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PODER JUDICIÁRIO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
0002648-25.2020.8.08.0024
Nº do Processo
Nº do Volume 001
Data Ajuizamento 11/03/2020
Nº Petição Inicial 202003578745
Classe (7) Procedimento Comum
Natureza Infância e Juventude
Assuntos Principais Obrigação de fazer / Não Fazer;
Assuntos Secundários Liminar
Valor da Causa R$10.000,00
Vara Vitória – 1ª Vara da Infância e Juventude
11/03/2020 – 13:54
Data/Hora de distribuição
Distribuição por Sorteio
Por Dependência ao processo
Autor
(259463) MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL
Promotora:00003/ES CINTIA FERNANDES
Réu
(956148321) JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR & ALICE FERREIRA AGUIAR
Advogado
Autuação
Aos 11 (onze) dias do mês de março ano de dois mil e vinte, nesta Cidade e
COMARCA DA CAPITAL – JUÍZO DE VITÓRIA e em meu cartório, autuo a petição e
documentos que adiante se seguem. Eu, _______________________ Escrivão,
subscrevi.
0002648-25.2020.8.08.0024
MENSAGEM POSTAL
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360
Em face de:
I – DOS FATOS
É cediço que o desejo dos pais vai de encontro ao que dispõe a Lei nº 9394/96 –
Lei de Diretrizes e Bases (LDB) – a qual afirma que a educação formal deve ser
oferecida em instituições próprias, oportunizadas pelo Estado e garantidas pelos
responsáveis, os quais têm a obrigação de matricular no ensino infantil os filhos de
4 a 6 anos de idade.
II – DA TUTELA ANTECIPADA
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
Segundo FREDIE DIDIER JUNIOR1, a tutela antecipada (satisfativa) tem por objeto
assegurar e antecipar a parte autora o próprio direito material, quando exista o
fomus bonis iuris – a plausibilidade de existência do direito – e o periculum in mora,
que é a existência de elementos que evidenciem o perigo que a demora da
prestação jurisdicional representa para a eficaz realização do direito e efetividade da
jurisdição.2 No presente caso, tais pressupostos encontram-se evidentes.
Assim, resta claro que a presente demanda requer maior celeridade no julgamento
do pedido, uma vez que a demora da vacinação acarretará, por certo, em violação
à diversos direitos fundamentais das menores, o que incidirá no resultado útil do
1 DIDIER JR, Fredie, BRAGA, Paula Sarno, OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de Direito
Processual Civil: Teoria da Prova, Direito Probatório, Decisão, Precedente, Coisa Julgada e
Tutela Provisória. 13 ed. rev. e atual. Salvador: JusPodivm, 2018, p.648-710.
2 Ibid, p. 684.
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processo, de modo que, caso não seja deferido o pedido liminar, perderão as
crianças as vagas até então garantidas pelas pré-matrículas realizadas, bem como
continuarão expostas a diversas enfermidades que poderiam facilmente serem
evitadas, razão pela qual a concessão da tutela antecipada é medida que se
impõe.
III – DO DIREITO
Neste sentido:
Dispõe o art. 227 da Constituição Federal que é dever do Estado assegurar, com
absoluta prioridade, os direitos fundamentais ao desenvolvimento da criança,
adolescente e jovem, colocando-os a salvo de qualquer forma de negligência:
3 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.
Evidencia-se que a vacinação infantil é uma das políticas sociais implantadas pelo
governo com o intuito de cumprir o seu dever de garantir saúde à população, de
maneira que é atribuída aos pais a responsabilidade pela vacinação de seus filhos,
conforme o calendário de vacinação, observado o protocolo brasileiro em relação à
matéria. A despeito do assunto, a Lei Federal nº 8.069/905 – Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), assim dispõe:
4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.
ed. atual. e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
5 BRASIL. Lei n.º 8.069 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá
A mencionada obrigação dos pais ou responsáveis legais, quanto à tutela dos filhos,
a doutrina denomina poder parental. Nesse diapasão, CARLOS ROBERTO
GONAÇALVES aduz:
Filhos adquirem direitos e bens, sem ser por via de sucessão dos pais. Há,
pois, que defender e administrar esses direitos e bens; e para este fim,
representa-los em juízo ou fora dele. Por isso, aos pais foi concedida ou
atribuída uma função semipública, designada poder parental ou pátrio
poder, que principia desde o nascimento do primeiro filho, e se traduz
por uma série de direitos-deveres, isto é, direitos em face de terceiros e
que são, em face dos filhos, deveres legais e morais.6
6 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro, vol. 6: direito de família. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2019. p.68.
7 BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
Nesta senda, foi informado aos pais que já se transcorrera o lapso temporal
permitido pela lei, razão pela qual as representadas poderiam perder as vagas na
escola, momento em que os réus tão logo expressaram o desejo de educar as
suas filhas em casa, visto serem contra a educação escolar.
Pois bem.
LUIS ROBERTO BARROSO explica que quando mais de uma norma incide sobre o
mesmo conjunto de fatos, entrando em tensão dialética, sua aplicação deverá
ocorrer mediante a ponderação, por força do princípio instrumental de unidade da
Constituição 8 , o qual aduz que em uma análise do caso concreto, o intérprete
buscará conferir o peso de cada princípio, preservando o máximo de cada um, na
medida do possível.
No caso sob análise, é inexorável que o direito à saúde deve ser priorizado, haja
vista a ausência de vacinação das crianças as tornarem mais vulneráveis a diversas
doenças, as quais, inclusive, podem levá-las a óbito prematuramente, refletindo,
dessarte, no direito à inviolabilidade da vida, a qual constitui “a fonte primária de
todos os outros bens jurídicos”9.
Ademais, não é despiciendo que a vacinação infantil visa a proteger não apenas o
bem jurídico da vida de quem é vacinado, mas de toda a população a que é
destinada, não se tratando, desse modo, de uma escolha de cunho subjetivo,
atrelada à vida privada dos pais em seu seio familiar, sob alegada “afronta do
Estado”, como asseveram os réus.
8 BARROSO, Luís Roberto. Interpretação e aplicação da Constituição. 7. ed. São Paulo: Saraiva,
2009. p. 354.
9
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 1099.
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Portanto, em que pese o alegado direito de crença religiosa suscitado pelos réus, em
atenção ao princípio do melhor interesse, não podem os pais se recusarem a vacinar
as suas filhas, sob o argumento do direito individual que lhes garante a Constituição,
uma vez que a vacinação se trata, mormente, de direito coletivo, o qual deve ser
sopesado com maior relevância, tendo em vista ser a vida, de diversas pessoas, o
bem jurídico tutelado.
Desse modo, nota-se que a abstenção dos réus reflete uma prática lesiva à
integridade física das menores, as quais, com 4 e 6 anos de idade, ainda não
tiveram acesso básico à saúde que lhes é garantido pela Constituição Federal,
motivo pelo qual encontram-se expostas e vulneráveis a todos tipos de patógenos e
enfermidades que ordinariamente acometem crianças dessa faixa etária. Como se
não bastasse, a omissão dos pais acarreta, ainda, em risco de contágio à toda
coletividade, uma vez que sem a devida imunização facilita-se a propagação de
diversas doenças.
