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Resistências reprodutivas nas ocupações da Izidora,

em Belo Horizonte (MG)

Daniela de Oliveira Faria


Graduada em Arquitetura e Urbanismo.
ddanielafaria@gmail.com

Eixo: A cidade sul-americana contemporânea sob a perspectiva


do Sul Global

Zilah Spósito. Helena Greco. Jaqueline. Etelvina Carneiro. Juliana. Maria Tereza. Dona Rosarinha.
Baronesa. Izidora. Rosa Leão. Esperança. Vitória. Quando observamos os nomes dos bairros de Belo
Horizonte e de sua região metropolitana, facilmente identificamos que boa parte deles leva o nome
de alguma mulher e isso não muda quando nos referimos às ocupações urbanas da cidade – esses
são apenas alguns que rondam a região da Izidora.

A Região da Izidora está localizada no Vetor Norte da cidade de Belo Horizonte e, após anos sem
exercer sua função social, hoje o território é fonte de vida e luta para milhares de famílias que o
ocuparam em meados de 2013 e formaram as ocupações Rosa Leão, Esperança e Vitória. Izidora, que
recebeu o nome em homenagem a uma escrava alforriada que viveu na região, é território garantido
a partir da luta de mulheres negras e pobres que trabalham diariamente na liderança e nas ações
ligadas ao cuidado da comunidade.

Primeiramente, narro aqui um pouco desse cotidiano de luta e manutenção da vida a partir de cinco
histórias que ouvi e vi acontecerem nas ocupações. Depois, discuto o papel dessas mulheres nas
atividades que desempenham.

História um

Não é novidade que a maioria das lideranças e coordenações das ocupações são mulheres, mas
pouca gente se pergunta como é o dia a dia e como elas se articulam para coordenar tarefas,
reuniões, mobilizações, moradores, problemas diários e, claro, suas vidas pessoais. Acredito que este
caso deixe isso um pouco mais claro.

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Há um tempo já estavam acontecendo fofocas com relação a uma coordenadora das ocupações,
fofocas que, no geral, diziam que o dinheiro da comunidade estava sendo desviado e utilizado por ela
para seus gastos próprios e pessoais – “enquanto passamos dificuldade, ela, desempregada, está
colocando megahair, tirando carteira de motorista e pagando faxineira”. Com intuito de resolver essa
questão, foi organizada uma assembleia e muita gente compareceu para entender o que estava
acontecendo – e nunca ficou mais evidente a força que tem a rede de mulheres das ocupações.

Amigas e companheiras de luta da mulher começaram a explicar: algumas delas se ofereciam para
arrumar a casa da coordenadora gratuitamente, ela não havia contratado uma empregada
doméstica; outra delas disse que achava justo maquiar e arrumar o cabelo da amiga para que ela
fosse bonita para reuniões e mesas de negociação – também sem cobrar por isso; houve, ainda, um
senhor que disse ter emprestado dinheiro para que ela conseguisse tirar carteira de motorista, já que
era algo necessário para poder comparecer aos diversos eventos em prol da ocupação.

Por fim, deixaram claro que fariam isso por qualquer um que estivesse à frente da luta e que
disponibilizasse suas horas pelo bem da comunidade.

História dois

Em uma das visitas à ocupação Rosa Leão, me foi dito que a coordenação tinha acabado de tomar
frente de um caso sério de violência doméstica que acontecia no interior da casa de uma moradora –
aqui, vou chama-la de Isidora. Tudo começou quando uma de suas vizinhas sentiu falta de sua
presença na rua em que moravam e procurou saber o que tinha acontecido. Isidora estava há dias
passando por situações graves de assédio e violência por seu marido e foi encontrada com a perna
quebrada em sua casa. Assim, a comunidade decidiu tomar a decisão de que se aquilo se repetisse, o
homem teria de ser expulso da ocupação.

Se repetiu. E, como havia sido combinado, o homem foi expulso. Acontece que o caso não para por
aí: Isidora já havia perdido a guarda de um filho e, caso não erguesse uma casa de alvenaria para
morar em um curto prazo, acabaria perdendo a guarda do outro. Assim, a rede de mulheres e
lideranças da ocupação uniram forças e, com a ajuda de um pedreiro, começaram a pensar em como
construir uma nova casa para Isidora.

História três

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8 de março de 2016 – Dia Internacional da Mulher. Foi nessa data que aconteceu a ocupação
temporária do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) por moradoras das ocupações da
Izidora. Enquanto a manifestação acontecia, uma das lideranças tratava do pé machucado de um
menino que teve atendimento negado pelo posto de saúde. A cena, por si só, explicava o motivo de
se celebrar o dia da mulher dessa forma.

