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I ERODOXIA - As 22 crenças Cc descrenças) proibidas

Cooyright 2008 by Milton Luiz Torres


Publicado originalmente no Brasil em Fortiqués

Revlsão: Juderie Silva de Sousa Nascimento

Capa: Fabricio lunio dr. Oliveira / Ezequiel Gruber

Ebitoração; Patrick, V, Ferreira

Projeto Gráfico e Diagramação: Ezequiel Gruber

Fotografa capa): Erin Calawav-Mackay Giovanni Brienza,


Moral Akhuiuk /Steve Michelan,

Torres, Viihon Luiz,

Heterodoxia- as ?a crenças (e descrenças) proibidas / Luiz Torres


Artur Nogueira Editora Paradigma, 2008.

ISBN:978-55-99421-15-4

1, Crerias 2. Filosofia. 3. Teoria da Rekgião 3. Heterodoxia

CD]) ?to

ld edição rfevi08: 400 exemplares


Rua Dr Adernar de Bai ros, 213
FonelFait (19) 3877 - a+91 - Artui tiogueira-SP
e dito Par E-maii: editai .paraiiiqma@gmailicorn
Impresso no Brasil
?rim teci in Brazii
PÁRAPIGhlie Oirtb Siie: wiveteditoraparactigmairontbr

Nenhuma parte desta publicação poderá ser


reproduzida sem a prévia autorização dos autores,
por escrito, sii-Jei .rzerva de constituir violação
de copyright (Lei 5.938).
Dedicatória

Aos Íon -nandus de i99 e n 007 uo curse de teoli )gla

do Seminário A cl veniista tino-Americano

de Teoi ogia-Bah
"Fraca e defeituosa corno possa parecer, a igreja é o
único objeto sobre que Deus concede em sentido
especial Sua suprema atenção.

É o cenário de Sua graça, na qual Se deleita em revelar


Seu poder de transformar corações."

Ellen G. White
Apresentação

H
eterodoxia significa um posicionamento que não é
defendido pelo establishment. Ou seja, uma teologia
heterodoxa é aquela que não é oficialmente professada
por uma denominação religiosa. Isso não significa, porém, que tal
posicionamento seja intrinsecamente falho ou destituído de valor.
Os historiadores da religião têm percebido que as posições
heterodoxas servem para fazer com que a ortodoxia seja refinada,
polida e aperfeiçoada. Alguns pensam que isso ocorreu, por
exemplo, com os debates teológicos, no contexto adventista, em
relação à relevância da doutrina do santuário, como resultado dos
posicionamentos heterodoxos de Desmond Ford: a compreensão
iki ventista tradicional dessa doutrina teria saído fortalecida do
debate. Às vezes, porém, mudanças profundas ocorrem na orto-
doxia e, em casos mais raros, a heterodoxia pode até mesmo
vonslituir-se numa nova ortodoxia. Por essa razão, um exame
cuidadoso dos posicionamentos heterodoxos é vital para o
( tese i mento na fé e na sistematização teológica.

Hesitei, durante algum tempo, quanto ao titulo que daria às


s.». H etc rod o xí

considerações incluídas neste livro. Pensei, primeiramente, em


denominá-las de Heterodoxia: ternas contemporâneos da teologia
adventista. É óbvio que os temas contemporâneos da teologia
adventista são aqueles que estão em discussão e, por isso, dizem
respeito à heterodoxia. Queria, portanto, evitar o pleonasmo (talvez
vicioso) de incluir heterodoxia e temas contemporâneos na mesma
frase. Além disso, Mark Husbands fez, há pouco tempo, a surpre-
endente indagação (obviamente em um contexto bem diferente) se
é possível falar de ortodoxia em tempos pós-modernos
(HUSBANDS, 1999, p. 62). A teologia pós-moderna é, com efeito,
mareada por três características principais: a rejeição do conceito de
verdade, a rejeição do uso referencial da linguagem e a rejeição da
habilidade pessoal de se acessar a realidade sem a mediação de
esquemas conceituais ou lingüísticos (DAVIS, 2002, p. 111). Ora, se
a própria noção de ortodoxia tem estado sob ataque ultimamente, o
que se dirá do conceito de heterodoxia? Apesar disso, preferi correr
o risco de empregar esse rótulo aos escritos que resenho informa-
tivamente aqui a arriscar que se pudesse imaginar que estivesse
endossando as posições neles estabelecidas. Por outro lado, não
pretendo, com isso, dizer que não haja nada a aprender com as
idéias defendidas nas obras que resenho.
Heterodoxia: as 28 crenças (e descrenças) proibidas é uma
obra destinada a um público específico. Devido à recente
divulgação, no Brasil, de alguns posicionamentos heterodoxos
em face da apologia radical de direita (e, portanto, também
heterodoxa), empreendida por Koranteng-Pipim (1996), tenho
d_Arh: :;enticlín 44111

sido indagado, com freqüência, por alunos de teologia, pastores e


membros esclarecidos, acerca de quem são esses autores criti-
cados, com tanta veemência, por Koranteng-Pipim. Corno teó-
logo adventista, senti-me desafiado a produzir um material
acessível que pudesse ser usado pelas pessoas que não têm a
facilidade de ler a língua inglesa ou adquirir essas obras, a fim de
que estas se inteirassem melhor da situação. Aproveito, portanto,
esta oportunidade para revisar brevemente algumas obras que,
embora publicadas por adventistas ou ex-adventistas, são
consideradas polemicas.0) O objetivo deste empreendimento é
que membros esclarecidos, alunos de teologia e pastores possam
tomar uma decisão informada acerca da viabilidade de se faze-
rem pesquisas mais aprofundadas sobre os temas aqui
apresentados. O escopo cronológico escolhido, isto é, os últimos
vinte anos, deixa fora de consideração alguns importantes pensa-
dores adventistas que, antes disso, discordaram da visão oficial
da Igreja, especialmente Ronald Numbers e os australianos Ford,
I 'a xton e Brinsmead.

Cabem aqui duas explicações. Primeiramente, devo escla-


recer que a natureza das resenhas apresentadas aqui diverge
porque estas foram escritas em épocas diferentes e para finali-
dades diferentes. Por isso, ninguém deve pensar que, porque
critico um autor e nada falo contra o outro, isso signifique que

• 1 )el. iLli incluir autores ex-acl ventistas porque alguns deles escreveram suas
1 1 I rd eng uaná) ainda em plena comunhão com a Igreja ou, erga°, porqUe SeUS
i'a th 1S lograra rn notoriedade na IASD.
14 1
”- HaCrOdOXil

apóie a idéia de um e seja contrátrio à idéia do outro. Talvez


devesse ter tentado padronizar o formato das resenhas, mas, para
um professor universitário, escrever ou organizar um livro
durante um semestre letivo já é, de per se, suficientemente desa-
fiador de modo que não me animei a fazer retrabalhos. Em
segundo lugar, esclareço que a seleção de livros e artigos para
resenha não foi exaustiva. O objetivo foi escolher as publicações
mais representativas de cada tendência. Há, com efeito, muita
repetição na publicação de alguns dos assuntos tratados aqui.
Dessa forma, optei, por exemplo, por resenhar a obra de
Anderson (1999), que questiona a confiança adventista na
inspiração de Ellen White, quando poderia ter perfeitamente
optado pela obra de Kaspersen (1999), publicada simultanea-
mente acerca do mesmo tema. A principal motivação para essa
escolha foi o fato de o trabalho de Anderson ser mais conhecido
no Brasil. Além disso, não me foi possível adquirir todas as obras
que gostaria de resenhar, Thompson (1991), Ra tzlaff (1996) e
Gladson (2000) sendo exemplos conspícuos de obras que não
poderiam ter ficado de fora, mas que, infelizmente, ficaram. Não
pude incluir outras, de natureza apenas ligeiramente heterodoxa,
por urna questão de limitação de tempo e espaço: Nlartin Weber
(1992 e 1994), Marvin M.00re (1995) e A. Leroy Moore (1995).

É preciso ressaltar, ainda, que, como também afirmou Jack


Provonsha (1982, p. 20), meu objetivo, aqui, não é caracterizar
pessoas, mas caricaturar idéias, tornando-as mais compreensíveis
e disponíveis para a reflexão dos leitores deste livro. O formato a
I ntrodução

s posicionamentos heterodoxos tratados nesta obra


pertencem, invariavelmente, a urna das duas correntes
extremas da teologia adventista: o liberalismo de
.squerda e o conservadorismo de direita. A IASD apresenta uma
monsiderável unidade teológica quando se considera que ela está
wesente em tantos países e culturas. No entanto, a própria Revista
A dventista, publicada nos Estados Unidos, já reconhece a
•xistência dessas duas tendências teológicas que convivem, lado a
lilo, com os pronunciamentos oficiais da Igreja, que tendem a ser
'ai nedidos ao se referir a urna ou outra (JONES, 2001).

Os adventistas liberais, que preferem ser chamados de


'ni ventistas progressistas", questionam principalmente as dou-
ri nas mais peculiares da IASD, especialmente crenças distintivas
iomo o juízo investigativo, a idéia de urna igreja remanescente,
na futura lei dominical de alcance global e, finalmente, o uso
II a , consideram abusivo dos escritos de Ellen White. Eles
Hnnhém se opõem ao que consideram "obscurantismo, anti-
i ntelectualisrno e autoritarismo" dos adventistas conservadores
1-leterocioxii

bem corno sua pressão para a criação de um corpo de 27 ou 28


doutrinas fundamentais da IASD (JONES, 2001). Por outro lado,
os conservadores, que preferem ser chamados de "adventistas
históricos", tendem a defender ensinamentos fundamerttalistas e
legalistas como, por exemplo, a inspiração verbal das Escrituras e
a importância da perfeição na vida cristã. Eles também tratam
com certa suspeita a influência de posturas essencialmente
científicas ou que defendam o impacto das diferentes perspec-
tivas culturais na compreensão da Bíblia.
A corrente conservadora é a mais antiga das duas corren-
tes heterodoxas. É mesmo possível que, em certo momento da
história da denominação, ela tenha tido stat -us de ortodoxia. Em
contraposição, a explicação geralmente dada para o surgimento
de uma corrente liberal na teologia adventista se liga ao fato de
que, a partir de 1930-1960, o governo norte-americano tenha
requerido o doutorado corno formação mínima para os professo-
res de suas universidades. Isso teria levado a IASD a enviar seus
professores do ensino superior às universidades seculares onde
eles teriam recebido instrução que, no dizer de alguns, lhes teria
aberto os horizontes acadêmicos e, no dizer de outros, os teria
contaminado com as idéias liberais (FER KEIL, 1998?,
Podemos dizer que os adventistas conservadores ou his-
tóricos publicam, hoje, as revistas Adventists Affirm, Journal of
the Adventist Theological Society, Perspective Digest,
Pilgrim's Rest e Our Firm Foundation, enquanto que os adven-
tistas liberais ou progressistas publicam as revistas Adventist
InU-01 1;,1(-.1)
( 4441

Today e Spectrum. O grau de aceitabilidade dessas revistas pela


com unidade adventista varia.

A distinção entre as diferentes correntes teológicas a dven-


l is tas não é tão fácil de perceber como talvez tenha dado a impres-
sao nas linhas acima. Os diferentes autores adventistas muitas
vezes se ressentem de categorizações que os colocam fora das
tendências hoje predominantes na compreensão adventista
REENWALT, 1995; JONES, 2001). Thompson (2004), por
exemplo, reclama que muitas pessoas hoje identificadas como
I i bera is o são simplesmente por terem sido citadas, entre sessenta
iiinco outros estudiosos, administradores, editores, professores
4. escritores adventistas, nos rodapés de um influente livro
iiiiblicado por Koranteng-Pipim (1996). Por outro lado, Cottrell
(2001) acusou, antes de sua morte, a Robert H. Pierson, Gordon
M. 1 lyde e Gerhard Hasel de terem sido os principais "arqui-
tetos" do que ele chama de "obscurantismo" conservador da
teologia adventista.

A posição d.e McLarty (1998) é de que a IASD necessita do


eq ti ilíbrio benéfico trazido pela tensão entre liberais e conser-
vadores. Segundo ele, os conservadores são mais capazes como
ri instrutores e evangelistas, mas precisam da flexibilidade dos
liberais para solucionar os impasses por eles criados. Além disso,
rir menciona que os liberais são necessários porque só eles são
vazes de ministrar efetivamente às necessidades dos filhos dos
ilin.,erva dores, que tendem a ser duros demais com a própria
Por outro lado, como os liberais são incapazes de
■■■ • Fleteroaox0

compreender as dimensões do zelo religioso e da lealdade deno-


minacional, eles necessitam da existência de conservadores que
possam compreender essa dimensão que é muito comum nos
jovens. Sua conclusão é que liberais e conservadores têm uma boa
razão para tentarem conviver em paz: o bem-estar espiritual dos
jovens da Igreja.
CRENÇA 1
A Presciência Relativa de Deus

RICE, Richard. The openness of God: the relationship of. divine


foreknowledge and human Free will. Nashvine: Review &t dIerald, 1980.
Reimpresso como God's foreknowiedge and man's free will. Minneapolis:
Bethany 1985. 95 p.

E
ste livro heterodoxo, mas lançado por uma publicadora
denominacional, afirma, em sua introdução (p. 7-10) que
seu tema central é a relação de Deus com o mundo e a
liberdade humana. Sendo urna obra de teologia sistemática,
procura atingir um público geral, pois parte do pressuposto de
que todos somos, em certo sentido, teólogos. Sua tese central é a
de que Deus experimenta a realidade de forma aberta (p. 8). Por
isso, seu objetivo e revisar a doutrina de Deus, com dois propo-
silos: torná-la mais consistente e, ao mesmo tempo, mantê-la o
mais próximo possível da tradição cristã (p. 9). Ao fazer isso, o
autor se propõe a evitar dois perigos: o de exagerar nossa
■ opacidade de compreender a Deus (presunção) e o de exagerar
itt >sso incapacidade de compreendê-lo (preguiça espiritual).
O capítulo 1, "The conventional view of God" ("A
loinpreensão convencional de Deus", p. 11-20), trata da relação
Hete-a4oxia

de Deus com o mundo de acordo com a ortodoxia cristã, afir-


mando que, por esta depender de aproximações e tipologias, não
se pode considerar que seja consensual. A visão tradicional
depende de dois pressupostos básicos: o de que Deus é perfeito e o
de que a perfeição é imutável, ambos relacionados com a idéia da
presciência absoluta de Deus. O autor aponta, no entanto, que
esses pressupostos têm dificuldades intrínsecas: se o conheci-
mento de Deus é imutável, então a realidade precisa ser imutável
também, o que causaria o colapso de todas as distinções tempo-
rais. Ou seja, as aparentes distinções entre o passado, o presente e
o futuro teriam referência epistemológica e psicológica, mas não
ontológica, e isso levaria ao colapso do livre arbítrio humano (p.
16). Segundo o autor, a idéia da perfeição estática é incompatível
com a dinâmica do amor de Deus, pois ela o extirpa de sua
capacidade de sentir o momento (p. 19). O autor conclui o capí-
tulo procurando demonstrar que a idéia da perfeição estática é
mais compatível com o aristotelianismo (de onde ela teria se
originado) do que com a teologia cristã (p. 20).
O capítulo 2, "The open view of God" ("A compreensão
aberta de Deus", p. 21-29), introduz o conceito da abertura de
Deus, segundo o qual o tempo é real para Deus. Isto é, a
experiência de Deus é o registro infalível da realidade temporal,
mas ela é também. o registro progressivo dessa realidade. Isso
significa que o futuro é indefinido para Deus (p. 22). O autor
adverte, no entanto, que a abertura só se aplica a sua experiência e
não a sua existência, caráter ou amor. Por essa razão, Rice pensa
que a abertura de Deus não compromete a diferença qualitativa
A F2 F-(2sci[jnci.:¡ cje {1).ei_v:; •414

entre o humano e o divino (p. 26). A abertura de Deus pressupõe a


abertura da realidade, o mundo temporal corno um processo de
eventos. O autor critica, em seguida, a teoria da ignorância
seletiva de Deus, segundo a qual, Deus poderia conhecer todos os
detalhes do futuro, se quisesse, mas ele prefere não fazer isso.
Para Rice, essa idéia subordina o poder de Deus à força do destino
e estabelece uma distinção muito tênue entre ignorância seletiva e
esquecimento. O efeito dessa idéia seria inverter o dilema da
compreensão ortodoxa. A compreensão ortodoxa falha por
conceber um Deus estático diante de um universo dinâmico. A
idéia de que Deus prefere esquecer o futuro pressupõe um Deus
dinâmico diante de um universo estático. Para Rice, a solução
desse dilema deve ser conceber um Deus dinâmico diante de um
universo também dinâmico. O autor conclui o capítulo
reconhecendo as semelhanças entre a abertura de Deus e a
teologia do processo, mas aponta para diferenças bem nítidas: a
teoria da abertura de Deus (doravante, TAD), ao contrário da
teologia do processo, nega a idéia de que Deus é ontologicamente
dependente do universo; a TAD afirma a agência de Deus na
história e não, corno propõe a teologia do processo, a sua mera
influência positiva na história.

O capítulo 3, "Creation and the openness of God" ("A


criação e a abertura de Deus", p. 31-38), abre com uma discussão
sobre como a tradição cristã compreendeu o conceito de "imagem
de Deus", partindo da dicotomia medieval de que a "imagem de
1)eus" seriam as qualidades naturais do homem, enquanto que a
" semelhança com Deus" seria uma harmonia sobrenatural com a
■■ ■ • Flet er c Li ci xi a

Divindade. Depois de abordar a quebra dessa dicotomia na


teologia reformada, que preferiu interpretar a "imagem de Deus"
como sendo urna inclinação na direção de Deus, Rice adota a
perspectiva moderna de que a "imagem de Deus" seria a capaci-
dade procriadora do homem, a qual ele chama de "qualidade
auto-criadora" ("self-creative quality", p. 32). Essa capacidade é
considerada como vitalmente importante para que a história seja
conjuntamente determinada por Deus e pelos seres humanos, à
luz de uma realidade dinâmica e aberta e, portanto, complexa. Ao
mesmo tempo, passam a existir elementos de risco que salientam
a sensiblidad.e de Deus ao sofrimento humano: o risco de não ter
seu amor retribuído, de perder o objeto desse amor, de que o
homem pecasse e de que Jesus falhasse (p. 36). Para Rico, urna
grande deficiência da compreensão ortodoxa da presciencia de
Deus se relaciona à disposição de Deus em correr riscos. O fato de
Deus não correr riscos não nega o amor de Deus, mas limita sua
capacidade de experimentar; levanta a dúvida se a criação foi urna
necessidade de Deus; e elimina o conceito intrínseco de decisão d e
Deus (pois Deus sempre teria sabido as decisões que tomaria).

O capítulo 4, " Evil and the_ openness of Cod" ("C) mal e a


abertura de Deus", p. 39-44), afirma que a origem do mal é o maior
obstáculo à fé pessoal:

[Deusi está disposto a impedir o mal, mas não consegue?


então, come é impotente! Ele é capaz., mas não está
disposto? então, como é maldoso! Ele é tanto capaz quanto
disposto? então, como é maligno! (p. 39)

O autor passa, então, a analisar as explicações dadas pela


ReL#ivick Peus 4 '4 14

teologia cristã à origem do mal. Segundo ele, a justificativa dada


por Agostinho (retomada modernamente por Alvin Plantinga) de
que o mal é o resultado do livre arbítrio humano, só faz sentido se
a existência do mal tiver sido apenas uma possibilidade. Além
disso, a proposta de Irineu (retomada modernamente por John
I Iick) de que o mal tem função didática, nada mais é do que o
reconhecimento da incompatibilidade da explicação de
Agostinho com a idéia da presciência de Deus. Deus pode prever
as decisões morais dos homens? Então, por que não criou apenas
os homens que fariam boas decisões morais? As duas respostas
dadas geralmente a essa indagação são, primeiramente, que seria
injusto criar apenas seres moralmente bons e, em segundo lugar,
porque um universo assim não seria livre. Rice objeta a essas
respostas, com três argumentos: (i) elas estabelecem uma confu-
sa() entre "poder" e "ter" que escolher o mal; (ii) o mal se torna
essencial para o universo; e (iii) restaria a indagação "injusto para
(mem?". A criação exclusiva de seres capazes de boas decisões
não pode ser injusta para com Deus ou para com tais homens.
!-;e ria, então, injusta para os seres capazes de tomar más decisões
que não teriam sido criados? Como, então, poderiam pessoas não
existentes ser vítimas de injustiça? A conclusão do autor é que a
presciência absoluta de Deus implicaria em sua culpa pela
existência do mal. Por essa razão, a explicação agostiniana precisa
•r revisada à luz da TAD (p. 42-43). O autor conclui com argu-
mentos relacionados à superioridade da TAD para explicar a
origem do (i) ela pressupõe livre arbítrio genuíno; (ii) ela tem
coerência interna; (iii) ela enfatiza a sensibilidade de Deus ao
O'÷» }- 142;Ci- CdoXia

sofrimento humano (amor); (iv) ela enfatiza a disposição divina


para aceitar riscos (amor); e (v) ela constitui uma perspectiva nova
e mais rica da doutrina de Deus.
O capitulo 5, "The future and the openness of God" ("O
futuro e a abertura de Deus", p. 45-51), apresenta uma resposta às
objeções quanto à relação de Deus com o futuro na TAD. Para
responder à objeção de que a onisciência de Deus seria menos do
que perfeita, Rice argumenta que, na TAD, Deus sabe tudo sobre o
que existe para ser sabido (presente e passado), enquanto não
saber o que não existe para ser sabido (futuro) não consiste em
ignorância, uma vez que não ver o que não existe para ser visto
não consiste em cegueira (p. 46). Onisciência não é, portanto,
saber tudo, mas saber tudo o que existe para ser sabido. Para
responder à objeção de que não conhecer o futuro limita o poder
de Deus para combater o mal, Rice argumenta que Deus conhece a
maior parte do futuro bem como todas as futuras conseqüências
de eventos passados e presentes. Além disso, Deus conhece todas
as ações que vai realizar no futuro e, como Deus conhece
profundamente a natureza humana, pode prever o futuro de
forma quase absoluta. Dessa forma, e futuro é aberto, mas não
inteiramente aberto. Finalmente, Deus é capaz de conceber um
curso de ação para qualquer coisa que ocorra no futuro. Deus
nunca é pego de surpresa. Deus não tem presciência absoluta, mas
tem previsão perfeita. Os efeitos dessa previsão perfeita são
basicamente os mesmos de uma presciência absoluta, mas suas
naturezas são bastante distintas.
A Pvescic'Encii Rekltiva cc [Deus •141

O capítulo 6, "Providence and the openness of God" ("A


providência e a abertura de Deus", p. 52-62), explica que Deus
tal ida da ordem natural com as leis naturais (representativas de
hábitos) e com milagres (quando decide não seguir seus
I iábi tos). Tratando do envolvimento de Deus na história, o autor
afirma que ele ocorre quando Deus transforma desastres em
bênçãos. No entanto, isso ocorre de acordo com um plano pre-
estabelecido que requer uma complexa interação entre o humano
e o divino, sendo seu propósito a criação de seres moralmente
autônomos e inteligentes. Esse plano de Deus é o plano da
salvação que foi formulado diante da possibilidade do pecado e
implementado após a queda. Esse plano contempla as reações
criativas de Deus aos eventos. Em seguida, o autor passa a
apresentar as provas da soberania de Deus: sua perfeita previsão,
sua infinita superioridade, sua capacidade de encontrar
alternativas para alcançar seus objetivos e sua capacidade de
reverter o mal em bem. Rice usa duas analogias para provar essa
soberania: a analogia do jogador de xadrez (p. 56) e a analogia do
escultor (p. 57). A primeira analogia, derivada de James (1897, p.
181-182), afirma que qualquer pessoa pode prever o resultado de
uma partida de xadrez jogada entre um campeão mundial de
xadrez (um mestre na arte) e uma pessoa que nunca havia jogado
xadrez antes. Nesse caso, Deus é o indiscutível campeão da
história e qualquer um que se levante contra Ele está fadado ao
infortúnio. A segunda analogia compara Deus a um escultor que,
tendo encontrado um defeito no mármore no qual trabalha, é
1- eteroloxta

capaz de usar a parte defeituosa e, com ela, acrescentar algum tipo


de adorno à figura que havia planejado esculpir. Dessa forma,
Deus pode reverter o mal em bem (conforme a segunda analogia)
e pode-se dizer que há uma certeza prática quanto ao desfecho da
história (conforme a segunda analogia). Apesar disso, há alguns
limites na capacidade divina para reverter o mal em bem: Deus
não faz acepção de pessoas, mas pode fazer mais por aqueles que
são sensíveis a seu amor (Rm 8:28); Deus não tem limites cómicos,
mas respeita o indivíduo; o mal nunca pode se tornar um bem
intrínseco, pois sempre resulta em perda irreparável. Rice
reprova inteiramente a idéia da feia culpa, isto é, o ensino que a
queda de Adão foi urna oportunidade ditosa para a morte
redentora de Crista Usando a analogia de uma viúva, o autor
afirma que por mais que a morte de um esposo pode prover a
oportunidade para que os filhos cresçam responsavelmente, a
esposa nunca fica feliz com a morte do esposo. Rice termina,
então, o capítulo com um resumo da doutrina da providência, de
acordo com a TAD: a providência é uma resposta criativa de
Deus, a providência não sigifica controle absoluto e o pecado
envolve perdas irreparáveis.

O capitulo 7, "Prophecy and the openness of God" ("As


profecias e a abertura de Deus", p. 63-67), apresenta a
compreensão profética à luz da TAD: (i) o futuro não é
completamente definido; (ii) as profecias são o resultado de uma
previsão com base no conhecimento perfeito do presente (Is 46:9-
10); (iii) as profecias são a revelação das intenções de Deus (Is
A PK7.5CidnCli kctv L1CPCILIS 44 44

46:11; 48:3); (iv) as profecias são a combinação da percepção, da


intenção e do envolvimento ativo de Deus (Is 44:28-45:4); (v) as
profecias são, às vezes, dependentes de condições (Jr 18:7-10); (vi)
o verdadeiro propósito das profecias não é fornecer informações
sobre o futuro, mas provocar reações quanto ao presente. De
acordo com Rice "o propósito de toda profecia é, primeiramente,
evocar uma resposta positiva em relação a Deus... ela sempre
envolve um chamado a uma decisão. Ela é sempre um convite
para responder a Deus no presente" (p. 67).

O capitulo 8, "Predestination and the openness of God"


(" A predestinação e a abertura de Deus", p. 68-78), discute os três
eventos que suscitam a idéia de que existe uma relação direta
entre a presciência de Deus e a predestinação: (i) a morte de Jesus;
(ii) a criação do povo de Israel e da Igreja; e (iii) o chamado dos
indivíduos, especialmente os dos profetas. Para negar a idéia de
que a morte de Jesus foi predestinada a ocorrer exatamente como
ocorreu, o autor afirma, primeiramente, que o plano da salvação
foi decidido por causa da possibilidade real de que o homem
viesse a pecar e, em segundo lugar, que Jesus realmente podia ter
falhado (no deserto, no jardim e na cruz). Além disso, Rice afirma
que aqueles que crucificaram a Jesus não o fizeram por vontade
divina, pois a Bíblia os considera culpados (At 2:23) e Deus deseja
que todos se salvem (1 Tm 2:4; 2 Pe 3:9). Quanto à eleição de Israel
e da Igreja, o autor afirma que se trata de salvação coorporativa e
liai) individual, que a eleição é um convite da graça e um ato de
iiinor (Dt 7:8), que a eleição contempla o serviço e não os
•9 ■ • H eterocloxia

privilégios (Is 49:6), que a membresia na Igreja é urna questão de


escolha e não de destino (2 Pe 1:10) e que os riscos de o crente e a
Igreja falharem são reais (1 Co 10:12). Rice utiliza a analogia da
banda para afirmar que o maestro pode fazer o calendário de
apresentações de uma banda muito antes de fazer a audição que
vai selecionar os membros dessa banda. Assim, Deus pode prever
como a Igreja vai atuar sem saber quais serão aqueles que hão de
fazer parte dela. Finalmente, o autor trata do assunto (segundo
ele, mais difícil) da predestinação do indivíduo. Para ele,
indivíduos predestinados como Jacó e Esaú são representantes
coorporativos de grupos (israelitas e edomitas). Além disso, o
chamado para uma obra específica expressa intenção e não
presciência (Jr 1:5). Já o caso do endurecimento do coração é uma
questão interpretativa. Pode-se tratar de um caso em que Deus
reverte o mal em bem ou um caso em que Deus faça uma previsão
com base em seu conhecimento perfeito do caráter de uma pessoa
(como faraó, por exemplo).

