Você está na página 1de 8

O sistema partidário português

1. Um sistema hierarquizado e não democrático

Tentam convencer a plebe que são os partidos que sintetizam as


diversas ideias políticas e que mediatizam toda a acção política,
admitindo, contudo, que existam “independentes”, próximos de uns
ou de outros, que se utilizam quando se pretende ostentar pontes
com a sociedade.

A sociedade, por seu turno é, pelos partidos, reconhecida como uma


massa de ignorantes, tendencialmente expectante, que mais não tem
que a sensibilidade animal de sentir na carne os efeitos da acção
política. E à qual é concedida, benevolamente, de quatro em quatro
anos o direito de manifestar através do voto, o produto do
cruzamento da sua consciência difusa do que se passou no passado
recente, com a propaganda e o enviezamento habitual dos media;
sem contar com essas preciosidades, os entediantes tempos oficiais
de antena.

Há, de facto, uma separação entre os partidos e a multidão, real e


reproduzida constantemente pela acção política tradicional e pela
cultura emanada pelas classes dominantes. Essa reprodução
pretende gerar a ideia da necessidade da existência de um escol de
ungidos, sacrificados intérpretes dos sentimentos e necessidades do
povo, esforçados perscrutadores da melhor forma de gerir e conciliar
o económico, com o social, o cultural, etc. E, como essa síntese é, de
facto, complicada, torna-se, logicamente, inacessível aos cérebros
limitados dos trabalhadores, pelo que não cabe à plebe mais do que
trabalhar, dedicar-se às suas respectivas vidinhas e delegar a acção
política aos ungidos, inteligentes e cultos, os únicos capazes de gerir
a coisa comum, quais sacerdotes especializados na intermediação
entre um Bem Comum abstracto (e pouco comum) e cada um de nós,
ignaros cidadãos. Modestamente, os ungidos sentem, por vezes a
necessidade de consultar especialistas numa ou outra matéria,
entendidos como técnicos competentes mas, eunucos políticos.

Essa separação é, em suma, a expressão da estratificação social,


baseada no domínio dos meios de produção por uns poucos, e da
ausência desse domínio por parte da maioria da população. Essa
visão é assumida totalmente pela classe política em geral, pelos
detentores do poder político, como pelos seus “challengers”, na
oposição. Resulta portanto, daqui, uma sociedade profundamente
hierarquizada, nos campos político e económico, de facto não-
democrática, como a teorizada, por exemplo, por Hobbes, no seu
Leviathan.

Porém, num processo gradual, vem-se afirmando no seio da multidão


uma firme convicção, se não da inutilidade da classe política, pelo
menos da sua incapacidade, do seu desinteresse pela gestão do bem
comum, da sua imensa venalidade. E, essa convicção é acompanhada
por um desejo transbordante de democracia, de exigência de
qualidade, de transparência, de assunção da gestão dos assuntos
comuns. Em concomitância, acentua-se a desconfiança e desprezo
face aos titulares do poder, o desrespeito face aos sacerdotes da
política.

O capitalismo, naturalmente, apercebe-se dessa situação e trata de


converter os líderes, os governantes, em produtos de moda, como
sapatos, facilmente substituídos por produtos sucedâneos, na estação
seguinte. Neste contexto, cada peça política é um bem de consumo
não duradouro, rapidamente tornado obsoleto, programado para
durar um período limitado.

A volatilidade da duração dos agentes políticos tradicionais, da sua


rápida rotação não deve ser encarada tanto como uma demonstração
de verdadeira democracia mas, como uma necessidade da
continuidade da democracia de mercado. Como se costuma dizer, é
preciso mudar alguma coisa para que tudo fique na mesma ou, de
modo mais popular, mudam as moscas…

Na nossa experiência recente, veja-se como os elementos com maior


protagonismo, aparecem e desaparecem em poucos anos,
refugiando-se em confortáveis e precoces reformas ou cargos de boa
paga, fornecidos pelo agradecido patronato. Alguns, poucos,
conseguem reciclar-se, em novas funções, casos de Soares, Sampaio,
Cavaco.

