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Ciência

AVALIAÇÃO DOAnimal
SUCO Brasileira
RUMINAL v. 3, n. 2, DE
p. 57-63, jul./dez. 2002
BOVINOS “A FRESCO” 57
E APÓS 12 HORAS DE CONSERVAÇÃO

NAIDA CRISTINA BORGES1, LUIZ ANTÔNIO FRANCO SILVA2, MARIA CLORINDA SOARES FIORAVANTI2, PAULO
HENRIQUE JORGE DA CUNHA2, ROSANA REZENDE MORAES3, PATRÍCIA LORENA GUIMARÃES4 E MÁRCIO
EDUARDO PEREIRA MARTINS5

1. Médica Veterinária, Professora MSc., Diretora do Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Caixa
Postal 131, CEP 74001 – 970. Goiânia – Go. naida@vet.ufg.br
2. Médicos Veterinários, Professores Doutores do Departamento de Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Goiás.
3. Médica Veterinária, MSc, Ministério da Agricultura. Brasília, DF.
4. Médica Veterinária, MSc. Hospital Veterinário da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás.
5. Aluno de Graduação do Curso de Medicina Veterinária da Universidade Federal de Goiás.

RESUMO

Avaliaram-se no presente estudo os parâmetros físi- de student para amostras pareadas (P<0,05). Os aspectos
cos (cor, odor, consistência e tempo de sedimentação e físicos, a avaliação in vitro dos infusórios e o número de
flotação), químicos (pH, e tempo de redução do azul de protozoários por mililitro encontravam-se dentro dos padrões
metileno) e biológicos (avaliação dos protozoários in vitro, de normalidade na primeira avaliação, porém, após 12 horas
contagem de infusórios e percentagem de protozoários viá- de conservação, foram observadas alterações sugestivas
veis) do suco ruminal de 50 fêmeas bovinas adultas clinica- de modificações na microbiota do suco ruminal. Constata-
mente saudáveis, imediatamente após a colheita e ao final ram-se, após conservação, reduções estatísticas significati-
de 12 horas de armazenamento em garrafas térmicas comuns. vas em relação ao pH, percentual de protozoários viáveis e
Utilizaram-se animais em lactação, da raça Girolando, e ali- aumento no tempo de redução do azul de metileno (PRAM).
mentados a pasto de Brachiaria decumbens. As análises Conclui-se que a garrafa térmica comum pode ser usada como
foram realizadas em uma amostra individual de, aproximada- opção na conservação de suco ruminal de bovinos em situ-
mente, 400 ml de suco ruminal, colhida com sonda ações de clínica de campo, porém a análise no momento da
oroesofágica do tipo Schambye e Sorensen. Os resultados colheita apresenta resultados mais fidedignos.
foram avaliados por meio de estatística descritiva e teste “t”
PALAVRAS-CHAVE: Bovinos, fluido ruminal, métodos de conservação, pH, protozoários.

SUMMARY

BOVINE RUMINAL FLUID ANALYSIS “IN FRESH” AND AFTER 12 HOURS OF CONSERVATION

This research had as objective to analyze the physical statiscally analyzed through descriptive statistic and “t” test
(color, smell, consistance and sedimentation/flotation test - (P<0.05). Although the first evaluation of ruminal fluid was
TAS), chemicals (pH and methylene blue reduction test) and normal for physical aspects, in vitro evalution of infusoria
biological aspects (in vitro protozoa examination, infusoria counts, and for the number of protozoa per ml after 12 hours,
counts and percentual of living protozoa) of ruminal fluid some alterations were verified. Significant differences were
from 50 adult and healthy females Girolando cows imediately observed in decreasing of pH, percentual of live protozoa
after and 12 hours after collection and storage in vacuum and increasing in the time of methylene blue reduction test.
bottle. The animals were in lactation period and grazing Therefore the thermal bottle is a good option to conserve
Brachiaria decumbens. The samples of ruminal fluid ruminal fluid but betler results can be found when the ruminal
contained nearly 400 ml and were collected through fluid is analyzed immediately after the collection.
Schambye and Sorensen esophageal probe. The results were

KEY WORDS: Bovine, conservation methods, pH, protozoa, ruminal fluid.