Moradores e moradoras da Izidora não estavam sendo atendidos pelo SUS, já que sem comprovante
de endereço não eram cadastrados no posto de saúde que atende a região. E, sendo
responsabilizadas na maioria das vezes pelas tarefas de cuidado de filhos e parentes, são as mulheres
que acabam recebendo a sobrecarga quando o direito à saúde é negado pelo Estado. A solução para
o problema muitas vezes é deixar os filhos em espaços informais de cuidado dentro da própria
ocupação – espaços, esses, que quase sempre acontecem na casa de uma moradora e que
dificilmente são oficializados pelo Estado.

História quatro

Após o ato de ocupação do CRAS pelas moradoras da Izidora, a discussão sobre o acesso à saúde
pelos moradores das comunidades começou a acontecer de forma mais direta e efetiva. Em 2017,
participei de uma conversa na ocupação Esperança relacionada à possibilidade de cadastro dos
moradores ou de construção de um novo centro de saúde que pudesse atender essa população com
participação das lideranças, de estudantes e de agentes do SUS.

A conversa aconteceu em formato de oficina com objetivo de facilitar a comunicação entre os atores
ali presentes, de ouvir as demandas dos moradores que participavam e de pensar diretrizes possíveis
para que a saúde chegasse à população da Izidora. Assim, nos dividimos em grupos e cada um
recebeu um tema para discutir e avaliar – no meu grupo, debatemos “o que é saúde para você?”

Começamos, então, a escrever em fichas e desenhar nossas ideias do que significava ter saúde ou ser
saudável e, assim, apresentamos nossas produções entre nós mesmos. Nesse contexto, achei
interessante observar o que era dito pelos moradores ali presentes. Diferente do que eu esperava,
para eles, saúde era o equivalente à prevenção de doenças, o que envolveria comer produtos
orgânicos, ter saneamento básico, fazer exercícios físicos e morar bem.

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História cinco

Outro caso interessante que me contaram e aconteceu em uma das ocupações envolve o sistema de
esgotamento sanitário da região. Quando a comunidade se formou, e é isso o que normalmente
acontece, cada família autoconstruiu sua casa e, como solução para o tratamento de águas negras,
ou seja, do vaso sanitário, em cada quintal foi construída uma fossa. Com o passar dos anos e com o
preenchimento dessas fossas, novas fossas foram abertas e a solução acabou ficando saturada para a
região.

Assim, foi necessário pensar em outras estratégias para solucionar o escoamento do esgoto da
comunidade. Alunos de uma faculdade de arquitetura começaram, então, a realizar um trabalho com
a população e, em um final de semana, levaram mapas e plantas da ocupação em grande escala para
que todos pensassem e desenhassem juntos uma proposta de rede de esgoto. Nessa atividade,
ficaram alunos e moradoras deitados e sentados no chão, sobre os papéis, desenhando, escrevendo,
conversando e projetando juntos o que poderia ser uma solução coletiva.

Enquanto isso, os homens moradores da ocupação apenas observavam. Quando um deles foi
questionado do motivo pelo qual não estava participando da atividade, disse algo parecido com: “pra
botar fogo no mundo as mulheres são ótimas, mas na hora de abrir buraco é a gente que faz”.

***

Essas histórias contam um pouco sobre o dia a dia das ocupações da Izidora, as relações que se dão
entre gêneros nesses espaços e sobre as alternativas criadas quando há negação dos direitos básicos
a essa população. Sempre me surpreendeu o fato de que as lideranças das ocupações urbanas são,
em grande maioria, mulheres. Entretanto, nunca tinha parado para refletir sobre a importância das
outras diversas funções que elas desempenham diariamente fora dos espaços de negociação; e,
ainda, sobre outras mulheres que, apesar de não estarem à frente do conflito, realizam ações de
suma relevância para a resistência como um todo.

Antes de prosseguir, gostaria de deixar claro meu incômodo. Como mulher branca de classe média e
acadêmica, ao buscar a perspectiva de pontos de vista silenciados, me proponho a realizar um
trabalho que não reproduza os processos de subalternização que são comuns à ciência. Ao falar com
(não sobre, nem para) as mulheres negras e pobres moradoras das ocupações, me coloco, então, no

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espaço entre, em fronteira: não sou “de dentro”, mas também não sou completamente “de fora”.
Afinal, ao escolher trabalhar e lutar com essas mulheres, me desloco dos meus lugares de origem e
me aproximo um pouco delas. (LOPES, 2017)

Entretanto, não busco aqui falar como se fosse elas ou, ainda, uma representante delas – para
explicar isso melhor, recorro ao conceito de conhecimento situado, de Donna Haraway, que acredita
que os paradigmas descorporificados de neutralidade, objetividade e universalidade da ciência são,
na verdade, mitos. A visão de mundo de quem cria a ciência é quase exclusivamente a visão de
mundo de homens brancos privilegiados, de maneira que não é possível acreditar ela seja imparcial –
afinal, eles não possuem “um olhar conquistador que não vem de lugar nenhum” (HAWARAY, 1995),
ninguém possui.

