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CO M O A G IR
Por
Ferdinand Verardy Miranda Filho
01 - INTRODUÇÃO
02 - SINISTRO
05 - SUPERVISOR TÉCNICO
08 - DIÁRIO DE NAVEGAÇÃO
09 - DOCAGEM
10 - REPAROS PROVISÓRIOS
11 - HORAS EXTRAS
12 - CONTA DE CUSTEIO
14 - DOCUMENTOS DE DESPESAS
15 - FRETE AÉREO
18 - CONCLUSÃO
Este trabalho tem como principal objetivo demonstrar em síntese o nosso conhecimento
sobre sinistro marítimo, levando em consideração a experiência adquirida nesses 29 anos
como Regulador de Avarias Marítimas e os ensinamentos que nos foram transmitidos ao
longo desses anos, por todos aqueles que trabalham na área da Armação, dos
Vistoriadores, das Seguradoras, dos Corretores, dos Clubes de P&I, utilizando também
livros de nossa biblioteca particular referentes ao tema abordado.
02 - SINISTRO
A indenização será devida pela Seguradora quando a soma total dos prejuízos sofridos
em cada ocorrência ou série de ocorrências, resultantes de um mesmo sinistro ou
acidente, exceder o valor da franquia dedutível indicada na apólice, caso em que tal valor
será deduzido da indenização. Exceção é quando, pela ocorrência de mau tempo entre
dois portos consecutivos, vários acidentes podem ocorrer devido a este mau tempo e das
condições de mar e a apólice casco considera como um só acidente, conseqüente de uma
só causa. Em resumo, somente deverá haver a comunicação de um sinistro à Seguradora
se as despesas para recolocar a embarcação nas mesmas condições que estava antes do
acidente ficarem acima do valor da franquia. Mas há que se levar em conta que quando o
reparo for iniciado outros danos podem se encontrados, oriundos da mesma causa.
O Perito, em seu Laudo de Vistoria, aponta a natureza e a causa que deu origem ao
acidente, os danos conseqüentes e recomenda os reparos. Também acompanha os
reparos, aprova as contas relacionadas diretamente aos mesmos, participa das operações de
desencalhe, da aceitação da empresa de salvamento e da escolha do reparador, quando há
concorrência de reparadores.
É crucial para uma indenização futura a caracterização da causa da avaria, inclusive para o
recebimento da contribuição da carga estipulada no Rateio da Avaria Grossa.
Se o Perito das Seguradoras indica que um eixo se danificou por causa de um mancal que se
quebrou pelo desgaste por uso normal, não haverá indenização: nem do mancal, nem do
eixo, nem dos reparos, nem das despesas de Avaria Grossa, se houver. Entretanto, se indicar
que a quebra do mancal foi por falha do material, “vicio oculto”, haverá ressarcimento
securitário sem se levar em conta o custo da peça e a mão-de-obra para retirá-la e recolocá-
la.
O Perito das Seguradoras quando a bordo deverá ser sempre acompanhado do Comandante
e do Supervisor Técnico, não se devendo chegar à conclusão da causa da avaria. Na maioria
das vezes o Perito das Seguradoras, no Laudo Inicial, pede ao Armador que apresente uma
causa que tenha dado conseqüência aos danos encontrados.
Outro ponto da maior importância é que os membros da tripulação não devem dar opiniões
das possíveis causas, principalmente como desgaste de uma peça pelo uso normal, corrosão,
falha de fabricação, etc., etc.
c) Fazer a Regulação com todos os tipos de reclamações dos danos cobertos pela
apólice de seguro casco, tais como: de Avaria Particular, de Avaria Grossa, de
Assistência e Salvamento, de Responsabilidade Civil por Abalroamento, de
Medidas Conservatórias e Preventivas, e também de Perda de Renda (“Loss of
Hire”), etc.
f) Arbitramento.
