Você está na página 1de 183

ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

PODER JUDICIÁRIO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

0002648-25.2020.8.08.0024
Nº do Processo

Nº do Volume 001
Data Ajuizamento 11/03/2020
Nº Petição Inicial 202003578745
Classe (7) Procedimento Comum
Natureza Infância e Juventude
Assuntos Principais Obrigação de fazer / Não Fazer;
Assuntos Secundários Liminar
Valor da Causa R$10.000,00
Vara Vitória – 1ª Vara da Infância e Juventude
11/03/2020 – 13:54
Data/Hora de distribuição
Distribuição por Sorteio
Por Dependência ao processo

Autor
(259463) MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
Promotora:00003/ES CINTIA FERNANDES

Réu
(956148321) JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR & ALICE FERREIRA AGUIAR
Advogado

Autuação
Aos 11 (onze) dias do mês de março ano de dois mil e vinte, nesta Cidade e
COMARCA DA CAPITAL – JUÍZO DE VITÓRIA e em meu cartório, autuo a petição e
documentos que adiante se seguem. Eu, _______________________ Escrivão,
subscrevi.

0002648-25.2020.8.08.0024

MENSAGEM POSTAL
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

AO JUÍZO DA __ VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA COMARCA DE


VITÓRIA/ES.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por meio da Promotora de Justiça que


esta subscreve, no uso de suas atribuições legais e institucionais previstas no art.
127, caput, da CRFB/88, vem, perante a Vossa Excelência, propor a presente:

AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/ DEFERIMENTO LIMINAR


DO PEDIDO

Em face de:

JEREMIAS SALOMÃO AGIUAR, brasileiro, casado, empresário,


inscrito no CPF sob o nº 254.695.133-57 e portador do RG nº
1.562.879 SSP/ES, residente e domiciliado à Rua Eugênio Netto,
154, Bairro Santa Lúcia, Cep: 29.054-555, cidade de Vitória/ES;

ALICE FERREIRA AGUIAR, brasileira, casada, autônoma, inscrita


no CPF sob o nº 139.584.999-75 e portadora do RG nº 2.356.965
SSP/ES, residente e domiciliada à Rua Eugênio Netto, nº 154, Bairro
Santa Lúcia, Cep: 29.054-555, cidade de Vitória/ES.

Pelos motivos de fato e direito que passa a expor:

I – DOS FATOS

Em síntese, narram as peças informativas as quais acompanham a presente inicial


que, no dia 06 de janeiro de 2020, chegou à ciência do Conselho Tutelar de Vitória-
ES, através do “OF.DIR.01/2020” encaminhado pela Diretora da escola particular de
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

ensino infantil “Portal Criança” (DOC.01), que JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e


ALICE FERREIRA AGUIAR, encontravam-se pendentes do envio da caderneta de
vacinação de suas filhas, as menores Margarida Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira
Aguiar, de quatro e seis anos, nascidas em 06.09.2015 e 22.01.2013,
respectivamente. Informa o aludido ofício que o período de pré-matrículas iniciou-se
em 05 de Dezembro de 2019, e os genitores, apesar de matricularem as suas filhas
nesse mesmo dia, conforme se verifica pelas Fichas de Matrícula nº 202001 e nº
2020012 (DOC.02), não teriam ainda entregue os comprovantes de vacina,
indispensáveis à efetivação do ato.

Quando do envio do “OF.DIR.01/2020” ao Conselho Tutelar, a Diretora da Escola


Infantil, Maria Eduarda Cavalcanti, informou que, caso os cartões de vacina não
fossem entregues até o início do período letivo, Margarida e Violeta estariam
impossibilitadas de freqüentar as aulas, perdendo, via de conseqüência, as pré-
matrículas realizadas. Não obstante, os réus se demonstraram indiferentes à
situação, expressando, inclusive, o desejo de não efetivarem as matrículas das
crianças, motivo pelo qual, no dia 10 de janeiro de 2020, o Conselho Tutelar desta
capital apresentou, perante o Ministério Público, um pedido de orientação e
advertência (DOC.03) aos pais, para que vacinassem suas filhas.

Conforme se infere, os réus foram notificados para, no dia 15 de janeiro de 2020,


se dirigirem até a sede desta Promotoria de Justiça a fim de prestar
esclarecimentos acerca dos fatos informados pelo Conselho Tutelar, bem como
serem advertidos a proceder imediatamente à vacinação de Margarida e Violeta
(DOC.04).

No entanto, conforme se depreende pela Ata de Atendimento (DOC.05), os réus se


recusaram a proceder na determinação exarada pelo Ministério Público, alegando,
para tanto, questões religiosas, visto pertencerem à “Igreja Gênesis II da Saúde e
da Cura” que “proíbe a contaminação por vacina”. Ainda consoante a aludida Ata,
afirmaram os réus, quando do atendimento, que “a imposição do Estado afronta o
Direito de liberdade religiosa garantido constitucionalmente. Somos contra a
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

educação escolar, e por isso gostaríamos de educar as meninas em casa, sem a


interferência do Estado.”

É cediço que o desejo dos pais vai de encontro ao que dispõe a Lei nº 9394/96 –
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – a qual afirma que a educação formal deve ser
oferecida em instituições próprias, oportunizadas pelo Estado e garantidas pelos
responsáveis, os quais têm a obrigação de matricular no ensino infantil os filhos de
4 a 6 anos de idade.

Ademais, os genitores de Margarida e Violeta se negam a cumprir a obrigação de


vacinar as incapazes, em flagrante inobservância às Leis Federais nº 8.069/90;
8.080/90 e a Lei Estadual nº 10.913/2018, vigente em todo o território do Estado do
Espírito Santo, a qual determina que é obrigatório aos pais ou responsáveis legais
a apresentação do Cartão de Vacina dos filhos menores de 18 anos, no ato da
matrícula, prorrogando-se até o prazo máximo de 30 dias, sob pena de
comunicação ao Conselho Tutelar para as providências cabíveis.

Isto posto, uma vez frustradas as tentativas extrajudiciais a compelir JEREMIAS e


ALICE a cumprirem as exigências legais mencionadas, bem como, verificando-se
que as suas abstenções violam direitos básicos que devem ser garantidos às
crianças, e a qualquer pessoa humana, quais sejam, a educação e a saúde, denota-
se que tão somente pelo crivo desse h. juízo é que se poderá garantir, efetivamente,
os direitos pertencentes às absolutamente incapazes Margarida e Violeta.

II – DA TUTELA ANTECIPADA

A Tutela Antecipada de Urgência é um instrumento processual que possibilita a parte


pleitear a antecipação do pedido de mérito com fundamento na urgência, desde que
demonstrados, ainda que em sede de cognição sumária, a “probabilidade de direito”
e o “perigo de demora”, conforme dispõe o art. 300 do CPC/15, in verbis:
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

Segundo FREDIE DIDIER JUNIOR1, a tutela antecipada (satisfativa) tem por objeto
assegurar e antecipar a parte autora o próprio direito material, quando exista o
fomus bonis iuris – a plausibilidade de existência do direito – e o periculum in mora,
que é a existência de elementos que evidenciem o perigo que a demora da
prestação jurisdicional representa para a eficaz realização do direito e efetividade da
jurisdição.2 No presente caso, tais pressupostos encontram-se evidentes.

No que tange a probabilidade do direito, é notório que assistem às menores o


direito à educação e à saúde, isso porque a jurisprudência pátria firmou o
entendimento de que os interesses do incapaz devem sobrepor aos interesses dos
pais e, na tensão entre dois direitos fundamentais, o da liberdade de crença deve ser
relativizado em preponderância ao direito à vida e a saúde.

O perigo da demora resta evidenciado através do Ofício “OF.DIR.01/2020”


encaminhado pela Diretora da escola “Portal Criança” ao Conselho Tutelar, no qual
se afirmou que, caso os réus não apresentassem as cadernetas de vacinação das
menores, até o início das aulas, qual seja, dia 16 de março de 2020, as crianças
perderiam as vagas escolares, não podendo frequentar as aulas.

Ademais, como se não bastasse a iminente violação ao indubitável direito à


educação das crianças, verifica-se que a ausência de vacinação implica riscos à
saúde e à vida das menores, as quais, com 4 e 6 anos, ainda não receberam
nenhuma das vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde.

Assim, resta claro que a presente demanda requer maior celeridade no julgamento
do pedido, uma vez que a demora da vacinação acarretará, por certo, em violação
à diversos direitos fundamentais das menores, o que incidirá no resultado útil do

1 DIDIER JR, Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito
Processual Civil: Teoria da Prova, Direito Probatório, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e
Tutela Provisória. 13 ed. rev. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018, p.648-710.
2 Ibid, p. 684.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

processo, de modo que, caso não seja deferido o pedido liminar, perderão as
crianças as vagas até então garantidas pelas pré-matrículas realizadas, bem como
continuarão expostas a diversas enfermidades que poderiam facilmente serem
evitadas, razão pela qual a concessão da tutela antecipada é medida que se
impõe.

Desse modo, requer o Ministério Público Estadual digne-se Vossa Excelência de


antecipar a tutela pretendida, qual seja, compelir os pais a procederem na
regularização de todas as vacinas pendentes de suas filhas, com fundamento no
art. 300 do CPC/15.

III – DO DIREITO

Com o advento da Constituição Federal de 1988, a criança e o adolescente


passaram a ter maior enfoque de proteção, adquirindo um status de sujeitos de
direitos aos quais são necessários cuidados especiais, cabendo ao Estado e à
família que esses direitos sejam garantidos e efetivados, sobretudo no que concerne
à educação e a saúde, os quais a Constituição dá o tratamento de “Direitos Sociais”.

Neste sentido:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o


trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social,
a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na
forma desta Constituição.3 (grifou-se)

Dispõe o art. 227 da Constituição Federal que é dever do Estado assegurar, com
absoluta prioridade, os direitos fundamentais ao desenvolvimento da criança,
adolescente e jovem, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à


criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e

3 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.

ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência,


discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão. (Grifou-se)4

Assim, os direitos das crianças devem ser garantidos e protegidos, cabendo,


precipuamente, ao Estado e aos respectivos responsáveis legais, a observância da
efetivação dos aludidos direitos tutelados pela Constituição. No mesmo sentido, o
art. 196, da CRFB/88, assim estabelece:

Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido


mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco
de doença e de outros agravos e ao acesso universal e igualitário às ações
e serviços para sua promoção, proteção e recuperação.

Evidencia-se que a vacinação infantil é uma das políticas sociais implantadas pelo
governo com o intuito de cumprir o seu dever de garantir saúde à população, de
maneira que é atribuída aos pais a responsabilidade pela vacinação de seus filhos,
conforme o calendário de vacinação, observado o protocolo brasileiro em relação à
matéria. A despeito do assunto, a Lei Federal nº 8.069/905 – Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), assim dispõe:

Art. 4. É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária.
[...]
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de
assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades
que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para pais, educadores e alunos.
§ 1 o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados
pelas autoridades sanitárias.

Verifica-se, desse modo, que o legislador, em atenção ao disposto no art. 227. da


CRFB/88, optou por conferir à família a função de guarda e zelo dos direitos e
interesses dos filhos, assegurando-os que lhes sejam efetivados, com absoluta
prioridade, motivo em que se funda a presente ação de obrigação de fazer.

4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.
ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
5 BRASIL. Lei n.º 8.069 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá

outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso


em: 08 mar. 2020.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

A mencionada obrigação dos pais ou responsáveis legais, quanto à tutela dos filhos,
a doutrina denomina poder parental. Nesse diapasão, CARLOS ROBERTO
GONAÇALVES aduz:

Filhos adquirem direitos e bens, sem ser por via de sucessão dos pais. Há,
pois, que defender e administrar esses direitos e bens; e para este fim,
representa-los em juízo ou fora dele. Por isso, aos pais foi concedida ou
atribuída uma função semipública, designada poder parental ou pátrio
poder, que principia desde o nascimento do primeiro filho, e se traduz
por uma série de direitos-deveres, isto é, direitos em face de terceiros e
que são, em face dos filhos, deveres legais e morais.6

Portanto, o poder familiar se consubstancia no exercício do poder dos pais em prol


da efetivação dos interesses dos filhos, instituindo-se em uma série de direitos-
deveres daqueles diante desses. Logo, quando os sujeitos detentores desse poder
familiar deixam de praticar as suas obrigações diante dos filhos, é cabível ao
Ministério Público requerer a medida judicial necessária à tutela dos interesses do
menor, o que, in casu, se pretende obter através do pronunciamento estatal, por
meio de sentença, a fim de que os réus cumpram com os deveres que lhes é
atribuído.

Nesse sentido, o Código Civil Brasileiro de 2002 (CCB/02) dispõe:

Art. 1.637. Se o pai, ou a mãe, abusar de sua autoridade, faltando aos


deveres a eles inerentes ou arruinando os bens dos filhos, cabe ao juiz,
requerendo algum parente, ou o Ministério Público, adotar a medida que
lhe pareça reclamada pela segurança do menor e seus haveres, até
suspendendo o poder familiar, quando convenha.7

Consoante a interpretação do supratranscrito dispositivo, o poder parental que


detém os pais não é absoluto, e, comprovada a desídia dos pais com relação aos
filhos, é possibilitado ao magistrado determinar a suspensão do poder familiar, ou
adotar outra medida que lhe pareça adequada à satisfação dos direitos da
criança, sejam eles violados ou na iminência de violação.

6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. 6: direito de família. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. p.68.
7 BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:

<www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm>. Acesso em: 09 mar. 2020.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

No caso em apreço, quando do atendimento datado de 15.01.2020, na sede desta


Promotoria de Justiça, os réus alegaram não concordar com a vacinação de suas
filhas, por pertencerem à uma igreja a qual proíbe o procedimento sob alegada
“contaminação”, fundamentando, para tanto, que “a imposição do Estado afronta o
direito constitucional de liberdade religiosa”, elencado no art. 5º, VII, da CRFB/88, a
eles garantidos.

Na mesma oportunidade, foram cientificados que, a ausência de vacinação das


crianças as acarretaria na impossibilidade de permanecerem matriculadas na escola
de ensino infantil “Portal Criança”, conforme notificado pela diretora ao Conselho
Tutelar, oportunidade em que afirmou que a apresentação do Cartão de Vacinação é
exigência imposta pela Lei Estadual n.º 10.913/2018, que assim expressa:

Art. 1.º É obrigatória, em todo o território estadual, a apresentação do


Cartão de Vacinação no ato da matrícula dos alunos de até dezoito anos
de idade, em todas as escolas da rede pública ou privada, que
ofereçam educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.
[...]
Art. 4º A matrícula poderá ser realizada sem a apresentação da Carteira de
Vacinação, devendo a situação ser regularizada pelo responsável no
prazo máximo de 30 (trinta) dias, sob pena de comunicação imediata ao
Conselho Tutelar para adoção das ações cabíveis.

Nesta senda, foi informado aos pais que já se transcorrera o lapso temporal
permitido pela lei, razão pela qual as representadas poderiam perder as vagas na
escola, momento em que os réus tão logo expressaram o desejo de educar as
suas filhas em casa, visto serem contra a educação escolar.

Pois bem.

a) No tocante ao direito de liberdade religiosa arguido pelos pais das menores:

É consabido que as normas constitucionais possuem igual valor hierárquico, de


modo que os direitos insculpidos ao longo do texto constitucional detêm o mesmo
peso. Desse modo, ainda que a Carta Magna, em seu art. 5º, garanta o direito à
liberdade de crença, este não deverá ser encarado como absoluto, mormente
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

quando a colisão de direitos resulte em lesão à direitos de incapazes, os quais


devem ser tratados com isonomia, haja vista a vulnerabilidade que lhes é inerente.

LUIS ROBERTO BARROSO explica que quando mais de uma norma incide sobre o
mesmo conjunto de fatos, entrando em tensão dialética, sua aplicação deverá
ocorrer mediante a ponderação, por força do princípio instrumental de unidade da
Constituição 8 , o qual aduz que em uma análise do caso concreto, o intérprete
buscará conferir o peso de cada princípio, preservando o máximo de cada um, na
medida do possível.

No caso sob análise, é inexorável que o direito à saúde deve ser priorizado, haja
vista a ausência de vacinação das crianças as tornarem mais vulneráveis a diversas
doenças, as quais, inclusive, podem levá-las a óbito prematuramente, refletindo,
dessarte, no direito à inviolabilidade da vida, a qual constitui “a fonte primária de
todos os outros bens jurídicos”9.

Ademais, não é despiciendo que a vacinação infantil visa a proteger não apenas o
bem jurídico da vida de quem é vacinado, mas de toda a população a que é
destinada, não se tratando, desse modo, de uma escolha de cunho subjetivo,
atrelada à vida privada dos pais em seu seio familiar, sob alegada “afronta do
Estado”, como asseveram os réus.

Nesse diapasão é o entendimento recente firmado pelo TJ/MG, no julgado abaixo:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - MEDIDA DE PROTEAÇÃO - DIREITO À


SAÚDE - VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA - DIREITO COLETIVO - MELHOR
INTERESSE DO MENOR - LIBERDADE RELIGIOSA - PONDERAÇÃO. A
vacinação consiste não apenas em direito individual, mas em direito
coletivo, uma vez que tem por objeto a diminuição, ou até mesmo a
erradicação de doenças. A interpretação que se faz é que as normas de
regência buscam garantir a saúde do indivíduo e, por consequência, de toda
a população, sendo, portanto, algo acima da escolha pessoal, vez que
envolve a diminuição da exposição ao risco e ao contágio de determinadas
doenças e ainda evita o reaparecimento de doenças consideradas erradicas.
Em consideração Ao Princípio Constitucional do Melhor Interesse, não

8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 354.
9
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 1099.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

podem os genitores se recursarem a vacinar os filhos quando se


busca alcançar o pleno desenvolvimento daqueles, o que, por certo,
envolve o direito à saúde em todas as suas formas, incluídas as de
prevenção por meio da vacinação. O interesse do menor se sobrepõe a
qualquer interesse particular dos genitores. A imposição da
imunização não fere o direito à liberdade religiosa, uma vez que não
sendo esse absoluto, é passível de ponderação e, assim, não há se
falar no direito de escolha dos pais, mas no direito da criança à saúde.
(TJ-MG - AC: 10518180076920001 MG, Relator: Dárcio Lopardi Mendes,
Data de Julgamento: 12/12/2019, Data de Publicação: 17/12/2019) (grifou-
se)

Portanto, em que pese o alegado direito de crença religiosa suscitado pelos réus, em
atenção ao princípio do melhor interesse, não podem os pais se recusarem a vacinar
as suas filhas, sob o argumento do direito individual que lhes garante a Constituição,
uma vez que a vacinação se trata, mormente, de direito coletivo, o qual deve ser
sopesado com maior relevância, tendo em vista ser a vida, de diversas pessoas, o
bem jurídico tutelado.

Desse modo, nota-se que a abstenção dos réus reflete uma prática lesiva à
integridade física das menores, as quais, com 4 e 6 anos de idade, ainda não
tiveram acesso básico à saúde que lhes é garantido pela Constituição Federal,
motivo pelo qual encontram-se expostas e vulneráveis a todos tipos de patógenos e
enfermidades que ordinariamente acometem crianças dessa faixa etária. Como se
não bastasse, a omissão dos pais acarreta, ainda, em risco de contágio à toda
coletividade, uma vez que sem a devida imunização facilita-se a propagação de
diversas doenças.

b) No tocante à intenção da prática de ensino domiciliar:

Conforme se depreende, a recusa dos réus a vacinarem as menores, além de todos


os males que as podem propiciar, implica, ainda, na perda das vagas escolares, até
então garantidas. Os réus, no entanto, demonstram que, apesar de terem realizado
a pré-matrícula das suas filhas no Ensino Infantil, não têm a pretensão de efetivá-las,
seja porque não desejam vaciná-las, seja porque desejam provê-las o ensino
domiciliar – o que não é regulamentado no Brasil.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

O Ministério da Educação, através do Conselho Nacional de Educação (CNE) e da


Câmara de Educação Básica, editou a resolução nº 2, de 9 de outubro de 2018, que
assim expressa:

Art. 3º A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, é


oferecida em creches e pré-escolas, as quais se caracterizam como
espaços institucionais não domésticos que constituem estabelecimentos
educacionais públicos ou privados que educam e cuidam de crianças de 0
(zero) a 5 (cinco) anos de idade no período diurno, em jornada integral ou
parcial, regulados e supervisionados por órgão competente do sistema de
ensino e submetidos a controle social, conforme o disposto na Resolução
CNE/CEB nº 5/2009.
§ 1º É dever do Estado garantir a oferta de Educação Infantil pública,
gratuita e de qualidade, sem requisito de seleção.
§ 2º É obrigatória a matrícula na pré-escola, segunda etapa da
Educação Infantil e primeira etapa da obrigatoriedade assegurada pelo
inciso I do art. 208 da Constituição Federal, de crianças que completam
4 (quatro) anos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a
matrícula inicial.
§ 3º As crianças que completam 4 (quatro) anos de idade após o dia 31 de
março devem ser matriculadas em creches, primeira etapa da Educação
Infantil. [...] (grifou-se).

