Desse modo, Borin (2011) enfatiza que a respeito do Ideb estar vinculado à qualidade
da educação no país, sendo ele o mecanismo para indicar os reflexos dessa nova forma de
gestão em relação às políticas públicas, temos então uma divisão no campo educacional “de
um lado os que lutam por uma educação efetiva, de qualidade e acesso a todos e de outro
aqueles que utilizam a educação para fins econômicos, através de práticas mercadológicas e
gerencialistas” (p. 38/39).
Com isso, Scachetti (2012) aponta que olhar apenas para o resultado não é o caminho,
pois somente ele não traz toda a dimensão daquilo que representa, e do que fica fora do
cálculo, nesse sentido, ela afirma que a lei que objetiva colocar o Ideb na porta das escolas
está totalmente equivocada, para a autora “a placa daria a impressão de que se está entrando
em uma escola nota 5. Porém, na realidade, a Educação guarda muitas outras implicações” (p.
02).
Contudo, as políticas educacionais defendidas pelos reformadores empresariais, de
acordo com Freitas (2012) não são baseadas em evidências empíricas consistentes. Para
Scachetti (2012) a forma como o Ideb vem sendo divulgado e debatido não contribui de forma
direta para a melhoria da educação, do jeito que está o que se tem é um retrato, mas que não
consegue avançar como poderia. Para a autora, isso não significa dizer que o Ideb enquanto
mecanismo de aferição de índices deve se tornar dispensável, pois o mesmo “é, sim, um
instrumento importante e, como tal, deve sempre ser avaliado e ajustado para que sua análise
permita intervir e melhorar a qualidade do ensino, em vez de apenas gerar classificações” (p.
02).
Freitas (2012), por sua vez, ainda lembra a necessidade de o estado ser o responsável
pela garantia da boa educação para todos, portanto, segundo o autor:
47
Dessa maneira, Freitas (2012) afirma ser fundamental nos contrapormos a essa
hipocrisia que vem sendo pregada. Entende ser necessária uma ação de classe por parte dos
trabalhadores no sentido de defender uma educação pública, gratuita, laica e administrada
pelo estado, pois os empresários agem em sentido de classe na defesa dos interesses
hegemônicos que não por acaso são os seus.
Compreendendo essa reforma educacional que ocorre na década de 1990, e que está
presente nos dias atuais, com o que chamamos de Educação de Resultados, quando
apresentamos o Ideb e toda essa organização de índices e metas, com isso, o próximo capítulo
irá abordar uma escola que segue essa lógica, e que apresentou tais dados caracterizados
acima da média.
48
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dentre os colégios que formam seus alunos ao longo do ensino fundamental II até o
Enem mantendo menos de 30% de evasão nesses sete anos, conforme cruzamentos
de IDEB em relação aos processos seletivos de 2011, 2013 e 2014, estamos entre as
10 melhores escolas do país. É importante ressaltar que esses resultados foram
obtidos apenas com os alunos de nossas duas 3 Séries (aproximadamente 80 alunos),
na faixa dos 17 anos, já que não temos salas de cursinho. Em 2014 ficamos entre as
100 melhores escolas do país em número gerais, posição que mantivemos em 2015.
Ainda sobre os índices desta escola, a mesma figurou entre as 100 melhores do país
nos anos de 2014 e 2015, no ENEM. Contabilizando os resultados deste exame somente entre
as instituições situadas no Estado de Goiás, a escola aparece na terceira colocação nos anos de
2013 e 2015. Porém, os altos índices não ficam somente no Exame Nacional do Ensino
Médio, em outras provas que são realizadas pelo Inep a instituição também obteve resultados
satisfatórios, como no caso das Olimpíadas de Matemática, onde figurou no topo nos últimos
dois anos.