Haraway argumenta que devemos admitir nossas posições, chegando, assim, à conclusão de que o
conhecimento é limitado e parcial. Dessa forma, a partir dos saberes feministas, não escondo minhas
subjetividades e mediações e nem busco produzir um conhecimento inocente quanto aos poderes –
ao contrário, tento refletir como significados e corpos são construídos e, assim, viver melhor neles ao
invés de negá-los (LOPES, 2017).

Portanto, lanço a proposta de produzir conhecimento como prática política, contestando e


desconstruindo. Ao mesmo tempo, reconheço que minhas experiências com as ocupações da Izidora
não se dão fora de campos de poder – meus marcadores sociais são elementos constitutivos das
trajetórias e reflexões que se desdobram dos encontros entre mim e Izidora. Dessa forma, este
trabalho é uma história das mulheres da Izidora através de mim. Mas por que falar a partir das
mulheres moradoras das ocupações? E qual o sentido de refletir sobre suas experiências e não sobre
as experiências de moradores e moradoras de ocupações de maneira geral?

Durante muito tempo o movimento feminista trabalhou com a categoria universal de “mulheres”,
esquecendo que somos diversas: brancas, negras, lésbicas, indígenas, latinas, europeias, nordestinas
etc. Partindo do ponto de que “somos todas mulheres”, nós, mulheres brancas, acabamos
desconsiderando nossos privilégios e o fato de que podemos acabar oprimindo outras mulheres – ou
seja, quando desconsideramos nossas diferenças, silenciamos opressões.

A Declaração de Sentimentos, assinada em Seneca Falls em 1848, considerada um dos pontos de


partida do movimento feminista, deixa isso claro: o foco do documento era a instituição do

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matrimônio e seus diversos efeitos prejudiciais às mulheres (o casamento tirava delas o direito à
propriedade, dava aos seus maridos o direito de puni-las, as sujeitava a desigualdades nas
instituições de ensino e na carreira) e a reclamação de que as leis de divórcio eram totalmente
baseadas na supremacia masculina (DAVIS, 2016).

Apesar disso, a declaração em momento algum realiza uma análise da condição feminina
considerando as circunstâncias das mulheres que não pertenciam à classe social das autoras do
documento. Na mesma época, entretanto, as mulheres que trabalhavam em fábricas eram
submetidas a condições de trabalho atrozes, alojamentos desumanos, refeições escassas e
estragadas, higiene precária e doenças como a tuberculose e a pneumonia.

Válido lembrar, ainda, que essas mulheres já organizavam paralisações e greve militando contra a
dupla opressão que sofriam (como mulheres e como operárias) muito antes da Convenção de Seneca
Falls. Ou seja, enquanto as mulheres brancas lutavam por um espaço no mercado de trabalho, as
mulheres pobres e negras já sabiam, há tempo, que o trabalho não seria o meio para sua libertação –
entretanto, elas não tinham espaço para discutir essas questões no movimento feminista.

“The Feminine Mystique”, de Betty Friedan, 1963, que até hoje é saudado como símbolo do
movimento feminista, também foi escrito como se outras mulheres nem existissem. “O problema
que não tem nome”, famosa frase de Friedan, se refere à situação de uma minoria de mulheres
brancas casadas, com formação universitária, de classe média e alta – mulheres que estavam
cansadas com a vida de donas de casa, entediadas com o lazer, a casa, os filhos, que queriam “mais”
da vida (hooks, 2015).

Esse “mais” seria, então, a profissão: mas nada se discute sobre quem seria chamada para cuidar dos
filhos e manter a casa se essas mulheres fossem libertadas do trabalho doméstico para terem acesso
às mesmas profissões dos homens brancos. Nada se fala, ainda, sobre qual profissão seria mais
gratificante: dona de casa ou empregada, babá, secretária e prostituta.

Ou seja, o livro conta, basicamente, sobre preocupações que não eram condizentes com a maioria
das mulheres, mais atentas à sobrevivência econômica e à discriminação étnica e racial. Enfim, o
texto pode ser considerado um caso sobre narcisismo e insensibilidade – e essa perspectiva
unidimensional da realidade das mulheres acabou se tornando uma característica marcante do
movimento feminista contemporâneo.

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Por esse motivo, inclusive, muitas mulheres negras se sentem incomodadas no movimento feminista
até os dias de hoje. Sendo protagonistas de movimentos negros e indígenas e muitas vezes vítimas
de reprodução de práticas sexistas e de sua exclusão dos espaços de decisão desses movimentos,
elas garantem consciência de sua discriminação sexual. Entretanto, no movimento feminista, o que é
visto são práticas de exclusão e dominação racista que as descolorizam e desracializam (GONZALEZ,
2011).