05 - SUPERVISOR TÉCNICO
Deve sempre ter cuidado em colecionar os comprovantes das despesas de sua viagem, como
passagens para se locomover para o local onde se encontra a embarcação e sua volta à sede;
custo de hospedagem; alimentação; aluguel de carro (com explicação da necessidade do
mesmo); recibo de táxi; indicação dos telefonemas dados a serviço e os particulares.
E quando o proprietário deixa de ter a posse do navio? Por exemplo: quando o navio está
em um porto estrangeiro que declara guerra ao país da bandeira do navio. Este navio é
tomado como presa de guerra e o proprietário perde a posse do mesmo.
Se em seis meses, após efetiva busca do navio que não se comunica com a sede ou com
qualquer autoridade, o Segurado considera o mesmo desaparecido, terá direito a reclamar
a indenização pela Importância Segurada.
Esta ocorre quando a Perda Total Real é inevitável. Exemplo: um navio encalhado de tal
maneira preso entre pedras, com o mar e vento fortes, o que torna impossível o seu
salvamento.
Considera - se também uma Perda Total Construtiva quando o navio, para ser
recuperado, tem um custo superior a 75% do Valor Ajustado, que é o valor acordado
entre o Armador e o Segurador de quanto vale o navio por ocasião do contrato de seguro.
O Valor Segurado - ou Importância Segurada - pode não ser igual ao Valor Ajustado. Em
uma determinada época a FRONAPE ao contratar o seguro dos navios com a Seguradora,
bancava 50% dos riscos, isto é, o Valor Ajustado era de US$ 5,000,000.00 e o Valor
Segurado era de US$ 2,500,000.00.
Para se saber qual o custo gasto para colocar o navio na mesma situação operacional que
tinha antes do acidente somamos, basicamente, os seguintes valores estimados ou já
sabidos:
b) O custo de levar o navio para um local com condições para repará-lo; mais
Custo dos reparos, da locomoção do navio para porto de reparos e participação do casco
no pagamento do prêmio pelo salvamento: US$ 1.925.972,70.
- Valor indicado como de estado são do navio quando do encalhe..... US$ 2.100.000,00
- Menos custo dos reparos................................................................. 1.200.000,00
- Menos custo do reboque para o Rio de Janeiro para os reparos....... 300.000,00
Valor Contribuinte do navio......................................................... US$ 600.000,00
No que concerne a carga temos, primeiro, o seu valor no destino, que, normalmente pode
ser Custo e Frete (CF), para carga não segurada, ou Custo, Seguro e Frete (CIF) (Cust,
Insurance, Freight).
Valor da carga:
FOB………………………. R$ 9.432.304,51
Seguro………....…………. 628,00
Frete…............................... 80.885,23
CIF...............................….. R$ 9.513.817,74
A perda de 915.775 kg. foi indicada pelo Armador, que é a diferença entre a quantidade
da carga a bordo quando no inicio da viagem e a quantidade de carga entregue no
destino.
Foi decidido que o NORMANDO somente poderia desencalhar se fosse retirada a carga a
bordo. A carga foi então transbordada para outro navio, o NARANJA.
CIF………….............………..... R$ 9.513.817,74
Menos perda……..............…..... 545.438,39
Valor Contribuinte da carga….… R$ 8.968.379,35
Como no LLOYD’S OPEN FORM (FOF) é indicado que a moeda a ser aplicada é em
US$, temos que ter o Valor Contribuinte da carga no equivalente em dólar americano.
70,995449381%
Daí, termos:
08 - DIÁRIO DE NAVEGAÇÃO
É do Diário de Navegação que tiramos as mais importantes informações que são colocadas
no Termo de Ocorrência, na Ata de Deliberação e no Protesto Marítimo.
Nunca deve ser colocada a causa da avaria. Esta é pesquisada pelo Perito das Seguradoras
e/ou pelo Departamento Técnico do Armador.
Em hipótese alguma a tripulação tem que falar sobre a causa, sobre desgaste, corrosão ou
dano pelo uso.