A respeito desses índices elevados atingidos pela Instituição, perguntamos então ao
Coordenador pedagógico da escola a respeito da principal diferença formativa da escola que a
fizeram chegar neste patamar, ele respondeu:
Eu acho que principalmente os bons índices eles são alcançados porque a gente
observa cada aluno aqui dentro como um ser humano, eles não são um número, eles
não são uma mensalidade, eles não são é só preencher uma sala, eles são cada um
com sua particularidade, cada um com as suas necessidades, cada um com as suas
atenções, com as suas qualidades e os seus defeitos, então uma coisa que a gente
prega muito aqui na Instituição é, cada aluno ele tem, todos nós temos um nome, e
aqui cada aluno tem o seu nome, ou seja, o que que isso, é ele ser visto como ele,
como indivíduo, cada particularidade, então o aluno tal ele tem tal e tal e tal
acompanhamento por isso, por isso, por isso, aluno tal ele tem dificuldade em tal
área, aluno tal ele facilidade em tal área, então eu acho que a questão dos índices é
consequência dessa visibilidade que a gente dá pra cada caso, que a gente trabalha
nas dificuldades, o sucesso ele é resultado, ele é consequência, então
necessariamente quando você trabalha em cima das especificidades, ou seja, em
cima das dificuldades, em cima das qualidades, exaltando as qualidades e
trabalhando essas dificuldades o sucesso ele se torna consequência, ele se torna só
um processo, então se você trabalha na base, efetivamente lá na frente você vai
colher um resultado positivo, acho que é muito por aí, tem tal e tal e tal
acompanhamento por isso, por isso, por isso, aluno tal ele tem dificuldade em tal
área, aluno tal ele facilidade em tal área, então eu acho que a questão dos índices é
consequência dessa visibilidade que a gente dá pra cada caso, que a gente trabalha
nas dificuldades, o sucesso ele é resultado, ele é consequência, então
necessariamente quando você trabalha em cima das especificidades, ou seja, em
cima das dificuldades, em cima das qualidades, exaltando as qualidades e
trabalhando essas dificuldades o sucesso ele se torna consequência, ele se torna só
um processo, então se você trabalha na base, efetivamente lá na frente você vai
colher um resultado positivo, acho que é muito por aí.
50
Percebe-se então uma contradição nessa fala, já que a escola possui como slogan em
seu portal na internet o seguinte lema “os resultados comprovam a excelência do ensino”,
acima de imagens de alunos que foram aprovados em Universidades de todas as regiões do
país. Além disso, conta com um link em seu site mostrando apenas os resultados recentes,
onde só aparecem às aprovações em primeiro, segundo e terceiro lugar, aprovações nas
demais colocações não aparecem, ainda que os alunos sejam vistos como seres humanos e não
números e mensalidades.
Com os dados apresentados acima, comprova-se então que a Instituição segue essa
racionalização do resultado, que passa a ser implementado no Brasil a partir da década de
1990, onde a educação torna-se balizada em índices e metas. Com o cenário atual da educação
voltado para esse balizamento. Nesse sentido, buscamos entender qual o princípio da escola,
para isso, perguntamos ao coordenador pedagógico da Instituição a respeito disso, ele
respondeu:
Princípios da escola, aqui é difícil falar sobre princípios da escola porque a gente
trata a instituição como família. É você pensar em quais são os princípios de uma
família, é você ter o respeito em primeiro lugar, é você perceber o outro, é você
respeitar, é você se colocar no lugar do outro, é você ajudar o outro, é você estar
pronto pra ajudar, pra servir, pra uma palavra carinhosa, mas ao mesmo tempo uma
palavra firme, não necessariamente é o fato de você estar sempre próximo, sempre
acompanhando significa que você vá perder a firmeza ou a retidão dos seus
princípios, muito pelo contrário. Quando é preciso a gente fazer, vamos dizer assim,
a "carinhagem", a gente acarinha, quando é preciso a gente ser firme, ser enérgico a
gente sabe também, então acho é que essa medida que são os princípios básicos, eu
acho que é essa questão do respeito, da atenção, do compromisso, do
comprometimento, da seriedade. Então esses são alguns que eu considero como
princípios fundamentais, mas que acaba que são consequência, a gente vendo a
escola como uma família, porque os meninos, muitos deles aqui passam cerca do dia
inteiro aqui, vão em casa pra dormir, né, é o caso da terceira série que tem aula na
parte da manhã, tem aula na parte da tarde, então assim, em muitos casos eles ficam
aqui, eles tem contato com a gente quase que o dia inteiro, então nós nos tornamos
uma família. E de maneira geral a família tem sua parte de respeito, de
companheirismo, de comprometimento, acho que esses são pilares necessários e
fundamentais pro desenvolvimento da escola.
A escola foi vendida para o maior grupo privado de educação básica do Brasil e um
dos maiores do mundo. O grupo conta com diversificadas marcas, e visa preparar alunos para
o ENEM e demais vestibulares do país.
