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Eu, Leitora: "Descobri um câncer de

mama agressivo enquanto amamentava"


Enquanto amamentava sua filha, a capixaba Gabriela Piovezan, de 26 anos, percebeu
que a filha evitava um dos peitos, e descobriu que estava prestes a viver um pesadelo já
antes vivido por sua mãe: um câncer de mama raro e agressivo

Luíza com a mãe já careca (Foto: Mayara Brito)

“Tive uma infância tranquila. Brincava de pique, de bola, subia em árvores. Nunca
gostei muito de bonecas, mas adorava brincar de casinha com meus irmãos mais velhos:
Marcos e André, que hoje 43 e 32 anos, respectivamente. Acho que um dos motivos de
eu sempre ser bem moleca é que moro em uma chácara um pouco retirada do centro da
cidade de Castelo, no interior do Espírito Santo. Mas, como nem tudo na vida são flores,
carrego algumas mágoas da minha infância como, por exemplo, o alcoolismo e a
agressividade excessiva do meu pai por conta da bebida.
Desde muito pequena fui acostumada a trabalhar. Ajudava no que tinha que ser feito na
minha casa e adorava participar de tudo. Sempre fui muito ativa, não consigo ficar
parada! Entrei na escola por causa de uma vizinha, Tia Luzia, que era professora e me
levava pra escola apenas como ouvinte. Ao ver o meu interesse, minha mãe me
matriculou, eu tinha uns quatro anos.

Aos sete, comecei no primeiro ano do ensino fundamental, nunca tive problemas, amava
estudar. Nessa mesma época, descobri que tinha hipotireoidismo herdado da minha avó
materna. O diagnóstico foi descoberto em exames de rotina. Tomo remédio desde essa
época e a orientação do médico é que não posso abandoná-lo jamais e sim ir apenas
ajustando as doses com passar do tempo. Faço exames todo ano para acompanhar. Fora
isso, nunca senti absolutamente nada.

Junto com a adolescência, vieram as primeiras festinhas, as primeiras idas à praça para
tomar sorvete depois da missa. Aqui no interior ainda é assim. E, junto de tudo isso,
veio também o meu primeiro namorado! Comecei a namorar sem o meu pai saber,
apenas com o apoio da minha mãe e assim seguiu por nove meses, até que o rapaz quis
conversar com meu pai. Foi complicado, mas ele aceitou! Estávamos em 2009.

Logo depois que terminei o ensino médio, em 2010, comecei a trabalhar na empresa
onde meu irmão já trabalhava. Era em uma mineradora de extração de pedras e minha
área era na pesagem dos caminhões. Trabalho pesado, mas eu dava conta. Ao mesmo
tempo, comecei a fazer um curso técnico em meio ambiente, que teve duração de dois
anos. No fim, acabei saindo da empresa onde eu trabalhava e terminei meu namoro, pois
não via futuro nenhum entre nós. Logo em seguida, comecei a trabalhar em um viveiro
de mudas como secretaria. Em 2012, eu conheci o Felipe, ele era professor de lutas em
uma academia aqui da cidade e logo começamos a namorar.

No final deste mesmo ano, em novembro de 2012, nós tivemos o diagnóstico de câncer
de mama da minha mãe. Foi aí que o meu mundo desabou! Eu não conseguia entender
como uma pessoa tão boa, que sempre sofreu tanto na vida poderia estar passando por
essa doença. Lembro como se fosse hoje que eu estava com um colega de trabalho na
nossa sala do escritório onde eu trabalhava, quando meu telefone tocou e era a minha tia
dizendo que, infelizmente, a notícia que tinha para me dar não era boa. Naquela hora eu
não quis nem ouvir mais nada, apenas desliguei e caí no choro.

Fui pra casa arrasada, sem saber como agir, sem saber o que falar para consolar minha
mãe. Mas, eu mal sabia que tinha uma guerreira muito mais forte do que eu imaginava
preparada pra enfrentar essa luta! Ao chegar em casa, minha mãe me esperava com o
sorriso mais lindo no rosto e me disse: ‘Não fique triste, minha filha, pois eu estou
preparada, só quero seu apoio’. Foi difícil segurar as lágrimas, ainda mais eu que
sempre fui muito emotiva e chorona.

