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1 B Ô N U S: CO M O A P LI C A R E S SA S I D EIA S À C R IAÇ ÃO D OS FI LH OS HÁB ITOS ATÔ M I COS

Como Aplicar Essas Ideias à


Criação dos Filhos

E m Hábitos Atômicos, explico um ciclo de quatro etapas que fundamenta todo


o comportamento humano: estímulo, desejo, resposta e recompensa. Quando
repetido, esse feedback neurológico leva à formação de novos hábitos.
Eis o ciclo de hábitos:
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A partir dessas quatro etapas, criei as Quatro Leis da Mudança de Comportamento:

1. Estímulo: Torne-o claro.


2. Desejo: Torne-o atraente.
3. Resposta: Torne-o fácil.
4. Recompensa: Torne-o satisfatório.

Essas quatro leis podem ser aplicadas para tornar qualquer comportamento mais
fácil (e a inversão de cada lei pode ser aplicada para tornar qualquer comportamento
mais difícil). Quando aplicados à criação dos filhos, esses mesmos princípios podem
ser usados para ajudar crianças e famílias a estabelecer hábitos mais eficazes.
Antes de entrarmos nos detalhes, vale a pena notar que os conceitos abordados
em Hábitos Atômicos devem funcionar bem com crianças e pais. No entanto, há uma
diferença fundamental: a maioria das pessoas lê Hábitos Atômicos com a intenção
de trabalhar nos próprios hábitos. Mas quando você está pensando em como aplicar
as ideias com seus filhos, está moldando os hábitos de outra pessoa. Essa diferença
apresenta desafios adicionais, e esta seção fornecerá exemplos específicos de como
aplicar as ideias à criação dos filhos.
Ofereço essas ideias apenas como ponto de partida. Cada família é diferente, e
você precisa estar disposto a experimentar as Quatro Leis para descobrir como se
adaptam à sua vida e circunstâncias. Se continuar a voltar para as ideias que apresento
em Hábitos Atômicos, acredito que perceberá que as aplicações são quase infinitas.

A 1ª LEI

A 1ª Lei da Mudança de Comportamento é torne-o claro. Essa lei está ligada ao


estímulo [ou gatilho], que é o primeiro passo do ciclo de hábitos. Um estímulo é
qualquer coisa que chame sua atenção (ou a de seus filhos) e indique o que fazer a
seguir. Como é de se esperar, as pistas mais claras terão maior probabilidade de atrair
a atenção de uma pessoa e, como resultado, de ser atendidas.
Uma maneira de aplicar a 1ª Lei à criação dos filhos é empregar o que Julie
Morgenstern chama de “O Modelo de Organização do Jardim de Infância”.
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As salas de aula do jardim de infância são projetadas para tornar bem claro onde
as coisas devem ficar e o que fazer com elas. Segundo Morgenstern, existem cinco
características principais:

1. A sala é dividida em zonas de atividades.


2. É fácil se concentrar em uma atividade por vez.
3. Os itens são armazenados no seu local de uso.
4. É divertido guardar as coisas — tudo tem seu lugar.
5. Há um menu visual de tudo que é importante.

Por exemplo, se uma criança for designada para o Grupo de Leitura Azul, seus
livros serão colocados no cesto azul, as crianças se sentam à mesa azul e assim por
diante. Em outras palavras, esse método torna muito claro o que fazer e onde.
Você pode empregar métodos semelhantes em sua casa com etiquetas codificadas
por cores, notas adesivas diferentes ou outros marcadores claros. Considere o hábito
de escovar os dentes. “Olivia pega a escova de dentes verde. Michael, a vermelha.”
Outra opção é ajudar seu filho a criar as próprias pilhas de hábitos (um conceito
discutido no Capítulo 5 de Hábitos Atômicos). Se o seu filho tem dificuldade com
os hábitos de estudo ou de lição de casa, você pode usar o empilhamento de hábitos
para iniciar uma rotina melhor de estudos.

Lembre-se, a fórmula da pilha de hábitos é:


Depois de [HÁBITO ATUAL], eu irei [NOVO HÁBITO].