O art. 55 do ECA dispõe que “os pais ou responsável têm a obrigação de matricular
seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino” 11 . Seguindo a mesma linha
exegética, dispõe a Lei nº 9.394/9612 que trata das diretrizes e bases da educação
nacional:
Foi nesse sentido, inclusive, que entendeu o Excelso Superior Tribunal Federal (E.
STF) ao firmar a tese de repercussão geral de nº 822, no qual se prevaleceu o
10 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 28.
jovens são ensinados em domicílio com o apoio de um ou mais adultos que assumem a
responsabilidade pela aprendizagem.
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Nesse sentido:
IV – DO VALOR DA CAUSA
Cíntia Fernandes
Promotora de Justiça
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
VITÓRIA – 1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE
CERTIDÃO
CERTIDÃO
Certifico e dou fé que procedi com a autuação dos presentes autos e os registrei
no sistema EJUD sob número 0002648-25.2020.8.08.0024.
Vitória/ES, 11/03/2020.
CONCLUSÃO
Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos
Santos Teixeira.
Vitória/ES, 11/03/2020.
DECISÃO
Trata-se de Ação de Obrigação de Fazer, proposta pelo o MINISTÉRIO
PÚBLICO DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO, em face de JEREMIAS
SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR, com pedido de tutela
antecipada de urgência, cujo o deferimento está intrinsicamente condicionado a
demonstração da probabilidade do direito, o perigo de dano ou risco ao
resultado útil do processo, conforme prevê o art. 300 do Código de Processo
Civil, in verbis:
Tais circunstâncias evidenciam o periculum in mora, pois, a cada dia que passa
sem a devida imunização das menores impúberes, não apenas estas se
expõem ao risco de serem acometidas por doenças, mas toda a população
infantil, ainda que indiretamente, ademais que enfrentamos, atualmente, o surto
de diversas doenças infectocontagiosas, a exemplo do sarampo, doença viral
que vem sendo combatida pelo Governo através de campanhas de
conscientização e mobilização, para que os pais e responsáveis levem os seus
filhos aos postos de saúde, a fim de receberem a imunização e, desse modo,
se conter a doença no Brasil.1
1Ministério da Saúde quer eliminar sarampo do país até julho: Criança de 9 anos morreu no
Rio de Janeiro vítima da doença. BRANDÃO, Marcelo. Agência Brasil. Disponível em:
<https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2020-02/ministerio-da-saude-quer-eliminar-
sarampo-do-pais-ate-julho>. Acesso em: 16 mar. 2020.
deve ser priorizado, razão pela qual DEFIRO O PEDIDO DE TUTELA
ANTECIPADA DE URGÊNCIA para determinar aos réus que realizem a
regularização de todas as vacinas obrigatórias pendentes das menores M.F.A e
V.F.A., no prazo de 24 (vinte e quatro) horas.
Após, conclusos.
Diligencie-se.
PROCESSO Nº 0002648-25.2020.8.08.0024
Autor: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
Réu: JEREMIAS SALOMÃO AGUIAR E ALICE FERREIRA AGUIAR
Pelo presente, fica Vossa Senhoria devidamente CITADO e INTIMADO para todos os termos
da presente carta:
FINALIDADE
a) CITAÇÃO DO(S) RÉU(S) abaixo descrito de todos os termos da presente ação, cuja
cópia segue anexa;
b) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) para apresentar contestação, no prazo de 15 (quinze) dias
úteis, sob pena de Revelia;
c) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) para apresentar agravo, no prazo de 15 (quinze) dias
úteis, sob pena de Revelia;
d) INTIMAÇÃO DO(S) RÉU(S) do teor da decisão cujo dispositivo segue em anexo;
CERTIDÃO
Certifico que, nesta data, remeti ao Diário de Justiça a presente intimação através
da lista de nº 081/2020 para o (s) Advogado(s):
[..]
Assim, considerando que a imunização das crianças trata-se de imposição estatal objetivando
resguardar a vida de um número indeterminado de pessoas, ainda que exista a impossibilidade
de reversibilidade (art. 300, § 3o, NCPC), entendo assistir razão o pleito ministerial, uma vez que
o direito à inviolabilidade da vida deve ser priorizado, razão pela qual DEFIRO O PEDIDO DE
TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA para determinar aos réus que realizem a regularização
de todas as vacinas obrigatórias pendentes das menores M.F.A e V.F.A., no prazo de 24 (vinte e
quatro) horas. Intimem-se os réus para, em 24 (vinte e quatro) horas comprovarem a realização
das vacinas obrigatórias, sob pena de multa (art. 536, §1o CPC) no valor de R$ 100,00 (cem
reais), por dia de atraso, montante este que poderá ser revisto posteriormente, caso se mostre
irrisório ou excessivo, sem prejuízo da tomada de outras medidas coercitivas que se revelarem
necessárias para assegurar o cumprimento da presente decisão. Deixo de designar audiência
conciliatória, ante a indisponibilidade dos direitos envolvidos (art. 334, §4o, II, CPC). CITEM-SE
e INTIMEM-SE os réus para, em 15 dias, apresentarem resposta.
A parte autora desta ação, inconformada, vênia permissa máxima, com a decisão
interlocutória que deferiu a tutela de urgência, nos termos do artigo 1.015, I
do Código de Processo Civil, interpôs oportunamente AGRAVO DE
INSTRUMENTO.
Nos termos do artigo 1.018 do Código de Processo Civil, requerer a juntada da cópia
da petição do agravo de instrumento, do comprovante de interposição, tendo juntado
ao processo como documentos que instruíram o referido recurso in verbis:
a) cópia da petição inicial com seus anexos que foi a que também ensejou a
decisão agravada;
1
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b) própria decisão agravada;
c) foto do Aviso de Recebimento como prova da tempestividade do presente
recurso;
d) cópia da procuração outorgada aos Advogados dos Agravantes,
e) declaração de ausência de contestação, pelo fato de ainda estar dentro do
prazo legal para apresentação da peça e procuração ao advogado da parte
agravada, pelo fato do Agravado ser o Ministério Público.
Requer, por fim, que Vossa Excelência profira o juízo de retratação previsto no
artigo 1.018, § 1º do CPC.
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EXCELENTISSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR DO EGRÉGIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
1
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a)Instrui a presente peça recursal com cópias obrigatórias e facultativas, declarando-
as autênticas; com exceção da Contestação, em razão de ainda estar no prazo de
apresentação da mesma;
b)informa que são seus advogados Dra. Larissa Pertel, OAB/ES nº252.555, Dra.
Mariana Cerillo, OAB/ES nº 252.000 e Dr. Pedro Henrique Holanda, OAB/ES nº
260.000, com escritório profissional sito na Rua da Grécia, nº 300, Santa Luiza, CEP
nº 29.050.335, cidade de Vitória/ES e endereço eletrônico:
chp.advogados@gmail.com, onde recebem as comunicações procedimentais de
estilo;
Requer, ainda, a isenção do pagamento das custas do recurso, nos termos do arts.