Logo após o diagnóstico, ela iniciou o tratamento. Já estávamos no início de 2013.


Primeiro fez a cirurgia, onde retirou apenas um quadrante da mama e esvaziou as axilas.
Depois, vieram as sessões de quimio e radioterapia. Ao todo foram um ano e meio de
tratamento. Para nosso alívio e alegria, após um ano, tivemos a notícia tão esperada:
minha mãe estava curada. A partir daí, ela deveria apenas tomar um remédio em casa
por cinco anos e fazer acompanhamento médico. Que alívio!
Mas o danado do câncer é uma doença silenciosa e traiçoeira e, em setembro de 2014,
alguns exames da minha mãe vieram pouco alterados e a mama dela estava bastante
inchada e vermelha. Pronto, o maldito havia voltado. Teríamos novamente que travar
uma nova batalha!

Nesse meio tempo, em novembro de 2015, eu já estava com 23 anos e me casei com o
meu segundo namorado, Felipe. Tive um casamento na igreja simples, singelo e lindo!
Tudo dentro das nossas possibilidades. Minha mãe estava presente, mesmo já
carequinha e fraquinha por conta do tratamento. Mas feliz e radiante ao ver a minha
felicidade!

Em 2016, fiquei grávida. Foi um momento mágico na minha vida! Em meio a tantos
momentos ruins, aquela era a melhor notícia que eu poderia receber. Por alguns
momentos esqueci de tudo e só queria pensar naquele ser que estava em meu ventre. Fiz
uma surpresa para o meu marido e logo depois fui correndo contar para minha mãe, que
parecia que já sabia da novidade! Ela também ficou radiante!

Os dias iam passando e as notícias referentes ao tratamento da minha mãe não eram
nada boas. Os remédios já não faziam mais efeito e ela sentia dores horríveis. Até que,
em outubro de 2016, entre uma internação e outra, veio a notícia que mais temíamos. O
médico me falou que não havia mais o que ser feito, minha mãe já estava com quase
todos os órgãos comprometidos e tomados pela doença. Trouxemos ela pra casa, com
todo amor. Entre uma crise de dor e outra, ela jamais desmontava o sorriso. Daí em
diante, vivemos uma peregrinação entre casa e hospital. E eu, que sempre estive tão
presente em tudo ao lado dela, já não podia mais acompanhá-la, pois a barriga pesava e
eu não podia mais ficar a seu lado no hospital.

Meus irmãos assumiram meu posto e, pela primeira vez, me vi como expectadora disso
tudo. Nossa, eu ficava com o coração na mão toda vez que ela era internada. Entre o
período de outubro de 2016 a março de 2017, eu perdi as contas de quantas vezes ela foi
e voltou do hospital. O mais inacreditável era que ela saia de casa praticamente
desfalecida e de repente voltava com o mesmo sorrisão largo no rosto! Impressionante.
Ela renascia como uma fênix. Acredito que não se deixaria levar antes de conhecer sua
neta Luiza.

Em 14 de abril de 2017, dia mais feliz da minha vida, me tornei mãe! Nascia minha
filha Luiza, meu grande amor, quase um mês antes da data prevista! Ela também queria
conhecer a vovó. Quando tive alta, fui direto para a casa dela. Minha mãe já estava na
cadeira de rodas, toda arrumada me esperando e, com lágrimas nos olhos, me disse:
‘Desculpa, minha filha, por eu não estar presente’! Mesmo tentando ser forte, desabei.
“Independente do que aconteça, você sempre estará presente na minha vida!”, falei. Ela,
mesmo com os movimentos já muito limitados, pegou sua netinha nos braços e
começou e sorrir, me dando mil e um exemplos de como agir dali em diante. Nem sem
dizer o que sentia. Foi como ir do céu ao inferno em menos de um minuto!