O capítulo 9, "Personal religion and the openness of God"


("A religião pessoal e a abertura de Deus", p. 79-86), apresenta as
razões práticas para se adotar a TAD: (i) significância para a vida
religiosa; (ii) fidelidade à Bíblia; e (iii) consistência lógica. No
âmbito da significância da TAD para a vida religiosa, o autor diz
que esta põe ênfase no papel do homem, realçando sua singula-
ridade, sua capacidade criativa, seu livre arbítrio e sua capaci-
dade de entreter esperança e otimismo. Além disso, a TAD
apresenta uma explicação convincente para a origem do mal e
A Pre5cièmcia P,clativ:r cjc PeL.Is 4441

revela a sensibilidade de Deus em relação à experiência humana:


o interesse divino pelo homem e seu respeito à individualidade
humana. Urna outra evidência da sig-nificância prática da TAD é
que ela enfatiza as relações interpessoais, pois ela mostra que
nossos atos afetam profundamente a salvação de outras pessoas.
Dessa forma, a TAD fornece uma base sólida para o trabalho
missionário e para a necessidade de um caráter íntegro. A
nraii 1 idade aberta envolve riscos e constantes intervenções de Deus
mii história que poderiam alterar a estrutura da realidade inter-
pessoal. isso também provê uma explicação bastante plausível
para o sofrimento humano, especialmente as tragédias (em
relação às quais é natural o sentimento de ultraje). Deus sabe o que
nos passando e se sente como nós nos sentimos, mas Ele pode
orav trarter o mal em bem. Ou seja, urna tragédia é uma coisa que não
'gravei-ia acontecer; se acontece, porém, Deus pode transformá-la
oram benção. A TAD também provê um tratamento adequado para
oi vim lpa individual e encoraja um maior senso de responsa-
10 11io lade: podemos apressar a volta de Jesus (2 Pe 3:12) e podemos
luto( lar o nosso futuro. Finalmente, a TAD ajuda nossa vida devo-
II1411, pois valoriza o efeito de nossas orações em Deus e incen-
1 1 vis a drioração.

O livro termina com um apêndice que elenca as citações de


Wilite contra e a favor da TAD. As citações a favor incluem,
olo ora (nitras, declarações como as de que Deus não é responsável
pecado (O grande conflito, p. 492-493), de que Deus corre
(o desejado de todas as nações, p. 49; Parábolas de Jesus,
II■■■ • H Ce C rOck.: Xla

ID. 196), de que Deus sofre (Educação, p. 263-264) e de que o


pecado era uma possibilidade no universo (SDABC, v. 6, p. 1070).
Entre suas declarações contrárias à TAD, o autor cita a de que
Deus previu a existência do pecado (O desejado de todas as
nações, p. 22), a de que Deus percebe toda a realidade com igual
vividez (O maior discurso de Cristo, p. 100) e a de que o passado,
o presente e o futuro são iguais para Deus (SDABC, v. 1, p. 1099).
O autor conclui dizendo que, como se percebem contradições nos
escritos de Ellen White a esse respeito, é preciso decidir
teologicamente que declarações aceitar literalmente e que
declarações precisamos analisar à luz de uma hermenêutica que
resolva tais contradições (p. 91).
CRENÇA 2
A Redução da Expiação
a urna Metáfora
PROVONSFIA, Jac:k. You can go home again. Washington, D. C.:
key itivi & FIerald,1.982.12 8 p.

propósito do livro de Provonsha é a "desteologi-


zação" da doutrina da expiação e a. apresentação de
uma comovente confissão de fé no amor incondi-
H orlai de Deus pelo ser humano demonstrado na mais visível
jai u'Ia para o caráter de Deus: a cruz. Para isso, Provonsha, desde

o capítulo inicial, dialoga Will o leitor, propondo-lhe complexas,


-.
ii iiis pertinentes indagações existenciais e teológicas

O capítulo 1, "Hostile or friendly" ("Hostil ou amistoso",


p. 11-17), procura demonstrar que o universo contém um nível de
prssoalidade que o impede de constituir um ambiente hostil ao
Iiiii ntrn. Segundo o autor, não há nada intrinsecamente hostil no
universo (p. 15). Só existe algum tipo de hostilidade quando o
I ui-1pin abandona o nicho apropriado a ele reservado no plano de
1 'eus. Da mesma forma, a hostilidade do homem em sociedade
I%t IV iria exclusivamente de sua infidelidade à natureza com a qual
lin inicialmente dotado por Deus.
■ » ■■ He -t e rodc-)xi

O capítulo 2, "The crucial question" ("A pergunta cruci-


al", p. 18-22), lida com a pergunta fundamental da obra: por que
Cristo morreu? Embora essa indagação não tenha sido formulada
por Jesus ou pelos evangelhos, ela foi metaforicamente
respondida por Paulo. A queixa do autor, no entanto, é que os
teólogos tenham transformado a metáfora da expiação em um
absurdo literal (p. 19). Diante disso, Provortsha propõe um maior
respeito à natureza simbólica das parábolas e metáforas da Bíblia,
argumentando que a verdade transcendente de Deus continuará
a se desdobrar por toda a eternidade sem que jamais possamos
dizer que a compreendemos completamente.
O capítulo 3, "Is 'free' a bargain?" ("É 'de graça' um bom
preço?", p. 23-26), critica as primeiras teorias da expiação
desenvolvidas a partir de interpretações unilaterais de passagens
como Mt 20:28; Mr 10:45; 1 Co 7:23; Cl 5:1, etc. O autor rejeita,
principalmente, as idéias de Orígenes (de que a expiação pode ser
explicada como uma transação entre Deus e o diabo) e de
Gregório de Nissa (de que a expiação foi um modo como Deus
pôde enganar o diabo), bem corno as metáforas da cruz como isca
para peixes (Gregário de Nissa), armadilha para passarinhos
(Gregário, o Grande) e ratoeira (Agostinho).

No capítulo 4, "Cu r Deus Nino?" ("Por que Deus se tomou


homem?", p. 27-32), Provon.sha postula que a compre-ensão cristã
da expiação dependa excessivamente da sistematização dessa
doutrina por Anselmo da Candelária. A objeção do autor a essa
dependência excessiva de Anselmo se deve, segundo ele, ao fato de
et J, 1 ■ :1:1 EN" I :"I (l• )1 i 4441

A nselmo ter sido influenciado pelo feudalismo incipiente de sua


(vota, que propunha que a punição para um crime poderia ser
ad a se o criminoso desse urna satisfação ao senhor feudal.

É no capítulo 5, "What price justice?" ("Justiça a que


'm(Iço?", p. 33-43), contudo, que Provonsha apresenta o desenvol-
vimento histórico da doutrina da expiação, ressaltando suas
principais inconsistências. Depois de ter partido da teoria da
!„•1 isfação (de Anselmo), da teoria da influência moral (de
A belardo) e da teoria mística (que propôs que Cristo morreu para
que o ser humano pudesse morrer com ele e, assim, pagar a
penalidade exigida por causa do pecado), no capítulo anterior,
Provonsha se dedica, aqui, a criticar os desenvolvimentos
ilosteriores propostos por Gérson (a morte de Cristo como uma
inOgéncia da justiça de Deus), pelo Concílio de Trent() (que
'Impôs, entre 1545 e 1563, que a morte de Cristo possibilitou a
it••4 ificação efetiva, isto é, justificação simultânea à santificação),
' , elos reformadores (que, influenciados pelo fim do feudalismo e
•I tyostos a contrariar a visão meritocrática do catolicismo,
uj'I 1inim por urna teoria forense ou legal, segundo a qual não é

1 h 'tis quem exige a satisfação pelo pecado, mas sua própria


ji rd iça), pela Confissão de Augsburgo (que propôs que a expiação
O a reconciliação do homem com Deus, mas enfatizou
•lel nasiadamente a motivação da ira de Deus em detrimento de
taiii amor) e pela teoria governa.mental de Grocio (que propôs
que Cristo morreu para preservar a ordem do universo).
••vi •nsha conclui que todas essas explicações pecam por quatro
11, >2. * H ete t- odoxri

grandes deficiências: a literalização (mitigada ou não) de


metáforas, a confusão entre lei civil (que permite satisfação) e a lei
criminal (que não a permite), a atribuição de certa hostilidade a
Deus (separando-o da pessoa amorosa de Cristo) e, finalmente,
por deixar sem explicação como a justiça de Deus pode aceitar
que um justo sofra por um injusto (indagação originalmente
formulada por Bozo, que Anselmo nunca conseguiu responder
satisfatoriamente).
O capítulo 6, "Treasure in earthen vessels" ("Tesouro em
vasos de bano", p. 44-50), apresenta a visão eclética de Ellen
White acerca da doutrina da expiação. Provonsha menciona que,
sem as metáforas grosseiras de alguns teólogos antigos, Ellen
White parece subscrever a aspectos de todas as grandes teorias da
Antigüidade: a teoria transacional/ satisfação (de Anselmo), a
teoria da influência moral (de Abelardo), a teoria mística (dos
padres orientais), a teoria forense (dos reformadores), a teoria
governamental (de Grócio) e a teoria recapitulacionista (de
Irineu). Para explicar esse ecletismo, o autor coloca Ellen White
em uma categoria diferente dos propositores dessas teorias:
segundo ele, ela deve ser colocada entre os profetas e não entre os
teólogos e nos adverte que estamos lidando com linguagem
metafórica que permite certa amplitude de interpretação (p. 47).

No capítulo 7, "Clouded windows" ("Janelas nubladas",


p. 51-59), Provonsha se concentra nas deficiências de cada uma
dessas teorias. Segundo ele, essas posições teológicas são
maculadas pela incompreensão da real natureza do pecado, pelo
A kedução da Expiação a urY12: Metaroll 4444

cun(raste indevido entre Pai e Filho, por sua proximidade com as


teorias religiosas da Antigüidade que abriam espaço para os
.•iacrifícios apaziguadores do paganismo, pela incompreensão de
que o sacrifício de Cristo foi completamente satisfatório para a
•alvação da humanidade, por uma injustificada regressão à lex
lationis, por não perceber a diferença entre justiça retribuitiva e
distributiva e pela confusão entre justiça civil e criminal.

O capítulo 8, "The darkness behind the shadows" ("As


trevas por trás da escuridão", p. 60-76), passa, então, a propor
urna teologia do pecado, necessária para que se compreenda por
que Jesus morreu. Para ele, a Bíblia define o que é pecado, mas não
o que o pecado é e, por isso, cabe à teologia essa compreensão.
A pós mencionar definições famosas de pecado por Agostinho
(abandono de Deus), Tomás Aquino (rebelião contra Deus),
I Altero (desconfiança de Deus), Calvin° (orgulho), Provonsha faz
unia crítica à teologia do pecado original, concordando com
;rentes (1956, p. 31), de que esse é o termo mais infeliz da teologia
erista, cuja adoção contribui meramente para reificar o conceito
ilr pecado (p. 67). Trata-se, segundo o autor, de um conceito
materialista, fruto das idéias de hereditariedade correntes no
Ovulo XIII. A seguir, Provonsha discrimina três tipos de culpa:
real (causada pela prática do pecado), falsa (herdada da infância)
r111.11rótica (em que não se percebem as ligações entre nossos atos
•• nosso sentimento de fracasso). Para Provonsha, pecado é um
iu ice i ti) relacional e não um ato reificado: a alienação de Deus.

()capítulo 9, "Fig !caves for the naked" ("Folhas de figuei-


kl para os desnudos", p. 77-84), analisa o relato da queda, dele

11. 0- I i e L.cr o d om a

tirando importantes lições sobre suas conseqüências: a primeira


experiência de culpa real, a dissimulação, o legalismo das folhas
de figueira, a negação, a culpa neurótica, a nudez existencial, a
racionalização ou unloading (isto é, a tentativa de transferir o fardo
da culpa para outras pessoas).
No capítulo 10, "A truth disclosed" ("Uma verdade reve-
lada", p. 85-96), o autor analisa as possibilidades divinas de lidar
com a nudez existencial: cobrindo-a, punindo-a ou perdoando-a.
Para Provonsha, Deus optou pela última alternativa e, por isso,
escolheu um evento de impacto que mostrasse a toda a
humanidade quão desejoso estava de perdoar nossa nudez
existencial: a crucifixão. Para o autor, essa é a mensagem do
evangelho e a tarefa da teologia. A morte de Cristo seria a Única
forma possível de subjugar a alienação entranhada em nosso
coração. Não se trata de um mecanismo para burlar a ordem do
universo ou enganar o diabo (p. 93), mas um mecanismo para
destruir o sistema de salvação por mérito (p. 94): a cruz foi uma
demonstração (de perdão e de que Deus assume responsabilidade
por aqueles que criou) e não um pagamento. Para provar que a cruz
é uma demonstração da dor provocada em Deus pelo pecado,
Provonsha recorre a Ellen White: "a cruz é a revelação a nossos
sentidos embotados da dor que, desde o princípio, o pecado trouxe
ao coração de Deus" (WI-ELTE, 1952, p. 263).

O capítulo 11, " A ids to faith" ("Auxílios para a fé", p. 97-


105), analisa os textos em que Ellen White aparenta defender
alguma forma de perfeccionismo, especialmente em Caminho
para Cristo (p. 62) e Parábolas de Jesus (p. 69), procurando
A Redução ria Expiação a uma Met,:dora 41414

islustrar que, em última análise, tal interpretação não se sustenta.


A meguir, Provonsha mostra que Deus aceita os esforços humanos
(corno cobrir-se com folhas de figueira) não por que Ele os
• 11isidere adequados, mas por que, enquanto agimos, Ele pode
.1 ,1 i ti vamente demonstrar-nos seu perdão. Deus não se deu conta,
.1 princípio, da nudez existencial do homem porque esta jamais o
Impediria de entrar em comunhão com seus filhos. Por isso,
exclamou a eles: "quem disse que vocês estão nus!" (Gn 3:11).
I )essa forma, Provonsha propõe que a cruz não existiu por causa
(Ir I ieus, mas por causa do homem (p. 105). Ela foi o veículo e não
c. usa da graça divina.

O capítulo 12, "Tending the garden" ("Cuidando do


jardim", p. 106-111), propõe as conseqüências da aceitação do
homem por parte de Deus: redenção, justificação, santificação,
liberdade da culpa, liberdade para aceitar o semelhante, graça
a paci tadora, nova atitude para com a lei de Deus, santidade
rilacional (não perfeição), novas perspectivas, objetivos e
Ii lot i vos: folhas de figueira não são mais necessárias.

O capítulo 13, "You can go home again" ("Você pode


voltar para casa", p. 112-128), narra a história do filho pródigo,
mas com algumas ampliações interessantes. Provonsha não altera
o texto escrito nos evangelhos, mas faz-lhe acréscimos a fim de
preencher, com sua imaginação, detalhes que faltam no relato
111111 iro. A mensagem desse capítulo final é que Deus, em seu amor
tiI ini(o, concretizou a possibilidade de que seus filhos possam,
lit kl I mente, voltar ao lar.
N.» HeterodoxR

Alguns podem objetar contra a insistência de Provonsha


de que a expiação é apenas uma metáfora (como outras que
ocorrem nas Escrituras) que degenerou em uma diversidade de
teorias e de sua dependência excessiva, para sua reconstituição
da história da doutrina da expiação, da obra de L. W. Grensted.
No entanto, Provonsha tem o mérito de mostrar como a
ansiedade em relação à idéia da necessidade de perfeição na vida
cristã pode minar o vigor do relacionamento afetuoso proposio
por Deus aos seus filhos. Se o pecado é o quebrantamento do
relacionamento com Deus e não um ato isolado e objetivo,
qualquer ato que crie confiança, comunhão e auto-aceitação se
opõe ao pecado (p. 100).
O Batismo de [Homossexuais

BENTON, Elvin. Adventists face homosexunli ty. Spectrum, v. 12, n. 3,


II 48, 1982.

uando escreveu seu artigo sobre homossexualidade, o


autor era departamental de liberdade religiosa da
União de Columbia da IASD, nos Estados Unidos.
1 )evid o a sua formação na área de direito, Benton comenta
olgt mias das implicações legais acerca do modo corno a IASD vem
lidando com a questão do homossexualismo. Benton aplaude
ME» ris esforços feitos pela Organização a fim de iniciar um
IN logo com homossexuais que se dizem adventistas do sétimo
ilhi IR, menciona, por exemplo, a participação de seis pastores,
imiti a permissão oficial daquela União, em uma campal
lifintiov ida por uma organização de homossexuais adventistas
i Pirá 1111), em agosto de 1980, que contou com a participação de 35
hotilionsexuais. Benton alude também à construção do Quest
Least lenter, em Read ing, na Pensilvânia, com a finalidade de
"tveliielititr" os homossexuais que desejem se batizar na IASD ou
bifisi liS ii . 111111 seus membros.
In, » H eterodoxti

O autor historia a fundação, em 1977, da Kinship, que já


contava, em 1982, com 500 integrantes de dez países diferentes.
Descreve brevemente, em seguida, a campal de 1980 e apresenta
um rápido relatório de como os pastores que compareceram ao
evento reagiram a ele. De acordo com James Londis, vários
homossexuais expressaram a preocupação de que os pastores
adventistas não recebem preparo adequado para lidar com o
homossexualismo e têm dificuldades de compreender que uma
exclusão sumária da lista de membros pode levar os
homossexuais a desenvolverem tendências suicidas. Josephirte
Benton, escolhida para integrar o grupo por causa de sua
experiência prévia com o ministério em favor dos homossexuais,
relatou que embora creia que Deus possa mudar as pessoas
profundamente, há uma diferença entre o que Deus pode fazer e o
que Ele, de fato, faz. James Cook fez o sermão do sábado pela
manhã (chamado por ele de "apresentação") e relatou como ele
próprio havia superado suas tendências homossexuais e se
tomado um pastor adventista. Após o sermão, ele consentiu em
partir de uma sessão de perguntas e respostas, algumas das quais
ele considerou bastante agressivas. Lawrence Geraty,
encarregado pela Associação Geral de estudar a questão do
homossexualismo da perspectiva do Antigo Testamento, admitiu
que, fora algumas referências mais contundentes, como no caso
da história de Sodoma e Gomorra, o Antigo Testa mento não emite
um parecer conclusivo acerca do assunto. Fritz Guy questionou as
alternativas para o homossexual que deseja ser adventista:
//

reorientação"? celibato? James Cox relatou que pecados morais


i=hlektno 4C 1•10m.),-.):;5exi.L.il5 1.414

são condenados pelo Novo Testamento quer praticados por


heterossexuais ou homossexuais e, como nem Jesus nem Ellen
\Albite se referiram explicitan -lente ao assunto, ele sugere que
1 a !vez a questão mais pertinente seja como é possível que os
• tãos sejam sexualmente responsáveis.

Benton apresenta, então, a petição encaminhada pelos


participantes da campal, por meio dos seis pastores, à Associação
;era!: (1) que o Instituto de Pesquisas Bíblicas crie um comitê para
nilildar sobre a questão do homossexualismo; (2) que artigos sobre o
ditisunto sejam publicados na Revista Adventista e na Revista
Ministério; (3) que as escolas adventistas incluam urna discussão
noive o homossexualismo como parte de seu currículo; (4) que livros
no ,jsim escritos que possam ser usados nessa discussão; (5) que guias
iineri los com orientações sejam preparados para os pastores (como os
que foram escritos na década de 70 em relação a divórcio e
1 . 41%unento); (6) que profissionais competentes sejam designados nas
Moda ções com os quais jovens com inclinações homossexuais
p, ty44 rn se aconselhar sigilosamente; (7) que números telefônicos
mijam disponibilizados os quais possam ser consultados
migilosamente; (8) que Kinship possa ter reconhecimento oficial da
IA;I .; (9) que Josephine Benton e Lawrence Geraty sejam nomeados
iispi *latis da Kinship. A Associação Geral aprovou as propostas 1-7 e
tvisill ou as propostas 8-9.

Como conseqüência da campal de 1980, vários membros


thi 1\ iliship foram excluídos do rol de membros de suas igrejas
l i St ‘1 1* 4
A Saivação pelo Relacionamento

WINN, Dick. His healing love, Washington, D. CL: Review & Herald,
I i)frÇ í 74 p.

H
is healing love é uma meditação matinal para jovens,
pertencente à série "Morning Watch" e publicada por
uma editora oficial da IASD. Na época da publicação da
obra, o autor era o diretor do Instituto Weimar, uma instituição
sql ucacional adventista na Califórnia.

Apesar do caráter despretensioso desse devocional para


sulolescentes, alguns membros mais conservadores se sentiram
ninai idos por alguns pensamentos um tanto heterodoxos do
autor. Uma de suas posições mais controversas é sua negação da
nklMtÕncia do fogo do inferno, explicando-o simplesmente como o
rem u liado da separação de Deus:

o dia chegará quando aqueles que recusam seu gracioso


convite de amizade receberão aquilo que escolheram:
separação de Deus Quando você desconecta sua lâmpada
da eletricidade, ela não explode. Ela simplesmente deixa de
ter luz. Nem você precisa bater na lâmpada furiosamente
porque sua luz se extinguiu, pois é isso que acontece com as
Heterocloxia

lâmpadas quando elas são separadas da corrente elétrica.


Da mesma forma, quando alguém perde sua conexão com
Deus, a vida cessa. Deus não necessita esmagá-la
furiosamente. Nem ele precisa operar um milagre para
prolongar a vida a fim de que ele possa infligir-lhe punição
eterna_ Separar-se do Doador da vida é morte, morte eterna
(p. 332).

Com efeito, Winn sugere que a própria noção de punição é


contrária à natureza de Deus (p. 180). Segundo ele (p. 123), como
as conseqüências destrutivas de urna vida pecaminosa nem
sempre são imediatamente perceptíveis, em vez de permitir que
nos apeguemos a padrões destrutivos, Deus nos adverte com
"uma amostra da dor que está por vir" se continuarmos a seguir
nessa direção. Para Winn, é isso que os escritores do Antigo
Testamento tinham em mente quando falavam das punições de
Deus. Dessa forma, o autor aceita que o medo seja "um grande
motivador", mas é "um péssimo professor" (p. 135, 350). Isto é,
enquanto nos mostra que há tremenda dor na separação de Deus,
o medo não descreve a Deus. Ele enche o coração de adrenalina,
mas não de amor. Ele aterroriza, mas não cativa.

Um outro ponto de vista polêmico da obra é sua ênfase no


aspecto metafórico da doutrina da expiação. O autor chega mesmo a
indagar: "quem precisa dos méritos de Cristo?" (p. 55). Segundo ele, "o
conceito de ser aceito nos méritos de Cristo é simplesmente urna das
melhores ilustrações do céu de como Deus vê °homem". A necessidade
dessa ilustração advém, para ele, do fato de que "algumas pessoas
somente conseguem imaginar a aceitação amorosa de Deus em termos
de merecimento" e, por isso, Deus se acomoda a suas preocupações,
A \...0 peilc. :} k e ou . ] rv)er; to 1 /14

it)s tra nd o-lhes quão totahnente ele aceitou a Jesus, e, então, dizendo: -
t .tios aceitarei da mesma forma (p. 55). Dessa forma, "Deus não quebra a
li quando age de modo redentivo e amoroso, pois o amor é, de fato, o
nu perativo da lei; alei defende o amor, ela não o faz prisioneiro" (p.139).
) autor alega, inclusive, ter dificuldades com a idéia de que Deus aceita
t ui) relacionamento substituto, pois, segundo ele (p. 183), a principal
purocupação de Deus é a restauração de seu relacionamento com o ser
III imano (e não o saldo no livro dos méritos). A idéia de que a expiação é
Ii ti iHr isecamente forense é, portanto, ofensiva a Deus e, ao mesmo
len tpo, ofensiva ao homem, pois o que interessa ao ser humano não é ter
a permissão legal de entrar no céu, mas ser capaz de desfrutar da
iIH pa nhia de Deus naquele ambiente espetacular (p. 194).

Além disso, um leitor seduzido pelo perfeccionismo


Miará falta na forma corno o autor constantemente rejeita a
ItilUva humana de obter justiça. O autor chama os legalistas de
"rebeldes" contra Deus (p. 191). Segundo ele, "o diabo tem mil
11 11 has de figueira, cada urna prometendo cobrir nossa nudez...
Iodas elas prometem proteção imediata, ocultando-nos do olhar
I t )rt outros" (p. 75) e, no entanto, não percebemos que Deus não se
vara tida liza com nossa nudez. Winn compara os esforços huma-
na' para obter justiça à inutilidade de aplicar "band-aids" aos
tvrtmentos causados por uma "cirurgia do coração" (p446).

No conceito do autor (p. 245), não existe uma diferença


muito grande entre salvação pela fé e salvação pelo
mim 'tona mento, pois, para ele, o relacionamento do homem com
is hei i 1)eus é, no final das contas, tudo o que importa.
Reteição ã Idéia do )uyo
Desigual

BRYANT, Wanda. Love and the color blind. Speclrum, v. 18, n. 2, p. 20-
1988.

N1 a época em que escreveu o artigo "Love and the color


blind" ("Amor e daltonismo"), a autora era relações
públicas do Hospital Adventista de Shady Grave.
Segundo os dados apresentados por ela (p. 20), em 1983, houve 719
mil casamentos interraciais nos Estados Unidos, representando
quase 1% do número total de casamentos e um aumento de quase
92% em relação à década anterior. Isso significa uma reversão de
si ma tendência anterior que recriminava tais casamentos. De fato, a
primeira lei norte-americana que proibia a miscigenação foi
aprovada em 1661 e, em 1965, ainda havia dezenove estados que
proibiam o casamento entre as raças.
A autora prevê que o aumento no número de casamentos
interraciais vai continuar aumentando pelas seguintes razões: (i)
it crescente semelhança em relação aos backgrounds; (ii) a cres-
cente indiferença à religião; (iii) o status oficialmente reconhe-
io das nações africanas e um aumento no número de africanos
104› , Fi c Eer o (le-)xla

visitando os Estados Unidos; e (iv) a diminuição da autoridade


paterna. Ou seja, os casamentos interraciais se tornam mais
comuns à medida que as pessoas se tornam globalmente mais
compatíveis. No entanto, os casamentos interraciais continuam a
ser, nos Estados Unidos, um fenômeno urbano.
Uma das principais objeções a esse tipo de casamento era a
preocupação com a prole. No passado, pensava-se que filhos de
casamentos interraciais tinham maior propensão para problemas
psicológicos. Contudo, recentes estudos mencionados pela autora
revelaram que, em um país onde é difícil fazer novas amizades, o fato
de uma criança poder se relacionar com brancos ou negros repre-
senta urna vantagem considerável. Há também evidências estatísti-
cas de que crianças oriundas de casamentos interraciais têm desem-
penho superior na escola. Além disso, elas são geralmente mais claras
do que seus colegas negros, o que pode representar um maior status a
depender da comunidade onde vivem. Apesar disso, os norte-
americanos, de modo geral, tendem a ver essas crianças como negras,
pois não há categorias raciais intermediárias em seu país. Finalmente,
os sociólogos descobriram que essas crianças não sofrem pressão da
sociedade como um todo (como se imaginava antes), mas apenas de
seus familiares mais imediatos.
A autora lembra que a condenação bíblica ao jugo
desigual (2 Co 6:14-17) não se refere especificamente ao casa-
mento interracial, mas ao casamento interreligioso. Corno o
principal tema pregado por Jesus e os autores do Novo Testa-
mento (Mt 22:39; 1 Jo 4:7-8) é o amor, Bryant (p. 24) não vê base
bíblica para a idéia de que Deus se opõe ao casamento entre
• — -
Reciçio Ideia cio ./1 10 PesiciÉrd (444

pessoas de raças diferentes. Da mesma forma, ela assevera que,


quan.do Ellen Wh ite fala da existência de jugo desigual, fica claro
tille o contexto é o de casamento interreligioso.

Dos 719 mil casamentos interraciais ocorridos, nos Esta-


dos Unidos, em 1983, 164 mil envolveram brancos e negros.
Pesses, 118 mil ocorreram entre homens negros e mulheres
Pra ncas, enquanto 46 mil envolveram homens brancos e mulhe-
tis negras. A autora cita estudos sociológicos a fim de explicar
ioisa demografia. Para ela, há menos possibilidades, nos Estados
Jnidos, de a mulher negra se casar com um homem branco
In fique (i) a mulher negra é mais segregada e, por isso, têm menos
t•li,inces de encontrar um parceiro de outra raça; (ii) a religião tem
11
14W papel mais significativo na vida de mulheres minoritárias do
que na vida de homens minoritários; (iii) a cultura americana
npera que o homem tome a iniciativa quanto a namoro e
nela mento; e (iv) casar-se com uma mulher branca contribui para
tini maior statu.s social do homem negro.