Nesse contexto, no caso da dissolução de algum grupo, a tendência dessas mulheres é continuar a
militância dentro do movimento negro, onde, pelo menos, sua rebeldia e espírito crítico se dão num
clima de maior familiaridade histórica e cultural. Justamente por isso, o número de mulheres negras
dentro do movimento feminista não é significativo – o que alguns atribuem ignorantemente a um
suposto desconhecimento das mulheres negras em relação à discriminação de gênero.

Devemos compreender que as opressões de sexo, raça e classe estão interligadas. As mulheres
negras estão coletivamente na parte inferior da escada do trabalho e em condição social geral
inferior à de qualquer outro grupo. Elas não assumem, em nenhum momento, a posição/papel de
explorador/opressor, diferente do que acontece com as mulheres brancas e os homens negros,
tendo, assim, uma experiência de vida que desafia diretamente a estrutura social sexista, classista e
racista vigente.

Por esse motivo, escolho falar a partir das histórias e do ponto de vista das moradoras de Izidora,
pois como reflete a pensadora feminista negra bell hooks: “é essencial para a continuação da luta
feminista que as mulheres reconheçam o ponto de vista especial que a nossa marginalidade nos dá e
façam uso dessa perspectiva para criar uma contra-hegemonia” (hooks, 1995). As mulheres negras
têm um papel central na construção da teoria feminista, com uma contribuição única e valiosa e o
feminismo latino-americano perde muito de sua força ao abstrair da realidade seu caráter
multirracial e pluricultural, recaindo em um racionalismo universal abstrato, típico de um discurso
masculinizado e branco (GONZALEZ, 2011).

Portanto, é interessante reparar não somente no papel das lideranças dentro das ocupações e na
negociação do conflito, mas também no papel das mulheres que desempenham tarefas relacionadas
à manutenção da comunidade e contribuem, da mesma forma, para a resistência da ocupação. Nesse

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sentido, as trocas que envolvem as coordenadoras e outras moradoras (retratadas na primeira
história) chamam a atenção.

Por um lado, essas trocas são essenciais para que as ocupações tenham participação popular na
negociação do conflito. Como as reuniões com o Estado são marcadas em horário comercial, as
lideranças não conseguem assumir responsabilidade com um emprego fixo, fazendo com que, de
fato, precisem de uma ajuda diária de outras moradoras para realizar tarefas domésticas. Por outro
lado, essas trocas permitem que outras mulheres se sintam parte da resistência – apesar de não
conseguir participar ativamente da negociação do conflito, elas podem, por exemplo, ajudar a
coordenadora a se arrumar para uma reunião ou ajeitar sua casa.

E, de fato, apesar de serem retratadas romanticamente como guerreiras, as lideranças das


ocupações estão sob uma carga enorme de trabalho e opressão, pois ao escolher assumir (ou
acabarem assumindo) esse papel, se tornam referência para basicamente tudo o que acontece na
comunidade, como mostra uma das lideranças na fala abaixo.

“É... O dia a dia é bem agitado. Não só agitado. Você tem que se doar ao máximo e
esquecer de si mesmo. Então o dia a dia é isso. É você doar seu tempo pro próximo e
esquecer da sua família. Porque é o dia todo gente te chamando no portão, dia e noite
chamando no portão. Às vezes chama pra resolver briga de marido e mulher. Incrível!
Umas coisas assim, incrível! Às vezes você vai atender um morador e cê tem que escutar o
sofrimento dele e aquilo cê não pode cortar e acaba perdendo um tempo enorme
escutando as lamúrias. Então de fato meu dia a dia é psicóloga, é médica, é advogada, vira
polícia, vira juiz, cê vira professora, cê vira...tudo na verdade, né? Um pouquinho de cada
coisa. Porque a maioria das pessoas que procura a gente, as coordenações, são pessoas
que de fato têm uma carência grande ao longo da vida toda. E tenta buscar na pessoa que
é como ela e que representa pra ela um apoio né? Uma escuta, um carinho. Dizer assim,
“eu não estou sozinho”. Acho que é mais nesse sentido que as pessoas procuram a gente,
sabe? É isso, o dia a dia é muito truculento, turbulento, turbulento melhor dizendo. Você
tem que ser militante, coordenadora, mulher, mãe, esposa e tudo ao mesmo tempo.
Então imagina, não deve ser fácil não, né?” (LOPES, 2017)

Entretanto, não podemos esquecer que as demais moradoras também estão sujeitas a uma vida de
intenso trabalho. Apesar de não terem constituído a frente do movimento contra o trabalho
doméstico e raramente tenham sido apenas donas de casa, as mulheres negras sempre realizaram
essas tarefas, carregando então o duplo fardo do trabalho assalariado e das tarefas domésticas. Com
a intrusão adicional do racismo, um vasto número de mulheres negras ainda cumpre as tarefas de
sua própria casa e também os afazeres domésticos de outras famílias.