2. Os partidos políticos portugueses

Em Portugal, dada a pequenez e a relativa homogeneidade do país,


tendo presente as características culturais da população, é estreita a
oferta de partidos políticos, até porque a tradição histórica e as
características da sociabilidade de hoje, não incitam à organização
colectiva para a resolução dos problemas. Faltando reais
diferenciações de ordem étnica, religiosa ou regional, subjaz um
racismo larvar contra ciganos, africanos e imigrantes, a mancha
totalitária, no mercado das ideologias desviantes, da sucursal
vaticana em Portugal, a rivalidade estéril ou mesmo animalesca e
fascista das claques do futebol.

Assim, tomando como referência os partidos representados no


Parlatório de São Bento, adiantam-se algumas das suas
características, da direita para a esquerda.

O CDS, ex-PP ou CDS/PP, conforme a fracção dominante no seu


interior representa a chamada direita dos negócios, anti-popular,
elitista, católica ou mesmo fascista, pouco entusiasmada com a U E…
excepto no que se refere à utilização dos fundos comunitários.
Pretende representar os senhores de sempre, os “valores” (pátria,
família, …), as hierarquias (forças armadas, patrões, …) e, nesse
contexto, protagoniza uma força de antecipação, de vanguarda da
burguesia autóctone, tentando influenciar a agenda dos partidos
vocacionalmente mais presentes no aparelho de Estado. Assim, a sua
influência real é superior à expressão eleitoral.

Como expressão do reaccionarismo institucional mais vincado clama


contra a chamada bagunça dos novos tempos, apresentando-se como
disciplinador emérito, na imposição dos “bons costumes” através de
leis duras e actividades policiais musculadas.

Feroz arcanjo da iniciativa privada, evoca poder e benesses para


empresas e empresários, pois os trabalhadores só excepcionalmente
deixam de ser madraços e mais não merecem que políticas sociais
vistas num plano de comiseração e de caridade. No capítulo da
corrupção, tende mais a enquadrar corruptores que corrompidos pois
só parcelar e episodicamente é detentor de poder no aparelho de
Estado. Como é evidente, a utilização da palavra Centro no nome do
partido é uma reminiscência dos anos setenta em que ninguém se
assumia como de direita.

A difusa amálgama PS/PSD, o Bloco Central dos analistas políticos e


que Esquerda Desalinhada vem designando como Torres Gémeas, é o
entulho que constitui o poder há mais de 30 anos, o espelho da total
inépcia das camadas possidentes e dos possidónios lusitanos.

Engloba duas estruturas mafiosas que se entrelaçam, que se


congraçam e que concorrem, precisamente porque em pouco diferem
dos pontos de vista ideológicos ou de prática política. Uma é o PS,
membro da família europeia dos partidos trabalhistas, socialistas,
sociais-democratas e ex-comunistas, numa fotografia onde posam o
famigerado Blair, os assassinos trabalhistas israelitas, os graves
nórdicos e os ladrões das antigas “nomenklaturas” do Leste. A outra
Torre Gémea, o PSD (PPD/PSD numa designação cara ao tonto
Santana) é uma agremiação de direita, populista e defensora do
projecto europeu, onde se acasala com congéneres tão
recomendáveis como o corrupto Chirac, o Sarko(na)zy, a Forza Itália
do afamado Berlusconi e lixo não reciclável similar. A NATO é um
marco de referência para ambos os partidos, embora o PS sorria mais
para o partido democrata americano e o PSD prefira os republicanos,
com tudo o que isso possa representar no capítulo das semelhanças
(muitas) e de diferenças (poucas) entre ambos.

A origem de cada uma das alas é diverso mas, ambos só ganharam


existência real com o 25 de Abril. O PSD, como emanação de sectores
liberais, quadros de empresa e da administração pública procedentes
do bolor post-salazarista. O PS, baseado numa “intelligentsia”
socializante, oposicionista e anti-comunista, dirigiu a aliança
conservadora para a liquidação dos movimentos de massas de
1974/75 e apresentou-se como o elemento federador da
normalização capitalista.