Os supratranscritos dispositivos refletem a norma constitucional a qual imputa ao


Estado o dever de proporcionar a educação às crianças de 4 a 17 anos, conforme
avença o art. 208 da CRFB/88, in verbis.:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a


garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria;
[...]

Nada obstante, conforme exaustivamente demonstrado ao discorrer da presente


inicial, é sabença que compete igualmente à família que o direito à educação seja
promovido e efetivado, conforme a norma que se extrai do art. 205 da CRFB/88:

Art. 205. A educação é direito de todos e dever do Estado e da família,


porém será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”10

Consoante se infere do supracitado dispositivo, a intenção do legislador, ao prezar


pela convivência e desenvolvimento da criança em sociedade, visa prepara-las para
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

a vida futura, onde encontrarão outros indivíduos com pensamentos, opiniões e


crenças diferentes daquelas ensinadas no âmbito familiar.

Assim, enquanto a educação formal cuida da intelectualidade e inserção da criança,


enquanto indivíduo no ambiente social, a educação a ser ministrada pelos pais
avença sobre valores morais e éticos, não se possibilitando comparar aquela com
esta, como pretendem os réus.

O art. 55 do ECA dispõe que “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” 11 . Seguindo a mesma linha
exegética, dispõe a Lei nº 9.394/9612 que trata das diretrizes e bases da educação
nacional:

Art. 6º É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula das crianças na


educação básica a partir dos 4 (quatro) anos de idade.

Destarte, se verifica que o ordenamento jurídico brasileiro impôs ao Estado e à


família, respectivamente, a obrigação de prover os meios necessários à viabilizar a
educação das crianças e o zelo pela efetivação desse direito, de modo que o limite
da liberdade dos pais na escolha dos meios pelos quais irão prover a educação dos
filhos, segundo suas convicções, não pode acarretar em violação ao direito
indisponível de educação que é assegurado às crianças, como é o caso do
homeschooling puro.13

Foi nesse sentido, inclusive, que entendeu o Excelso Superior Tribunal Federal (E.
STF) ao firmar a tese de repercussão geral de nº 822, no qual se prevaleceu o

10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.

ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.


11 BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do

Adolescente e dá outras providências. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em: 03 mar. 2020.
12 BRASIL. Lei nº 9.394 de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação

nacional. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 03 mar. 2020.


13 É a prática de Educação que não acontece na escola, mas em casa. Pelo modelo, as crianças e

jovens são ensinados em domicílio com o apoio de um ou mais adultos que assumem a
responsabilidade pela aprendizagem.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

entendimento de que não há direito público subjetivo do aluno ou de sua família


ao ensino domiciliar, visto não haver previsão legal acerca do assunto.

Nesse sentido:

CONSTITUCIONAL. EDUCAÇÃO. DIREITO FUNDAMENTAL


RELACIONADO À DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E À EFETIVIDADE
DA CIDADANIA. DEVER SOLIDÁRIO DO ESTADO E DA FAMÍLIA NA
PRESTAÇÃO DO ENSINO FUNDAMENTAL. NECESSIDADE DE LEI
FORMAL, EDITADA PELO CONGRESSO NACIONAL, PARA
REGULAMENTAR O ENSINO DOMICILIAR. RECURSO DESPROVIDO. 1.
A educação é um direito fundamental relacionado à dignidade da pessoa
humana e à própria cidadania, pois exerce dupla função: de um lado,
qualifica a comunidade como um todo, tornando-a esclarecida, politizada,
desenvolvida (CIDADANIA); de outro, dignifica o indivíduo, verdadeiro titular
desse direito subjetivo fundamental (DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA).
No caso da educação básica obrigatória (CF, art. 208, I), os titulares
desse direito indisponível à educação são as crianças e adolescentes
em idade escolar. 2. É dever da família, sociedade e Estado assegurar à
criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, a educação. A
Constituição Federal consagrou o dever de solidariedade entre a
família e o Estado como núcleo principal à formação educacional das
crianças, jovens e adolescentes com a dupla finalidade de defesa integral
dos direitos das crianças e dos adolescentes e sua formação em cidadania,
para que o Brasil possa vencer o grande desafio de uma educação melhor
para as novas gerações, imprescindível para os países que se querem ver
desenvolvidos. 3. A Constituição Federal não veda de forma absoluta o
ensino domiciliar, mas proíbe qualquer de suas espécies que não
respeite o dever de solidariedade entre a família e o Estado como
núcleo principal à formação educacional das crianças, jovens e
adolescentes. São inconstitucionais, portanto, as espécies de unschooling
radical (desescolarização radical), unschooling moderado (desescolarização
moderada) e homeschooling puro, em qualquer de suas variações. 4. O
ensino domiciliar não é um direito público subjetivo do aluno ou de
sua família, porém não é vedada constitucionalmente sua criação por
meio de lei federal, editada pelo Congresso Nacional, na modalidade
“utilitarista” ou “por conveniência circunstancial”, desde que se
cumpra a obrigatoriedade, de 4 a 17 anos, e se respeite o dever
solidário Família/Estado, o núcleo básico de matérias acadêmicas, a
supervisão, avaliação e fiscalização pelo Poder Público; bem como as
demais previsões impostas diretamente pelo texto constitucional, inclusive
no tocante às finalidades e objetivos do ensino; em especial, evitar a
evasão escolar e garantir a socialização do indivíduo, por meio de
ampla convivência familiar e comunitária (CF, art. 227). 5. Recurso
extraordinário desprovido, com a fixação da seguinte tese (TEMA 822): “Não
existe direito público subjetivo do aluno ou de sua família ao ensino
domiciliar, inexistente na legislação brasileira”. (RE 888815, Relator(a): Min.
ROBERTO BARROSO, Relator(a) p/ Acórdão: Min. ALEXANDRE DE
MORAES, Tribunal Pleno, julgado em 12/09/2018, PROCESSO
ELETRÔNICO REPERCUSSÃO GERAL - MÉRITO DJe-055 DIVULG 20-
03-2019 PUBLIC 21-03-2019)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Portanto, verifica-se pelo sedimentado entendimento que é inconstitucional a prática


do ensino domiciliar puro, sem qualquer intervenção estatal, de crianças de 4 até 17
anos, ante a evidente lesão aos direitos fundamentais inerentes ao desenvolvimento
infantil e a socialização do indivíduo, refletidos na própria dignidade da pessoa
humana.

Nesse espeque, resta demonstrado que a liberdade de pensamento e crença que os


réus argumentam para justificar as suas abstenções aos deveres legais que lhes são
incumbidos, viola e expõe a risco os direitos à saúde, à educação e, sobretudo, à
vida das menores impúberes, de tal modo que a condenação dos réus à
efetivarem a matrícula das menores, mediante a imediata regularização de
todas as vacinas pendentes, é medida imperativa.

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Ante o exposto, requer:

A citação do réu para que, querendo, apresente resposta no prazo legal;

Seja concedido o pedido de tutela antecipada para que as menores impúberes


sejam, em até 24 horas, devidamente imunizadas, conforme dispõe o calendário
nacional de vacinas, impedindo que percam as vagas escolares a que fazem jus,
sob pena de multa diária fixada no valor que o I. magistrado julgar conveniente à
satisfação da tutela pretendida, nos moldes dos arts. 536 e 537 do CPC/15;

Seja julgado procedente o pedido, CONDENANDO-SE os réus à cumprirem a


obrigação de fazer, consubstanciada na imediata providência da vacinação de suas
filhas, a fim de que as possibilite frequentar o Ensino Infantil regularmente;

A produção de todas as provas necessárias à convicção de Vossa Excelência,


especificando, desde logo, provas documentais e testemunhais;
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Sejam as seguintes testemunhas de acusação arroladas:


Cristina Mendes Pimentel – Conselheira Tutelar
Livia Dias Pereira Muniz – Conselheira Tutelar
Maria Eduarda Cavalcanti – Diretora da Escola “Portal Criança”;

IV – DO VALOR DA CAUSA

Dá-se à causa o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Termos em que, pede e espera deferimento.

Vitória/ES, 9 de março de 2020.

Cíntia Fernandes
Promotora de Justiça
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

CERTIDÃO

Certifico e dou fé que na presente data, recebi do Cartório Distribuidor desta


Comarca a presente petição inicial e os documentos que a acompanham.
Vitória/ES, 11/03/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

CERTIDÃO

Certifico e dou fé que procedi com a autuação dos presentes autos e os registrei
no sistema EJUD sob número 0002648-25.2020.8.08.0024.
Vitória/ES, 11/03/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

CONCLUSÃO

Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos
Santos Teixeira.
Vitória/ES, 11/03/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA - 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

Processo n.º 0002648-25.2020.8.08.0024 – Procedimento comum


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Réus: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

DECISÃO
Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer, proposta pelo o MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO, em face de JEREMIAS
SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR, com pedido de tutela
antecipada de urgência, cujo o deferimento está intrinsicamente condicionado a
demonstração da probabilidade do direito, o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, conforme prevê o art. 300 do Código de Processo
Civil, in verbis:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de
dano ou risco ao resultado útil do processo.
§1º Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme
o caso, exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os
danos que a outra parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser
dispensada se a parte economicamente hipossuficiente não puder
oferece-la.
§2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após
justificação prévia.
§3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida
quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão.
No caso vertente, verifico pelos documentos que acompanham a inicial, que o
Ministério Público Estadual ajuizou a presente demanda em face dos réus com
o intuito de obrigarem-nos à proceder a vacinação das menores impúberes
M.F.A. e V.F.A, as quais, com 4 e 6 anos, respectivamente, ainda não
receberam nenhuma das vacinas obrigatórias à mencionada faixa etária.Tal
situação, de acordo com a signatária do Parquet, reflete, ainda, no âmbito da
vida escolar das crianças, uma vez que estas só podem freqüentar o ensino
infantil quando da apresentação da caderneta de vacinação pelos seus
genitores, conforme restou demonstrado pelos documentos colacionados à
exordial.

Desse modo, o Ministério Público Estadual notificou os réus para comparecer


à sede da Promotoria de Justiça da Infância e Juventude a fim de prestarem
esclarecimentos e serem advertidos a proceder imediatamente à vacinação das
menores M.F.A e V.F.A.

Consoante a Ata de Atendimento de fl. 26, os réus relataram o desejo de não


vacinarem as menores, sob alegada escolha de cunho religioso, uma vez que
pertencem à “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura” que “proíbe a
contaminação por vacina” e que “a imposição do Estado afronta o Direito de
liberdade religiosa garantindo constitucionalmente.” Afirmaram ainda o desejo
de educar as filhas em casa, uma vez serem contra o ensino escolar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ao reunir diversas normas com


o intuito de resguardar direitos fundamentais aos menores e impor deveres aos
responsáveis legais, estabelece que "é obrigatória a vacinação das crianças
nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias". Senão, vejamos o art.
14, §1º, do referido Estatuto:

O Sistema único de Saúde promoverá programas de assistência


médica e odontológica para a prevenção das enfermidades que
ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para os pais, educadores e alunos.

§1º É obrigatória a vacinação das crianças nos casos


recomendados pelas autoridades sanitárias. (grifei)
Ademais, assim avença o art. 4º do ECA:

É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do


poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos
direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao
esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.

Em juízo de cognição sumária, observo pelos documentos acostados, que os


réus descumprem o poder-dever que lhes é atribuído pelo poder familiar,
incorrendo em ato ilegal, uma vez que as suas omissões voluntárias implica na
maior vulnerabilidade e exposição das menores à diversas enfermidades que
ordinariamente acometem a população infantil, as quais poderiam ser
facilmente evitadas com as doses de vacinas que os réus se recusam a dar.

Tais circunstâncias evidenciam o periculum in mora, pois, a cada dia que passa
sem a devida imunização das menores impúberes, não apenas estas se
expõem ao risco de serem acometidas por doenças, mas toda a população
infantil, ainda que indiretamente, ademais que enfrentamos, atualmente, o surto
de diversas doenças infectocontagiosas, a exemplo do sarampo, doença viral
que vem sendo combatida pelo Governo através de campanhas de
conscientização e mobilização, para que os pais e responsáveis levem os seus
filhos aos postos de saúde, a fim de receberem a imunização e, desse modo,
se conter a doença no Brasil.1

O fumus boni iuris fica evidenciado por se tratar de medida tendente à


efetivação de garantia constitucional, não se podendo olvidar que assistem às
menores o direito à vida, à saúde e à educação, direitos fundamentais que
indubitavelmente devem ser resguardados e efetivados. Assim, considerando
que a imunização das crianças trata-se de imposição estatal objetivando
resguardar a vida de um número indeterminado de pessoas, ainda que
exista a impossibilidade de reversibilidade (art. 300, § 3º, NCPC), entendo
assistir razão o pleito ministerial, uma vez que o direito à inviolabilidade da vida

1Ministério da Saúde quer eliminar sarampo do país até julho: Criança de 9 anos morreu no
Rio de Janeiro vítima da doença. BRANDÃO, Marcelo. Agência Brasil. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-02/ministerio-da-saude-quer-eliminar-
sarampo-do-pais-ate-julho>. Acesso em: 16 mar. 2020.
deve ser priorizado, razão pela qual DEFIRO O PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA DE URGÊNCIA para determinar aos réus que realizem a
regularização de todas as vacinas obrigatórias pendentes das menores M.F.A e
V.F.A., no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.

Intimem-se os réus para, em 24 (vinte e quatro) horas comprovarem a


realização das vacinas obrigatórias, sob pena de multa (art. 536, §1º CPC) no
valor de R$ 100,00 (cem reais), por dia de atraso, montante este que poderá
ser revisto posteriormente, caso se mostre irrisório ou excessivo, sem prejuízo
da tomada de outras medidas coercitivas que se revelarem necessárias para
assegurar o cumprimento da presente decisão.

Deixo de designar audiência conciliatória, ante a indisponibilidade dos direitos


envolvidos (art. 334, §4º, II, CPC).

CITEM-SE e INTIMEM-SE os réus para, em 15 dias, apresentarem resposta.

Após, conclusos.

Diligencie-se.

Vitória/ES, 16 de março de 2020.

Henrique dos Santos Teixeira


JUIZ DE DIREITO
AUTOS RECEBIDOS EM CARTÓRIO

Vitória/ES, 16 de março de 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

CERTIFICO E DOU FÉ QUE NESTA DATA FOI


EXPEDIDO MANDADO

Vitória/ES, 16 de março de 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA - 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

PROCESSO Nº 0002648-25.2020.8.08.0024
Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Réu: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

MANDADO DE CITAÇÃO E INTIMAÇÃO E


DECISÃO TUTETA ANTECIPADA POR A.R

Pelo presente, fica Vossa Senhoria devidamente CITADO e INTIMADO para todos os termos
da presente carta:

FINALIDADE

a) CITAÇÃO DO(S) RÉU(S) abaixo descrito de todos os termos da presente ação, cuja
cópia segue anexa;
b) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) para apresentar contestação, no prazo de 15 (quinze) dias
úteis, sob pena de Revelia;
c) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) para apresentar agravo, no prazo de 15 (quinze) dias
úteis, sob pena de Revelia;
d) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) do teor da decisão cujo dispositivo segue em anexo;

Vitória/ES, 16 de Março de 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

JEREMIAS SALOMÃO AGIUAR


Endereço: Rua Eugênio Netto, 154, Bairro Santa Lúcia, Vitória-ES;
CEP: 29.054-555

ALICE FERREIRA AGUIAR


Endereço: Rua Eugênio Netto, 154, Bairro Santa Lúcia, Vitória-ES;
CEP: 29.054-555
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

CERTIDÃO

PROCESSO Nº. 0002648-25.2020.8.08.0024 – Procedimento comum


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Réu: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

Certifico que, nesta data, remeti ao Diário de Justiça a presente intimação através
da lista de nº 081/2020 para o (s) Advogado(s):

0000/ES - Larissa Pertel


1111/ES - Mariana Cerillo
2222/ES - Pedro Henrique Holanda

Para tomar ciência da r. Decisão:

[..]

Assim, considerando que a imunização das crianças trata-se de imposição estatal objetivando
resguardar a vida de um número indeterminado de pessoas, ainda que exista a impossibilidade
de reversibilidade (art. 300, § 3o, NCPC), entendo assistir razão o pleito ministerial, uma vez que
o direito à inviolabilidade da vida deve ser priorizado, razão pela qual DEFIRO O PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA para determinar aos réus que realizem a regularização
de todas as vacinas obrigatórias pendentes das menores M.F.A e V.F.A., no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas. Intimem-se os réus para, em 24 (vinte e quatro) horas comprovarem a realização
das vacinas obrigatórias, sob pena de multa (art. 536, §1o CPC) no valor de R$ 100,00 (cem
reais), por dia de atraso, montante este que poderá ser revisto posteriormente, caso se mostre
irrisório ou excessivo, sem prejuízo da tomada de outras medidas coercitivas que se revelarem
necessárias para assegurar o cumprimento da presente decisão. Deixo de designar audiência
conciliatória, ante a indisponibilidade dos direitos envolvidos (art. 334, §4o, II, CPC). CITEM-SE
e INTIMEM-SE os réus para, em 15 dias, apresentarem resposta.

Vitória/ES,16 de Março de 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
Certifico e dou fé que a imprensa nº 061
foi disponibilizada no dia 16/03/2020, no
diário da justiça nº 081,fls.

VITÓRIA - 1ª VARA DA INFÂNCIA E


JUVENTUDE,11/03/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
JUNTADA

EM 17/03/2020. Certifico a juntada do AR_____________


___________________________________________________
___________________________________________________
___________________________________________________

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
Scanned with CamScanner
Scanned with CamScanner
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

GUIA DE REMESSA EXTERNA

Destino: Autos entregues em carga ao


Advogado. Data: 17/03/ 2020
Nº do Processo Classe Partes Devolução
0002648- PROCEDIMENTO Autor: MINISTÉRIO
25.2020.8.08.0024 COMUM PÚBLICO ESTADUAL
Réu: JEREMIAS
SALOMÃO AGUIAR &
ALICE FERREIRA
AGUIAR
Recebeido por ____________________________________em ____/_____/ 2020.
Pedro Henrique Holanda– OAB/ES 333.343 – TELEFONE: (27) 3225-
6628.Rua da Grécia, Santa Luiza, Vitória/ES - CEP nº 29.050.335
JUNTADA
EM 20/03/2020. Certifico a juntada da petição sob protocolo
nº 202025432986, intitulada como AGRAVO DE
INTRUMENTO.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DA 1ª VARA DA INFÂNCIA E
JUVENTUDE DE VITÓRIA/ES

Processo Número: 0002648-25.2020.8.08.0024

JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e ALICE FERREIRA AGUIAR, qualificado nos


autos do processo em epígrafe, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência,
por intermédio de seus procuradores, a fim de atender ao DESPACHO/DECISÃO,
vem, mui respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu
advogado infra assinado, requerer o que se segue:

A parte autora desta ação, inconformada, vênia permissa máxima, com a decisão
interlocutória que deferiu a tutela de urgência, nos termos do artigo 1.015, I
do Código de Processo Civil, interpôs oportunamente AGRAVO DE
INSTRUMENTO.

Nos termos do artigo 1.018 do Código de Processo Civil, requerer a juntada da cópia
da petição do agravo de instrumento, do comprovante de interposição, tendo juntado
ao processo como documentos que instruíram o referido recurso in verbis:

a) cópia da petição inicial com seus anexos que foi a que também ensejou a
decisão agravada;
1

Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
b) própria decisão agravada;
c) foto do Aviso de Recebimento como prova da tempestividade do presente
recurso;
d) cópia da procuração outorgada aos Advogados dos Agravantes,
e) declaração de ausência de contestação, pelo fato de ainda estar dentro do
prazo legal para apresentação da peça e procuração ao advogado da parte
agravada, pelo fato do Agravado ser o Ministério Público.

Requer, por fim, que Vossa Excelência profira o juízo de retratação previsto no
artigo 1.018, § 1º do CPC.

Nestes termos, Pede deferimento.

Vitória, 20 de março de 2020.

Dra. MARIANA CERILLO GAVI


OAB/ES Nº 252.000

Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR, empresário, portador do RG Nº 1.562.879 SSP/ES


e inscrito no CPF/MF sob nº 254.695.133-57, salomao@gmail.com, sua
esposa, ALICE FERREIRA AGUIAR, autônoma, portadora da RG nº 2.356.965
SSP/ES e inscrita no CPF/MF sob nº 139.584.999-75, ferreira@gmail.com, ambos
brasileiros, casados e residentes e domiciliados na Rua Eugênio Netto, nº 154, Bairro
Santa Lúcia, CEP: 29.045-225, cidade de Vitória/ES, por seu advogado in fine
assinados com escritório profissional sito na Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP
nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES e endereço eletrônico:
chp.advogados@gmail.com – onde recebem as comunicações procedimentais de
estilo – vem, com fundamento no artigo 1015, parágrafo único e seguintes do Código
de Processo Civil pátrio, interpor, na forma da RAZÕES em anexo,

AGRAVO DE INSTRUMENTO COM PEDIDO DE


SUSPENSÃO LIMINAR
Tendo em vista a r. decisão de fls. 44-47 dos autos, proferida pelo MM. Juiz de Direito
da 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória(ES), nos autos do processo nº 0002648-
25.2020.8.08.0024, onde figuram como réus, os aqui agravantes, e autor, o Ministério
Público do Espírito Santo.