Quando Luiza tinha três meses, minha mãe ficou de cama de vez. Só mexia os olhos,
falava muito baixinho e já não tinha quase não se movimentava. Entre momentos de
lucidez e esquecimento, ela jamais esquecia um nome: Luiza. Imagina o meu coração de
filha e agora mãe como ficava?
Os meses de julho e agosto de 2017 foram, sem dúvida, para a nossa despedida. Foram
quase dois anos de luta. Em 27 de agosto daquele ano, perdi minha mãe, minha melhor
amiga, minha fonte de inspiração, meu porto seguro. Queria poder pular esse dia no
calendário, mas, infelizmente, não posso! Foi a pior dor que senti na vida, dias que até
hoje me doem demais só de lembrar. Minha filha tinha apenas quatro meses quando a
avó se foi.
Luiza, minha filha, chegou em um momento muito conturbado da minha vida. Foram
dias de riso solto por estar brincando com ela, mais com um choro preso. Depois de um
tempo de luto pesado, onde eu mal saía de casa, tudo foi indo pro lugar.

Acompanhar o crescimento da minha filha é uma dádiva, ela é um anjo, nunca me deu
trabalho, é super saudável, parceira e sapeca. Mas, quando tudo parecia se encaixar, eis
que aparece mais uma tempestade conturbada na minha vida!

Depois ao falecimento da minha mãe, por orientação médica, intensifiquei os exames de


rotina. Mesmo sem nunca ter sentido nada. Até que, em maio de 2018, eu estava sentada
na sala de casa e senti algo estranho no meu seio. Parecia um pequeno caroço na mama
direita. Mostrei ao meu marido e ele, na mesma hora, me disse para procurar um
médico. E assim eu fiz.

Menos de dois meses antes, eu havia feito o preventivo de rotina e parecia estar tudo
certo. Mesmo assim, mostrei para a peadiatra da Luiza, durante uma consulta, e ela me
pediu para eu fazer um ultrassom. Fiz o exame e a própria médica descartou qualquer
hipótese de ser um nódulo maligno. Eu até respirei aliviada. O diagnóstico foi uma
fibroadenoma, muito normal em mulheres jovens, mas devido ao caso de câncer em
parente de primeiro grau, era para eu repetir o exame a cada dois meses.

Nesse meio tempo, a minha filha que sempre gostou muito de mamar e que trocava
qualquer comida pelo peito, já não estava mais muito a fim de pegar a minha mama
direita, ela só queria saber da esquerda. Achei aquilo curioso. Esse, na verdade, já era o
primeiro sinal, o que me deixou mais em alerta que algo de errado poderia estar
acontecendo com a minha mama. Quando eu a colocava para mamar o seio direito, ela o
rejeitava. Não conseguia nem sugá-lo. Após uns dois meses do exame que eu havia
feito, o nódulo cresceu tanto que deformou a minha mama! Eu logo pensei: ‘Tem algo
muito errado aí’.

Entre idas e vindas ao posto de saúde da minha cidade (eu não tinha plano médico
privado) e sem conseguir marcar um ginecologista para me consultar, decidi por pagar
uma consulta particular com a médica que fez todo pré-natal da Luiza. Chegando lá,
após avaliar o exame e ver a minha mama, mais um diagnóstico errado: ela disse que
era uma mastite e que, provavelmente, estaria por cima desse fibroadenoma que eu já
sabia que tinha, por isso eu estaria achando que o nódulo cresceu. E me receitou tratar
com antibiótico! Na hora, eu a questionei o porquê de eu não sentir dor, até porque
todas as pessoas que conheço e que tiveram mastite diziam sentir uma dor tremenda. Ela
desconversou.

Tomei o remédio durante sete dias. Nesse meio tempo, o posto de saúde me ligou
dizendo que a minha consulta com o ginecologista (tinha um ano e dois meses que o
papel estava lá para a consulta ser marcada, sendo que eu tinha que voltar três meses
após o meu parto) estava agendada. No dia marcado, minha mama estava ainda mais
inchada e toda roxa. Desesperada, a médica disse que eu precisava fazer uma ultrassom
urgente e que, dependendo do resultado, já me encaminharia para um mastologista.
Respirei fundo, passei na única clínica particular da minha cidade que faz esse tipo de
exame e não tinha vaga de imediato. Meu marido foi à clínica e explicou a gravidade do
caso e, só então, a moça ficou de tentar me encaixar antes.

