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Leitura e resumo de “A Poesia Lírica”, de Salete de Almeida Cara. Ática, 1985.

Introdução (páginas 5-8)

Sugestão de abordagem:
 partir de uma “visão histórica” até a compreensão da dificuldade de classificação
sistemática da poesia hoje.
 “acompanhar o desenvolvimento das relações entre prática da poesia e visão
teórica e crítica, ao longo dos tempos.”

Quatro momentos abordados:


 Antigüidade Clássica: em que se dá o “nascimento de uma poesia de expressão
pessoal, diretamente ligada à música – a poesia lírica”.
 Renascimento (séculos XV e XVI): “Os neoclássicos do Renascimento fizeram
uma releitura da Poética de Aristóteles privilegiando, um tanto parcialmente, uma
visão teórica mais normativa e preceptiva, e dando ênfase aos grandes esquemas
classificatórios, onde a poesia lírica encontrou lugar.”
 Romantismo: neste período, “o sistema crítico neoclássico explode de vez, tanto
no plano da teoria quanto no plano da prática poética. Para compreender as raízes
dessa mudança é preciso recorrer a uma visão histórica e social da época, com a
formação da sociedade burguesa pós Revolução Francesa e o avanço da ciência,
da indústria e da tecnologia. Há uma revolução no conceito de poesia e o poeta
enfrenta um novo papel na nova sociedade.” A poesia lírica atingiu um grande
prestígio durante o Romantismo.
 Período Moderno (a partir da consciência moderna do fim do XIX): “O poeta
moderno, jogado na grande cidade cosmopolita percebe (...) os contornos ilusórios
da antiga crença: a crença numa relação, plena de sentido, entre poeta ( o “eu” da
poesia?) e realidade (objetiva ou subjetiva). Sua atenção se desloca, então, para os
modos possíveis dessa relação, valorizando a linguagem, que a realiza. Com essa
crise, entra também em crise o conceito de lirismo como “expressão pessoal”.

“É dessa perspectiva histórica, com olho na tensão entre propostas teóricas e


concomitante prática poética, que deve ser enfrentada a questão do sujeito da (na)
poesia de expressão pessoal, o sujeito lírico: do “ego” racionalista da poesia clássica,
passando pelo subjetivismo romântico e chegando ao sujeito da poesia moderna
quando, assumindo a diferença entre o “eu” real do poeta e o “eu” que aparece no
poema, o conceito de sujeito lírico se amplia.”
Na poesia e na teoria moderna “o sujeito é concebido como aquele elemento do
texto que amarra todas as escolhas de linguagem que formam tal poema”.
Dessa perspectiva, a noção de gênero (lírico, épico e dramático) torna-se
insuficiente para a compreensão plena do fenômeno lírico.
“O lirismo é uma maneira especial de recorte do mundo e de arranjo da
linguagem”.
“Para o poeta e crítico moderno a poesia lírica vai-se concretizar, de fato, no
modo como a linguagem do poema organiza os elementos sonoros, rítmicos e
imagéticos. Reencontrando sua antiga tradição musical, a poesia lírica tem sua marca
nas propriedades de som e ritmo das palavras – que Ezra Pound chamava melopéia.1”
No texto poético encontramos, além da melopéia, a fanopéia (as imagens
poéticas) e a logopéia (as idéias do poema).
“Esses elementos, selecionados, é que irão combinar-se para a organização do
texto poético. O resultado da superposição de seleção e combinação é a poeticidade
da linguagem (que o lingüista Roman Jakobson 2 chamou função poética da
linguagem).”
“A questão da poesia lírica, vista dessa ótica, perde aquelas antigas referências
exteriores e genéricas, que pretendiam servir como normas para todos os textos
produzidos (...). As referências tradicionais são, então, substituídas por referências
internas ao próprio texto poético, ou seja, pelas próprias qualidades poéticas de sua
linguagem.”

Após a leitura do capítulo 3 (A herança clássica, p. 12-23), procure identificar


os seguintes tópicos:
 a questão da ambigüidade da palavra “lírica”.
 características da poesia épica.
 interferências sócio-culturais na transformação do discurso poético (passagem do
épico para o lírico).
 influência e distinções das poesias gregas e romanas.
 a poesia provençal, a lírica de idealização amorosa e o lirismo erótico.
 origens orais da literatura portuguesa.
 canções de amigo, amor e escárnio e maldizer.
 a “Poética” de Aristóteles: regras do drama, da poesia épica, da comédia etc.
 modelos poéticos: de Aristóteles (IV a.C.) aos renascentistas neo-clássicos (XVI e
XVII d.C).
 argumentação teórica versus prática poética.
 razão versus imaginação.

1
É ainda de Salete de Almeida Cara, na mesma obra, a definição de melopéia como “o conjunto de
propriedades musicais de som e ritmo da palavras intimamente ligadas ao significado que
expressam” (p. 19).
2
Para Jakobson as funções da linguagem são as seguintes: referencial (centrado no referente);
emotiva (emissor); conativa (receptor); fática (o canal); metalingüística (o código); poética (a
mensagem).

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