INTRODUÇÃO estabelecida para cada refeição foi modificada e, de


uma maneira geral, maiores volumes são oferecidos
A explosão demográfica dos bovídeos ocor- objetivando uma maior produtividade.
reu, concomitantemente, com mudanças significati- Apesar de menos freqüentes, não é incomum
vas na forma de arraçoamento desses animais. Sur- diagnosticar distúrbios gástricos em bovinos criados
giram novas variedades de forrageiras, a quantidade em regime de criação extensiva. Esses problemas
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geralmente ocorrem quando os animais são doenças metabólicas que alterem as funções dos pré-
suplementados em períodos de estiagem ou estômagos. O autor descreve ainda que observaram
entressafra, em conseqüência da ingestão acidental que a administração oral de três a cinco litros de suco
de plantas tóxicas ou em bovinos manejados em la- de rúmen, em três a quatro aplicações, foi decisiva
vouras de milho, soja, arroz ou sorgo após a colhei- para a melhora de 31 bovinos que apresentaram
ta. De acordo com Russell & Rychlik (2001), os ru- inatividades crônicas da microbiota ruminal.
minantes criados nos países em desenvolvimento são, A conservação do suco ruminal, quando existe
em sua maioria, alimentados com rações deficientes a necessidade de transportá-lo por certas distâncias
em fibra, gerando transtornos nos mecanismos fisio- para ser administrado e/ou analisado, ainda constitui
lógicos e homeostáticos do rúmen, declínios no pH e um desafio. Souza (1990) adicionou água de coco,
alterações de microbiota, o que torna esses animais solução de açúcar e ovo integral a diferentes amostras
susceptíveis a desordens metabólicas e doenças in- de fluido ruminal e submeteu-as às temperaturas
fecciosas. ambiente, de geladeira e de freezer, na tentativa de
A análise do fluido ruminal é de indiscutível verificar o melhor método de conservação.
valor no diagnóstico de enfermidades ligadas ao apa- No Brasil, especialmente na Região Centro-
relho digestivo dos ruminantes, especialmente aque- Oeste, as grandes distâncias entre as propriedades
las dos compartimentos pré-gástricos, pois a rurais e destas com os centros urbanos, aliado ao
microbiota do rúmen é altamente sensível às altera- tipo de bovinocultura que vem sendo implantado na
ções externas e internas às quais rotineiramente es- região, exigem do médico veterinário, que exerce suas
tão submetidos os animais. De acordo com Costa atividades a campo, cada vez mais conhecimento e
(1992), o conhecimento dos aspectos relacionados criatividade. Um desses desafios são a conservação
ao conteúdo ruminal de bovinos tem sido limitado, e o transporte adequados do suco de rúmen para
em especial no que se refere às alterações clínicas, fins diagnósticos e terapêuticos. Acrescenta-se a ca-
químicas e biológicas. Esse autor acrescenta que o rência de parâmetros analíticos das atividades ruminais
conhecimento desses valores é de fundamental im- para a região, em bovinos mestiços e alimentados a
portância na elucidação diagnóstica dos transtornos pasto.
digestivos, freqüentemente encontrados também na Este trabalho propõe-se a avaliar os parâmetros
clínica bovina realizada a campo. físicos, químicos e biológicos do suco de rúmen
A análise do suco ruminal é um procedimento imediatamente após a colheita e após 12 horas de
relativamente simples e fornece ao veterinário infor- armazenamento em garrafas térmicas comuns.
mações importantes sobre o trato digestivo superior
dos bovinos. Várias técnicas foram desenvolvidas para MATERIAL E MÉTODOS
se proceder a uma avaliação precisa e segura. Se-
gundo Souza (1990), Costa (1992), Rings & Rings O trabalho foi realizado em cinco propriedades
(1993) e Dirksen (1993), o conteúdo do rúmen pode rurais do Estado de Goiás distando em média 60 km
ser verificado quanto aos aspectos físicos (cor, odor, de Goiânia. As fazendas foram selecionadas
consistência e tempo de sedimentação e flotação); aleatoriamente e levou-se em consideração o fato de
quanto às características químicas (o pH, a fermen- possuírem um rebanho médio de 100 vacas em
tação de glicose, a redução de nitritos e o tempo de lactação. Estabeleceu-se que seriam escolhidas
redução do azul de metileno); e quanto aos amostras aleatórias de 10% do rebanho perfazendo
parâmetros biológicos (avaliação de bactérias e de um total de 50 fêmeas bovinas adultas clinicamente
protozoários). saudáveis, da raça Girolando, submetidas
De acordo com Souza (1990), o suco ruminal exclusivamente ao regime de pasto (Brachiaria
pode ser utilizado na terapêutica dos problemas decumbens) e sal mineral ad libitum, durante o
digestivos e o recomendam nas indigestões primárias período de abril a maio de 1998.
de origem alimentar e como auxiliar no tratamento de
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Colheu-se uma amostra de, aproximadamen- “t” de student para amostras pareadas, a um nível de
te, 400 ml de suco ruminal de cada bovino por meio significância de 5% de acordo com Sampaio (1998).
de sonda oroesofágica tipos Schambye e Sorensen
e, imediatamente, avaliaram-se os seguintes RESULTADOS E DISCUSSÃO
parâmetros: aspectos organolépticos (cor, odor, con-
sistência), avaliação in vitro dos infusórios (densida- A análise organoléptica do suco ruminal a fresco
de, motilidade e tamanho dos protozoários), pH, tem- (Tabela 1) apresentou em sua maioria padrões de
po de sedimentação e flotação (TAS), prova de re- normalidade quanto à cor, odor e consistência, o que
dução do azul de metileno (PRAM), contagem de está de acordo com as citações de Dirksen (1981),
infusórios e percentual de protozoários viáveis, de Garry (1990), Souza (1990), Costa (1992) e Dirksen
acordo com metodologia descrita por Dirksen (1993), para animais que têm como única fonte de
(1993). alimentação as gramíneas. Após 12 horas de
Aproximadamente 250 ml do fluido foram conservação esses parâmetros sofreram alterações
acondicionados em garrafas térmicas de igual volume significativas; a cor tornou-se verde-escura, o odor
e reavaliados após 12 horas de conservação, no levemente ácido e a consistência densa, sugerindo
Laboratório de Patologia Clínica da Escola de modificações na microbiota ruminal. Variações na cor,
Veterinária da Universidade Federal de Goiás. Nas odor e consistência do líquido ruminal também foram
duas avaliações, o pH foi medido com potenciômetro, constatadas por Souza (1990) quando manteve o
e a contagem de protozoários foi feita em câmara de fluido ruminal à temperatura ambiente. De acordo com
Fuchs-Roshental. Campos Neto (1977) e Dirksen (1993), o odor torna-
Os resultados referentes às duas primeiras se ácido por causa do aumento de produtos finais
provas foram analisados por meio de estatística ácidos. Garry (1993) afirma que o aumento de
descritiva, e os dados referentes ao pH, TAS, PRAM, viscosidade do fluido ruminal ocorre à medida que a
número de infusórios e percentual de protozoários flora ruminal perde sua atividade.
viáveis foram comparados estatisticamente pelo teste