Ambas as Torres (cada uma de per si ou aliadas) aspiram ao papel de


PRI mexicano no que se refere à ocupação e hipertrofia da burocracia
estatal, fazendo valer a sua importância, a sua autonomia, face a um
empresariato luso sem grande valia no contexto da economia global,
e na defensiva no seio da competição com o capital internacional,
mormente com origem espanhola. Para essa ocupação ter algum
papel positivo na acumulação capitalista nacional, à semelhança dos
partidos-Estado japonês ou sul-coreano, décadas atrás, falta-lhes
quase tudo: competência técnica e política, enquadramento
geopolítico e actualidade histórica. Porém, são ricos na arrogância e
espírito cleptocrático, na exacta medida da atonia da multidão que os
tolera.

Um dos cenários onde a asfixia do papel do PS/PSD é mais notório


situa-se no poder autárquico, peça importante da articulação entre os
negócios imobiliários e o financiamento dos dois partidos, com tudo o
que daí resulta de desordenamento territorial, especulação,
compadrio, nepotismo, má qualidade das infraestruturas e ausência
de preocupação ambiental, de gestão racional, transparente, etc...

Como força política de implantação nacional, o execrável binómio


pretende centrar a sua relevância como elemento imprescindível na
articulação entre os meios dos negócios e o aparelho do Estado, no
capítulo da gestão dos fundos comunitários e do orçamento. Defende
o reforço do sector privado nas áreas vocacionalmente públicas
(saúde, educação) não tanto em termos de privatização formal mas,
de articulação ou simbiose, de contratualização de serviços e
fornecimentos, sempre a expensas do OE, para além de um incisivo
municiamento das empresas com empreitadas públicas de enorme
volume. Devido à permanência duradoura no poder, o PS/PSD
constitui-se numa rede clientelar muito densa presente em todas as
áreas da vida do país e da multidão, simbolizando por esse motivo e
vocação, a verdadeira cara da corrupção.

Utiliza o deficit público como forma para proceder a uma vasta


operação de redistribuição dos rendimentos; favorece o domínio do
parasitismo financeiro; e gera regras danosas nos capítulos do
emprego, da segurança social, do despedimento, da função pública,
alienando totalmente qualquer resquício de política social ou do
espírito inter-classista típico da social-democracia.

Qualquer das Torres, uma vez fora do governo, brande as


insuficiências do governação do outro mas, ambos sempre na linha
da espiral dos sacrifícios para a multidão, através da aplicação dura e
crua da agenda neoliberal, com uma encenação de oposição.
Entre os seus chefes, mesmo quando mais carismáticos, Soares
nunca passou de um angariador de fundos no exterior em épocas de
crise e Cavaco um vulgar mau gestor desses fundos, em tempos de
vacas gordas. Os restantes, tipificam-se como frouxos ou toscos
(Durão, Nogueira, Ferro, Constâncio, Mendes), verbosos inábeis
(Marcelo, Sampaio, Guterres) e caricaturais (Santana); todos,
contudo, voláteis, produtos obsoletos em curto prazo, com duração
inferior a um par de sapatos.

Com mais de 80 anos, o PCP é uma formação reformista, ancorada


numa direcção coesa e monolítica, sem projecto revolucionário desde
meados do século XX e, hoje, órfão da capacidade de Cunhal para as
manobras tácticas mas não do seu autismo estratégico.

O poder autárquico que detém apresenta algumas virtualidades com


reflexos positivos na vida das populações mas, não evita o
desordenamento territorial, a especulação imobiliária ou a invasão
automóvel. O domínio das estruturas sindicais é um fim e não um
meio mostrando-se o PCP, desde os anos 70 avesso ao fortalecimento
das comissões de trabalhadores, preferindo o controlo das direcções
sindicais, em regra rotinizadas num ritual sazonal de conversas no
Conselho de Concertação Social, baixo-assinados e manifestações
meramente sectoriais, com enormes intervalos.

Essa tendência para o domínio das cúpulas das instituições aliena-lhe


a audiência junto da juventude e da intelectualidade. Razões
sociológicas e de história recente reduzem a sua implantação, grosso
modo, ao Alentejo e em torno do eixo Lisboa-Setúbal.

A sua pouca abertura ideológica para novas temáticas –


toxicodependência, homossexualidade, racismo – constituem
bandeiras fortes do Bloco de Esquerda. Porém, tal como sucede com
o BE, não manifesta qualquer iniciativa no campo ambiental, que em
Portugal se polariza em associações conservacionistas ou
tecnocráticas.