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E essa é a realidade de muitas moradoras da Izidora. Como não podem se dar ao luxo de escolher
entre trabalhar ou não no mercado de trabalho, muitas vezes abrem mão de cuidar de seus filhos e
de sua casa para fazê-lo para outras famílias. Portanto, é complexo tratar das redes de
autorganização das mulheres apenas pelo seu lado positivo: elas também são parte de um contexto
de intensa exploração de trabalho.

Foi por esse motivo, inclusive, que as moradoras da Izidora resolveram, no Dia da Mulher, ocupar o
Centro de Referência de Assistência Social como protesto pelo seu direito e de sua família ao acesso
à saúde pública. Afinal, quando direitos são negados, é sobre os ombros das mulheres negras que
recai o sobretrabalho. Ao mesmo tempo em que os homens possuem um maior leque de oferta de
serviços no mercado de trabalho, são eles que recebem os maiores salários – portanto, caso seja
necessário que alguém fique em casa para cuidar das crianças em caso de doença ou de falta de
creches, a mulher será responsabilizada não somente em função da mentalidade machista, mas
também por razões práticas. Isso, claro, sem levar em consideração o grande número de mães
solteiras que vivem em ocupações.

Também não se pode negar o tanto que essas redes de cuidado unem e criam vínculos entre as
mulheres. Por exemplo, o simples fato de uma moradora tomar conhecimento sobre outra nessas
redes faz com que naturalmente uma assuma responsabilidade afetiva e empatia pela vida da outra.
Se não fosse pelo grupo de mulheres que se organiza para cozinhar juntas quando há algum evento
na ocupação, Isidora, da história dois, talvez não tivesse sido resgatada tão rápido em sua casa.

Esse contexto me remete ao conceito de mãe coletiva, de Michelle Perrot. Ao retratar o papel das
donas de casa no espaço parisiense do século XIX em seu livro “Os excluídos da história”, a autora
descreve a função social desempenhada pelos lavadouros à época – ponto de intersecção de duas
tarefas femininas: a água e a roupa de casa. A lavagem de roupa de casa burguesa ocupava diversas
lavadeiras especializadas: mulheres livres, fortes, independentes, presentes na vida e nos
movimentos populares; e, na Paris do século XIX, lavava-se roupa em toda parte onde existia água
(PERROT, 1988).

“O campo se anima quando chegam as lavadeiras”, e elas podiam ser tanto profissionais, que lavam
roupa para as burguesas, donas de casa, que lavam suas próprias roupas, ou ainda uma categoria
intermediária, que lavam para si e ainda tiram uns trocados lavando para uma amiga ou vizinha. O

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espaço do lavadouro era, então, de conversas intensas e sua circulação externa também: por lá,
passavam cafeteiros ambulantes, fotógrafos, cartomantes e cantores ambulantes, que faziam as
mulheres cantarem a dançarem. Aquele era um local de trocas, trabalho e prazer, solidariedade e
ajuda mútua: no lavadouro, inclusive, as mães solteiras, rejeitadas na sociedade, encontraram
proteção – “o lavadouro era uma mãe coletiva” (PERROT, 1988).

Diversas iniciativas de autorganização das mulheres dentro das ocupações podem ser tratadas como
mães coletivas. As próprias lideranças, além de se responsabilizarem pela frente política do conflito,
acabam se responsabilizando também pelas vidas dos moradores da comunidade, o que é tratado na
segunda história. A coordenação da ocupação se encarregou de cuidar e proteger Isidora e isso
acontece também em diferentes contextos: questões que muitas vezes são colocadas no campo do
privado (afinal, “briga de marido e mulher não se mete a colher”) se tornam públicas e são resolvidas
como uma questão comunitária qualquer.

“O pessoal é político”, inclusive, é um dos principais slogans feministas, e traz a noção de que o que
acontece nas esferas privadas afeta diretamente e é afetado por aquilo que acontece na esfera
pública. Essa dualidade público/privado seria, então, uma forma de silenciar e invisibilizar o que
acontece na esfera privada – o que foi responsável por ter feito, por muito tempo, a violência contra
a mulher ser tida como um problema pessoal, e, assim, naturalizada.

Foi nesse contexto que as lutas feministas produziram diversos avanços legislativos sobre a violência
doméstica e o estupro, como a Lei Maria da Penha. Entretanto, ainda hoje, muitos acreditam que
estupro no casamento seja uma impossibilidade lógica, já que no âmbito privado o homem teria
direito sobre o corpo da mulher. Interessante, portanto, deixar claro qual a relação entre a separação
de público/privado e a separação de produção/reprodução e, assim, refletir em qual contexto a
violência contra a mulher se tornou uma estratégia política.

De uma maneira geral, ter um salário é algo que nos dá a impressão de que fazemos parte de um
negócio justo: trabalhamos e somos pagos por isso. Apesar disso, o salário é uma forma de ocultar
todo o trabalho não pago que resulta no lucro de patrões (só não podemos dizer que o salário não
seja uma forma de reconhecimento como trabalhador e um jeito de lutar contra termos e
quantidades desse salário).