01-Em observância às regras procedimentais insculpidas a orientar a espécie recursal


ora em exercício, mormente os artigos 1016 e 1017 do Código de Processo Civil
pátrio, os Agravantes, deduzindo suas razões em anexo:

1
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
a)Instrui a presente peça recursal com cópias obrigatórias e facultativas, declarando-
as autênticas; com exceção da Contestação, em razão de ainda estar no prazo de
apresentação da mesma;

b)informa que são seus advogados Dra. Larissa Pertel, OAB/ES nº252.555, Dra.
Mariana Cerillo, OAB/ES nº 252.000 e Dr. Pedro Henrique Holanda, OAB/ES nº
260.000, com escritório profissional sito na Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP
nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES e endereço eletrônico:
chp.advogados@gmail.com, onde recebem as comunicações procedimentais de
estilo;

c)informa que o Agravado é o Ministério Público do Espírito Santo, para fins do


disposto no Artigo 1016, inciso IV, do CPC;

d) Disponibilizada a r. decisão proferida em 16/03/2020 (segunda-feira), com ciência


na mesma data, iniciando-se o prazo em 17/03/2020, comprovando-se, desta
forma, a tempestividade do presente recurso.

Requer, ainda, a isenção do pagamento das custas do recurso, nos termos do arts.
98 e seguintes do Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), vez que não podem
arcar com as custas e despesas processuais, nem honorários advocatícios, sem
prejuízo do seu sustento e de sua família (vide declaração anexa), e sua imediata
distribuição, nos termos da lei.

R. Juntada
E. Deferimento.

Vitória, 20 de março de 2020.

Dr. MARIANA CERILLO GAVI


OAB/ES 252.000

2
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO

AGRAVANTES: Jeremias Salomão Aguiar e Alice Ferreira Aguiar


AGRAVADO: Ministério Público do Estado do Espírito Santo

Eminentes Julgadores,

DA TEMPESTIVIDADE DO PRESENTE AGRAVO

Disponibilizada a r. decisão proferida em 16/03/2020 (sexta-feira), com ciência na


mesma data, iniciando-se o prazo em 17/03/2020.

Nos termos do artigo 219 do CPC:

1 Artigo 219 - Na contagem do prazo em dias, estabelecido por


lei ou pelo juiz, computar-se-ão somente os dias úteis.

Comprovada, desta forma, a tempestividade do presente recurso.

O aqui agravado postulou a determinação para regularização de todas as vacinas


obrigatórias pendentes das filhas menores dos agravantes.

Ocorre que os agravantes fazem parte da “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura”, que
doutrina a não contaminação do sangue, sendo a vacinação um meio para tal
contaminação. Além disso, a determinação da vacinação afrontaria o direito
constitucional à liberdade religiosa.

O h. juízo de piso, ao apreciar o pedido do aqui agravado, entendeu por DEFIRIR A


TUTELA DE URGÊNCIA.

TRATA-SE, PORTANTO, A DECISÃO AGRAVADA DE FLS. 44-47, DE DECISÃO


INTERLOCUTÓRIA PROFERIDA COM DEFERIMENTO DE TUTELA ANTECIPADA

3
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
COMPORTANDO AGRAVO DE INSTRUMENTO, NOS TERMOS DO ARTIGO 1015,
INCISO I, DO CPC, COMPROVADO O CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO.

O presente Agravo (artigo 1015, inciso I, do CPC) tem, portanto, por objetivo combater
a r. decisão de fls. 44-47 dos autos, que entendeu por DEFERIR A TUTELA DE
URGÊNCIA, determinando aos agravantes a regularização de todas as vacinas
obrigatórias pendentes das filhas menores do agravantes.

A r. decisão fere, data máxima vênia, os mais comezinhos princípios constitucionais,


eis que DESPIDA DA FUNDAMENTAÇÃO NECESSÁRIA, e ignorando também o
parágrafo único do artigo 300, do CPC, pronúncia que se espera desse E. Tribunal de
Justiça.

A determinação para a realização da vacinação obrigatória seria uma medida


irreversível, visto que, pela crença dos agravados, após a vacinação o sangue de suas
filhas estaria contaminado.

O Código de Processo Civil (CPC), ao dispor sobre tutela de urgência, prevê sobre o
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, e expõe no artigo 300, §3º que:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

§ 1 o Para a concessão da tutela de urgência, o juiz pode, conforme o caso,


exigir caução real ou fidejussória idônea para ressarcir os danos que a outra
parte possa vir a sofrer, podendo a caução ser dispensada se a parte
economicamente hipossuficiente não puder oferecê-la.

§ 2º A tutela de urgência pode ser concedida liminarmente ou após


justificação prévia.

§ 3º A tutela de urgência de natureza antecipada não será concedida


quando houver perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão. (grifo
nosso).

Consoante a isso, há jurisprudência que elucida:

4
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DEMOLITÓRIA. TUTELA DE URGÊNCIA. PROBABILIDADE DO DIREITO
E PERIGO DA DEMORA. INEXISTÊNCIA. IRREVERSIBILIDADE DA
MEDIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO REVOGADA.
1.A concessão de tutela de urgência requer, a teor do art. 300 do CPC, a
demonstração da probabilidade do direito e o perigo que a não concessão
da ordem ocasiona ao processo. 2. Em ação demolitória, busca-se tão
somente o desfazimento de obra, não sendo possível determinar a
reintegração de posse da interessada, eis que ausente pedido cumulado; 3.
A necessidade de redistribuição dos lotes pela Agravada não condiz com o
intuito perseguido na Ação Demolitória, eis que necessária a retomada da
posse do bem, a qual somente se cumprirá com as medidas processuais
específicas a tal desiderato, ou seja, com a ação de reintegração de posse
ou a ação reivindicatória, a depender da relação jurídica da parte com o
imóvel subjacente a demanda. 4. A parte não relatou na inicial motivo que
justificasse o perigo da demora, bem como a adoção de conceitos jurídicos
indeterminados, sem a demonstração da sua efetiva incidência no caso em
tela, com o uso de motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão, ocasionam a nulidade da decisão vergastada, pela ausência de
cumprimento do requisito legal. 5. A concessão de tutela de urgência em
ação demolitória é irreversível, mas admite-se em casos especialíssimos,
tal como nos casos de proteção a bem jurídico que possua status superior
ao que o direito de construção protege, como a incolumidade física de
pessoas decorrente de construções em situação de risco, situação que não
se coaduna com o presente caso. 6. Recurso conhecido e provido. Decisão
revogada.

(TJ-AM - AI: 40023533020188040000 AM 4002353-30.2018.8.04.0000,


Relator: Joana dos Santos Meirelles, Data de Julgamento: 18/02/2019,
Primeira Câmara Cível, Data de Publicação: 19/02/2019) (grifo nosso)

Portanto, o magistrado agiu incorretamente ao conceder a tutela que acarretará


efeitos irreversíveis à família dos agravantes.

REQUER, POR TODO O EXPOSTO, SEJA TORNADA SEM EFEITO A R.


DECISÃO AGRAVADA QUE ENTENDEU, SEM QUALQUER FUNDAMENTAÇÃO
ADEQUADA, POR SIMPLESMENTE CONCEDER A TUTELA DE URGÊNCIA,
DESCONSIDERANDO A IRREVERSIBILIDADE DOS EFEITOS DA DECISÃO.

Diante do que restou supra demonstrado, requer e confia a Agravante seja


conhecido e provido, por esse Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito
Santo, o Agravo de Instrumento ora arrazoado, cassando-se a r. decisão atacada.

5
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
NECESSIDADE DA IMEDIATA SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA R. DECISÃO
AGRAVADA, EM RAZÃO DA IRREVERSIBILIDADE OS EFEITOS DA DECISÃO.

Tem, os Agravantes, o direito constitucional à ampla defesa de seus interesses, não


podendo, por conseguinte, ser prejudicada por decisão afrontosa ao inciso LIV , do
artigo 5 º ,da Constituição Federal.

Requer, desta forma, digne-se V. Exa. de, na forma do artigo 1019, inciso I, do CPC,
atribuir efeito suspensivo ao presente Agravo, dele comunicando-se, com urgência, o
Ilustre prolator da decisão agravada.

Diante do que restou supra demonstrado, requerem e confiam os Agravantes seja


conhecido e provido, por esse Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Espírito
Santo, o Agravo de Instrumento ora arrazoado, invalidando-se ou, assim não
entendendo, reformando-se a r. decisão atacada.

Termos em que pede e espera deferimento

Vitória, 20 de março de 2020.

Dra. MARIANA CERILLO GAVI


OAB/ES 252.000

6
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
DOCUMENTOS

7
Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES, chp.advogados@gmail.com,
Telefax (27) 3225-6628
DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃO
OBRIGATÓRIA

Pelo presente, MARIANA CERILLO GAVI, brasileira, solteira, advogada, inscrita na


OAB/ES sob o nº 252.000, com endereço eletrônico: marianacerillo@gmail.com,
com endereço profissional na Rua da Grécia, 300, bairro Santa Luiza, Vitória,
Espírito Santo, CEP: 29050-335, vem, na forma do artigo 1.017, incisos I e II do
Código de Processo Civil, DECLARAR expressamente:

a) a ausência de procuração outorgada ao advogado do Agravado, por se


tratar do Ministério Público do Estado do Espírito Santo e não haver
procuração nos autos;

b) ausência de Contestação, pois o Agravo de Instrumento foi interposto antes


da juntada da Contestação aos autos, por estar dentro do prazo legal para
apresentação da peça processual.

Por ser expressão de verdade, firmo o presente, sob pena de minha


responsabilidade pessoal prevista na legislação em vigor.

Vitória, 20 de março de 2020.

__________________________________
Dra. MARIANA CERILLO GAVI
OAB/ES nº 252.000
JUNTADA
EM 23/03/2020. Certifico a juntada da petição sob protocolo
nº 202003864219, intitulada como CONTESTAÇÃO.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

EXMO. SR. DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA DA INFÂNCIA E


JUVENTUDE DA COMARCA DE VITÓRIA/ES.

Processo: 0002648-25.2020.8.08.0024.

JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR, brasileiro, casado, empresário, inscrito no CPF sob o nº


254.695.133-57, portador do RG de 1.562.879 SSP/ES e do e-mail jeremias.
salomão@gmail.com e ALICE FERREIRA AGUIAR, brasileira, casada, autônoma, inscrita
no CPF sob o nº 139.584.999-75, portadora do RG nº 2.356.965 SSP/ES e do e-mail
alice.ferreira@gmail.com, ambos residentes e domiciliados à Rua Eugênio Netto, 154,
Bairro Santa Lúcia, CEP 29.054.555, cidade de Vitória/ES e residente e domiciliada à Rua
Eugênio Netto, nº 154, Bairro Santa Lúcia, Cep: 29.054-555, cidade de Vitória/ES, vem
respeitosamente perante Vossa Excelência, por intermédio de seus procuradores,
devidamente constituídos no instrumento procuratório anexo, apresentar

CONTESTAÇÃO

Na ação proposta pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL DO ESTADO DO ESPIRITO


SANTO, pelos motivos e razões a seguir expostos.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 1
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

1. BREVE SÍNTESE DOS FATOS ALEGADOS.

O Ministério Público do Estado do Espirito Santo alega, em apetada síntese, que no dia
06 de janeiro de 2020, chegou à ciência do Conselho Tutelar de Vitória/ES, por meio de
ofício encaminhado pela Diretora da escola particular de ensino infantil “Portal Criança” que
os ora Réus Sr. Jeremias Salomão Aguiar e Sra. Alice Ferreira Aguiar, encontravam-se
pendentes do envio da caderneta de vacinação de suas filhas, Margarida Ferreira Aguiar e
Violeta Ferreira Aguiar, ambas de quatro e seis anos, respectivamente, nascidas em
06.09.2015 e 22.01.2013.

Narra o Parquet que o período de pré-matrículas iniciou-se em 05 de Dezembro de 2019 e


que desde então os Réus se negam a cumprir a obrigação de vacinar as incapazes,
alegando para tanto, na sede da Promotoria de Justiça, questões religiosas, visto
pertencerem à “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura” que “proíbe a contaminação por
vacina”.

Em via de consequência, pretextam que os Réus são contra a educação escolar e favoráveis
a educação domiciliar, indo de encontro ao determinado pela Lei de Diretrizes e Bases, bem
como às Leis Federais nº 8.069/90; 8.080/90 e a Lei Estadual nº 10.913/2018, que versam
sobre a obrigatoriedade da apresentação do Cartão de Vacinas dos filhos menores de 18
anos no ato de matrícula.

De mais a mais, o MPES pugna pela condenação dos réus a fim de que os mesmos sejam
compelidos a cumprirem a obrigação de fazer, materializada na imediata providência da
vacinação de suas filhas, a fim de que as possibilite frequentar o Ensino Infantil
regularmente.

Dado ao exposto, não merecem prosperar os pedidos alçados na peça vestibular, pelos

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 2
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
motivos que se passa a expor.

2. DAS PRELIMINARES.

2.1. INCONSTITUCIONALIDADE POR VIA INCIDENTAL. INPLICABILIDADE


DO ART. 1º DA LEI ESTADUAL 10.913/18. INCONSTITUCIONALIDADE
MATERIAL EM FACE CONSTITUIÇÃO FEDERAL.

Sabe-se que no Direito Pátrio existem duas formas de controle de constitucionalidade de lei
ou de ato normativo do poder público.

Não por outro motivo ensina DANIEL ASSUNÇÃO AMORIM 1 que existe não só o controle
concentrado, o qual é de competência exclusiva do Egrégio Supremo Tribunal Federal,
materializada através do processo objetivo, como também há o controle difuso, que é per si
de competência de qualquer juízo e realizado de forma incidental em qualquer processo, no
qual a inconstitucionalidade se mostre prejudicial ao julgamento do mérito.

No que se refere a ultima, TEREZA ARRUDA ALVIN2 perpassa que a inconstitucionalidade


suscitada abarca tanto a norma em si, como certa interpretação de norma, além do ato
normativo do Poder Público.

Daí por que no Código de Processo Civil de 2015, o juiz singular no exercício de sua função
jurisdicional deve avaliar o incidente, empregando, em via de consequência o juízo de
admissibilidade.

Pois bem. Antes de adentrar ao debate acerca do mérito nota-se in casu a


1
NEVES ASSUNÇÃO, Daniel Amorim. Manual de Direito Processual Civil. 10 ed. Salvador: Juspdvim. 10
ed. 2018.p. 1446.
2
WAMBIER ALVIM, Teresa Arruda. Primeiros Comentários ao Novo Código de Processo Civil. 2º Ed. São
Paul: Revista dos Tribunais, 2016. p. 450.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 3
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
inconstitucionalidade material do Art. 1ª da Lei 10.913/18 pela qual o Parquet, com toda
vênia, baseia suas ilações acusatórias.

Em virtude dessas considerações o diploma Constitucional de 1988 consagrou o direito à


educação como baluarte de sua ordem institucional, estabelecendo que:

Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:

I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de


idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram
acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de
3
2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)

Posta assim a questão, na inconstitucionalidade material o conteúdo da norma é contrário ao


conteúdo constitucional, isto é, há incongruências entre o previsto na lei ou ato normativo,
em face daquilo que dispõe o texto constitucional.

Nesse sentido, para fins de balizamento cognitivo veja-se in fine o art. 1º da Lei Estadual n.º
10.913/18:

Art. 1º É obrigatória, em todo o território estadual, a apresentação do Cartão de


Vacinação no ato da matrícula dos alunos de até dezoito anos de idade, em todas as
escolas da rede pública ou privada, que ofereçam educação infantil, ensino
4
fundamental e ensino médio.

Não está se discutindo neste debate forense a inconstitucionalidade formal da antedita


norma, dado que é inequívoco que o trâmite legislativo fora hígido, todavia, o espectro de
análise cinge-se também ao conteúdo.

Em relação ao conteúdo, isto é, ao aspecto material, o condicionamento da matrícula das

3
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual. e
ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
4
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Disponível em
http://www3.al.es.gov.br/Arquivo/Documents/legislacao/html/LeOr109132018.html > Acesso em 22 mar. 2020.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 4
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
menores, Violeta e Margarida, à regularização da carteira de vacinação encontra óbice
intransponível no direito de acesso universal e gratuito à educação ESCANCARADAS no
art. 208, inciso I, da Constituição Federal.

Pasme Nobre Julgador, é o Poder Público quer não quer deixar as duas menores estudarem
em função de uma lei inconstitucional. Extrai-se da interpretação daquela norma, que o
parâmetro ao qual a Constituição Federal de 1988 acolheu é objetivo, vez que estabeleceu a
faixa etária, porquanto, critério para o acesso à educação.

Valem-se aqui as lições de Ruy Barbosa5 que “entre um ato legislativo ilegítimo de nascença
e a Constituição, cuja legitimidade nenhuma lei pode contestar, entre o ato nulo da
legislatura e o ato supremo da soberania nacional, o juiz, para executar o segundo, nega
execução ao primeiro”.

A par disso roga-se que o Crivo de Vossa Excelência não compactue com essa clara
violação normativa em face da Constituição Federal, o que prejudica, ainda que por via
incidental, indiscutivelmente os Réus.

Em outras palavras, ainda que o procedimento legislativo não esteja corrompido, não há
certeza da constitucionalidade da norma, pois caso contrário, numa comparação simplória,
jamais o legislador originário esculpiria os mecanismo de ação objetiva, tais quais, Ação
Declaratória de Constitucionalidade ou mesmo Ação Direta de Inconstitucionalidade e quiçá
permitiria o uso do controle difuso por via incidental.

Por essas razões, os Réus pugnam que Vossa Excelência DECLARE a inconstitucionalidade
do art. 1º da lei 10.913/18, com efeitos inter-partes, desobrigando, outrossim, os Réus de
apresentarem o Cartão de Vacina, extinguindo, em via de consequência, o feito com
resolução de mérito.

5
BRASIL. Senado Federal. Disponível em <https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/224197 >. Acessado em
22 de mar. 2020.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 5
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

3. DO MÉRITO.

3.1. DO DIREITO FUNDAMENTAL À EDUCAÇÃO. DO DIREITO


FUNDAMENTAL À SAÚDE. PODER FAMILIAR.

Ao contrário da tese fantasiosa sustentada pelo Ministério Público do Estado do Espirito


Santo, os Réus, sempre empreenderam em face dos seus filhos uma postura de cuidado, de
zelo e principalmente, proporcionando-os o direito à saúde e à educação.

Verifica-se a tentativa deliberada do MPES, em por em descrédito os Réus e o compromisso


destes em prol da sua prole. Os Réus, no entanto, convivem em comunhão de vida,
personificada por sua entidade familiar, recorrendo-se para tanto ao art. 1513 do Código Civil
de 2002:

Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público ou privado, interferir na


6
comunhão de vida instituída pela família.

Se de um lado é proibido o Estado interferir na Comunhão de Vida da Família, entende-se


por outro que o mesmo deve protegê-la, fundado no principio da Dignidade da Pessoa
Humana. Veja-se:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado.

§ 7º Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da


paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal,
competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o
exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de

6
BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 15 mar. 2020.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 6
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
instituições oficiais ou privadas.7 (grifou-se).

Logo, o poder diretivo dos pais sobre a criação dos seus filhos é envolto por uma
discricionariedade, inspirada pela autonomia e pelas convicções políticas, filosóficas
e religiosas de cada um.

Nesse sentido cabe pontuar que as normas constitucionais carregam consigo uma fórmula
aberta. O Art. 227 CRF/88 por exemplo informa que é dever da família assegurar à criança,
com absoluta prioridade, o direito à saúde e à educação, entretanto, não delimita um manual
de como concretizar tais direitos e tampouco o condiciona a uma formula específica.

Exaure-se do exposto, inicialmente, que o direito à saúde não se demonstra exercitado única
exclusivamente tal como quer o Ministério Público, somente pelo ato de vacinação das duas
menores.

Sendo assim numa perspectiva técnica e moderna, o conceito de saúde é estipulado, pela
Organização Mundial de Saúde, como sendo „’um estado de completo bem- estar físico
mental e social e não somente ausência de afeccções e enfermidades’’.

Corroborando com o exposto, perpassa KATIA REGINA FERREIRA LOBO MACIEL8:

„‟[...] Cabe aos pais, cuidar do bem-estar físico e mental dos filhos, levando-os
regularmente ao médico, principalmente na primeira infância, fase em que a
saúde é mais frágil e inspira maiores cuidados, e, principalmente, se manter
atentos aos filhos. A atenção a eles dispensada talvez seja a principal
garantia de uma vida saudável. No aspecto psíquico, já que os filhos
acolhidos, amados e ouvidos terão menor probabilidade de sofrerem
abalos psicológicos. Quanto ao aspecto físico, ficar atento a mudanças
comportamentais e queixas dos filhos é medida salutar. Via de regra,
ninguém melhor que os pais para identificar se há algo errado com os

7
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual.
e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
8
ANDRADE MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo. Curso de direito da criança e do adolescente:
aspectos teóricos e práticos. 11. ed. São Paulo Saraiva Educação, 2018.p.63.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 7
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
filhos e ao primeiro sinal já buscar atendimento adequado. Mas a
garantia da saúde não envolve apenas cuidados médicos. A saúde pela
alimentação é uma realidade. Promover uma nutrição adequada significa
prevenir doenças decorrentes de desnutrição, carência de algum
nutriente ou obesidade infantil, hoje, um dos grandes males da infância.
(grifou-se)

Nesse sentido não se pode cair numa perspectiva míope que a antedita atitude representa a
única forma de se garantir o direito à saúde, arrolando-se que os pais que obstam a realiza-
la incorreriam em negligencia.
O conceito da OMS vai ao encontro da postura dos Réus que sempre proporcionaram
as suas filhas o acesso à saúde, através de consultas médicas periódicas e exames
preventivos, tal como será comprovado por prova testemunhal.