- nome da firma e do Perito Vistoriador da Carga que agiu em nome dos interesses na
aventura marítima comum, acompanhando a descarga, armazenagem e recarga da
carga, retirada de bordo por causa dos reparos;
- hora, milhas navegadas, Longitude e Latitude do reganho da rota, após deixar o porto
de refúgio;
09 - DOCAGEM
Quando uma embarcação doca para reparos, ou realiza reparos conseqüentes de um acidente
com causa coberta pela apólice, junto com a docagem rotineira, ou descobre danos durante
uma docagem rotineira, alguns pontos têm que ser levados em consideração:
- tem que indicar o custo da jóia de entrada e saída do dique em separado dos dias de
docagem;
- tem que ser apresentado, em separado, o custo da colocação dos cabos elétricos de
energia do custo do fornecimento da mesma pelos dias de docagem. Quando houver
reparos durante a docagem e depois flutuando, tem que discriminar os custos com a
energia, quando docado e quando flutuando;
- idem para a colocação das mangueiras contra incêndio e o custo diário dos bombeiros;
- idem, quando uma avaria é descoberta em uma docagem rotineira, avaria esta que
necessitaria docagem para ser reparada;
- quando a embarcação doca para reparos das avarias e o Armador aproveita para
efetuar pequenas obras, há que ser explicitado se tais obras são, ou não, de interesse
para a navegabilidade da mesma;
10 - REPAROS PROVISÓRIOS
Os reparos provisórios somente são admitidos como ressarcíveis pela apólice casco, na
liquidação da Avaria Particular, quando:
No caso de uma Avaria Grossa há que ficar claro se tais reparos foram exclusivamente
efetuados para a segurança comum.
11 - HORAS EXTRAS
Entretanto, o custo extraordinário das horas extras somente é admitido quer na Avaria
Particular, quer na Avaria Grossa, pelo princípio das despesas substituídas, até o montante
da economia, caso não ocorresse hora extra.
O Perito das Seguradoras deve apresentar qual o valor das horas extras, indicando os valores
de horas normais e das horas extras, e qual o número de dias de reparos que foram
economizados em virtude do trabalho ter sido realizado em hora extra.
Em determinados reparos o trabalho pode ser efetuado em horas corridas, além do horário
normal de trabalho, e que não deve ser considerado como hora extra, devido a peculiaridade
do serviço que está sendo executado.
Também poderá haver o caso de uma obra ser contratada na base de “lump sum”, sem
discriminação do horário de trabalho.
Quando da ocorrência desses dois últimos casos, o Perito das Seguradoras tem que indicar
isso no Laudo de Vistoria, de maneira que as horas extras não sejam deduzidas.
12 - CONTA DE CUSTEIO
O ideal é que cada comprovante já fosse apresentado com uma ligeira explicação, em
manuscrito, da razão de ser do mesmo, como por exemplo, no uso de lanchas, compra de
passagem aérea, etc.
Se os reparos foram efetuados em um porto de escala, deverá ser emitida uma Conta de
Custeio com as despesas comuns voltadas para o embarque/desembarque de carga, e uma
outra especificamente voltada para as despesas ligadas aos reparos.
Para a escolha deste porto o Perito da Seguradora juntamente com o Supervisor Técnico
deverão levar em consideração não somente as facilidades que o porto oferece para os
reparos, mas também o custo e a rapidez dos mesmos, a proximidade com o porto de escala
seguinte, etc.
Há que levar em conta que se a escolha do porto de reparos for mais longe que um porto
mais perto, com as mesmas características, por interesse de ser perto do porto de escala, por
exemplo, o seguro somente irá ressarcir as despesas com a locomoção da embarcação até o
porto mais perto de onde estava a embarcação.
Outro ponto importante no que concerne a ida para o porto de recursos é quando a
embarcação tem que ir rebocada. O Supervisor Técnico tem que acompanhar os preparativos
para o reboque, dependendo da situação em que se encontra a embarcação pode sugerir a
contratação de uma firma especializada em reboque, somente permitir o início do reboque
com as devidas permissões, por escrito, dos Peritos das Seguradoras e da Sociedade
Classificadora e da Autoridade Naval.