Por que, então, existem oposições, por parte dos brancos, ao


tiamaniento entre raças? Segundo a autora, urna importante razão é
si tu. os homens brancos tentam manter seu acesso privilegiado às
mulheres de seu grupo social. Além disso, é sociologicamente
ii n n provado que os pais tentam garantir que seus filhos pertençam ao
mu tini dominante e ter um filho mestiço, nos Estados Unidos, pode
migi til irar coloca-lo fora do grupo dominante.

Finalmente, a autora diz (p. 25) que o principal elemento


lottla tit t e o casamento interfacial dê certo é a decisão dos cônjuges
manterem "daltônicos". Para ela, o argumento contra o
■■■ • li c te r c.-) LLi o x ia

casamento interracial é decididamente uma questão de


preconceito. Talvez este seja o menos heterodoxo de todos os
textos incluídos neste livro, mas sua inclusão, aqui, se justifica por
causa da grande carga de preconceito que Os casamentos
interraciais ainda recebem na !MD, conforme tenho tido a
oportunidade de verificar ao aconselhar os estudantes universi-
tários que me procuram com essa preocupação.
CRENÇA 7
O Divórcio e o Novo
Casamento

GARDNER, Robert W.; WINSLOW, Gerald R. Welcoming back the


illvt ■ ti 'rd and remarried. Spectrum, v. 18, n. 2, p. 27-34,1988.

uando escreveram este artigo, Gardner e Winslow

Q eram ambos professores universitários; o primeiro


lecionava sociologia na Faculdade Adventista de
Walla Walla, enquanto que o segundo lecionava ética na
I !ziiversidadeAdventjstacjeLoma Linda.

Segundo os autores, a primeira vez que o assunto do


divórcio sem bases bíblicas e subseqüente casamento foi formal-
'milite discutido pelos adventistas ocorreu quando o tema foi
trazido à mesa administrativa da Associação do Michigan, em
1862. A decisão da mesa foi que, em tais casos, a Associação
(Inferia tomar a decisão se rebatizaria os envolvidos ou não. No
itnianto, a primeira publicação da lASD lidando com o assunto só
vrio ao prelo em 1942, podendo ser resumida da seguinte
iiiitneira: o casamento é para a vida e somente a infidelidade
itiiitrimonial justifica o divórcio; nesse caso, a parte ofendida fica
livre para novo matrimônio, enquanto a parte culpada deve ser
■■■ • FIutecctixt

eliminada dos registros da igreja, mesmo que não haja divórcio. A


parte culpada pode ser rebatizada após certo período de tempo,
desde que haja arrependimento e não haja divórcio ou novo
casamento; se houver divórcio ou novo casamento, a parte
culpada nunca mais poderá ser readmitida à IASD por encontrar-
se na situação de "adultério perpétuo". Para o rebatismo de uma
pessoa que se divorciara e se casara com outrem, era exigido que
essa pessoa se divorciasse do novo cônjuge e se reconciliasse com
o primeiro cônjuge ou, então, que permanecesse solteiro(a) para
sempre. Cabia ao pastor da igreja local investigar cabalmente as
circunstância e decidir a quem considerar culpado. No caso de
divórcio por outras razões que não a infidelidade conjugal,
nenhum dos cônjuges tinha permissão de contrair novas núpcias.

À medida que as taxas de divórcio escalonaram nos


Estados Unidos, a IASD sentiu a necessidade de mudar sua
política. Em 1950, oficializou-se a posição de que, em alguns
casos, era impossível que houvesse a reconciliação com o
primeiro cônjuge e, no caso de o cônjuge culpado demonstrar
evidência de arrependimento genuíno, poderia manter o segundo
casamento e, ainda assim, ser readmitido à igreja. Esse posiciona-
mento foi considerado inapropriado e extremamente liberal por
muitos líderes da época e, em conseqüência disso, os médicos Roy
e Marguerite Williams enviaram cartas à Associa ção Geral por
-

trinta anos na tentativa de reverter a política. Segundo os autores


(p. 28), dada a dislética entre a te e a prática, essa não terá sido a
única vez em que mudanças de costumes tenham causado
correspondentes mudanças na teologia a dventista. Urna alterna-
O nvárcio c o Novo CirArnento .441

Uva para o impasse seria voltar à política de 1942. No entanto,


II e iominações em expansão (como a IASD) raramente enrijecem
11 1 1 Critérios de admissão a sua membresia.

Para avaliar como os ministros adventistas tiveram sua


nirspectiva sobre o assunto alterada nos anos que precederam à
esicrita do artigo, os autores enviaram dois questionários (um em
()73 e outro em 1984) a todos os pastores da Divisão Norte-
a me ricana. 199 questionários foram respondidos e devolvidos cru
1'r13 e 220, em 1984. Em 1973, 72% dos pastores responderam crer
na idéia do "adultério perpétuo", enquanto que, em 1984, apenas
'12% aceitaram esse conceito. Em 1973.43% dos pastores disseram
ri yomendar a dissolução do segundo casamento e a reconciliação
iom o cônjuge inocente; em 1984, apenas 18% disse-ram optar por
Pritie procedimento. Os questionários revelaram ainda que as
respostas se correlacionava m com idade e nível de escolaridade.
Psistores mais jovens ou com estudos de pós-graduação foram
aqueles que (i) normalmente se opuseram à idéia do "adultério
piirp&tuo", (ii) menos recomendaram a dissolução do segundo
matrimônio e (iii) se mostraram mais inclinados a rebatizar o
cônjuge culpado após este ter contraído novas núpcias. Das duas
variáveis observadas (idade e nível educacional), a que mais
contribuiu para os três comportamentos recém descritos foi o
uivei educacional.

Os autores observam que as previsões feitas, unia década


antes, pelo Prof. Bryan Wilson (1975, p. 41), da Universidade de
txford se mostraram exatas: à medida que a IASD se expande, ela
tem se tornado mais semelhante às demais denominações
Heterodoxia

protestantes, especialmente no que diz respeito a urna maior


tolerância em assuntos como divórcio e requisitos para admissão
à Igreja. Sua previsão se deve principalmente ao fato de ele
considerar a IASD como urna denominação comprometida com a
educação de seus membros e de seus ministros. Os articulistas
concluem que essas tendências podem ser vistas como indícios de
decadência moral ou, preferivelmente, corno evidência de urna
maior maturidade dos ministros adventistas ao tratarem de
situações que podem ser, de fato, traumatizantes.
O Método H istõrico-Crifico

C[AI-JSON, Jerry. Tarning hist- mica] eriticism: Advendst


1 ç diuship in Lhe !and of INc ginnts. Spectrurre, v. 18, n.4, p, 1934,
- abr. 1988.

o escrever este artigo sobre o método histórico-critico


(N11-1C)„ Jerry Gladson era o Diretor Acadêmico do
Instituto de Estudos Psicológicos, um curso de pós-
graduação interdenominac tonal em psicologia e religião com sede
em Atlanta, nos Estados Unidos. Segundo ele, quando fazia seu
) na Universidade Vanderbilt, ele se sentiu corno os israelitas ao
!se depararem com os gigantes que viviam em Cana ã (Nm 13:31-32).
kpois da decisão formal da IAS') de desabonar oficialmente essa
metodologia (1986), Glacison se sentiu motivado a partilhar sua
• ixiieriência ao usar o MEC no ambiente acadêmico.
De acordo com Gladson, o MI IC teria origem em dois
movimentos: o Renascimento do séc. XIV e o lluminismo do séc.
XVIII, quando a fonte de autoridade se transferiu da tradição
(Ca(olicismo) e das Escrituras (Protestantismo) para a razão
humana e a Bíblia passou a ser estudada a partir de suas
(tiratieríshcas literárias. O termo "critica" não teria, nesse contexto,
e ■ hi.91 tido de "ataque", mas de "juizos discriminad ores ou avaliado-
14 ■ 0. H CeerOdOXLI

res" sobre uma determinada obra. O autor admite, porém, que, no


início do emprego dessa rnetodologia, seus utilizadores acabaram
denegrindo a integridade do texto bíblico e, por essa razão, essa
metodologia acabou confundida com seus resultados (p. 20). Emest
Troeltsch propõe três princípios básicos para o MI -IC: (1) princípio
da dúvida metodológica; (2) princípio da analogia (isto é, os eventos
do passado devem ser comparados com os eventos do presente); e
(3) princípio da correlação (um efeito deve ser correlacionado a uma
causa). Entendido dessa forma, o MHC transformaria o estudo da
Bíblia em uma mera atividade literária.

Gladson declara, no entanto, que desenvolvimentos


dentro do MFIC ampliaram a sua área de atuação e suas
premissas de tal modo que o método pode ser empregado de
forma mais favorável ao contexto sobrenatural das Escrituras.
Segundo ele, metodologias como a crítica canônica, a crítica
retórica e o estruturalismo, por exemplo, não apresentam caráter
anti-supematuralista, como era o caso da crítica das formas, da
crítica das fontes e da crítica da redação. Apesar disso, muitos
teólogos adventistas não estão conscientes desses desenvolvi-
mentos e continuam a se referir ao MHC corno definido pelos
princípios de Troeltsch. Além disso, as duas principais hipóteses
do NI He não excluem a participação do elemento sobrenatural na
história. De acordo com a hipótese desenvolvi mentista, a religião
bíblica tem as mesmas características das experiências religiosas
da atualidade. De acordo com a hipótese naturalista, a
religiosidade pode ser explicada sem referências à transcen-
dência. Para provar seu ponto de vista, Gladson propõe um
silogismo: Filen White seguiu as convenções literárias de sua
Métolo H 15 -1:ãr ico-CyRico 1444

evoca; Ellen White é urna escritora inspirada; logo, escritores


i is pirados podem fazer uso de convenções literárias.

Gladson propõe, portanto, que a questão não é decidir se


ivenções literárias desempenharam pape! importante durante
O processo de escritura da Bíblia (o que ele considera provado
além de qualquer dúvida), mas constatar que a inspiração pode
iiar mesmo a despeito do fato de que os escritores bíblicos
respeitassem as convenções literárias de sua época. Por isso,
; I. idson passa a citar diversos estudiosos que empregam o MI1C,
mas alegam não fazer uso de premissas anti-supernaturalistas:
Terei-ice Fretheirn, Peter Stuhlmacher e Cari Armerding. Esses
teólogos dizem fazer uso das capacidades analítica e descritiva do
Ml IC sem sucumbir a suas pressuposições hostis à inspiração.

Em seguida, Gladson passa a historiar a apreciação


iwy,ativa que o WIFIC recebeu na lASD. Ele aponta como principal
tatao para isso o fato de que Os teólogos adventistas não foram
rapazes de perceber a utilidade da metodologia quando separada
das pressuposições anti-supernaturalistas de Troeltsch. Segundo
ele, a influencia de Gerhard Hasel foi instrumental para que a IASD
rd' opusesse ao MLIC. No entanto, Gladson procura mostrar que
lasel fez uso abundante do MHC em sua tese de doutorado,
defendida na Universidade Vanderbilt, em 1970. Segundo Gladson,
tal fato poderia ser desculpado, uma vez que Hasel defendera sua
tese diante de uma universidade não-adventista onde o IVILIC era
muito apreciado. Ele não consegue entender, contudo, por que
1 lasel permitiu que o IVIHC. e seus resultados continuassem a fazer
parte importante da versão revisada de sua tese publicada pela
■■■-• E I e tc2 HL)

Universidade Andrevvs. O problema, então, parece não estar no uso


ou não do MHC, mas na aceitação de pressuposições anti-
supernaturalistas de qualquer metodologia_ De fato, parece que a
visão que Hasel tem do IVEHC diz respeito unicamente a esse tipo de
pressupostos, embora essa não seja a definição corrente entre os
teólogos, quer adventistas ou não.
Para Gladson, praticamente todos os teólogos adventistas
(inclusive Hasel) usam ou usaram alguma forma de MHC, embora
não conforme a definição dada por Hasel (p. 26). Gladson protesta
que, corno resultado da oposição iniciada por Hasel a() MI IC,
Gordon Hyde demitiu os professores de religião que faziam uso de
alguma forma mitigada do MI IC no Southern College, urna
instituição educacional mantida pela IASD. Apesar da influente
oposição de Hasel e 1 lyde, Gladson salienta que é impossível que
um estudo criterioso das Escrituras possa prescindir de alguma
forma de criticismo desvinculado de pressuposições anti-
supernaturalistas (p. 27), pois, segundo ele, (1) a doutrina da
inspiração atribui o devido peso ao caráter humano/ divino das
Escrituras e à tensão existente entre essas duas dimensões; (2) Ellen
White aceitou e compreendeu essas duas dimensões (Selected
Messa.ges, v. 1, p. 21); (3) o contínuo estudo da literatura bíblica em
seus contextos oriental e greco-romano tem explicitado cada Ve7

mais a dimensão humana da Bíblia (o que é patente, por exemplo,


no modo corno a literatura de sabedoria do Oriente Próximo
influenciou os autores do Antigo Testamento); (4) os estudiosos
adventistas já fazem algum uso do N41--IC há cerca de 40 anos
(William Johnsson, Richard Coifem, Hans LaRondelle e mesmo o
Comentário BiblicoAdventista), o que abre um precedente para a
tAc todo i is .5 - Cs it 41

c(ui tinuação de sua utilização; (5) o Concilio Anual, realizado no Rio


Ic Janeiro, em 7-14/10/1986, censura o emprego do MHC como
"classicamente formulado", o que, obviamente, não é o caso de seu
Ilo por estudiosos adventistas; c (6) o MHC, tem sido bastante útil
j Iara ajudar a IASD a lidar com as acusações de plágio em relação à
obra de Ellen White. Embora haja nítidas diferenças entre a
11 rod tição do texto bíblico e a dos escritos de El.len White, o primeiro
lrólogo adventista a responder às acusações de plágio foi Warren
que o fez mediante um emprego mitigado do MHC.

Gladson aceita, portanto, uma versão mitigada do MEIC,


NI() é, destituída de pressuposições anti-supernaturalistas.
Sor» rido ele, pode ser que, em breve, uma metodologia melhor
tirja descoberta para o estudo científico da Bíblia, enquanto isso,
titio devemos imaginar que nossos métodos de estudo estejam
filem da possibilidade de revisão (p. 31). Além disso, para cie, é
Importante que os estudiosos a dventistas façam uso cuidadoso e
wverente do MFIC a fim de que o evangelho seja propagado por
Iodos os meios adequados para isso_
Reinferpretação da Teologia
do Remanescente
PROVONSHA, Jack. A remnant in crisis_ Washington, D.C.: Review
hinild,1993.

P
e acordo com Provonsha, a teologia de urna igreja
remanescente nasceu, entre os adventistas, como uma
conseqüência direta do grande desapontamento pelo qual
ori mileritas passaram em 1844 quando, contrariamente a suas
rx pectativas, Jesus não retornou. Para os adventistas, 15C anos mais
I a rcle, um segundo grande desapontamento pode ser a irrelevância
teológica dessa doutrina de uma igreja remanescente, especial-
'write no que esta diz respeito a questões como a propiciação e o
ministério do santuário celestial. O autor adverte que esse segundo
desapontamento pode forçar inúmeros adventistas educados e
comprometidos a deixara igreja.

Urna conseqüência das discussões, ora levadas avante


acerca do papel da IASD como igreja remanescente, é a confusa
rnul liplicaçâo de teorias da expiação e da propiciação na tentativa
de preservar a identidade da IASD como um movimento
remanescente. Segundo ele, tais perspectivas são geralmente
»fr. Heterocioni

equivocadas ou excessivamente simplistas de modo que os


membros mais cultos as rejeitam como insatisfatórias para
explicar a missão histórica da Igreja. De acordo com Provonsha (p.
119), Deus dá a punição não conforme o crime, mas conforme o
criminoso e, por isso, a visão de que um inocente poderia pagar o
preço pela culpa de pessoas que são realmente culpadas, parece
repugnante. Dessa forma, ele satisfaz os requerimentos da justiça
a seu modo e não de acordo com as pretensões humanas.

Nessa perspectiva, Deus age em relação ao pecador da


forma como é apropriado e não da forma como é merecido. Isso
significa que é justo, para um Deus que pode ler os corações,
perdoar um pecador arrependido. De acordo com Provonsha, a
razão por que a IASD nunca conseguiu apresentar uma teoria
foerense que seja coerente em relação à propiciação, é que ela nunca
levou o "juízo investigativo" em consideração ao tratar dessa
questão. Provonsha não se refere, contudo, ao "juizo investigativo"
como tradicionalmente compreendido pela IASD em relação ao
exame pré-advento dos candidatos ao céu. O que ele chama de
"juízo investigativo" seria o julgamento de Deus perante todo o
universo. Assim sendo, "a hora de seu juizo" não seria o momento
quando Deus julgaria a humanidade, mas o momento em que ele
seria julgado pelo universo.
Provonsha estabelece as bases de sua teologia na distinção
que faz entre as palavras gregas !cairás e chronos. Para ele, kairós é o
tempo relacionado a um evento (um tempo subjetivo relacionado
às oportunidades e aos cumprimentos), enquanto que chronos é o
tempo objetivo, como marcado pelos relógios e calendários. Assim,
A Reinterpreo tiLi reoiNia cc. ) Remanescente 4444

4114iPil mento de Jesus teria sido um kairás quando o próprio chronos


404141v11 em risco. Da mesma forma, a cruz teria sido um kairás para a
tetvelaçao daquilo que era verdadeiro havia milênios, na
intiipectiva cronológica. Mas nada teria mudado na cruz além da
4144iipreensão proporcionada por essa auto-revelação.

O mesmo se aplicaria ao dia da expiação. Não se trata de um


evento legal e momentâneo. A cruz é crucial, mas o ministério
41,til timo de Cristo no santuário celestial também o é. O autor
projeta, assim, o serviço do santuário na corrente da história, que
figurativamente, a representar a essência d o grande conflito:
"e progressão que vai do acampamento exterior, passando pelo
psit io, o santo e o santíssimo é uma realidade cósmica" (p. 133). Por
essa razão, o autor não se preocupa com as questões de Dn 7-9. O
fali ir crítico é que os pioneiros adventistas imaginaram que 1.843-
$ M44 era a data! Como eles reagiram a isso é mais importante do que
ta ti iel tinha em mente: não é a exegese que resolve a questão, mas a
l'ilmtória. Ele sugere que a interpretação fenomenológica proposta
sielt )s pioneiros é autêntica porque sua visão do grande conflito é de
1411 forma singular que a mensagem adventista acaba provendo
explicações cujo significado é aceitável para as pessoas. Essa
Interpretação arquetípica do grande conflito o coloca no centro da
teologia adventista, sendo que quaisquer esforços para compre-
endê-lo inteiramente não passarão de pinceladas impressionistas
tim quadro inacabado.

Para o autor, o que resume, de fato, o grande conflito é a luta


mi re dois lados: o da autonomia pecaminosa e auto-suficiência
tu Imanas e o da confiante dependência de Deus. A forma como
lieteit)(1oxia

Deus defende osculado é por meio de sua sinceridade espontânea e


revelatória. Assim sendo, a história se resume à luta entre a
dominação que serve a si mesmo e o amor que sacrifica a si mesmo.
A data de 1844 é tão incidental quanto a que define uma boa safra
vinícola. O crucial é que, nesse período, duas importantes (mas
antagônicas) propostas de explicação da história humana surgiram:
o evolucionismo darwiniano (apoiado pela filosofia de Nietzsche.) e
a mensagem adventista (p.152).
De acordo com Provonsha (p. 145), Jesus definiu, com sua
vida, o impacto do grande conflito: a liberdade auto-suficiente
leva à tirania e à auto-destruição; a liberdade em Deus leva à vida
eterna. Para o autor, a "terminação da obra" não ocorrerá geogra-
ficamente (quando todos os países tiverem recebido a mensagem
do evangelho) nem demograficamente (quando todas as pessoas
a tiverem recebido), mas eticamente (quando os dois lados do
grande conflito estiverem inteiramente delineados). É, por essa
razão, que Provonsha conclui que ninguém pode prever a data cia
volta de Jesus.
Nesse contexto, o dia da expiação é apresentado como o
contraste final no desfecho do grande conflito. Mas o autor nát
despreza os outros eventos verticais que marcaram a revelação de
Deus ao longo da história. Por isso, a mensagem profética d.1
IASD é uni desenvolvimento, uma síntese da verdade que .1
antecedeu e que estava, há muito tempo, em evidência. É mil -lb& fi
por isso que o ministério de Jesus no santuário celestial é chama do
de "contínuo", isto é, para preservar as continuidades com o
passado à medida que o movimento adventista muda e cres(t.
..;\ CW t:tii - i»i -ttf enki' tC • 4 44

Provonsba (p. 163) propõe, portanto, que a identidade de


remanescente" é mais um estilo de vida do que uma instituição.
1 la vendo identificado a IASD como um "remanescente prolép-
iitic Provonsha (p. 163) categoricamente propõe que ela será
bsorvida, por ocasião do desfecho do grande conflito, pelo
remanescen te final", que será muito maior do que ela.

Para ilustrar sua argumentação, o autor busca um exemplo


da I isica. Segundo ele (p. 164-165), é possível resfriar a água a uma
lenirei-atura inferior a zero grau, sem congelá-la. Contudo, a água
11'Mdiante desse processo, embora extremamente pura, é também
milito instável. Se uma partícula de gelo (chamada de "nido") cair
nela, todo o líquido solidifica. A função do ''nido" é, para ele, o
pdi ti a ser desempenhado por um movimento profético nos
Olmos dias: o de um catalisador, capaz de cristalizar o grande
tnnll ito. O que está detendo a terminação da obra é, portanto, a
tolhi làçào de alguns em tomar posição no conflito, além de sua
i lància em traduzir a mensagem de Deus para as línguas mais
importantes: a linguagem, da ciência, a linguagem da arte e a
iingliagem dos negócios.

Quando Provonsha se recusa a chamar a IASD de "igreja

io
Ninimescente", preferindo, em vez disso, a denominação de

i ltIov imento profético", ele afirma que o que realmente


nine teriza um profeta é sua mensagem; daí a importância que ele
(: etribui à síntese teológica da 1.ASD. Sua postura é criticada,
. porém, por Lond is (1995, p. 13)(2) porque

■■ • r. de vista e as interpretações de E „ond is tem sido incorporados a outras


ifiu ii resenha, sem que eu lhe tenha a [ri bu ido os devidos créditos.
■>■ • H cte rocloxi

o verdadeiro desafio da igreja não é apresentar sua teologia


com maior sofisticação (como Paul Tillich e outros
pensavam), mas ser verdadeiramente o povo de Deus,
perceber a natureza radical do chamado para que sejamos
peregrinos neste mundo, residentes estrangeiros por meio
de quem o Espírito Santo cria urna comunidade corno
nenhuma outra na história. Uma igreja assim contestaria a
maior parte - senão todas - as premissas do mundo e, per
essa razão, incorreria em sua hostilidade. Seus membros
aprenderiam a como ajudar as pessoas a amadurecer em
Cristo, mesmo que elas fossem narcisiacas, alcoólatras,
racistas, sexistas, materialistas, corruptas ou depravadas.

Outra crítica feita por Londis é que Provortsha caracterize


a crise a ser enfrentada pela 1 ASD em termos epistemológicos e
teológicos (a IASD precisa se redefinir e reconhecer seu papel
especial como movimento profético). Segundo Landis (1995, p.
13), mais do que redefinir sua teologia, a IASD precisa ser fiel à
teologia que a define. No entanto, ele concorda com Provonsha
que a IASD tem falhado racional e teologicamente (porque suas
doutrinas não têm contribuído para que seus membros vejam o
papel único e singular que têm a desempanhar no grande
conflito), nem como espiritualmente (porque a IASD tem perdido do

a fibra moral para ser o movimento profético que deveria).


Provonsha abandona inteiramente a posição adventista
tradicional de que o sacrifício de Cristo tenha tido um valor legal e
forense, preferindo interpretar as declarações paulinas como
essencialmente metafóricas. A expiação não representa nada literal.
Para ele, é imposível que a morte de Cristo tenha tido a finalidade de
substituir a morte merecida dos pecadores. Nenhuma transação
A Ketnterprehição cii deoloii co ken.ineicente • ■ 41

MUNDO

..- — .... _ ,
— .... -,
Igreja •\

`.

invisível
1
/
t
1
I
I
5 Igreja i
X Yisfrel ■
‘ /
- -- -1
\ 1
\ 1 1
i

•••.
.. __ . .'
....._ Movimento
N.... profético

Provonsha, 1993, p 46.

"ontológica" de qualquer espécie teve lugar na cruz. Ou seja, a


reltu,iiio intrínseca de Deus com os seres humanos não foi alterada de
to 'tina alguma pelo evento da crucifixão. Quando Paulo diz que, em
'tiniu, Deus estava reconciliando o mundo consigo, nada
nri niteceu na cruz a não ser o fato de que Deus ali se revelou. O que
oironteceu na cruz teve valor epistemológico, mas não teve valor
Ivat ou ontológico: no Calvário a humanidade pôde ver Deus com
Unia clareza inigualável anteriormente.

Na perspectiva de Provonsha, a crucifixão foi necessária


porque ela demonstrou a bondade de Deus e a verdadeira
IlMureza do mal, uma revelação que ajuda os pecadores a
emir vssar sua indignidade e a buscar a redenção. Segundo Londis
IP». I- I etercx-lL oxia

(1995, p. 16), livro de Provonsha tem o indubitável mérito de


estimular o debate sobre uma das mais in_stigantes crenças dos
adventistas: a de que sua igreja tem um propósito profético e não é
meramente um acidente na história.
O Evangelho como Pregação
da )ustiça Social
SCRIVEN, Charles. Coci's justice, yes: penal substitution, no.
Pire( rum., V. 23, n. 3, p.31 -38, out.1993.

A
o escrever este artigo para a revista Spectrum, Scri-ven era
diretor do Columbia Union Colleg, faculdade mantida
pela IASD. O autor inclui, em epígrafe, a declaração de
kouschenbusch (1978, p. 279) de que "o evangelho social é a voz da
profecia". Segundo o autor (F). 31), a forma mais desastrosa de
interpretar a Deus é aquela que toma os cristãos introspectivos e
distanciados das questões de sua comunidade e da justiça social,
P411 alo esse um mal que assola principalmente as denominações mais
I 1liservadoras e f undamentalis tas. O autor atribui essa obsessão com
culpa e com a dimensão introspectiva da religião ao individualismo
(I X werbado que afeta as pessoas de nossa época.

Para o autor, a teologia de altero parece dar apoio a unia


Interpretação individualista e introspectiva da cruz. Seu modo de
ver as epístolas paulinas, especialmente Romanos e Gaiatas, parece
ter sido a principal razão por que o assunto da propiciação parece
ter sido projetado nessas cartas como tema. dominante, enquanto
1-letein4ox:a

que a questão de justiça social foi inteiramente menosprezada.


Diante disso, Scriven (p. 32) reage afirmando que urna correta
compreensão da teologia da propiciação coloca a justiça e a comu-
nidade no centro da discussão. Segundo ele, "o evangelho é social e
a cruz é a prova disso". Qualquer exposição da doutrina da propi-
ciação que privilegie os interesses pessoais é falsa.

Scriven apresenta o relato do êxodo corno emblemático do


plano da salvação: Deus é o campeão dos fracos, dos oprimidos, dos
famintos, dos solitários e dos aflitos. Ele resolvia as desigual-da des!
Isso explicaria sua escolha do texto de Isaías como ato inaugural de
seu ministério. O autor concede que Jesus não era o tipo de Messias
que seus contemporâneos aguardavam. No entanto, em questões
sociais, ele afirma (p. 32) que Jesus sempre ficou do lado dos
profetas do Antigo Testamento. Jesus foi morto pelos judeus
porque sua pregação representava a subversão da cultura
dominante em sua época. Por outro lado, isso não invalida ã
dimensão pessoal da religião de Jesus. O que essa concepção
denuncia é que uma ênfase excessiva no elemento pessoal pode
gerar egoísmo e injustiça social.

