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Seminário: Celebrando Restauração
A Igreja da Meia-Noite1
Fui a uma “igreja” singular, que consegue atrair milhões de membros devotos todas
as semanas, sem ter sede denominacional e nem funcionários contratados. O nome é
Alcoólicos Anônimos. Fui a convite de um amigo, que me confessara, pouco tempo antes,
seu problema com a bebida. Ele me disse:
– Venha comigo, e verá uma amostra de como deve ter sido a Igreja Primitiva.
À meia-noite, de segunda-feira, entrei em uma casa caindo aos pedaços, que já abri-
gara seis sessões naquele dia. Nuvens de fumaça de cigarro pairavam no ar como gás
lacrimogêneo. Não passou muito tempo antes que eu percebesse o que meu amigo
queria dizer com sua alusão à Igreja Primitiva. Um político muito conhecido e vários mi-
lionários proeminentes se misturavam com desempregados desanimados e garotos que
colocavam band-aids nos braços para esconder as marcas da agulhas. O “momento de
compartilhar” foi semelhantes às descrições de grupos de terapia ideais que encontramos
nos livros de cursos de Psicologia. As pessoas ouviam em compaixão, respondiam com
livro embolorado com o título prosaico: O Grande Livro Azul dos Alcoólicos Anônimos, que
conta a história dos primeiros membros, em um estilo pomposo, parecido com o da Bíblia.
O AA não possui qualquer propriedade, não tem uma sede com luxos como mala di-
reta e centro de mídia, não há uma equipe de consultores bem pagos e nem conselheiros
de investimentos a cruzar o país de avião. Os fundadores do movimento estabeleceram
garantias que acabariam com qualquer iniciativa para implantar a burocracia. Acreditavam
em que o programa só teria sucesso se permanecesse no nível mais básico e íntimo: Um
dos paradoxos mais difíceis do cristianismo. Tomemos como exemplo o debate livre-
arbítrio/determinismo: Como alguém pode aceitar toda a responsabilidade por suas
ações, quando sabe que os antecedentes familiares, desequilíbrios hormonais e as for-
ças sobrenaturais do mal contribuíram para seu comportamento? Uma das personagens
de William Faulkner expressou-se assim: - Não vou fazer. Mas não consigo evitar. O AA
é bem menos ambíguo: todo participante tem que reconhecer a responsabilidade total e
completa por todo seu comportamento, até mesmo pelo que acontece durante um estupor
alcoólico ou um blackout (uma espécie de limbo, no qual o alcoólico continua a agir, mas
com amnésia, sem percepção consciente). É proibido racionalizar.
Meu amigo prossegue:
– O AA me ajudou também a aceitar a noção original. Na verdade, embora muitos
cristãos desprezem esta doutrina, o pecado original combina perfeitamente com as pes-
soas que freqüentam o AA. Expressamos esta verdade cada vez que nos apresentamos,
dizendo que somos alcoólicos. Ninguém se esquiva dizendo que era alcoólico.
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ção em seu sentido mais literal. Sabe que uma escorregadela poderia causar, ou melhor,
causaria com certeza sua morte prematura. Mais de uma vez o companheiro dele dentro
do AA atendeu seus chamados às 4:00h da madrugada, indo encontrá-lo encurvando em
um restaurante escuro, escrevendo vezes sem conta em um caderno, como um garoto
sendo castigado na escola: “Deus ajuda-me a atravessar os próximos cinco minutos. “
Hoje ele aproxima-se de seu quinto aniversário de sobriedade, um marco importante se-
gundo a avaliação do AA. E mesmo assim sabe que 50% das pessoas que vencem esta
etapa acabam caindo de novo.
Saí impressionado da “igreja da meia-noite”, mas ainda me perguntando por que o
AA atende determinadas necessidades que a igreja local não consegue atender, ou pelo
menos não conseguiu, no caso de meu amigo. Pedi-lhe que apontasse a qualidade mais
importante ausente na igreja e presente no AA.....
O que vocês acham que o amigo do autor respondeu e por quê?
