Você está na página 1de 12

s í s i f o / r e v i s t a d e c i ê n c i a s d a e d u c a ç ã o · n .

º 1 0 · s e t / d e z 0 9 issn 1646-4990

A influência do Programme for International Student


Assessment (PISA) na decisão política em Portugal:
o caso das políticas educativas do XVII Governo
Constitucional Português
Natércio Afonso
natafonso@ie.ul.pt

Estela Costa
ecosta@fpce.ul.pt
Universidade de Lisboa, Portugal

Resumo:
O texto versa a temática dos novos modos de governo e de regulação pelos instrumentos,
no âmbito da qual o conhecimento advém como instrumento de fazer política e de regular
os actores sociais. Inscreve-se no quadro de uma acção pública caracterizada pelo au-
mento de actores e de instâncias nela envolvidos. Assente em análise documental e numa
entrevista realizada à Ministra da Educação, observamos a influência do Programme for
International Student Assessment (PISA) no processo de decisão política, em Portugal.
Concretamente, analisa-se a tomada de decisão pelo XVII Governo Constitucional, que
evoca os resultados do PISA para legitimar várias políticas educativas. Dá-se uma mu-
dança na conceptualização do processo de decisão e uma renovação dos fundamentos da
legitimidade política, mais assentes em fundamentação científica, e menos em lógicas de
cariz ideológico. A par do declínio da regulação política, que traduz uma certa tecnização
e despolitização da acção pública, assiste-se à repolitização do instrumento, como resul-
tado da inter-relação entre as idiossincrasias dos contextos políticos, da agenda política e
dos valores que o instrumento transporta em si.

Palavras-chave:
PISA, Regulação, Conhecimento e decisão política, Instrumentos de acção pública.

Afonso, Natércio & Costa, Estela (2009). A influência do Programme for International Student As-
sessment (PISA) na decisão política em Portugal: o caso das políticas educativas do XVII Governo
Constitucional Português. Sísifo. Revista de Ciências da Educação, 10, pp. 53-64.
Consultado em [mês, ano] em http://sisifo.fpce.ul.pt

53
INTRODUÇÃO como fundamental na regulação do projecto social
da educação (Mangez, 2001; Whitty, 2002). Adop-
Este texto incide no modo como o Programme for tamos a perspectiva da Sociologia Política da Acção
International Student Assessment (PISA), da Or- Pública, que nos permite olhar as políticas públi-
ganização para Cooperação e Desenvolvimento cas como acção colectiva (Lascoumes & Le Galès,
Económico (OCDE), é utilizado no processo de de- 2007), envolvendo uma multiplicidade de actores
cisão política, em Portugal, mormente, legitimando e de interacções, e analisar um “Estado em acção”
decisões do XVII Governo Constitucional (2005- (Jobert & Muller, 1987), em clara ruptura com vi-
-2009), na área das políticas educativas. sões mais hierárquicas e estatais do processo polí-
Liderado pelo socialista José Sócrates, tendo como tico (Commaille, 2004). O Estado vê-se acometido
Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues por novas formas de governação e de regulação e o
(MLR), professora universitária, com doutoramento conhecimento emerge como instrumento de fazer
em Sociologia, o XVII Governo Constitucional utili- política e de regular os actores sociais. É um Esta-
zou o inquérito da OCDE para justificar diversas re- do regulador, que se inclui numa rede mais ampla
formas educativas. Sob a sua tutela parece dar-se uma de relações políticas, transpostas para além das
mudança no processo de tomada de decisão política, fronteiras nacionais. Trata-se de uma evolução em
em Educação, mais assente em fundamentação cien- direcção a uma “nova governança” (Rhodes, 1996;
tífica, na posse de evidências e menos em lógicas de Salamon, 2002), negociada, modo de governo não
decisão mais políticas e ideológicas. hierárquico, onde intervêm actores não estatais que
O texto assume, como dimensão central, a utili- participam na formulação e implementação de polí-
zação do Programa na legitimação de políticas edu- ticas públicas (Lascoumes & Le Galès, 2004, p. 23;
cativas e na retórica governamental. A nossa questão 2007, p. 1).
de partida — analisar o modo como o PISA intervém Esta reestruturação corporiza um outro modo
na tomada de decisão política do XVII Governo — de regulação e um paradigma novo da relação en-
levou-nos a questionar da seguinte forma o material tre governantes e governados, que é revelado pelos
empírico: Que medidas políticas foram legitimadas instrumentos. Impõe-se, pois, uma abordagem da
com recurso ao PISA? Qual a argumentação adop- acção pública pelo ângulo dos instrumentos (Las-
tada pelo governo no(s) processo(s) de legitimação? coumes & Le Galès, 2004, p. 3). Enquanto instru-
Antevêem-se novas configurações no(s) processo(s) mento de regulação supranacional, mediador da
de decisão? relação entre o conhecimento e a política, o PISA
O nosso quadro teórico assenta na relação entre possibilita a análise dos fenómenos de multirregu-
conhecimento e política, assumindo o conhecimento lação e de governar pelos instrumentos, a partir do