O autor culpa a teoria penal e substitucionária da expiação


como principal responsável pela ofuscação da dimensão social do
evangelho. Essa teoria, de pedigree estabelecido desde Tertuliano e
Cipriano, foi cristalizada por Melâncton e hoje encontra defensores
em J. I. Packer, J. R. W. Stott e em alguns teólogos adventistas corno
Desmond Ford, Smuts van Rooyen, Norman Gulley e Richard
Fredericks. De acordo com essa visão, Deus requer perfei
O :\aiNelho corno Phegziçào 4.4...) : 15ilça Social 41 11

obediência à lei, sendo que qualquer lapso é passível de punição


pela morte. Uma vez que os seres humanos não conseguem
obedecer perfeitamente, tornamo-nos todos nós merecedores da
morte. Entretanto, como Deus nos ama intensamente, Ele nos
estende sua misericórdia por meio de um plano de auto-sacrifício
que é considerado suficiente para fazer reparação por nossa
desobediência. Jesus morre, então, para estabelecer o direito divino
de perdoar. Sua morte, e apenas sua morte, provê compensação
lida falha humana. Dessa forma, Deus propicia a si mesmo e se
torna capaz de exercer seu amor e sua ira de forma absoluta,
cot ;cedendo aceitação e salvação àqueles que não as mereciam.

O autor (p. 34) contende, no entanto, que a visão penal e


nu bstitucion.ária da propiciação não é bíblica. A justiça retributiva
resolve o problema do pecado com a punição, mas não a justiça
bíblica. Para Scriven, a justiça bíblica depende da criação de
romunhão (ou comunidade) e da satisfação das necessidades
humanas. Segundo ele, o uso de Rm 3:21-26 como prova da
veracidade da propiciação penal e substitucionãria não leva em
intisideração o contexto da passagem (e de todo a carta aos
Romanos), que é o do concerto de Deus com Israel. O principal
objetivo do apóstolo é levantar a cruz como prova de que Deus
h tietwja unir a todos os cristãos numa nova humanidade. As
r tillpretwas que separam os filhos de Deus não fazem o menor
swit ido diante da graça corporifieada em Cristo. A propiciação
1 pendi e substitucionária seria, portanto, uma projeção dos
lviititiientos individualistas do homem de nossa época e acabaria
pu s 1itri buir esses mesmos sentimentos individualistas ao próprio
104 1'• HeiCi- nci0X11]

Deus, retratado como um ser individualista que sente a neces-


sidade de propiciar a si mesmo.

A cruz, no entanto, coloca a questão da justiça social no


centro da verdade bíblica. Cristo é a manifestação concreta do
cuidado e da compaixão divina pela humanidade, da fidelidade
de Deus em criar comunidade e cumprir seu concerto com ela: "a
cruz é a arriscada solidariedade de Deus para com aqueles que,
pela desobediência pecaminosa, ferem a si mesmos, a seus
semelhantes e a seu Criador" (p. 34). A justiça da cruz não é uma
abstração na mente de Deus; é uma atitude ativa de emendar os
erros, abraçar os aflitos e receber os enjeitados. E Cristo representa
o verdadeiro destino e missão tanto de Deus quanto dos homens:
prover reconciliação.

O ponto de vista de Scriven (p. 36) é que Jesus não morreu


em nosso lugar. Ele morreu em nosso favor (1 Trn 2:5). Nós
formamos com Cristo uma comunidade de pessoas que sofrem:
a cruz é posta sobre todos os cristãos" (BONHOEFFER, 1963, p.
99). Por isso, a justiça se torna uma tarefa a ser realizada e não
meramente um dom a ser recebido: colocar de lado a arrogância
do eu, da raça, da classe e do gênero. Scriven postula, ainda, que
sua compreensão social da metáfora da propiciação ilumina uma
outra característica de Deus: sua natureza intrinsecamente
contrária à violência. Explorando as idéias de Hammerton-Kelly
(1992) de que os seres humanos lidam com sua ira uns contra os
outros recorrendo à prática da "violência sagrada", isto é,
canalizando sua raiva de tal forma a hostilizar urna vitima
comurn,. o autor enfatiza que essa é urna outra dimensão que a
O Evrnel h c) comc..) Pregação ,fi Socki I 4441

I Hz resolve. Segundo ele (p. 36), a "violência sagrada" (o fervor


In comunidade contra uma vitima comum) explica a tendência
I ii iniina para atitudes exclusivistas. Paulo dirige suas veementes
reensões precisamente contra essa mentalidade de lealdades
grupais, vitánização e busca de bodes expiatórios, da qual ele
iliesino havia sido culpado enquanto perseguidor dos cristãos.

O ministério de Jesus e sua mensagem representam um


eitiorço para alcançar as vítimas da tendência humana para a
mentalidade grupai e exclusivista. Por isso, ele defendeu a não
violência, demandando o amor ao inimigo. À luz de seu sacrifício,
ri justiça de Deus é perceptivelmente não violenta e inclusiva.
I 'ode parecer que os posicionamentos de Jesus não eram políticos,
mas sua fidelidade absoluta aos princípios do amor universal e da
Inclusão social bem como sua rejeição da mentalidade de grupo
demonstram que suas atitudes eram, de fato, essencialmente
políticas. Os atos e falas de Jesus tinham o caráter de urna forma
riu rpreendente de política, aquela que se baseia no poder do
PIrrviço desinteressado.
A Redefinição do Aciventismo

DAILY, Steve. Adventism for a new generation. 3. ed. Portland, Or.:


fl 1I h'I 1 iiving,1994 [1992]. 331 p.

5
teve Daily era o capelão da Universidade Adventista de La
Sien-a já havia quinze anos, quando escreveu este livro. Seu
trabalho pastoral tem sido voltado principalmente para o
11111blto e aconselhamento de jovens, o que o levou a fazer um PhD
Fm psicologia. Sua tese nesse doutorado teve como objeto de
aril tido o projeto Valuegenesis, uma pesquisa de amplo alcance
rtmlizada com jovens adventistas sobre os mais diversos temas e
tjglit custou à IASD um investimento de cinco milhões de dólares.
O Prefácio (p. xi-xv) da obra foi escrito por Tony Campolo,
UM professor evangélico do Eastern College, na Pensilvânia.
%mundo Campolo, a religião adventista é, hoje em dia, quase que
inteiramente reconciliável com a comunidade evangélica de modo
"tal. Para ele, as recentes descobertas da teoria da relatividade
aproximaram, consideravelmente, a idéia adventista de que uma
moina repousa na tumba até a volta de Jesus e a tradicional
rtincepção evangélica de que urna pessoa vai para a presença de
Itimim imediatamente após a morte. Com um conceito relativo de
FieterOCHX!

tempo, como o proposto por Albert Einstein, as duas possibilidades


podem acabar significando a mesma coisa. Além disso, ele afirma
que pouca gente negaria, atualmente, a importância da alimentação
vegetariana, os benefícios do repouso sabático ou a incoerência da
doutrina do inferno. Para o autor, o grande e último assunto que
continua a dividir adventistas e evangélicos é a doutrina adventista
da expiação como formulada à luz da idéia do santuário celestial. O
autor endossa, finalmente, o livro que prefacia, considerando-o um
dos melhores livros escritos a fim de ajudar os adventistas a terem
uma melhor compreensão sobre si mesmos.
No prefácio à terceira edição (p. xvi-xviii), Daily apresenta
suas razões para que sejamos otimistas quanto ao futuro da IASD: a
oração mudou a União Soviética, a oração mudou a Coréia por meio
do ministério da Igreja do Evangelho Pleno e, portanto, a oração pode
mudar a IASD. Em seguida, o autor passa a explicar por que escreveu
seu livro (p.1-2). Segundo ele, há fortes indícios de que os jovens da
1ASD não tenham aprendido a avaliar sua fé de forma critica, a
questioná-la, a repensá-la, a redefini-la e, assim, se apropriar dela. Eles
não aprenderam a lidar construtivamente com as dúvidas e a
solucioná-las de forma sincera. Seu propósito é, portanto, escrever um
livro que não seja apologético, mas voltado a estimular a reflexão dos
jovens da Igreja. Seu principal temor é que alASD esteja optando por
um curso de isolacionismo ou irrelevância e, por isso, ele vê a
necessidade de que a nova geração redefina o aciventismo (p.3).

O capitulo 1, "Adventism in a crazy, mixed-up world" ("O


adventisrno em um mundo louco e confuso", p. 546), procura
demonstrar as razões do autor de que a LASD esteja se tornando
A P.edelinição do Adve ids rn o (.44

irrelevante para seu s membros mais jovens. A lASD sofre, segundo


rir, por sua negligência em relação aos problemas que realmente
leiam o mundo, por seu foco em questões triviais, por seu descaso
relação às gerações mais jovens e pelos problemas identificados
I ti() projeto Valuegenesis: frieza cong,regacional, falta de aceitação
mutua, ênfase excessiva em regras de comportamento, falta de
liberdade para pensar, programas monótonos e legalismo. O autor
identifica, nessa discussão, os cinco maiores males que afetam a
IAS!): perfeccionismo (não admitir erros), ênfase nas aparências
(tino admitir nossos verdadeiros sentimentos), espírito
condenatório (tendência a culpar as pessoas pelas dificuldades da
Igreja), falta de pensamento crítico (nunca poder falar nada acerca
(In Igreja a não ser que seja algo positivo) e hipocrisia (defender a
uniige.m da Igreja a qualquer custo).

O capítulo 2, "Toward an adventist perestroika" ("Por uma


perestroika adventista", p. 17-30), enfatiza a necessidade de uma
trestruturaçã.o da organização adventista. Segundo o autor, quem
ror opôs à reestruturação da antiga União Soviética foram os
funcionários públicos, os idosos e os setores improdutivos. Da
fliesina forma, Daily propõe que quem se opõe à reestruturação da
tupi nização adventista são os obreiros, os idosos e os membros
apáticos. Para o autor, é imprescindível que a TASD abandone sua
•ttlase na aparência exterior, pois, em primeiro lugar, ela é uma
(urina de controle; em segundo lugar, ela prejudica o
illtiiienvolvimento da autonomia moral; e, por Ultimo, ela se volve
pira lemas teologicamente irrelevantes. Segundo Daily, é neces-
lAilo que deixemos de importunar a juventude sobre assuntos sem
1■■ • ■ Hetetodo)da

importância como o uso de shorts e os ajudemos a se concentrar em


grandes questões corno saúde, habitação, opressão, racismo,
terrorismo e sexismo (shorts). De igual modo, precisamos nos
desvencilhar da imagem de "adventristes" (sadventists, em inglês)
para mostrar aos nossos jovens o vibrante estilo de vida que pode
resultar de uma comunhão íntima com Deus. Para Daily, o
autoritarismo administrativo da IASD tem trazido inúmeras
conseqüências indesejáveis: cinismo, insensibilidade em relação ao
pluralismo e à diversidade, administração burocrática sem a
capacidade de inspirar, falta de percepção das grandes tendências
mundiais, critica exacerbada aos jovens, formação de igrejas" geriá-
tricas", negligência da obra social e isolacionismo.
O capítulo 3, "Spiritual megatrends and 21st century
Adventism" ("As importantes tendências espirituais e o
adventismo do século 21", p. 31-43), apresenta as principais
mudanças de paradigma que estão ocorrendo na pós-
modernidade:
Mudança 1: do cristianismo para o pós-cristianismo.
Mudança 2: da religião individual para a religião centrada
no serviço.
Mudança 3: da religião do hemisfério esquerdo do cérebro
para a religião do hemisfério direito.
Mudança 4: da religião hierarquizada e autoritária para a
religião pluralistica.
Mudança 5: da religião patriarcal para a religião igualitária.
Mudança 6: da religião comportamental para a religião
tolerante e baseada na graça.
Mudança 7: da religião institucional para a religião
espiritual.
A Rederin ido do Adventismo 4 4 4 1

O capítulo 4, "The essence of healthy religion" ("A essência


da religião saudável", p. 44-52), apresenta as cinco principais
t aracteriísticas de uma religião saudável: dá significado à vida,
rui tua apenas aquilo que representa o bem máximo, busca
t isfazer as necessidades humanas, promove a saúde física, mental
emocional, e prioriza o amor. Segundo Daily, não ter religião é
melhor do que ter uma religião doentia. Para ele, o adventismo
1H tete ser uma religião saudável se compreender que ninguém tem o
itionopólio da verdade, se puser seu foco unicamente em Cristo, se
procurar ser inclusivo e universal, se der ênfase à satisfação das
necessidades humanas, se abandonar sua obsessão por regras de
titimportamento e se enfatizar o serviço ao próximo (como na
ria vá bola do samaritarto).

O capítulo 5, "Replanting our Adventist roots" ("Replan-


Lindo nossas raízes adventistas", p. 53-64), estabelece as diferenças
entre seita e religião institucionalizada, apontando as deficiências e
os benefícios de cada tuna. Com a institucionalização, Daily acre-
dita que a flexibilidade sucumbe à burocracia, os programas
passam a ter prioridade sobre as pessoas, a visão passa a ser secun-
dária à rotina e auto-preservação da organização passa a ser mais
vital do que os princípios do evangelho. Seu foco dirige-se, então,
para comentar as diferentes heranças recebidas pelos adventistas
das diversas tradições que impactararn a Igreja: judaísmo (criação,
Sábado, lei, espírito profético, etc), cristianismo primitivo (batismo,
dons do Espírito, santa ceia, etc), reforma protestante (graça, sola
Seriptura, sacerdócio de todos os crentes), puritanismo (obra
IHP'1" :cterodoxli

sacerdotal de Cristo no céu, ênfase no advento, não conformismo


em relação às demais religiões), metodismo (frugalidade, ênfase na
santificação, etc), milerismo (espírito de sacrifício, forte experiência
espiritual), 1844 (humildade, coragem, compromisso, fé, etc). Se-
gundo Daily (p. 63), os eventos de 184-4 foram urna grande decep-
ção: a IASD nasceu de um grande desapontamento; mas assim
também su_rgiu um outro movimento composto de crentes cansa-
dos e aparentemente iludidos que viram suas esperanças desvane-
cerem numa cruz sangrenta, somente para observa-las poderosa-
mente nascerem de novo. Daily sugere que abracemos os aspectos
positivos dessa rica herança e replantemos os aspectos negativos,
transformando nossos defeitos em virtudes e bênçãos.

O capítulo 6, "Who is God. and who am I?" ("Quem é Deus


e quem sou eu?", p. 65-71), trata de como formamos nossa ima-
gem de Deus. Segundo Daily, as crianças modelam suas concep-
ções de Deus a partir da experiência que desenvolvem com os
pais, enquanto os adultos o fazem a partir de sua experiência com
si próprios. Esse curto capítulo trata, em seguida, da identidade
humana. Daily se refere à frase de pára-choque de caminhão que
afirma "trabalho para um carpinteiro" a fim de nos lembrar que,
até a volta de Jesus, somos todos seres pecaminosos. Contudo,
nossa obra não é ficarmos concentrados em nossos pecados e nos
dos outros, mas construir as pessoas por meio da ênfase naquilo
que das têm de melhor.
O capítulo 7, "Henneneutics or himeneutics? a God who
vvrites" ("Hermenêutica ou himenêutica? um Deus que escreve", p.
A Redefiniç)o (to Ach'eutisrno 4444

72-80), apresenta as necessidades da hermenêutica adventista: (1)


redefinir Babilônia como sendo o pluralismo de nossa época; (2)
enfatizar a centralidade de 0-isto; (3) subordinar o Espírito de
Profecia ao princípio da sola Scriptura; (4) adotar urna visão cristo-
cêntrica de inspiração; (5) pôr mais ênfase na exegese do que na
eisegese; e (6) priorizar a himeneutica em detrimento da
hermenêutica. Segundo Daily, enquanto a teoria da inspiração verbal
não consegue explicar, de forma convincente, as pequenas
discrepâncias históricas da Bíblia, a teoria da inspiração plenária, por
outro lado, não consegue explicar as pequenas discrepâncias
teológicas da Bíblica porque ela não leva em conta o caráter
progressivo da revelação. Por essa razão, Daily propõe uma teoria
eristocêntrica de inspiração segundo a qual todas as declarações
usei turísticas devem ser interpretadas à luz dos evangelhos (isto é, da
vida, ensinamentos e exemplo de 0-isto). A Bíblia não foi escrita para
ser um livro de história, um tratado cientifico, enciclopédia ou
dImanaque de informação. Ela foi escrita para nos dar informação
vital á salvação. Ao processo de calibrar as interpretações das
passagens bíblicas por meie de seu cotejo com a vida, ensinamentos e
exemplo de Cristo, Daily chama de himenêutica. O autor cria, assim„
min trocadilho com o qual procura mostrar que a hermenêutica tem
por enfoque as necessidades da Igreja e se volta, portanto, para ela
(ler, em inglês), enquanto que a himenêutica se pauta por Jesus
tristo e seu propósito último e levar o crente a Ele (Him, em inglês).

O capítulo 8, "lhe Adventist atheist? questions about God"


("O adventista ateu? perguntas sobre Deus", p. 81-89), procura
mostrar que o questionamento de Deus e urna parte do
Pfr» Hcccoxii

desenvolvimento saudável dos jovens. Ele só é incomum na


religião institucionalizada porque esta não consegue perceber a
Deus como um mistério. Por isso, o questionamento de Deus não é o
maior problema da humanidade, como muitos pensam. O maior
problema do homem é a tendência de criar Deus a sua imagem. Por
outro lado, o ateísmo é ridículo porque uma criatura limitada atre-
vidamente nega a existência de um ser superior em todos os lugares
de um vasto universo. Mesmo assim, ele não é mais perigoso do que
uma fé arrogante que leva à intolerância e à desumanidade. A
segunda metade desse capítulo procura demonstrar o significado
prático da metáfora da Trindade. Deus, o Pai, representa a
majestade da Divindade e sua disposição para se doar, o que
demonstra a suficiência divina e a insuficiência humana. Deus, o
Filho, representa a revelação da Divindade e sua disposição para
compreender o homem (ao ponto de se tornar humano). A ressur-
reição de Cristo levou o mundo a uma redefini-ção da ordem social
e a uma subversão do estabelecimento religioso. O Espírito Santo
representa a onipresença da Divindade no tempo e no espaço, a
orientação divina para a verdade, a intercessão e intervenção
divinas no coração humano e a distribuição divina dos dons.

O capítulo 9, "lhe earth is the Lordis... and other clichés


embracing the creatorship of God" ("A terra pretence ao Senhor... e
outros clichés envolvendo a criação de Deus", p. 90-98), trata do
criacionismo como uma doutrina crucial da IASD. Para Daily, ser
criacionista implica na necessidade de cuidar do meio-ambiente.
Implica, também, em uma atitude de humildade, pois os cristãos
cometeram erros científicos, no passado, quando defenderam que 3
A Reciefinição cio Aciverki5mo 1144

terra era plana, disseram que o sol girava em torno da terra,


Julgaram que a extinção de animais era uma impossibilidade,
01 ninaram que Júpiter não poderia ter luas ou negaram a
1,nrisibilidade de o homem chegar à lua. Essa humildade é também
necessária porque, no passado, os cristãos perseguiram sábios
t nino Colombo, Copémico, Galileu e Newton, porque acreditavam
qiie as idéias desses homens eram incompatíveis com as Escrituras.
No entanto, para Daily, a superioridade do criacionismo sobre o
nvolucionismo é inegável, uma vez que aquele faz bem à auto-
min ina humana, cria um relaciona-mento pessoal com um Deus
onipotente, dá significado, direcionamento e propósito à vida do
boiliem, e reforça a igualdade de todos os seres humanos. Por outro
lodo, o evolucionismo solapa o testemunho bíblico de modo a
lorná-lo teologicamente irrelevan-te. O principal ponto, porém, é
que o criacionisrno foi endossado pelo próprio Cristo e passa,
portanto, em uma avaliação hinienêutica quanto à importância
tiviiima doutrina. Por que, então, alguns sucumbem à crença evolu-
i:lin-lista? Para Daily, algumas pessoas o fazem porque têm um tipo
dr raciocínio não integrativo e, por isso, julgam que é possível
ruminar o evolucionismo com a crença em Deus. Além disso, há
Pflormes semelhanças entre a fé e a ciência (de modo que muitos
abraçam a ciência como um substituto à religião). Finalmente, a
Ittpervalorização do método científico tem também contribuído
porii a intensa divulgação do evolucionismo.

O capítulo 10, "Conscientious objectors to the great


tititroversy: Adventism and the God of spiritual warfare" ("Os
Otletores conscienciosos ao grande conflito: o adventismo e o Deus
0• ■ ■ • He te r o ci o x

das batalhas espirituais", p. 99-112), apresenta as razões por que


crer no grande conflito. Mesmo diante da rejeição pós-moderna das
metanarrativas, Daily afirma sua crença no grande conflito porque,
segundo ele, (i) Jesus cria na existência do diabo e engajou em
combate contra ele; (ii) porque o tema perpassa toda a Bíblia; (iii)
porque uma visão andrógina de Deus contempla sua graça e sua
ira; (iv) porque uma abordagem holística da saúde inclui a
dimensão espiritual; e (v) porque é espiritualmente perigoso negar
a existência do diabo (ou ficar fascinado por ela). Em seguida, o
autor afirma sua crença no ministério da libertação (p. 107) e
lamenta uma citação de Ellen White, feita fora do contexto e de
forma mutilada, pelo Instituto de Pesquisas Bíblicas (BIBLICAL,
1983), com a finalidade de provar que a autora era contrária aos
exorcismos na IASD. Daily apresenta a citação na íntegra: "nenhum
de nós deveria falar em expulsar demônios para que nós mesmos
não sejamos expulsos, a não ser que estejamos certos de que, para
isso, tenhamos sido comissionados pelo céu" (Selected Messages,
v. 2, p. 353). Finalmente, Daily confirma o valor do sofrimento para
o processo de amadurecimento espiritual. Segundo ele, todo
sofrimento pode ser atribuído à influência do pecado no mundo.
Assim, deveríamos abandonar nosso complexo de Poliana e, como
Paulo (2 Co 12:9), aceitar que a tentativa de evitar o sofrimento
legítimo jaz na raiz de todo problema emocional.
O capítulo 11, "Do Adventists live disgracefully? at peace
with a God who saves" ("A vida adventista é sem graça? em paz
com um Deus que salva", p. 113-121), aborda os temas da justifica
ção e da santificação. Segundo Daily, o tema do concerto perpassa
A Re4efinição do Aciventismo "144

toda a Bíblia, sendo que não há uma dicotomia entre um velho e um


liovo concerto. O que existe é um concerto eterno! Por essa razão, o
método da salvação não muda com o passar do tempo. Uma
mentalidade de velho concerto distorce o concerto eterno, pois
iodos os concertos bíblicos (com Adão, Noé, Abraão, Moisés, Davi,
etc) são manifestações de um Único concerto, que representa o com-
promisso de Deus com o amor e a graça. O autor lamenta, então, o
resultado do projeto Valuegenesis, que mostra que mais de 70% dos
itdventistas crêem que a obediência tem uma grande importância
tin salvação. O autor termina o capitulo comum acrônimo represen-
tativo dos passos para a salvação: ASERT (admitir o pecado,
stubmeter-se à vontade de Deus, entregar os planos a Deus,
remover o pecado da vida e transmitir as boas novas aos outros).
O capítulo 12, "Dying rituais or relevara symbols of hope?
Adventist ordinances and the God of everyday life" ("Rituais
moribundos ou relevantes símbolos de esperança? as ordinanças
adventistas e o Deus da vida diária", p. 122429), afirma que os
rituais da igreja precisam recuperar sua dinâmica. O autor nos
Lembra que Jesus substituiu os rituais que afastavam as pessoas
(lavar as mãos, circuncisão, etc) pelos rituais que aproximavam as
pessoas (lavar os pés, batismo, etc). Além disso, Jesus escolheu
idtnbolos que valorizavam a vida diária e rituais que promoviam
tom unidade e comunhão. Sua sugestão é que os ritos praticados
Atualmente procurem atingir os mesmos objetivos. Assim, se
!Avar os pés era um símbolo de serviço e humildade, talvez a
Igreja devesse promover atividades que alcançassem, hoje, esse
niilismo objetivo: quem sabe lavar os carros daqueles que residem
nom proximidades da Igreja.
■■■■ 1-1 e t etodoxi i

O capitulo 13, "Cutting the leash of I egalisrn! AcIventism and


the goodness of God" ("Cortando a corda do legalismo! o
Adventismo e a bondade de Deus", p. 130-139), critica a tendência
adventista para o legalismo. Segundo o autor, o único beneficio do
legalismc.) é que, uma vez liberto dele, ninguém corre o risco de urna
recaída. Essa tendência para o legalismo teria sua origem de Ellen
Whi.te considerar a lei de Deus um dos cinco pilares da fé adventista.
Segundo ele, Jesus atacou o legalisrno sem desprezar a lei, pois o
problema do legalismo é a motivação que este entrincheira no coração
humano: perfeccionismo, escrúpulos excessivos, extemalismo (a
vida focada nas aparências) e o antinomianismo. Daily não vê, porém,
diferenças entre pecados de omissão e pecados de comissão. O
principal propósito da lei seria revelar a indignidade humana. O
autor encerra o capitulo com a metáfora da agulha. Para ele, a fé seria
unia agulha para a transfusão de sangue. É o sangue que salva e não a
agulha, mas esta é necessária.

O capitulo 14, "Holy heresy! Jesus the radical Sabbatarian"


("Santa heresia! Jesus cuidadosamente guardava o sábado", p. 140-
148), trata da doutrina do sábado: sua significai -leia, sua abran-
gência, seu simbolismo e sua guarda por Jesus. Daily contende que
a mudança do sábado para o domingo não teria acontecido no séc,
IV, conforme o ensinamento ortodoxo da IASD, mas no séc. II, a fim
de evitar as perseguições que os romanos infligiam aos judeus. Para
o autor, o sábado é um momento ideal para que os adventistas se
informem da opressão e da injustiça no mundo e ajam, de forma
criativa, a fim de aliviar o sofrimento humano. O autor encerra o
A f<ecleriniçã c) Adventismo 4441

ropitulo com conselhos práticos para a guarda do sábado: adora-


), comunhão, descanso e serviço.

O capítulo 15, "Are we Seventh-day ghostbusters? a Go d of


the whole human being" ("Os adventistas são caçadores de
fantasmas? o Deus do ser humano total", p. 149-156), trata da
natureza da alma, do inferno, do estado do homem na morte, do
In lênio escatológico e da segunda morte. Daily defende o ponto de
vista tradicionalmente adotado pela IASD de que não existe
dicotomia entre alma e corpo, de que o inferno não é um local de
ti o n tínuo tormento e de que o homem não possui uma alma imortal,

soldo a morte um repouso inconsciente até a ressurreição. No


ontanto, o autor faz a observação de que a percepção da unidade
ontre espírito e corpo não é imprescindível para a salvação e,
portanto, diferenças nessa questão não deveriam separar os adven-
listas das demais denominações cristãs. Quanto à doutrina do
Inferno, por outro lado, Daily é incisivo quanto ao fato de esse
ri sinamento ser incompatível com os princípios da religião
'mudável e, portanto, representar a própria negação do Cristia-
nismo (p. 154). Dessa forma, o autor crê que Deus não acrescentaria
qualquer forma de punição a um pecador impenitente a fim de
tornar o inferno pior do que é, como um pai não puniria um filho
desobediente que tivesse o corpo queimado ao retirar uma chaleira
quente do fogão (p. 156).

O capítulo 16, "Does God have Aids? the sanctuary doc-


trine and human suffering" ("Deus tem Aids? a doutrina do
matituario e o sofrimento humano", p. 157-168), inicia apresen-
IPP" F 1ete(1)CIOXI1

tando os fatos que impac taram a compreensão do autor acerca da


doutrina adventista do santuário celestial: (i) um devocional por
ele presenciado durante uma campal organizada pela Kinship,
cru que o orador apresentou o texto de Is 53 para demonstrar que,
de certa forma, Jesus morreu de Aids;(3) (ii) urna viagem a Calcutá
durante a qual Daily entrevistou madre Teresa; (iii) sua
percepção dos problemas da idéia de um juízo investiga tivo. Na
questão especifica do juízo investigativo, Daily admite que essa
idéia tem tido um impacto negativo sobre a juventude adventista
(conforme demonstrado no projeto Valuegenesis), pois ela é
usada para legitimar alegações legalistas e perfeccionistas. Além
disso, ela foi a razão principal por que a administração da IAS)
deu um tratamento autoritário a um de seus pregadores mais
brilhantes e espirituais: Desmond Ford. Para Daily, a lASD
deveria enfatizar o ministério intercessário de Cristo, em vez de
se ater a elementos doutrinários que promovem a desconfiança, o
controle e a crítica mútua. Para Daily, a doutrina do santuário e
essencial para uma compreensão do sofrimento humano. Sendo
assim, ele sugere que essa doutrina tenha por base as seguintes
declarações:

(i) a oração intercessária é a arma mais poderosa da Igreja;


(ii) o testemunho mais poderoso é aquele dado em meio ao
sofrimento;

3. A Kinship é uma organização independente de ministério em íavor do5


homossexuais. Para maiores detalhes, veja-se a resenha do artigo "Adventii;1..
lace hornosexua t cie El -vin Benton.
A Redefinição do Adventisrno 1+11

(iii) o segredo para superar o sofrimento e a tragédia é uma


crença radical na soberania de Deus;
(iv) o principal objetivo da doutrina do santuário é incutir
compaixão.