TABELA 1. Avaliação organoléptica do fluido ruminal a fresco e após 12 horas de conservação em garrafa térmica, obtido
de fêmeas bovinas adultas, da raça Girolando, submetidas exclusivamente ao regime de pasto (Brachiaria decumbens) e sal
mineral ad libitum, no período de abril a maio de 1998.

Caracteres A fresco Após 12 horas de conservação em garrafa térmica

Nº de animais % Nº de animais %

Cor
Verde-oliva 34 68 7 14
Verde-escuro-acastanhado 14 28 43 86
Verde-claro-amarelado 2 4 0 0
Odor
Aromático 50 100 3 6
Levemente ácido 0 0 47 94
Consistência
Fluida 2 4 0 0
Normal 39 78 2 4
Viscosa 9 18 0 0
Densa 0 0 48 96
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Nota-se na Tabela 2 que no exame a fresco os diminuição com o tempo de conservação. Verifica-
protozoários apresentaram densidade e motilidade se também que na primeira análise houve
muito boas, ocorrendo redução nesses parâmetros predominância dos médios e grandes. Entretanto,
após 12 horas de conservação. Esses achados são ocorre o inverso após a conservação, com morte
corroborados por Souza (1990), que observou principalmente dos grandes e médios protozoários,
excelente motilidade dos infusórios no primeiro como cita Dirksen (1981 e 1993).
momento e uma tendência clara e progressiva de

TABELA 2. Avaliação in vitro dos infusórios do fluido ruminal, a fresco e após 12 horas de conservação em garrafa térmica,
em fêmeas bovinas adultas, da raça Girolando, submetidas exclusivamente ao regime de pasto (Brachiaria decumbens) e sal
mineral ad libitum, no período de abril a maio de 1998.