Nunca se recompôs do desmantelamento da URSS, aproximando-se


posteriormente do capitalismo chinês. Mostra-se, em regra, sempre
pronto a apoiar uma Torre Gémea contra a outra, tardando em
assumir o seu projecto reformista, como sucedeu aos congéneres
europeus. Em contrapartida, é particularmente reactivo à influência
crescente do BE que lhe disputa a hegemonia dentro de um mesmo
projecto social-democrata sem espaço, nem tempo, na Europa ou em
Portugal, por razões evidentes.

O Bloco de Esquerda surgiu há menos de dez anos quando se


tornou evidente que a UDP ou o PSR isoladamente, só
excepcionalmente teriam expressão parlamentar. Surgiu como
expressão da procura de novas práticas políticas, assumindo mais a
heterogeneidade da multidão do que a hegemonia de uma camada
social; mais a federação das diferenças individuais do que os factores
de homogeneidade entre os membros da multidão. Porém, nunca
conseguiu extirpar a rivalidade entre UDP, PSR e Política XXI no
controlo do aparelho.

Os sucessos eleitorais resultam de vários factores tais como o


imobilismo do PCP, a aceleração do desvirtuamento social-democrata
do PS, em tempo de recessão económica e ofensiva capitalista, o
aproveitamento de temas marginais no contexto conservador da
sociedade portuguesa, a capacidade intelectual de alguns dos seus
membros de topo. A votação de Louçã nas presidenciais e os
resultados das autárquicas mostram, claramente, que essas fontes de
sucesso poderão ter-se esgotado.

Esses sucessos, contudo, têm contribuído para o afunilar da


actividade na luta parlamentar, lançando a ilusão de que a
“democracia de mercado” é democrática, que o regime político actual
é susceptível de libertar a multidão da canga capitalista, mormente
nesta sua fase de concentração financeira.

Quando se não acentuam as contradições, se não aponta claramente


para o cerne dos problemas que afectam a multidão abre-se o campo
para a aceitação de vias reformistas, de tolerância para com o capital
e os seus representantes e perpetua-se o domínio destes. De outro
modo, não alimentando o radicalismo na análise política, nem
incentivando a iniciativa dos elementos mais activos junto da
sociedade, não colocando a acção ao nível da rua, no desafio
inteligente da autoridade do capital, na desobediência programada,
torna-se a massa eleitoral apoiante num elemento de elevada
volatilidade.

3. A linha estratégica à esquerda

É ténue a diferença, nos dias de hoje, entre um regime de partido


único com as suas inevitáveis sensibilidades ou grupos internos e um
regime formalmente bipartidário, rotativista, com partidos que só
diferem na cosmética com que maquilham as ideias que partilham.
Em ambos os casos, é variável a real liberdade de expressão ou a
tolerância e marginalização das opiniões que não se insiram nesse
leque mole de lugares-comuns, de pensamento único.

Temos vindo a insistir (ver “A democracia de mercado e a actuação


da esquerda”) na necessidade de uma linha estratégica e de uma
prática política diversas das que vem sendo seguidas pela esquerda
institucional. E temos também acentuado o carácter genocida do
capitalismo de hoje, absolutamente resoluto na criação de
dificuldades à multidão susceptíveis de reduzir a sua própria
esperança de vida. Isso aconteceu na Rússia quando ao capitalismo
cleptocrático de Estado se sucedeu o capitalismo liberal não menos
cleptocrático que o anterior regime. E, não há projecto reformista
com músculo suficiente para resistir ao vórtice protagonizado pelo
capital financeiro e as suas práticas de escravização da multidão.

A linha estratégica que propomos não pode distinguir entre os que


querem pôr em marcha o projecto genocida do capital e aqueles (à
esquerda) que actuam sem relevar essa nova característica imposta
pelo capital financeiro globalizado, fazendo crer que o actual estado
de guerra infinita depende do perfil de quem estiver na Casa Branca,
ou que o modelo social-democrata europeu ainda pode renascer das
suas próprias e já frias cinzas.