Em reportagem de setembro de 2015, o portal Esquerda Diário apresenta que o grupo
Somos Educação surge “com a realização da fusão, Abril Educação deixa de existir e entra
em cena então um novo grupo, formado pela junção das duas empresas (Abril Educação e
Saraiva Educação)”. Já em reportagem realizada em junho de 2015, o portal Valor
Econômico, comenta que o grupo Somos Educação é uma empresa que move a educação
brasileira através de diferentes frentes, tais como: escolas, editoras, produtos e serviços para
gestão, etc.
Ainda na reportagem, o portal entrevista Eduardo Mufarej, presidente da empresa, que
explica que o momento atual tem foco no aluno, segundo ele “temos o compromisso de
formar gerações de brasileiros cada vez melhores. Acreditamos que mais do que preparar
alunos para a vida, o papel da educação deve ser prepará-los para mudar o país, fazendo do
Brasil uma referência positiva para o mundo.” Até 2015, o grupo Somos Educação tinha
atendido aproximadamente 130 mil escolas, e mais de 30 milhões de alunos em todos os
Estados.
Outro ponto a ser destacado, é que Marcos “Tucano” das Neves, antigo dono da
escola, antes do processo de venda, foi nomeado Superintendente Executivo da Secretaria
Estadual de Educação de Goiás, devido a isso, inclusive afastou-se um pouco da mesma.
Assim que o mesmo assumiu o cargo, de acordo com o Jornal O Popular, iniciaram-se
especulações de que ele seria o responsável pelo processo de terceirização da gestão escolar,
53
ou seja, a transferência da gestão das escolas públicas estaduais para Organizações Sociais
(OS).
Como noticiado pela reportagem do Jornal O Popular, em sua primeira conversa com a
Secretária da Educação Raquel Teixeira, quando perguntado se as OSs teriam condição de
melhorar a qualidade pública do ensino de Goiás, o superintendente executivo da educação
respondeu que do jeito que a administração pública é, não tem jeito. Segundo ele “acho em
longo prazo. E se não melhorar, pode-se trocar a OS. Hoje, do jeito que a administração
pública é, não tem jeito. É preciso melhorar com o que você já tem. Jeito tem jeito e a
administração antiga mostrou isso, mas é um processo lento e existem vários entraves.”
Esses dois fatores apresentam uma relação com a mercadorização da educação, no
sentido em que uma escola nos padrões atuais da educação que foram expostos nesse trabalho,
apresenta o necessário para ser considerada uma das melhores do Estado (ainda que não
concordemos com esse sistema de aferição de índices), sendo assim essa escola é vendida
para um grupo considerado o maior em relação à educação básica no cenário nacional, e um
dos maiores do mundo, e o dono dessa escola (antes do processo de venda) é nomeado como
o segundo nome da Hierarquia da Secretaria Estadual de Educação de Goiás, no momento em
que esta passa a abrir concorrências para a contratação de Organizações Sociais para a gestão
das escolas.
Nesse sentido, trabalhamos também com a hipótese de que seja somente acaso, mas
não podemos excluir o fato que o processo de Organizações Sociais na gestão de escolas
certamente seria articulado por alguém que entende desse princípio de lucro, tendo então uma
escola vendida recentemente para uma grande empresa, não podemos descartar essa
possibilidade.
A respeito da gestão da escola através do empresariado, tal qual Organizações Sociais,
Freitas (2012) chama de desresponsabilização do estado em garantir ensino de qualidade para
todos. Nessa lógica que é imposta, a tese dos reformadores empresariais tira essa
responsabilidade do Estado quando lhes convém, com isso o autor (p. 387) ainda ressalta que
isso ocorre quando está em jogo, primeiramente “o faturamento das corporações educacionais
e, por outro, o controle ideológico do sistema educacional pelas corporações empresariais
para colocá-lo a serviço dos interesses de mercado, estreitando finalidade educativas.”
Carbonari (2015) do Portal Exame apresenta por meio de reportagem que as escolas
privadas tornaram-se a nova fonte de renda, ela explica que investir em ensino superior ficou
mais complicado, isso devido ao governo ter feito cortes no Fies, como a autora apresenta, no
54
primeiro semestre após os cortes, cerca de 175 000 pessoas deixaram de entrar em
Universidade por conta dessa falta de financiamento.
