Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
intenso processo de urbanização. Sob o signo das cidades e das inovações tecnológicas, o
período em questão modifica fundamentalmente o modo como o homem moderno relaciona-
se com o seu entorno. À urbanização do Ocidente opõem e alinham-se diversas correntes que
pensam as relações humanas e a natureza neste novo contexto. O século é, desse modo, um
período de variadas propostas intervencionistas nos centros urbanos, bem como do
surgimento de um pensamento ecológico que, avesso às renovações urbanas, prima pela
preservação e não-agressão da natureza.
Como enunciado anteriormente, o século XIX corresponde ao período compreendido
pela chamada Segunda Revolução Industrial. A partir dela, o setor secundário da economia
instaura-se predominante. A mecanização do campo culmina em uma redução drástica de
trabalhadores rurais que se veem desprovidos de sua forma de sustento e subsistência. Dá-se,
pois, a migração de um expressivo contingente populacional para as cidades. Afim de
acomodar e atender às demandas populacionais, as cidades passam por intensos processos de
expansão. Em confluência com ideias urbanos enunciados nos séculos XVII e XVIII, dá-se a
abertura de vias. Nesse sentido, as cidades organizam-se, quando possível, geometricamente a
partir de avenidas lineares. Ao longo destas vias, a burguesia instala seus imóveis que,
novamente convergindo com os ideais dos séculos anteriores, são homogeneamente dispostos,
havendo a predominância de fachadas de ornamentação parca e que pouco destoam entre si. A
imagem a seguir mostra um desenho do plano de expansão da cidade de Barcelona, na
Espanha, projetado por Ildefonso Cerdá em 1859, no qual as ruas se cortam de maneira a
formar ângulos retos:
Caspar David Friedrich, Two Men By The Sea, 1822, tinta a óleo, 51cmx66cm, Old National
Gallery, Berlim. Fonte: https://goo.gl/sywfxz
No contexto estadunidense, por sua vez, em uma postura de nostalgia com relação aos
mitos dos pioneiros que descobriram e desbravaram as terras selvagens norte-americanas, que
os colonos passaram a crer que seria nova nação de Deus, os pintores inspiram-se nas
produções românticas europeias. Suas pinturas idealizam, pois, uma natureza de grandeza e
beleza divina insuflada de promessas acerca da nação que viria a formar-se. A partir deste
reposicionamento com relação à natureza anterior às intervenções humanas e diante das
drásticas modificações desta paisagem, em especial com a instalação das estradas ferroviárias,
origina-se uma urgência em preservar áreas verdes, que culminou na criação de reservas
indígenas e Parques Nacionais.
É notório, portanto, que os ideais românticos estabeleceram as bases para o surgimento
daquilo que chamamos hoje de ecologia. Este esforço de conservação e reconstituição da
natureza a sua condição original, inicialmente pautou-se, em grande parte, nas crenças de que
é impossível pensar a humanidade diante do aniquilamento dos espaços naturais. A influência
dos escritos filosóficos de Russeau, datados ainda do século XVIII, segundo os quais os
valores éticos e morais da vida em sociedade estariam atrelados ao contato do homem com a
natureza, apontando que, distante desta, este tornar-se-ia corrupto, é, pois, evidente. A
natureza configura-se, desse modo, não apenas como “um bem físico, mas também moral.”
(FAVERO, 20--, p. 214)
Nesse sentido, é possível afirmar que o estabelecimento do estilo de vida urbana, ainda
que alguns a ele tenham se oposto, modificou irremediavelmente a vida do homem moderno.
É inegável que os constantes avanços técnicos e industriais conferiram ao homem maior
controle sobre o mundo circundante. É evidente também, a partir da criação de jardins e
campos públicos, bem como das produções artísticas do Romantismo, que a industrialização e
urbanização imperativos geram, em contrapartida, um sentimento de nostalgia com relação à
natureza. A aparição da ecologia, por fim, parece uma reação inevitável perante este contexto
estabelecido durante o século XIX.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
SEGAWA, Hugo. Ao Amor do Público - Jardins no Brasil. São Paulo, Difel, 1986 [p. 151-
174].