•• Assim que voltar da escola, vou tirar o dever da mochila e colocá-lo na mesa.
•• Assim que eu sair do carro vindo do treino, vou tirar minhas chuteiras sujas
e colocá-las na garagem.
•• Assim que terminar o jantar, vou enxaguar meu prato e colocá-lo na lava-louça.

Lembre-se, esses hábitos devem ser pequenos e fáceis de executar. Mesmo que
seu objetivo real seja realmente fazer com que seu filho passe uma hora trabalhando
em sua lição de casa, comece criando pilhas de hábitos que preparem o ambiente
para facilitar o dever.
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Além disso, você pode usar o empilhamento de hábitos como forma de incentivar
o comportamento desejado. Por exemplo: Depois de praticar piano por 10 minutos,
vou jogar videogame.
As pilhas de hábito são formas simples e eficazes de deixar claro e óbvio quando
um novo hábito deve ocorrer.

A 2 ª LEI

A 2ª Lei da Mudança de Comportamento é torne-o atraente. Essa lei está ligada


ao desejo, que é o segundo passo do ciclo de hábitos.
Como você pode imaginar, se um comportamento não é atraente para o seu filho
(isto é, se ele não estiver motivado a fazê-lo), você terá dificuldade para fazê-lo agir.
Curiosamente, uma das melhores maneiras de motivar seus filhos a agir de deter-
minada forma é agir igual. Os seres humanos são mestres em imitação. Como abordo
no Capítulo 9 de Hábitos Atômicos, nós imitamos três grupos: (1) os mais próximos,
(2) a maioria e (3) os poderosos. Aos olhos das crianças, os pais são próximos e po-
derosos (figuras de autoridade), de modo que muitas vezes elas imitam seus hábitos
e rotinas. Isso se aplica em especial às crianças pequenas, que procuram seus pais
por indicações de como lidar com o mundo e resolver problemas.
Como resultado, os hábitos dos pais muitas vezes se tornam os hábitos dos filhos.
Mantenha-se em um padrão mais elevado e elas tenderão a seguir o exemplo.
É claro que, à medida que as crianças crescem, começam a adquirir hábitos não
apenas de seus pais, mas também de outras pessoas em sua vida. E qualquer pai de
adolescente sabe muito bem que muitas vezes parece que estão evitando a imitação:
se fizer uma coisa, seu filho fará exatamente o oposto. À medida que as crianças
crescem, a influência social de seus pais tende a diminuir, e a de seus pares, a au-
mentar. Esse é um fenômeno descrito com grandes detalhes no livro The Nurture
Assumption [sem publicação no Brasil], de Judith Rich Harris.
Um dos principais argumentos do livro de Harris é que os pais ainda podem
exercer uma forte influência sobre o que seus filhos fazem e como agem, mas esse
mecanismo não é direto. Duas das maiores influências que os pais têm sobre seus
filhos ao longo do tempo são (1) os genes que lhes transmitem e (2) os ambientes
sociais que selecionam para eles. Em outras palavras, os hábitos de seus filhos são
fortemente influenciados por seus colegas, mas você pode influenciar com que co-
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legas ele conviverá. Pode escolher em qual bairro moram, qual escola frequentam,
quais atividades extracurriculares praticam e mais... e é nesses ambientes que eles
conhecem seus pares.
Para resumir a ideia de uma forma simples: se quiser que seus filhos achem de-
terminados hábitos atraentes, insira-os em ambientes e grupos em que seus colegas
também os pratiquem. Ou, como coloco em Hábitos Atômicos: junte-se a um grupo
em que o comportamento desejado seja o padrão.
Quando uma criança vê seus amigos executando um hábito, ele se torna uma
coisa muito atraente de se fazer.
Outra coisa inerentemente atraente é a liberdade e a autonomia. Especialmente
com crianças mais novas, os hábitos podem se tornar mais atraentes quando elas
exercem poder sobre eles.
Aqui está um exemplo de Janet Lansbury, a autora de No Bad Kids [sem publi-
cação no Brasil]:

Então, quando ele disser: “Não, não quero colocar o pijama”, fique calmo.