Nesse sentido, Carbonari (2015) explica que hoje quem visa investir em educação,
acaba olhando para a educação básica, pois esta “depende menos dos humores do governo”
como a autora cita. A autora ainda apresenta que segundo investidores, o ensino básico se
sobressai em relação às faculdades, pois seu público é oito vezes maior, além de suas
mensalidades serem em média mais caras.
Para Oliveira (2009) a mercadorização da educação não fica somente em vendas de
escolas privadas para outros segmentos, privatizações na rede pública, como a gestão do
empresariado nesse campo, que foi apresentado neste trabalho. A autora expressa que:
Percebe-se então que a educação como mercadoria está cada vez mais presente,
aparecendo de formas antagônicas. Por sua vez, Paro (1999) faz uma crítica ao sistema
capitalista, que segundo ele só consegue se instalar por completo dentro de uma sociedade
quando se elimina ou reduz a insignificância de toda e qualquer forma alternativa de se ganhar
a vida pelo trabalho não subordinado ao capital.
Paro (1999) ainda critica o significado que as escolas têm tomado, sendo sempre a
preparação para o trabalho, para o mercado, para ele, isso precisa ser combatido de forma
veemente, para ele a solução é arrebatar as escolas (seus fins e propósitos) das mãos do capital
ou pelo menos fazer o máximo possível acerca disso.
Por sua vez, Paro (1999) ainda comenta que o grande erro da escola básica tem sido
servir o capital, de modo que a principal função gira em torno de subsidiar a forma pela qual
deve-se levar os alunos para um trabalho no futuro, sendo assim o autor afirma:
55
A situação seria diversa, é lógico, se ela o fizesse de uma forma crítica, de tal sorte
que os educandos fossem instrumentalizados intelectualmente para a superação da
atual organização social que favorece o trabalho alienado. Assim, a escola tem
contribuído muito mais para o mercado de trabalho, não quando tenta diretamente
formar profissionais para exercer suas funções no sistema produtivo, mas quando
deixa de lado suas outras funções sociais relacionadas à dotação de um saber crítico
a respeito da sociedade do trabalho alienado, pois não preparar para a crítica do
trabalho alienado é uma forma de preparar para ele. Neste sentido, a escola
capitalista, porque sempre preparou para viver na sociedade do capital sem contestá-
la, sempre preparou para o trabalho. Muitos antes de transformar tudo em custo e
benefício, como fazem hoje os apologistas do neoliberalismo, a escola já cumpria
esse papel (p. 112/113).
56
No ensino fundamental os meninos que escolhem o que vão fazer, então no início do
semestre eles definem qual modalidade vão praticar e ficam nela até o fim do
bimestre, tem que fazer no mínimo o bimestre, e só então pode mudar. Sempre no
início do ano tem uma parte mais teórica para os alunos que é quando a gente passa
as regras mesmo do esporte, essas coisas. No ensino médio é mais complicado,
porque os alunos ficam tudo junto, enquanto no ensino fundamental cada grupo fica
com uma modalidade, então fica dividido. Agora pensa, 180 alunos juntos? Porque a
aula é pra todo o ensino médio de uma vez, primeiros, segundos e terceiros anos.
Como que organiza isso? Então a gente faz mais alongamento, aquecimento, alguns
jogos e brincadeiras. Na verdade esse número é menor, porque no ensino médio os
alunos que estão matriculados em algum esporte, por exemplo, se o aluno é da
escolinha de futebol do Goiás, ele apresenta a documentação e é liberado de fazer
aula.
Em relação a essa desobrigação, tal fato não deveria ocorrer, pois como consta na
resolução nº 05, de julho de 2011, como previsto no artigo 29, no qual é esclarecido que a
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Educação Física é componente curricular obrigatório, tendo sua prática facultativa somente
em casos previstos na Lei de Diretrizes e Bases Nacionais (LDB). E, segundo a LDB, os casos
em que esta prática torna-se facultativa estão previstas no artigo 26, são eles: aluno que
cumpre jornada de trabalho igual ou superior a 6 horas; maior de trinta anos de idade; estar
prestando serviço militar; que tenha prole.
