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LIBERDADE FAMILIAR

Prof. Gustavo Kloh

Por meio da liberdade, é garantido aos indivíduos constituírem uma relação conjugal ou uma união
estável, e também dissolverem um casamento ou extinguirem uma união estável. Além disso, é possível
que haja a alteração do regime de bens na vigência do casamento, entre outras possibilidades que
demonstram a importância da liberdade no Direito de Família (DIAS, 2017).

A seguir, apresentamos a posição do ilustre autor José Maria Leoni Lopes de Oliveira (2018, p. 30)
acerca da liberdade no Direito de Família:

A formação da família é de livre vontade das pessoas, assim como a opção pela
modalidade de entidade familiar que deseja formar. Determina o art. 1.513 do CC/02
que é defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na comunhão
de vida instituída pela família. Por esta razão, o princípio da liberdade é também
denominado princípio da não intervenção.

O primeiro tema a ser discutido é a noção de família como uma questão pública ou uma questão a ser
tratada pelo Direito Privado. Historicamente, alguns países acreditavam que a família era uma questão
pública, pois, sob a ótica de Platão, os filhos deveriam ser tutelados com base nos interesses da
sociedade, ou seja, não haveria liberdade para que os pais organizassem a vida dos seus filhos como
eles quisessem. Da mesma forma, não haveria liberdade plena para que os casais se organizassem
como quisessem, devendo estabelecer-se com base nas normas impositivas de Direito Público.

Na vigência do CC/16, não existia família fora do casamento, ou seja, esse seria o único meio de
constituir uma família. Todas as regras eram extremante rigorosas, inderrogáveis e indiscutíveis, não
podendo ser alteradas ou sequer debatidas.

Hoje existem grandes discussões acerca da família e do intervencionismo do Estado na vida privada da
pessoa. Discute-se, por exemplo, sobre a possibilidade de as famílias poderem organizar-se em arranjos
mais flexíveis. No Brasil, no entanto, não é possível que se estabeleça esse tipo de discussão sem que
se considere a proteção do idoso (pelo Estatuto do Idoso), da criança (pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente) ou dos casais, sejam eles heteroafetivos ou homoafetivos na Constituição Federal de 1988.

Um tema altamente discutido no Direito de Família é o direito à desunião. A união estável tem as suas
características estabelecidas no Código Civil. No entanto, se as pessoas quiserem estabelecer-se em
uma estrutura como essa sem formar uma família, elas terão de estabelecer um contrato de namoro.

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Mesmo assim, se ficar comprovado que essas pessoas vivem como família, tal contrato poderá ser
plenamente desconstituído. Essas discussões se baseiam na liberdade que as pessoas têm de graduar
o quanto querem comprometer-se dentro de uma lógica familiar.

Em relação às crianças, muito se tem discutido sobre a figura do homeschooling, ou seja, sobre o direito
de os pais educarem os seus filhos fora de um ambiente escolar. Além disso, discute-se também se aos
pais é dado o direito de educar os seus filhos de acordo com os seus valores pessoais e religiosos, ou
se existe algum direito público de dar às crianças o direito de serem educadas todas da mesma maneira.
Nos Estados Unidos, por exemplo, há ampla liberdade em realizar o homeschooling. Já na França, tal
preceito é vedado pelo Estado. No Brasil, recentemente, o STF reconheceu que a matéria carece de
regulamentação, não sendo possível a sua implementação sem que haja alteração legislativa (RE
888.814).

Ainda quanto ao tema da liberdade, no Direito de Família, discute-se acerca das restrições ao direito de
testar e da disposição dos bens. Isso acontece porque, no Brasil, cônjuge e companheiro são herdeiros
necessários, o que gera diversas consequências patrimoniais. Dessa forma, o testamento não pode ser
feito sobre os 50% da herança dos cônjuges ou companheiros, logo, no que tange às disposições
patrimoniais, quem tem herdeiros necessários não pode dispor livremente dos próprios bens.

Por fim, é importante refletirmos sobre qual será o rumo a ser tomado pelo Direito de Família: um
Direito de Família mais liberal ou mais interventivo? Terminamos então com que se convém chamar de
“a grande dramaturgia”. Alguns autores, como o alemão Roland Barthes, pensam ser necessário que o
familiar tenha liberdade de poder organizar a sua própria vida. Nessa mesma direção, vai o autor
brasileiro Eduardo Leite, no seu livro recentemente publicado Direito a desunião.

Por outro lado, alguns autores mais tradicionais, como Maria Berenice Dias e Rolf Madaleno, defendem
uma intervenção estatal um pouco maior. Para eles, seria necessário que a pessoa pensasse na ideia
de afeto e, a partir dela, organizasse a sua própria vida familiar da maneira que melhor lhe conviesse,
considerando as várias modalidades oferecidas pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Referências bibliográficas

DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito de Famílias. 12. ed. ver., atual. e ampl. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2017.

http://ambito-juridico.com.br

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OLIVEIRA, José Maria Leoni Lopes de. Direito Civil: família. Rio de Janeiro: Forense, 2018.

TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil. 6. ed. rev., atual. e ampl. Rio de Janeiro: Forense; São
Paulo: Método, 2016.

www.ibdfam.org.br

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