No que se refere ao direito à educação das suas filhas, os Réus reforçam o desejo de
educar as suas filhas em casa sem a interferência do Estado, entretanto, dada a proibição
do Ordenamento Jurídico Pátrio ao HOMESCHOLLING, viram-se obrigados a realizar a
matrícula das duas menores, Margarida Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, no dia 05
de Dezembro de 2019, isto é, no primeiro dia de abertura.

È no mínimo inautêntico se arguir que os Réus são negligentes, bem como dizer que
os mesmos não possuem a pretensão de efetuar a matrícula das duas menores.

Apesar das concepções pessoais dos Reús é de ser relevado, que a Diretora da Escola
Infantil, Maria Eduarda Cavalcanti, foi quem os informou que caso os cartões de vacina não
fossem entregues até o início do período letivo, Margarida e Violeta estariam
impossibilitadas de frequentar as aulas.

Esta atitude, sim, Nobre Julgador que obsta o acesso à educação, violando ao mandamento
constitucional esculpido no art. 208, bem como ao art. 4º da Lei 10.913/18 que nenhum
momento, aduz expressamente em seu texto ou mesmo prevê, a possibilidade de impedir
que as menores frequentem as aulas.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 8
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

Não se pode perder de vista que os argumentos lançados na exordial perdem-se


nas suas próprias contradições!

Mais constritador é dizer que há o descompromisso por parte dos Réus na gerência
da educação dos seus filhos, ao passo que a Diretora do ente escolar e o Ministério
Público, subvertem a norma jurídica e a sua interpretação.

Se de um aspecto há a proibição da educação domiciliar, por sua vez o Excelso Supremo


Tribunal Federal decidiu no que se refere ao ensino escolar, ser direito subjetivo das
crianças a matrícula em escolas de educação infantil, não podendo se edificar ou criar
qualquer restrição a esse direito fundamental:

EMENTA: CRIANÇA DE ATÉ CINCO ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO


EM CRECHE E EM PRÉ-ESCOLA - SENTENÇA QUE OBRIGA O
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO A MATRICULAR CRIANÇAS EM UNIDADES
DE ENSINO INFANTIL PRÓXIMAS DE SUA RESIDÊNCIA OU DO
ENDEREÇO DE TRABALHO DE SEUS RESPONSÁVEIS LEGAIS, SOB
PENA DE MULTA DIÁRIA POR CRIANÇA NÃO ATENDIDA - LEGITIMIDADE
JURÍDICA DA UTILIZAÇÃO DAS “ASTREINTES” CONTRA O PODER
PÚBLICO – DOUTRINA – JURISPRUDÊNCIA - OBRIGAÇÃO ESTATAL DE
RESPEITAR OS DIREITOS DAS CRIANÇAS - EDUCAÇÃO INFANTIL -
DIREITO ASSEGURADO PELO PRÓPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF,
ART. 208, IV, NA REDAÇÃO DADA PELA EC Nº 53/2006) - COMPREENSÃO
GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL À EDUCAÇÃO - DEVER
JURÍDICO CUJA EXECUÇÃO SE IMPÕE AO PODER PÚBLICO,
NOTADAMENTE AO MUNICÍPIO (CF, ART. 211, § 2º) – LEGITIMIDADE
CONSTITUCIONAL DA INTERVENÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO EM CASO
DE OMISSÃO ESTATAL NA IMPLEMENTAÇÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS
PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO - PRINCÍPIO “JURA NOVIT CURIA” –
INVOCAÇÃO EM SEDE DE APELO EXTREMO - IMPOSSIBILIDADE –
RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. ‟[...] A educação infantil representa
prerrogativa constitucional indisponível, que, deferida às crianças, a
estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como
primeira etapa do processo de educação básica, o atendimento em
creche e o acesso à pré-escola (CF, art. 208, IV). Essa prerrogativa
jurídica, em consequência, impõe, ao Estado, por efeito da alta
significação social de que se reveste a educação infantil, a obrigação

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 9
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
constitucional de criar condições objetivas que possibilitem, de maneira
concreta, em favor das "crianças até cinco anos de idade" (CF, art. 208,
IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pré-
escola, sob pena de configurar-se inaceitável omissão governamental,
apta a frustrar, injustamente, por inércia, o integral adimplemento, pelo
poder público, de prestação estatal que lhe impôs o próprio texto da CF.
A educação infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda
criança, não se expõe, em seu processo de concretização, a avaliações
meramente discricionárias da administração pública nem se subordina a
razões de puro pragmatismo governamental.” (ARE 639.337 AgR, rel. min.
Celso de Mello, j. 23-8-2011, 2ª T, DJE de 15-9-2011.)

È uma perspectiva teratológica, pois os Réus detém o desejo de empreender o ensino


domiciliar em face das suas filhas, entretanto, encontram óbice no Ordenamento
Jurídico.

De outra banda, o Poder Público alça um novo impedimento, para as Crianças


estudarem, este, representado por meio da obrigatoriedade de tomar vacinas, indo de
encontro a crença religiosa familiar dos Réus.

3.2 DIREITO À LIBERDADE DE CRENÇA. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA


PESSOA HUMANA. DISPENSA À VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA. RISCOS
ADVERSOS IRREPARÁVEIS. LAUDOS MÉDICOS PARTICULARES.

Inicialmente pretende-se desfazer a confusão instaurada pelo Ministério Público do Estado


do Espirito Santo, que sorrateiramente pretende produzir uma narrativa descompromissada
com os fatos ao registrar que:

 „‟há uma colisão entre o direito fundamental à saúde e o direito à liberdade de


crença‟‟;
 „‟em que pese o alegado direito de crença religiosa suscitado pelos réus, em atenção
ao princípio do melhor interesse, não podem os pais se recusarem a vacinar as suas
filhas, sob o argumento do direito individual que lhes garante a Constituição‟‟;

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 10
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
 „‟vez que a vacinação se trata, mormente, de direito coletivo, o qual deve ser
sopesado com maior relevância, tendo em vista ser a vida, de diversas pessoas, o
bem jurídico tutelado‟‟.

Em que pese o alegado, cumpre destacar que há conflito de direitos fundamentais e estes não
podem ser considerados como absolutos, mas ao revés, devem ser ponderados entre si em
cada caso concreto.

Em razão disso, por amor ao debate forense recorre-se a diferença basilar entre
Direito e Garantias Fundamentais, a qual o Ministério Público omitiu com vistas a dar
impulso a sua tese, levando aos olhos desatentos a um entendimento jurídico falho.

Nesse sentido, fazem-se esclarecedores os ensinamentos de ALEXANDRE DE MORAES9


ao lecionar que:

‘’[...] A distinção entre direitos e garantias fundamentais, no direito


brasileiro, remonta a Rui Barbosa, as disposições meramente
declaratórias, que são as que imprimem existência legal aos direitos
reconhecidos, e as disposições assecuratórias, que são as que, em
defesa dos direitos, limitam o poder. Aquelas instituem os direitos;
estas, as garantias; ocorrendo não raro juntar-se, na mesma disposição
constitucional, ou legal, a fixação da garantia com a declaração do
direito [...]’’.

Percebe-se que os Direitos representam certo bens, as Garantias destinam-se a assegurar a


fruição desses bens. Nesse sentido, veja-se o disposto no Art. 5º VI e VIII da Constituição
Federal:

Art. 5º. VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo


assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da
lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias. (grifou-se)

9
DE MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 32. ed. rev. e atual. até a EC nº 91, de 18 de
fevereiro de 2016. São Paulo: Atlas, 2016. p.95.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 11
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
(...)

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de


convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação
10
legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei.
(grifou-se)

Inferem-se duas premissas basilares. A primeira é que se tem no verso primeiro do inciso VI
o direito à inviolabilidade de crença, ao passo que a segunda parte existe a garantia de
proteção ao culto e as suas liturgias.

No caso presente, resta clarividente que há uma violação à liberdade de crença dos Réus,
vez que pertencem a uma denominação religiosa „‟ Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura‟‟.
Esta embora não seja conhecida pelo seio social, apregoa em sua doutrina e liturgia que as
vacinas causam contaminação ao indivíduo.

Em outras palavras, pretender que os Réus vacinem as duas menores, Margarida Ferreira
Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, é justamente violar à sua liberdade de crença, bem como a
garantia de proteção ao culto e liturgia esculpida no texto constitucional.

Considerar o contrário, também representa que o Ministério Público deve denunciar á titulo
ilustrativo, as famílias judias que realizam no primogênito de sexo masculino à prática da
circuncisão, o que conforme sabe-se gera ao recém nascido lesão corporal, havendo, como
todo e qualquer procedimento cirúrgico risco de morte.

De igual forma, com toda vênia, è dizer para os membros da Testemunha de Jeová que à
crença de não aceitar receber sangue è inaceitável, é pífia desacreditando-os de sua fé, de
sua liturgia.

10
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual.
e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 12
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
Ou seja, às consequências fáticas arguidas pela tese do Parquet desestabilizam o seio
social, indo de encontro aos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, de
construir uma sociedade livre, justa e solidária, bem como de promover o bem de todos, sem
preconceitos de origem e qualquer outras formas de discriminação, tal como encartada o art.
3º do diploma constitucional.

Vale-se aqui a presença da Isonomia Material, materializada pelo brocado, de tratar


igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na exata medida de suas
desigualdades.

Tenha-se presente que existe veladamente uma tentativa para que os Réus renunciem às
suas crenças, aos dogmas da sua religião, pois é o pretende, justamente a plano de fundo, o
MPES, ao tentar que Vossa Excelência compile-os a proceder a vacinação.

Inteiramente consciente da existência de tais tentativas no meio jurídico, é que consiste,


novamente o Magistério MORAES, ao esclarecer que:

‘’[...] A abrangência do preceito constitucional é ampla, pois sendo a religião o


complexo de princípios que dirigem os pensamentos, ações e adoração do
homem para com Deus, acaba por compreender a crença, o dogma, a moral,
a liturgia e o culto. O constrangimento à pessoa humana de forma a
renunciar sua fé representa o desrespeito à diversidade democrática de
ideias, filosofias e a própria diversidade espiritual.’’11 (grifou-se)

Nesse sentido perfaz-se o compromisso da defesa com a dialética dos fatos. Sendo assim
aduz o Ministério Público às fls. 11 que:

‘’A abstenção dos réus reflete uma prática lesiva à integridade física das
menores, as quais, com 4 e 6 anos de idade, ainda não tiveram acesso
básico à saúde que lhes é garantido pela Constituição Federal, motivo

11
DE MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 32. ed. rev. e atual. até a EC nº 91, de 18 de
fevereiro de 2016. São Paulo: Atlas, 2016. p.115.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 13
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda
pelo qual encontram-se expostas e vulneráveis a todos tipos de
patógenos e enfermidades que ordinariamente acometem crianças
dessa faixa etária. Como se não bastasse, a omissão dos pais acarreta,
ainda, em risco de contágio à toda coletividade, uma vez que sem a
devida imunização facilita-se a propagação de diversas doenças ’’

Compreende-se a plausibilidade da argumentação acima aventada, inclusive, reconhece-se


a importância da atuação do MP à proteção às crianças, e aos seus direitos fundamentais,
em face da omissão de determinados genitores, entretanto, a presente alçada não pode ser
ancorada aos Réus. Explica-se.

Conforme cópia dos laudos em anexo, verifica-se o inteiro comprometimento dos Genitores
com a saúde das suas filhas, cujo acompanhamento clínico e médico è realizado, desde os
primeiros quinze dias de vida das duas menores, proporcionando o acesso básico a saúde
das duas menores.

Esclarece-se, outrossim, que a Religião dos Réus não proíbe o acompanhamento médico e
tampouco o exercício ao direito à saúde, mas tão somente a contaminação por vacinas.

Assim, conforme aventado acima, o direito à saúde não se dá somente pela vacinação, mas
ao revés, personifica-se pelo acompanhamento médico, pela nutrição alimentar, por
atividades físicas e pelo bem-estar psíquico.

Refuta-se, por iguais razões, a tese arguida da existência de omissão e de riscos de


contaminação, por parte das menores, a toda sociedade, dada a existência de
acompanhamento clínico periódicos das duas menores.

Nesse sentido Excelência são os motivos de crença religiosa que obstam os Réus a
vacinarem as suas filhas, obriga-los a proceder tal medida seria atingir violentamente a sua
Dignidade como Pessoa Humana.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 14
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

3.3. DA NECESSIDADE DE CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA JUSTIÇA


GRATUITA.

Nobre Julgador, os Réus fazem jus à concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos
termos do arts. 98 e seguintes do Código de Processo Civil ( Lei 13.105/2015), vez que não
podem arcar com as custas e despesas processuais, nem honorários advocatícios, sem
prejuízo do seu sustento e de sua família.

Em virtude dessas considerações, os réus pugnam pela juntada da declaração de


hipossuficiência econômica, encartada em anexo, requerendo que Vossa Excelência defira o
presente pedido.

3.4 PRODUÇÃO DE PROVA. PROVA TESTEMUNHAL E


DOCUMENTAL SUPLEMENTAR.

Com vistas a comprovar o melhor direito, os Réus apresentam ao D. Juízo o rol de


testemunhas, pugnando pela sua intimação, nos termos do Art. 454 § 4º da fim de que
possam comparecer a Audiência a ser designada por este Juízo.

1º) Maria Elizabeth Julia , CPF 123.456-78, médica, com endereço profissional no
Hospital da Policia Militar, Bento Ferreira, nº 1000, Vitória/ES.

2°) Marluce de S., CPF 987.654 -32, assistente social, residente e domiciliada na Rua
78, nº 42, Vitória/Es.

3.) Karoline, CPF 456.123-31, Pastora, com endereço profissional “Igreja Gênesis II
da Saúde e da Cura, Avenida Vitória nº 5000, Vitória/ Es.

4. DOS PEDIDOS

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 15
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

Ante o exposto, requer:

I) O deferimento do Benefício da Gratuidade da Justiça, nos termos do artigo


98 e seguintes do CPC/15, da Lei nº 1.060/50 e do artigo 5º, inciso LXXXIV
da Constituição Federal.

II) A designação da audiência prévia de conciliação nos termos do artigo 319,


IV do CPC.

III) A apreciação das preliminares argüidas para declarar inconstitucionalidade


material em face da Constituição Federal.

IV) Não sendo acolhida a preliminar, requer a apreciação do mérito, para


declarar improcedente a ação e todos os pedidos da parte autora, com a
conseqüente extinção do processo, com resolução de mérito, nos moldes
do artigo 487, I, do CPC.

V) Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito


necessárias à convicção de Vossa Excelência, especificando desde logo,
provas documentais, testemunhais e depoimento pessoal.

VI) A intimação das testemunhas arroladas, por força do art. 454 § 4º CPC/15.

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 16
CERILLO HOLANDA PERTEL
ADVOGADOS
Dra. Mariana Cerillo
Dra. Larissa Pertel
Dr. Pedro Henrique Holanda

Nestes termos,
pede deferimento.

Vitória/ES 23 de março de 2020.

Dra. LARISSA MEZADRI PERTEL


ADVOGADA – OAB/ES 252.555

Dra. MARIANA CERILLO GAVI


ADVOGADA – OAB/SP 252.000

PEDRO HENRIQUE L. HOLANDA


ADVOGADO - OAB/ES 333.344

Endereço: Rua da Grécia, Santa Luiza, CEP nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES,


pml.advogados@gmail.com, Telefax (27) 3225-6628 Fls 17
INSTRUMENTO PARTICULAR DE MANDATO

Pelo presente Instrumento Particular de Mandato, JEREMIAS


SALOMÃO AGUIAR, brasileiro, casado, empresário, inscrito no CPF sob o
nº 254.695.133-57, portador do RG de 1.562.879 SSP/ES e do e-mail
jeremias.salomão@gmail.com e ALICE FERREIRA AGUIAR, brasileira,
casada, autônoma, inscrita no CPF sob o nº 139.584.999-75, portadora do
RG nº 2.356.965 SSP/ES e do e-mail alice. ferreira@gmail.com, ambos
residentes e domiciliados à Rua Eugênio Netto, 154, Bairro Santa Lúcia,
CEP 29.054.555, cidade de Vitória/ES e residente e domiciliada à Rua
Eugênio Netto, nº 154, Bairro Santa Lúcia, Cep: 29.054-555, cidade de
Vitória/ES, nomeia e constitui seu bastante procurador a advogada Dra.
Larissa Pertel inscrita na OAB/ES sob o nº 252.555; Dra Mariana Cerillo
inscrita na OAB/ES sob o nº 252.000 e Dr. Pedro Henrique L. Holanda
inscrito inscrito na OAB/ES sob o nº333.343, ambos, com escritório
profissional à Rua da Grécia, bairro Santa Luíza, nº 300, endereço
eletrônico chp.advogados@gmail.com, CEP nº 29.050.335, Vitória/ES , a
quem outorga os poderes para o foro em geral, além daqueles ressalvados
no art. 105 NCPC (exceto para receber citação), quais sejam, confessar,
transigir, desistir, renunciar ao direito sobre o qual se funda a ação,
receber, dar quitação e firmar compromisso, assinar declaração de
hipossuficiência econômica, especialmente para defender os interesses do
Outorgante nos autos da ação ajuizada pelo Ministério Público do Estado
do Espírito Santo, processo nº 0002648-25.2020.8.08.0024, em trâmite
perante a Vara 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória (ES), em todas as
fases processuais, podendo, o Outorgado, praticar todos os atos
necessários ao exato e fiel cumprimento do presente mandato.

Vitória, 24 de Março de 2020.


ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
2ª CÂMARA CIVEL

Vitória, 25 de março de 2020.

OF. Nº 135/2020
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 0048293-83.2020.8.08.0024.
(Ref. Ao Processo de origem Nº 0002648-25.2020.8.08.0024)

MMº. Juiz:

De ordem do Eminente Desembargador , Exmº Dr. Thiago Freitas


dos Santos, encaminho a V. Exª, para os devidos fins, cópia da r. Decisão de fls 58/60,
proferida nos autos do Agravo de Instrumento supra mencionado.

Respeitosamente.

Matheus Shunk Borgo


Chefe de Secretaria

Ao
Exmº. Sr(a). Juiz(a) de Direito da 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

DECISÃO MONOCRÁTICA
Agravo de Instrumento nº0048293-83.2020.8.08.0024
Origem : 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória
Relator : Desembargador Thiago Freitas dos Santos
Agravante : Jeremias Salomão Aguiar
Agravante : Alice Ferreira Aguiar
Agravado : Ministério Público do Estado do Espírito Santo

EMENTA:

DECISÃO MONOCRÁTICA. AGRAVO DE INSTRUMENTO. TUELA DE


URGÊNCIA. VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA. MELHOR INTERESSE DO
MENOR. LIBERDADE RELIGIOSA. IRREVERSIBILIDADE DA TUTELA DE
URGÊNCIA. AGRAVO DE INSTRUMENTO PROVIDO. 1. Cuida-se de Agravo
de Instrumento contra decisum que deferiu tutela de urgência, requerida pela
parte ora agravado, que, por sua vez, buscava a determinação para a
realização das vacinações obrigatórias das crianças. 2. A decisão agravada
não deve prosperar por gerar a irreversibilidade da medida. 3. Conforme art.
300, § 3º do Código de Processo Civil, a tutela de urgência de natureza
antecipada não será concedida quando houver perigo de irreversibilidade dos
efeitos da decisão. 4. Agravo de Instrumento provido.

DECISÃO

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto por Jeremias Salomão Aguiar e


Alice Ferreira Aguiar em face de decisão proferida pelo Juízo da 1ª Vara da
Infância e Juventude de Vitória.

Através da decisão de fls. 44/47, o MM. 1° Juiz de Direito da 1ª Vara da


Infância e Juventude desta capital, Dr. Henrique dos Santos Teixeira, assim
julgou o pedido de tutela antecipada de urgência, proposta pelo Ministério
Público do Estado do Espírito Santo em face do recorrente:
“DEFIRO O PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA DE URGÊNCIA para determinar
aos réus que realizem a regularização de todas
as vacinas obrigatórias pendentes das menores
M.F.A. e V.F.A. no prazo de 24 (vinte e quatro)
horas.”

Inconformados com a decisão, Jeremias Salomão Aguiar e Alice Ferreira


Aguiar, interpuseram agravo de instrumento fls. 01/55.

Alega os agravantes que o magistrado agiu incorretamente ao conceder a


tutela, considerando a irreversibilidade dos efeitos da decisão com fulcro no
artigo 300, §3° do Código de Processo Civil.

É o relatório.