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Afinal, para que exista o “mundo produtivo”, deve existir um “mundo reprodutivo”. Não acordamos,
vamos para o trabalho e produzimos valor sem cozinharmos nossa comida, limparmos nossa casa e
cuidarmos de nossa família. Existe um trabalho oculto enorme por trás de um trabalhador indo e
voltando do trabalho todos os dias; existe um trabalho oculto enorme por trás de cada aluno que vai
e volta das escolas todos os dias. Sem as tarefas domésticas, não produzimos, mas o trabalho que é
realizado em casa (no âmbito privado) não é pago, não possui valor.

A diferença principal existente no trabalho doméstico está no fato de ele ter sido imposto às
mulheres e transformado em um atributo natural da personalidade feminina – não sendo, assim,
reconhecido como trabalho, de tal forma que foi destinado a não ser remunerado. Somente nos
convencendo de que o trabalho doméstico é algo natural e inevitável que o capital conseguiria nos
convencer a trabalhar sem remuneração e, em uma bola de neve, a falta de remuneração do
trabalho doméstico é o que fortalece o senso comum de que ele não é um trabalho de fato. As
mulheres que lutam contra essa lógica são vistas como mal-amadas, e não como trabalhadoras em
luta (FEDERICI, 2019).

Essa estratégia do capital acabou por matar dois coelhos com uma cajadada só: ao mesmo tempo em
que foi possível obter uma grande quantidade de trabalho quase de graça e garantir que as mulheres
estivessem destinadas a fazê-lo; o capital, ainda, disciplinou o homem trabalhador, garantindo a ele
uma criada dependente de seu trabalho e de seu salário. “Tal como Deus criou Eva para dar prazer a
Adão, assim fez o capital criando a dona de casa para servir física, emocional e sexualmente o
trabalhador do sexo masculino” (FEDERICI, 2017).

Claro, como já dito, as mulheres da Izidora não desempenham apenas a função de donas de casa,
mas também são responsabilizadas por essas tarefas, adquirindo, portanto, jornada de trabalho
dupla. E, nesse contexto, é possível imaginar que, quanto mais pobre a família, pior a situação a qual
a mulher está submetida – “quanto mais pancadas o homem leva no trabalho, mais bem treinada
deve estar sua esposa para absorvê-las e mais autorizado estará o homem a recuperar seu ego à
custa da mulher” (FEDERICI, 2019). Nesse contexto, é interessante discutir, ainda, as teorias sobre a
solidão da mulher negra.

“Aos 30 anos, cerca de 30% dessas mulheres já se encontram sós. Aos 50 anos, 41% das negras não
possuem um parceiro, enquanto que aos 60 anos esse valor atinge 71%. Em contraposição, somente

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27% dos homens negros chegam sozinhos aos 60 anos.” (BERQUÓ, 1988 apud SOUZA, 2008, p. 71).
Esses dados são apontamentos numéricos que fazem parte de um estudo que mostra que são poucas
as mulheres negras que conseguem se estabelecer romanticamente casadas e que o número de
famílias onde a mulher é mãe solteira é, em grande maioria, de mulheres negras (FRAGA, 2015).
Esses números possuem vínculos com a representação dessas mulheres como “mulatas de carnaval”,
“a fogosa”, “a mais quente”, a que se deve desejar, mas nunca amar.

As mulheres negras têm sido consideradas, já há muito tempo, corpo sem mente. A utilização dos
corpos femininos negros durante a escravidão como incubadoras para geração de mais escravos é
um exemplo prático da ideia de que “mulheres desregradas devem ser controladas”. Com objetivo
de justificar a exploração masculina branca e o estupro de mulheres negras, a cultura branca
reproduziu a ideia de que as mulheres negras são altamente sexuais, dotadas de um erotismo
primitivo e desenfreado (hooks, 1995).

Contra essa lógica, portanto, as mulheres das ocupações formam redes de autocuidado e afeto, e,
assim, se protegem contra violências do Estado, da pobreza e dos homens. Não menos importante,
essas redes são, ainda, espaços para troca de saberes. Nesse contexto é interessante refletir como as
mulheres, desde sempre, articulam redes e criam laços em função de uma experiência comum de
opressão – Silvia Federici, em Calibã e a Bruxa, retrata a relação inter-racial existente entre mulheres
europeias, indígenas e africanas nas colônias sul-americanas.

No Caribe, por exemplo, mulheres brancas sem-terra eram relegadas ao trabalho manual nas
plantations e, nesse universo, sociabilizavam intimamente com a comunidade escrava; inclusive,
formavam lares e tinham filhos com homens escravos. Dessa forma, passou a se propagar entre elas
um sistema popular de crenças que tornou impossível distinguir o que era indígena, espanhol ou
africano – se formaram, literalmente, “alianças” de “mulheres que podiam construir em virtude de
sua experiência comum e de seu interesse em compartilhar conhecimentos e práticas tradicionais
que estavam ao seu alcance para controlar sua reprodução e combater a discriminação sexual”
(FEDERICI, 2017).