No dia seguinte eu tinha uma consulta com um endocrinologista e ele ficou bastante
assustado. Minhas taxas, todas desreguladas, estavam muito altas. Ele me questionou se
eu estava tomando o remédio corretamente e eu disse que sim. Então disse que algo
estava errado. Nesse mesmo dia, conseguimos o encaixe para fazer o exame da mama.
Assim que eu fiz o exame, a médica me perguntou para onde eu iria levá-lo. Eu, na
maior inocência, respondi que levaria para a ginecologista. Ela logo me disse que não,
que eu teria que ir direto para o consultório do Dr. Anderson,  que era mastologista. Daí,
percebi que não era coisa boa.

Sai dali direto para o consultório do médico e, ao chegar lá, a secretária disse que ele
estava em cirurgia e só poderia me encaixar para o próximo dia. Voltei pra casa sem
diagnóstico algum confirmado, mas com a pulga atrás da orelha. Então, corri para o ‘Dr.
Google’ e digitei exatamente o que estava na conclusão do meu exame: ‘Bi-rads 5’, que
nada mais era do que lesão altamente suspeita para câncer de mama com 95% de
chances de ser. Quase caí da cadeira, mas não disse nada a ninguém.

No dia seguinte, logo de manhã, fomos eu, meu marido e minha madrinha para o
mastologista. Assim que entramos e ele olhou o meu exame, pediu que eu deitasse na
maca pra ele me examinar. Retornou com uma seringa enorme dizendo que coletaria
material para a biopsia. Fiquei assustada com o tamanho da agulha, sem anestesia sem
nada, mas quem está na chuva tem que se molhar. Quando ele enfiou a agulha no meu
seio, eu não senti absolutamente nada. E, assim, ele fez por mais quatro vezes, sem
sucesso! Para nossa total surpresa, não tinha líquido algum. Perguntei se não poderia ser
uma infecção ou algo do tipo e ele respondeu que acabara de descartar essa hipótese. Se
fosse infecção sairia pus e não havia secreção alguma.

Então, eme encaminhou para o hospital para colher pequenos fragmentos do nódulo
para análise. Mais uma vez, eu o questionei o que havia dado no meu exame e ele disse
que só poderia me dar o diagnóstico final com a biópsia em mãos. E me orientou a fazer
a biópsia pelo particular, pois pelo SUS (Sistema Único de Saúde) demoraria e ele não
aconselhava esperar mais.

Mesmo sem condições financeiras, arrumamos um dinheiro emprestado e seguimos o


conselho do médico. Fomos pra casa tentando acreditar que não era nada. Mas eu já
sentia que teria uma longa batalha pela frente. É incrível, mas em nenhum momento me
senti sozinha. Não me bateu desespero nem medo.

Na segunda feira, voltamos ao hospital, agora só eu e minha madrinha. Colhemos o


material e levamos ao laboratório. Chegando lá, o valor do exame foi ainda mais alto do
que eu podia imaginar. Ainda bem que o pai da minha madrinha estava junto e me
emprestou o restante do dinheiro. Seriam ainda mais dez dias pro resultado sair. Meu
marido estava com a senha e o login do laboratório e entrava todos os dias, de 10 em 10
minutos, para ver se o resultado já havia saído. Quando finalmente saiu, ele me ligou
dizendo que não havia entendido nada do que ali estava escrito.
Mas eu, assim que bati os olhos e vi escrito ‘carcinoma mamário invasivo’ confirmei
minha suspeita: estava com câncer e teria que ser tão forte quanto foi minha mãe.
Naquele momento, a única coisa que me veio à cabeça foi a minha filha Luiza.
Naquele mesmo dia, o mastologista me atendeu e confirmou o diagnóstico e disse que
não poderia ser feita a cirurgia imediata, devido ao tamanho do tumor. Acredita que, em
apenas quatro meses, ele passou de dois centímetros para seis? O médico também me
explicou que não se tratava de um caso tão simples e que me encaminharia para a
médica responsável pela quimioterapia e, só após isso, seria feita a cirurgia.

