Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/350157761
CITATIONS READS
0 454
5 authors, including:
SEE PROFILE
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
2020-2022 - FUNCAP Nº 01/2020- Programa de Bolsas de Produtividade em Pesquisa, Estímulo à Interiorização e à Inovação Tecnológica – BPI refere-se ao
fortalecimento da produção e transferência do conhecimento intitulado: O Alimento Tradicional e a Merenda Escolar: A Sustentabilidade através da Educação
Alimentar e do Turismo no Geopark Araripe View project
All content following this page was uploaded by Ariza MARIA Rocha on 18 March 2021.
Carmen Soares
Anny Jackeline Torres Silveira
Bruno Laurioux
ISSN: 2183-6523
Diretora Principal
Main Editor
Carmen Soares
Universidade de Coimbra
Assistente Editorial
Editoral Assistant
Comissão Científica
Editorial Board
Carmen Soares
Anny Jackeline Torres Silveira
Bruno Laurioux
Título Title
Mesa dos Sentidos & Sentidos da Mesa – vol. i
Table of the Senses & Senses of the Table – vol. i
Coords. Eds. Coords. Eds.
Carmen Soares, Anny Jackeline Torres Silveira, Bruno Laurioux
Resumo
Na sua mais ampla aceção, a mesa remete para universos onde interagem produtos, pessoas e ideias. Espaço de
sobrevivência, mas também de deleite, de formação, de culto e de sociabilidade, cada mesa retrata mentalidades,
serve de metáfora de valores, abre lugar à transformação de quem nela participa. A mesa constitui-se, assim,
como espaço de sentidos, quer fisiológicos quer intelectivos. Da experiência sinestésica, proporcionada pelos bens
alimentares e ambientes que os envolvem, nasce a Mesa dos Sentidos. Indissociável da mesa são os numerosos
significados de natureza cultural, política, religiosa, estética, ética, social e económica que lhe reconhecemos.
Esses Sentidos da Mesa são captados e comunicam-se sob variadas formas de discurso (escrito, oral, pictórico ou
material).
A presente obra está organizada em dois volumes, contendo seis partes e um total de 37 capítulos. Os 16 capítulos
que compõem o volume I estruturam-se em torno de três temáticas centrais. A perceção sensorial de alimentos e
ambientes é tratada na Parte I (Sentidos à Mesa). A relação harmónica ou conflituosa entre alimentação e saúde
discute-se na Parte II (Mesas terapêuticas, mesas saudáveis e mesas malsãs). Os condicionalismos de ordem
gustativa, biológica ou económica por detrás da alimentação servem de pilar aos estudos da Parte III (Mesas de
delícias, mesas de sobrevivência e mesas económicas).
Palavras‑chave
História da Alimentação; Património Alimentar; Culturas da Alimentação; Sentidos; Mesa.
Abstract
In the broadest sense of the word, “table” refers to universes where products, people and ideas interact with
each other. A place for sustenance, but also of delight, learning, worship, and sociability, each “table” depicts
mindsets and serves as a metaphor for values enabling the transformation of those who participate in it. The
“table” is, therefore, a space for the senses, both physiological and intellectual. Out of the synesthetic experience
brought by food, as well as by its surrounding environments, comes the Table of the Senses, inseparable of the
multiple cultural, political, religious, aesthetic, social and economic meanings around it. These Senses of the
Table are captured and transmitted through different ways (written, oral, pictorial or material).
The present work is organized in two volumes, each containing three parts and a total of 37 chapters. The
16 chapters that are part of volume I are structured around three main themes. The sensory perception of
food is considered in Part I (Senses at the Table), whereas the relationship between food and health, whether
harmonious or conflictual, is discussed in Part II (Therapeutic table, healthy table, and unhealthy table). Taste,
biology or economical constraints related to food are the basis for Part III (Table of delights, table of sustenance,
economic table).
Keywords
Food History; Food Heritage; Food Cultures; Senses; Table.
Coordenadores
Anny Jackeline Torres Silveira is Associate Professor at the Federal University of Ouro
Preto (Institute of Human and Social Sciences - Department of History) and teaches in
the Graduate Programs in History both at the Federal University of Ouro Preto (UFOP)
and at the Federal University of Minas Gerais (UFMG). Her research and publications
are related to the History of Health Sciences, and History of Diseases. She is Coordi-
nator of the LPH – Teaching, Research and Extension Laboratory of the Department
of History (UFOP), researcher of SCIENTIA – UFMG Science Theory and History
Group (CNPq Directory), ILB-UFOP – Empire and Places in Brazil Group (UFOP),
and the DIAITA Project – Lusophone Food Heritage.