Há pois, que aprofundar e renovar os parâmetros de uma estratégia


para a esquerda e adoptar fórmulas práticas mais eficazes de
combate contra o capital. Propomos aqui, alguns elementos para essa
estratégia:

a. Avaliar a inconsequência de um pacifismo que propõe, qual


dogma, a não utilização de meios violentos na luta contra o
capital e, ao mesmo tempo recusa propor a extinção das forças
armadas, expoente máximo da violência por parte do Estado
capitalista. Se este está armado (tropa, polícias, tribunais,
poder legislativo) e detém o monopólio da violência é para
exercer esse poder sobre a multidão, o que não é nada de novo,
aliás. E se se aceita esse monopólio é porque o mesmo dá
segurança aos seus defensores que, portanto não se sentem
parte da multidão dos explorados e agredidos.

b. Avaliar o papel do Estado como elemento de insusceptível


regeneração em prol da multidão frisando a sua perene função
de domínio e repressão dessa multidão, pretendendo-se acima
desta. Salvo momentos escassos e pouco duradouros, a
multidão não detém reais meios de representação e de controlo
do aparelho de Estado.

Com o capitalismo, o Estado assumiu uma dimensão e um


poder enorme, sob a forma nacional, federal ou ainda sob a
forma de instituições internacionais de emanação e aplicação
das leis do capital. Essa dimensão e essa extensão, conduzem a
que a sua actuação se torne ainda mais distanciada e alheada
da vida da multidão.

Qualquer focagem nas lutas partidárias ou de grupos de


capitalistas pelo domínio ou influência sobre o poder coercivo
da lei, do monopólio da violência ou ainda da manipulação do
dinheiro dos impostos, não pode fazer esquecer que o Estado,
representante do colectivo dos capitalistas, reflecte as disputas
internas entre capitalistas e é, simultaneamente, objecto de
uma crítica sistémica por parte dos capitalistas individualmente
considerados.
Há, pois que discutir, como se deverá organizar uma sociedade
futura para que a multidão não aliene o controlo das decisões
colectivas em grupos sociais ou elites auto-ungidas como
vocacionadas para a gestão global, detentores do poder sobre
aparelhos monstruosos, instrumentos de repressão e
desenvolvimento das capacidades produtivas da multidão.

c. Alterar a tendência para a polarização da actividade política em


torno das disputas partidárias no seio dos parlamentos, sem
discutir a sua falta de representatividade ou a forma abusiva
como os chamados eleitos usam as suas prerrogativas de
representantes com um poder absoluto. Dessa tendência
resulta um afunilamento, uma condução das lutas sociais para o
âmbito institucional descurando o papel formativo, gerador de
auto-confiança da organização autónoma e das lutas sociais
fora do quadro institucional. O poder deve estar na rua e não
nos salões alcatifados pisados pelos grilos falantes.

d. Combater a desinformação constante, em regra por omissão,


do papel do capitalismo como sistema opressor e destruidor de
vidas e do próprio planeta. Assim, é preciso evitar o apontar dos
males do sistema com origem em elementos específicos,
voláteis e robotizados, simbólicos como Bush ou Sócrates, como
que admitindo quais alternativas populares, a madame Clinton
ou a ridícula figurinha do chefe do PSD.

e. Combater o exacerbado eurocentrismo que descamba para o


chauvinismo ou mesmo racismo, quando se aceita como facto
consumado a existência de Israel; e se despreza ou desvaloriza
a luta desencadeada por povos não europeus, com outras
culturas, que não se balizam pelos critérios ditos democráticos
do ocidente mas que de facto, causam mais problemas à gestão
global do capital, do que as esquerdas europeias, defensoras
envergonhadas de uma social-democracia fora do tempo.

Não se defende, obviamente, a aceitação acrítica da actuação


ou dos propósitos manifestados na luta de outros povos, seja no
Iraque ou no Líbano, na Venezuela ou na Bolívia, no Nepal ou na
Somália. É preciso, pelo contrário, assumir a atitude modesta de
enriquecimento do conhecimento, de aprender com o Outro.

PS – Sublinhamos e saudamos a atitude da população de Valença,


Chaves, Vendas Novas quando o governo socratóide decidiu
retirar-lhes um serviço médico essencial. A rapidez na resposta
e o atabalhoamento demonstrado pela metástase Correia de
Campos evidencia o receio de que o exemplo possa frutificar. E
demonstra a nossa razão quando propomos a desobediência, as
medidas de massa contra o poder.

www.esquerda_desalinhada.blogs.sapo.pt

Você também pode gostar