54 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…
papel do conhecimento na decisão política, e não O PISA E O PROCESSO DE DECISÃO
do conhecimento enquanto construtor da política. POLÍTICA EM PORTUGAL
A investigação assenta numa entrevista em pro-
fundidade realizada à Ministra da Educação1 e na Em Portugal, o momento de viragem, na mobiliza-
análise documental dos debates parlamentares, ção do Programa para a elaboração de políticas edu-
dos portais institucionais e da legislação. O texto cativas, dá-se, em 2005, com a entrada em funções
inscreve-se num trabalho mais amplo, desenvolvido do XVII Governo Constitucional. Anteriormente, o
no projecto de investigação “Knowledge and Policy inquérito havia sido mobilizado, politicamente, ape-
in education and health sectors”, financiado pela nas em dois momentos: primeiro, na sequência da
Comissão Europeia (6th Framework Programme). publicação do Relatório do PISA 2000, em Dezem-
Concretamente, insere-se na pesquisa efectuada so- bro de 2001, pelo então ministro da educação, Júlio
bre a circulação e o uso do Programme for Interna- Pedrosa, que “aproveitou a ocasião para referir uma
tional Student Assessment (PISA), da OCDE, em seis série de medidas já em curso: do Estudo Acompa-
países europeus. A investigação abarcou as edições nhado introduzido pela reorganização curricular
do PISA 2000, 2003 e 2006. Para o estudo de caso do ensino básico ou a reformulação de programas
Português (Afonso & Costa, 2009), de que é deve- do secundário” (Público, 5/12/2001); segundo, três
dor este texto, realizaram-se 10 entrevistas em pro- anos depois, através da ministra da educação do
fundidade aos representantes nacionais do PISA e a XVI Governo Constitucional, Carmo Seabra, que
ministros da educação, que exerceram o cargo entre enceta, no Parlamento, o tema “PISA”, defendendo
1995 e 2009; analisou-se um vasto corpus documen- a alteração aos currículos do ensino básico (Afonso
tal, que abarcou os documentos produzidos pelo & Costa, 2009), ao considerar “prioritária a apren-
Centro Nacional — o Gabinete de Avaliação Edu- dizagem da língua materna, da Matemática e das
cacional (GAVE) — a imprensa, jornais on-line es- ciências” (DAR, 7/10/2004), uma vez que os “últi-
pecializados em educação, e informação contida nos mos números da OCDE” (…) são claros” (DAR,
portais institucionais, dos sindicatos de professores, 7/10/2004).
na blogosfera, incidindo, ainda, em textos legislati- Com o XVII Governo Constitucional Português,
vos, e nos conteúdos dos debates parlamentares. a tomada de decisão, no campo das políticas edu-
Este artigo está organizado do modo que pas- cativas, surge orientada para a posse de evidências
samos a apresentar. Primeiro, contextualizamos o e assente em resultados. A ministra da educação,
PISA e o processo de decisão política em Portugal, enaltecendo o papel do conhecimento na sustenta-
no quadro da crescente complexidade das acções ção das políticas, diz fazer depender a tomada de
do Estado. Seguidamente, analisamos o PISA en- decisão da posse de dados objectivos, considerando
quanto promotor da construção de sentido em edu- “impossível decidir sem ter a informação necessária
cação, que objectiva significados sociais e permite para o fazer” (E1, 2009, p. 2). O seu discurso flui
legitimar a tomada de decisão em educação. Depois, em torno da necessidade de procurar as “melhores
a análise centra-se na capacidade do PISA para le- soluções, em cada momento” (E1, 2009, p. 15) e “em
gitimar conhecimento e justificar medidas políticas cada contexto, dar um contributo para uma solução
previamente estabelecidas. Posteriormente, abor- melhor” (E1, 2009, p. 15).
damos o modo como o PISA foi mobilizado para Esta conceptualização do processo de deci-
justificar diversas políticas educativas, na área da são, assente em conhecimento de base científica,
qualidade e da equidade. Finalmente, concluímos inscreve-se no quadro de uma acção pública que se
a análise em torno de uma relação circular que pa- caracteriza pelo aumento do leque de actores e de
rece ocorrer entre um movimento de re-politização instâncias nela envolvidos. Num tal cenário, requer-
do PISA e, um outro, de des-politização da acção -se uma tomada de decisão simplificada e maior
pública. objectividade nas escolhas feitas pelos governantes;
o que confere uma nova ênfase ao conhecimen-
to e à sua utilidade (Bleiklie & Byrkjeflot, 2002),
impondo-se como uma tecnologia central da acção

sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal… 55
do Estado. O decisor político é levado a desenvol- implementação do Novo Modelo de Avaliação de
ver novas formas de conhecimento e a procurar professores (ADD) — objecto de contestação no
novos modos de legitimação (Pons & Van Zanten, seio da classe docente — sobretudo quanto à prática
2007, pp. 105-110), com repercussões na utilização, de observação de aulas:
crescente, de instrumentos de medição e de avalia-
ção comparada, concebidos na tentativa de redução Os relatórios internacionais do PISA — que são re-
da complexidade da realidade e de suporte à toma- conhecidos pela comunidade internacional como um
da de decisão (Van Haecht, 2001). dos instrumentos mais credíveis para a avaliação dos
É no quadro desta crescente complexidade das sistemas escolares — há muito identificavam a neces-
acções do Estado e da presença, em rede, de múlti- sidade de implantar no nosso sistema esta prática de
plos actores a intervirem no processo de construção observação e supervisão das aulas, essencial para a
de políticas, que devemos entender o apetite dos melhoria da qualidade do ensino (Portal Governo/
decisores políticos pelos estudos internacionais, Educação, 6/3/2008).
pelos indicadores de desempenho e pelas boas prá-
ticas. A comparação entre países transforma-se num O PISA parece concorrer para a configuração de
elemento categórico do processo de melhoria da uma decisão política mais centrada em resultados
qualidade da educação, de aumento da eficácia e da e em números. Respondendo a uma preocupação
prestação pública de contas, tendo em vista avaliar com a qualidade das aprendizagens dos alunos,
a eficiência dos sistemas de educação e definir no- poderá constituir uma resposta às “dúvidas sobre
vos esboços para as políticas educativas nacionais a qualidade das aprendizagens e das competências
(Bonnet, 2002, p. 389). Para MLR, quando se fala efectivamente adquiridas” (E1, 2009, p. 6). Para
de informação para a política, é significativo que MLR, uma vez conseguidas as escolaridades longas
se atenda ao dimensionamento dos instrumentos. e ter os jovens na escola a concluir os seus níveis de
Daí que a informação fornecida por estudos como ensino, surge a preocupação com “a medição [da]
o PISA, “de base estatística” (E1, 2009, p. 2), seja qualidade” (E1, 2009, p. 6), o que “corresponde a
vista como mais indicativa, por dar a ideia, a uma um novo patamar de exigência no que respeita aos
escala global, das questões: “é muito diferente estar sistemas de ensino. Nunca antes os sistemas de ensi-
a decidir sobre um problema que afecta 1000 pesso- no foram objecto de uma tão grande exigência, não
as ou um problema que afecta 10.000 ou que afecta há memória!” (E1, 2009, p. 6).
100.000” (E1, 2009, p. 2). Ademais, a inexistência de estudos estatísticos
A grandeza do instrumento é captada pela abran- é, segundo a Ministra, causa de ineficácia: “ao nível
gência da amostra e pela sua expressão geográfi- das estatísticas da educação, durante muitos anos,
ca: avalia, a cada três anos, o desempenho de mais não foi possível governar com este conhecimento,
de um milhão de estudantes de 15 anos de idade e simplesmente porque estas coisas não existiam”
conta com mais de 60 países participantes (OECD, (E1, 2009, p. 4); o que, segundo MLR, se traduziu
2007, p. 7). Porém, esta grandeza é, ainda, captada, num conhecimento pouco profundo da realida-
do ponto de vista técnico, pelo reconhecimento da de educativa portuguesa e dos problemas reais do
competência e elevada expertise da OCDE e, do sistema educativo. Assim, salienta a existência de
ponto de vista político, pela percepção generaliza- um sistema de ensino secundário desfasado da re-
da da OCDE enquanto actor privilegiado, concei- alidade, que ignorava as verdadeiras taxas de insu-
tuado, do mundo industrializado, que se assume cesso e de abandono, estando dimensionado para
“como o padrão de ouro na realização de estudos 100.00/80.000 alunos, mas que “no 2º ano já só lá
comparativos” (Grek et al., 2009, p. 7). estão metade; quando passam para o 11º (…) imagi-
Esta dimensão simbólica da OCDE (Carvalho et ne o que isto significa desperdício e ineficácia” (E1,
al., 2009), contribuindo para que o conhecimento 2009, pp. 4-5).
“PISA” se afirme pela sua credibilidade, possibili-
ta aos governantes legitimarem políticas mais con-
troversas. No caso em análise, isto ocorreu com a

56 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…
O PISA — PROMOVENDO um peso substancial; as recomendações que faz, e
A CONSTRUÇÃO DE SENTIDO os problemas que enuncia, constituem uma fonte
EM EDUCAÇÃO de legitimação de medidas políticas, comprovando
que “o conhecimento não está apenas a ser governa-
O inquérito da OCDE, configurando um instru- do ou usado para informar o Estado e os decisores
mento que é utilizado para justificar acções no políticos, é também um instrumento para governar”
domínio das políticas educativas (OECD, 2007, p. (Mangez, 2008, p. 105).
17), objectiva significados sociais (Berger & Luck- É um processo segundo o qual o dispositivo
man, 2004) e promove a construção de sentido em deixa de ser um mero procedimento para se tornar
educação. Olhar a educação, pelo prisma do PISA, num valor, inscrevendo-se numa lógica de legitima-
implica subordinar a formulação das políticas edu- ção da acção pública: “estudei e analisei os dados e
cativas a lógicas de decisão que integram, como tomei uma série de decisões políticas com base nos
componente credibilizadora, os exemplos interna- resultados do PISA” (E1, 2009, p. 3). O Programa
cionalmente difundidos. não só promove a construção de “referenciais in-
É o que se passa com o Programa Nacional de ternacionais, em que os países se podem comparar
Ensino da Língua Portuguesa do 1º CEB (PNEP), entre si” (E1, 2009, p. 8) — o que para MLR é uma
justificado com os “resultados de todos os projectos vantagem — como os faz circular, internacionalmen-
internacionais em que Portugal participou (Reading te, concorrendo para a regulação dos sistemas edu-
Literacy — IEA, 1992, PISA 2000 e 2003)” (Despa- cativos através do conhecimento que detém sobre
cho n.º 546/2007). Salienta-se que o aluno português indicadores.
apresenta 22% de “desempenhos abaixo do nível 1 O inquérito configura um instrumento de acção
(nível que caracteriza os maus leitores) no PISA de pública (IAP), um recurso técnico e social, que orga-
2003 (…) em comparação com o valor de referência niza as relações entre o governo e os seus destinatá-
da UE, que se situou nos 19,8 por cento” (Portal do rios, com base em representações e significados que
Ministério da Educação, 1/6/2006), o que compro- transporta em si (Lascoumes & Le Galès, 2004, p.
mete o sucesso académico e profissional do aluno 13). Possibilitando reequacionar a educação e inter-
português, fazendo perigar os objectivos referenciais vir na agenda política, favorece a indução do que é
designados pela União Europeia para valores de 15,5 essencial no sistema educativo e de quais os valores
% até 2010. É o caso, igualmente, do Plano Nacional a promover, o que permite “ter um conhecimento
de Leitura (PNL), apresentado como “uma resposta sobre os resultados, os adquiridos, as competên-
institucional à preocupação pelos níveis de literacia cias, a qualidade daquilo que se ensina, daquilo que
(…) dos jovens, significativamente inferiores à mé- se aprende, com a cooperação internacional” (E1,
dia europeia” (Portal do PNL; Resolução do Conse- 2009, p. 8). Legitimar a decisão política pelo ângulo
lho de Ministros n.º 86/2006). O nexo de ligação aos do PISA significa participar na construção de sen-
resultados do inquérito surge em várias fontes e o tido e na difusão de normas e valores específicos,
PNL é descrito como um desígnio da política educa- tendo em vista fomentar uma determinada visão da
tiva nacional, uma vez que “48 por cento dos alunos educação; o que sucede, através de uma bateria de
portugueses se encontram nos patamares inferiores indicadores e da aplicação dos enquadramentos
(um e dois), numa escala de cinco níveis” (Portal do conceptuais — de literacia da leitura, da matemática
Governo, 1/6/2006; Portal PNL). e da ciência — criados por um conjunto de especia-
“Governando pelos números” (Grek, 2009; listas, em diferentes e múltiplas sedes de investiga-
Grek & Ozga, 2007), a legitimidade técnica do ção (Carvalho, 2009, pp. 70-71).
PISA permite criar “uma estrutura informal, adi- Antevê-se o conhecimento enquanto instrumen-
cional de autoridade e de soberania para além do to de regulação, e um novo tipo de influência no
Estado (através do fornecimento) de meios de co- processo de decisão política e de pensar a educação,
municação, socialização, institucionalização e inte- centrada em variáveis e recomendações. A complexi-
gração” (Overbeek, 2004, pp. 15-16, citado por Dale dade do instrumento sobrevém com uma aparência
& Robertson, 2007, p. 5). O papel das ideias ganha simplificada, sob a forma de indicadores, números

sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal… 57
e frequências, concorrendo para a construção de pelas taxas de insucesso dos alunos ao longo do
“imagens dos sistemas educativos, e.g., em termos percurso escolar e pelos indicadores do programa
de recursos, matrículas e resultados” (Lindblad, PISA” (Portal do Governo/Educação, 29/9/2005);
2001, p. 1). E, porque os “indicadores não são nú- igualmente, a matemática, uma das áreas privile-
meros: são palavras. Têm nome” (Mangez, 2008, p. giada na agenda política do Governo, é objecto de
106), a neutralidade do instrumento é apenas uma várias intervenções políticas, pois “as nossas crian-
pretensão que oculta “interesses e agenda prévia” ças não estão a adquirir as competências básicas em
(Mangez, 2008, p. 107). Matemática”, “situação (…) revelada, pelas provas
O PISA surge como um instrumento politizado, de aferição e pelas provas do PISA (…), desde final
que “para além da legitimidade técnica (…) sur- dos anos 90” (DAR, 6/9/2005).
gem questões políticas” (Lascoumes & Le Galès, Além de consolidar o conhecimento detido pe-
2004, p. 16). Este tipo de governança “soft”, di- los governos, através de informação oriunda das
fundida pela OCDE, “deixa muito espaço àqueles ferramentas de avaliação nacionais, o PISA actua
que estão a ser regulados para alterar as regras — como um “alarme” (Afonso & Costa, 2009), um
seleccionam partes das regras, mostram a sua con- “barómetro” (Rautalin & Alasuutari, 2009), ilumi-
formidade às regras ou traduzem-nas para atender nando (novos) problemas e permitindo aos actores
às suas próprias expectativas” (Jacobsson & Sahlin- (re)colocá-los na agenda política. Funciona como
-Andersson, 2006, pp. 253-254). Assistimos a uma despertador de consciências (Afonso & Costa, 2009;
“nacionalização” do instrumento, que é reconfigu- Carvalho et al., 2009), dessa forma, reforçando “a
rado de acordo com o contexto político em que se necessidade de decisões urgentes, seguindo linhas
movimenta. Por detrás dos discursos de legitimação de acção que parecem incontestáveis e incontesta-
política, ocultam-se dimensões e valores que des- das, em grande parte devido ao facto de terem sido
pontam da própria materialidade do instrumento e afirmadas internacionalmente” (Nóvoa & Yariv-
dos seus conteúdos ideológicos (Lascoumes & Le -Mashal, 2003, p. 425). A propósito, MLR salienta:
Galès, 2004, p. 367), em consonância com as agen-
das dos decisores políticos. Eu percebi (…), com base nos dados que mandei re-
colher [para a sessão de divulgação dos resultados do
PISA 2003], que um professor do 1º ciclo podia che-
LEGITIMANDO CONHECIMENTO E gar à conclusão do seu curso sempre com resultados
MEDIDAS POLÍTICAS PRÉ -EXISTENTES negativos a Matemática, portanto, não lhe era exigido
nada e as componentes de Matemática na formação
Os dados do PISA reforçam a capacidade de argu- inicial podiam estar ausentes (…) (E1, 2009, p. 3).
mentação dos governos e apoiam a tomada de de-
cisões, consolidando o conhecimento evidenciado No discurso da governante surge a necessidade
por ferramentas nacionais de avaliação como os exa- de se fazer mais pesquisa, que apoie tecnicamente a
mes e as provas de aferição, as quais permitem: tomada de decisão política:

(…) contextualizar os dados obtidos no estudo inter- (…) o PISA ajuda a reflectir e a compreender melhor,
nacional PISA em relação ao sistema educativo por- mas não é suficiente, nós precisávamos de completar
tuguês (…) da maior importância para tirar conclu- a nossa informação e o nosso conhecimento a partir
sões, definir estratégias e tomar medidas com vista à daquilo que o PISA revela, com estudos mais finos,
melhoria do desempenho dos alunos nos domínios mais aprofundados (E1, 2009, p. 9).
avaliados (Portal do Governo, 12/5/2005).
É o caso, por exemplo, do fenómeno da repe-
Este fenómeno é perceptível no programa de tência. Segundo o PISA, Portugal é um dos países
formação contínua de professores de 1ºCiclo, cuja em que as elevadas taxas de retenção mais influem
necessidade é “atestada pelos resultados das provas nos maus resultados obtidos: os alunos portugue-
de aferição e dos exames nacionais de matemática, ses que se encontram no ano de escolaridade certo

58 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…
obtêm bons resultados, em muitos casos, superiores (Afonso & Costa, 2009). A emissão de opinião por
à média da OCDE. Esta temática ocupou parte da parte da ministra tendo por base uma OCDE “con-
retórica ministerial, segundo a qual, o PISA “pro- tadora da verdade” (Noaksson & Jacobsson, 2003,
cura comparar os resultados dos países do Sul que p. 42) exemplifica um modo de regulação que influi,
têm todos estes fenómenos da repetência [mostran- sobretudo, no domínio discursivo, com repercus-
do] como a repetência não ajuda a melhorar os re- sões na retórica dos decisores políticos.
sultados escolares” (Portal do Governo/Educação,
2008). Por isso, defende:
LEGITIMANDO A ACÇÃO
Há imensos estudos que deviam e podiam ser lança- GOVERNATIVA:
dos. Este, por exemplo, da repetência ao 2º ano de ENTRE A QUALIDADE E A EQUIDADE
escolaridade, não vale a pena discutir a repetência
sem se perceber porque é que as crianças aos 7 anos A mobilização do PISA na elaboração de políticas
repetem (E1, 2009, p. 30). é visível na legislação e marca presença nos discur-
sos oficiais do governo. Para MLR, a influência do
Aqui, não houve lugar a uma legitimação de po- Programa faz-se sentir, no plano político, na elabo-
líticas concretas de combate às elevadas taxas de ração de medidas políticas; e no plano das práticas,
repetência, pois esta matéria “não pode ser exclusi- na execução dessas medidas:
vamente política” (E1, 2009, p. 9), devendo consistir
numa “alteração de práticas, tem que ser uma abor- Acho que tem de ter dois tipos de impacto: impac-
dagem sistémica do problema, não é uma questão to na decisão política, na organização de programas
de se proibir a repetência como há muito quem faça de intervenção que visem melhorar a qualidade das
essa provocação” (E1, 2009, p. 9). Propõe, por isso, aprendizagens, que visem justamente responder
mudanças ao nível da organização das escolas “no àquilo que é o anseio ou que é a perplexidade que
que respeita à organização dos ciclos de ensino, ou desencadeia a necessidade do PISA, e tem que ter
das regras de organização das escolas, ou de consti- também outro tipo de impacto, num nível mais loca-
tuição das turmas” (E1, 2009, p. 10) e da capacidade lizado (E1, 2009, p. 6).
de resposta aos alunos com dificuldades, para con-
trariar o flagelo: O conjunto de políticas encetadas/consolida-
das pelo governo, e legitimadas com recurso ao
O princípio é este: não sabes ficas mais um ano para Programa, incluem dois vectores privilegiados pela
repetires toda a matéria que deste para ficares a saber. agência OCDE/PISA: por um lado, o combate à
E o que acontece é que a segunda parte desta pre- ineficácia e ineficiência dos sistemas educativos;
missa não se verifica. Ele chumba, fica para repetir, por outro lado, uma resposta às questões da inequi-
repete mas não aprende. Pelo contrário. Desaprende dade e de segregação dos alunos. Recorde-se que,
(Portal do Governo/Educação, 2008). do ponto de vista político, os governos que parti-
cipam no estudo privilegiam 4 áreas temáticas: (a)
Eis como o uso retórico do inquérito pode exer- a qualidade dos resultados da aprendizagem; (b) a
cer um tipo de regulação, que se processa, essencial- igualdade nos resultados da aprendizagem e equi-
mente, ao nível discursivo, e que assenta não tanto dade nas oportunidades educativas; (c) a eficácia e
na validação de políticas concretas, mas na constru- eficiência dos processos educativos e (d) o impac-
ção social de um ideário educativo que interfere no to dos resultados da aprendizagem no bem-estar
modo de pensar e de conceber os problemas edu- social e económico (Schleicher, 2006, p. 23, p. 31;
cativos. A retórica em torno do PISA, que integrou OECD, 2007, p. 7). Estas opções encontram ecos,
a gramática do governo, constituiu uma forma de nos contextos nacionais, visíveis na mobilização,
regulação “soft” que, nem sempre revertendo em operada pelos governos, deste argumentário, em-
políticas expressas, teve repercussões no debate po- bora em diferentes modos e em diferentes graus de
lítico, nas escolas, na imprensa e na opinião pública profundidade (Carvalho et al., 2009).

sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal… 59
Em Portugal, no domínio da eficácia e qualida- na amplificação do número de alunos que benefi-
de dos sistemas, são duas as medidas levadas a cabo ciam desses apoios e no aumento do montante das
pelo Governo Sócrates com base no PISA: o Plano comparticipações, extensível aos alunos do ensi-
de Acção para a Matemática (PAM) e o Programa no secundário; no relançamento dos Territórios
de Formação em Ensino experimental das Ciências. Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) e na
O PAM é legitimado pela necessidade de me- revalorização das escolas, através de projectos de
lhorar o desempenho dos alunos portugueses nos melhoria do ambiente e dos resultados escolares, e
testes cognitivos de literacia matemática, e integra de soluções que passam pela contratação directa de
várias componentes, que passam pelo envolvimento professores e por obras de conservação ou amplia-
dos “professores de Matemática, os coordenadores ção das instalações.
de disciplina e os conselhos executivos, para que Ademais, para o PISA mais importante do que a
abram um processo de reflexão, debate e proposi- origem social e económica dos alunos parece ser a
ção de medidas concretas, visando a melhoria dos sua condição sociocultural, i.é, mesmo com dificul-
seus próprios resultados” (DAR, 6/9/2005). Além dades económicas, se uma criança tem acesso a re-
disso, implica “uma análise especializada da ade- cursos escolares e formacionais, consegue melhores
quação dos instrumentos de ensino da Matemática resultados (E1, 2009, pp. 11-12). Assim, outra medida
no 3º ciclo do ensino básico, ou seja, uma análise da referida é a iniciativa “e-escolinha”, inscrita no Pla-
adequação do currículo aos programas, aos manu- no Tecnológico, que consiste na atribuição a cada
ais e às provas de exame” (DAR, 6/9/2005). E, por criança do 1º ciclo de um computador, com acesso à
fim, engloba o tratamento e a “análise estatística dos Internet; o que é decisivo “para as políticas de apoio
resultados dos exames, tendo em vista a detecção de à família” (E1, 2009, p. 12), “uma criança que não tem
regularidades explicativas a um nível mais agrega- livros em casa, [passa a poder] aceder a informação
do” (DAR, 6/9/2005). que nunca acederia [pois] o acesso aos recursos,
Ao nível do ensino das ciências, “os alunos por- mesmo a partir de casa, é essencial” (E1, 2009, p. 12).
tugueses têm, em média, um desempenho na área Um outro exemplo consubstancia-se no conceito
da literacia científica significativamente inferior ao de Escola a Tempo Inteiro (ETI), ou seja, no prolon-
da média dos países da OCDE, não se verificando gamento do horário das escolas do 1º ciclo. Em 2005,
melhorias apreciáveis nos últimos anos” (Despacho Valter Lemos, Secretário de Estado da Educação, sa-
n.º 2143/2007); procura-se, por isso, incrementar o lientava, no Parlamento, que, quanto ao acompanha-
seu carácter experimental, através da implementa- mento dos alunos, Portugal apresentava o resultado
ção do Programa de Formação para Professores do mais baixo de todos os países (a média da OCDE é de
1º Ciclo do Ensino Básico. 61% e a média portuguesa é de 5%) (DAR, 6/5/2005).
No segundo domínio, da equidade, incluem-se Justificava, assim, a ETI como um “espaço para as
medidas políticas no âmbito da acção social escolar, actividades de apoio aos alunos com dificuldades e
dos Territórios Educativos de Intervenção Prioritá- também a realização de um conjunto de actividades
ria (TEIP), na revalorização dos edifícios escolares, extracurriculares, (…) muito importantes para o de-
do Plano Tecnológico (PT) e do conceito de Escola sempenho médio dos alunos (…)” (DAR, 6/5/2005).
a tempo inteiro (ETI).
O primeiro caso prende-se com o facto de os
maus resultados dos alunos portugueses, no PISA, CONCLUSÃO
serem muito tributários do contexto socioeconómi-
co das escolas e das famílias. O governo mobilizou O uso do PISA para legitimar a implementação de
estes indicadores para implementar “políticas que medidas políticas é um fenómeno relativamente re-
intervenham ao nível do território e do apoio social cente no panorama educativo português (Afonso &
para elevar estas condições, para fazer sair as escolas Costa, 2009), que reconfigura a acção governativa,
daqui para que os resultados melhorem” (E1, 2009, através de novas representações da forma como se
p. 13). Estas medidas consistiram no alargamento concebem as políticas públicas e se organizam as
da acção social escolar (ASE), que se concretiza relações entre governantes e governados (Lascoumes