Bruno Laurioux is Full Professor in Medieval and Food History at the University of
Tours, Centre d’Études Supérieures de la Renaissance. From forty years on, he has pub-
lished or edited 20 books and 110 articles on Food History, especially on culinary reci-
pes and gastronomic choices. Among his last books: Écrits et images de la gastronomie
médiévale (2011: Best in the World, Gourmand World Cookbook Award); Pour une histoire
de la Viande (edited in 2017); Le Banquet: Manger, boire et parler ensemble (XIIe-XVIIe
siècles), edited in 2018. He is the chairman of the board of the European Institute of
Food History and Cultures, the main international network on Food Studies, and the
scientific coordinator of the French-Austrian Joint Research Program CoReMA (Corpus
of culinary Recipes of the Middle Ages).
Prefácio 11
Foreword 15
Catering for your Audience: The Comic Mageiros and the Personalized
Dining Experience 67
Paul S. Martin
Na sua mais ampla aceção, a mesa remete para universos onde interagem
produtos, pessoas e ideias. Dela fazem parte os alimentos, cujo estudo contempla
também todas as fases anteriores ao seu consumo: cultivo e colheita de plantas,
criação e caça de animais, produção de bens transformados, distribuição e venda,
cozinha. Ao encadear múltiplas atividades e até artes (agricultura, culinária, die-
tética, comércio, etiqueta, protocolo, estética e artes visuais), a mesa não só con-
grega diversos agentes de produção (em particular os cozinheiros, o pessoal de
serviço e de produção da animação cultural envolvente), mas também os comen-
sais, justamente chamados de “convivas” (pois uns com os outros vivem um tempo
de comunicação único e irrepetível).
Espaço de sobrevivência, mas também de deleite, de formação, de culto e de
sociabilidade, cada mesa retrata mentalidades, serve de metáfora de valores, abre
lugar à transformação de quem nela interage e participa. A mesa constitui-se,
assim, como espaço de sentidos, quer fisiológicos, quer intelectivos. A perceção
sensorial de produtos, espaços e pessoas é transversal a todo o ciclo alimentar
e agentes envolvidos. Cheiros, sons, paladares, formas, cores e texturas são per-
cecionados por preparadores e consumidores de bens e experiências diversas de
ingredientes-alimentos-medicamentos.
Dessa experiência sinestésica proporcionada pelos bens alimentares e
ambientes de produção, venda e consumo que os envolvem, nasce o que nos pro-
pomos chamar de Mesa dos Sentidos. Indissociável da mesa são os numerosos sig-
nificados de natureza cultural, política, religiosa, estética, ética, social e económica
que lhe reconhecemos. Esses Sentidos da Mesa são captados e comunicam-se sob
variadas formas de discurso (escrito, oral, pictórico ou material).
Neste vol. I da Mesa dos Sentidos & Sentidos da Mesa reúnem-se 16 capítulos,
agrupados em três núcleos temáticos. O livro abre com quatro estudos em que se
destaca o protagonismo dos Sentidos à Mesa (Parte I). Começa-se por compro-
var a pertinência científica de remontar a experiência da gastronomia à pré-his-
tória da humanidade, com base em evidências arqueológicas, literárias e de estu-
dos comparativos com comunidades contemporâneas de caçadores-recoletores e
de primatas (cap. 1). Seguem-se duas reflexões sobre realidades da Antiguidade
Clássica grega, uma centrada na análise do vocabulário enológico presente em
textos literários para dar conta da cor, aroma, sabor e textura do vinho (cap. 2),
outra sobre o papel central que os chefs retratados na comédia grega conferem
ao prazer gustativo, argumento legitimador do reconhecimento da sua atividade
como uma forma de saber ou expertise (cap. 3). Sobre a presença literária e pic-
tórica dos sentidos nas mesas da Época Moderna espanhola nos dá conta o cap.