Preenchidos os requisitos extrínsecos e intrínsecos de admissibilidade recursal


conheço do presente agravo de instrumento e passo à análise, por ora do
pedido de concessão de efeito suspensivo.

Cinge-se a controvérsia dos autos em aferir se cabe aos genitores a


possibilidade de escolha quanto a vacinação dos filhos menores.

A concessão de efeito suspensivo, não obstante esteja direta e expressamente


atrelada à presença do risco de provocar à parte lesão grave ou de difícil
reparação, também é indissociável da análise da verossimilhança das
alegações, uma vez que também exigido da parte a apresentação de relevante
fundamentação apta a demonstrar a “probabilidade de provimento do recurso”.

Desta forma, há expressa vedação à concessão da medida vindicada quando


houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado, de acordo com o
art. 300, § 3º do Código de Processo Civil, hipótese que se afigura neste caso,
diante da própria natureza do provimento pleiteado. Trata-se de pressuposto
negativo a obstar a concessão da antecipação dos efeitos da tutela jurisdicional
e, verificada sua presença, o julgador tem o poder-dever de negar pretensão.

Portanto, a alteração da decisão primeva, ao menos nesta fase processual, se


revela cabível.

Acrescente-se que, nessa análise prévia e não exauriente, caso um dos


requisitos citados não se mostre cristalinamente demonstrado nos autos, obsta-
se tão somente a concessão do pleito liminar, não significando que, adiante,
acaso constatado o preenchimento do requisito ausente, seja concedido o
pleito recursal final.
Considerando ainda, que a presente determinação da vacinação forçada das
menores é um ato irrecuperável, sendo mais prudente se aguardar o transcurso
da instrução processual nos autos originários. Além disso, no caso, está
configurado o perigo de irreversibilidade do provimento antecipado.

Do exposto, CONCEDO O EFEITO SUSPENSIVO pleiteado até o julgamento


ulterior do mérito, afastando a decisão de fls. 44/47.

Oficie-se o juízo de origem acerca do teor da decisão.

Intime-se a parte agravada, nos termos do artigo 219 e 1.019, II, ambos do
Código de Processo Civil, para, querendo, contraminutar o presente recurso.

Utilize-se a cópia da presente decisão como Ofício/Mandado.

Publique-se.

Vitória/ES, 23 de março de 2020.

Des. Thiago Freitas dos Santos


2ª Câmara Cível
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

CONCLUSÃO

Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos Santos
Teixeira.
Vitória/ES, 27/03/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA - 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

0002648-25.2020.8.08.0024 – Procedimento comum


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
Réus: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

DESPACHO

Tendo em vista a determinação do Exmo. Sr. Desembargador Thiago Freitas


dos Santos da 2ª Câmara Cível, determino a intimação dos advogados das
partes para a ciência.

Intime-se a parte autora para réplica, devendo, inclusive: a) enfrentar


especificamente as matérias preliminares e impugnações da contestação; b)
informar se pretende produzir novas provas a fim de confirmar o alegado na
exordial, devendo justificar sua necessidade. Prazo de 15 (quinze) dias.

Após, conclusos.

Diligencie-se.

Vitória/ES, 09 de abril de 2020.

Henrique dos Santos Teixeira


JUIZ DE DIREITO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

INTIMAÇÃO

PROCESSO Nº.: 0002648-25.2020.8.08.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e
ALICE FERREIRA AGUIAR
FINALIDADE: PARA, NO PRAZO LEGAL, TOMAR CIÊNCIA DO DESPACHO DE
FLS. 135.

VITÓRIA, 09 DE ABRIL DE 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

Remessa ao Ministerio Publico


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA 1º VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DA


COMARCA DE VITÓRIA/ES.

Processo n.º 0002648-25.2020.8.08.0024.

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por meio da Promotora de Justiça que esta


subscreve, no uso de suas atribuições legais e institucionais, vem respeitosamente
perante a Vossa Excelência, em atenção ao despacho de fls..., e à Contestação
apresentada às fls..., apresentar RÉPLICA, pelas razões de fato e de direito que
seguem.

I - SÍNTESE DO PROCESSSO

Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer (fls. 02/26) proposta pelo Ministério


Público do Estado do Espirito Santo, em face de Jeremias Salomão Aguiar e
Alice Ferreira Aguiar, devidamente qualificados nos autos, para obrigarem-nos a
proceder às vacinações pendentes das menores impúberes V.F.A e M.F.A, que
nunca receberam as vacinas obrigatórias em razão de crença religiosa dos réus,
frequentadores da “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura” que “proíbe a
contaminação por vacina”.

Quando cientificados de que a ausência da apresentação da caderneta de vacinas


das menores as obstaria o acesso ao ensino infantil regular, conforme exarado pela
Diretora da Escola Infantil “Portal Criança” (fls. 11/11-vº), tão logo externaram o
desejo de educarem as menores em casa, visto serem contra a educação formal
(fl.26), o que vai de encontro ao que determina a Lei de Diretrizes e Bases, bem
como as Leis Federais nº 8.069/90; 8.080/90, e a própria Constituição Federal.

Tendo em vista a urgência do pedido, uma vez que as menores nunca receberam
qualquer dose das vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde, e que o período
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

letivo iniciaria sem que aquelas pudessem frequentá-lo, pugnou-se, ainda, pelo
deferimento liminar da tutela pretendida.

O pedido de tutela antecipada foi devidamente concedido, conforme a r. Decisão de


fls. 27/28-vº, a qual determinou que os réus vacinassem as suas filhas, em até 24
horas.

Às fls. 30/30-vº, foi expedido mandado de citação e intimação da mencionada


decisão interlocutória, a fim de que os réus se pronunciassem acerca das alegações
exordiais e, querendo, que recorressem da decisão exarada pelo h. juízo da 1ª Vara
da Infância e Juventude. Desse modo, os réus, irresignados com a Decisão
proferida, interpuseram (fl.__) e razoaram (fls.___) o Agravo de Instrumento com
pedido de Efeito Suspensivo, alegando, em suma, a irreversibilidade da medida
liminar concedida, o que vai de encontro ao requisito legal disposto no §3º do art.
300/NCPC.

Em análise ao recurso interposto, o Relator da 2ª Câmara Cível entendeu assistirem


razão os réus, haja vista que a determinação do juízo a quo não observou o
dispositivo legal acerca do tema, razão pela qual suspendeu os efeitos da r. Decisão
de piso, conforme a Decisão Monocrática de fls.___, a qual este Parquet toma
ciência, neste ato.

Por fim, a parte ré apresentou contestação (fls.___), alegando, em síntese:

(i) A inconstitucionalidade do art. 1º da Lei Estadual n.º 10.913/18;

(ii) A discricionariedade dos pais no exercício do Poder Familiar e os direitos à


saúde e a educação;

(ii) O direito à liberdade religiosa e o princípio da dignidade da pessoa humana;

(iv) Riscos adversos provenientes das vacinas e laudos médicos que atestam a
saúde das menores.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

II. DA PRELIMINAR ARGUIDA

(i) A inconstitucionalidade do art. 1º da Lei Estadual n.º 10.913/18:

A defesa inicia sua tese alegando, em caráter preliminar, a inconstitucionalidade do


art. 1º da Lei nº 10.913/18, aduzindo que o Ministério Público Estadual baseia a sua
tese em uma norma lastreada de vício material, uma vez que o conteúdo do aludido
dispositivo legal contraria a Constituição Federal 1 , sob a tese de que proíbe o
acesso à educação pelas crianças. No entanto, tal argumento deve ser
completamente rechaçado, conforme se demonstrará.

LUIS ROBERTO BARROSO esclarece que “a inconstitucionalidade material


expressa uma incompatibilidade de conteúdo, substantiva entre a lei ou ato
normativo, e a Constituição. Pode traduzir-se no confronto com uma regra
constitucional, ou com um princípio constitucional2.

Assim, o controle de constitucionalidade pode ser definido, segundo DALTON


MORAIS, como:

A verificação de conformidade de todo e qualquer ato estatal, e também dos


atos jurídicos emanados da sociedade como um todo, com a Constituição
vigente, cabendo ao órgão controlador impedir ou corrigir quaisquer máculas
produzidas contra aquelas normas que são consideradas as principais do
ordenamento jurídico vigente”.3

Pois bem.

Contrariamente ao que sustenta a defesa, a lei estadual em comento não proíbe a


matrícula, e sim obriga os responsáveis a apresentarem o cartão de vacinação
atualizado, medida adotada não apenas pelo Estado do Espírito Santo, mas em
diversas federações do país, no intuito de combater a disseminação de doenças no

1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p.
255.
2 BARROSO, Luis Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição

sistemática da doutrina e análise critíca da jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 29
3 MORAIS, Dalton. Controle de constitucionalidade exposições criticas a luz da

Jurisprudência do supremo tribunal federal. 1. ed. Salvador: JusPodivm, 2010. p.40.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

âmbito escolar. Tais medidas encontram respaldo em diversos dispositivos legais,


dentre eles, o art. 197 da CRFB/88, o qual afirma que “são de relevância pública
as ações e serviços de saúde, cabendo ao poder público dispor, nos termos
da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle [...]4”.

Assim, os Estados tem o poder-dever de fiscalizar, regulamentar e controlar as


ações e serviços de saúde, instituindo medidas que sejam proporcionais e
razoáveis, no âmbito da discricionariedade da Administração Pública, à sua plena
efetividade. É exatamente o que afirma, de igual modo, o art. 7º da Lei Federal n.º
8.069/1990, o qual dispõe que “a criança e o adolescente têm direito a proteção,
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que
permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmônicos”5, dentre as quais,
não se pode negar, as campanhas de vacinação representam, com enorme
relevância, as políticas sociais adotadas pelo Poder Público no combate à
disseminação de inúmeras doenças infectocontagiosas que acometem a população.

Aliás, não é recente a implementação da vacina como medida de saúde pública


preventiva. Em 18 de setembro de 1973 foi implantado no Brasil o “Programa
Nacional de Imunizações”, o qual, segundo a sua própria cartilha, ocorre também
nos países desenvolvidos, uma vez que as vacinas, além de seguras, representam
estímulo ao sistema imunológico à proteger a pessoa contra doenças
transmissíveis sendo que, “quando adotada como estratégia de saúde pública,
elas são consideradas um dos melhores investimentos em saúde, considerando o
custo-benefício.”6

Nessa mesma linha, a Lei Federal n.º 6.259/75 dispõe sobre a organização das
ações de vigilância epidemiológica e do Programa Nacional de Imunizações,
estabelecendo o seguinte:

4
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de out. de 1988. Vade Mecum
Saraiva. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 66.
5
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Vade Mecum Saraiva. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. p. 1035.
6 BRASIL. Ministério da Saúde. Sobre o Programa Nacional de Imunizações. Disponível em:

<https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/vacinacao/sobre-o-programa>. Acesso em: 08 abr. 2020.


MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Art. 3º. Cabe ao Ministério da Saúde a elaboração do Programa Nacional de


Imunizações, que definirá as vacinações, inclusive as de caráter
obrigatório.

Parágrafo único. As vacinações obrigatórias serão praticadas de modo


sistemático e gratuito pelos órgãos e entidades públicas, bem como pelas
entidades privadas, subvencionadas pelos Governos Federal, Estaduais e
Municipais, em todo o território nacional7. (grifou-se)

Esse dispositivo está em perfeita consonância com o art. 198, II, da CRFB/88, que
esclarece que uma das diretrizes das ações e serviços públicos de saúde é a
prioridade para as atividades preventivas 8 , reforçando a importância da
vacinação como instrumento para se promover a saúde da população.

Ora, Excelência, se vigorar o entendimento trazido à baila sobre a


inconstitucionalidade do art. 1º da Lei 10.913/18, a defesa deveria, de igual forma,
arguir a inconstitucionalidade dos artigos da Lei Federal n.º 6.259/75 e do próprio
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), supramencionados.

Assim, não há que se falar em controle de constitucionalidade difuso9, ou seja, de


competência de qualquer juiz ou tribunal, realizado em caráter incidental, dentro de
um processo, com efeito interpartes, tal como levantado pela defesa. Na verdade,
verifica-se que na falta de argumentos jurídicos sólidos para contestar a exordial, a
arguição dessa preliminar tem apenas função meramente apelativa.

Resta clarividente, portanto, que a lei n.º 10.913/18 não confronta a Constituição
Federal, sendo seu conteúdo perfeitamente válido e compatível com a Carta Magna,
de modo que essa preliminar deverá ser rejeitada, com o devido prosseguimento do
feito, vez que o controle não se aplicará ao caso em tela.

7 BRASIL. Lei 6.259 de 30 de outubro de 1975. Disponível em < https://


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6259.htm >, acesso em: 09 abr. 2020.
8 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de out. de 1988. Vade Mecum

Saraiva. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 66.


9 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p.

266.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

III – DAS ALEGAÇÕES DE MÉRITO

(ii) A discricionariedade dos pais no exercício do Poder Familiar e os direitos à


saúde e educação;

A parte ré, inconformada com os argumentos constitucionais apostos na inicial,


afirma que a sua omissão na imunização obrigatória das menores, bem como o
desejo de prover-lhes o ensino domiciliar, reflete a autonomia e discricionariedade
que detêm os pais, enquanto no exercício do poder diretivo familiar, a criar os filhos
segundo as suas convicções políticas, filosóficas e religiosas, alegando que “as
normas constitucionais carregam consigo uma fórmula aberta” e que “não delimita
um manual de como concretizar tais direitos e tampouco o condiciona a uma fórmula
específica.” (fls...).

O que se pode extrair da aludida afirmação, é que os réus buscam argumentos que
lhes viabilizem escusarem-se da obrigação em proceder à vacinação das menores,
sob a alegação de que tal omissão não representa negligência quanto aos cuidados
que os pais devem ter diante dos filhos, isto porque, segundo afirmam, “numa
perspectiva técnica e moderna, o conceito de saúde é estipulado, pela Organização
Mundial da Saúde, como sendo ‘um estado de completo bem-estar físico mental e
social e não somente ausência de afecções e enfermidades’”.

Frisa-se que, a Organização Mundial da Saúde, mencionada na Contestação dos


réus, repudia veementemente qualquer movimento anti-vacinação e afirma que este
representa uma afronta e ameaça à saúde global. Isto porque, conforme demonstra
as estatísticas, “o relatório da OMS revelou que a vacinação contra diversas
doenças, incluindo sarampo, poliomielite e difteria, foi capaz de prevenir até três
milhões de mortes por ano.”10

10 OMS considera movimento antivacina uma ameaça à saúde mundial. Para especialistas, a
presença do movimento na lista de ameaças evidencia os perigos que ele representa à saúde global.
VEJA. Publicado em 17 jan. 2019, 19h20 Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/oms-
considera-movimento-anti-vacina-uma-ameaca-a-saude-mundial/>. Acesso em: 08 abr. 2020.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

O que se evidencia é que a defesa pretende, com base no achismo de suas


interpretações acerca do “conceito contemporâneo de saúde”, convencer à Vossa
Excelência de que, embora nunca tenham os réus provido às menores
impúberes QUALQUER DAS VACINAS OBRIGATÓRIAS recomendadas pelo
Calendário Nacional de Vacinação e Ministério da Saúde, isso não significa que
não estejam cumprindo com o seu dever legal, enquanto pais, vez que sempre
realizaram acompanhamento médico regular das aludidas menores. Este
argumento, embora ainda não seja objeto do presente tópico, adianta-se, não há de
prosperar.

Ademais, afirmam ainda que, muito embora sejam contra o ensino escolar,
compreendem que há, no ordenamento jurídico pátrio, vedação ao homeschooling
puro, exatamente como demonstrado por este Parquet na Exordial. No entanto, com
o intuito de refutar os argumentos de direito coletivo suscitados, afirma a Defesa que
este Órgão de Execução “perdeu-se em suas próprias contradições”, uma vez que,
na realidade, o maior obstáculo ao acesso à educação, pelas crianças, não são os
réus, mas sim a atuação da Diretora da Escola Infantil Portal Criança, Maria
Eduarda Cavalcanti, quem os informou que, caso os cartões de vacina não fossem
entregues até o início do período letivo, estariam as menores V.F.A e M.F.A
impossibilitadas de frequentar as aulas, caracterizando tal atuação uma violação ao
disposto no art. 208 da CRFB/88 e ao art. 4º da Lei 10.913/18.

É outro argumento que não pode se sustentar.

Não é despiciendo que incumbe à Diretora Escolar, sobretudo, prezar pela


qualidade dos serviços educacionais prestados, o que é, aliás, o papel de qualquer
indivíduo que exerça o poder diretivo em determinada instituição. Não é possível um
ensino de qualidade, num ambiente escolar hostil, que não observe os ditames
básicos de saúde determinados pelos Órgãos competentes, e, ainda mais, às
normas legais aplicáveis. Desse modo, a tese defensiva pretende afirmar que a
Direção da Escola, ao seguir o preceito normativo estabelecido no art. 1º da lei
estadual 10.913/18, objetivando zelar pelas vidas de todas as crianças que
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

frequentam a “Portal Criança”, bem como cumprir com o que impõe a lei, é quem
estaria prejudicando o direito à educação das crianças.

Tal argumento utilizado pela Defesa demonstra a ausência de argumentos fortes


que contraponha a robusta fundamentação da exordial, elaborada com diversos
argumentos jurídicos, dentre normas constitucionais diversas, leis federais e lei
estadual, entendimentos doutrinários e jurisprudenciais, todos congruentes e
harmônicos com o pedido ajuizado por esta Promotoria de Justiça: obrigar, nos
termos da lei, a parte ré a proceder à realização das vacinas obrigatórias das
menores, pelo período de tempo que for necessário a lhes efetivarem o direito à
saúde, segundo o Calendário Nacional de Vacinação e as recomendações do
Ministério da Saúde, a fim de que possibilite V.F.A e M.F.A frequentarem o ensino
infantil regularmente, com segurança para estas e para as demais crianças que
convivem no âmbito escolar.

Isto porque a natureza de direito coletivo que abrange a política pública de


imunização é direito que deve ser sopesado, em detrimento da preservação da vida
de inúmeras pessoas, não devendo ser mitigado em face dos interesses pessoais
dos réus, ainda que estes possuam, como qualquer outro cidadão, o direito à
liberdade de expressão e religião.

(iii) O direito à liberdade religiosa e o princípio da dignidade da pessoa humana;

Os réus sustentam, ainda, que a imposição do Estado afronta o direito à liberdade


de crença dos réus, visto que a “Igreja Genesis II da Saúde e da Cura” prega uma
doutrina de que as vacinas causam contaminação ao individuo, razão pela qual os
réus se recusam à imunizarem as menores impúberes, conforme trecho a seguir:

[...] No caso presente, resta clarividente que há uma violação à liberdade de


crença dos Réus, vez que pertencem a uma denominação religiosa „‟ Igreja
Gênesis II da Saúde e da Cura‟‟. Esta embora não seja conhecida pelo seio
social, apregoa em sua doutrina e liturgia que as vacinas causam
contaminação ao indivíduo. (Réus - Contestação)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Como frisado pela Defesa, a igreja não é conhecida no meio social, obstante a isto,
possui uma doutrina que, através da palavra de “ensinamento”, traz aos seus
poucos fiéis uma “verdade absoluta” que obstaculiza o acesso à saúde, por parte de
seus seguidores. Inobstante, o que se reputa na presente ação, não é o interesse
privado dos réus enquanto pais, mas sim das menores impúberes às quais deve ser
garantido o direito à vida e saúde, através das medidas necessárias à sua
manutenção.

Ainda que os réus aleguem que o bom planejamento familiar que possuem é capaz
de prover o bem-estar físico e mental dos filhos, com idas regulares ao médico,
sabe-se que tais ações, por si só, não são suficientes a combater as doenças que
somente podem ser evitadas com a devida imunização, pois, se assim o fosse, o
Estado não adotaria políticas públicas por meio de Campanhas de Vacinação,
oriundas do planejamento do Ministério da Saúde e as respectivas secretarias
regionais, as quais possuem recursos humanos competentes e qualificados acerca
do assunto.

Preceitua o art. 197, da CRFB/8811, que a saúde é direito de todos, cabendo ao


Estado verificar a efetividade e observância das medidas implantadas para o pleno
exercício e gozo desse direito. Esse direito, por ser coletivo, deve ser protegido
pelos entes que compõem o Estado, e assegurado o seu acesso a todas as classes,
não havendo que se falar em direito individual sobrepor ao interesse de saúde de
toda a população. O parágrafo 1º do art. 14 do ECA expressamente afirma que é
“obrigatória a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias.”12

O motivo, por óbvio, exaustivamente fora discorrido na exordial: A vacinação tem


por objetivo não só a proteção imunológica do próprio indivíduo, mas objetiva

11 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 5 out. 1988.


Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 07
abr. 2020.
12 BRASIL. Lei n.º 8.069 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá

outras providências. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>. Acesso em:


08 abr. 2020.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

cercear a transmissão de doenças para outras pessoas da sociedade, razão pela


qual o direito de liberdade religiosa arguido pelos réus, direito este que, a partir do
momento que o seu exercício lesiona e expõe a risco direitos basilares ao pleno
desenvolvimento das menores impúberes em comento, revelam sobremaneira
injusta e egoísta o posicionamento dos réus diante dessas.