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Seminário: Celebrando Restauração
As Origens do AA e dos 12 Passos
Philip Yancey surpreende, em um artigo chamado A IGREJA DA MEIA NOITE, expli-
cando que uma das suas experiências mais marcantes de igreja local, não foi em uma
igreja. Acompanhando um amigo para uma reunião que começava à meia noite em um
salão alugado, Yancey experimentou realidades de amor, aceitação e transformação que
saltavam das páginas do seu Novo Testamento. O amigo de Yancey era um alcoólatra em
recuperação e a reunião a qual o Yancey havia sido convidado, era uma reunião regular
de Alcoólicos Anônimos, uma comunidade de pessoas que se reúnem para alcançar e
manter a abstinência no consumo de bebidas alcoólicas.
O movimento teve seu início em 1935, quando Bill Wilson, um alcoólatra inveterado,
foi visitado por um outro alcoólatra, amigo de Bill, sobre o alcoolismo do qual ele, Bill,
dizia, “este daí não tem jeito”. Só que, para a surpresa total de Bill, seu amigo Ebby, não
só estava sóbrio, mas recusou a bebida que lhe fora oferecida! “Não preciso mais, res-
pondeu seu amigo, “eu me tornei crente.”
Podemos imaginar muitas reações naquele momento, mas talvez só um outro alcoóla-
tra iria adivinhar qual foi o primeiro pensamento do Bill. Ele mesmo relata que seu primei-
ro pensamento foi, “Que bom, vai sobrar mais pra mim!”
Mas a verdade é que o aspecto saudável e o amor e humildade demonstrados
naquele dia e em visitas seguintes tiveram efeito. Poucas semanas depois Bill se internou
para desintoxicação pela quarta e última vez. Os médicos achavam uma perda de tempo,
mas desconheciam o poder de Deus. Sofrendo terrivelmente os efeitos da sua dependên-
cia, Bill mergulhou em uma depressão profunda. Citamos suas próprias palavras para
entender o que aconteceu:
“A minha depressão se tornou insuportável e me senti como se estivesse no fundo de
um poço. Mesmo assim quando eu lembrava das palavras do meu amigo] eu não con-
seguia engolir a possibilidade de existir um Poder maior do que eu. Finalmente, só por
um momento, os últimos vestígios do meu orgulho obstinado foram esmagados. De re-
pente me vi clamando, “Se existe um Deus, que Ele se mostre! Eu estou pronto para fazer
qualquer coisa, qualquer coisa!”
De repente o quarto ascendeu como com uma enorme luz branca, e fui tomado por
um êxtase indescritível. Era como se eu, no meu mundo interior, estivesse no topo de
uma montanha e um vento, não de ar, mas do espírito, estivesse soprando. Aí explodia
na minha consciência o seguinte pensamento, “Eu sou um homem livre!” Aos poucos este
êxtase foi passando.
Eu continuava deitado na minha cama, mas agora, por um tempo, eu estava em um
outro mundo, um mundo de uma consciência nova. Ao redor de mim e dentro de mim
havia uma maravilhosa sensação de Presença, e pensei comigo mesmo, “Então este é
o Deus sobre o qual pregam!” Uma enorme paz tomou conta do meu ser e pensei, “Não
importa quão erradas as coisas pareçam estar, estão bem. Tudo está bem com Deus e o
Seu mundo.”
O que esta experiência desencadeou na vida de Bill Wilson está escrito em muitos
livros e faz parte do folclore do AA. O novo convertido se juntou a um grupo de estudo de
evangélicos fervorosos, parte de um movimento de reavivamento da época chamado de
“Oxford Groups”. Bill passou a freqüentar reuniões dominicais na Calvary Church, pas-
toreada pelo ministro episcopal Sam Shoemaker, um dos líderes deste movimento nos
Estados Unidos. Bill escreveu depois que, “O início de AA adquiriu suas idéias de auto-
outros direto dos “Oxford Groups” e do ensino de Sam Shoemaker, seu líder na América,
e de nenhum outro lugar.”