“Ah, tudo bem. Você não quer colocar o pijama. O que gostaria de usar na
cama? Ou talvez: “Qual destes (2) pijamas você quer usar?” Ou “Entendo
que não queira vestir o pijama. Perfeitamente compreensível. Mas não
teremos tempo para ler um livro se você não o vestir nos próximos cinco
minutos.” Ou “Você gostaria de colocá-lo agora ou em cinco minutos?”
A chave é continuar a encorajar sua autonomia e oferecer opções para
que a criança não se sinta cumprindo ordens. Continue no comando sem
esforço. Não se sinta ameaçado. No pior cenário: a criança dorme com
suas roupas normais.1

É a mesma coisa que ser obrigado a ler um livro para a aula de inglês versus es-
colher ler o livro por conta própria. O mesmo hábito pode passar de desinteressante
a atraente dependendo de quem está no controle.

1  Lansbury, Janet. No Bad Kids: Toddler Discipline Without Shame (pg. 58). JLML Press. Edição Kindle.
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A 3ª LEI

A 3ª Lei da Mudança de Comportamento é torne-o fácil. Essa lei está associada


à resposta, que é o comportamento real ou o hábito praticado. É mais provável que
os comportamentos sejam realizados quando são fáceis — isto é, quando podem ser
realizados com facilidade. Antes de compartilhar os detalhes desse passo, quero lhe
lembrar de um ponto importante que escrevi em Hábitos Atômicos sobre a 3ª Lei:
“A ideia por trás de torne-o fácil não é apenas fazer coisas fáceis. A ideia é tornar o
mais fácil possível no momento de fazer as coisas que compensam em longo prazo.”
Muitos pais cometem um erro ao tornar a vida fácil demais para seus filhos:
eles escrevem trabalhos escolares para eles, têm conversas difíceis com treinadores
e professores para eles e, de algum modo, intervêm sempre que um problema ou
desafio surge. Isso pode “facilitar” no momento, mas viola a mensagem que acabei
de compartilhar. Esse “excesso de proteção” não ajuda seu filho nas coisas que com-
pensam em longo prazo.
Em vez de fazer o trabalho para seu filho, facilite que ele faça a tarefa sozinho.
Por exemplo, organize o ambiente de lição de casa do seu filho para o sucesso. Cer-
tifique-se de que ele tenha um lugar tranquilo com canetas, lápis e papel e uma sala
relativamente livre de distrações. (Para ter mais ideias sobre design de ambiente, veja
os Capítulos 6 e 12 de Hábitos Atômicos.)
Uma estratégia semelhante pode ser usada para o ambiente social. Por exemplo,
você pode fornecer a seu filho adolescente as respostas exatas para lidar com a pressão
dos colegas. Esse tipo de preparação facilita a ação desejada no momento.
Como acontece com qualquer hábito, quanto mais cedo começar com essas
mudanças, melhor. Na minha escola, durante o ensino médio, havia uma família
de quatro irmãos. Eu me lembro do dia em que descobri que eles não tinham uma
única televisão em casa. Fiquei chocado.
Quando penso naquela memória hoje, não é tão espantoso para mim que todos
os quatro irmãos fossem extremamente inteligentes, muito bem versados e tenham
frequentado excelentes faculdades. Desde muito cedo, eles aprenderam a amar os livros.
Enquanto o resto de nós estava jogando videogame e assistindo à ESPN, eles liam.
Esse tipo de design de ambiente é muito extremo para o gosto de muitas pessoas,
mas não se pode negar o ponto central: as crianças (e seus pais) são frequentemente
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um produto do ambiente. Se quer que seus filhos desenvolvam certos hábitos, tor-
ne-os a opção conveniente e fácil dentro do ambiente.
É muito mais fácil criar um hábito de leitura quando não há televisores por perto.