Não é outro o entendimento firmado pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas


Gerais que, num recente julgado (2019) com tema similar, determinou que os pais
procedessem imediatamente às vacinas de seus filhos, visto que a vacinação
busca garantir a saúde do indivíduo e, consequentemente, de toda a população,
“sendo, portanto, algo acima da escolha pessoal”. No acertado Acórdão, o Relator
utilizou-se de vasta e idônea fundamentação, ao passo que sedimentou o
entendimento de que o interesse do menor se sobrepõe a qualquer interesse
privado de seus genitores, ainda que estes aleguem violação ao direito de
liberdade religiosa, uma vez que este é relativo e, de tal maneira, deve ser
ponderado em prol do direito coletivo à saúde e ao desenvolvimento das crianças.

Nesta senda:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - MEDIDA DE PROTEAÇÃO - DIREITO À


SAÚDE - VACINAÇÃO OBRIGATÓRIA - DIREITO COLETIVO - MELHOR
INTERESSE DO MENOR - LIBERDADE RELIGIOSA - PONDERAÇÃO. A
vacinação consiste não apenas em direito individual, mas em direito
coletivo, uma vez que tem por objeto a diminuição, ou até mesmo a
erradicação de doenças. A interpretação que se faz é que as normas de
regência buscam garantir a saúde do indivíduo e, por consequência,
de toda a população, sendo, portanto, algo acima da escolha pessoal,
vez que envolve a diminuição da exposição ao risco e ao contágio de
determinadas doenças e ainda evita o reaparecimento de doenças
consideradas erradicas. Em consideração Ao Princípio Constitucional do
Melhor Interesse, não podem os genitores se recursarem a vacinar os
filhos quando se busca alcançar o pleno desenvolvimento daqueles, o que,
por certo, envolve o direito à saúde em todas as suas formas, incluídas as
de prevenção por meio da vacinação. O interesse do menor se
sobrepõe a qualquer interesse particular dos genitores. A imposição
da imunização não fere o direito à liberdade religiosa, uma vez que
não sendo esse absoluto, é passível de ponderação e, assim, não há
se falar no direito de escolha dos pais, mas no direito da criança à
saúde. (TJ-MG - AC: 10518180076920001 MG, Relator: Dárcio Lopardi
Mendes, Data de Julgamento: 12/12/2019, Data de Publicação:
17/12/2019)
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Por oportuno, para exemplificar o que se expõe (a importância da vacinação), se


faz adequado salientar a problemática epidemiológica que sofre o mundo com a
pandemia – proliferação descontrolada em escala mundial – do NovoCorona
Vírus, causador da doença denominada “Covid-19” que vem matando milhares de
pessoas, de diferentes idades (criança, idoso e etc.), em todo o planeta e,
infelizmente, até o momento, não há a existência de fórmula ou vacina que reduza
ou evite a disseminação desse vírus.

Ora, Excelência, numa simplória e óbvia analogia, se fosse descoberta uma vacina
para imunização contra o Covid-19, para o bem de toda a população, poderiam os
réus negarem-se à receberem as vacinas e, dessarte, expor a risco todos
indivíduos, incluindo as menores com quem habitam?

A esta indagação, a reflexão que se pretende fazer é chegar à única RAZOÁVEL,


PROPORCIONAL E JUSTA resposta jurisdicional: NÃO!

Não há que se falar em direito privado dos réus, pois a vacina versa sobre direito
coletivo, não cabendo a estes, em sua autonomia privada, EXPOR A RISCO DE
CONTÁGIO, TODA A POPULAÇÃO.

Desse modo, este Órgão Ministerial em momento algum demonstrou impedimento


que impossibilitasse as crianças frequentarem a escola, como argumenta a Defesa
– distorcendo as alegações deste Parquet – o que se requer, frisa-se, é a
vacinação das menores como requisito para a proteção das demais crianças
que conviverão com aquelas em ambiente escolar, bem como às próprias
menores que somente preservam o bom estado de saúde porque jamais
estiveram expostas ao convívio de outras diversas crianças.

Assim, não se prospera a tese de violação ao princípio da dignidade da pessoa


humana, o qual, apesar de suscitado pela Defesa, observa-se que não fora sequer
contextualizado pela tese, mas sim utilizado, banalmente, para justificar o
injustificável.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Dignidade da pessoa humana, Excelência, deve ser aplicado ao caso em tela em


favor das menores impúberes as quais, com apenas 4 e 6 anos não detém
capacidade civil para expressarem suas vontades, e tampouco o discernimento
das implicações e problemas que podem afetar-lhes a saúde, pela falta da
vacinação. A vontade dos pais, neste caso, deve ser substituída pelo maior
interesse, qual seja, a vida e saúde das menores.

A dignidade da pessoa humana deve ser atendida observando o melhor interesse


daquelas que se demonstram frágeis e vulneráveis diante o Poder Familiar dos réus,
os quais deveriam protegê-las em todas as áreas da vida, cuidando do seu
desenvolvimento enquanto indivíduo, provendo-lhes o acesso à direitos básicos que
são a educação e a saúde, e não os restringindo.

O princípio da dignidade da pessoa humana deve orientar a resolução do presente


caso, sim! Vossa Excelência, por meio do pronunciamento jurisdicional, é quem irá
observar a aplicabilidade desse princípio orientador do operador do Direito, através
da procedência do pleito ministerial de fls. 02/26, impondo aos réus que cumpram
com a obrigação de levarem as menores aos devidos postos de saúde para que
recebam as imunizações obrigatórias recomendadas.

(iv) Riscos adversos provenientes das vacinas e laudos médicos que atestam a
saúde das menores.

A defesa alega à fl._ que este Órgão Estadual do Ministério Público omitiu a
diferenciação dos conceitos de Direitos e Garantias fundamentais “com vistas a
dar impulso a sua tese, levando aos olhos desatentos a um entendimento
jurídico falho”. Ora, é dizer que Vossa Excelência seria induzido a erro, por
apreciar a presente demanda com descuido e desatenção, o que, por desconhecer
de conceitos jurídicos com os quais trabalha e estudou por toda a vida, o levaria a
julgar equivocadamente a presente ação.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

Novamente a defesa ataca, sem utilizar-se de argumentos jurídicos plausíveis, por


uma única óbvia resposta: NEM A PRÓPRIA DEFESA ACREDITA NA TESE QUE
SUSTENTA. Ora, é inexorável que os réus estão em flagrante ilicitude, mediante a
sua omissão, quando teriam o dever legal de agir. As normas impostas pela
Constituição, pelo ECA, pela Lei Estadual n.º 10.913/18, pelas Leis Federais n.º
8.080/90 e Lei n.º 6.259/75, dentre os demais fundamentos legislativos utilizados,
possuem caráter coercitivo, pois vinculam o sujeito de deveres a determinadas
ações.

Desse modo, insta transcrever o que dispõe os seguintes artigos da Lei n.º 6.259,
de 30 de outubro de 1975:

Art 3º Cabe ao Ministério da Saúde a elaboração do Programa Nacional de


Imunizações, que definirá as vacinações, inclusive as de caráter obrigatório.
[...]
Art 5º O cumprimento da obrigatoriedade das vacinações será comprovado
através de Atestado de Vacinação.

Art 6º Os governos estaduais, com audiência prévia do Ministério da Saúde,


poderão propor medidas legislativas complementares visando ao
cumprimento das vacinações, obrigatórias por parte da população, no
âmbito dos seus territórios.13

Nesse contexto, afasta-se o direito à liberdade de crença e religião que sustenta a


frágil tese defensiva dos réus, pela óbvia razão de que estes se escondem através
desse argumento jurídico para se eximirem da obrigação que possuem, deixando de
seguir as normas estabelecidas pela secretaria de saúde e todo o ordenamento
jurídico legal que versa sobre o tema.

Inclusive, tal conduta dos réus, é completamente rechaçada pela Lei Fundamental,
no seu art. 5º, inciso VIII. Senão, vejamos:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]

13 BRASIL. Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. Dispõe sobre a organização das ações de
Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas relativas à
notificação compulsória de doenças, e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6259.htm.>. Acesso em: 07 abr. 2020.
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360

VIII - ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa


ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se
de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação
alternativa, fixada em lei;
[...] (grifou-se)

Tal dispositivo avença acerca da “escusa da consciência”, a qual afirma


expressamente que é vedado invocar motivos de crença religiosa para eximir-se de
obrigação legal imposta à todos! É dizer: Não podem os réus se furtarem do dever
legal que têm em proceder à vacinação das menores, sob a alegada doutrina
religiosa que prega a proibição da vacina, por uma crença de possível
contaminação.

Desse modo, ainda que a Defesa alegue serem as menores devidamente


acompanhadas por pediatra, desde os 15 dias de vida, e que a sua doutrina
religiosa não obsta o acompanhamento médico, e tampouco o exercício do direito à
saúde, uma vez que este “não se dá somente pela vacinação, mas ao revés,
personifica-se pelo acompanhamento médico, pela nutrição alimentar, por atividades
físicas e pelo bem-estar psíquico.”, vislumbra-se que, muito embora até o presente
momento não tenham as menores sido acometidas pelas doenças que
ordinariamente acometem a população infantil, não raro será este quadro se alterar,
quando do início da nova fase das vidas das menores impúberes V.F.A e M.F.A no
âmbito escolar e em convívio com demais crianças, razão pela qual a IMEDIATA
IMUNIZAÇÃO DAS VACINAS OBRIGATÓRIAS PENDENTES É MEDIDA QUE SE
IMPÕE, COM MÁXIMA URGÊNCIA.

Nesse diapasão, o Ministério Público Estadual ratifica os argumentos de fls. 02/26 e


requer o prosseguimento do feito.

Termos em que, pede e espera deferimento.

Vitória/ES, 09 de abril de 2020.

Cíntia Fernandes
Promotora de Justiça
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

CONCLUSÃO

Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos
Santos Teixeira.
Vitória/ES, 13/04/2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA - 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

0002648-25.2020.8.08.0024 – Procedimento comum


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
Réus: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

DECISÃO

Trata-se de Ação de Obrigação de fazer, proposta pelo o MINISTÉRIO


PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO, em face de JEREMIAS
SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR, devidamente qualificados,
objetivando: a) a concessão do pedido de tutela antecipada para que as
menores impúberes sejam, em até 24 horas, devidamente imunizadas,
conforme dispõe o calendário nacional de vacinas, impedindo que percam as
vagas escolares a que fazem jus, sob pena de multa diária; b) Seja julgado
procedente o pedido, CONDENANDO-SE os réus à cumprirem a obrigação de
fazer, consubstanciada na imediata providência da vacinação de suas filhas, a
fim de que as possibilite frequentar o Ensino Infantil regularmente.

Com a inicial vieram os documentos (fls. 2-42).

A tutela provisória de urgência foi deferida (fls. 44-47).

A parte ré interpôs Agravo de Instrumento (fls. 57-110) em face da decisão


proferida que concedeu a tutela provisória de urgência (fls. 44-47). O Agravo de
Instrumento foi reconhecido e provido, ocasionando na suspensão dos efeitos
da decisão (fls. 130-133).

Contestação apresentada pela parte ré (fls. 111-129), alegando, em síntese


que por motivos de crença religiosa, não foi realizada a vacinação de suas
filhas menores. Por fim, pugna pela improcedência do pedido.
Em réplica requer sejam rejeitadas as alegações da parte ré, bem como que
sejam julgados procedentes os pedidos autorais (fls. 137-150).

Relatei o necessário. Passo a decidir.

Feitas tais considerações, não se verificando as hipóteses dos art. 354 e 355
do CPC, passo a sanear o feito na forma do art. 357 do CPC.

Diante dos documentos colacionados aos autos, entendo que a matéria é de


direito e de fato e, levando em consideração o pedido formulado, verifico,
diante da moldura fática apresentada, ser necessária a produção de prova oral.

Sendo assim, defiro a produção de prova testemunhal e, de ofício, com fulcro


no art. 385, caput, do CPC, determino o depoimento pessoal da parte ré,
fixando como ponto de prova a comprovação do motivo pelo qual não houve a
vacinação das menores.

Com base no art. 455, §4º, IV do CPC, intime-se as testemunhas do Ministério


Público:
• Cristina Mendes Pimentel, CPF nº: 000.000.000-00, conselheira tutelar,
com endereço profissional em Av. Maruipe, nº 2544, bloco b, Itararé,
Vitória/ES.
• Lívia Dias Pereira Muniz, CPF nº: 111.111.111-11, conselheira tutelar,
com endereço profissional em Av. Maruipe, nº 2544, bloco b, Itararé,
Vitória/ES.
• Maria Eduarda Cavalcanti, CPF nº:222.222.222-22, Diretora da Escola
“Portal Criança”, Rua Dr. Bolívar de Abreu, nº 130, Bento Ferreira,
Vitória/ES.

De igual forma, intime-se as testemunhas da parte ré, conforme o art. 455, §4º,
III do CPC:

• Maria Elizabeth Julia, CPF 123.456-78, médica, com endereço


profissional no Hospital da Polícia Militar, Bento Ferreira, nº 1000,
Vitória/ES.
• Marluce de S., CPF 987.654 -32, assistente social, residente e
domiciliada na Rua78, nº 42, Vitória/Es.

Designo audiência de Instrução e Julgamento para o dia 19 de maio de 2020,


às 18:45 horas. Intimem-se as partes para a audiência, nos termos do art. 385,
caput, do CPC e a terceira testemunha da parte ré na forma do art. 455, caput,
do CPC.
Intimem-se.

Vitória/ES, 04 de maio de 2020.

Henrique dos Santos Teixeira


JUIZ DE DIREITO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

INTIMAÇÃO

PROCESSO Nº.: 0002648-25.2020.8.08.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e
ALICE FERREIRA AGUIAR
FINALIDADE: PARA, TOMAR CIÊNCIA DA DATA DA AUDIÊNCIA DE
INSTRUÇÃO E JULGAMENTO NO DIA 19/05/2020 ÀS 18:45 HORAS.

VITÓRIA, 04 DE MAIO DE 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

Vitória, 04 de maio de 2020.

OF. Nº 358/2020
PROCESSO DE ORIGEM Nº 0002648-25.2020.8.08.0024

Sr. Coordenador do Hospital Militar;


Sra. Coordenadora dos Assistentes Sociais do Estado do Espirito Santo e
Sr. Coordenador do Conselho Tutelar.

De ordem do Exmº Dr. Henrique dos Santos Teixeira, encaminho aos


senhores, para os devidos fins, cópia da r. Decisão de fls 152/154, proferida nos autos do Processo
número 0002648-25.2020.8.08.0024, conforme artigo 455, §4º, III do CPC, para que seja feita a
devida intimação das testemunhas MARIA ELIZABETH JULIA; MARLUCE DE S.; CRISTINA
MENDES PIMENTEL e LÍVIA DIAS PEREIRA MUNIZ

Respeitosamente.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

Aos
Exímios Senhores Coordenadores do Hospital da Policia Militar, da
Assistência Social e do Conselho Tutelar.
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

MANDADO DE INTIMAÇÃO

PROCESSO Nº.: 0002648-25.2020.8.08.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e
ALICE FERREIRA AGUIAR
FINALIDADE: PARA, INTIMAÇÃO DAS TESTEMUNHAS ABAIXO
RELACIONADAS, TOMAR CIÊNCIA DA DATA DA AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO
E JULGAMENTO NO DIA 19/05/2020 ÀS 18:45 HORAS.

VITÓRIA, 04 DE MAIO DE 2020.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

MARIA EDUARDA CAVALCANTI, CPF Nº:222.222.222-22, DIRETORA DA


ESCOLA “PORTAL CRIANÇA”, RUA DR. BOLÍVAR DE ABREU, Nº 130, BENTO
FERREIRA, VITÓRIA/ES.
CERTIDÃO

Certifico que, na presente data, intimei a testemunha MARIA EDUARDA


CAVALCANTI, para o comparecimento na Audiência de Instrução e Julgamento no dia
19/05/2020 ÀS 18:45 HORAS.

Thaynara Dias Pereira Lacerda


Oficiala de Justiça
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

ATA DA AUDIÊNCIA

AUTOS Nº: 0002648-25.2020.8.08.0024

AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO


ADVOGADO: CÍNTIA FERNANDES

RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e ALICE FERREIRA AGUIAR


ADVOGADO: LARISSA MEZEDRI PERTEL, MARIANA CERILLO GAVI e PEDRO
HENRIQUE HOLANDA.

Em 19 de MAIO de 2020, na presença do Juíz HENRIQUE DOS SANTOS TEIXEIRA feito


o pregão às 19:00 horas para a presente AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO
do presente processo. Aberta a audiência, PRESENTE a parte Autora, representada pela
PROCURADORA DO MP; PRESENTE as partes rés acompanhados dos seus advogados
qualificados. Feita tentativa de conciliação, que não logrou êxito, Juiz faz breve relato dos
fatos, para então dar inicio ao depoimento das partes requerendo a retirada da sala dos réus,
para dar inicio ao depoimento do autor, através da Promotora Cintia, onde lhe é perguntado
pelo Juiz o motivo ao qual o Ministério Publico resolveu buscar o Poder Judiciário, alegando
a representante do MP que tomou ciência acerca da conduta omissiva dos pais que deixaram
de apresentar a carteira de vacinação, e através da diretora, foram informados que esses não o
fariam pois tem como preceito religioso o costume de não vacinação. Então a diretora agindo
conforme o artigo 4º da Lei 10.913/2018 entrou em contato com o conselho tutelar local afim
de que assumissem o controle da situação pedindo que notificassem e aconselhassem aos réus
a estarem procedendo conforme a legislação. Tendo em vista a negativa, o Ministério Público
se viu obrigado a recorrer ao Poder Judiciário através da presente demanda, conforme o artigo
1627 do Código Civil que elenca que nos casos de atentarem contra os direitos das crianças,
cabe ao parente ou ao MP, por uma questão de erro técnico, o Juiz pediu para a
representante do MP repetir suas alegações, uma vez que não foi possível ouvir o testemunho
por completo. Assim sendo, a representante do MP repetiu suas alegações conforme
anteriormente descrito, terminando o testemunho com o artigo 1627 do CC, onde consta que é
cabível ao Ministério Público acionar o Poder Judiciário quando o os direitos do menor são
ameaçados ou infringidos. Sendo essa a razão pela qual a Procuradoria ajuizou a presente
demanda. O Juiz abre aos advogados dos réus os questionamentos ao depoimento da
representante do Ministério Público, que alegam que não tem perguntas, assim sendo, o Juiz
da inicio ao depoimento dos réus, solicitando a volta deles a sala de audiência.
O Juiz, assim que os réus estão acomodados, pede breve explanação sobre o motivo ao qual
os réus são demandados no presente processo. O senhor Jeremias da inicio alegando, o
sistema de saúde global ele foi concedido com um intuito reativo, ou seja, procura tratar
sintomas quando muito a vacinação sobre o pretexto do tratamento preventivo. De qualquer
forma a indústria farmacêutica em geral ela é automática, o Brasil é o sexto maior mercado
farmacêutico do mundo somente ano passado foram 52 bilhoes de dólares de faturamento
muito mais que o segundo lugar aqui no Brasil, a indústria farmacêutica é uma das indústria
que mais fatura do mercado brasileiro trata-se, V. Excelencia, ao meu ver um obvio manipulo
do setor publico, do setor farmacêutico, do setor privado e do setor publico. A nossa religião,
os protocolos sacramentais buscam restaurar a saúde das crianças, possibilitando assumir, a
gente, nós mesmos assumir o controle da nossa saúde. O nosso povo precisa abrir nossos
espíritos, precisa ser mantido limpo, por meios de métodos que nós consideramos mais
adequados a manutenção da saúde física, a saúde mental e principalmente a espiritual. Nós
temos, V. Excelencia, o direito de aceitar ou rejeitar qualquer droga ou substancia, e todos nós
temos consciência do que é divino, do que é certo, do que é errado. E a nossa família segue
esse principio, os meus filhos, V. Excelencia, são de minha responsabilidade e da minha
esposa eu procuro manter o templo deles limpos, assim como eu procuro manter o meu, não é
o império de lucro que ira prejudicar meus filhos, quando eles forem maiores poderão tomar
suas próprias decisões, mas isso não quer dizer que eu seja negligente, que eu seja um mau
pai, a educação é essencial para o cidadão que sempre procurou exercer o que a de melhor
dentro das minhas possibilidades não sou eu que as quero fora da escola, é o Estado que as
proibi, por conta das indústrias farmacêuticas, meus filhos sempre tiveram excelente saúde,
que buscam sempre manter a boa saúde, inclusive a saúde mental, acreditamos que nosso
corpo, para abrigar nossa alma, deve ser mantido o mais próximo possível do natural, não é a
indústria que vai determinar isso. A ré, Senhora Alice, se manifesta, pedindo para
complementar a fala do marido dizendo que os seus dois filhos são as coisas mais importantes
da vida e que jamais iria prejudica-los, deliberadamente, “a nossa igreja é um agregado de
varias religiões, e nós não seguimos parâmetros cegos, nós seguimos parâmetros que indicam
o melhor saúde e melhor cuidado do nosso corpo, nosso templo, desde a primeira vez que vi
os meus filhos, eu tive a missão de cuidar deles e eu jamais iria fazer nada para prejudica-los,
o que eu e meu marido queremos, apenas, é poder fazer o melhor por eles, já levamos eles a
médicos quando eles estavam doentes, cuidamos deles como podemos e queremos coloca-los
na escola mas, o Estado não deixa, simplesmente pelo fato de que queremos seguir o que nós
acreditamos, eu faço esse apelo a V. Excelencia para que permita que dois pais possam fazer
o que acreditam ser o melhor para os seus filhos, muito obrigada.“ O Juiz, após o depoimento
pessoal dos réus, os questiona a respeito da frequência em que os filhos dos réus são levados
ao consultório médico, os réus respondem que sempre que há algum problema, como não tem
conhecimento, por não serem formados em medicina, sempre que os filhos apresentam
qualquer tipo de problema, até nutricional, eles são levados ao médico. Como qualquer pai ou
mãe preocupado. O Juiz passa a palavra para a procuradora do MP para os questionamentos
dos réus, aonde essa questiona sobre a ciência de que a vacinação não ser apenas uma medida
da indústria farmacêutica para estar angariando dinheiro ou recursos financeiros, a vacinação
é comprovada cientificamente como uma forma/medida para se prevenir o contagio, e é um
direito não individual como alegam os senhores, mas é um direito coletivo, sendo assim
gostaria de saber se vocês tem a consciência de que ao deixar de apresentar a caderneta de
vacinação e se omitir na vacinação dos menores vocês estão expondo eles e as demais
crianças que com elas conviveram no âmbito escola a risco de contagio. A ré alega que não
acredita nisso, e diz que se for pesquisado que as industrias farmacêuticas movimentam sim,
milhões e milhões de reais e é sim movida economicamente, não tem como negar isso. A
Procuradora alega que não foi essa pergunta, e a ré diz que “a senhora apresentou isso, a
senhora falou isso”, o advogado da ré pede pela ordem e alega que a promotora do ministério
publico esta coagindo a cliente a responder o que não existe. Pede por gentileza, para que a
pergunta seja reformulada. O Juiz atende ao pedido e requer a Procuradora que reformule a
pergunta. A Procuradora questiona aos senhores réus sobre a ciência que a vacina evita o
contagio não só daqueles que são vacinados, mas também do contagio de toda a população.
Os réus alegam que tem ciência dos efeitos colaterais, inclusive da H1N1, que veio matando
muitas crianças. E também que não estão questionando a qualidade da vacina, estão
questionando a vacina como único meio, imposto pelo Estado, sendo que existem várias
outras formas, cientificamente comprovadas de se manter a saúde, o sistema imunológico alto,
então a questão da imposição da vacina como único meio, é o que eles questionam. A
Procuradora pede por uma segunda pergunta, ao qual o Juiz permite, e ela questiona que os
réus alegam que quem proibi a frequência dos filhos a escola, é a própria escola que não quer
que eles frequentem em caso de não apresentar a vacinação, porem durante atendimento a
procuradoria, falaram que eram contra a educação escolar, e é um fato documentado durante o
atendimento, vocês entendem que se seus filhos estiverem indo a escola sem vacinar elas vão
estar correndo risco de tamanha exposição, uma vez que não tiveram contato com outras
crianças, ao passar a ir para a escola, os menores estarão mais expostos e consequentemente
estarão sujeitas ao contagio de doenças. Os réus responde, alegando que primeiramente eles
de fato são favoráveis ao ensino domiciliar, mas em nenhum momento foram contra a lei, até
porque foram até a escola e tentaram matricular os filhos, mas o Estado impediu, o próprio
Estado falou para eles que eles não poderiam matricular os filhos na escola e negou o ensino
para eles. Não sendo culpa deles eles não estarem na escola, e existem outras maneiras de
combater doenças do que com vacinas, existem medicinas alternativas que tem se provado
eficientes de sua forma, então de nenhuma maneira os meus bebês vão colocar em risco as
outras crianças, eu jamais colocaria em risco os filhos de outra mãe, jamais, longe de mim.