A doutrina do santuário mostra que Jesus morreu de


A ids. Jesus assumiu as dores e as enfermidades da humanidade e
nos chama a fazer o mesmo.

O capítulo 17, "Three angels of hope: a God who keeps


promises" ("Os três anjos da esperança: um Deus que cumpre
moas promessas", p. 169-180), trata do tema da escatologia adven-
lis ta, advertindo que um interesse excessivo por escatologia pode
não ser saudável, uma vez que este pode resultar em escapismo e
irresponsabilidade social. Após definir vários importantes
Conceitos da escatologia como disciplina teológica (dispensacio-
nállismo, arrebatamento secreto, tribulação, milênio aniquilacio-
,

nismo, preterismo, historicismo, futurismo, profecia condicional,


si tríplice mensagem angélica, etc), Daily advoga a necessidade de
que a escatologia adventista desenvolva uma compreensão mais
itistocêntrica das três mensagens angélicas:
(i) a primeira mensagem angélica nos adverte que o conflito
fina! não será sobre um dia de guarda, mas sobre quem
adorar;
(ii) a segunda mensagem angélica nos apresenta os poderes
que se opõem à religião saudável: Babilônia (= pluralismo e
confusão religiosa da pós-modernidade), a besta (= recurso
força e à violência), o falso profeta (=- qualquer ensinamento
religioso que valorize o legalismo ou proponha a salvação
por qualquer 0111TO meio que não a fé
em Jesus) e o dragão (—
poder demoníaco);
•,» F l ete-h -c:x.10x

(iii) a terceira mensagem angélica é a mensagem da


justificação pela fé.
Para provar seu postulado de que a terceira mensagem é a
mensagem da justificação pela fé, Daily recorre a uma declaração de
Ellen White, feita em um primeiro de abril: "várias pessoas me têm
escrito indagando se a mensagem da justificação pela fé é a mensa-
gem do terceiro anjo, e eu lhes tenho respondido: é a mensagem do
terceiro anjo, de fato" (Selected messages, v. 1, p. 372). Em seguida,
Daily apresenta uma interpretação integrada das parábolas de
Jesus concernentes a sua segunda vinda. De acordo com o autor,
essas parábolas precisam ser compreendidas como um todo, poiF-,
cada uma delas daria uma ênfase específica em um aspecto relacio-
nado à parousia. Dessa forma, a parábola do banquete de casa-
mento (Mt 22:1-14) identifica quais são aqueles que estão realmente
esperando pela segunda vinda: aquelas pessoas que aprenderam a
não se preocupar exclusivamente com assuntos de interesse pes-
soai, sua família, seu trabalho e seu lazer. A parábola das virgens
(Mt 25:1-13) enfatiza que é impossível saber a hora exata da volta de
Jesus e, por isso, os cristãos precisam viver em uma constante expec-
tativa. A parábola dos talentos (Mt 25:14-30) nos ensina que o modo
correto de esperar pelo retorno de Jesus é usando os talentos, de
forma desinteressada, em benefício do semelhante. E a parábola dos
bodes e das ovelhas (Mt 25:3146) enfatiza que a obra de esperar
pelo Salvador é caracterizada, principalmente, por uma atitude de
humildade. Finalmente, Daily critica o que ele chama de interpreta-
ções inadequadas para a "demora" de Jesus: (i) até que a Igreja se
torne perfeita; (ii) até que o evangelho seja pregado a todo o mundo;
A Keil e ri, içã o clo Alve ntism o • 1 41

(11i) até que os sinais se cumpram. Para ele, essas idéias são defi-
cit91(es pelas seguintes razões: (i) a justiça humana não é suficiente
jlti ia operar a salvação (Is 64:6; Cl 5:16, etc); (ii) no passado, o
rvangelho já foi pregado a todo o mundo e Jesus não retornou (Rui
I O: IS); (iii) Jesus declarou que é uma geração ímpia e adúltera aque-
la que fundamenta sua fé em sinais (Mt 16:4; Jo 20:27-29). Por isso,
I )iiily afirma que a fé verdadeira reconhece que Jesus pode retornar
n qualquer momento e constantemente aguarda a concretização
(lesma esperança.

O capitulo 18, "Are we a nonprophet organization?


Adventism and the God who speaks" ("Somos uma organização
acro fins proféticos? os adventistas e o Deus que fala", p. 181495),
aborda o que o autor considera idéias errôneas sobre os profetas: (i)
que todos os profetas têm visões; (ii) que os profetas são infalíveis;
(11i) que os profetas são perfeitos; e (iv) que todos os profetas
predizem o futuro. Segundo Daily, os profetas (i) comunicam a
mensagem de Deus; (ii) denunciam o pecado; (iii) não se
conformam ao estado de coisas na sociedade; (iv) são radicais; e (v)
exibem um tipo de amor que se sacrifica pelo semelhante. Ainda
emundo o autor, a natureza da profecia bíblica é tal (i) que ela só é
compreendida quando se cumpre; (ii) que seu propósito é fortalecer
fé; e (iii) que toda profecia que pressupõe uma resposta humana é
condicional. Por essas razões, há duas dificuldades que podem
tornar uma igreja urna organização sem fins proféticos: (i)
Incapacidade de reconhecer a Jesus como único profeta supremo e
perfeito; e (ii) incapacidade de se manter aberta para a atuação do
kspírito Santo de modo que a comunidade da fé continue a receber
Imo. He-Cernioxi

mensagens proféticas. Com base em passagens como Jo 14:16-18; 1


Co 14:1,31; 1 Te 5:19-21; e Ap 19:10,0 autor chega à conclusão de que
a idéia de que o dom de profecia é um dom raro e isolado, concedido
apenas a uns poucos indivíduos ao longo dos anos, não é uma
compreensão correta de profecia no Novo Testamento. Dessa
forma, os adventistas que aceitam o dom de profecia como tendo
sido concedido a Ellen White fariam bem em aceitá-lo também em
relação a indivíduos como Joana d'Arc, Martinho Lutem, John
Wesley, Martin Luther ICing, Desmond Tutu, etc. Os principais
testes para o dom de profecia seriam: (i) o profeta humildemente
reconhece sua insignificância em relação a Cristo; (ii) seu ministério
profético contribui para a edificação do corpo; (iii) a vida do profeta
reflete os princípios do reino de Cristo; e (iv) o profeta exalta os
ensinamentos de Cristo acima de todos os outros. Para Daily, Ellen
White passa em todos esses critérios. No entanto, segundo ele, os
membros da igreja às vezes usam seus escritos de forma
disfuncional e doentia, alegando, para eles, uma autoridade maior
do que aquela a eles atribuída pela própria Ellen White (p.194).

O capítulo 19, "Milgram's pilgrims': Adventism and the


Cod of noriconformists" ("Os peregrinos de Milgram': os adven-
tistas e o Deus dos não-conformistas", p. 196-205), aborda as falsas
compreensões de religião: (I) a religião como conformismo; (ii) a
religião como uma muleta emocional; e (3) a humildade como pas-
sividade diante da victimização. Quanto à questão do conformis-
mo, o autor se preocupa especialmente com a dimensão grupal do
mesmo. Com base nos estudos de Asch (1956) e Milgram (1963;
1964), Daily propõe que comportamentos de conformidade grupai
A Redefinujo cjo AcIventismo 44 41

Uit i geralmente conseqüências sociais negativas, havendo correia-


‘ao direta entre conformidade e falta de amadurecimento moral e
correlação inversa entre conformidade e religiosidade saudável.
l'a ra Daily, os primeiros adventistas se caracterizavam justamente
por sua natureza inconformista: eram pessoas que haviam sido
rx pulsas de outras denominações religiosas, não aceitavam doutri-
nas quando não estavam absolutamente convencidos de sua base
bíblica, resistiram à organização formal e defendiam radicalmente
ns idéias abolicionistas. Daily contrasta o inconforrruismo dos pri-
I% i ros adventistas com o que ele diz ser a natureza conformista dos
ndventistas de nossa época, que, como muitas outras denominações
protestantes, teriam dado apoio velado a Hitler, na Alemanha, e à
ditadura na Rússia. O autor estabelece, ainda, um contraste entre a
rel igião saudável e a religião malsã (p. 198-199):

Religião Saudável Religião Malsã


- inclusiva - etnocêntrica e exclusiva
- atitudes sociais pró-ativas - atitudes anti-sociais
- inconformismo - conformismo
- comportamento altruístico - comportamento egoísta
- pessoal - institucional

Daily conclui o capítulo advertindo que o mais sutil,


!sofisticado e compreensivo ataque contra o cristianismo vem de
um humanismo ético fortemente identificado pelos ideais da
nova era (p. 202). Para ele, a única forma de a IASD poder superar
meie grande desafio é romper o silêncio de seu longo confor-
o' • VI Cie ei O X a

mismo. Ou seja, a Igreja precisa ensinar os seus jovens a discordai


e desenvolver personalidades autônomas.
O capítulo 20, "Dangers of growing up iri an Adventisi
home: blessings a_nd curses of Adventist fami.ly He" ("Os perigtx.
de se crescer em um lar adventista': bênçãos e maldições da vida
familiar dos a dventistas", p. 206-216), trata, inicialmente, da,:
principais mudanças sofridas pela típica família adventista, nos
Estados Unidos, em tempos recentes: (i) tanto o pai quanto a mau
agora trabalham fora; (ii) a diversão se tornou um vício para a
família; (iii) menos tempo é gasto com a interação e o diálogo; (iv) e
culto doméstico não é mais uma prioridade; (v) as família
adventistas dependem, agora, mais da escola para a transmissão de
valores religiosos; e (vi) as famílias adventistas sofrem agora das
mesmas disfunções comuns às famílias não adventistas. O autor
chega a mencionar a preocupante estatística de que, no nordeste
dos Estados Unidos, os adventistas e os mormons têm uma maior
incidência de incesto do que os demais grupos religiosos. Além
disso, a Igreja parece incapaz de ajudar suas famílias disfuncionais
porque, em primeiro lugar, a família do pastor é geralmente mais
disfuncional do que as dos demais membros_ A razão disso é que os
pastores se mudam com mais freqüência, têm suas atividades
familiares interrompidas com frequência por causa de seus deveres
pastorais e tentam viver em função das expectativas irrealistas dos
membros. Outra razão por que a Igreja tem dificuldades de ajudar
famílias disfuncionais é que a família é, hoje, bastante diferente da
família dos tempos bíblicos e, por isso, não e possível relacionar a
A kellefiriço do Advenfismo 444-4

Ifitiwriencia das famílias bíblicas à das famílias de nossa sociedade.


A iiii4ar disso, podemos tirar algumas lições das histórias de Jacó e
(i) o abuso familiar se perpetua nas diferentes gerações; (ii) é
comum a existência de rivalidades entre os irmãos; (iii) a
wipiritualidade é, às vezes, tomada como indício de fraqueza; (iv)
tragédias podem, de fato, ocorrer como resultado das brigas
tniniliares (mesmo entre pessoas boas); e (v) não se pode ser feliz
aierit paz familiar. Finalmente, a Igreja tem dificuldades para ajudar
Nb famílias, porque reproduz o mesmo sistema de comunicação
deficiente hoje existente em suas famílias; seu sistema formal de
vulto não nos ajuda a ser sinceros sobre nossos verdadeiros
problemas e, por último, porque sua ênfase excessiva em doutrinas
ti verdades racionais menospreza a importância das emoções em
relacionamentos saudáveis. Segundo o autor (p. 215), é muito mais
fácil distribuir folhetos no sábado à tarde do que ser um cristão de
verdade em casa. A ironia é que, segundo Ellen White (O lar
adventista, p. 317), a religiosidade que vale diante de Deus não é
01111Cla que exibimos na igreja, mas a que vivemos em casa.

O capitulo 21, "Damned through the church? the Adven-tist


ehurch and its future" ("Perdidos por causa da igreja? o futuro da
Igreja Adventista", p. 217-228), salienta que há muita amar-gura no
meio adventista porque a Igreja promete resultados que não
eptisegue obter. O autor sugere que a frase "choro e ranger de
dentes" descreve perfeitamente a situação de pessoas que vive-ram
toda sua vida em cumprimento de regras e regulamentos externos e
nua bam profundamente decepcionadas, frustradas e cheias de ira
■• ir » 1-1 .--2 -ter o doxi i

quando se percebem excluídas do reino (p. 218). Com efeito, o autor


invoca o conceito de "ortodoxia morta" (proposto por Kirkegaard)
para afirmar que alguns membros da igreja condenaram o
progresso e a verdade por causa de sua idolatria à tradição, "demi
mando o sangue de nossos profetas" em nome daquele que demi
mou Seu sangue por nós (p. 219). Em seguida, Daily louva o espíritn
de abertura da revista Spectrum que tem dado voz 'àqueles que
querem reformar e melhorar a igreja, mas lamenta sua ineficácia po r
causa de duas graves limitações: o conflito de gerações (seus edito
res são obreiros aposentados) e sua circulação restrita aos meio);
acadêmicos (p. 219). Por outro lado, Daily castiga principalmente
ortodoxia adventista cujos problemas, segundo ele, incluem (i) seu
discurso desvinculado da prática; (ii) sua co-dependência de
formas destrutivas de administração eclesiástica; e (iii) sua religião
disfuncional caracterizada por dez defeitos principais: (i) exclusi
vismo; (ii) autoritarismo; (iii) excessiva ênfase apologética; (iv)
natureza punitiva; (v) ênfase excessiva no serviço; (vi) constipação
emocional; (vii) comunicação fechada; (viii) legalismo; (ix) falta de
prestação de contas; e (x) estereotipização. Daily analisa os estágio).
de desenvolvimento eclesiástico propostos por Moberg (1984): fase
de organização incipiente (rol do berço), período de organização
formal (infância), período de eficiência máxima (adolescência),
institucionalismo (fase adulta) e período de desintegi ação (velhice).
e, então, se refere aos principais estudiosos das características da ie
saudável (BENSON; EKLIN, 1990; ARTEBURN; FELTON, 1991) e
defende a idéia de que não existe correlação entre fé saudável e
crescimento numérico. O autor se volve, então, para a questão do
A R.eleti 1? ição cie AC1VentiSMO 4141

liaturo da Igreja, apresentando uma comovente passagem da obra


dr 1 la ns Küng (1968, p. 49):
A que tipo de cristão e a que tipo de Igreja pertence o
futuro? Não a uma igreja que é preguiçosa, superficial,
indiferente, tímida e fraca nafé; não a uma Igreja que espera
obediência cega e fanatismo; não a uma Igreja que é escrava
de sua própria história, sempre com o freio de mão puxado,
suspeitosamente defensiva e, ainda assim, forçada a
capitular; não a urna Igreja que é anti-crítica ou
praticamente anti-intelectual. Não a uma Igreja que não
enxerga seus próprios problemas, suspeita do
conhecimento empírico e, ainda assim, alega ter autoridade
competente para tudo e para todos; não a urna Igreja que é
combativa, impaciente e injusta no diálogo; não a uma
Igreja que permanece fechada para o mundo real. Em suma,
o futuro não pertence a urna Igreja que é desonesta. Não, o
futuro pertence: a urna Igreja que sabe o que ela não sabe; a
uma Igreja que depende da graça e sabedoria de Deus, e
tem uma confiança radical em Deus quando encara suas
próprias debilidades e ignorância; a uma Igreja que é forte
na fé, alegre e segura de si mesma, ainda assim, auto-critica;
a uma Igreja repleta de desejo intelectual, espontaneidade,
animação e frutos; a uma Igreja que tem a coragem da
iniciativa e coragem para correr riscos; a uma Igreja que se
encontra inteiramente aberta à realidade. Em suma, o
futuro pertence a uma Igreja inteira e completamente fiel.

O autor conclui este provocante capítulo, propondo que um


ormi-congregacionalismo que concede mais liberdade à igreja local
fiel que concerne a sua administração e pequenas divergências

r dinil rinárias é a melhor alternativa para o impasse administrativo


sEi lASD. Segundo ele, (i) o sem i-corigi egacionalismo é compatível
■■■ • 1-ietercelovi

como institucionalismc.) atual da igreja; (ii) é urna exigência da crise;


(iii) já é praticado de forma incipiente, mas eficiente pela Associação
do Sul da Califórnia; (iv) provê uma atmosfera que fomenta Li
tolerância e a participação; (v) funciona bem com urna estrutura de
pequenos grupos provedora de experiência religiosa íntima e
espiritual; (vi) é ideal para a prestação de contas daqueles que
lideram a Igreja em posições administrativas; e (vii) está em harmo-
nia com as previsões dos maiores entendidos em organização de
Igreja que valorizam o conceito da meta-igi eja (GEORGE/1991).
O capitulo 22, "Jesus, Parkinsons law and Adventist educa •
tion" ("Jesus, a lei de Parkinson e a educação adventista", p, 229--
239), apresenta as impressionantes realizações do sistema educa-
cional adventista: cerca de 15% dos adventistas freqüentam escolas
da denominação ao redor do mu_ndo e 70% dos adventistas da Asso-
ciação Adventista cio Sul da Califórnia freqüentam ou freqüenta-
ram escolas adventistas. Nenhuma outra denominação religiosa
chega nem perto dessas estatísticas. Para o autor, uma filosofia
verdadeiramente adveritista de educação integral (ou holistica)
deveria ser caracterizada por: (i) uma busca da sabedoria corno dom
de Deus; (ii) uma oposição ao dogmatismo arrogante da direihi
religiosa; (iii) e uma oposição à glorificação da ciência (p. 231-232).0
autor comenta, em seguida, as doze principais dificuldades do
sistema educacional adventista na atualidade: (i) falta de profes-
sores adventistas qualificados dispostos a trabalhar em escolas
adventistas; (ii) baixos salários dos professores adventistas; (ii i)
diminuição gradativa das matriculas de jovens que nasceram
Redh.2 ifinição co Altventistno

ddventistas; (iv) abandono prático dos aspectos distintivos da


filosofia educacional adventista; (v) diminuição da integração fé e
ensino no nível do currículo; (vi) diminuição proporcional de
iilkilrículas em relação ao crescimento da Igreja; (vii) diminuição da
libraiode dos professores à medida que o currículo é definido por
sitIministradores e não por profissionais da área educacional; (viii)
Influência reducionista do Instituto de Geociência que advoga uma
versão do criacionismo que não é mais possível com o desenvolvi-
'Isento teológico e cientifico da Igreja; (ix) aumento dos custos da
educação adventista; (x) ênfase excessiva em regras externas de
vomportamento; (xi) influência negativa de um ensino religioso
voltado para o desenvolvimento cognitivo em vez do desenvol-
imento relacional; e (xii) isolamento da sociedade. Daily tira lições
da visita do menino Jesus ao templo (p. 234-237), lembrando-nos
que (i) os adolescentes têm mais discernimento do que lhes é cre-
ditado; (H) pode - se ter autoridade sem se apegar ao poder; (iii) deve-
Mos ser pensadores autônomos e não meros refletores do pensa-
mento de outros; e (iv) precisamos saber quem somos. O autor fala
Ainda da lei de Parkinson, segundo a qual "o aumento no número
tiv posições administrativas em uma organização é mais o resultado
do natureza intrínseca da burocracia do que do fato de existirem
roponsabilidade adicionais ou aumento no volume de trabalho"
(PARKINSON, 1957, p. 4), lembrando-nos que Jesus não tinha
Iiitvrtsse em galgar posições na hierarquia eclesiástica de sua época.
O autor conclui o capítulo, afirmando que os pais adventistas
IvIrgararn à escola a obra de educar seus filhos religiosamente e
11041 " F- IttÁC E- C)CIOXI..1

que, se essa tendência não for revertida, graves conseqüências


seguirão (p.238).

O capitulo 23, "Adventism, mission and kingdom theo


logy: can we learn from our third world growth?" ("A Igreja
Adventista, sua missão e a teologia do reino: podemos aprender de
nosso crescimento no terceiro =Ido?", p. 240-251), parte da expe-
riência bem sucedida da Igreja Evangélica de Willow Creek para
propor urna teologia das missões mais contemporânea para a IASD.
Segundo o autor, os adventistas estão ansiosos demais em ensinar
quando deveriam buscar aprender (p. 243). Para Daily, urna efetiva
teologia das missões a IASD deveria ter a seguinte compreensão: (i)
o evangelismo é uma manifestação sobrenatural e não uma conse-
qüência natural do uso dos talentos humanos; (ii) é tão necessário
alimentar o mundo física quanto espiritualmente; (iii) o evangelis-
mo deve transcender a dimensão das palavras e incluir ações soci -
ais; (iv) o evangelismo deve centrar-se em Jesus; (v) o evangelismo
não pode impor urna cultura sobre outra, Daily apresenta, ainda, os
seis principais desafios para as missões adventistas atualmente (p.
246-247): (i) elevado índice de apostasia; (ii) impotência diante das
necessidades de pessoas secularizadas; (iii) tendência para a forma-
ção de enclaves (75% dos adventistas vivem onde apenas 30% da
população mundial vive); (iv) estrutura institucional antiquada e
em fase de desintegração; (v) obsessão com os números; e (vi) relu-
tância em aprender de outras denominações. Segundo Daily, a
experiência bem sucedida da Vineyard em que uma única congre-
gação teve um impacto evangelistieo mundial (especialmente entre
:2-..eciefinição cio Ajvc_.1) -Usn)c) 4444

pessoas não cristãs de países do terceiro mundo) prova que a IASD


niio precisa de urna estrutura organizacional pesada para ter
MICCSSO na obra das missões (p. 248). O autor conclui o capítulo
Unindo lições do trabalho de Peter Wagner e do staff do Seminário
litiller: os carismáticos crescem trinta vezes mais depressa do que a
IASD porque dependem mais do Espírito Santo para esse cresci-
mento. Para que a IASD possa ter níveis de crescimento compa-
llveis, Daily pro-põe dois ingredientes fundamentais: confiança
dhsoluta no poder do Espírito Santo e interesse em libertar a
juventude adventista da condenação que ela tem experimentado,
no longo dos anos, na lASD.

O capítulo 24, "The predicament of the prosperous:


Adventists and their money" ("O dilema da prosperidade: os
ndve.ntistas e suas finanças", p. 252-261), apresenta o perfil dos
ndventistas do sétimo dia nos Estados Unidos hoje. Segundo ele,
essas pessoas (i) dão grande ênfase capitalista a seu estilo de vida;
(ti) relegaram a doutrina da simplicidade a um papel insignificante
em suas opções de vida; (iii) são mais educadas do que os adven-
tistas de antigamente; e (iv) têm uma melhor situação financeira,
mas não são bons dizimistas. O autor põe em descrédito as explica-
ções religiosas para a prosperidade dos Estados Unidos: (i) a idéia
de Max Weber de que a ética protestante é a responsável pelo
sucesso do capitalismo americano; (ii) o discurso de Gerald Ford
que alegava que "a grandeza americana se liga à bondade america-
na"; e (iii) a declaração do administrador adventista Niels-Erik A.
Andreasen de que "ser cristão é fazer tudo bem feito". Aceitando a
11. ■■ • F-1 C t 1.- 010X I a

tese de. Niebuhr (1957), Daily (p. 255) afirma que o denomina
cionalismo nada mais é do que um reflexo do capitalismo: as pesso
as se convertem às igrejas populares (pentecostais e batistas), mi
gram para as igrejas de classe média depois de certo tempo
(metodistas e luteranos) e, quando obtêm sucesso financeiro, pa,-;
sarn para as igrejas de classe alta (presbiterianos e episcopais).
Segundo essa teoria, católicos e adventistas não percorrem essa
trajetória porque têm a característica comum, nos Estados Unidos,
de conseguirem acomodar bem as pessoas pertencentes a todos e:
níveis sociais. Daily conclama os líderes da EASD a redefinirem a
teologia adventista de mordomia diante do fracasso motivacional
que esta tem experimentado nos Estados Unidos. Uma nova
teologia adventista de mordomia deveria incluir: (i) ecologia; (ii)
ativismo anti-bélico; e (iii) justiça social, afinal de contas, Deus no,.;
colocou neste mundo para zelar por este planeta. Segundo Daily (p.
259-260), enquanto o lucro é incompatível com o evangelho (LE
16:13), a IASD acumulou um patrimônio tão extenso que seus
líderes se comportam mais como executivos de multinacionais do
que humildes servos de Deus. Lamentavelmente, segundo Batl
(1991, p.35-40), a maioria dos cristãos dos Estados Unidos adora seu
trabalho, trabalha em sua diversão e diverte-se em sua adoração.

O capítulo 25, "lhe high stakes game of medicine, health


and healirtg" ("O jogo de cacife alto da medicina, saúde e cura", p.
262-271), apresenta, inicialmente, as razões por que é difícil crer na
cura por meios sobrenaturais: (i) as ações de Deus são misteriosas e
de difícil compreensão; (ii) o cérebro humano é um Órgão de
A cdchn ?do Ào Adventi5mo .444

sobrevivência e seu funcionamento depende principalmente da


porcepção daquelas coisas que nos podem trazer vantagem em urna
instspectiva concreta; (iii) o assunto da cura é complexo, pois envol-
vi , dimensões como a profilaxia, o tratamento, a justiça social e os
milagres; (iv) existem tendências extremistas sobre o assunto; (v) é
L I if ici I pensar holisticamente; e (vi) uma experiência anterior com o
mobrenatural é imprescindível para a aceitação da possibilidade da
oura por meios sobrenaturais. Segundo o autor (p. 263), os extremos
nossa área são tão comuns que mesmo Ellen White sucumbiu a eles
no declarar, em 1849, que os enfermos da Igreja não deveriam bus-
car a ajuda de médicos, mas depender exclusivamente de Deus.
Quando a irmã Prior veio a óbito, no ano seguinte, após ter recusado
urna consulta médica, Ellen White voltou atrás em sua declaração
que acabou removida do livro Primeiros escritos (p. 56-58). Desse
início aparentemente avesso à medicina, o autor descreve o que
duma de "medicalização da 1ASD" (p. 265), por meio do qual a
ética cristã se tomou sinônimo de ética da saúde. Segundo ele,
Allitiilo que era para ser o braço direito da Igreja assumiu o controle

do corpo todo. Em sua visão, esse processo foi resultante de vários


fatores: (i) a liderança financeira que as instituições adventistas de
maúde passaram a ter; (ii) a influência da legislação de saúde por
parte do governo norte-americano; (iii) a influência que os hospitais
adventistas passaram a ter sobre as escolas adventistas; e (iv) o fato
de os profissionais de saúde terem passado a ser a elite intelectual
da IASD, chegando a desenvolver certo complexo de superioridade
em relação aos demais obreiros. Apesar disso, Daily aponta os
■■ • !eter c.):.1c.)x

vários pontos fortes da mensagem adventista de saúde: (i) o fato cie


esta ter se tornado a mais efetiva marca de identificação dos adven-
tistas nos Estados Unidos; (i.i) a impressionante rede de 310 clínicas
e 162 hospitais mantidos mundialmente pela IASD; (iii) o reconhe-
cimento internacional de que os adventistas são menos susceptíveis
às enfermidades do que os demais segmentos da população
mundial; e (iv) a maior longevidade dos adventistas dos Estados
Unidos: os homens adventistas vivem, em média, seis anos a mais
do que os demais, e as mulheres adventistas vivem, em média, três
anos a mais que as demais. Não obstante, o sistema médico
adventista também enfrenta dificuldades: (i) débito galopante que
levou à regionalização das instituições de saúde a fim de que estas
escapassem das possíveis consequências da falência em massa; (in
incompetência administrativa; e (iii) certa incompatibilidade com o
exemplo de Cristo (que se interessava pela cura das pessoas, mas
não cobrava por ela). Daily sugere, então, os princípios que ele
gostaria que norteassem a teologia adventista de saúde: (i) consis-
tência; (ii) equilíbrio; e (iii) ênfase em princípios. Para ele, os prin-
cípios mais importantes dessa teologia seriam: (i) submissão á
vontade de Deus; (ii) contemplação das dimensões físicas e mentais;
(iii) ênfase na auto-estima do indivíduo; (iv) ênfase nas relações
sociais; (v) maior ênfase nos exercícios físicos do que na dieta.