98 e seguintes do Código de Processo Civil (Lei 13.105/2015), vez que não podem
arcar com as custas e despesas processuais, nem honorários advocatícios, sem
prejuízo do seu sustento e de sua família (vide declaração anexa), e sua imediata
distribuição, nos termos da lei.
R. Juntada
E. Deferimento.
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RAZÕES DE AGRAVO DE INSTRUMENTO
Eminentes Julgadores,
Ocorre que os agravantes fazem parte da “Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura”, que
doutrina a não contaminação do sangue, sendo a vacinação um meio para tal
contaminação. Além disso, a determinação da vacinação afrontaria o direito
constitucional à liberdade religiosa.
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COMPORTANDO AGRAVO DE INSTRUMENTO, NOS TERMOS DO ARTIGO 1015,
INCISO I, DO CPC, COMPROVADO O CABIMENTO DO PRESENTE RECURSO.
O presente Agravo (artigo 1015, inciso I, do CPC) tem, portanto, por objetivo combater
a r. decisão de fls. 44-47 dos autos, que entendeu por DEFERIR A TUTELA DE
URGÊNCIA, determinando aos agravantes a regularização de todas as vacinas
obrigatórias pendentes das filhas menores do agravantes.
O Código de Processo Civil (CPC), ao dispor sobre tutela de urgência, prevê sobre o
perigo de irreversibilidade dos efeitos da decisão, e expõe no artigo 300, §3º que:
Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO
DEMOLITÓRIA. TUTELA DE URGÊNCIA. PROBABILIDADE DO DIREITO
E PERIGO DA DEMORA. INEXISTÊNCIA. IRREVERSIBILIDADE DA
MEDIDA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. DECISÃO REVOGADA.
1.A concessão de tutela de urgência requer, a teor do art. 300 do CPC, a
demonstração da probabilidade do direito e o perigo que a não concessão
da ordem ocasiona ao processo. 2. Em ação demolitória, busca-se tão
somente o desfazimento de obra, não sendo possível determinar a
reintegração de posse da interessada, eis que ausente pedido cumulado; 3.
A necessidade de redistribuição dos lotes pela Agravada não condiz com o
intuito perseguido na Ação Demolitória, eis que necessária a retomada da
posse do bem, a qual somente se cumprirá com as medidas processuais
específicas a tal desiderato, ou seja, com a ação de reintegração de posse
ou a ação reivindicatória, a depender da relação jurídica da parte com o
imóvel subjacente a demanda. 4. A parte não relatou na inicial motivo que
justificasse o perigo da demora, bem como a adoção de conceitos jurídicos
indeterminados, sem a demonstração da sua efetiva incidência no caso em
tela, com o uso de motivos que se prestariam a justificar qualquer outra
decisão, ocasionam a nulidade da decisão vergastada, pela ausência de
cumprimento do requisito legal. 5. A concessão de tutela de urgência em
ação demolitória é irreversível, mas admite-se em casos especialíssimos,
tal como nos casos de proteção a bem jurídico que possua status superior
ao que o direito de construção protege, como a incolumidade física de
pessoas decorrente de construções em situação de risco, situação que não
se coaduna com o presente caso. 6. Recurso conhecido e provido. Decisão
revogada.
5
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NECESSIDADE DA IMEDIATA SUSPENSÃO DOS EFEITOS DA R. DECISÃO
AGRAVADA, EM RAZÃO DA IRREVERSIBILIDADE OS EFEITOS DA DECISÃO.
Requer, desta forma, digne-se V. Exa. de, na forma do artigo 1019, inciso I, do CPC,
atribuir efeito suspensivo ao presente Agravo, dele comunicando-se, com urgência, o
Ilustre prolator da decisão agravada.
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DOCUMENTOS
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DECLARAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOCUMENTAÇÃO
OBRIGATÓRIA
__________________________________
Dra. MARIANA CERILLO GAVI
OAB/ES nº 252.000
JUNTADA
EM 23/03/2020. Certifico a juntada da petição sob protocolo
nº 202003864219, intitulada como CONTESTAÇÃO.
Processo: 0002648-25.2020.8.08.0024.
CONTESTAÇÃO
O Ministério Público do Estado do Espirito Santo alega, em apetada síntese, que no dia
06 de janeiro de 2020, chegou à ciência do Conselho Tutelar de Vitória/ES, por meio de
ofício encaminhado pela Diretora da escola particular de ensino infantil “Portal Criança” que
os ora Réus Sr. Jeremias Salomão Aguiar e Sra. Alice Ferreira Aguiar, encontravam-se
pendentes do envio da caderneta de vacinação de suas filhas, Margarida Ferreira Aguiar e
Violeta Ferreira Aguiar, ambas de quatro e seis anos, respectivamente, nascidas em
06.09.2015 e 22.01.2013.
Em via de consequência, pretextam que os Réus são contra a educação escolar e favoráveis
a educação domiciliar, indo de encontro ao determinado pela Lei de Diretrizes e Bases, bem
como às Leis Federais nº 8.069/90; 8.080/90 e a Lei Estadual nº 10.913/2018, que versam
sobre a obrigatoriedade da apresentação do Cartão de Vacinas dos filhos menores de 18
anos no ato de matrícula.
De mais a mais, o MPES pugna pela condenação dos réus a fim de que os mesmos sejam
compelidos a cumprirem a obrigação de fazer, materializada na imediata providência da
vacinação de suas filhas, a fim de que as possibilite frequentar o Ensino Infantil
regularmente.
Dado ao exposto, não merecem prosperar os pedidos alçados na peça vestibular, pelos
2. DAS PRELIMINARES.
Sabe-se que no Direito Pátrio existem duas formas de controle de constitucionalidade de lei
ou de ato normativo do poder público.
Não por outro motivo ensina DANIEL ASSUNÇÃO AMORIM 1 que existe não só o controle
concentrado, o qual é de competência exclusiva do Egrégio Supremo Tribunal Federal,
materializada através do processo objetivo, como também há o controle difuso, que é per si
de competência de qualquer juízo e realizado de forma incidental em qualquer processo, no
qual a inconstitucionalidade se mostre prejudicial ao julgamento do mérito.
Daí por que no Código de Processo Civil de 2015, o juiz singular no exercício de sua função
jurisdicional deve avaliar o incidente, empregando, em via de consequência o juízo de
admissibilidade.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
Nesse sentido, para fins de balizamento cognitivo veja-se in fine o art. 1º da Lei Estadual n.º
10.913/18:
3
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual. e
ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
4
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. Disponível em
http://www3.al.es.gov.br/Arquivo/Documents/legislacao/html/LeOr109132018.html > Acesso em 22 mar. 2020.
Pasme Nobre Julgador, é o Poder Público quer não quer deixar as duas menores estudarem
em função de uma lei inconstitucional. Extrai-se da interpretação daquela norma, que o
parâmetro ao qual a Constituição Federal de 1988 acolheu é objetivo, vez que estabeleceu a
faixa etária, porquanto, critério para o acesso à educação.