Porém, com a institucionalização da escravatura, a carga laboral para trabalhadores brancos e o


número de mulheres pobres vindas da Europa diminuíram. Independentemente de sua origem
social, todas as mulheres brancas ascenderam de categoria e, quando se tornou possível, passaram,

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também, a se tornar donas de escravos – geralmente, de mulheres, para que realizassem o trabalho
doméstico.

Até hoje, nas ocupações, as redes de mulheres são também redes de compartilhamento de saberes
populares, algo que está intrinsecamente ligado à manutenção da saúde na comunidade. Quando um
morador não está passando bem ou alguém se machuca, tenta-se, primeiramente, resolver a
questão na própria ocupação – e as mulheres são procuradas nesses momentos, muitas vezes com
alguma solução em mente: chás, ervas e plantas medicinais são muito utilizadas.

Por esse motivo, não deveria ser surpresa ouvir dos moradores de ocupações que ter saúde é
prevenir doenças, se alimentar bem, ter saneamento básico e fazer exercícios físicos. Com a negação
da saúde pública para essas pessoas, elas sempre tiveram de recorrer a outras maneiras de ter
saúde, que não a institucional. Entretanto, muitos de nós, acostumados com nossa realidade,
criamos necessidades universais e colocamos as soluções criadas e utilizadas pelas populações de
baixa renda como substitutos precários ou subnormais do que seria ideal – e isso não passa de uma
imposição cultural de nossa parte (BALTAZAR, KAPP, 2016).

Ivan Illich retrata essa questão muito bem em seu texto Needs. O fenômeno humano não é mais
definido pelo que é, que enfrenta, que consegue, que sonha e que produz a partir da escassez, mas
sim pela medida daquilo que lhe falta – ou seja, necessita. Assim, hoje, construímos uma política
mais ocupada com a provisão de recursos para sobrevivência definidos profissionalmente
(necessidades) do que com reivindicações pessoais de liberdade, que estimulariam ações autônomas.

“Essa situação cria o profissional e em parte o legitima. Ele é o único em posição de saber o que
estranhos necessitam, e sabê-lo melhor do que os próprios clientes, porque esses podem ter seu
juízo deturpado por vestígios culturais tradicionais” (ILLICH, 1978). Não busco, com isso, defender
que a luta pela saúde institucional não deveria existir nas ocupações, e sim que não deve partir de
pessoas que nem moram ali. Os moradores, mais do que ninguém, sabem quais são suas prioridades
e necessidades, de forma que não faz sentido impor uma política que não seja condizente com isso.

A própria atividade de plantio, aos olhos de quem compra alimentos prontos e paga alguém para
cozinhá-los, pode parecer uma atividade precária. Entretanto, plantar não é apenas uma forma que
essas pessoas têm de se proteger contra crises, mas também uma maneira de garantir segurança

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alimentar. Ao contrário de muitos moradores de ocupações, não sabemos qual a origem de nossos
alimentos ou mesmo se eles estão nos nutrindo ou nos envenenando. (FEDERICI, 2017)

E diversos são os lugares onde aparecem soluções alternativas e não tradicionais. No caso do esgoto,
por exemplo, são construídos círculos de bananeiras para receber águas cinzas provenientes da
cozinha, lavagem de roupa e banho; e fossas para receber águas negras, provenientes do vaso
sanitário. O problema, aqui, entretanto, é a durabilidade do sistema implantado.

Na grande maioria das vezes, a solução utilizada nas ocupações é a construção de fossas negras, um
modelo mais rústico que pode trazer mais riscos ao local onde é implantado. Nesse caso, diferente
da fossa séptica, os resíduos caem diretamente no solo, podendo infiltrar na terra, contaminar o
ambiente e produzir efeitos negativos à saúde. Quando implantada próxima a poços e mananciais, a
fossa negra apresenta ainda mais riscos e, além disso, com o tempo ela precisa ser esvaziada e
tratada.

Entretanto, nem sempre é realizada a manutenção, e a solução adotada pelos moradores acaba
sendo abrir novas fossas ao logo do tempo. Em uma das ocupações da Izidora, esse se tornou um
problema grave: foram abertas muitas fossas em terrenos muito íngremes, de forma que os resíduos
acabaram passando de um lote para o outro e, com a chegada da época de chuvas, a situação apenas
se agravou. Portanto, tornou-se necessário pensar em uma solução mais definitiva para a
comunidade.