https://doi.org/10.14195/978-989-26-2061-9_0
Carmen Soares; Anny Jackeline Torres Silveira; Bruno Laurioux
12
Prefácio
do livro, deparamos com dois estudos de caso que têm em comum a influência
de políticas públicas na construção de um património alimentar brasileiro e em
práticas alimentares institucionais. Primeiro procede-se à análise de quatro bens
alimentares registados como património imaterial nacional (queijo mineiro, brote
capixaba, acarajé da Bahia e doces pelotenses) e dois como património municipal
(pastel de farinha de milho de Pouso Alegre e queca de Nova Lima), tendo por
base comum a todos eles a conjugação de fatores de ordem gustativa, sobrevivên-
cia e economia (cap. 15). Por fim, estuda-se o impacto do Programa Nacional de
Alimentação Escolar na oferta alimentar das escolas públicas estaduais do Paraná
nas décadas de 1990 e 2000, donde se conclui que o baixo valor nutricional,
associado à presença de cereais refinados com adição de açúcar e gordura dos ali-
mentos industrializados, pode ter gerado prejuízos à saúde dos alunos (cap. 16).
13
Foreword
In the broadest sense of the word, “table” refers to universes where products,
people and ideas interact with each other. Food is part of this and is considered
from all its pre-consumer stages: plant growing and harvesting, husbandry and
hunting, production of processed food, distribution and sale, and cooking. By
engaging multiple activities and arts (agriculture, cooking, dietetics, trade, eti-
quette, aesthetics and visual arts), the “table” brings together several agents of
production (particularly cooks, serving staff and cultural entertainers), and also
the table companions whose interaction happens in a unique and exclusive com-
munication time and space.
A place for sustenance, but also of delight, learning, worship, and sociability,
each “table” depicts mindsets and serves as a metaphor for values enabling the
transformation of those who interact and participate in it. The “table” is, there-
fore, a space for the senses, both physiological and intellectual. The sensory per-
ception of the products, spaces and people span all the food chain and its agents.
Smells, sounds, tastes, colours, and textures are perceived by those who prepare
and consume goods and experiences out of different ingredients-food-medicine.
From the synesthetic experience brought by food, as well as by its surround-
ing environments, comes the Table of the Senses, inseparable of the multiple
cultural, political, religious, aesthetic, social and economic meanings around it.
These Senses of the Table are captured and transmitted through different ways
(written, oral, pictorial, or material).
Vol. I of Table of the Senses & Senses of the Table gathers 16 chapters, orga-
nized around three central themes. It starts presenting four studies on Senses
at the Table (Part I). At the beginning, ch. 1 focuses on verifying the scientific
significance for gastronomy of the pre-history of mankind, based on archaeo-
logical, literary, and comparative studies between today’s hunting and gather-
ing communities and primates. Then, there are two reflections on Greek clas-
sical antiquity realities, one focused on the analysis of wine vocabulary, used
to express wine’s colour, smell, taste and texture, found on literary texts (ch.
2), and the other centred on the main role cooks portrayed in Greek comedy,
recognized in the pleasure of taste, and how it legitimized their profession as a
form of knowledge or expertise (ch. 3). Ch. 4 is about the literary and pictorial
presence of the senses at the table of Spanish Modern Age. Royal and court
banquets displayed tables of delicacies, as they were magnificently portrayed in
Brueghel-Rubens’s “Five Senses”, or in the fictional abundance in Cervantes’s
Don Quixote.
https://doi.org/10.14195/978-989-26-2061-9_0.1
Carmen Soares; Anny Jackeline Torres Silveira; Bruno Laurioux
16
Foreword
(ch. 15). Finally we study the impact of the National School Food Program and
which food was offered Paraná’s public state schools in the 1990s and 2000s,
reaching the conclusion that low nutritional value, along with sugary refined
cereals and fat from processed food, contributed to the students’ health problems
(ch. 16).
17
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos
alimentares do sertanejo cearense na seca de 1877 a 1880
Abstract: Ceará, in the middle of the 19th century, experienced several painful
drought situations and its sequels, especially the one known in the history of Ceará as the
“great drought” of the three consecutive years, from 1877 to 1880, which made thousands of
victims of the calamities of nature and men. This study has the objective to present the food
resources of the people stricken by this calamity in Ceará during the rural exodus and in the
camps they lived in during the period of the drought from 1877 through 1880. Therefore, we
rely on historical and cultural studies of food and make use of bibliographical and documen-
tary research highlighting the importance of the work of Rodolfo Teófilo (1889, 1922, 2011)
and the studies by Wilhelm Michler published in the Revista Agrícola do Império in 1889.
Thus, we present the drought panorama, the region’s food culture, which engages in dialogue
with the history of humanity. In an attempt to overcome hunger, we highlight the use of food
resources seized by human experience and the need to live in miserable situations in rural and
urban environments.