Valem-se aqui as lições de Ruy Barbosa5 que “entre um ato legislativo ilegítimo de nascença
e a Constituição, cuja legitimidade nenhuma lei pode contestar, entre o ato nulo da
legislatura e o ato supremo da soberania nacional, o juiz, para executar o segundo, nega
execução ao primeiro”.
A par disso roga-se que o Crivo de Vossa Excelência não compactue com essa clara
violação normativa em face da Constituição Federal, o que prejudica, ainda que por via
incidental, indiscutivelmente os Réus.
Em outras palavras, ainda que o procedimento legislativo não esteja corrompido, não há
certeza da constitucionalidade da norma, pois caso contrário, numa comparação simplória,
jamais o legislador originário esculpiria os mecanismo de ação objetiva, tais quais, Ação
Declaratória de Constitucionalidade ou mesmo Ação Direta de Inconstitucionalidade e quiçá
permitiria o uso do controle difuso por via incidental.
Por essas razões, os Réus pugnam que Vossa Excelência DECLARE a inconstitucionalidade
do art. 1º da lei 10.913/18, com efeitos inter-partes, desobrigando, outrossim, os Réus de
apresentarem o Cartão de Vacina, extinguindo, em via de consequência, o feito com
resolução de mérito.
5
BRASIL. Senado Federal. Disponível em <https://www2.senado.leg.br/bdsf/handle/id/224197 >. Acessado em
22 de mar. 2020.
3. DO MÉRITO.
6
BRASIL. Lei n.º 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406.htm> Acesso em: 15 mar. 2020.
Logo, o poder diretivo dos pais sobre a criação dos seus filhos é envolto por uma
discricionariedade, inspirada pela autonomia e pelas convicções políticas, filosóficas
e religiosas de cada um.
Nesse sentido cabe pontuar que as normas constitucionais carregam consigo uma fórmula
aberta. O Art. 227 CRF/88 por exemplo informa que é dever da família assegurar à criança,
com absoluta prioridade, o direito à saúde e à educação, entretanto, não delimita um manual
de como concretizar tais direitos e tampouco o condiciona a uma formula específica.
Exaure-se do exposto, inicialmente, que o direito à saúde não se demonstra exercitado única
exclusivamente tal como quer o Ministério Público, somente pelo ato de vacinação das duas
menores.
Sendo assim numa perspectiva técnica e moderna, o conceito de saúde é estipulado, pela
Organização Mundial de Saúde, como sendo „’um estado de completo bem- estar físico
mental e social e não somente ausência de afeccções e enfermidades’’.
„‟[...] Cabe aos pais, cuidar do bem-estar físico e mental dos filhos, levando-os
regularmente ao médico, principalmente na primeira infância, fase em que a
saúde é mais frágil e inspira maiores cuidados, e, principalmente, se manter
atentos aos filhos. A atenção a eles dispensada talvez seja a principal
garantia de uma vida saudável. No aspecto psíquico, já que os filhos
acolhidos, amados e ouvidos terão menor probabilidade de sofrerem
abalos psicológicos. Quanto ao aspecto físico, ficar atento a mudanças
comportamentais e queixas dos filhos é medida salutar. Via de regra,
ninguém melhor que os pais para identificar se há algo errado com os
7
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual.
e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
8
ANDRADE MACIEL, Kátia Regina Ferreira Lobo. Curso de direito da criança e do adolescente:
aspectos teóricos e práticos. 11. ed. São Paulo Saraiva Educação, 2018.p.63.
Nesse sentido não se pode cair numa perspectiva míope que a antedita atitude representa a
única forma de se garantir o direito à saúde, arrolando-se que os pais que obstam a realiza-
la incorreriam em negligencia.
O conceito da OMS vai ao encontro da postura dos Réus que sempre proporcionaram
as suas filhas o acesso à saúde, através de consultas médicas periódicas e exames
preventivos, tal como será comprovado por prova testemunhal.
No que se refere ao direito à educação das suas filhas, os Réus reforçam o desejo de
educar as suas filhas em casa sem a interferência do Estado, entretanto, dada a proibição
do Ordenamento Jurídico Pátrio ao HOMESCHOLLING, viram-se obrigados a realizar a
matrícula das duas menores, Margarida Ferreira Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, no dia 05
de Dezembro de 2019, isto é, no primeiro dia de abertura.
È no mínimo inautêntico se arguir que os Réus são negligentes, bem como dizer que
os mesmos não possuem a pretensão de efetuar a matrícula das duas menores.
Apesar das concepções pessoais dos Reús é de ser relevado, que a Diretora da Escola
Infantil, Maria Eduarda Cavalcanti, foi quem os informou que caso os cartões de vacina não
fossem entregues até o início do período letivo, Margarida e Violeta estariam
impossibilitadas de frequentar as aulas.
Esta atitude, sim, Nobre Julgador que obsta o acesso à educação, violando ao mandamento
constitucional esculpido no art. 208, bem como ao art. 4º da Lei 10.913/18 que nenhum
momento, aduz expressamente em seu texto ou mesmo prevê, a possibilidade de impedir
que as menores frequentem as aulas.
Mais constritador é dizer que há o descompromisso por parte dos Réus na gerência
da educação dos seus filhos, ao passo que a Diretora do ente escolar e o Ministério
Público, subvertem a norma jurídica e a sua interpretação.
Em que pese o alegado, cumpre destacar que há conflito de direitos fundamentais e estes não
podem ser considerados como absolutos, mas ao revés, devem ser ponderados entre si em
cada caso concreto.
Em razão disso, por amor ao debate forense recorre-se a diferença basilar entre
Direito e Garantias Fundamentais, a qual o Ministério Público omitiu com vistas a dar
impulso a sua tese, levando aos olhos desatentos a um entendimento jurídico falho.
9
DE MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 32. ed. rev. e atual. até a EC nº 91, de 18 de
fevereiro de 2016. São Paulo: Atlas, 2016. p.95.
Inferem-se duas premissas basilares. A primeira é que se tem no verso primeiro do inciso VI
o direito à inviolabilidade de crença, ao passo que a segunda parte existe a garantia de
proteção ao culto e as suas liturgias.
No caso presente, resta clarividente que há uma violação à liberdade de crença dos Réus,
vez que pertencem a uma denominação religiosa „‟ Igreja Gênesis II da Saúde e da Cura‟‟.
Esta embora não seja conhecida pelo seio social, apregoa em sua doutrina e liturgia que as
vacinas causam contaminação ao indivíduo.
Em outras palavras, pretender que os Réus vacinem as duas menores, Margarida Ferreira
Aguiar e Violeta Ferreira Aguiar, é justamente violar à sua liberdade de crença, bem como a
garantia de proteção ao culto e liturgia esculpida no texto constitucional.