A audiência foi suspensa por 5 minutos, tendo em vista o escasso tempo no aplicativo
“ZOOM”. Assim que ocorreu o retorno da audiência, o Juiz deu a palavra ao réu, sr. Jeremias,
para que continuasse sua resposta, aonde disse que existem varias formas de tratamento, não
existe apenas a vacina, e de forma alguma deixaria meus filhos em risco. Então o Juiz
pergunta a promotora se tem mais alguma pergunta, e ela pergunta sobre a aceitação dos réus
em colocar os filhos em risco ao irem para a escola, a ré responde será que é justo, criar seus
filhos com a convicção do que é certo e eu não poder passar isso para meus filhos? Os
médicos já disseram que eles não tem nenhuma doença. Eu e meu marido fazemos o que é
melhor. Promotora alega não ter mais perguntas aos réus, o Juiz encerra os depoimentos
pessoais e inicia a oitiva das testemunhas.

Primeira testemunha, senhora Cristiana Mendes Pimenta, alega que recebeu uma notificação
da escola e assim que tivemos conhecimento. Minha colega de trabalho tentou varias vezes
contato com os réus, para que eles pudessem informar sobre a vacina ou sobre o interesse em
vacinar as crianças.

Juiz pergunta se a promotora gostaria de fazer alguma pergunta.

Testemunha responde que como é comum o acontecimento, eu me lembro bem do caso e


tentamos vários contatos e buscamos varias informações, mas os pais não mostraram
interesse.

Promotora satisfeita.
Juiz pergunta se o advogado dos réus tem alguma pergunta.

Advogado do réu pergunta a conselheira tutelar tinha conhecimento que a matricula foi feita,
porém a escola negou o direito a matricula.

Testemunha responde: no caso o que oi feito, foi a pré-matrícula das crianças. Pois é pedido o
cartão de vacina para efetivar a matricula, como prevenção, pois sabemos que o convívio de
varias crianças pode promover doenças. Nos da escola buscamos a prevenção das crianças.

Advogado pergunta a testemunha se ela tem algum conhecimento se as crianças possuem


alguma doença ou se tem alguma patologia que poderia colocar em risco outras crianças. A
testemunha não tem conhecimento. Advogado satisfeito.

Juiz convida a testemunha sra. Lidia.

Palavra da Lidia: quando a diretora nos procurou ela já tinha tentado varias vezes para que os
pais levassem o cartão de vacina, e não levando o cartão de vacina , não seria possível efetivar
a matricula. Dessa forma os pais não levaram o cartão, foram omissos. Dessa forma tivemos
que ir ao mp para pedir orientação e advertência aos pais, pois é de suma importância que a
criança tenha o cartão de vacina em dia. Nos do conselho tutelar preservamos a vida das
crianças. Todo esse procedimento de solicitar o cartão de vacina esta em lei, então eles
infringiram a lei e por isso buscamos a justiça, já que os pais tem a mentalidade que
cientificamente não é comprovado.

O advogado da ré pergunta a conselheira se ela possui religião, e qual o peso na vida dela se
ela deixasse de descumprir um dogma religioso?

Resposta da Lídia: minha opinião que acima da religião vem a vida, e antes de colocar em
risco a vida, temos que preservar.

Advogado da ré pergunta: qual a formação dela como conselheira tutelar para afirmar sobre o
método cientifico.

Lívia: tudo que abrange a criança é saúde, segurança, educação e aprendemos tudo isso na
faculdade, temos especializações em diversas áreas.

Juiz menciona que não vem o caso a formação das testemunhas.

Após aberta novamente a audiência, Juiz convocar senhora Maria Eduarda Cavalcanti –
testemunha da parte autora. Juiz pergunta : amiga ou inimiga das partes ? Não. Interesse na
causa ? Não. Juiz adverte sobre dever de falar a verdade. Qual o motivo de ter enviado ofício
ao MP?

Testemunha responde: diante da efetivação da pré matrícula para o ano de 2020, foi exigido
uma série de documentos, entre eles o cartão de vacina atualizado. Os pais da criança, no
entanto, não realizaram a entrega deste documento. Alegaram impedimento por convicção
religiosa, negando-se a apresentá-lo.

A testemunha persistiu na cobrança da caderneta de vacina, abordando a importância diante


da exigência da lei estadual 10930, obtendo reiteradas negativas por parte dos réus, que por
sua vez manifestaram desinteresse em efetuar a matrícula dessa forma. Conselho tutelar foi
acionado, informando-se aos pais de seu dever que a saúde pública é um direito de todos e
assim estes deveriam providenciar a exigência legal.

Pergunta da advogada do réu: qual a postura adotada pela escola após do ocorrido? Baseado
no artigo 4º da supracitada lei, não foi possível efetivar a matrícula das menores. Matrícula
negada pela escola por decorrência da lei.

Oitiva das testemunhas dos réus, Maria Elizabeth Júlia – presente. Juiz pergunta : amiga ou
inimiga das partes ? Interesse na causa ? Juiz adverte sobre dever de falar a verdade. Há
quanto tempo conhece os réus? Cerca de 8 meses

Sabe dizer qual a religião dos réus? Não possui profundidade dos assuntos pessoais do
paciente, uma vez que é médica. Por que os réus não vacinam a filha? Por questão religiosa.
Ela como médica homeopática faz o acompanhamento da criança há 8 meses.

Advogado dos réus pergunta: Como a senhora hoje descreveria a saúde das crianças?
Testemunha responde que as crianças apresentam quadro adequado de saúde, alimentação
saudável, desenvolvimento dentro dos padrões devidos.

Falta da vacina interfere na saúde das crianças?


Testemunha responde que o desenvolvimento se apresenta saudável conforme os cuidados
homeopáticos devidamente tomados.

Promotora pergunta: Conforme conhecimento técnico a testemunha como médica pode


afirmar que os exercícios físicos e alimentação são suficientes para garantir futura saúde das
crianças?

Testemunha afirma que sim, a medicina homeopática busca estabelecer o equilíbrio do corpo
de forma mais leve sem agressões provocadas por remédios alopáticos.

Promotoria pergunta: Poderia explicar como funciona a vacina no corpo humano?

Testemunha responde que vacina ativa o sistema imunológico, entretanto o corpo já possui
atividade imunológica natural. Assim, uma criança que se alimenta saudavelmente, faz
atividades físicas, possui um desenvolvimento natural, o corpo reage positivamente. Existem
outras prevenções que não sejam uma vacina.

Oitiva da segunda testemunha: Marluce. Juiz pergunta há quanto tempo conhece os réus?
Mais ou menos 3 anos. Pergunta advogados dos réus? Sim.

Advogada mariana: como é o convívio das crianças com a família?


Testemunha responde: pais zelosos e amorosos com as crianças, se preocupam realmente,
sempre promovendo ambiente de muita integração.

Advogado Dr. Pedro Henrique: crianças são favoráveis a tomar vacina?


Testemunha responde: pais dão ensinamento religioso e pregam questão da medicina
alternativa, embora não tenham maturidade pra discernir sobre assunto, mas diante da posição
dos pais eles concordam.
Pergunta da promotora: Uma criança de 4 e outra de 6 anos tem capacidade pra entender a
necessidade de uma vacina?
Testemunha Marluce: pela idade eles não tem discernimento. Concordam pelo entendimento
dos pais.

Promotora pergunta: diante da pandemia. Todos buscam por uma vacina. Se existir a senhora
acha certo que os pais deixem de prover suas filhas mesmo sabendo que isso irá colocar em
risco saúde da sociedade?
Advogado DR. Pedro requer indeferimento da pergunta da parte autora.
Juiz indefere.

Testemunha Karoline: amiga ou inimiga das partes? Não. Interesse na causa? Não. Juiz
adverte dever de falar somente a verdade. Há quanto tempo conhece os réus? Mais ou menos
8 anos. Há quanto tempo réus frequentam igreja gênesis? Por volta de 7 anos e meio. Por que
não é autorizada vacinação na igreja?

Testemunha esclarece que o corpo é espírito e segundo a bíblia deve ser mantido limpo. Lema
da igreja é saúde e verdade. Produtos naturais oferecidos por deus é o que devemos usar.
Igreja possui ministério da saúde e membros recebem treinamento completo. Dogma supremo
é a crença na saúde. Fundamento principal é a saúde. Indivíduo faz escolha, porém ir contra a
liberdade religiosa dos pais mostra uma intolerância religiosa. Pela religião pregar e por ter
meios alternativos a medicina alopática não é essencial.

Qual orientação que igreja passa aos membros? Profissionais especializados dentro do
ministério tratam membros com meios alternativos, conforme doença. Na qualidade de
pastora ela não sabe explicar os meios, porém os resultados tem sido positivos.

Advogados dos réus, Mariana – gostaria de saber o que acontece com quem descumpre o
dogma?

Testemunha Karoline – liberdade deve prevalecer, porém quem optam por outro tipo de
alternativa, outro meio considerado mundano, terá de se retirar da religião.

Mariana – entre imposição da vacina e liberdade religiosa o que prevalece?

Testemunha Karoline – respeitamos a legislação, mas levamos em conta a liberdade religiosa.


Dignidade da pessoa humana principal princípio, por isso optam pela escolha do indivíduo
que deve ter certeza ao adentrar a religião diante dos dogmas. Essa família é de exemplo pra
comunidade, sendo triste perdê-los por esse motivo.

Promotora pergunta: O teor do depoimento da Karoline pastora da igreja corrobora pra


sobrevivência do vírus, então existe outro meio pra vence-lo? Promotora reformula a pergunta
sob deferimento do juiz. Há outro meio oferecido pela religião que evite que a doença se
instale e cause sintomas? Como isso acontece?

Audiência suspensa por 5 minutos, reaberta audiência.

Karoline responde pergunta: ministério da saúde com pessoas capacitadas, médicos graduados
e treinados, passam pelo protocolo do sacramento, orientam os membros . Quanto aos efeitos
a testemunha não é apta tecnicamente pra falar, mas quanto aos resultados a eficácia do
tratamento diante dos medicamentos legalizados homeopáticos tem sido alta, então diante de
todo protocolo seguido ela pode garantir bons resultados com tratamento alternativo.

Promotora : a senhora desconhece os meios que sua igreja utiliza pra suprir a vacina?

Testemunha: como pastora só posso te orientar que através de um ministro seja dada essa
explicação.

Os ministros prescrevem os medicamentos que substituem sim a vacina no objetivo


preventivo, acreditando no poder da cura.

Promotora requer juntada dos laudos médicos das crianças. Advogado, Dr. Pedro pede que
juiz indefira juntada dos laudos. Juiz pede pela ordem e defere parcialmente pedido da parte
autora quanto a juntada dos autos. Em seguida o advogado Pedro solicita reconsideração da
decisão de deferimento parcial do juiz, alegando que não houve menção dos referidos laudos
na peça contestatória. Juiz mantém o deferimento concedido e em seguida dispensa a última
testemunha a ser ouvida. Ato contínuo, o magistrado concede prazo de cinco minutos a cada
parte para apresentarem as alegações finais orais, iniciando-se pelo autor da demanda,
ministério público. Logo em seguida a promotora inicia sua alegação abordando o fato dos
réus alegarem que vivem em perfeita harmonia com os filhos, bem como, que estes possuem
boa saúde, no entanto, não conseguiu constatar no depoimento da pastora da igreja, quais são
os meios efetivos que corroboram com tais alegações. Suscitou também que é dever do
ministério da saúde elaborar um programa nacional de imunizações, definindo quais as
vacinas têm caráter obrigatório a serem distribuídas e que os pais devem garantir a efetividade
das medidas públicas adotadas pelo ministério, qual seja o ato de vacinar seus filhos.
Outrossim, ratificou o fato de que os filhos dos réus nunca receberam doses das vacinas
recomendadas e que este fato se agrava, uma vez que, as crianças iniciarão uma fase de
convívio escolar e terão contato direto com outras, sendo expostas a risco e fatores que não
tiveram antes, pois não frequentavam ainda a escola. Adiante, suscitou que existe conflito de
direitos na demanda em questão, qual seja a liberdade de crença pelos réus e se opondo a este
o direito a vida, e que a constituição federal estabelece que é dever da família e do estado
assegura a criança e o adolescente , com prioridade, o direito a vida e a saúde, dentre outros e
que constitucionalmente também é dever do estado, definir políticas públicas e sociais que
visem diminuir o risco de doenças. De igual modo o estatuto da criança e do adolescente
prescreve que também é dever dos pais, garantir a aplicação das políticas públicas oferecidas
pelo estado e garantir o direito dos filhos. Os réus responsáveis legais devem prover aos filhos
a garantia dos deveres fundamentais, no que forem mais benéfico para os filhos e não para os
réus. O código civil dispõe que se os pais forem omissos, é cabe ao juiz mediante requisição
do ministério publico, adotar medidas que julgar necessária para manter a salvo o direito das
crianças. Que o direito a vida se sobrepõe ao direito privado dos pais criarem os filhos
conforme suas convicções, pois ao deixar de prover a vacinação dos menores, a sociedade
estaria exposta a risco de contágio.

O advogado Pedro iniciou a alegação da defesa, solicitando para que fosse informado com 30
segundos de antecedência o fim do interregno das alegações orais, sendo adotado o mesmo
procedimento dado a parte autora, conforme decisão do juiz. Adiante, questionou que as
alegações da parte autora desestabilizam o senso social, indo de encontro aos objetivos
fundamentais da república federativa do brasil, de promover uma sociedade livre, justa e
solidária, bem como, de promover o bem de todos sem qualquer forma de discriminação, que
o ministério publico tenta com que os réus renunciem suas crenças e dogmas, com o intuito de
proceder com a vacinação, que reitera a preliminar de inconstitucionalidade de violação do
direito de convicção religiosa. Que mesmo que o juiz considere que há conflito de direitos
fundamentais, o direito da dignidade da pessoa humana se sobrepõe estes, pois é de grande
importância para os réus, no seu contexto da comunidade a qual estão inseridos. Que tal
situação, aflige profundamente a convicção pessoal dos réus e que em não houve em nenhum
momento negligência dos pais em relação à saúde dos filhos e que a testemunha especialista
garantiu que as crianças então saudáveis. Que em relação a educação, o estado está obstruindo
tal direito fundamental, não sendo requisito para ingresso escolar cartão de vacinação e sim a
idade.

Em seguida, o Juíz de Direito verificando o encerramento da instrução encaminhou os autos


conclusos para SENTENÇA. Eu, Thainá Lage da Silva a digitei. Nada mais havendo a ser
registrado encerro a presente Audiência.

HENRIQUE DOS SANTOS TEIXEIRA


Juiz de Direito
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO VITÓRIA - 1ª VARA
DA INFÂNCIA E JUVENTUDE

0002648-25.2020.8.08.0024 – Procedimento comum


Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO
Réus: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR

SENTENÇA

Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer ajuizada pelo o MINISTÉRIO PÚBLICO


DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO em face de JEREMIAS SALOMÃO
AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR, partes qualificadas na inicial,
objetivando a condenação dos réus à cumprirem a obrigação de fazer,
consubstanciada na imediata providência a vacinação de suas filhas, a fim de
que as possibilite frequentar o Ensino Infantil regularmente.

Acompanham a inicial os documentos acostados nas fls. 17/42.

Decisão de fls. 44/47 deferiu o pedido de antecipação dos efeitos da tutela.

Devidamente citados, os réus apresentaram contestação nas fls. 111/129


sustentando, em síntese, a impossibilidade de condenação, seja pela
inconstitucionalidade do art. 1º da Lei Estadual 10.913/18, seja pelos motivos de
crença religiosa que obstam os réus a vacinarem suas filhas.

Em Ofício n° 036/2020 acostado aos autos, esse Juízo de 1º Grau foi notificado
da decisão do agravo de instrumento n° 00488293-83.2020.8.08.0024, que
suspendeu os efeitos da tutela provisória de urgência.

Réplica nas fls.137/150.

É o relatório. Decido.
2. Da inconstitucionalidade, por via incidental, do artigo 1° da Lei Estadual
10.913/18.

Os réus arguiram, em preliminar, a inconstitucionalidade, por via incidental, do


artigo 1° da Lei Estadual 10.913/18 do Estado do Espirito Santo.

Denota-se que a parte autora busca, na espécie, a condenação dos réus na


obrigação de fazer, consubstanciada na imediata providência da vacinação de
suas filhas, a fim de que as possibilite frequentar o ensino infantil regularmente,
justificando o pedido na possibilidade não de terem, as menores impúberes, o
direito a educação caso não sejam realizadas as vacinações.

Os réus, por sua vez, alegam a inconstitucionalidade material do artigo 1° da Lei


10.913/18, pela qual o Parquet fundamenta seus pedidos.

Ocorre que apesar de o Art. 1° da Lei 10.913/18 dizer ser obrigatória a


apresentação do cartão de vacinação no ato da matrícula dos alunos de até
dezoito anos de idade, ele não impede a efetivação da matricula. Vejamos o que
dispõe o artigo questionado:

Art. 1º É obrigatória, em todo o território estadual, a apresentação do


Cartão de Vacinação no ato da matrícula dos alunos de até dezoito
anos de idade, em todas as escolas da rede pública ou privada, que
ofereçam educação infantil, ensino fundamental e ensino médio.

Nesse aspecto, não há confronto do conteúdo da Lei com a Constituição Federal


da República de 1988.