Esse tipo de problema é muito comum nas ocupações e acaba não recebendo a devida atenção pelos
apoiadores, mais envolvidos na questão política, jurídica e negocial do conflito. Foi nesse contexto
que alguns arquitetos começaram a agir – não deram uma solução de imediato, mas discutiram
possíveis alternativas com os moradores, pensando, juntos, em uma estratégia. Acabou sendo
definido que um sistema tradicional de escoamento de esgoto teria de ser construído na ocupação.
Ao longo das discussões, atividades e mobilização, foi interessante, mais uma vez, observar as
relações entre os moradores e moradoras para resolução do problema.

A frase proferida por um dos ocupantes, contada na história cinco, resume o que aconteceu e se
repete em diversas atividades e conversas realizadas nas ocupações. “Pra botar fogo no mundo as
mulheres são ótimas, mas na hora de abrir buraco é a gente que faz” mostra a reprodução do
discurso de mulher-temperamental e homem-racional que ouvimos desde sempre.

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Não é de hoje que as mulheres lideram movimentos e lutas, inclusive ligados à posse da terra. Em
relação às lutas contra os cercamentos, no século XVII, na Inglaterra, alguns protestos eram
inteiramente femininos. No México e no Peru, durante os séculos XVI e XVII, as mulheres fugiram
para as montanhas e reuniram a população para resistir aos invasores estrangeiros e à expropriação
de terras, se tornando, assim, as defensoras mais firmes das antigas culturas e religiões, centradas na
adoração de deidades da natureza. Na África e na Ásia, durante o século XIX, as mulheres
defenderam os tradicionais sistemas femininos de agricultura dos ataques lançados pelos
colonizadores europeus para desmantelar e redefinir o trabalho agrícola como trabalho masculino.
Na África colonial, revoltaram todas as vezes que temeram que o governo pudesse vender suas
terras ou se apropriar de suas colheitas: contra isso, marcharam, acamparam diante de edifícios
administrativos durante semanas, “cantando alto e fazendo sentir a sua presença barulhenta”
(FEDERICI, 2019).

E são muitos outros os exemplos: os motins por alimentos, grande forma de motim popular no
século XIX, na França, quase sempre foram desencadeados pelas mulheres. Contra o aumento e
pagamento dos aluguéis, as donas de casa francesas desempenharam papel em primeiro plano:
quando a família não podia pagar, elas organizavam mudanças clandestinas ditas “na surdina” e iam
às ruas, aos gritos de “recibos ou morte”, batendo panelas e caldeirões e, por tais feitos, diversas
foram às prisões (PERROT, 1988).

A luta contra a introdução das máquinas, destruidoras do modo de trabalho tradicional e portadoras
de novas disciplinas, também foi protagonizada por mulheres. “O que há nas mulheres sobretudo é
que são terríveis, e o senhor sabe, assim como eu, que há vários exemplos de revoltas empreendidas
por mulheres” e “mais vale deixar as mulheres isoladas e dar-lhes trabalho para fazer em casa do que
reuni-las aos montes, pois as pessoas dessa categoria são como as plantas que fermentam quando
amontoadas” são frases que mostram a relevância do papel feminino nessas lutas na França do
século XVIII (PERROT, 1988).

Tendo toda essa história em vista, se torna difícil atribuir o protagonismo histórico feminino a um
temperamento específico. Por outro lado, também não podemos negar o papel desempenhado pelos
homens nas ocupações, mais ligado a serviços pesados da área da construção. Por que as mulheres
lideraram e continuam liderando movimentos e revoltas? O que elas estão defendendo? Por que elas
se colocam à frente dos conflitos, mas muitas vezes se ausentam de sua resolução prática?

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Referências

BALTAZAR, KAPP. Assessoria técnica com interfaces. Disponível em:


<http://www.mom.arq.ufmg.br/mom/arq_interface/2a_aula/2016_06_20_baltazar_kapp_enanparq.pdf>
Acesso em 02 Jun. 2019.
DAVIS, Angela. Mulheres, raça e classe. São Paulo: Boitempo, 2016.
FEDERICI, Silvia. O Calibã e a Bruxa. São Paulo: Elefante, 2017.
FEDERICI, Silvia. O ponto zero da revolução. São Paulo: Elefante, 2019.
FRAGA, Gleide. 2015. Sobre a solidão da mulher negra. Disponível em: <https://www.geledes.org.br/sobre-a-
solidao-da-mulher-negra/> Acesso em 21/06/2019.
GONZALEZ, Lélia. Por um feminismo afro-latino-americano. Disponível em:
<https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/271077/mod_resource/content/1/Por%20um%20feminismo%20Afr
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HARAWAY, Donna. 1995. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da
perspectiva parcial.
hooks, bell. Mulheres negras: moldando a teoria feminista. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-33522015000200193> Acesso em 29 Jun.
2019.
ILLICH, Ivan. 1978. Needs.
LOPES, Thais. 2017. Mulheres em luta: feminismos e direito nas ocupações da Izidora.
PERROT, Michelle. Os excluídos da História: operários, mulheres e prisioneiros. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1988.

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