Considerar o contrário, também representa que o Ministério Público deve denunciar á titulo
ilustrativo, as famílias judias que realizam no primogênito de sexo masculino à prática da
circuncisão, o que conforme sabe-se gera ao recém nascido lesão corporal, havendo, como
todo e qualquer procedimento cirúrgico risco de morte.
De igual forma, com toda vênia, è dizer para os membros da Testemunha de Jeová que à
crença de não aceitar receber sangue è inaceitável, é pífia desacreditando-os de sua fé, de
sua liturgia.
10
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. In: Vademecum Saraiva. 27. ed. atual.
e ampl. São Paulo: Saraiva Educação, 2018.
Tenha-se presente que existe veladamente uma tentativa para que os Réus renunciem às
suas crenças, aos dogmas da sua religião, pois é o pretende, justamente a plano de fundo, o
MPES, ao tentar que Vossa Excelência compile-os a proceder a vacinação.
Nesse sentido perfaz-se o compromisso da defesa com a dialética dos fatos. Sendo assim
aduz o Ministério Público às fls. 11 que:
‘’A abstenção dos réus reflete uma prática lesiva à integridade física das
menores, as quais, com 4 e 6 anos de idade, ainda não tiveram acesso
básico à saúde que lhes é garantido pela Constituição Federal, motivo
11
DE MORAES, Alexandre. Direito constitucional. 32. ed. rev. e atual. até a EC nº 91, de 18 de
fevereiro de 2016. São Paulo: Atlas, 2016. p.115.
Conforme cópia dos laudos em anexo, verifica-se o inteiro comprometimento dos Genitores
com a saúde das suas filhas, cujo acompanhamento clínico e médico è realizado, desde os
primeiros quinze dias de vida das duas menores, proporcionando o acesso básico a saúde
das duas menores.
Esclarece-se, outrossim, que a Religião dos Réus não proíbe o acompanhamento médico e
tampouco o exercício ao direito à saúde, mas tão somente a contaminação por vacinas.
Assim, conforme aventado acima, o direito à saúde não se dá somente pela vacinação, mas
ao revés, personifica-se pelo acompanhamento médico, pela nutrição alimentar, por
atividades físicas e pelo bem-estar psíquico.
Nesse sentido Excelência são os motivos de crença religiosa que obstam os Réus a
vacinarem as suas filhas, obriga-los a proceder tal medida seria atingir violentamente a sua
Dignidade como Pessoa Humana.
Nobre Julgador, os Réus fazem jus à concessão do benefício da gratuidade da justiça, nos
termos do arts. 98 e seguintes do Código de Processo Civil ( Lei 13.105/2015), vez que não
podem arcar com as custas e despesas processuais, nem honorários advocatícios, sem
prejuízo do seu sustento e de sua família.
1º) Maria Elizabeth Julia , CPF 123.456-78, médica, com endereço profissional no
Hospital da Policia Militar, Bento Ferreira, nº 1000, Vitória/ES.
2°) Marluce de S., CPF 987.654 -32, assistente social, residente e domiciliada na Rua
78, nº 42, Vitória/Es.
3.) Karoline, CPF 456.123-31, Pastora, com endereço profissional “Igreja Gênesis II
da Saúde e da Cura, Avenida Vitória nº 5000, Vitória/ Es.
4. DOS PEDIDOS
VI) A intimação das testemunhas arroladas, por força do art. 454 § 4º CPC/15.
Nestes termos,
pede deferimento.
OF. Nº 135/2020
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 0048293-83.2020.8.08.0024.
(Ref. Ao Processo de origem Nº 0002648-25.2020.8.08.0024)
MMº. Juiz:
Respeitosamente.
Ao
Exmº. Sr(a). Juiz(a) de Direito da 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DECISÃO MONOCRÁTICA
Agravo de Instrumento nº0048293-83.2020.8.08.0024
Origem : 1ª Vara da Infância e Juventude de Vitória
Relator : Desembargador Thiago Freitas dos Santos
Agravante : Jeremias Salomão Aguiar
Agravante : Alice Ferreira Aguiar
Agravado : Ministério Público do Estado do Espírito Santo
EMENTA:
DECISÃO
É o relatório.
Intime-se a parte agravada, nos termos do artigo 219 e 1.019, II, ambos do
Código de Processo Civil, para, querendo, contraminutar o presente recurso.
Publique-se.
CONCLUSÃO
Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos Santos
Teixeira.
Vitória/ES, 27/03/2020.
DESPACHO
Após, conclusos.
Diligencie-se.
INTIMAÇÃO
I - SÍNTESE DO PROCESSSO
Tendo em vista a urgência do pedido, uma vez que as menores nunca receberam
qualquer dose das vacinas recomendadas pelo Ministério da Saúde, e que o período
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letivo iniciaria sem que aquelas pudessem frequentá-lo, pugnou-se, ainda, pelo
deferimento liminar da tutela pretendida.
(iv) Riscos adversos provenientes das vacinas e laudos médicos que atestam a
saúde das menores.
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Pois bem.
1 LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 21.ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p.
255.
2 BARROSO, Luis Roberto. O controle de constitucionalidade no direito brasileiro: exposição
sistemática da doutrina e análise critíca da jurisprudência. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 29
3 MORAIS, Dalton. Controle de constitucionalidade exposições criticas a luz da
Nessa mesma linha, a Lei Federal n.º 6.259/75 dispõe sobre a organização das
ações de vigilância epidemiológica e do Programa Nacional de Imunizações,
estabelecendo o seguinte:
4
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 05 de out. de 1988. Vade Mecum
Saraiva. 24ª ed. São Paulo: Saraiva, 2017. p. 66.
5
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Vade Mecum Saraiva. 24. ed. São Paulo: Saraiva,
2017. p. 1035.
6 BRASIL. Ministério da Saúde. Sobre o Programa Nacional de Imunizações. Disponível em:
Esse dispositivo está em perfeita consonância com o art. 198, II, da CRFB/88, que
esclarece que uma das diretrizes das ações e serviços públicos de saúde é a
prioridade para as atividades preventivas 8 , reforçando a importância da
vacinação como instrumento para se promover a saúde da população.
Resta clarividente, portanto, que a lei n.º 10.913/18 não confronta a Constituição
Federal, sendo seu conteúdo perfeitamente válido e compatível com a Carta Magna,
de modo que essa preliminar deverá ser rejeitada, com o devido prosseguimento do
feito, vez que o controle não se aplicará ao caso em tela.
266.
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O que se pode extrair da aludida afirmação, é que os réus buscam argumentos que
lhes viabilizem escusarem-se da obrigação em proceder à vacinação das menores,
sob a alegação de que tal omissão não representa negligência quanto aos cuidados
que os pais devem ter diante dos filhos, isto porque, segundo afirmam, “numa
perspectiva técnica e moderna, o conceito de saúde é estipulado, pela Organização
Mundial da Saúde, como sendo ‘um estado de completo bem-estar físico mental e
social e não somente ausência de afecções e enfermidades’”.
10 OMS considera movimento antivacina uma ameaça à saúde mundial. Para especialistas, a
presença do movimento na lista de ameaças evidencia os perigos que ele representa à saúde global.