Caracteres A fresco Após 12 horas de conservação


em garrafa térmica

Nº de animais % Nº de animais %

Densidade
Reduzida (+) 4 8 26 52
Moderada (++) 21 42 20 40
Abundante (+++) 25 50 4 8
Motilidade
Reduzida (+) 1 2 19 38
Moderada (++) 18 36 16 32
Abundante (+++) 31 62 2 4
Ausente 0 0 13 26
Distribuição
P* 0 0 25 50
PM ** 26 52 16 32
PMG *** 24 48 9 18

* protozoários pequenos ** protozoários pequenos e médios *** protozoários pequenos, médios e grandes

A variação média do pH ruminal foi de 7,05 esofágica e por punção per cutânea, encontrou valo-
na avaliação a fresco e de 6,86 após a conservação, res de pH mais elevados no primeiro método e rela-
sendo esses resultados estatisticamente significativos cionou tal achado ao fato de o tubo oral alcançar
(Tabela 3), porém estão dentro dos limites de nor- apenas o saco cranial do rúmen, mais rico em saliva
malidade considerados por Campos Neto et al. e soluções tamponantes. Em relação aos menores va-
(1976), Ortolani et al. (1982), Garry (1990), Costa lores obtidos para o pH por ocasião da segunda ava-
(1992), Dirksen (1993), Rings & Rings (1993) e liação, argumenta-se que foram devidos à excessiva
Moraes (2000). produção de ácido lático e como resultado da possí-
Acredita-se que uma provável contaminação vel putrefação e decomposição de proteínas, como
pela saliva no momento da colheita tenha sido res- citam Campos Neto (1977) e Rosemberger (1963).
ponsável pelo maior valor de pH no momento da Com a conservação do suco ruminal houve uma
colheita. Hofirek & Haas (2001), comparando dois redução significativa no percentual de protozoários
métodos de colheita de suco ruminal, por sonda oro- viáveis, de 75,60% para 16,88%, concordando com
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Souza (1990), que encontrou valores oscilando de valores obtidos neste estudo encontrarem-se dentro
30% a 100%. Houve ainda uma tendência clara de dos padrões de normalidade, conforme Garry (1990),
diminuição no número desses microrganismos, já que Dirksen (1993) e Rings & Rings (1993), eles, no
inicialmente era de 281.688 a fresco, e reduzindo entanto, indicam uma perda de atividade bacteriana
para 254.900 após conservação (Tabela 3). Tais com o passar do tempo de colheita.
achados são compatíveis com os resultados obtidos Ainda na Tabela 3, verifica-se que o tempo de
por Dirksen & Wolf (1963) e Souza (1990), que tam- sedimentação e flotação (TAS) foi ligeiramente menor
bém verificaram uma relação indireta entre a ativida- após a conservação do fluido ruminal, porém não
de dos infusórios e o período de conservação. houve diferença significativa. Tais valores estão de
A prova de redução do azul de metileno acordo com os citados por Garry (1990) e Dirksen
(PRAM) aplicada ao suco ruminal a fresco apresentou (1993), porém estiveram abaixo dos achados de
resultado, significativamente, menor do que o obtido Garry (1993) e Moraes (2000) em animais recebendo
após a conservação (Tabela 3), sendo respectivamen- apenas algum tipo de alimentação volumosa. A
te de 173,30 segundos (2,89 minutos) e 361,30 redução no TAS em relação ao tempo de colheita
segundos (6,02 minutos). Achados equivalentes também foi observada por Souza (1990) e Garry
também foram obtidos por Souza (1990), 2,6 minutos (1993) e deveu-se provavelmente à diminuição da
no momento da colheita, diferindo no período de 24 atividade microbiana.
horas, em que verificou 3,4 minutos. Apesar de os

TABELA 3. Valores médios e desvio-padrão da avaliação do fluido ruminal a fresco e após 12 horas de conservação em
garrafa térmica, em fêmeas bovinas adultas, da raça Girolanda, submetidas ao regime de pasto (Brachiaria decumbens) e sal
mineral ad libitum, no período de abril a maio de 1998, quanto aos aspectos pH, percentual de protozoários viáveis, número
de infusórios, PRAM (prova de redução do azul de metileno) e TAS (tempo de sedimentação e flotação).

Grupos pH - Protozoário Número de PRAM TAS


viável infusórios (seg) (seg)
(%) (cel/ml)