Outro ponto a ser destacado é a questão da carga horária da Educação Física, já que
cada escola é responsável por organizar seu projeto político pedagógico e definir a carga
horária de cada matéria. Ou seja, nessa modelo voltado para os resultados a tendência é que
cada vez mais a Educação Física perderá espaço, visto que outras disciplinas possuem um
caráter “mais importante”, pois são as que caem no vestibular. O que pode ser entendido na
reforma do ensino médio, que está em processo de votação no senado, onde a disciplina terá
caráter obrigatório somente na Base Nacional Curricular Comum (BNCC), que compreende
60% do novo ensino médio, ou seja, a disciplina não necessariamente será ofertada
obrigatoriamente nos três anos de ensino.
Freitas (2012) crítica as políticas de responsabilização, que para ele chegam ao Brasil
mais por imitação que por evidência empírica positiva, nesse sentido o autor abrange que a
situação merece atenção para que o país não embarque nessa onda que segundo ele ocasionará
em uma nova década perdida para a educação. Para ele:
de setembro contavam apenas com meninos, somente no fim do trimestre, duas meninas
passaram a frequentar as aulas da disciplina. Em contrapartida, nas aulas de vôlei
predominou-se o gênero feminino. Essa divisão por interesse contribui para uma divisão de
gênero.
Dessa forma, percebe-se que ocorre nas aulas de Educação Física um retrocesso à
década de 1970, onde por meio da pedagogia tecnicista, com princípios de racionalidade,
eficiência e produtividade, tinha-se divisões por gênero, sendo inclusive respaldada por lei, no
caso, o decreto n. 69.450/71, como destaca o Coletivo de Autores (2012). Ainda que a
discussão de gênero seja extremamente pertinente no campo da Educação Física, aqui só a
apresentaremos como um problema que encontramos durante a ida ao campo, porém, não
abriremos uma discussão além desta pela especificidade do estudo ser outra.
O segundo ponto é o caso de uma professora de outra disciplina ser a responsável
pelas aulas de Xadrez, que está integrada como conteúdo da Educação Física na escola, sendo
uma das modalidades optativas que os alunos podem realizar. Sendo assim, trata-se de um
conteúdo inserido em jogos e brincadeiras, subárea da Educação Física, mas que por ser
ministrado por uma professora que não possui formação na área, isso acaba revelando uma
desvalorização dos profissionais da mesma, que já sofrem com a perda de espaço na educação
básica onde são substituídos por pedagogas, pois na LDB não consta de forma clara qual o
profissional deve trabalhar na educação infantil, como aborda Silva et al (2008, p. 22)“a
referida lei não coloca em questão qual profissional deverá ser responsável sobre tal atuação.”
O artigo 62 da LDB prevê:
Além disso, o profissional de Educação Física ainda pode perder espaço com o novo
ensino médio, previsto na medida provisória 746, aprovado pela Câmara dos Deputados e que
passará por votação no Senado, onde a disciplina como abordado anteriormente só
representará 60% do ensino médio, não sendo ofertada obrigatoriamente nos três anos de
ensino, além de o notório saber (este que também afeta as outras disciplinas e não somente a
Educação Física) que inicialmente só estava previsto para o ensino técnico e profissional, e
agora poderá ocorrer no ensino médio, caso professores graduados que não possuem
licenciatura façam um curso de complementação pedagógica, e a formação em licenciatura
59
que poderá ser dada em instituições isoladas, e não somente em universidades e institutos
superiores como previsto na lei atual.
As aulas de futsal são baseadas no método parcial, método comum em
iniciações/escolinhas esportivas, onde crianças e jovens realizam o treinamento esportivo
visando atingir o nível profissional ou alto rendimento. A respeito desse método, que também
é conhecido como analítico, Tolves, Delevati e Sawitzki (2014, p. 81) afirmam que “o método
parcial se resume a uma repetição de fundamentos da modalidade esportiva por meio de
exercícios para o desenvolvimento e aperfeiçoamento da técnica.” Nesse sentido pode-se
dizer que a Instituição reproduz aquilo que Assis (2005) apresenta como esporte na escola ou
a reprodução do esporte espetáculo no interior da escola. A Instituição de ensino ensina o
esporte de maneira à somente reproduzir aquilo que passa na televisão, ou esporte midiático,
segundo o autor:
Portanto, nega uma das premissas da Educação Física Escolar que conforme o
Coletivo de Autores (1992) não deve preconizar a aptidão física. Essa vertente assumida pela
Instituição pesquisada condicionado o aprendizado do aluno à iniciação dos elementos
motores básicos da modalidade futsal. O compromisso é fazê-lo atingir o máximo possível de
rendimento da sua capacidade física. Os esportes selecionados são os mais conhecidos, que,
no caso, desfrutam de prestígio social, e o conteúdo destes é sistematizado em forma de
técnicas e táticas, através dos fundamentos específicos de cada, como exemplo, o passe.