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Para Bill, serviço aos outros se tornou uma verdadeira cruzada de resgate de outros
alcoólatras, entendendo que parte da sua recuperação se dava à medida que ele contava
sua história e ajudava o seu próximo. Da mesma forma que Bill ajudava outros, estes ou-
tros, por sua vez, também procuraram ajudar seus próximos. Procedimentos foram adota-
dos para orientar os diversos grupos. Mais importante ainda, o conteúdo foi se organizan-
do. Tudo era, e é, muito simples. Tudo está dividido em pequenos passos do tamanho que
uma pessoa quebrada consegue tomar, mas sem fugir das duras realidades que precisam
nortear a vida do recuperando. A espinha dorsal do programa que hoje é AA se chama “12
Passos”, que, na essência, representam uma caminhada espiritual.
Bill levou esta mensagem primeiro a um, depois a outro, depois a um grupo e depois a
vários grupos. Desse modesto início, a mensagem de esperança e restauração através da
entrega a um “Poder Superior”, tem se espalhado ao redor do mundo. Infelizmente, com o
crescimento, a integração e a liderança do movimento por pessoas de diversas visões re-
ligiosas, vieram mudanças. Dentro de cinco anos os primeiros grupos de AA já tinham se
desligado dos “Oxford Groups”, considerados muito fervorosos e religiosos. A visão de Bill
era de uma comunidade de alcoólatras dedicados á ajuda mútua na batalha de se manter
sóbrios, através de um programa de crescimento espiritual, mas que não teria doutrina ou
as fés, ou nenhuma fé. Para os “Oxford Grupos” o alvo era Jesus Cristo, mas para Bill,
era a simples sobriedade. Mesmo com este desligamento das suas origens, o DNA do AA
já estava estabelecido e o que Deus começou na vida do Bill Wilson e daqueles outros
alcoólatras se tornou o modelo que até hoje orienta os grupos de 12 Passos.
Atualmente, o AA se faz presente em mais de 145 países, com cerca de 89 mil gru-
pos e mais de 20 milhões de participantes. No Brasil, chegou em 1947 e conta, hoje, com
aproximadamente 5.000 grupos em atividade, reunindo na faixa de 8 milhões de recupe-
randos.
Apesar de o movimento de Doze Passos ser mais forte na América do Norte, onde
começou, tem penetração considerável em outros lugares do mundo. Por exemplo, se-
gundo os dados fornecidos pelas respectivas associações em 1993, o Al-Anon, programa
de ajuda aos familiares de alcoólatras, tinha 32 mil grupos em mais de 104 países, e o NA
– Narcóticos Anônimos, tinha 19 mil grupos em 87 países. Mais recentes são os Neuróti-
cos Anônimos, os Comedores Compulsivos Anônimos e os Dependentes de Amor e Sexo
Anônimos, entre vários outros. Todas essas associações têm grupos em funcionamento
no Brasil.
O programa do Celebrando Restauração segue, em muitas das suas atividades, o
modelo repetido pelos grupos de ajuda mútua ao redor do mundo. Como crentes, porém,
ministério semelhante na igreja. A Bíblia diz que precisamos “discernir o que é melhor”.
Não é nossa intenção imitar o mundo, nem mesmo os sucessos do mundo. Por isso, é
necessário ler, estudar e conhecer os programas, literaturas e pessoas experientes, tanto
dos grupos de 12 passos seculares, como cristãos.
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rece. Na verdade, pelas suas origens, seu estilo de funcionamento e seu conteúdo, os
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consciente ou inconscien-temente, imitando e até propagando o evangelho de Jesus
Cristo. Não queremos dizer com isto que os grupos de 12 Passos (AA, NA, Al-Anon, etc.)
são cristãos. Não são. Mas temos a convicção de dizer que o modelo dos 12 Passos é.
ção e testemunho; estes são todos elementos clássicos de uma fé genuinamente bíblica e
de quem sofre de vícios, traumas e maus hábitos, como podem servir como uma ponte à
verdadeira fé cristã.