O capítulo 26, "Rediscovering our Adventist heritage: Ad


ventism and charismatic renewal" ("Redescobrindo nossa herança
adventista: a Igreja Adventista e a renovação carismática", p. 272
281), analisa as explicações propostas por teólogos denomina
A kedefinierão do Nventismo •411

i o nais para a ênfase carismática inicial da IASD. Segundo o autor,


lois filósofos entendem que a IASD se "afastou das manifestações
t tt rismáticas que foram comuns no início de sua história por uma de
ti tias razões: (i) ou porque os membros se sentiram embaraçados
pelos escândalos provocados; ou (ii) porque tais manifestações
ocorreram simplesmente como um rito de passagem para o ama-
durecimento espiritual da IASD. Daily lamenta que qualquer uma
dessas situações possa ter ocorrido e salienta que as manifestações
• I
do Espírito têm, geralmente, as seguintes características: (i) são
poderosas e estranhas; (ii) são surpreendentes; (iii) são incontro-
iilveis; (iv) provocam as forças do mal; (v) provocam divisões
(porque algumas pessoas as rejeitam). Parece, portanto, que, para
o abandono da ênfase carismática inicial da IASD se liga mais às
necessidades de controle sentidas pelos administradores da Igreja e
de suas atitudes: (i) naturalismo (apreciar mais o fruto da árvore do
conhecimento do que da árvore da vida); (ii) hagiolatria (veneração
dos profetas do passado em detrimento dos profetas de hoje); e (iii)
denominacionalismo (desejo de construir tendas para Moisés e
Plias em vez de adorar a Cristo em espírito e verdade). No entanto, o
dutor reconhece que a excessiva ênfase carismática de algumas
denominações tem descambado para uma espécie de carismania
Inconseqüente. Daily reclama, ainda, que a IASD tem colocado em
mondo plano verdades que deveriam ser seu carro-chefe: (i)
entrega total a Jesus; (ii) adoração expressiva; (iii) dom de cura; (iv)
batismo do Espírito Santo; (v) dom de línguas; (vi) visões; e (vii)
dom de profecia. Segundo Daily, os adventistas se demoram no
pivoiado ou no futuro, mas perderam a visão para o presente, uma
hittfação que é agora insustentável (p. 281).
■ ■■ ,

O capítulo 27, "Kingdom life from womb to tomb and be-


yond lhe Tomb: Adventism and social ethics" ("A vida no reino do
ventre da mãe ao ventre da terra e além do ventre da terra: a Igreja
Adventista e a ética social", p. 283-293), procura explicar por que os
adventistas devem se engajar em causas sociais: (i) razões
históricas, já que os pioneiros dal ASD foram ativos abolicionistas, e
somente após as desavenças entre Ellen White e William Gage,
prefeito de Battle Creek, os pioneiros optaram pelo isolamento
social; (ii) o exemplo de Cristo, cujo foco principal era libertar os
cativos, resgatar os oprimidos, derrubar todas as formas de
injustiça social, defender os excluídos e romper os grilhões do
pecado e da morte; (iii) necessidade de uma agenda pro-vida em
face das profecias bíblicas de que os pais, um dia, devorariam os
próprios filhos, o que ocorre, hoje, através dos abortos, violência na
mídia, pornografia, filmes de terror, música abertamente satânica,
poluição e destruição do meio ambiente. Para isso, Daily propõe
que a IASD adote uma postura radicalmente favorável às crianças,
aos pobres, aos idosos, às mulheres, às minorias e às massas. Pari
combater o aborto, segundo Daily (p. 286), a Igreja deve continuar a
condenar a irresponsabilidade sexual dos dias atuais (considerada
o principal fator causador de abortos, FRANCKE, 1978) e deixar
claro que os principais defensores do aborto são homens que
apreciam a disponibilidade de mulheres para relações sexuais
ilícitas (HARRISON, 1983, p. 163). Em resposta a um tipo de exegee
de Êx 21:22-23 que aponta essa passagem bíblica como favorável ai]
aborto, Daily apresenta os seguintes argumentos contrários ,1
A ReLi -nçâ o do AcIventi5ino 4444

prática: (i) versos bíblicos que indicam que Deus valoriza a vida a
partir da concepção 06 31:15; Is 49:1,5; Jr 1:5; etc); (ii) citações que
mostram que a igreja primitiva condenava o aborto; (iii) citações
mostrando que Ellen White também condenava a prática; e (iv)
estudos que apontam que o abuso infantil cresceu, nos Estados
Unidos, nos estados favoráveis ao aborto. Depois de falar
brevemente da opressão contemporânea aos pobres e idosos, Daily
gr demora na situação das mulheres, procurando mostrar
evidências de que elas ainda são vítimas de opressão mesmo nos
IP:siados Unidos: (i) legislação prejudicial às viúvas; (ii) penalidades
resultantes dos divórcios; (iii) discriminação generalizada contra o
1 feminismo; (iv) desigualdades salariais; e (v) violações de seus
direitos humanos. O capítulo termina com sugestões sobre as
formas como os adventistas podem se engajar socialmente em
defesa dos oprimidos: (i) agindo como grupo; (ti) fazendo oposição
consistente; (iii) boicotando produtos que apóiam filmes
pornográficos e/ou violentos; (iv) associando-se a entidades de
defesa dos oprimidos; e (v) participando politicamente.

O capítulo 28, "From the Adventist gay to Baby Fae: other


çontroversial issues facing the Church" ("Dos adventistas
homossexuais a Baby Fae: outras questões controversas que
Incomodam a Igreja", p. 294-311), lamenta que os adventistas só se
• pronunciam sobre os temas tratados por Ellen White. Por essa
razão, a IASD se abstém de se manifestar publicamente acerca do
• unto mais delicado que a Igreja enfrenta hoje: o homossexua-
lismo. Diante das petições de duas organizações que ministram aos
c te 1-exi o x ia

homossexuais, urna delas oficial, mas mareada por escândalo?.


(Quest) e a outra não oficial (Kinship),eu o autor apresenta seu
próprio ponto de vista quanto ao assunto: (i) o homossexualismo é

resultado do pecado; (ii) Deus odeia o homossexualismo, mas ama


os homossexuais; (iii) a Bíblia declara que o homossexualismo ter /1
cura (1 Co 6:9-11); (iv) o homossexualismo é resultante de condiçõt.y,
pré-natais e influências posteriores; (v) os cristãos em geral sam
culpados de discriminar e ostracizar os homossexuais; e (vi)
essencial que a IASD desenvolva mais compaixão pelo.
homossexuais. Em outros assuntos relacionados à sexualidade,
autor argumenta que a herança vitoriana de Ellen White e John 1
Kellogg, os dois expoentes adventistas que mais influenciaram .1

percepção adventista da sexualidade, levou os membros da Igreja


urna visão retrógrada da sexualidade e bastante incompatível com
as descobertas da ciência (p. 296-297). Posicionamentos bizarros.
corno a condenação da masturbação como forma legítima de
experiência sexual, no livro Mensagens aos jovens, devem sul .,
portanto, abandonados. No assunto da música rock, o autor (p. 29S
299) entende que esse estilo musical tem associações negativas na
mente dos conservadores, mas a IASD nunca deveria tirar ao clo7
jovens sem lhes prover um substituto adequado. Segundo ele
299), "não se combate o mal com o vácuo". Ele observa, além disso,
que a. oposição da Igreja ao rock é o resultado, primeiramente, de
IASD se opor a toda e qualquer inovação; em segundo lugar, de soil

4. A Kinship é Unia organização independente de ministério em lavei 1.


homossexuais. Para maiores de ta ites, veja-se a resenha do artigo "Ad .1
face homosexuahtv" de El vin Benton.
A Read-ir-HO° do Adventismo .444

obsessão por coisas triviais e externas; e, finalmente, de sua ênfase


no controle externo e temor de ensinar os jovens a pensarem por si
mesmos. Na questão da reforma da saúde, Daily pensa que a IASD
' deveria, primeiramente, enfatizar consistência e não apenas os
Aspectos seletos que ela tradicionalmente promove e, em segundo
lugar, enfatizar os exercícios físicos como sendo mais importantes

I 300)
6
do que dieta. Para justificar essas conclusões, Daily menciona (p.
a entrevista que fez com Walter Stack, um homem que bebe em
todas as refeições, mas que pratica exercícios físicos de forma
consistente, o que lhe tem proporcionado uma vida longeva e
I Nd u dável. Em seguida, Daily procura mostrar evidências de como a
LASD tem sido incompetente para lidar com o assunto do divórcio:
(1) a realidade de 25% dos casamentos adventistas terminarem em
d ivórcio nos Estados Unidos; (ii) a sua falta de estrutura para ajudar
os divorciados e seus filhos; (iii) o legalismo; e (iv) a hipocrisia. Para
demonstrar a que ponto se chega em relação a esse último tema,
Daily (p. 301) menciona o caso de um médico adventista que era
impotente e, por isso, abandonou a esposa. Como não havia ocor-
rido adultério, a esposa não estava livre para casar-se novamente e
Ao viu forçada a convencer o esposo a forjar mn adultério a fim de
liberá-la. Neste capítulo dedicado aos temas sociais mais polêmicos,
Daily critica também a apatia política dos adventistas. Segundo ele
(p. 302), a IASD só se envolve politicamente em assuntos pertinen-
, les a sua auto-preservação„ o que considera indesculpável e egoísta.
km seguida, o autor aborda o assunto dos vícios, adotando a
posição de que a IASD deveria continuar exigindo abstinência total
r de álcool e tabaco para seus membros regulares, mas não deveria
i et e E. 01.1 O X R

fazer a mesma exigência em relação aos novos membros. O aull )r


usa dois argumentos para justificar seu posicionamento: (i) estud(
que mostram que o alcoolismo é urna propensão genética e (ii)
argumento de que nenhum pescador limpa o peixe antes de fisga
lo. Em seguida, Daily critica a aversão adventista aos sindicato,
trabalhistas, afirmando que esta não é uma perspectiva equilibra L I ■
(p. 304). Além disso, o autor reclama do mau exemplo dado pelii
organização adventista, famosa por ser injusta e exploratória ei
questões trabalhistas, lembrando-se do famoso processo de Meri
kay Silver, perdido pela Igreja por discriminação praticada contra
as mulheres por ela empregadas (McLEOD, 1985). O autor se
indigna, ainda, contra a prática da Igreja de remover de seu rol de
membros os nomes daqueles que movem processo judicial contni
ela. Outro tópico quente discutido no capitulo é o preconcein
adventista contra a psicologia. Lamentando que esta seja uma
situação comum também em outras denominações, o autor (p. 305)
a atribui à desinformação e conclui que um psicólogo cristão pode
dar uma excelente contribuição para os membros da Igreja que
necessitem de cura emocional. Ao tratar do preconceito adventista
contra esportes competitivos, o autor o atribui à reação extrema de
Ellen White diante dos excessos de sua época. Segundo ele (p. 306),
mesmo a proibição da Associação Geral não inibiu o apaixonado
debate que tem ocorrido nos Estados Unidos sobre o assunto. Para
ele, os aficionados esportivos têm razão em reclamar que a IAS])
valoriza os talentos musicais e acadêmicos, mas despreza os talen-
tos esportivos. Por isso, ele sugere que a Igreja procure corrigir esse
comportamento que aliena tantos jovens hoje em dia. A penúltima
Redenniçáo do AdventIsmo 14 11

ilêmica abordada por Daily é a questão dos cultos chamados de


"relebration". Para ele, é imperativo que a IASD adote uma postura
o ir valorize a diversidade na adoração para que pessoas diferentes
i'4tid111 se beneficiar de estilos diferentes de culto. Finalmente, o
motor conclui o capítulo defendendo o centro médico de Loma
L inda por ter realizado, em 26/10/1984, o transplante de um
coração de babuíno para a criança que se tomou mundialmente
onhecida como Baby Fac. Apesar dos protestos dos defensores dos
direitos dos animais e apesar de concordar que os animais não
devam ser maltratados, Daily argumenta que a vida humana ainda
0 mais importante que a vida de animais. Sua única objeção é que
toMto dinheiro seja gasto na tentativa de preservar a vida de alguns
quando tantas crianças perecem hoje no mundo simplesmente por
titila de nutrição e cuidado adequados.
O capitulo 29, "The heretical imperative: Adventism,
ecumenism and other churches" ("O imperativo herético: a Igreja
Ádventista, o ecumenismo e as outras igrejas", p. 312-316), trata
brevemente do preconceito adventista contra o ecumenismo. Se-
gundo ele, esse preconceito se deve, entre outras coisas, (i) ao temor
da lei dominical, (ii) à rejeição da política liberal do Concílio Mun-
dial de Igrejas, (iii) à impotência do Concílio Mundial de Igrejas de
unir a cristandade, (iv) à natureza isolaciorUsta da organização
adventista, e (v) ao afastamento produzido pela escatologia adven-
(ista, que é mareada por um alto grau de etnocentrismo. Para Daily
(p. 315), o futuro da Igreja cristã é a morte das denominações,
conforme esta é sugerida pela crescente diminuição de membros
experimentada pelas seis maiores denominações protestantes, nos
otifr. H eterodox ia

Estados Unidos, desde a década de 1980. Para ele, uma denomi


nação isolada nada mais é do que uma Igreja que sofre de esquizo
frenia. Para resolver essa dificuldade, Daily sugere que os adven tis
tas (i) parem de falar da IASD como a Igreja remanescente; (i i)
freqüentem outras igrejas no domingo a fim de conquistar sua ami
za.de ; (iii) façam parte de organizações não governamentais (pa ia
curar sua tendência para o isolamento); (iv) envolvam-se em grupos
interdenominacionais de oração; e (v) deixem de considerar que a
IASD tem o monopólio de Deus.
O capitulo 30, "lhe final frontier: rneeting Jesus through
meetinghumanneeds" ("A fronteira final: conhecer a Jesus, conlie
cendo as necessidades humanas", p. 317-323), propõe alternativas
para que os adventistas se envolvam socialmente: (i) acreditar em
milagres; (ii) fazer trabalho voluntário com as comunidade,
carentes (isto é, "sair do casulo"); (iii) tomar-se "rutbusters",(5) i st (1
é, pessoas que usam as oportunidades do dia-a-dia para fazer coisas
extraordinárias; (iv) seguir o exemplo de Cristo; e (v) deixar de
colocar o evangelismo acima da prioridade do serviço. De acordo
com Daily (p. 320),
Os singulares ministérios adventistas da saúde, educação ti
mordomia foram desenvolvidos para o serviço da
humanidade e para a satisfação das necessidade”;
humanas, mas esses programas também contribuem para a

5. Como exemplo de "rutbustern o autor menciona Max Loeb que, sendo filho
de um cardiologista de renome internacional, abandonou a oportunidade dr
trabalhar numa das mais sofisticadas clinicas do mundo para se dedicar
trabalho voluntário junto á Madre Teresa de Calcutá (1„A PIERRIL, 185).
A Recietinfrrfão do Afiem Cismo .441

auto-preservação institucional da igreja. A mais difícil


forma cie serviço que qualquer igreja pode praticar é aquela
que drena recursos da instituição sem dar quaisquer
benefícios paupáveis em retorno. Jesus estava tão
comprometido com essa forma de ministério que ele tinha
que depender da generosidade de pessoas caridosas para a
satisfação de suas necessidades pessoais_ Enquanto que
poucos cristãos demonstram, hoje, essa forma de fé radical,
esse ideal é um constante desafio para o povo de Deus.

Por isso, Daily (p. 321) reclama que a Igreja tem sido sempre
assombrada por uma mentalidade administrativa que avalia o
va lar de cada programa desenvolvido pela Igreja com base em seu
potencial evangelístico. Nesse contexto, o serviço se torna um meio
para um fim e não um fim em si mesmo. Isso está em contraste com a
prática de Jesus que ajudava as pessoas não por que ele esperava
que elas se tornassem discípulos, mas por-que as amava! O autor
rncerra o capitulo salientando o bom exemplo dado pela ADRA
(presente em 185 países), que consegue, com um limitado corpo
ndministratisro, realizar uma obra de valor tão amplo. A conclusão
do autor é que a IASD precisa se comprometer com o serviço, com a
Intimidade com Deus e com a intimidade com Deus por meio do
Nerviço desinteressado ao próximo.
A Redução da Propiciação
a urna meu- fora
MAXWELL, Graham. Servants or friends?: another look at God.
II Listrado por Susan Kelley. Reellancts, CA: Pineknoll, 1992. 205 p.

O
autor, de origem inglesa, aproveita o "Prólogo" (p. 1-2)
de sua obra para enfatizar sua experiência como pro-
fessor de religião no nível secundário e superior (espe-
cialmente na Universidade de Loma Linda), tendo ministrado 135
cursos exploratórios das Escrituras ao longo de 50 anos de atividade
profissional.
O capitulo 1, "Would you be afraid to meet God?" ("Você
teria medo de se encontrar com Deus?", p. 5-13), levanta a inda-
gação acerca da razão por que as igrejas estão vazias, enquanto
que os "pubs" ou bares estão cheios na Inglaterra. Sua resposta é
que os bares dão um melhor atendimento a seus fregueses do que
fis igrejas. Além disso, segundo o autor (p. 7), as pessoas ainda
querem crer, mas não são mais capazes de fazê-lo, pois chegaram
A compreensão de que o inferno é, de fato, a convivência com as
outras pessoas. Outra razão por ele apresentada para o esvazia-
mento das igrejas é o distanciamento ora existente entre estas e a
.'' Heteocjoxi.i

realidade das pessoas (p_ 9). Dessa forma, a Bíblia perdeu sus'
autoridade por sua falta de significáncia e pela crescente valoriza
ção do povo inglês de sua liberdade e individualidade. Ele
termina o capítulo com a citação de um antigo bibliotecário dr
Universidade de Oxford: "uma boa coisa observada no declínio
da religião na Inglaterra é que agora os ingleses são mais tole
rantes uns com os outros" (p. 12).

O capítulo 2, "I'd rather you be rny friends" ("O que eti

queria mesmo é que vocês fossem meus amigos", p. 15-25), procura


responder a pergunta: por que as pessoas se opõem à idéia de que
Deus quer que sejamos seus amigos e não seus servos? Segundo o
autor, isso se deve, principalmente, a urna exegese incorreta de Rill
9:20. Além disso, os líderes religiosos geralmente optam por um
modelo serviçal de liderança, pois este aumenta sua própria
autoridade e poder. O autor menciona (p. 18), como o exemplo, o
caso de Jim Jones que, em 1978, levou novecentas pessoas ao suicí-
dio em massa por ingestão de cianido. Finalmente, Maxwel 1
argumenta que as pessoas não gostam de questionamentos. No
entanto, o autor afirma (p. 19) que é muito mais perigoso não ques
tionar: pode-se acabar tomando cianido com Jim Jones! Para provar
seu ponto de vista, Maxwell exemplifica várias situações em que
Deus reagiu de forma positiva diante do questionamento humano:
Abraão no caso de Sodoma e Gomorra, Moisés (em Êx 33:11; No)
12:8; etc) e Jó, entre outros. Depois de apresentar o texto de Jo. 15:15
como vital para a compreensão de como Deus deseja que sejamos
seus amigos, o autor argumenta que não exigimos ser amigos de
Deus; é Ele quem nos oferece esse privilégio. Deveríamos, portanto,
A keducr ào da Proprcra ção uma Meeiron -4 4 1

I aceitar esse convite uma vez que (i) é melhor ser amigos do que
nervos; (ii) é melhor ser amigos do que filhos (pois há filhos que
odeiam seus pais); e (iii) podemos ser, ao mesmo tempo, servos,
filhos e amigos. .

O capitulo 3, "No friendship without trust" ("Não há


ninizade sem confiança", p. 27-43), trata, inicialmente, da questão
das punições de Deus no Antigo Testamento. Segundo o autor,
essas punições (i) tiveram a participação de Jesus; (ii) foram uma
dramática demonstração de majestade para chamar o povo à
atenção; (iii) representaram um grande risco por parte de Deus
(I lb 12:6); (iv) não são o método costumeiro ou preferido de Deus;
e (v) Deus usa, em situações extremas, punições que são cultural-
mente válidas. O capítulo termina com a narrativa de como a ce-
gueira momentânea de Paulo contribuiu para que ele deixasse de
ser servo e se tornasse amigo.

O capítulo 4, "Trust cannot be commanded" ("Não se pode


exigir confiança", p. 45-53), propõe exemplos bíblicos de como não
se pode exigir confiança: primeiramente, Nabucodonosor, no caso
dos três hebreus; e, em segundo lugar, Deus, no caso da destruição
dos ante-diluvianos. Em seguida, o autor propõe exemplos bíblicos
para mostrar que Deus prefere agir com apelos suaves e não com a
força (Zc 4:6): ocaso de Lúcifer e o caso de Judas.
O capítulo 5, "Be careful what you trust" ("É preciso cuidar
onde se põe a confiança", 55-69), busca responder a indagação: em
quem podemos confiar? Segundo o autor (p. 55), pesquisas recentes
indicam que os profissionais em quem menos se confia são:
04» E leteroctoxia

políticos, vendedores de carros usados e advogados. Segundo ele,


por uma cortesia profissional os tubarões nem devoram advoga
dos. Segundo Maxwell, há razões importantes por que ná,
podemos depositar toda nossa confiança na fé: (i) há definiçõe,
imprecisas de fé; (ii) aprendemos, desde crianças, a confiar tamben,
no bom senso; (iii) ninguém usa a fé para tomar decisões tão
importantes quanto escolher o cônjuge; (iv) não se sabe exatarne.n te
por que algumas pessoas têm fé e outras não; (v) existem dificul
dades em se fazer a distinção entre fé, confiança e crença, por se
tratar de uma única palavra em grego (pístis); (vi) Deus não deseja
que "saltemos no escuro" (Hb 1:1-2); (vii) Satanás faz insistente,
acusações contra nossa fé; (viii) existem falsos profetas capazes de
ludibriar a fé; e (ix) não existem atalhos para se ganhar a confiança.
O objetivo do autor é mostrar, neste capítulo, que a confiança em
Deus não pode ser desenvolvida por meio de uma ingênua atitude
de fé cega, mas através de um relacionamento íntimo com Deus e o
estudo atento das Escrituras.
O capítulo 6, "Friends talk plainly with each other"
("Amigos falam abertamente uns com os outros", p. 71-83), procura
responder a pergunta: a visão de Deus como amigo compromete
nossa reverência? O autor reconhece que há um contraste entre os
eventos do Monte Sinai e aqueles do Monte das Oliveiras, mas
chama a atenção para o fato de que, mesmo no Sinai, temos o
exemplo de uni líder manso: Moisés. Nesse caso, Moisés seria uni
tipo de Cristo (Dt 18:15-18; Lc 24:27, 44) e uma manifestação
concreta da amizade de Deus (Nm 12:6-8). A amizade com Deus e
A Kelução ci Propkiação a urna Nletãfora . 4 141

tao importante que Jesus chega a declarar, em Jo 16:25-28, que os


amigos de Deus não necessitam de sua intercessão. Foi o povo que
pediu um mediador; isso não foi idéia de Deus (Êx 20:18-19). Além
I isso, Deus ama seus amigos tanto quanto Jesus os ama.

O capitulo 7, "Friendship and God's use of law" ("A ami-


ga de e corno Deus faz uso da lei", p. 85-99), trata de mais urna das
Indagações do autor: para que serve a lei se ela não pode nos fazer
amar a Deus? Segundo ele, a lei serve (i) para ensinar o significado
da transgressão (Cl 3:19); (ii) para auxiliar aqueles que não vivem
em harmonia com Deus (1 Tm 1:9-10); (iii) para nos conduzir a Cris-
to (Cl 3:24-25); (iv) para que conhecêssemos o caráter de Deus (Os
6:6; Jr 31:34); (v) para mostrar o que é a verdadeira liberdade (Ti 2:8-
12); e (vi) para nos incentivar ao amor (Rm 13:8-10). O autor termina
o capítulo com uma ilustração de sua infância: naquele tempo, ele
escovava os dentes porque sua mãe assim o ordenava; hoje, ele o faz
porque sabe que precisa fazê-lo para o seu próprio bem.

O capitulo 8, "How servants and friends look at sin and


salvation" ("Como servos e amigos encaram o pecado e a salva-
Olo", p. 101-115), apresenta o que a Bíblia fala sobre o pecado,
desde as definições comuns de "transgressão da lei" (1 Jo 3:4) e
deixar de praticar o bem (Ti 4:17) até as definições mais amplas: (i)
rebelião contra Deus (numa outra leitura de 1 Jo 3:4); (ii) agir
contra as próprias convicções (Rm 14:23); (iii) agir sem convicção
(Ef 4:14; Ti 1:6-8) e (iv) não corresponder à amizade de Deus (Nm
20:8-12). Em seguida, o autor discute as dificuldades que as pes-
soas têm era relação ao assunto do pecado: compreender que o
HetC r Od oxi a

pecado não é um conceito legal e entender que a destruição não


uma boa forma de disciplina. Com efeito, Maxwell lamenta que 0:.
servos" de Deus falem de pecado e salvação com palavra.,
difíceis e estereótipos. Por outro lado, ele afirma (p. 113) que o , .
"amigos" de Deus compreendem a salvação como sendo uma
cura ao dano causado pelo pecado. Ele diz, ainda, que se unidi
criança ingere veneno acidentalmente, os pais não lhe castigam
por isso. Seu maior interesse é dar-lhe o antídoto o mais depress,
possível para que seja salva. Dessa forma, não é Deus quem
castiga uma pessoa que pratica o pecado. A morte é
conseqüência natural de se ingerir o veneno.
O capítulo 9, "Only your best friend would show you"
("Apenas seu melhor amigo lhe diria isso", p. 117-137), apresenta
evidências bíblicas de que Deus não vai destruir os pecadore , ,
empedernidos, mas simplesmente entregá-los às conseqüências t i•
suas próprias escolhas: (i) a história de Oséias e Comer; (h) o
prólogo da carta de Paulo aos romanos; (iii) o fato de Jesus ter
passado tanto tempo curando quanto pregando ou ensinando; (iv)
a disposição de Jesus sofrer sem irar-se; e (v) o fato de os ank
estarem observando atentamente os eventos que agora acontecem
no planeta Terra. O autor conclui (p. 121) que médicos não matam
os pacientes que não cooperam com o tratamento. Para ele (p. 126),
se Deus tivesse sido crucificado, Ele teria tido tanta disposição pari'
perdoar seus torturadores quanto Jesus teve. Segundo o autor,
morte é uma conseqüência inevitável do pecado, mas não é Deu?.
que a causa. O assim-chamado "fogo do inferno" nada mais é do
A Rt.740,,-,10 cia Propraição a urna meetfop.a 4444

que a glória de Deus vista por pecadores (Êx 24:17; 33:20; Is 33:14-15;
hz 1:28). Deus não dá a ordem: - Queimem a estes e salvem os
demais! A diferença está em nós (p. 134).

O capítulo 10, "The freedorns of friendship" ("As liberdades


da amizade", p. 139-149), salienta que os amigos de Deus estão
livres do medo, pois Jesus não expõs os pecados dos acusadores da
mulher adúltera (Jo 8:2-11), nem humilhou o abastado Simão na
frente de seus convidados (Lc 7:37). É, por essa razão que os amigos
de Deus têm plena liberdade para proclamar boas novas de fato, a
exemplo de Maria Madalena, a primeira a ver Jesus após a
ressurreição e que recebeu a incumbência de contar a novidade aos
outros. Isso significa que podemos nos sentir tão à vontade com
Deus quanto nos sentimos com Jesus (p. 148).

O capitulo 11, "Friendship and the struggle with sin" ("A


amizade e a luta contra o pecado", p. 151-157), descreve o debate
sobre como se deve ler Rm 5:1: "justificados, pois, mediante a fé,
temos paz [ou tenhamos paz] com Deus por meio de nosso
,Senhor Jesus Cristo". Trata-se de uma dificuldade ortográfica, em
grego, com repercussões teológicas: os "servos" de Deus
Interpretam que a resolução da questão legal do pecado os
qualifica, automa-ticamente, para uma relação pacifica com Deus.
Para os "amigos" de Deus, no entanto, a questão não é tão
itimples: o relaciona-mento fraturado causado pelo pecado exige
tempo para ser restaurado. Depois disso, o autor apresenta o que
considera boas novas sobre Rm 7:18-25: o pecado é uma luta, mas
podemos lutá-la como "amigos" de Deus e nenhum médico
■ ■■ • E -1efcod o xii

condena um paciente que tem urna recaída. Quanto a Mt 5:•.`:


("portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso I 'ai
celeste"), o autor declara (p. 155) que os "servos" de Deur.
enxergam essa passagem como uma ordem, enquanto que (1..
"amigos" de Deus a interpretam como uma promessa. Maxwel I
conclui o capítulo estabelecendo um importante contraslt ,
Segundo ele (p. 156), "os servos querem ser inteirameole
perdoados; os amigos querem ser inteiramente restaurados". S t
conclusão é que:
O perdão não elimina o pecado. O pecado não é um registni
em um livro, a ser perdoado de tempos em tempo. O peca (I ti
é algo que acontece com as pessoas. O pecado é rebelião o
desconfiança. Foi isso que Jesus veio destruir. E o antídott
para o pecado é urna verdade sobre o próprio Deus. Quanto
questão da perfeição, o Médico celestial pode nos chamar
enquanto saímos de seu consultório, dizendo: - Não st ,
preocupe com isso! Eu planejei o universo de tal maneira q
é uma lei o fato de que as pessoas se tornam iguais àquele',
que adoram e admiram (p. 156).