VEJA. Publicado em 17 jan. 2019, 19h20 Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/oms-
considera-movimento-anti-vacina-uma-ameaca-a-saude-mundial/>. Acesso em: 08 abr. 2020.
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Ademais, afirmam ainda que, muito embora sejam contra o ensino escolar,
compreendem que há, no ordenamento jurídico pátrio, vedação ao homeschooling
puro, exatamente como demonstrado por este Parquet na Exordial. No entanto, com
o intuito de refutar os argumentos de direito coletivo suscitados, afirma a Defesa que
este Órgão de Execução “perdeu-se em suas próprias contradições”, uma vez que,
na realidade, o maior obstáculo ao acesso à educação, pelas crianças, não são os
réus, mas sim a atuação da Diretora da Escola Infantil Portal Criança, Maria
Eduarda Cavalcanti, quem os informou que, caso os cartões de vacina não fossem
entregues até o início do período letivo, estariam as menores V.F.A e M.F.A
impossibilitadas de frequentar as aulas, caracterizando tal atuação uma violação ao
disposto no art. 208 da CRFB/88 e ao art. 4º da Lei 10.913/18.
frequentam a “Portal Criança”, bem como cumprir com o que impõe a lei, é quem
estaria prejudicando o direito à educação das crianças.
Como frisado pela Defesa, a igreja não é conhecida no meio social, obstante a isto,
possui uma doutrina que, através da palavra de “ensinamento”, traz aos seus
poucos fiéis uma “verdade absoluta” que obstaculiza o acesso à saúde, por parte de
seus seguidores. Inobstante, o que se reputa na presente ação, não é o interesse
privado dos réus enquanto pais, mas sim das menores impúberes às quais deve ser
garantido o direito à vida e saúde, através das medidas necessárias à sua
manutenção.
Ainda que os réus aleguem que o bom planejamento familiar que possuem é capaz
de prover o bem-estar físico e mental dos filhos, com idas regulares ao médico,
sabe-se que tais ações, por si só, não são suficientes a combater as doenças que
somente podem ser evitadas com a devida imunização, pois, se assim o fosse, o
Estado não adotaria políticas públicas por meio de Campanhas de Vacinação,
oriundas do planejamento do Ministério da Saúde e as respectivas secretarias
regionais, as quais possuem recursos humanos competentes e qualificados acerca
do assunto.
Nesta senda:
Ora, Excelência, numa simplória e óbvia analogia, se fosse descoberta uma vacina
para imunização contra o Covid-19, para o bem de toda a população, poderiam os
réus negarem-se à receberem as vacinas e, dessarte, expor a risco todos
indivíduos, incluindo as menores com quem habitam?
Não há que se falar em direito privado dos réus, pois a vacina versa sobre direito
coletivo, não cabendo a estes, em sua autonomia privada, EXPOR A RISCO DE
CONTÁGIO, TODA A POPULAÇÃO.
(iv) Riscos adversos provenientes das vacinas e laudos médicos que atestam a
saúde das menores.
A defesa alega à fl._ que este Órgão Estadual do Ministério Público omitiu a
diferenciação dos conceitos de Direitos e Garantias fundamentais “com vistas a
dar impulso a sua tese, levando aos olhos desatentos a um entendimento
jurídico falho”. Ora, é dizer que Vossa Excelência seria induzido a erro, por
apreciar a presente demanda com descuido e desatenção, o que, por desconhecer
de conceitos jurídicos com os quais trabalha e estudou por toda a vida, o levaria a
julgar equivocadamente a presente ação.
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Desse modo, insta transcrever o que dispõe os seguintes artigos da Lei n.º 6.259,
de 30 de outubro de 1975:
Inclusive, tal conduta dos réus, é completamente rechaçada pela Lei Fundamental,
no seu art. 5º, inciso VIII. Senão, vejamos:
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
[...]
13 BRASIL. Lei nº 6.259, de 30 de outubro de 1975. Dispõe sobre a organização das ações de
Vigilância Epidemiológica, sobre o Programa Nacional de Imunizações, estabelece normas relativas à
notificação compulsória de doenças, e dá outras providências. Disponível em:<
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L6259.htm.>. Acesso em: 07 abr. 2020.
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Promotoria de Justiça da Infância e Juventude
Av. Vitória, 2220 - Monte Belo, Vitória – ES, Cep: 29.053-360
Cíntia Fernandes
Promotora de Justiça
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA
CONCLUSÃO
Nesta data faço conclusos estes autos ao Exmº. Juiz de Direito Henrique dos
Santos Teixeira.
Vitória/ES, 13/04/2020.
DECISÃO
Feitas tais considerações, não se verificando as hipóteses dos art. 354 e 355
do CPC, passo a sanear o feito na forma do art. 357 do CPC.
De igual forma, intime-se as testemunhas da parte ré, conforme o art. 455, §4º,
III do CPC:
INTIMAÇÃO
OF. Nº 358/2020
PROCESSO DE ORIGEM Nº 0002648-25.2020.8.08.0024
Respeitosamente.
Aos
Exímios Senhores Coordenadores do Hospital da Policia Militar, da
Assistência Social e do Conselho Tutelar.
ESTADO DO ESPÍRITO SANTO
PODER JUDICIÁRIO
1ª VARA DA INFÂNCIA E JUVENTUDE DE VITÓRIA
MANDADO DE INTIMAÇÃO
ATA DA AUDIÊNCIA
A audiência foi suspensa por 5 minutos, tendo em vista o escasso tempo no aplicativo
“ZOOM”. Assim que ocorreu o retorno da audiência, o Juiz deu a palavra ao réu, sr. Jeremias,
para que continuasse sua resposta, aonde disse que existem varias formas de tratamento, não
existe apenas a vacina, e de forma alguma deixaria meus filhos em risco. Então o Juiz
pergunta a promotora se tem mais alguma pergunta, e ela pergunta sobre a aceitação dos réus
em colocar os filhos em risco ao irem para a escola, a ré responde será que é justo, criar seus
filhos com a convicção do que é certo e eu não poder passar isso para meus filhos? Os
médicos já disseram que eles não tem nenhuma doença. Eu e meu marido fazemos o que é
melhor. Promotora alega não ter mais perguntas aos réus, o Juiz encerra os depoimentos
pessoais e inicia a oitiva das testemunhas.
Primeira testemunha, senhora Cristiana Mendes Pimenta, alega que recebeu uma notificação
da escola e assim que tivemos conhecimento. Minha colega de trabalho tentou varias vezes
contato com os réus, para que eles pudessem informar sobre a vacina ou sobre o interesse em
vacinar as crianças.
Promotora satisfeita.
Juiz pergunta se o advogado dos réus tem alguma pergunta.
Advogado do réu pergunta a conselheira tutelar tinha conhecimento que a matricula foi feita,
porém a escola negou o direito a matricula.
Testemunha responde: no caso o que oi feito, foi a pré-matrícula das crianças. Pois é pedido o
cartão de vacina para efetivar a matricula, como prevenção, pois sabemos que o convívio de
varias crianças pode promover doenças. Nos da escola buscamos a prevenção das crianças.