Além disso, vale registrar que a Portaria Conjunta N° 004-R, de abril de 2019, da
Secretária de Educação do Estado do Espirito Santo, que estabelece
procedimentos de gestão e controle do cartão de vacinação a ser apresentado
às unidades escolares como documento obrigatório que comporá o prontuário
dos alunos da rede pública estadual de ensino do Espirito Santo, dispõe, em seu
artigo 3°, que a ausência da apresentação do Cartão de Vacinação não poderá
impedir a matrícula/rematrícula do aluno, mas seus pais ou responsável deverão
regularizar a situação, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, após o início do ano
letivo, sob pena de comunicação imediata ao Conselho Tutelar para adoção das
ações cabíveis.

Ainda que se trate de Portaria da Secretária de Educação do Estado do Espirito


Santo, que não se aplica as redes particulares de ensino, serve como parâmetro
para as demais redes de ensino.

Com base nisto, afasto a preliminar suscitada.

3. Mérito

Segundo narra o Ministério Público do Estado do Espirito Santo, no dia 06 de


janeiro de 2020, chegou à ciência do Conselho Tutelar de Vitoria-ES, através do
“OF.DIR.01/2020” encaminhado pela Diretora da escola particular de ensino
infantil “Portal Criança, que os réus, Jeremias Salomão Aguiar e Alice Ferreira
Aguiar, se encontravam pendentes do envio do cartão de vacinação de suas
filhas, as menores Margarida Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, de quatro
e seis anos de idade, respectivamente.

Relata que os réus foram notificados para procederem a regularização das


vacinações nas filhas, entretanto, os mesmos se mostraram indiferentes com a
notificação do Conselho Tutelar, alegando para tanto motivo de crença religiosa
que os impediam de realizar a vacinação nas filhas.

Noticiou, ainda, que o Conselho Tutelar de Vitória-ES, inconformado com as


atitudes dos réus, apresentou, perante o Parquet, um pedido de orientação e
advertência aos pais para que vacinassem suas filhas.
No entanto, notificados para, no dia 15 de janeiro de 2020, se dirigirem até a
sede da Promotoria de Justiça, a fim de prestarem esclarecimentos dos fatos
informados pelo Conselho Tutelar, bem como serem advertidos a proceder
imediatamente à vacinação nas menores, os réus se recusaram a realizar a
determinação do Parquet, alegando, para tanto, questões religiosas, visto
pertencerem à “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura”, que proíbe a
contaminação por vacina.

Nesse contexto, pugna pela condenação dos réus à cumprirem a obrigação de


fazer, consubstanciada na imediata providência da vacinação de suas filhas, a
fim de que as possibilite frequentar o ensino infantil regularmente.

Contestam os réus, em linhas finas, a opção de não os submeterem às


vacinações obrigatórias determinadas pelo Ministério Público, tendo em vista a
liberdade do exercício do poder familiar, os preceitos constitucionais da liberdade
religiosa, além da arguição de riscos graves decorrentes do uso de vacinas.

Pois bem.

Conforme é cediço, a Constituição Federal da República de 1988, em seu artigo


5º, caput, garante aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a
inviolabilidade do direito à vida.

Sob outra perspectiva, o texto constitucional também garante, no inciso VI, do


mesmo dispositivo legal, a inviolabilidade à liberdade de consciência e de crença.

Com efeito, a liberdade de crença abrange não apenas a liberdade de cultos,


mas também a possibilidade de o indivíduo se orientar segundo posições
religiosas estabelecidas.

De igual sorte, assenta o inciso II, do artigo 5º, que "ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
E, ainda, conforme estabelecido pelo Código de Ética Médica, ser defeso
"desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de
práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida".

Nesse ínterim, incumbe ao Estado e à sociedade respeitar a escolha do


indivíduo, decisão esta que se insere no direito à autonomia e à capacidade de
autodeterminação, intrínsecos à efetivação do princípio da dignidade da pessoa
humana.

Não obstante, há casos em que a proteção do direito à liberdade de crença, em


níveis extremos, defronta-se com outro direito fundamental, norteador de nosso
sistema jurídico-constitucional, a saber, o direito à vida.

Ora, não se pode negligenciar que o direito à vida é, indubitavelmente, o mais


importante de todos os direitos, na medida em que é condição para a existência
e efetividade dos demais.

Desse modo, a depender do caso concreto e respeitando posições dissonantes


na doutrina e jurisprudência, tenho que o consentimento do titular do direito não
é suficiente para a flexibilização do direito à vida.

Nessa senda, a meu ver, o direito à liberdade de crença cede ao dever do Estado
de proteger o direito à vida, ainda que em face do próprio titular.

Nessa esteira, interessante observar que a legislação penal brasileira tipifica


como crime o ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça,
ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de
resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda.

Todavia, o inciso I, do parágrafo terceiro, do artigo 146, do Código Penal, exclui


dessa tipificação "a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do
paciente ou de seu representante legal, se justificada por iminente perigo de
vida".

Denota-se, portanto, que o ordenamento jurídico pátrio confere especial


proteção ao direito à vida.

Trata-se de um choque entre direitos fundamentais (direito à vida x direito à


liberdade religiosa) que, por sua vez, podem ser classificados como princípios
jurídicos. Por isso, o seu choque não implica a exclusão de um deles do sistema,
mas a busca pela sua compatibilização em cada caso concreto.

Tenho plena convicção de que, no caso da realização de vacinação em


indivíduos que não aceitam esse tratamento, o direito à vida se sobrepõe ao
direito à liberdade religiosa, uma vez que a vida é o pressuposto da aquisição de
todos os outros direitos. Além disso, a manutenção da vida é interesse da
sociedade e não só do indivíduo, ou seja, mesmo que, intimamente, por força de
seu fervor, os réus se sintam violados pela vacinação nas filhas, o interesse
social na manutenção da vida justificaria a conduta cerceadora de suas opções
religiosa.

No que se refere a possibilidade de contaminação das crianças pela vacinação,


não se justifica a conduta dos genitores, por não haver base científica na
afirmação de risco concreto e suficiente a afastar os benefícios decorrentes da
imunização das crianças.

Isto porque, não há qualquer estudo atual e sério a indicar que a imunização de
crianças quanto a doenças infeciosas conhecidas traduza algum risco além do
tolerável.

Ou seja, o fundamento de fato do argumento ostentados pelos réus não tem


confirmação científica. Além disso, os réus se quer trouxeram aos autos provas
suficientes para fundamentar o alegado. Portanto, não há como prestigiar o
argumento dos réus em detrimento de publicações e conclusões levados a cabo
por órgãos específicos de avaliação e controle de medicamentos.

Por outro lado, a adoção de comportamentos contrários ao regime geral de


vacinação trouxe um severo declínio da população com cobertura imunológica,
traduzindo-se em aumento da exposição a risco de contágio de doenças
infeciosas como, por exemplo, o sarampo.

Segundo estudo publicado por Ana Paula Sayuri Sato1, pesquisadora do


Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da
Universidade de São Paulo, constatou-se que:

“Desde a década de 1990, as coberturas vacinais infantis estavam


acima de 95%, o que indica boa adesão da população à vacinação. No
entanto, a partir de 2016, essas coberturas têm declinado cerca de 10
a 20 pontos percentuais. Isso era inesperado e veio acompanhado do
aumento da mortalidade infantil e materna. As epidemias de sarampo
em Roraima e no Amazonas são consequências imediatas da
diminuição das coberturas vacinais.

Muitos fatos estão relacionados a essa queda, seja o enfraquecimento


do Sistema Único de Saúde ou aspectos técnicos como a implantação
de novo sistema de informação de imunização, sejam aspectos sociais
e culturais que afetam a aceitação da vacinação.

Movimentos anti-vacinas são crescentes e fortalecidos pelo aumento


de informações de saúde incorretas compartilhadas especialmente na
internet” (grifei).

A questão atinge também os Estados Unidos da América e a Europa,


observando-se um aumento de epidemias de doenças anteriormente
erradicadas, por conta da falta de cobertura vacinal decorrente de falsas
desconfianças sobre a segurança das vacinas.

Recente estudo publicado no The New England Journal of Medicine indica


severas consequências à queda da cobertura vacinal em relação ao sarampo,
justificando a imposição de vacinação mandatória como forma de garantir a

1 SATO, APS. Qual a importância na hesitação vacinal na queda das coberturas vacinais
no Brasil? Rev. Saúde Pública. 2018; 52:96.
saúde de cidadãos em geral, inclusive com imposição de multas para pessoas
que não adiram à vacinação obrigatória, não se discutindo, ante o risco concreto
da epidemia, questões atinentes à liberdade individual, frente aos riscos
coletivos.2

Registra-se, ainda, a atual pandemia do “coronavírus” pela qual estamos


passando, em que milhares de vidas estão sendo ceifadas pela não existência
de uma vacina capaz de imunizar a população mundial contra o vírus.

Portanto, não há evidencias científicas que justifiquem a conduta dos pais que
optam, por mera convicção pessoal e religiosa pela não vacinação das filhas,
muitas vezes amparados em informações não fidedignas. A confiança da
informação, aqui, deve ser depositada nos órgãos oficiais de gestão de saúde
pública, indicando o regime mandatório de vacinação para as principais doenças
infectocontagiosas que atingem a população brasileira.

Ausente evidencias cientificas concretas a indicar que há risco considerável pela


realização da vacinação obrigatória, esvazia-se o argumento dos genitores no
caso concreto, a justificar a não vacinação em decorrência dos riscos
submetidos.

A tutela da saúde da criança tem prioridade absoluta no que diz respeito à


proteção dos interesses do menor, prevalecendo sobre interesses particulares
ou decorrentes de posições ideológicas próprias dos genitores.

O artigo 4º, do Estatuto da Criança e do Adolescente, ao prever como deveres


da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público, com
absoluta prioridade, a efetivação do direito à saúde da criança, está emitindo
comando claro em atribuir preferência e prevalência da tutela da integridade

2
JULIE D. CANTOR, M. D., J.D. Mandatory Measles Vaccination in New York City Reflections
on a Bold Experiment. The New England Journal of Medicine. Publicado em 05.06.2019, em
NEJM.org.
física da criança em relação a eventuais direitos dos genitores pelo exercício do
poder familiar.

Ou seja, a liberdade de exercer o poder familiar encontra limites absolutos no


interesse objetivo da saúde, do bem-estar e da integridade da criança,
prevalecendo tais interesses sobre o exercício de direitos individuais que, a
princípio, dizem respeito exclusivamente aos pais.

Equivale dizer que escolhas feitas pelos genitores, em virtude de convicções


particulares e individuais e que tenham efeitos sobre as filhas menores, não
poderão representar a este qualquer prejuízo em relação aos interesses maiores
descritos na Constituição Federal e no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Percebe-se que o Estatuto, ao descrever o direito à saúde, determina a


necessidade de promoção de “políticas públicas que permitam o nascimento e o
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência” (artigo
7º- grifei).

E o artigo 14, do mesmo Diploma, fixa a natureza mandatória da vacinação de


crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias:

“Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas de


assistência médica e odontológica para a prevenção das enfermidades
que ordinariamente afetam a população infantil, e campanhas de
educação sanitária para pais, educadores e alunos. § 1º É obrigatória
a vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades
sanitárias. (...)” (grifei)

A previsão do § 1º do art. 14, dirige-se ao Estado, considerando seu dever de


estabelecer a lista de vacinas obrigatórias, prever o calendário anual de
vacinações e, por fim, de prover as vacinas necessárias à imunização das
crianças e adolescentes aos quais se apliquem sua decisão.
Mas não é só, pois também se dirige aos pais e responsáveis por crianças e
adolescentes que, por decorrência da natureza de poder-dever que caracteriza
o poder familiar, têm a obrigação de providenciar o comparecimento de seus
filhos e dependentes aos locais destinados à imunização.

A vacinação tem por finalidade impedir a introdução ou propagação de


doenças contagiosas dentro de determinados grupos de pessoas, a partir
de regulação administrativa levada a cabo pelo Ministério da Saúde e pela
Vigilância Epidemiológica.

Necessário frisar que apenas consultas e exames médicos periódicos não


são suficientes prover segurança a saúde das menores.

O art. 3º, da Lei nº 6.259/1975 (Dispõe sobre a organização das ações de


Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações,
estabelece normas relativas à notificação compulsória de doenças), prevê a
competência do Ministério da Saúde para elaborar o Programa Nacional de
Imunizações, definindo o calendário de vacinações, inclusive as de caráter
obrigatório.

Assim dispõe a norma, ainda vigente:

“Art. 3º Cabe ao Ministério da Saúde a elaboração do Programa


Nacional de Imunizações, que definirá as vacinações, inclusive as de
caráter obrigatório.
Parágrafo único. As vacinações obrigatórias serão praticadas de modo
sistemático e gratuito pelos órgãos e entidades públicas, bem como
pelas entidades privadas, subvencionadas pelos Governos Federal,
Estaduais e Municipais, em todo o território nacional”.

Deu-se a regulamentação básica da referida lei pela implementação do


Programa Nacional de Imunizações, através do Decreto nº 78.231/1976. Esta
norma determina a obrigatoriedade das vacinações estabelecidas pelo Ministério
da Saúde.
Art. 27. Serão obrigatórias, em todo o território nacional, as vacinações
como tal definidas pelo Ministério da Saúde, contra as doenças
controláveis por essa técnica de prevenção, consideradas relevantes
no quadro nosológico nacional.

Parágrafo único. Para efeito do disposto neste artigo o Ministério da


Saúde elaborará relações dos tipos de vacina cuja aplicação será
obrigatória em todo o território nacional e em determinadas regiões do
País, de acordo com comportamento epidemiológico.

O mesmo Decreto prevê a obrigação dos responsáveis em geral em submeter


os menores sobre os quais tenha deveres de cuidado à vacinação obrigatória.
Assim dispõe seu artigo 29:

Art. 29. É dever de todo cidadão submeter-se e os menores dos quais


tenha guarda ou responsabilidade, à vacinação obrigatória.

Parágrafo único. Só será dispensada da vacinação obrigatória a


pessoa que apresentar Atestado Médico de contra-indicação explícita
da aplicação da vacina.

A consequência do descumprimento do dever descrito no art. 29, do Decreto nº


78.231/1976, é o cometimento de infração sanitária, prevista no art. 10, VIII, da
Lei 6.437/1977, que tipifica as infrações à legislação sanitária federal,
estabelecendo sanções:

“Art. 10. São infrações sanitárias: (...) VIII reter atestado de vacinação
obrigatória, deixar de executar, dificultar ou opor-se à execução de
medidas sanitárias que visem à prevenção das doenças transmissíveis
e sua disseminação, à preservação e à manutenção da saúde: Pena
advertência, interdição, cancelamento de licença ou autorização, e/ou
multa; (...).”

Não só infração sanitária, mas, presente o elemento subjetivo dolo


caracterizador de infração penal, também poderia configurar, em tese, no tipo do
artigo 268, do Código Penal:

Art. 268. Infringir determinação do poder público, destinada a impedir


introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena: detenção, de
1 (um) mês a 1 (um) ano, e multa.

Com isso, o interesse coletivo é observado em tais normas, identificando-se na


vacinação obrigatória não só a tutela individual de crianças, mas, também, uma
tutela indireta de toda a coletividade, especialmente quanto à diminuição da
exposição a risco de outras pessoas, crianças ou não, que eventualmente e por
conta de impedimentos de ordem médica, não sejam vacinadas.

Afinal, a existência de uma população majoritariamente imune a


determinadas doenças ensejará a cessação da circulação dos vírus que
causam as doenças e, consequentemente, mesmo indivíduos não
imunizados não estariam expostos à contaminação.

Bem por isto, a doutrina penal classifica a conduta do agente que, de qualquer
forma, dificulta determinação do poder público para impedir a introdução ou
proliferação de determinada doença contagiosa e a vacinação obrigatória se
enquadra perfeitamente no conceito como crime de perigo abstrato, tendo por
fim a tutela da incolumidade pública.

Tudo isto para se concluir que a recusa de se proceder à vacinação obrigatória,


seja do sujeito em si, seja das crianças e adolescentes que estejam sob sua
responsabilidade, não caracteriza o exercício legítimo de um direito perante o
Estado, mas, em verdade, ato ilícito, por ofensa a normas específicas de tutela
individual da saúde da criança e da incolumidade pública.

Trata-se de conduta imposta ao sujeito por força de norma legal de interesse


coletivo, atendendo, de forma suficiente, o princípio da legalidade (art. 5º, CF).

Se a conduta de recusa à vacinação obrigatória é uma conduta ilícita,


considerando as normas legais atinentes à espécie, constitui exercício irregular
do poder familiar a decisão deliberada dos genitores de recusar a vacinação e
de expor a criança a risco quanto à sua saúde e incolumidade física. Trata-se de
exposição a risco injustificada.

Desta feita, a opção dos pais em não proceder à vacinação obrigatória dos filhos
menores gera, a um só tempo, descumprimento das normas sanitárias internas
do Brasil, risco concreto à saúde e bem-estar da criança e risco de contaminação
coletiva por conta da diminuição da população imunizada.

E nem se diga que aí resida um conflito de direitos fundamentais, especialmente


quanto ao direito constitucional de liberdade de convicção religiosa dos pais e do
direito à solução interna das questões familiares.

É que o limite do exercício de tais direitos individuais e de organização familiar


esbarram na ofensa a normas de ordem pública e, no caso, nos efeitos de tais
escolhas sobre pessoa diversa daquele que as exerceu.

No caso, quem sofrerá eventual escolha dos pais pela não vacinação será
a criança que, por conta da pouca idade, nada pode escolher.

Prevalece, nestes casos, a tutela de ordem pública sobre a saúde, ensejando,


em casos extremos, até a suspensão ou destituição do poder familiar,
consubstanciado no descumprimento de obrigações decorrentes do poder
familiar. E, por conta disto, é possível se reconhecer na conduta da negativa
injustificada à vacinação da criança a infração administrativa do art. 249, do
Estado da Criança e do Adolescente, embora tal reconhecimento e sanção não
sejam objeto direto da presente demanda, mas sim de imposição de obrigação
de fazer, sob pena de incidência da norma sancionatória.

Por técnica processual, não se pode reconhecer, desde logo, a incidência da


norma sancionadora, mas apenas a fixação de suas balizas fáticas, dependendo
a sua aplicação de apuração concreta.

Limita-se este feito a reconhecer a obrigatoriedade da vacinação e à imposição,


aos genitores, da obrigação de regularizar a vacinação das crianças, as menores
Margarida Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, no prazo de 30 (trinta) dias,
sob pena não só de incidência futura do disposto no art. 265, do Estatuto da
Criança e do Adolescente, mas, principalmente, de realização do ato
por força estatal, através da busca e apreensão da criança, a ser cumprida pelo
Conselho Tutelar, a fim de proceder tal regularização.

A medida decorre da possibilidade de suspensão do poder familiar decorrente


do abuso em seu exercício, permitindo-se a transferência temporária de tais
obrigações de tutela ao Conselho Tutelar, exclusivamente para fins de
regularização da vacinação.

Ou seja, caso aplicada à criança a medida de proteção do acolhimento


institucional (art. 101, VII, ECA), por certo o responsável pela entidade irá
providenciar a regularização da vacinação de qualquer criança ali abrigada,
dando cumprimento ao comando do art. 94, IX, do Estatuto da Criança e do
Adolescente, a exigir o fornecimento de cuidados médicos.

E, no caso, configurada a omissão dolosa dos pais no cumprimento da


determinação contida nos autos, possível a transferência temporária e parcial do
exercício do poder familiar ao Conselho Tutelar para, de fato, proceder à
regularização da vacinação das crianças.

4. Dispositivo

Tendo em vista o exposto, RESOLVO O MÉRITO e JULGO PROCEDENTES


OS PEDIDOS, nos termos do art. 487, I, do CPC/2015, para condenar os réus a
procederem no prazo de 30 (trinta) dias corridos, contados da intimação da
presente decisão, a ser feita por meio de seu defensor constituído à
regularização da vacinação obrigatória das crianças, as menores Margarida
Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, junto a posto de saúde ou
estabelecimento similar, sob pena de suspensão limitada do poder familiar para
que o Conselho Tutelar, por meio de busca e apreensão, proceda à
regularização ora determinada.
O eventual cumprimento voluntário da obrigação ora imposta deverá ser feito
nos autos, por meio da apresentação do respectivo certificado de vacinação da
criança.

Publique-se Registra-se e Cumpra-se.

Vitória/ES, 02 de junho de 2020.

Henrique dos Santos Teixeira


JUIZ DE DIREITO
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

INTIMAÇÃO

PROCESSO Nº.: 0002648-25.2020.8.08.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e
ALICE FERREIRA AGUIAR

FINALIDADE: CERTIFICO QUE A R.SENTENÇA FOI PUBLICADA EM 03 DE JUNHO


DE 2020, PARA CIÊNCIA E PARA, CASO QUEIRAM, APRESENTAR RECURSO
DENTRO DO PRAZO LEGAL.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA

CERTIDÃO

PROCESSO Nº.: 0002648-25.2020.8.08.0024


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
RÉU: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR e
ALICE FERREIRA AGUIAR

FINALIDADE: CERTIFICO QUE, A R.SENTENÇA TRANSITOU EM JULGADO EM 24 DE


JUNHO DE 2020, DIA SUBSEQUENTE AO TERMINO DO PRAZO RECURSAL.

Thainá Lage da Silva


Chefe de Secretaria

Você também pode gostar