Keywords: Food; Hunger; Drought; Ceará.
https://doi.org/10.14195/978-989-26-2061-9_13
Ariza Maria Rocha
Introdução
Camponesi 1996.
1
Montanari 2003.
2
3
O estado do Ceará, situado na região do Nordeste brasileiro, está inserido na sub-região
do sertão e concentra 55% de toda a caatinga (bioma do Nordeste brasileiro com uma vegetação
típica de clima semiárido, fauna típica e plantas xerófilas) do Brasil. Ao lado dos estados de
Alagoas, Bahia, Piauí, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Minas Gerais e Sergipe, o
Ceará configura o chamado “Polígono das Secas”, que periodicamente é assolado com as secas,
ou seja, as chuvas diminuem ou desaparecem, o que afeta a vida humana, vegetal e animal.
4
Teófilo 1922.
276
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
5
Castro 1984: 176.
6
A “cultura da seca” é o lugar de disputa pela água, terra e sobrevivência em conflitos sociais
e políticos presentes nos vários sertões brasileiros, a exemplo do sertão baiano, na obra de Eucli-
des da Cunha (Os sertões, 1902) e de João Antônio dos Santos Gumes (Pelo sertão, 1914), e do sertão
mineiro, no livro de João Guimarães Rosa (Grande sertão: veredas, 1956).
7
Brazil 1877.
8
Campos 2014.
9
Cardoso 2014.
10
Dantas 2010.
11
Frota 1985.
12
Lira Neto 2001.
13
Castro 1984: 209.
14
Id., ibid.: 192.
277
Ariza Maria Rocha
15
Camponesi 1996.
16
Dantas op. cit.
17
Meneses e Carneiro 1997.
18
Montanari 2003.
19 So
rcinelli 1998.
20
Meneses e Carneiro op. cit: 38.
21
Lira Neto 2001.
278
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
22
Teófilo 1922.
279
Ariza Maria Rocha
23
Teófilo 1922: 14.
24
Id. ibid.: 30.
25
“Em véspera de S. Luzia. Seis pedras de sal, collocadas sobre um plano, representam os
seis mezes de inverno. Pela manhã, a pedra que mais se dissolver ao relento da noite, indica o
mez mais chuvoso” Teófilo op. cit.: 75.
26
Girão 1985: 203.
27
Teófilo op. cit.: 75.
280
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
28
Frota 1985: 149.
29
Teófilo 2011.
30
Montanari 2003: 16.
31
Jornal o Estado de São Paulo 1879.
32
Castro 1984: 184.
33
Camporesi 1996.
34
Castro 1984: 202.
281
Ariza Maria Rocha
35
O tanino é uma substância química encontrada no grupo de fenóis vegetais. Esse
elemento pode ser encontrado em sementes, cascas e caules de frutos verdes. Por conta do sabor
amargo que provoca, é um grande aliado para proteger plantas e frutos dos animais herbívoros.
(Hermenegildo 2016)
36
Criado em 1860, o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura era uma instituição
privada cuja revista atuou até o ano de 1891.
282
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
37
Michler 1889: 44.
38
Teófilo 1889: 60.
39
Id. ibid: id.
40
Castro 1984: 184.
41
Castro 1984: 181.
42
Studart 1910: 41.
283
Ariza Maria Rocha
1877
Governo Particulares
Em dinheiro
1.461:179$40 192:260$372
Em víveres 946:734$000 57:066$000
Total 2.425:913$040 249:326$372
Somatório: Governo + Particulares = 2.712:682$792
43
Jornal do Commercio 1877.
44
Teófilo 1922.
284
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
45
O jornal O Estado de São Paulo (1877) anunciava a distribuição de cotas para os estados
atingidos pela seca. A província do Ceará recebeu 60.000$ e a recomendação do Ministro do
Império sobre o cuidado na escolha dos agentes que iriam distribuir os socorros.
46
Teófilo 1922: 75.
47
Id. ibid.: 103.
48
Echo do Povo 1879.
285
Ariza Maria Rocha
https://www.theatlantic.com/ideas/archive/2020/05/freedom-pandemic-19th-century/611800/https://www.thea
tlantic.com/ideas/archive/2020/05/freedom-pandemic-19th-century/611800/
49
Teófilo op. cit.: 280.
50
Id. ibid.: 93-94.
51
Teófilo 1922: 239.
52
Id. ibid.
286
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
53
CRL, Relatório 1878.
54
Teófilo op. cit.: 250.
55
Teófilo 1922.