O capitulo 12, "Friendship and the meaning of afane.


ment" ("A amizade e o significado da propiciação", p. 159469),
aborda os problemas relacionados com a palavra "propiciação",
um termo que o autor diz nunca ter sido usado na Bíblia. A única
ocorrência dessa palavra, na King James Version, ocorre em Riu
5:10-11 e o autor alega que nada mais é do que uma tradução
infeliz do termo "reconciliação". Nem Jesus nem Paulo usaram o
termo "propiciação", mas entendiam muito bem de "recon-
ciliação", como se percebe pela oração sacerdotal de Jesus, em jo
A Relu çã o (Á:1 Pr-opiciação ã LIM4 Metifora 1441

17. Além disso, o autor postula que ate os anjos serão beneficiados
com a reconciliação proposta por Deus (Mt 20:28; Jo 12:32-33; Ef
1:10; Cl 1:20). Sendo assim, o plano da salvação foi necessário
porque o pecado causou uma quebra de confiança (Rm 14:23). O
plano da salvação não pode funcionar, adequadamente,
enquanto houver temor, pois seu objetivo principal é a recon-
ciliação (2 Co 5:17-20). A parábola do filho pródigo é uma grave
advertência quanto ao modo como encaramos o plano da salva-
çao: o filho mais velho preferia se comportar como servo e, por
isso, se recusou a participar da festa. A parábola não nos informa
se ele jamais mudou de idéia.
O capítulo '13, "We've around this mountain long enough"
("Estamos acampados ao redor dessa montanha faz tempo
demais", p. 171479), apresenta razões por que precisamos nos
afastar do Sinai: (i) porque é a ordem de Deus (Dt 1:6-7); (ii) porque
precisamos nos aproximar da terra prometida; e (ãi) porque a
guarda dos mandamentos só faz sentido se nos aproximar de Deus.
Então, por que algumas pessoas preferem se demorar no Sinai? Em
primeiro lugar, por causa da segurança que o status quo lhes ofere-
ce. Em segundo lugar, por causa da sensação de reverência e
mistério. Em terceiro lugar, porque isso lhes dá mais influência e
poder (pensem em todos aqueles trovões e relâmpagos!). Em
quarto lugar, porque não se pode forçar outras pessoas a amar a
Deus, mas é possível obrigá-las a seguir regras e obedecer a leis.
Finalmente, por causa de sua teologia baseada em textos selecio-
nados: "um pouco aqui e uni pouco ali". O autor enfatiza a neces-
P». Heterodoxia

sidade de se ler a Bíblia em contexto: primeiramente, não aper 1.


aprender a amar a Deus, mas também a gostar dele; em segli ti(
lugar, aprender que, quando Deus fala em destruição é como . ■

figura de linguagem que as mães usam para chamar o filho olw


diente à atenção: - Eu te mato!
ii
O capítulo 14, "Friends of a friendly God" ("Amigos de I
Deus amigo", p. 181-185), apresenta as principais concitiH Ir..
advindas dos pontos enfatizados pelo livro: (i) que os "arnigof-;"11 ,

Deus se esforçam por apresentá-lo como um Deus amistoso; (i
as duas coisas que Deus mais aprecia nos seres humanos
liberdade e amizade; (iii) que, ao instruir as pessoas, devem ,
incentivá-las a fazer mais e não menos perguntas; e (iv) qui
"amigos" de Deus respeitam as limitações dos "servos" de Deu i;
Novas Interpretações para a
Doutrina do Sa ntuã rio

GRUNWALT,Glen. Sanctuary in the year 2000. Adverttist Today v. 2,


I• c), r. 6-9, Nov.-11)ec. 1994. Disponível em: http://www.atoclay.com/
limgazine/1994/11/sanctuary-year-200041. Acesso em 15 oul. 2007.

artigo de Greenwalt, então professor de teologia na


Faculdade Adventista de Walla Walla, foi publicado
durante as comemorações dos 150 anos de existência da
IASD. O autor questiona se um movimento profético que prega a
Iminente volta de Jesus pode se dar o luxo de celebrar sua longe-
vidade. Segundo o autor, as fronteiras adventistas do conserva-
dorismo e do liberalismo são definidas por esse dilema. Para os
1 conservadores, a celebração desses 150 anos da herança adventista
i
i ritquer o cumprimento das profecias de tempo em Daniel e
Apocalipse na vida da Igreja. Contudo, um movimento com 150
, IMos de existência não representa mais uma verdade presente. Por
r Mitra lado, os liberais tendem a menosprezar a relevância do
1
i passado adventista. Contudo, sem um passado, eles ficam sem
: rritérios para avaliar a nova verdade presente que buscam, fazendo
com que o futuro da Igreja fique à mercê do capricho.
■■ •• Heterodoxia

A maior parte do artigo analisa a crítica de 1-larold BI o, 1,


(1992) ao fato de que muitos adventistas estão se afastando , ‘.
elementos definidores da teologia adventista: o desapontamento i li

1844 e os escritos de Ellen White. Segundo esse autor não ad vel


tista, ou os adventistas retornam a Ellen White e recuperam 1.1
visão de um movimento profético, ou eles "desaparecerão do cei1.1
rio religioso, a não ser por seu grande legado médico". Aii ida
segundo ele, o grande desapontamento e Ellen White são insep,
veis porque a dor do desapontamento exigia consolo sobrenatur,11 e
as visões de Ellen White proveram exatamente isso. Como ela 11; lu
tinha a imaginação religiosa de Joseph Smith, seu "desesperado
desejo de ter saúde" e viver deu à nascente Igreja uma vitalidade
que ela não teria tido de outra forma. Bloom explica que a paixa ti
adventista pelos números, pelos diagramas proféticos e pelas pnitt ,
das de tempo é o resultado direto do desapontamento, uma vez Cl h'

os números dão aos religiosos a ilusão de poder e certeza. A sombria


visão apresentada por Bloom em relação à IASD explica que a
doutrina do santuário seria outra conseqüência imediata do gratule
desapontamento: os adventistas necessitavam da intimidade que
idéia de Cristo no compartimento santíssimo de um santuário
celestial provê.

Dessa forma, Bloom vê a revitalização da IASD como


dependente de seu retorno à condição de movimento que critica a
sociedade americana. Ele parece desiludido, no entanto, pois, em
sua compreensão, os membros da Igreja estariam completamente
desinteressados quanto a assuntos prementes como injustiça!,
Nov:‘is Interpretações para a Por drinado SantLiãrio 4444

suciais, imoralidade, drogas, AIDS e falta de moradia, tendo suas


emergias drenadas para a preocupação com sua própria saúde.
U•enwalt pensa que o desafio de Bloorn à IASD é tão descon-
reit a nte que ele fica se perguntando se não foi feito em tom de
deboche: (i) recuperar o espirito profético proposto por Ellen
White; (ii) superar a literalização dos rituais do santuário; (iii)
propor soluções reais para as injustiças e amoralidacles; e (iv)
permanecer uma organização coesa durante esse processo.
( ;reenwalt, porém, concorda que, para que a IASD continue a ser
relevante corno um movi mento religioso, ela precisa conseguir
nmsociar suas pressuposições proféticas a uma missão social.

Os três elementos mais importantes para a teologia


nd ventis ta do santuário são identificados por Greenwalt como
sendo: (i) a presença; (ii) a contaminação; e (iii) a restauração. Para
ele, 1844 é, de fato, o cumprimento histórico desse padrão. É justa-
mente essa posição que tem dado lugar à crítica de que Greenwalt
procura redefinir o adventisrn o à luz de urna agenda sociológica
(t; A NE, 1994).

Para Greenwalt, a ênfase excessiva dos adventis tas na


transcendência de um Cristo que ministra no santuário celestial.
pode ter efeitos negativos para a IASD. Segundo ele, a doutrina do
santuário deveria, em vez disso, assinalar a presença constante de
Deus com seu povo: a terra corno um espelho do céu. Segundo ele, o
problema é que os adventistas aprenderam o significado de "tempo
santo", mas ainda não capturaram a importância de "lugar santo" e,
por isso, eles sucumbem ao processo de dessacralização do murido.
■ »- Heterodoxia

Se a igreja conseguisse se tornar um lugar onde a presença de Deli.,


fosse sentida, então ela se tornaria um refúgio para os oprimidos, ir

feridos e os desesperados, deixando claro que, do lado de fora d


santuário, existe mesmo o deserto.
O segundo elemento da teologia adventista do santuá riu
que precisa ser enfatizado é o tema da "contaminação". A con til
mirs.ação do santuário de Levítico demandava sua purificaça
através do juízo. No entanto, esse juízo não era de natureza pu i ii

Uva; ele simplesmente significava a saída de Deus de um ambient


poluído (Lv 26:31). Por essa razão, o principal objetivo cio!.
sacrifícios não era purificar o ofertartte, mas o próprio santuário
Para ele, o pecado individual contamina o átrio; o pecado
comunitário, o lugar santo; e o pecado contumaz e rebelde, o pn)
prio lugar santíssimo. Isso coloca a doutrina do santuário na perspe
ctiva dos vazamentos de óleo, chuva ácida, mineração danosa,
degradação da camada de ozônio, lixo nuclear, devastação dir,
florestas, morticínio de milhares na Bósnia, Somália, Sudão, Timor,
Armênia e Angola. Os adventistas, consumidos por suas própria!,
imperfeições morais, observam todas essas coisas e, com um gesto
impotente, mudam o canal da televisão. Quanto tempo falta para
Deus abandonar seu santuário?

Felizmente, segundo Greenwalt, a doutrina do santuário


tem a nota positiva de fazer provisão para a restauração. Eu
contraste com as pessimistas visões de nossos contemporâneos,
essa doutrina provê um apocalipse de esperança. Quanto ito
questionamento se a IASD merece sobreviver como movimento
Nov3s Hl:et- prestações para a Poutrina do Santuãi- io —141

profético, Greenvvalt responde que sua sobrevivência estará


nssegurada se ela conseguir tornar-se uni santuário para a presença
de Deus e a restauração do oprimido. Para isso, é necessário que ela
ou., tome um espaço aberto para a expressão sincera dos problemas
da alma. Ela deve mesmo aceitar a convivência com formas
diferentes de crença, as heresias, pois, do contrário, ela será
meramente mais uma corte de justiça no mundo. Ela precisa se
tornar um "lugar santo" onde os jovens abram os livros e tenham
visões. Somente em uma igreja assim, as pessoas encontrarão
nantuário, um lugar onde Deus poderá habitar.
Reteição de urna Postura
An t i -C a t a i ca
BRUINSKI A, Reinder. Seventh-day Adventist altitudes toward
R oman Catholicism: 1844:1965. Berrien Springs, MI: Andrews University
Press,1994. 374p.

Universidade de Andrews publicou esta obra de


Bruinsma, que é urna ligeira adaptação da tese de PhD
defendida por esse pastor adventista junto à Univer-
sidade de Londres. Na época da publicação, o autor era o diretor
do Departamento de Relações Públicas e Liberdade Religiosa da
Divisão Trans-européia da IASE).
Na "Introdução" (p. xi-xv) à obra, que retém basicamente o
formato de tese, o autor apresenta os principais problemas a serem
tratados no livro: (i) por que a IASD, diferentemente de outras
denominações protestantes, não abrandou, com o passar do tempo,
suas críticas ao catolicismo? (ii) por que sua escatologia continua
sendo anti-católica quando a mesma sofreu considerável
Abrandamento em relação às demais denominações religiosas? (iii)
em que sentidos o anti-catolicismo adventista é herdado dos
mileritas e em que sentidos ele é original à IASD? Na "Introdução",
o autor também reconhece as limitações inerentes ao livro: (i) a
■■• ■ • Heterodoxia

análise só se estende até o Concilio Vaticano Segundo (1965); (ii) .1


análise se limita às fontes anglófonas; e (iii) a análise prop
limitadíssima comparação com outras denominações protestante

O capítulo 1, "The setting" ("O contexto", p. 1-20), prove o


background necessário para a discussão, delineando como os pro
testantes da Inglaterra puritana e da América, durante o período
colonial e início da era republicana, encaravam o catolicismo. O
capítulo descreve os amplos e profundos sentimentos anti-catól ÏC

dos Estados Unidos (de modo geral e de modo específico à regiak


onde floresceu o milerismo), fundamentados principalmente e In
uma longa tradição de interpretação anu-católica das profeeix,
apocalípticas.
O capítulo 2, "Millerism and catholicism" ("O milerismo o
catolicismo", p. 21-74), trata do movimento milerita, que é visto pel,
IASD como um prelúdio ao início da denominação. O capítulo
descreve as idéias de William Miller e outros líderes do movimento,
que em poucos anos passou de um reavivam.ento interdenomina
cional para uma seita. O autor dá especial atenção ao sistema
hermenêutico de Miller e à resultante interpretação dos livros de
Daniel e Apocalipse, principalmente nas questões referentes ao
catolicismo. As idéias de Miller são analisadas no contexto da efei -
vescênda religiosa que caracterizou os estados da Nova Inglaterra
(nos Estados Unidos) e o estado de Nova Iorque durante as décadas
de 1830 e 1840, com a finalidade de determinar que elementos erã
originais. O autor considera essa avaliação importante porque as
interpretações proféticas dos mileritas e suas opiniões sobre cr,
urrla Postura ,A1 -)É 41

católicos servirão de base para a eseatologia adventista. O autor


baseia sua análise principalmente em fontes primárias, o que
acrescenta peso a suas conclusões.
O capítulo 3, "Sabbatarian adventism and catholics" ("O
adventismo sabatista e os católicos", p. 75-122), demonstra corno os
adventistas que passaram a guardar o sábado dependeram da
herança rnilerita para forma r suas doutrinas. O capítulo delineia
como os adventistas adotaram, refinaram e revisaram as interpreta-
ções proféticas rnileritas, especialmente no que estas diziam res-
peito à Igreja Católica. O autor enfatiza, acima de tudo, como a ado-
çáo do sábado como dia de guarda para sempre determinou a
forma corno os adventista.s veriam os católicos. Não apenas Roma
havia sido responsável pela substituição do sábado pelo domingo,
mas a polêmica entre sábado e domingo passou a ter fundamental
importância para a escatologia adventista. O autor também mostra
1 que urna outra idéia nascida nesse período passaria a influenciar
vitalmente a forma corno os adventistas interpretariam as profecias
do Apocalipse: o papel a ser desempenhado pelos Estados Unidos
no "tempo do fim" em apoiar a Igreja Católica e os futuros esforços
combinados de uma coalisão político-religiosa entre protestantes e
I
católicos, em solo americano, com a finalidade de destruir os guar-
dadoresdo sábado. Apesar de consultar algumas fontes secunda-
rias, o autor concentra sua análise principalmente nos artigos da
Review& Herald, publicada semanalmente desde 1850.
O capítulo 4, "Aciventists and cathotics: 18634915" ("Ad-
ventistas e católicos: 1863-1915", p. 123-202), cobre o período de
■■■ • He terodoxia

amadurecimento do adventismo, seguindo basicamente o patit,i,


do capítulo anterior e mostrando alguns desenvolvimentos inter'
santas. Para o autor, o que faz esse período extremamente impo,
tante é a forma como os eventos ocorridos nos Estados Unidis , „
principalmente aqueles relacionados com a legislação domina ,i1
fortaleceram a convicção adventista quanto a seu posicionameiiim
escatológico. O autor procura, ainda, comparar o posicionam , ' ilu
adventista com o de outras denomições durante esse perío,I{ ■
Bruinsma também comenta sobre as posições de Ellen White qui])
to ao catolicismo. Segundo ele, essas posições tiveram papel pie
ponderante na definição da escatologia adventista.

O capítulo 5, "Adventists and catholics: 1915-1965" ("(


adventistas e os católicos: 1915-1965", p. 203-294), tenta detem,'
nar se houve alterações significativas na posição adventista ciii

relação à Igreja Católica no período de 1915 a 1965. O capítulo


procura mostrar como os adventistas, à medida que se tornardiii
mais flexíveis em relação às demais denominações protestante,,
permaneceram indispostos a reavaliar sua posição com respei tgi
ao catolicismo.
O autor chegou a seis conclusões (p. 295-300) específicas. A
primeira conclusão (p. 295) é que o anti-catolicismo foi parte tid
teologia adventista desde o princípio pelas seguintes razões: (1)
fortes sentimentos anti-católicos faziam parte da cultura prole
tante dos Estados Unidos na época do movimento milerita; (ti)
movimento milerita se desenvolveu num contexto geográfico,
histórico e religioso dos Estados Unidos propenso a movimento,.
A Rej cjij L1 n P05 .a4 1E-4 Ar;ti-CE1t(5iC <:1 •441

milenaristas, com cenários apocalípticos de perseguição; (iii) a


liermeneutica de William Miller foi adotada de modo pouco crítico
pelos primeiros adventistas; e (iv) o conceito miIerita de Babilônia
como símbolo do catolicismo se tornou influente no período de
stirgimento da IASD. A segunda conclusão do autor (p. 296) é que
elementos exclusivamente adventistas serviram para intensificar os
sentimentos anti-católicos dos primeiros adventistas: (i) a adoção
do sábado como dia de guarda foi fundamental para isso uma vez
que os católicos passaram a ser estereotipados como os respon-
sáveis pela substituição do sábado pelo domingo; (ii) a adoção da
doutrina do santuário acrescentou uma outra dimensão à polêmica,
pois responsabilizou os católicos pela substituição do ministério
sacerdotal de Cristo (conforme praticado no santuário celestial)
pelo ministério dos sacerdotes católicos (conforme praticado na
missa); e (iii) a crença adventista de uma coalisão entre católicos e
protestantes atuando nos Estados Unidos acrescentou um toque
final ao adi-catolicismo dos primeiros adventistas. A terceira con-
clusão do autor (p. 296-297) é que outros fatores também explicam
por que o anti-catolicismo não diminui com o passar dos anos: (i) a
fidelidade adventista à hermenêutica milerita; (ii) os eventos polí-
ticos ocorridos nos Estados Unidos, nas décadas de 1880 e 1890, que
deram a impressão de que a história estava confirmando os temores
aclventistas de uma lei nacional favorável à guarda do domingo;
(iii) o notável crescimento do catolicismo nos Estados Unidos no
séculos XIX e XX, dando a impressão de que o catolicismo se levan-
tava como um grande poder religioso naquela nação; e (iv) o fato de
Ellen Whi te ter adotado uma visão escatolégica anti-católica tornou
04» iieterocioxia

impossível para os adventistas mudarem de posição sem qtie;


tionar sua autoridade profética. A quarta conclusão do autor (p
297-298) é que os sentimentos anti-católicos dos adventistas do
período sob estudo partilham algumas características especificas:
(i) os adventistas são mais anti-papais do que anu-católicos; (ii) .1
ênfase adventista é mais histórica do que contemporânea; (iii) .1
crítica adventista se concentra em três áreas: dia de guarda, imort.)
lidade da alma e infalibilidade papal; (iv) o contato ocasional Lie
teólogos adventistas com o catolicismo tem a finalidade precípui
de descobrir falhas na teologia católica; (v) certa tendência para o
sensacionalismo e teoria da conspiração; (vi) embora o catolicismo
tenha se desenvolvido principalmente entre os imigrantes aos
Estados Unidos, os adventistas nunca demonstraram qualquer ati
tude de preconceito em relação a esses imigrantes; (vii) os senti
mentos anti-católicos dos adventistas nunca escalaram para .1
oposição política (nem tampouco para a violência); e (viii) o an ti
catolicismo dos adventistas é contínuo e permanente. A quinta coll
clusão de Bruinsma (p. 298-299) diz respeito aos desdobramenák-,
do anti-catolicismo na IASD: (i) a linguagem anti-católica entre os
adventistas é, hoje, menos cáustica e mais sofisticada; (ii) a ênfase
continua sendo posta no aspecto histórico, principalmente no que
diz respeito à ameaça que a Igreja Católica pode representar para
IASD; (iii) a idéia inicial de que a assim-chamada "ferida papal"
seria um breve período foi substituída por uma ênfase na cura dessil
ferida; (iv) o papel a ser desempenhado pelos Estados Unidos na
escatologia passou a ser projetado para um futuro distante; e (v)
uma distinção mais nítida passou a ser expressa entre "a hierarquia
ury7a Poiteazi Antr Citol ic4 4444

eclesiástica católica" e os membros daquela Igreja. A última conclu-


sào a que o autor chegou (p. 299-300) é que, recentemente, os adven-
tistas passaram a ser mais conciliatórios em relação aos demais
protestantes: (i) os adventistas passaram a se identificar mais facil-
mente corno protestantes; (ii) a participação dos adventistas (como
observadores) em eventos ecumênicos diminuiu seu preconceito
em relação às demais denominações; (iii) a IASD optou por educar
seus pastores em seminários, a maior tolerância sendo derivada
diretamente de um maior nível educacional; (iv) a ênfase cada vez
maior no catolicismo possibi I itou aos adventistas serem mais cordi-
ais com Os demais protestantes e, ao mesmo tempo, manter sua
tradicional interpretação do Apocalipse; (v) em contraste, os
adventistas não se sentiram pressionados a reavaliar sua concepção
do catolicismo porque a . IASD se desenvolveu mais vigorosamente
em áreas de baixa concentração de católicos nos Estados Unidos; e
(vi) os adventistas têm sido virtualmente ignorados pela Igreja
Católica, o que também contribuiu para a inexistência de diálogo
entre as duas igrejas.

No posfácio (p. 301-302), Bruinsma lamenta que os adven-


Listas ainda olhem para os católicos com os olhos do século XIX e
desafia os membros da igreja a perceberem que sua atitude anti-
católica se deve muito mais ao condicionamento histórico do que
a uma exegese adequada do Apocalipse.
O Pensamento Abstrato como
Prerrogativa da Maturidade
E s p i r it u a E
N E WMA N, J. David. St uck in cone- rete, Adventist Today v. 3, n.4, p. 13, jul
A Lig. '1995. Disponível em ht t ps:/ / www.atoda -si. com/ magazine/1995/07/ ck-
nicrete-O. Acesso em 23 out 2007.

artigo "Stuck in concrete" ("Presos no concreto") sofreu


oposição da parte de alguns dos membros adventistas
dos países do terceiro mundo como tendo o racismo
velado como sua premissa (KORANTENG-PIMM, 1996, p. 91). O
artigo descreve o debate sobre a ordenação das mulheres na sessão
de 1995 da Associação Geral, em Utrecht, na Holanda. O autor
descreve, primeiramente, a defesa feita por Gerard Darnsteeg -t do
método literal de interpretação da Bíblia, e sua proposta de rejeitar a
solicitação da IASD da América do Norte de ordenar mulheres ao
ministério pastoral. Em seguida, o autor descreve a defesa feita por
Raoul Dederen de um método de interpretação bíblica baseado em
princípios e sua proposta de que a solicitação fosse deferida.

O autor chega à conclusão de que a principal razão por que


a proposta de ordenação das mulheres foi indeferida se deveu ao
Lato de que o método literal depende mais do raciocínio concreto e
■ 1» , Heterodoxia

é, portanto, mais facilmente compreendido e utilizado em regio(


onde há um baixo nível educacional ou por pessoas mais joven?.,
especialmente as crianças. Seu apelo, no final do curto artigo,
que a Igreja tenha, não obstante, cautela em relação ao método de
estudo da Bíblia pelo qual opta, pois este determinará se a IAS! )
continuará a amadurecer e crescer ou se permanecerá, pai.
sempre, em um estágio infantil de desenvolvimento.
Igualdade como Verdade
Presente
COJFR[LL, Raymond. ligo ali ty is present truth, Adventist Today v. 3, n. 5,
! P , 1995. Disponível cru 1 -útps:/ / w w . ato(' a y.com/ magazine/1 995/ 09/equality.
plittrnt -trutil-0. Acesso cru 23 ot t 2007.

ste artigo publicado logo após a sessão da Associação Geral


em Utrecht, na Holanda, por um dos principais teólogos
adventistas de nossa época apresenta uma provocante
Interpretação do tradicional conceito adventista de "verdade pre-
Visivelmente abatido pela decisão tornada naquela reunião
eotitrariamente à ordenação de mulheres ao ministério adventista,
e autor expressa sua discordância em relação à mesma. Segundo
ele, é inadmissível que os adventistas do terceiro mundo tomem
decisões que invadem Os adventistas da América do Norte quando
últimos têm uma maturidade doutrinária muito maior por
causa dos 150 anos de vantagem em termos de história da IASD.

O autor sugere que a decisão da Associação Geral foi um


desrespeito a uni dos principais pilares da fé adventista: o direito à
liberdade de consciência. Teria sido errado, para a Igreja da
América Norte, usar pressões financeiras a fim de coagir a Igreja da
ordenar mulheres quando isso parece contrário a sua
■■■ • Heterodoxia

cultura milenar. No entanto, é ainda mais errado que a Igreja r1,1


África e na América Latina impeça que a Igreja da América do No ti •
ordene mulheres quando esta se encontra plenamente convicta de si
ordenação das mulheres é uma forma legitima e necessária de
expressar a convicção da igualdade entre homens e mulheres.

Segundo o autor, a maioria das igrejas adventistas 11.1


América do Norte, Europa e Austrália pensa que a discriminaç1t(1
das mulheres é tão pecaminosa quanto o Apartheid africano (11.1
década de 90) e o racismo norte-americano (na década de 60). I 1
unia igreja mundial que conta com doze mil ministros ordenados, (
falta de maturidade denominacional não permitir a ordenação (1(
mulheres. Historicamente, a IASD sempre foi sensível à "verdade
presente". O espirito de abertura dos pioneiros adventistas pode sei
percebido na forma como adotaram a "nova" verdade do sábado
Cottrell sugere que demonstremos, hoje, a mesma sensibilidade a
verdade presente.
Além disso, o autor advoga que a religião madura é aguei.'
que valoriza o espírito de seus profetas e apóstolos em detrimento .1
letra de seus escritos (2 Co 3:6). Sendo assim, o mais importante na (1
é a verdade estática, mas o vetor da verdade. Escravidão e discrim i
nação sexual são consideradas imorais pela grande maioria do,,
cristãos do mundo ocidental. O impedimento de ordenar malhem,
ao ministério adventista constitui uma grave forma de discrimi
nação que deve ser repelida pela razão precedente e porque viola .
consciência de adventistas esclarecidos, é contrário ao espírito L1,1
história adventista e é contrário à essência da fé bíblica.
O Perfeccionismo

SPARKS, Vernon. And this gospel of Lhe kingdorn... Entonvine, WA:


ope International, 1995.153 p.

obra And this gospel of the kingdom... afirma que o


desequilíbrio rebelde causado no universo pelo pecado
voluntário dos homens só pode ser desfeito por ocasião
da destruição dos pecadores no lago de fogo. Segundo o autor, só
assim a justiça de Deus pode ser satisfeita. A exposição se volve a
demonstrar dois postulados: primeiramente, que a principal razão
de Cristo ter vindo ao mundo foi para salvar o homem de seus
pecados; em segundo lugar, que por ter Cristo tornado uma nature-
za humana decaída e, assim mesmo, ter conquistado o pecado,
todos os homens também podem conquistar completamente o
pecado e, dessa forma, isentos de culpa, escapar da conseqüente
destruição no lago de fogo.

A metodologia que o autor procura empregar é a de uma


suposta pesquisa exaustiva nos escritos de Ellen White, cora a
finalidade de provar seus pontos de vista com amplas citações. Tais
citações são organizadas de modo a evidenciarem um suporte
h iw k•• Heterod o X

numérico a esses postulados; isto é, o autor faz um levantamento tI»


quantas vezes Ellen White se pronuncia acerca de um determind
assunto para, assim, indicar um maior peso de evidência.