Nesse mesmo dia, ele me adiantou da possibilidade de uma mastectomia total nas duas
mamas e ainda de uma possível retirada também dos meus ovários. Foi aí que a minha
ficha começou a cair... Como poderia um tumor crescer de modo tão agressivo? Como
assim retirar também os meus ovários? Poxa, eu ainda tinha planos de ter mais filhos.
De tudo naquela hora passava na minha cabeça. Eu pensava como eu cuidaria da minha
filha que ainda era um bebê. Ela já estava com um ano e seis meses, mas dependia
totalmente de mim e ainda mamava no peito. Foram inúmeros questionamentos que
pintaram na minha cabeça ao mesmo tempo. Por dentro eu estava destroçada com a
notícia, mas por fora tentei disfarçar o nervosismo e me manter firme. É claro que
algumas lágrimas caíram, não sou de ferro!

Meu marido e minha madrinha não sabiam o que dizer. Na verdade, nem eu sabia o que
pensar, apenas que precisa encarar. No dia seguinte, fui à consulta com a médica
responsável pelo tratamento quimioterápico, a Dra. Sabina Aleixo, mais um anjo que
apareceu em meu caminho. Cheguei até ela, mostrei o resultado da biopsia e ela disse
que já estava ciente do meu caso.

Naquele dia, 24 de outubro de 2018, começava oficialmente a minha luta contra o


câncer. Em um primeiro momento, a médica nos explicou o que iríamos tratar, que era
um câncer de mama invasivo com características medulares, grau 3, triplo-negativo.
Nossa! Eu nunca tinha ouvido falar nesse tipo de câncer, então pedi mais explicações.
Resumindo, era um tipo de câncer de origem ainda não conhecido e que pode crescer
mais rápido que os demais. Ele é chamado triplo-negativo, pois não apresenta nenhum
dos três biomarcadores mais conhecidos nos cânceres de mama. No caso, biomarcador é
um tipo de indicador que mostra a presença de doença e que pode ser medido para saber
qual tipo de paciente responde melhor ao tratamento dado.

Depois de muito explicar, a médica pediu para eu retornar ao hospital para fazer novos
exames. Eu, então, olhei para o meu marido e lhe disse que eu nunca havia dormido um
dia se quer longe da minha filha. Ele me disse que, naquele momento, era para eu me
preocupar apenas comigo. A Luiza estava muito bem com a madrinha dela. O motivo da
minha internação era que eu precisaria fazer exames mais complexos para ver se o
câncer não havia tido metástase. Mais um choque pra mim! Pois a possibilidade da
doença ter se espalhado era bastante grande, devido a agressividade do tumor. 

Foi apenas uma noite de internação. O tumor não havia se espalhado para nenhum órgão
do tórax, faltava apenas fazer os exames dos ossos para ver como estavam. Voltei pra
casa e fui direto buscar minha filha. Ela logo veio em minha direção gritando ‘mamãe’.
Caí no choro e nos abraçamos. Meu desejo era congelar aquele momento e que o tempo
nunca mais pudesse passar.
Naquele mesmo dia, dei as notícias aos meus familiares e expliquei exatamente tudo,
sem rodeios. Eu só pensava na minha mãe. Sei que eu tinha um anjo me guiando e
cuidando de mim e de todo o meu tratamento. No dia seguinte, retornei ao hospital para
realizar a cintilografia óssea e tive mais um resultado favorável! Meus ossos também
estavam livres da doença. Amém! Então, daquele dia em diante, eu estava lutando
contra um câncer de mama em estágio já avançado. Como meu tipo de câncer era
considerado raro, minha médica fez mais um exame, que foi pra fora do Brasil, para
confirmar o diagnóstico. E aí, eu tive que esperar mais dez dias até começar, de fato, o
tratamento.

Acho que este foi o pior período de espera, tanto para mim, quanto para os meus
familiares, afinal, era um câncer com possibilidades enormes de se espalhar pelo meu
corpo em muito pouco tempo. A orientação era começar a quimioterapia o quanto antes.
Mas, por outro lado, aquele exame era necessário.