Essa opção da Instituição remonta ao papel do esporte escolar dos anos 1960, 1970 e
1980, o que Bracht (1986) identifica como instrumentalização do fenômeno esportivo: ensinar
a criança a conviver com a vitória e a derrota, respeitar regras, vencer por meio do esforço
pessoal, cooperação/companheirismo, ensina a competir e a ter disciplina (respeito pelo
árbitro); diante disso, o autor afirma que realmente o esporte educa, mas de modo que leve o
indivíduo a incorporar valores e normas que irão possibilitar que ele adapte-se ao projeto
social dominante, no caso de uma sociedade de classes.
Por sua vez, Assis (2005) apresenta duas vertentes pré-estabelecidas do esporte que
ocorre dentro da instituição escolar, no caso, o esporte da escola e o esporte na escola, sendo
60
que o segundo é quem tem prevalecido na nossa Instituição em questão. Com isso, o autor
comenta que duas dimensões de críticas são dirigidas ao esporte, críticas que para ele não se
excluem e se articulem, segundo o autor:
A primeira dimensão diz respeito a essa relação de exclusividade (sem espaço para
outros temas), primazia (prioridade quando ao tempo e à organização do espaço) ou
hierarquia (outros temas tratados na em função dele) na organização das aulas de
educação física. A segunda dimensão da crítica diz respeito à função do esporte na
escola, sustentando-se, por um lado, na ideia de que o esporte que acontece na escola
está a serviço da instituição esportiva, na revelação de atletas, constituindo-se na
base da pirâmide esportiva e, por outro lado, na dimensão axiológica, nos valores
que ele transmite, perpassa e constrói. A escola, por meio da educação física, estaria
assumindo os códigos, sentidos e valores que da instituição esportiva (p. 16).
Com isso buscamos compreender dois eixos a respeito do planejamento desta escola,
primeiro compreender como esse planejamento é realizado, e, em seguida, entender como a
Educação Física se insere nisso, ou se é uma disciplina que não dialoga com as outras. Para
isso perguntamos ao Coordenador pedagógico as duas coisas, e ao professor de Educação
Física como é realizado o planejamento da disciplina. De acordo com o Coordenador
pedagógico:
É de caráter fundamental que a escola não veja os alunos apenas como seres que
devem apreender o máximo de conteúdos das disciplinas tradicionais, como português,
matemática, geografia, história, etc, que são as disciplinas que o preparam para ocupar
mercado, como apresenta Paro (1999, p. 116) o problema não está somente nisso, mas sim
quando enxergamos que a perspectiva educacional do país sonha que os milhões de alunos
que temos matriculados em nossas escolas saiam-se bem em testes que tem como intuito
medir aquisição de conteúdos, quando deviam estar comprometidos com uma escola que visa
apropriar “valores de cidadania e desenvolvimento de comportamentos compatíveis com a
colaboração recíproca entre homens, para além das leis naturais do mercado.”
Percebe-se então que a Educação Física assume o papel de esporte, onde este
determina o seu conteúdo, semelhante ao que ocorria no período da Educação Física
Desportiva Generalizada (como exposto no tópico a “Educação Física escolar serve a moral
de classe burguesa”). Em outras palavras a instituição passa a oferecer um treinamento
esportivo de uma determinada modalidade específica, com um número de aulas que vai sendo
reduzido na medida em que os alunos avançam de série, além do fato de não manter um
diálogo com as outras disciplinas, em outras palavras, fica uma matéria solta, que pode ser
percebida na fala do professor, quando questionado o que seria a concepção de Educação
Física dentro da Instituição, segundo ele:
A Educação Física aqui é isso que você tá vendo, é esporte, agora com a Recreação
que deu uma diversificada, mas que também não muda muito. É um monte de
menino riquinho, filhinho de papai, pode ver tudo de chuteirinha Nike, e ninguém
quer nada com nada, só quer jogo. Vai passar uma atividade reclama. Se fica uma
aula sem dar o jogo no final eles reclamam. A gente busca dar uma variada usando
outras abordagens da Educação Física pra dar aula, mas não passa disso não. A
Educação Física ainda tá aqui porque tá na lei mesmo.