Palavra da Lidia: quando a diretora nos procurou ela já tinha tentado varias vezes para que os
pais levassem o cartão de vacina, e não levando o cartão de vacina , não seria possível efetivar
a matricula. Dessa forma os pais não levaram o cartão, foram omissos. Dessa forma tivemos
que ir ao mp para pedir orientação e advertência aos pais, pois é de suma importância que a
criança tenha o cartão de vacina em dia. Nos do conselho tutelar preservamos a vida das
crianças. Todo esse procedimento de solicitar o cartão de vacina esta em lei, então eles
infringiram a lei e por isso buscamos a justiça, já que os pais tem a mentalidade que
cientificamente não é comprovado.
O advogado da ré pergunta a conselheira se ela possui religião, e qual o peso na vida dela se
ela deixasse de descumprir um dogma religioso?
Resposta da Lídia: minha opinião que acima da religião vem a vida, e antes de colocar em
risco a vida, temos que preservar.
Advogado da ré pergunta: qual a formação dela como conselheira tutelar para afirmar sobre o
método cientifico.
Lívia: tudo que abrange a criança é saúde, segurança, educação e aprendemos tudo isso na
faculdade, temos especializações em diversas áreas.
Após aberta novamente a audiência, Juiz convocar senhora Maria Eduarda Cavalcanti –
testemunha da parte autora. Juiz pergunta : amiga ou inimiga das partes ? Não. Interesse na
causa ? Não. Juiz adverte sobre dever de falar a verdade. Qual o motivo de ter enviado ofício
ao MP?
Testemunha responde: diante da efetivação da pré matrícula para o ano de 2020, foi exigido
uma série de documentos, entre eles o cartão de vacina atualizado. Os pais da criança, no
entanto, não realizaram a entrega deste documento. Alegaram impedimento por convicção
religiosa, negando-se a apresentá-lo.
Pergunta da advogada do réu: qual a postura adotada pela escola após do ocorrido? Baseado
no artigo 4º da supracitada lei, não foi possível efetivar a matrícula das menores. Matrícula
negada pela escola por decorrência da lei.
Oitiva das testemunhas dos réus, Maria Elizabeth Júlia – presente. Juiz pergunta : amiga ou
inimiga das partes ? Interesse na causa ? Juiz adverte sobre dever de falar a verdade. Há
quanto tempo conhece os réus? Cerca de 8 meses
Sabe dizer qual a religião dos réus? Não possui profundidade dos assuntos pessoais do
paciente, uma vez que é médica. Por que os réus não vacinam a filha? Por questão religiosa.
Ela como médica homeopática faz o acompanhamento da criança há 8 meses.
Advogado dos réus pergunta: Como a senhora hoje descreveria a saúde das crianças?
Testemunha responde que as crianças apresentam quadro adequado de saúde, alimentação
saudável, desenvolvimento dentro dos padrões devidos.
Testemunha afirma que sim, a medicina homeopática busca estabelecer o equilíbrio do corpo
de forma mais leve sem agressões provocadas por remédios alopáticos.
Testemunha responde que vacina ativa o sistema imunológico, entretanto o corpo já possui
atividade imunológica natural. Assim, uma criança que se alimenta saudavelmente, faz
atividades físicas, possui um desenvolvimento natural, o corpo reage positivamente. Existem
outras prevenções que não sejam uma vacina.
Oitiva da segunda testemunha: Marluce. Juiz pergunta há quanto tempo conhece os réus?
Mais ou menos 3 anos. Pergunta advogados dos réus? Sim.
Promotora pergunta: diante da pandemia. Todos buscam por uma vacina. Se existir a senhora
acha certo que os pais deixem de prover suas filhas mesmo sabendo que isso irá colocar em
risco saúde da sociedade?
Advogado DR. Pedro requer indeferimento da pergunta da parte autora.
Juiz indefere.
Testemunha Karoline: amiga ou inimiga das partes? Não. Interesse na causa? Não. Juiz
adverte dever de falar somente a verdade. Há quanto tempo conhece os réus? Mais ou menos
8 anos. Há quanto tempo réus frequentam igreja gênesis? Por volta de 7 anos e meio. Por que
não é autorizada vacinação na igreja?
Testemunha esclarece que o corpo é espírito e segundo a bíblia deve ser mantido limpo. Lema
da igreja é saúde e verdade. Produtos naturais oferecidos por deus é o que devemos usar.
Igreja possui ministério da saúde e membros recebem treinamento completo. Dogma supremo
é a crença na saúde. Fundamento principal é a saúde. Indivíduo faz escolha, porém ir contra a
liberdade religiosa dos pais mostra uma intolerância religiosa. Pela religião pregar e por ter
meios alternativos a medicina alopática não é essencial.
Qual orientação que igreja passa aos membros? Profissionais especializados dentro do
ministério tratam membros com meios alternativos, conforme doença. Na qualidade de
pastora ela não sabe explicar os meios, porém os resultados tem sido positivos.
Advogados dos réus, Mariana – gostaria de saber o que acontece com quem descumpre o
dogma?
Testemunha Karoline – liberdade deve prevalecer, porém quem optam por outro tipo de
alternativa, outro meio considerado mundano, terá de se retirar da religião.
Karoline responde pergunta: ministério da saúde com pessoas capacitadas, médicos graduados
e treinados, passam pelo protocolo do sacramento, orientam os membros . Quanto aos efeitos
a testemunha não é apta tecnicamente pra falar, mas quanto aos resultados a eficácia do
tratamento diante dos medicamentos legalizados homeopáticos tem sido alta, então diante de
todo protocolo seguido ela pode garantir bons resultados com tratamento alternativo.
Promotora : a senhora desconhece os meios que sua igreja utiliza pra suprir a vacina?
Testemunha: como pastora só posso te orientar que através de um ministro seja dada essa
explicação.
Promotora requer juntada dos laudos médicos das crianças. Advogado, Dr. Pedro pede que
juiz indefira juntada dos laudos. Juiz pede pela ordem e defere parcialmente pedido da parte
autora quanto a juntada dos autos. Em seguida o advogado Pedro solicita reconsideração da
decisão de deferimento parcial do juiz, alegando que não houve menção dos referidos laudos
na peça contestatória. Juiz mantém o deferimento concedido e em seguida dispensa a última
testemunha a ser ouvida. Ato contínuo, o magistrado concede prazo de cinco minutos a cada
parte para apresentarem as alegações finais orais, iniciando-se pelo autor da demanda,
ministério público. Logo em seguida a promotora inicia sua alegação abordando o fato dos
réus alegarem que vivem em perfeita harmonia com os filhos, bem como, que estes possuem
boa saúde, no entanto, não conseguiu constatar no depoimento da pastora da igreja, quais são
os meios efetivos que corroboram com tais alegações. Suscitou também que é dever do
ministério da saúde elaborar um programa nacional de imunizações, definindo quais as
vacinas têm caráter obrigatório a serem distribuídas e que os pais devem garantir a efetividade
das medidas públicas adotadas pelo ministério, qual seja o ato de vacinar seus filhos.