60 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…
& Le Galès, 2004). A maior visibilidade do PISA, é apropriado pelos governos e repolitizado, em fun-
na acção pública, em matéria de política educativa, ção de uma agenda pré-existente. O estabelecimento
dá-se, em Portugal, sob a égide do XVII Governo da agenda (agenda-setting) emerge como um modo
Constitucional. O grau de influência do Programa de regulação (Jacobsson & Sahlin-Andersson,
em determinadas políticas permite-nos reconhecer, 2006, pp. 255-256) e o processo de decisão políti-
sob a tutela do primeiro Governo Sócrates, prenún- ca adquire novas configurações, perceptíveis em
cios de uma nova forma de fazer política, assente em formas diversas de organizar as relações políticas,
dados, números e resultados e norteada, essencial- envolvendo uma renovação dos fundamentos da
mente, por critérios de natureza pragmática. Esta própria legitimidade política.
mobilização do inquérito, nos processos de decisão O elevado grau de “expertise” que o inquérito
política, transparece nos textos legislativos, nos de- encerra, parece operar em direcção a uma tecniza-
bates parlamentares, em discursos oficiais, nos tex- ção e despolitização da acção pública (Lascoumes
tos institucionais e, ainda, na entrevista realizada à & Le Galès, 2004, p. 367), facilitando a missão do
Ministra da Educação. governo, já que permite justificar mais confortavel-
A evocação dos resultados do Programa, como mente opções políticas pré-existentes. Além do que,
modo de legitimação da decisão política, estrutura-se a sua alegada credibilidade e neutralidade, auxilia os
em torno de diferentes políticas educativas: o reajus- governos a enfatizarem a urgência das medidas go-
tamento do quadro de habilitações para a docência; vernamentais que desejam implementar e concorre
as alterações das condições de acesso aos cursos de para reforçar a robustez dos argumentos utilizados.
formação de professores do 1º ciclo; os programas Assistimos como que a um declínio da regulação
de Formação de Professores; a formação contínua e política, em detrimento da valorização da informa-
a alteração do grupo de docência para o ensino da ção que o instrumento providencia e em critérios de
Matemática, no 2º ciclo, bem como as novas regras cariz mais incremental e pragmático (Costa, 2009);
de acesso e progressão à carreira; a implementação o que representa uma certa despolitização do pro-
do Plano de Acção para a Matemática, do Plano Na- cesso de decisão política, fundamentado especial-
cional de Leitura e do Novo modelo de Avaliação mente em dados e números, e não tanto em lógicas
do Desempenho Docente; a redimensionação das de decisão política, de cariz mais ideológico.
cargas horárias e as mudanças na organização cur- Contudo, se é certo que a sofisticada tecnicidade
ricular; o prolongamento do horário das escolas do do PISA contribui para esbater a dimensão políti-
1ºCEB, onde se insere o conceito de Escola a Tempo ca propriamente dita, há que observar os valores e
Inteiro; a iniciativa “e-escolinha”; o alargamento da as visões sobre a educação que o mesmo encerra e
acção social escolar; o relançamento dos Territórios questionar a(s) dinâmicas política(s) que oculta. Em
Educativos e a revalorização dos edifícios escolares. suma, por detrás do comportamento, aparentemen-
Provido de uma orientação política — presente te neutro e factual, do instrumento, estabelecem-se
na intenção da OCDE em ajudar os governos a to- efeitos colaterais. Para lá de alguma secundarização
mar decisões — o PISA exerce influência nos pro- da regulação política, perspectiva-se a repolitização
cessos de decisão política dos vários países, embora do instrumento, como resultado da inter-relação
em distintos graus de intensidade (Carvalho et al., entre a agenda dos políticos e os valores, visões e
2009). Esta influência, nos contextos políticos na- sentidos que o instrumento acarreta.
cionais, em geral, e no caso português, em particu- Em última instância, falamos de uma relação
lar, traduz o modo “leve”, de governança, exercida que ocorre entre uma acção de repolitização do ins-
pela OCDE, assente numa “regulação leve baseada trumento e, uma outra, de despolitização da acção
em consenso” (Marcussen, 2004, p. 31), que deve pública; o conhecimento técnico, sustentando a
ser entendida no quadro dos novos modos de go- política educativa, permite substituir o debate mais
vernação, que se apoiam na gestão da informação ideológico, dando lugar à criação de processos de
supranacional (Rinne et al., 2004, pp. 455-456). decisão política baseados em informação técnica,
Possibilitando a identificação de problemas, que em dados e números.
ajuda a legitimar, o PISA acomoda-se aos contextos,

sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal… 61
Notas K. Martens; A. Rusconi & K. Lutz (eds.),
Transformations of the State and Global Gover-
1. Identificada como E1. nance. London: Routledge, pp. 2-10.
Delvaux, B. & Mangez, E. (2008). Towards a socio-
logy of the knowledge-policy relation. KNOWan-
Referências bibliográficas dPOL Integrative Report of the Literature Re-
view. Consultado em Outubro, 2009, em http://
Afonso, N. & Costa, E. (2009). Use and Circula- www.knowandpol.eu/
tion of OECD’s “Programme for International Grek, S. (2009). Governing by Numbers: the PISA
Student Assessment” (PISA) in Portugal. Report effect in Europe. Journal of Education Policy,
on Orientation 3 — WP 12, Project KNOWand- 24, 1, pp. 23-37.
POL. Consultado em Outubro de 2009 em Grek, S. & Ozga, J. (2007). Governing by numbers:
http://www.knowandpol.eu/ the PISA effect. Paper presented to the Europe-
Berger, P. L. & Luckmann, T. (2004). A construção an Sociological Association Annual Conference,
social da realidade. 2ª.ed. Lisboa: Dinalivro. Network 10, Sociology of Education, Glasgow.
Bleiklie, I. & Byrkjeflot, H. (2002). Changing Grek, S.; Lawn, M. & Ozga, J. (2009). Study on the
knowledge regimes. Universities in a new re- Use and Circulation of PISA in Scotland. Report
search environment. Higher Education, 44, on Orientation 3 — WP 12, Project KNOWand-
pp. 519-532. POL. Consultado em Outubro de 2009 em
Bonnet, G. (2002). Reflections in a Critical Eye [1]: http://www.knowandpol.eu/
on pitfalls of international assessment. Assess- Jacobsson, B. & Sahlin-Andersson, K. (2006). Dy-
ment in education, 9, 3, pp. 387-399. namics of Soft Regulations. In M.-L. Djelic &
Carvalho, L. M. (2009). Production of OCDE’s K. Sahilin-Andersson (eds.), Transnational
“Programme for International Student Assess- Governance. Cambridge: Cambridge University
ment” (PISA). Final report. Orientation 3 — WP Press, pp. 247-265.
11, Project KNOWandPOL (com a colaboração Jobert, B. & Muller, P. (1987). L’État en action: po-
de Estela Costa). Consultado em Outubro de litiques publiques et corporatismes. Paris: PUF.
2009 em http://www.knowandpol.eu/ Lascoumes, P. & Le Galès, P. (dirs.) (2004.) Gou-
Carvalho, L. M.; Afonso, N. & Costa, E. (2009). verner par les Instruments. Paris: Presses de
PISA — Fabrication, circulation and use in 6 Eu- Science Po.
ropean Countries. Integration Report [Education]. Lascoumes, P. & Le Galès, P. (2007). Sociologie de
Orientation 3 — WP 17, Project KNOWandPOL. L’action Publique. Paris: Armand Colin.
Commaille, J. (2004). Sociologie de l’action pu- Lindblad, S. (2001). Education by the Number: On
blique. In L. Boussaguet; S. Jacquot & P. Ravi- international statistics and policy making. Paper
net (orgs.), Dictionnaire des politiques publiques. presented at the conference ‘Travelling Policy/
Paris: Sciences-Po Les Presses, pp. 413-421. Local Spaces: Globalisation, Identities and Edu-
Costa, E. (2009). Em torno da recepção de um cation Policy in Europe’ held at Keele University,
instrumento de regulação baseado no conheci- UK in June 2001.
mento — o que nos dizem os decisores políticos Mangez, E. (2001). Régulation de l’action éducative
sobre o Programme for International Student dans les années quatre-vingt dix. Éducation et
Assessment (PISA)?, Comunicação no X Con- Sociétés, 8, pp. 81-96.
gresso da Sociedade Portuguesa das Ciências da Mangez, E. (2008). Knowledge economy, knowledge
Educação — Investigar, Avaliar, Descentralizar. policy and knowledge regimes. In B. Delvaux &
Bragança, Instituto Politécnico/Escola Superior E. Mangez, Towards a sociology of the knowledge-
de Educação, 30 Abril, 1 e 2 de Maio de 2009. -policy relation — KNOWandPOL Literature Re-
Dale, R. & Robertson, S. L. (2007). New Arenas view — Integrative Report. September, pp. 98-118.
of Global Governance and International Or- Marcussen, M. (2004). The Organization for
ganisations: Reflections and Directions. In Economic Cooperation and Development as

62 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…
ideational artist and arbitrator’. In B. Reinalda Salamon, L. (org.) (2002). The tools of governance.
& B.  Verbeek (eds.), Decision Making Within A guide to the new governance. Oxford: Oxford
International Organisations. London: Rout- University Press.
ledge, pp. 90-105. Schleicher, A. (2006). Fundamentos y cuestiones
Noaksson, N. & Jacobsson, K. (2003). The Produc- políticas subyacentes al desarollo de PISA. Re-
tion of Ideas and Expert Knowledge in OECD. vista de Educación, extraordinário, pp. 21-43.
The OECD Jobs Strategy in contrast with the EU van Haecht, A. (2001). Les politiques publiques
employment strategy. Stocholm: SCORE (Score d’éducation: un renouvellement nécessaire des
Rapportserie 2003:7). outils théoriques? Revue de l’Institut de Sociolo-
Nóvoa, A. & Yariv-Mashal, T. (2003). Vers un Com- gie, 2001/1-4, pp. 15-40.
paratisme Critique. Lisboa: Educa. Whitty, G. (2002). New Labour, educational po-
OECD (2007). PISA — The OECD Programme for licy and educational research. In G. Whitty,
International Student assessment [PISA Bro- Making Sense of Educational Policy. London:
chure]. Consultado em Outubro de 2009 em Sage, pp. 126-140.
http://www.pisa.oecd.org/dataoecd/51/27/37474
503.pdf
Overbeek, H. (2004). Global Governance, Class, Diários da Assembleia da República
hegemony: A historical materialist perspective. · 7/10/2004
Working Papers in Political Science 2004/01. · 6/9/2005
Vrei Universitet Amsterdam.
Pons, X. & van Zanten, A. (2007). Knowledge cir- Imprensa
culation, regulation and governance. KNOWan- Jornal Público 5/12/2001
dPOL Project, Literature Review (part 6). Con-
sultado em Outubro de 2009 em http://www. Legislação
knowandpol.eu/ Resolução do Conselho de Ministros n.º 86/2006,
Rautalin, M. & Alasuutari, P. (2009). The uses of de 12/7
the national PISA results by Finnish officials in Despacho n.º 546/2007, de 11/1
central government. Journal of Education Poli- Despacho n.º 2143/2007, de 9/2
cy, 24, 5, pp. 539-556.
Rhodes, R. (1996). The new governance: Govern- Internet
ing without government. Political Studies, XLIV, Portal do Governo
pp. 652-667. http://www.portugal.gov.pt/Portal/PT
Rinne, R.; Kallo, J. & Hokka, S. (2004). Too eager Portal do Ministério da Educação
to comply? OECD education policies and the http://www.min-edu.pt/
Finnish response. European Educational Re- Portal do Plano Nacional de leitura
search Journal, 3, 2, pp. 454-486. http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt

sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal… 63
64 sísifo 10 | natércio afonso, estela costa | a influência do pisa na decisão política em portugal…

Você também pode gostar