A 4ª LEI

A 4ª Lei da Mudança de Comportamento é torne-o satisfatório. Esse é o estágio


final do ciclo de hábitos e está relacionado à recompensa. Se houver uma recompen-
sa associada a um comportamento — isto é, se ele o fizer se sentir bem e tiver um
final satisfatório —, teremos um motivo para repeti-lo no futuro. No Capítulo 15 de
Hábitos Atômicos, escrevo: “As três primeiras Leis da Mudança de Comportamento
— torne-o claro, torne-o atraente e torne-o fácil — aumentam as chances de que um
comportamento seja executado desta vez. A 4a Lei da Mudança de Comportamento
— torne-o satisfatório — aumenta as chances de que um comportamento se repita
da próxima. Isso completa o ciclo de hábitos.”
Para que qualquer hábito se mantenha, seus filhos devem achá-lo satisfatório ou
agradável de alguma forma.
Uma boa notícia para os pais: o elogio é naturalmente satisfatório, e os pais estão
em uma posição perfeita para oferecê-lo. Toda criança gosta de ser elogiada por seus
pais por um trabalho bem-feito.
Claro, isso é o oposto do que muitos pais fazem. Frequentemente, os pais criticam
o exato comportamento que esperam que os filhos exibam. Quando uma criança
introvertida se junta à família para o jantar, dizem algo como: “Ora, veja quem de-
cidiu se juntar a nós.” Esse comentário torna insatisfatório fazer exatamente o que
você esperava que ela fizesse. Não critique o comportamento que deseja ver.
Como resultado, acho que é eficaz para muitos pais manter essa filosofia em
mente: elogie o bom, ignore o mau.
Isso não significa que deva ignorar todos os erros cometidos por seus filhos e
nunca os corrigir. (Com certeza, será impossível para você fazer isso. A crítica, por
qualquer motivo, parece vir naturalmente. Os pais frequentemente se veem dizendo
não o dia todo: não suba naquilo, não pegue isso do chão, não toque nisso, não agora,
não entre lá, e assim por diante.) Significa que deve se lembrar de se concentrar nas
partes boas do comportamento e elogiá-los pelas ações que deseja ver.
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Veja o que Janet Lansbury tem a dizer, dessa vez fornecendo um bom exemplo
de como deve ser “ignorar o mau” em um contexto do mundo real. Ela recomenda
dar uma resposta banal, que é uma reação comedida:

As respostas banais também são úteis quando as crianças choramingam,


gritam ou experimentam o novo palavrão que ouviram na pré-escola. É
muito mais provável que as crianças esqueçam essa palavra e parem de
choramingar ou gritar se desempoderarmos o comportamento ignorando-o
(o que não significa intencionalmente ignorar nosso filho) ou dando uma
ordem banal ou displicente como “Isso está um pouco alto demais” ou
“Essa é uma palavra feia. Por favor, não fale assim”.2

A ideia básica é a seguinte: sempre que possível, use o reforço positivo em vez
do negativo.
Uma maneira criativa de fazer isso que ouvi é criar um sistema de “fichas” ou
um sistema de “pagamento” para seus filhos. Mas a chave é apenas acrescentar um
valor ou ficha quando seu filho faz algo bom, não retirar nada quando faz algo ruim.
A mesada normal é retirada como punição quando uma criança quebra as re-
gras. Mas pode ser mais eficaz considerar como você pode incentivar bons hábitos
acrescentando valor a ela. Por exemplo, se a criança escolher ler um livro por uma
hora em vez de assistir à televisão, ela receberá outra ficha. Ou pode ganhar fichas
cumprindo tarefas, obtendo boas notas ou praticando outros hábitos valiosos.
Em última análise, a ideia é tornar satisfatório fazer a coisa certa.
É isso! Espero que tenham gostado deste bônus. Para ver mais ideias sobre como
aplicar as Quatro Leis da Mudança de Comportamento e criar hábitos melhores
(tanto em crianças quanto em adultos), leia Hábitos Atômicos.

2  Lansbury, Janet. No Bad Kids: Toddler Discipline Without Shame (pg. 50). JLML Press. Edição Kindle.

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