Outrossim, ratificou o fato de que os filhos dos réus nunca receberam doses das vacinas
recomendadas e que este fato se agrava, uma vez que, as crianças iniciarão uma fase de
convívio escolar e terão contato direto com outras, sendo expostas a risco e fatores que não
tiveram antes, pois não frequentavam ainda a escola. Adiante, suscitou que existe conflito de
direitos na demanda em questão, qual seja a liberdade de crença pelos réus e se opondo a este
o direito a vida, e que a constituição federal estabelece que é dever da família e do estado
assegura a criança e o adolescente , com prioridade, o direito a vida e a saúde, dentre outros e
que constitucionalmente também é dever do estado, definir políticas públicas e sociais que
visem diminuir o risco de doenças. De igual modo o estatuto da criança e do adolescente
prescreve que também é dever dos pais, garantir a aplicação das políticas públicas oferecidas
pelo estado e garantir o direito dos filhos. Os réus responsáveis legais devem prover aos filhos
a garantia dos deveres fundamentais, no que forem mais benéfico para os filhos e não para os
réus. O código civil dispõe que se os pais forem omissos, é cabe ao juiz mediante requisição
do ministério publico, adotar medidas que julgar necessária para manter a salvo o direito das
crianças. Que o direito a vida se sobrepõe ao direito privado dos pais criarem os filhos
conforme suas convicções, pois ao deixar de prover a vacinação dos menores, a sociedade
estaria exposta a risco de contágio.
O advogado Pedro iniciou a alegação da defesa, solicitando para que fosse informado com 30
segundos de antecedência o fim do interregno das alegações orais, sendo adotado o mesmo
procedimento dado a parte autora, conforme decisão do juiz. Adiante, questionou que as
alegações da parte autora desestabilizam o senso social, indo de encontro aos objetivos
fundamentais da república federativa do brasil, de promover uma sociedade livre, justa e
solidária, bem como, de promover o bem de todos sem qualquer forma de discriminação, que
o ministério publico tenta com que os réus renunciem suas crenças e dogmas, com o intuito de
proceder com a vacinação, que reitera a preliminar de inconstitucionalidade de violação do
direito de convicção religiosa. Que mesmo que o juiz considere que há conflito de direitos
fundamentais, o direito da dignidade da pessoa humana se sobrepõe estes, pois é de grande
importância para os réus, no seu contexto da comunidade a qual estão inseridos. Que tal
situação, aflige profundamente a convicção pessoal dos réus e que em não houve em nenhum
momento negligência dos pais em relação à saúde dos filhos e que a testemunha especialista
garantiu que as crianças então saudáveis. Que em relação a educação, o estado está obstruindo
tal direito fundamental, não sendo requisito para ingresso escolar cartão de vacinação e sim a
idade.
SENTENÇA
Em Ofício n° 036/2020 acostado aos autos, esse Juízo de 1º Grau foi notificado
da decisão do agravo de instrumento n° 00488293-83.2020.8.08.0024, que
suspendeu os efeitos da tutela provisória de urgência.
É o relatório. Decido.
2. Da inconstitucionalidade, por via incidental, do artigo 1° da Lei Estadual
10.913/18.
Além disso, vale registrar que a Portaria Conjunta N° 004-R, de abril de 2019, da
Secretária de Educação do Estado do Espirito Santo, que estabelece
procedimentos de gestão e controle do cartão de vacinação a ser apresentado
às unidades escolares como documento obrigatório que comporá o prontuário
dos alunos da rede pública estadual de ensino do Espirito Santo, dispõe, em seu
artigo 3°, que a ausência da apresentação do Cartão de Vacinação não poderá
impedir a matrícula/rematrícula do aluno, mas seus pais ou responsável deverão
regularizar a situação, no prazo máximo de 30 (trinta) dias, após o início do ano
letivo, sob pena de comunicação imediata ao Conselho Tutelar para adoção das
ações cabíveis.
3. Mérito
Pois bem.
De igual sorte, assenta o inciso II, do artigo 5º, que "ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei".
E, ainda, conforme estabelecido pelo Código de Ética Médica, ser defeso
"desrespeitar o direito do paciente de decidir livremente sobre a execução de
práticas diagnósticas ou terapêuticas, salvo em caso de iminente perigo de vida".
Nessa senda, a meu ver, o direito à liberdade de crença cede ao dever do Estado
de proteger o direito à vida, ainda que em face do próprio titular.
Isto porque, não há qualquer estudo atual e sério a indicar que a imunização de
crianças quanto a doenças infeciosas conhecidas traduza algum risco além do
tolerável.
1 SATO, APS. Qual a importância na hesitação vacinal na queda das coberturas vacinais
no Brasil? Rev. Saúde Pública. 2018; 52:96.
saúde de cidadãos em geral, inclusive com imposição de multas para pessoas
que não adiram à vacinação obrigatória, não se discutindo, ante o risco concreto
da epidemia, questões atinentes à liberdade individual, frente aos riscos
coletivos.2
Portanto, não há evidencias científicas que justifiquem a conduta dos pais que
optam, por mera convicção pessoal e religiosa pela não vacinação das filhas,
muitas vezes amparados em informações não fidedignas. A confiança da
informação, aqui, deve ser depositada nos órgãos oficiais de gestão de saúde
pública, indicando o regime mandatório de vacinação para as principais doenças
infectocontagiosas que atingem a população brasileira.
2
JULIE D. CANTOR, M. D., J.D. Mandatory Measles Vaccination in New York City Reflections
on a Bold Experiment. The New England Journal of Medicine. Publicado em 05.06.2019, em
NEJM.org.
física da criança em relação a eventuais direitos dos genitores pelo exercício do
poder familiar.
“Art. 10. São infrações sanitárias: (...) VIII reter atestado de vacinação
obrigatória, deixar de executar, dificultar ou opor-se à execução de
medidas sanitárias que visem à prevenção das doenças transmissíveis
e sua disseminação, à preservação e à manutenção da saúde: Pena
advertência, interdição, cancelamento de licença ou autorização, e/ou
multa; (...).”
Bem por isto, a doutrina penal classifica a conduta do agente que, de qualquer
forma, dificulta determinação do poder público para impedir a introdução ou
proliferação de determinada doença contagiosa e a vacinação obrigatória se
enquadra perfeitamente no conceito como crime de perigo abstrato, tendo por
fim a tutela da incolumidade pública.
Desta feita, a opção dos pais em não proceder à vacinação obrigatória dos filhos
menores gera, a um só tempo, descumprimento das normas sanitárias internas
do Brasil, risco concreto à saúde e bem-estar da criança e risco de contaminação
coletiva por conta da diminuição da população imunizada.
No caso, quem sofrerá eventual escolha dos pais pela não vacinação será
a criança que, por conta da pouca idade, nada pode escolher.
4. Dispositivo
INTIMAÇÃO
CERTIDÃO