A Igreja da Meia-Noite - Parte 22
Saí impressionado da “igreja da meia-noite”, mas ainda me perguntando por que o
AA atende determinadas necessidades que a igreja local não consegue atender, ou pelo
menos não conseguiu, no caso de meu amigo. Pedi-lhe que apontasse a qualidade mais
importante ausente na igreja e presente no AA. Ele olhou para sua xícara de café por um
longo tempo, parecia estar assistindo ao líquido esfriar. Esperei ouvir uma palavra como
amor, aceitação ou, por conhecê-lo bem, talvez ausência de institucionalismo. Em lugar
disso, ele disse, bem baixo, uma única palavra: “dependência”. E explicou:
– Nenhum de nós é capaz de prosseguir sozinho, e não foi para isso que Jesus veio?
Ainda assim, a maioria das pessoas na igreja apresentam um ar de satisfação consigo
mesmas, com piedade ou superioridade. Não sinto que, conscientemente, elas apoiem
em Deus umas nas outras. Parece que a vida delas está em ordem. Um alcoólico se
sente inferior e incompleto na igreja.
Ficou em silêncio um pouco, até que um sorriso apareceu em seu rosto. E concluiu
dizendo:
– É engraçado. O que mais odeio em mim, meu alcoolismo, é exatamente o que Deus
usou para me trazer de volta até Ele. Por ser alcoólico sei que não consigo sobreviver
sem Deus. Talvez seja este o valor redentor dos alcoólicos. Talvez Deus nos esteja cha-
Visão
Queremos ser uma comunidade de crentes que diariamente experimenta e estende a
graça de Deus aos que vivem presos aos vícios, traumas e mentiras autodestrutivas.
medo, mas, o mais importante ainda, podem abrir suas feridas sem recriminação e sem o
risco de serem expostas.
Comunhão e acompanhamento são componentes
fundamentais para crescimento espiritual, pois Deus colocou a graça que precisamos em
nossos irmãos. Por isso precisamos construir redes de amizades espirituais que minis-
tram graça e verdade às nossas vidas.
Restauração Contínua – Temos uma profunda convicção de que todos nós precisa-
pessoal e continuamente está consciente da graça diária que o mantém de pé. Nunca
liberaremos mais graça do que temos consciência de estarmos recebendo.
Limites Saudáveis – Uma das maiores fontes da miséria humana é a busca desen-
freada e egoística da felicidade sem o estabelecimento de limites. Viveremos verdadeiras
liberdade e paz na medida exata em que nos submetermos aos limites demarcados pela
vontade de Deus. Esta vivência inclui o respeito a limites pessoais (domínio próprio) e
interpessoais.
Louvor Libertador – Valorizamos o louvor no contexto da restauração pelo seu poder
de ensino, libertação, encorajamento, alinhamento, evangelização e comunhão. No louvor
colocamos Deus no Trono da Graça, seu devido lugar, sendo este o primeiro passo para
nossa restauração.
Os 12 Passos e seus fundamentos bíblicos
Passo 1 : Saindo da negação - consciência de quem realmente somos
Passo 1: Admitimos ser impotentes diante de nossos vícios e comportamentos
compulsivos e que nossas vidas se tornaram ingovernáveis.
Romanos 7:18-20 - Mateus 9:36 - Salmos 6:2-4 - Salmos 31:9-10
“Pois eu sei que o que é bom não vive em mim, isto é, na minha natureza humana.
Porque, ainda que a vontade de fazer o bem esteja em mim, eu não consigo fazê-lo.”
(Rm 7:18 BLH)
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Passo 5: Admitimos para Deus, para nós e para outro ser humano a natureza exata
dos nossos erros.
Lucas 15:17-20 - Atos 19:18 - 2 Coríntios 10:3-5
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Passo 9: Fizemos reparações diretas a tais pessoas sempre que possível, exceto
quando fazê-lo implicasse prejudicá-las ou a terceiros.
Mateus 5:9 - Romanos 15:2 - Filipenses 1:9-11 - Colossenses 4:5-6 - Salmos 51:14-17
“Portanto, se você estiver diante do altar no templo, oferecendo um sacrifício a Deus, e
de repente se lembrar de que um amigo tem alguma coisa contra você, deixe seu
sacrifício ali, ao lado do altar, vá e peça desculpas, faça as pazes com ele, depois
volte, e ofereça o seu sacrifício a Deus.” (Mt 5:23-24 BV)
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