É nesse sentido que o Confef (2002) aborda o fato de a disciplina perder espaço cada
vez mais, que segundo eles:
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Dessa forma, Assis (2005) enfatiza o percurso que a Educação Física tem, sempre
recebendo uma influência pré-estabelecida, vinculando-se a construção/formação de
diversificados modelos de corpo, inicialmente a instituição medida (corpo higiênico), em
seguida a instituição militar (corpo produtivo, disciplinado) e por último a instituição
esportiva (corpo produtivo, competitivo, mercadológico).
Nesse sentido, Assis (2005) propões reinventar o esporte, abandonando o conceito de
esporte na escola e tomando como ponto de partida o esporte da escola, pensando este em
uma visão crítica, pensando-o a partir de um projeto político pedagógico visando a construção
de uma sociedade baseada em outros códigos, valores e sentidos, diferentes do que o esporte
espetáculo/midiático possui reproduzindo os valores da sociedade capitalista.
65
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
obteve nota 5 no Ideb, e de forma mágica, todas os problemas daquela escola foram
resolvidos com isso.
A Educação Física nesse sistema de educação, cada vez mais caminha para a
precarização. No ensino básico perde espaço para pedagogas, no ensino médio corre o risco
de perder a obrigatoriedade (de forma oficial), pois o que se tem hoje são números reduzidos
de aulas, e em casos específicos como a escola onde ocorreu a pesquisa, em que basta os
alunos realizarem práticas em algum clube, iniciação esportiva, academia, que a Educação
Física nem precisa mais ser trabalhada.
Tem-se então uma Educação Física como iniciação esportiva para que os alunos
realizem treinamento da modalidade em que se identificam como destacamos no corpo do
trabalho, o aluno só necessita aprender um, todos os outros elementos que constituem a
cultura corporal são amassados e jogados no lixo, porém, isso não pode ser altamente
criticado, pois neste modelo educacional o que importa é que o aluno saiba os conteúdos
tradicionais de outras disciplinas, principalmente Português e Matemática, pois estes são os
que compõem os exames, que no caso servirão para a aferição de dados, e consequentemente
apresentar os índices.
O parágrafo anterior demonstra a desvalorização da disciplina dentro da Instituição, o
que pode ser reconhecido através mesmo das falas entre professor da disciplina e coordenador
pedagógico da escola. Observa-se que a Educação Física dentro da instituição serve única e
exclusivamente a instituição esportiva, do esporte enquanto espetáculo, reproduzindo os
valores dominantes da sociedade capitalista. Porém, percebe-se que a Educação Física não
dialoga em nada com as outras disciplinas ao analisarmos as falas entre professor e
coordenador da instituição, em contrapartida o não acesso ao projeto pedagógico da
Instituição implica em resultados ainda mais pertinentes e empíricos.
Ainda percebe-se que se você possui uma escola que apresenta bons índices você
consegue lucrar com ela, principalmente porque a educação é tida como mercadoria, nesse
sentido, ainda é possível ocupar um bom cargo em um dos principais segmentos do Estado e
participar de discussões que envolvem todo o campo da educação deste, tais como passar a
gestão das escolas para Organizações Sociais. Em suma, entende-se a educação como
mercadoria, em outras palavras como uma oligarquia de conhecimento, onde aqueles que
detém esse conhecimento cobram pelo mesmo, enquanto isso o estado mínimo defende o
falso discurso da meritocracia, em que todos têm as mesmas oportunidades, quando na
verdade a realidade não condiz com isso.
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Para, além disso, a temática abordada ainda é recente no país, como abordado no
corpo do trabalho, é uma questão que ganhou força em outros países, principalmente nos
Estados Unidos, mas que cada vez mais aparece e vai ganhando força no Brasil, nesse sentido,
são necessárias novas análises e reflexões, principalmente com o processo de reforma do
ensino médio que aproxima de ser aprovado, onde disciplinas como Português e Matemática
ganham espaço cada vez mais, sendo as únicas obrigatórias nos três anos de ensino médio, e
que nessa lógica do resultado tornam-se padrões para determinar se o nível dos alunos e
escolas.
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70
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