Os dias foram passando arrastados e o tumor, assim como meu medo, só aumentavam.
Eis que o tal exame que fora para o exterior ficou pronto. Assim que cheguei ao
consultório médico, as notícias eram boas, já que o meu tumor reagiria em 15% com um
tipo especifico de hormônio. Sei que era uma estimativa bem pouca, mais era melhor do
que nada! E eu me agarrei a esses 15%. Ufa! Ao menos, tínhamos uma luz no fim do
túnel.

Começamos o tratamento convencional. Me senti radiante. Sei que tem muitas pessoas
que não tem acesso a bons médicos, nem podem fazer o tratamento. Nesse mesmo dia,
fiz a primeira sessão de quimioterapia. O protocolo seria quatro sessões de
quimioterapia do tipo ‘vermelha’ e 12 sessões de quimioterapia ‘branca’.

Saí da primeira aplicação, me sentindo confiante e preparada para o que estava por vir.
No outro dia, fiz um corte de cabelo mais curto para não me espantar com a queda
repentina dos fios e, principalmente, para não espantar a Luiza, que já estava
acostumada a ver a mãe de cabelo bem comprido. Exatamente 12 dias depois o início da
quimio, meu cabelo caiu todinho. Minha preocupação era apenas em como seria a
reação da minha filha ao me ver totalmente careca.

Foi aí que eu e meu marido decidimos fazer com que ela participasse do processo de
despedida dos meus fios e, para minha surpresa, ela soltou sorrisos do início ao fim e
ainda me chamou de carecona! Pronto, eu estava, mais uma vez, pisando em nuvens. Se
minha filha está feliz e de boa, eu também estou. Sei que muitas mulheres temem perder
os cabelos, mas a minha relação com a careca foi a melhor possível, nem eu acreditei.
Antes, eu era muito vaidosa, mantendo sempre meus fios longos. E, ao me ver sem os
fios, confesso que me senti linda desse novo jeito. Eu até curti!

Em relação aos outros efeitos já esperados da quimio... Ah, eles são inevitáveis. Eu tive
enjoo, fraqueza, tontura, mas nada que eu não tirasse de letra. Depois que perdi minha
mãe, nada mais me abalaria tão facilmente, nem mesmo estar doente. Fiquei mais forte
e me sentindo preparada para enfrentar tudo que pudesse aparecer! 

A cada consulta, esperava sempre por boas notícias. Até que, quando fui fazer a minha
última quimioterapia, algo não saiu como o planejado. Ali tive mais um banho de água
fria! Eu teria que começar tudo de novo, não podia acreditar. Mais uma vez, voltei ao
diagnostico inicial e não tinha pra onde fugir: meu tipo de câncer era mesmo o ‘triplo-
negativo’. Bola pra frente e vida que segue...

Em janeiro deste ano, recomecei a primeira sessão de quimioterapia de um novo


protocolo, agora direcionado a esse tipo de câncer específico que tenho. Essa medicação
é mais forte que a anterior e, talvez, eu tivesse que fazê-la internada no hospital.

Não tive reação adversa nenhuma ao tratamento, nenhum um enjoo, absolutamente


nada! Tenho vida normal! Mesmo ainda tendo que conviver com a doença, sei que
posso encara de boa e levar uma vida normal. Curtir minha filha e ser feliz! Mas, o
melhor é que, aproximadamente, dez dias após essa aplicação desse novo medicamente,
os resultados já eram visíveis, ou seja, o tumor já estava diminuindo. Nesse novo
tratamento estão previstas de quatro a seis aplicações com intervalos de 21 em 21 dias.
Após isso, com a diminuição do tumor, enfim eu estarei liberada para fazer a cirurgia.
Este dia está chegando e sei que vai correr tudo bem. Tenho fé!

Os detalhes sobre essa cirurgia ainda não sei, pois dependo de mais um exame que será
feito em breve para saber se eu preciso realmente retirar os ovários. Trata-se de um
mapeamento genético, o mesmo exame que a atriz Angelina Jolie fez.
Passar por tudo isso não é nada fácil, mas vou vivendo um dia de cada vez, como se
fosse o último, afinal não sabemos até quando estaremos nesse mundo! E, para falar a
verdade, nem eu mesma sabia o ‘gigante que dormia’ dentro de mim para enfrentar toda
essa barra que é ser diagnosticada com câncer!”

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