56
Id., ibid.: 249.
57
Castro 1984.
287
Ariza Maria Rocha
58
Castro 1984: 250.
288
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
Não foram poucos os casos em que a degradação física e moral se fez pre-
sente no flagelo do corpo e da alma dos retirantes, como, por exemplo, embria-
guez, furtos, saques, prostituição de menores, etc.
Para ocupar os retirantes, passou-se à contratação de homens válidos,
embora fossem mão de obra desqualificada para serviços públicos. Com o pro-
longamento da seca e o aumento do número de viúvas e órfãs, as mulheres e as
crianças passaram a trabalhar também “carregando pedra”, assim ocorria a troca
do trabalho pela ração alimentar, moradia e roupas. Ao longo do período de
estiagem, construíram-se:
Embora algumas obras tenham sido questionadas pelo mau uso do dinheiro
destinado ao socorro público, muitos reconheciam tais medidas como uma forma
de “[...] conservar no retirante o habito do trabalho” e evitar a “[...] inconveniên-
cia da ociosidade”60. Não era apenas o governo liberal que defendia a troca de
trabalho por ração, pois o jornal de Fortaleza O Cearense61, do Partido Liberal,
defendia a mesma ação: “O povo pede trabalho, pois que não está habituado a
viver de esmola: quer que lhe deem serviço para ganhar o pão para seus filhos”.
Os víveres, como pagamento, eram as rações diárias constituídas principalmente
pela farinha, juntamente com o milho e com o feijão. Segundo a estimativa de
Teófilo:
59
Teófilo 1922: 358.
60
Teófilo 1922: 358.
61
O Cearense 1877: 2.
62
Teófilo op. cit.: 328.
289
Ariza Maria Rocha
63
Frota 1985.
64
Id., ibid.: 158.
65
Frota 1985: 160.
66
Teófilo 1922.
290
A “fome” nas obras de Rodolfo Teófilo e os recursos alimentares do sertanejo cearense…
Conclusão
67
Teófilo 1922: 485.
291
Ariza Maria Rocha
292
Bibliografia
Brazil, Thomaz Pompeu de Souza (1877), Memoria sobre o clima e sêcca do Ceará,
Typographia Nacional, Rio de Janeiro.
Camponesi, Piero (1996), A arte de viver na época das Luzes, Universidade Esta-
dual Paulista, São Paulo.
Campos, José Nilson (2014), “Secas e políticas públicas no semiárido: ideias,
pensadores e períodos”, Estudos Avançados 28.82: 65-88.
Cardoso, Antonio Alexandre Isidio (2014), “As secas e as migrações: entre o
Ceará e o Território Amazônico (1845-1877)”, Revista Espacialidades 7.1:
34-46.
Castro, Josué de (1984), Geografia da fome: o dilema brasileiro: pão ou aço, Antares,
Rio de Janeiro.
Center for Research Libraries (CRL), Brazilian Government Documents.
Relatório do Presidente da Província do Ceará (1878). Consultado a 10
de novembro de 2017 em: http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/
cear%C3%A1
Center for Research Libraries (CRL), Brazilian Government Documents.
Relatório do Presidente da Província do Ceará (1879). Consultado a 10
de novembro de 2017 em: http://www-apps.crl.edu/brazil/provincial/
cear%C3%A1
Cunha, Euclides da (2000), Os sertões, Nova Aguillar, Rio de Janeiro.
Dantas, Ênio Wocyli (2010), “Mutações no Nordeste brasileiro: reflexão sobre
a produção de alimentos e a fome na contemporaneidade”, Confins 10.10:
1-20.
Frota, Luciara Silveira de Aragão e (1985), Documentação oral e a temática da seca:
estudos, Centro Gráfico, Brasília.
Girão, Raimundo (1985), Evolução histórica cearense, Banco do Nordeste,
Fortaleza.
Gumes, João Antônio dos Santos (1914), “Pelo sertão”, Jornal A Penna.
Hermenegildo, Bruno (2016), Entenda o que são taninos, onde estão e para que ser-
vem, Consultado a 10 de novembro de 2017 em: http://blog.artdescaves.
com.br/o-que-sao-taninos-onde-estao-para-queservem
Jornal do Commercio (1877), Jornal do Commercio 4, Consultado a 10 de novembro
de 2017 em: http://memoria.bn.br/docreader/docreader.aspx?bib=364568_
06&pasta=ano%20187&pesq=secca%20no%20cear%c3%81
293
Ariza Maria Rocha
294