Somente os documentos de despesas diretamente ligados aos reparos é que devem ser
enviados ao Perito das Seguradoras. Documentos indiretos, tais como: conta da Sociedade
Classificadora, transporte de peças, despesas com importação de peças, custo da viagem do
Supervisor Técnico, etc., devem ser enviados diretamente ao Regulador de Avarias
Marítimas.
Tão importante quanto o documento da despesa é o comprovante que o mesmo foi pago.
Assim, o Departamento de Contabilidade do Armador deve, logo que for paga uma despesa,
enviar ao Departamento de Seguros uma cópia deste comprovante de pagamento.
15 - FRETE AÉREO
O custo do transporte de peças para os reparos por via aérea em vôos regulares é
geralmente aceito pelos Seguradores do casco, mas deve ser apresentada uma explicação
da razoabilidade do uso deste tipo de transporte, uma vez que sempre é bem superior que
o frete marítimo.
Quando um avião é fretado especificamente para o transporte de peças, esta aceitação por
parte das seguradoras é bem mais difícil.
O adiamento dos reparos, na mais das vezes por interesse comercial do Armador, deverá
ter a absoluta aquiescência do Perito das Seguradoras e, principalmente, do Perito da
Sociedade Classificadora, que deverá manter a classe do navio até o dia em que será
efetuado o reparo definitivo.
Os riscos que, quando ocorrem, podem trazer conseqüências graves para a tripulação, o
navio, o local e o meio ambiente são, principalmente, os seguintes:
- Encalhe;
- Abalroamento;
I – Incêndio
Fomos responsáveis pela Regulação de uma avaria por dano causado por um
incêndio na carga, incêndio este que o Comandante tentou debelar por quase dois
dias sem avisar a sede. Quando a situação se tornou quase incontrolável o
Comandante participou ao Armador do que ocorria. As conseqüências ao navio, as
outras cargas e as despesas foram bem maiores.
O Comandante deverá fazer um Relatório dos Fatos, que será de importância não só para
o conhecimento de tudo o que ocorreu como também e, principalmente, servir de estudo
para como deve cada um atuar em casos de outros incêndios. No Relatório o
Comandante deve registrar além das informações que julgar necessárias, principalmente
as seguintes:
II - Encalhe
O encalhe ocorre por dois motivos: independente da ação humana ou por varação.
Qualquer que seja a razão do encalhe, intencional ou não, há uma questão a ser muito
SINISTRO MARÍTIMO – COMO AGIR 16
FERDINAND VERARDY MIRANDA Fº
bem esclarecida e decidida, tendo em vista as circunstâncias existentes em cada
situação: se o navio encalhado, com carga a bordo ou não, está em perigo.
Um correto julgamento do perigo a que está exposto o navio e/ou carga, se for o caso,
tem implicações na existência do instituto da Avaria Grossa e, principalmente, tem
profundas implicações na decisão correta a quem se irá contactar e contratar para salvar
os interesses envolvidos nessa aventura marítima.
Quando o navio encalha em águas protegidas, mar interior, rios, lagos, estuários, etc., há
uma dificuldade maior de se definir o nível de perigo.
1 – Antes do abalroamento.
O registro diário da rotina de um navio é muito importante para que se possa determinar
como e porque ocorreu o abalroamento. Cópia do “bandalho” de pelo menos dez (10) dias antes
do abalroamento deve ser enviada o mais rápido possível para a sede. A escrituração do
“bandalho” deve ser sempre cuidadosa, registrando tudo o que ocorre no e com o navio.
2 – Após o abalroamento
a) O ponto de abalroamento tem que ser determinado, sempre que possível, por mais de uma
fonte de informação, principalmente na carta.
b) Hora do abalroamento.
f) Condições de tempo: direção e força do vento, direção e altura das ondas, visibilidade, etc.
g) Das manobras realizadas por ambos os navios após a primeira visão do outro navio.
i) Comunicações trocadas.
18 - CONCLUSÃO