A fresco 7,05a* 75,60 a 281688 a 173,30 a 331,98 a


±043 ±24,07 ±2008,75 ±108,32 ±146,99

Após 12 horas de conservação 6,86b 16,88 b 254900 a 361,30 b 279,80 a


±0,43 ±22,14 ±1938,94 ±165,23 ±174,12

* Letras diferentes na mesma coluna diferem significativamente a nível de 5%

Avaliando-se as provas funcionais em conjun- Garry (1993) argumenta que mudanças na viscosi-
to e comparativamente notaram-se pequenas altera- dade do líquido ruminal e no tempo de sedimentação
ções nos aspectos organolépticos e na qualidade dos e flotação são originados de fatores como inativida-
protozoários além de uma leve acidificação do fluido de da flora microbiana, acidose e anorexia prolonga-
com redução no TAS, morte de protozoários e alte- da.
ração da atividade bacteriana. Mudanças semelhan- É pertinente sugerir o uso da garrafa térmica
tes foram observadas por Souza (1990), quando uti- por um período de até 12 horas, porque, apesar do
lizou diferentes formas de conservação do fluido leve declínio da atividade microbiana constatada, os
ruminal. O autor aponta a necessidade de descartar resultados obtidos encontram-se dentro dos padrões
o material após três dias de conservação, pois não citados por Dirksen (1981), Garry (1990), Dirksen
mais responde às provas funcionais, provavelmente, (1993), Rings & Rings (1993) e Moraes (2000).
devido à invasão do meio por bactérias proteolíticas. Além disso, a garrafa térmica é de fácil obtenção e
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apresenta pequeno volume, o que facilita o seu trans- REFERÊNCIAS


porte. Por essas vantagens, pode ser utilizada como
uma opção não apenas para conduzir suco ruminal ACURI, P. B.; MATOS, L. L. de Microbiologia do
para exames laboratoriais mas também para otimizar rúmen. Informe Agropecuário, v.16, n.175, p.5-8,
a transfaunação. É possível inferir ainda algumas ou- 1992.
tras vantagens para o uso da garrafa térmica na con-
servação e transporte de suco ruminal de bovinos, CAMPOS NETO, O.; BARROS, H. M.;
como a manutenção do material em anaerobiose e a FERREIRA NETO, J. M. Novo método de
uma temperatura próxima da encontrada no ambien- mensuração do pH do conteúdo rumenal de bovinos
te de origem. Como resultado haverá a preservação da raça holandesa. Arquivos da Escola de Veteri-
de dois importantes elementos do nicho retículo- nária da UFMG, v. 28, n. 1, p. 79-85, 1976.
ruminal, considerados por Hungate (1966), Acuri & CAMPOS NETO, O. Aspectos físico-químicos do
Matos (1992) e Russell & Rychlik (2001) como fun- conteúdo do rúmen e suas implicações na
damentais para os ruminantes. patogenia das enfermidades deste órgão. São Pau-
Considerando-se que na literatura consultada lo: Esc. de Med. Vet. e Zootec. de São Paulo, 1977.
(Campos Neto, 1977; Ortolani et al., 1982; Souza, p. 7-81. Comunicado científico, 1.
1990; Costa, 1992) não foram encontradas
informações relativas aos vasilhames utilizados no COSTA, N. A. Estudo clínico do suco de rúmen
transporte de suco ruminal, apenas descrição da forma de bovinos normais em diferentes manejos de
de conservação, deduz-se que os resultados obtidos arraçoamento com palma forrageira (Palma gi-
neste estudo sirvam como incremento importante nas gante-Opuntia ficus indican). 1992, 57p. Disser-
soluções dos problemas de clínica assistidas a tação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Univer-
distância. Apesar de não constar dos objetivos sidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.
propostos por esse estudo, acredita-se que os valores DIRKSEN, G. Indigestions en el bovino. Konstonz:
obtidos possam ter contribuído no estabelecimento Schnetzton Verlang, 1981. 16p.
de parâmetros para bovinos alimentados a pasto dessa
região. DIRKSEN, G. Sistema digestivo. In:
ROSENBERGER, G. Exame clínico dos bovinos.
CONCLUSÕES 3. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993, p.
166-175. Cap. 7.
Os testes organolépticos (cor, odor e consis-
GARRY, F. B. Diagnosing and treating indigestion
tência), a avaliação in vitro dos infusórios (densida-
caused by fermentative disorders. Veterinary
de, motilidade e tamanho dos protozoários) e as pro-
Medicine, v. 85, n. 6, p. 660-670, 1990.
vas funcionais do suco ruminal variaram com o tem-
po de conservação de 12 horas em garrafa térmica, GARRY, F. B. Indigestões em ruminantes. In:
porém mantiveram-se dentro dos padrões de nor- SMITH, B. P. Tratado de medicina interna de
malidade. grandes animais: moléstias de eqüinos, bovinos,
A análise do fluido ruminal com fins diagnósti- ovinos e caprinos. São Paulo: Manole, 1993. p.750-
cos deve ser efetuada no momento da colheita para 783.
que se tenham resultados mais fiéis.
A garrafa térmica é uma boa opção no HOFIREK, B.; HAAS, D. Comparative studies of
armazenamento e transporte do fluido ruminal em si- ruminal fluid collected by tube or by puncture of the
tuações de clínica de campo. caudoventral ruminal sac. Acta Veterinaria, v. 70,
n. 1, p. 27-33, 2001.
Ciência Animal Brasileira v. 3, n. 2, p. 57-63, jul./dez. 2002 63

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