No final do Prefácio (p. 14), o autor se vangloria de não Iri

utilizado sequer uma obra não inspirada, enquanto na Introduci(


(p. 5-13) relembra a declaração de Ellen White de que os temas (
sábado, natureza do homem e testemunho de Jesus são de su
importância para a 1ASD (Testimonies, v. 1, p. 300). O capítu 1,
intitulado "In the family of Adam" ("Na família de Adão", p. 14-37 )
trata do que o autor considera conseqüências do pecado de A lido
(1) perda de comunicação direta com Deus, (2) perda das vestes
luz que permitiam que o homem contemplasse o caráter de Deus na
natureza, (3) parto doloroso, g) sujeição da mulher ao homem, (5)11
maldição ao solo, que passa a exigir o trabalho agrícola, (6) rem ix:.1(
da árvore da vida, (7) diminuição das capacidades físicas e meia tal„
(8) tentações de Satanás, (9) rebelião das criaturas inferiores pa
com o homem, (10) mudanças climáticas que passaram a exigir
uso de vestimentas, (11) perda do lar edênico, (12) depressão cai t
sada pela culpa, (13) tendência pecaminosa, (14) amor ao poder, ( I ' ))
imoralidade, (16) obliteração parcial da imagem de Deus no ho
mern, (17) enfermidades físicas, (18) herança cumulativa de fraque
zas, (19) desconsideração para com a lei de Deus, (20) morte fisie.
(21) sensação da iminência do juízo de Deus e (22) morte eterna.

No capítulo 2, intitulado "The nature of sin" ("A natureti


do pecado", p. 39-56), o autor estabelece uma diferenciação entn.
pecados voluntários e os involuntários, segundo a qual, esse
O Per feccionistrm 4141

Últimos são imediatamente expiados por Cristo sem qualquer


participação humana. Os pecados voluntários necessitam, contudo,
do arrependimento humano para que sejam também expiados. O
ser humano nasceria com tendências herdadas para a prática de
pecados voluntários, sendo suas faculdades inferiores (definidas
como aspectos físicos tais corno apetites, tendências, propensões,
etc.) e superiores (definidas como aspectos mentais tais como
vontade, razão, juízo e consciência) inclinadas para o mal.

No capítulo 3, intitulado "In the likeness of sinful flesh"


("Em semelhança de carne pecaminosa", p. 57-71), o propósito do
autor é mostrar que o homem nascido de novo pode conquistar o
pecado e viver uma vida perfeita hoje, o autor procura, então, enfa-
tizar que Cristo assumiu essa mesma natureza decaída do homem,
que identifica com uma expressão bíblica muito citada por Ellen
White ("em semelhança de carne pecaminosa"). Se Cristo não her-
dou essa natureza decaída, então não se pode dizer que tenha ver-
dadeiramente conquistado o pecado como o homem é chamado a
fazer. Espera, portanto, que, caso consiga provar essa natureza
decaída de Cristo, fique automaticamente provado que o ser huma-
no pode parar de pecar. Seu problema é que há inúmeras citações
em Ellen White que afirmam que Cristo não tenha herdado "ten-
dências para o mal" (como a que o próprio autor cita na p. 65). Por
isso, sua definição anterior de faculdades superiores e inferiores se
torna muito útil. O autor procura solucionar esse dilema afirmando
que: "Cristo tinha urna natureza humana decaída com tendências
corruptas de Suas faculdades inferiores, mas Sua natureza corno
i -letc2}-0(IOXIa

um todo, incluindo Suas faculdades superiores, não se corromper;;


a menos que Ele mesmo participasse no pecado" (p. 66). Dessa for
ma, ao afirmar que somente as faculdades inferiores de Cristo esta
vam decaídas, pôde reivindicar a harmonização de dois aspectos
contraditórios: por um lado, Cristo não tinha tendências para o
pecado (isto é, não tinha vontade de pecar), porque Suas faculdades
superiores não estavam corrompidas pelo pecado; por outro lado,
contudo, Cristo assumira a natureza decaída do homem, porque
Suas faculdades inferiores estavam decaídas por causa do pecado.

Para lançar as bases de tal posicionamento, desde


introdução de seu livro, o autor estabelece uni outro conceito
quanto à relação existente entre Cristo e Sua natureza humana, de
modo a não contradizer a declaração de Ellen White acerca da total
isenção de pecado em Cristo: "Cristo nasceu de novo desde Seu
nascimento, sendo, assim, controlado pelo Espírito Santo" (p. 10)
As propostas de Sparks a respeito da natureza humana de Cristo
parecem conter algumas incongruências. Essas incongruências
podem estar relacionadas a alguns aspectos que não foram levados
em consideração por ele:

a) sua inconsistência no tratamento daquilo que chama de facul-


dades superiores de Cristo;
b) sua proposta de que "Cristo nasceu de novo desde Seu nas
cimento" (p. 10) parece um tanto heterodoxa em relação ao
pensamento tradicional da Igreja;
c) o papel desempenhado por Ellen White quanto à compreensa4 I

doutrinária da Igreja Adventista do Sétimo Dia;


Pe r f'ecclet1H Me) "11 4

cl) sua desconsideração daquilo que teólogos adventistas con-


temporâneos têm afirmado acerca da controvérsia lapsariana
da natureza humana de Cristo.

Em primeiro lugar, Sparks declara, com convicção, no capi-


tulo 4, intitulado "Ou r example in Obedience" ("Nosso exemplo em
obediência", p. 73-92), que "Ele Cristo nunca possuiu tais paixões
isto é, as paixões da carne em Sua crucial natureza superior quoti-
diana" (p. 84). Essa declaração nada mais é do que a reiteração do
que já havia afirmado na p. 66, conforme mencionei acima. No en-
tanto, o autor afirma, na p. 63, que "corno nos, Cristo herdou força
física, faculdade mental e valor moral diminuídos." Isso vai direta-
mente de encontro ao que havia afirmado com respeito às faculda-
des superiores de Cristo que, segundo ele, são as faculdades men-
tais (p. 8) que não teriam de forma alguma sido afetadas pelo
pecado (p. 66 e 84). Tenho a impressão que, na tentativa de provar a
total igualdade das condições nas quais Cristo foi encarnado com
aquelas nas quais o homem luta hoje contra o pecado, o autor violou
um limite que ele próprio havia estabelecido. A expressão "corno
nós" (p. 63) foi a que catalisou a declaração de que as faculdades
mentais de Cristo também haviam sido afetadas pelo pecado. Essa
dicotomia das faculdades de Cristo pode ser encontrada anterior-
mente em A. T. Jones, por ocasião do pronunciamento que fez, na
Assembléia da Conferência Geral, em 1895: "A natureza de Cristo é
precisamente a nossa natureza. Em Sua natureza humana não há
sequer uma partícula de diferença entre Ele e vocês" (A. T. Jones,
1895 General Conference Bulletin, citado por KNIGHT, 1987, p.
1,4 » li d ei-ceia m a

136). Jones foi confrontado pelos delegados com a citação de 111,'1,


White do Testimonies for the Church: "Ele é um irmão em
enfermidades, mas não no possuir semelhantes paixões. Como
Aquele que é sem pecado, Sua natureza repugnava o pecado" (1
White, Testimonies for the Church, v. 2, p. 202). Assim, Jones se v ii

obrigado a voltar atrás na sessão seguinte. No entanto, em Ire% cli


publicamente admitir seu equívoco, buscou urna evasiva: "111.
[Cristo] foi feito em semelhança de carne pecaminosa; não uru
semelhança de mente pecaminosa. Não arrastemos Sua mente
isso. Sua carne era nossa carne; mas a mente era 'a mente de Cristo
Jesus'." (KNIGHT, 1987, p. 138). O interessante é que a razão que
levou jones a fazer tais declarações é a mesma que leva Sparks ,1
também fazê-las. Em seu dilema de tentar harmonizar a absolot.1
isenção de pecado de Cristo com Sua natureza humana decaída, o
autor chega a fazer asserções que parecem contrariar a lógica. Per
exemplo, ele declara que "as tendências corruptas das faculdades
inferiores não causam corrupção a menos que se ceda à tentação"
(p. 66). Como é possível que tendências por definição chamadas de
1/
corruptas" não venham a provocar "corrupção"?

Em segundo lugar, o tratamento que dá à questão de Jesui,


ter nascido de novo parece um tanto inapropriado. O segundo
nascimento é teologicamente associado à experiência da regene-
ração e soa incoerente à cristologia que propõe a possibilidade de
Jesus ter que Se regenerar se, de fato, está isento de pecado. James
Orr, a esse respeito, faz a seguinte indagação: "já houve um mo-
mento no tempo em que se pudesse afirmar acerca dEle Cristo que
O Perf2ccioni5rno 411 4

precisasse de regeneração?... Essa sugestão à mente de João pare-


veria urna blasfêmia. Jesus era o Regenerador - o Doador do Espírito
não um dos súditos regenerados do reino" (citado por TIFF-
'ENSTALL, 1977, p. 126). À teologia tradicionalmente aceita pela
I. A.S.D. nunca pareceu aberta a possibilidade de que Jesus neces-
sitasse de regeneração: "Cristo nunca precisou nascer de novo e
encontrar um novo centro divino" (HEPPENSTAIL, 1977, p. 135).

Em terceiro lugar, se se pode perceber essa certa inconsis-


tência na terminologia do autor quanto ao fato preciso de as facul-
dades superiores de Cristo serem ou não afetadas pelo pecado, bem
como um posicionamento heterodoxo quanto a urna regeneração
de Cristo, penso que há outras dificuldades mais graves em sua
abordagem ao problema da natureza humana de Cristo: o papel
que atribui a Ellen V1ith i te na formação das doutrinas da I. A.S.D., e o
uso seletivo de suas fontes. A compreensão teológica tradicional da
I.A.S.D. é a de que "o papel profético de Ellen White na construção
de doutrina é formativo, e não normativo" (G.RAYBILL, 1981, p. 8).
Isso quer dizer que Ellen White tem urna autoridade confirmatória
e não uma autoridade canônica. Ou seja, corno a própria Ellen
White afirmou: seus testemunhos nunca devem receber primazia
sobre a Bíblia (Evangelism, p. 256) e não devem tornar o lugar da
Bíblia (Testimmlies, v. 5, p. 663). O que parece é que o autor comete
o equívoco metodológico de basear suas declarações
essencialmente nas citações que faz de Ellen VVhite, sem. buscar um
respaldo bíblico. Isso contraria a posição geralmente defendida
pelos teólogos ad-ventistas de que "mesmo dentro da igreja a Sra.
■■■ • Heterodoxia

White não deveria se tornar a Ultima corte de apelo em questões ti t.


doutrina" (GRAYBILL, 1981, p. 8) e não deveria ser vista "coniti
uma autorida-de final, mas como uma fonte de influência e insight"
(GRAYBILL, 1981, p. 10). Além disso, seu uso de Ellen White e
bastante seletivo. O autor inclui um apêndice, denominado de
Apêndice B ("Christrs Fallen or Sinful Human Nature: Spirit o
Prophecy Statements"), em que enumera várias citações de Elle',
White que parecem indicar uma condição pos-lapsariana para .1
natureza humana de Jesus. No entanto, seu uso é seletivo porque
ignora aquelas declarações que parecem produzir um efei
contrário, isto é, que declaram que a natureza humana de Jesus erd
pré-lapsariana. Sua exposição teria sido mais coerente com ,)
verdade se também tivesse mencionado passagens como:

Ele Cristo devia tomar Sua posição como cabeça da hum,


nidade, assumindo a natureza, mas não a pecaminosidacir
do homem (SD ABC, v. 7,p. 925).
Ele orava por Seus discípulos e por Si mesmo, identificando
Se, assim com nossas necessidades, nossas fraquezas, e
nossas falhas, que são tão comuns á humanidade. Ele era um
intercessor poderoso, não possuindo as paixões de nossa,.
naturezas humanas decaídas, mas possuidor das mesniiv,
enfermidades, tentado em todos os pontos como nós somo',
(Te stimonies, v. 2, p. 508-509).
Ele é nosso exemplo em todas as coisas. É um irmão riu
nossas enfermidades, mas sem possuir paixões semelhai
tes. Como Aquele que é sem pecado, Sua natureza rei) ty,
nava o pecado (Testirnonies, v. 2., p. 202).
Seja cauteloso, excessivamente cauteloso acerca de como
lidar com a natureza humana de Cristo. Não O apresente
Pci 12:.:._kinNwo 4444

povo como um homem com propensões para o pecado" (E.


G. White manuscript releases, v. 13,p. 1128).
... que todo ser humano seja advertido acerca do perigo de
apresentar a Cristo como completamente humano, corno
um de nós; pois isso não pode ser (E. G. White manuscript
releases, v.13, p.1129).

Finalmente, o autor poderia ter considerado um pouco mais


aquilo que teólogos adventistas contemporâneos têm afirmado
acerca da controvérsia lapsariana da natureza humana de Cristo. Ao
dizer no prefácio que "nenhuma fonte não inspirada foi usada nem
sequer como um esboço ou guia" (p. 3), o autor praticamente ignorou
todo o debate que tem sido travado em meios teológicos acerca do
tema. Ao fazer isso, parece que acaba procurando apenas reinventar a
roda. Será que foi o único dentre tantos escritores cristãos a tratar o
assunto corretamente? Será o único detentor da verdade?

Parece que a I.A.S.D. abre a possibilidade de uma posição


que não seja unicamente pré-lapsariana, isto e, que não aceite que
Cristo tenha recebido apenas a natureza humana não-decaída, mas
talvez também uma natureza humana decaída ou pós-lapsariana
(BAUMAN, 1995; TORRES, 1997). Essa posição ambilapsariana,
ainda que não seja a principal corrente hoje entre adventistas, se
deve principalmente ao fato de a Igreja ter chegado à compreensão
de que não é necessário provar que Cristo não tenha tido nenhuma
vantagem sobre os seres humanos quando lutou contra o pecado
nesta terra. De fato, a Igreja crê hoje que Cristo teve muitas desvan-
tagens. Uma compreensão teológica do assunto indica que Cristo
resistiu a tentações muito maiores do que aquelas às quais jamais o
■■■ • HtteroLtcxI4

homem é chamado a resistir. Martin Weber, por exemplo, det_lm


que basicamente a diferença entre as tentações de Cristo e as di 1.,
demais homens é precisamente urna diferença de graus: "Cristo it
tentado a suprimir a Sua natureza humana adquirida e liberar SLI,1

divindade natural. Nós somos tentados a suprimir nossa nature7.1


espiritual adquirida e liberar nossa pecaminosa natureza hum"(
(WEBER, p. 69).

Alguns teólogos (NEWIVIAN, 1968, p. 171-206; ESPINOSA,


1988, p. 89) afirmam que um dos testes para se aferir uma doutrind
como tendo tido um desenvolvimento genuíno é a antecipação cli
seu futuro; isto é, em algum momento do passado, sua idéid
principal precisa ter sido expressa de alguma forma. No entanto,
diante das críticas da teologia pós-moderna de que uma continui
dade com o passado pode meramente indicar processos análogos
de legitimação de discursos injustos (ROCHA, 2007), eu acrescen-
taria aqui que também é de capital importância prever o futuro de
uma doutrina, isto é, aonde ela nos levará.

O que se percebe do raciocínio empregado por Sparks,


especialmente no capítulo 5, intitulado "The vindication of God's
character" ("A vindicação do caráter de Deus", p. 93-119), é que seu
posicionamento quanto a mostrar que Cristo recebeu uma natureza
humana decaída idêntica à dos demais homens (com a finalidade
de provar que assim como Ele venceu o pecado, também o
podemos fazer de forma perfeita), é que ele pode descambar para
um dos dois posicionamentos mostrados a seguir, que já são
engendrados no próprio livro:
O PcaLccenn:TH;) •Ill

a) ou um perfeccionismo estribado em legalismo: "nossa única


esperança é cessar de pecar" (p. 111), "esta vida temporal é urna
oportunidade para que todos aprendam a respeitar o principio
universal do 'obedeça e viva" (p. 127), "não há justificação que
não seja condicional à obediência - santificação" (p.131);
b) ou a transformação da justificação pela fé em um actus simplex
Dei, em que Deus se vê forçado a uma mágica transformadora
que muda insta.ntaneamente nossa natureza por ocasião da
conversão: "a conversão envolve uma transformação" (p. 100),
o novo nascimento transforma até mesmo nossas tendências
herdadas e cultivadas" (p. 101).

Como se percebe, a conseqüência inevitável do pós-lapsa-


Hanismo é o legalismo: o esforço humano de alcançar a salvação
pelo próprio mérito, pela própria perfeição. O problema desse tipo
de teologia é que nele há uma necessidade cada vez menor de um
Redentor. Se a obediência por si mesma já me garante a salvação da
morte no lago de fogo, para que tenho necessidade de um Red.en-
tor? E tirar Cristo do centro da teologia adventista ou de qualquer
outra teologia é destruir tal teologia.

O livro conta, ainda com dois apêndices. O Apêndice A


intitula-se "Christ's fallen or sinful human nature" ("A natureza
humana caída ou pecaminosa de Cristo", p. 120-140). O Apêndice
B (p. 141-153) lista as principais citações de Ellen White acerca da
natureza humana caída de Cristo.
A Ordenação de Mulheres

HABADA, Patrícia; BRILLHART, Rebecca F. (Eds.). The welcome


setting a piace for orda Med women. Langley Park, Maryland: Teampress,
1995.408 p.

0
livro The welcome table é uma publicação indepen-
dente de uma organização adventista conhecida como
T.E.A.M.. (Tempo para a Igualdade no Ministério Ad-
ventista) que defende a ordenação de mulheres para o ministério
adventista. As editoras solicitaram que Carole L. Kilcher, uma
professora de comunicação da Universidade Andrews, escrevesse
a introdução à obra. A ironia é que a professora Kilcher não acredita
na necessidade de ordenação para homens ou mulheres. Segundo
ela, Jesus não ordenou seus doze discípulos nem tampouco foram
ordenados os setenta. Ela aceitou, no entanto, o convite como resul-
tado de sua participação em duas pesquisas promovidas pela
Associação Geral da IAS). A pesquisa de 1988, dirigida a todos os
pastores e anciãos de igrejas da Divisão Norte-americana (DNA),
recebeu a participação de 3.036 informantes, 960 dos quais eram
mulheres que serviam na capacidade de anciãs ordenadas. As igre-
jas que tinham anciãs ordenadas disseram apoiar a ordenação de
1■ 1 1,-• HI e S:d- C.: kkj, \ 1,1

mulheres ao ministério, enquanto que as igrejas que não as tinham


se disseram desfavoráveis. A segunda pesquisa, realizada em 1980,
foi respondida por 1.872 mulheres que serviam como obreiras nd
igreja mundial, 60% das quais não se encontravam lotadas na DN A
Suas principais queixas, nessas entrevistas, foram: pagamento
desigual, condições desiguais de trabalho e falta de informação_
49% dessas mulheres se disseram favoráveis à ordenação da,
mulheres ao ministério.
O capítulo 1, "A place at lhe table: women and the e.arl y
years" ("Um lugar à mesa: as mulheres nos primeiros anos", p. 27
44), escrito por Bert Haloviak, então diretor assistente do Departa
mento de Arquivos e Estatística da Associação Geral da IASI ),
analisa as assim-chamadas declarações favoráveis de Ellen White
ordenação das mulheres ao ministério. Haloviak estabelece o con
texto em que tais afirmações foram feitas, ligando-as ao rninistéri(
de Ellen White na Austrália, período em que várias mulheres serv i
ram na função de pastoras. Halovialc mostra que, apesar de oh
pioneiros se preocuparem com a autoridade bíblica para a IAS!)
adotar um nome, registrar propriedades junto aos órgãos do
governo e exigir que seus pastores estudassem em seminários, na( )
houve objeção considerável ao trabalho de mulheres no ministério.
Na época, as mulheres adventistas possuíam credenciais ministe
riais, participavam de sociedades ministeriais, dirigiam série.
evangelisticas e recebiam do dízimo. O autor não apresenta as de
clarações em ordem cronológica, mas em função de seu crescente
impacto favorável à ordenação. Começando com a declaração (h.
1985 na Review & Herald, segundo a qual as mãos das rnulhere,
Ordenàç:jo Alulbere5 .444

adventistas não deveriam ser amarradas, Haloviak faz referência à


declaração da carta de 1897, em que Ellen White, com uma definição
versátil e dinâmica do ministério, declara que as mulheres envol-
vidas no ministério adventis ta deveriam receber do dízimo, e fina-
liza com uma menção à declaração de 1891, feita em uma sessão da
Associação Geral, em que Ellen White afirma que o ministério de
homens e mulheres precedeu, na mente de Deus, a criação do
inundo.
O capítulo 2, "Moving away from the table: a survey of
historical factors affecting women leaders" ("Saindo da mesa: uma
pesquisa sobre os fatores históricos que afetaram as mulheres em
posição de liderança", p. 45-57), escrito por Kit Watts, editora
assistente da Revista Adventista, em inglês, foi originalmente pu-
blicado na revista Ministério Adventista, em inglês, e mostra as
razões por que a IASD deixou de conceder credenciais ministeriais
às mulheres. A autora mostra como a influência de Ellen White
clareou a visão da igreja em relação ao papel da mulher na socie-
dade numa época em que as mulheres, de modo geral, não podiam
ter propriedades, não podiam freqüentar universidades, não
podiam votar e não podiam falar em público. A autora lembra que
religiosos como John Wesley e George Fox foram os primeiros a
falar cru defesa de uma maior participação feminina no ministério.
Após citar as declarações de Ellen White de que Maria foi a primeira
a anunciar a ressurreição de Jesus (de 1886) e de que as mulheres
podem fazer um trabalho superior ao do ministro que negligencia
visitar o rebanho (de 1898), Watts mostra, por meio de gráficos, as
estatísticas que mostram o decréscimo no número de mulheres
1•11• ■ ■•• H etc rodox

servindo como tesoureiras e secretárias de Associações, bem comi


daquelas servindo como departamentais de educação e escola
sabatina, na Associação Geral. As razões apresentadas para til
decréscimo são: a crise econômica resultante da Grande Depressa( ■ ,
a nova ênfase nos papéis maternos por causa das Grandes Guerra',
Mundiai e, e a morte de Ellen Whi te. Finalmente, a autora lembra qui
a recente discussão acerca da ordenação de mulheres pela I ASD sr

deveu ao pedido da União Finlandesa à Associação Geral, em 19oR,


de que essa injustiça seja corrigida.
O capítulo 3, "A guide to reliable interpretation: detem)
ning lhe meaning of Scripture" ("Um guia para uma interpretaçá(
confiável: determinando significados nas Escrituras", p. 63-90), es
crito por Raymond Cottrell, um dos editores do Comentário bíbli-
co adventista, tenta mostrar que, embora alguns estudiosos ligue
a defesa da ordenação da mulher ao emprego do método histórico
crítico (um método liberal com pressuposições anti-supernatura
listas), são aqueles que se opõem a ela que o fazem movidos por sua
fidelidade a um método de tendências fundamentalistas, conhe-
cido corno método gramático-histórico (p. 80). O termo "gramá-
tico" significaria, etimologicamente, "literal", uma vez que a pala-
vra grega grarnma significa "letra". Para o autor, esse método, ao
qual chama de variante da hermenêutica fundamentalista (p. 83),
ganhou acesso à ortodoxia adventista na década de 70, sendo desco-
nhecido, entre os adventistas, anteriormente a esse período. Segun-
do Cottrell o método é principalmente empregado pelos adminis-
tradores da IASD sem treinamento teológico porque essa
metodologia dá um aspecto de respeitabilidade teológica às
A Ordcnação de Mu] ileiC5 1 444

posições fundarnentalistas a que conduz. Para Cottrell, tanto o


método histórico crítico quanto o gramático-histórico são inade-
quados para o estudo teológico da Bíblia. Segundo ele, o primeiro
supervaloriza a dimensão humana da Bíblia (considerada mera-
mente como obra literária), enquanto o segundo atribui valor exces-
sivo à dimensão divina do processo revelatório. Por isso, propõe a
utilização de um método histórico que mitigue as tendências aos
dois extremos.
O capítulo 4, "Genesis revisited" ("Gênesis revisitado", p.
93-111), escrito por Donna J. Haerich, historiadora e membro leigo
de uma igreja adventista da Flórida, analisa o relato da criação e da
queda. A autora procura, primeiramente, definir o significado de
imagem de Deus. Para isso, ela recorre a teorias correntes a esse
respeito. O que seria, então, a imagem de Deus? capacidades morais
e intelectuais? livre arbítrio? capacidades sobrenaturais? capacida-
de de domínio sobre a terra? Depois de dar certa atenção a esta
última possibilidade (uma vez que Gerhard von Rad propõe que,
na Antigüidade, as estatuas de soberanos erigidas em seus domí-
nios indicavam precisamente isso), Haerich evoca a análise poética
de Phyllis Trible e a teoria de Karl Barth de que, em Gênesis, a ima-
gem de Deus significa a pluralidade formada por homem e mulher.
A seguir, a autora enfatiza que a bênção de Gn 1:28 foi pronunciada
sobre homem e mulher (e não sobre o homem apenas), consti-
tuindo-se em uma bênção de fertilidade e de domínio não violento
sobre a terra (e não um sobre o outro). Haerich também analisa Gn 2
e percebe que a palavra homem (is/i.) não ocorre até Gn 2:22-23.
Antes disso, o relato emprega o termo 'arfam, que significa "ser
■• ■■ • Heterocioxi,:i

humano". Para ela, isso indica que o sexo no relato de Gênesis é uilt
dado apenas incidental. Ao descrever a criação da mulher, a autor.1
esclarece que a palavra selah não significa costela e que o termo L c
("ajudadora") não tem nenhuma conotação de subordinação. 11. ■
alega que o fato de a mulher ter sido tirada do homem não sugeor
que ela lhe seja subordinada da mesma forma que o fato de i
homem ter sido tirado da terra não o subordina a ela. Pelo contrári
ao ser humano foi dado o domínio sobre a terra. Além disso, Gn 22)
não afirma que a mulher foi criada para o "varão" (ish), mas pa r.t
que o "ser humano" (ladani) se tornasse completo. O fato de a desi
nação de "mulher" (ishshah) ter sido tirada da designação du
"homem" (ish) tampouco prova coisa alguma, já que a expressai
"ser humano" ( 1 atiarn) também foi tirada de uma outra palavra
"terra" (aduma). Finalmente, a autora contende que o homem só de(
à mulher o nome de Eva ("vida") após a queda (Gn 3:20).
O capítulo 5, "Man and woman as equal partners: the
biblical rnandate for inclusive ordination" ("Homem e mulliiii
como parceiros em igualdades de condições: a ordem bíblica ai
ordenação inclusiva", p. 113-135), escrito por David Larson, profe,-,
sor de ética da Universidade Adventista de Loma Linda, propor
urna interpretação) coerente para a expressão "auxiliadora idônea"
de Gn 2:18 e a questão da subordinação da mulher ao homeiu.
Segundo ele, a expressão não pode significar que a mulher er.,
inferior e subordinada ao homem, urna posição comum nos relato
extra-bíblicos da criação. Dizer que a mulher é a imagem do homem
assim como este é a imagem de Deus ignora alguns aspectos fun
damentais do relato de Génesis: (1) o caráter relacional, mútuo e
A Orden4ção cie N .luihert25 444.

recíproco entre homem e mulher, (2) o fato de ézer (" ajn dadora") sei
também empregado em relação a Deus (Ex 18:4; S133:20; 70:5; 146:5,
Os 13:9, etc), e (3) as declarações de Ellen White, segundo as quais
Deus criou Eva em igualdade com Adão (Patriarcas e profetas, R
58). A expressão tampouco pode significar que a mulher foi criada
subordinada, mas não inferior ao homem porque essa idéia tem al-
gumas deficiências básicas: (1) é muito difícil separar valor e função,
(2) não tem fundamentação bíblica (1 Co 11:12; Cl 3:28), (3) não
encontra apoio nos escritos de Ellen White que afirmam que mulher
e homem foram criados em completa igualdade (Testimonies for
the church, v. 3, p. 484), (4) não leva em consideração que Eva não
foi tentada a se tornar como Adão, mas como Deus, e (5) não leva em
consideração o fluxo do relato bíblico que mostra que a mulher nem
sempre foi submissa ao homem (Gn 1-3), que a mulher não será
submissa ao homem (Joel 2) e que a mulher não precisa ser sub-
missa ao homem (Cl 3). A posição do autor é que, em conformidade
com o que afirma Ellen White (Testirnonies for the church, v. 3, p.
484) a subordinação da mulher é uma conseqüência da queda.
Sendo assim, do mesmo modo que o homem procura, por meio de
avanços tecnológicos e progresso nas técnicas de agricultura, se
libertar das limitações a ele impostas pela queda, a mulher deve
buscar se libertar de suas limitações. Para isso, o autor sugere
mudanças: a igreja deve enfatizar (1) organicidade e não hierarquia
(1 Co 12), (2) submissão mútua (Ef 5:20-22) e não submissão
unilateral, (3) princípios e não conjunturas sociais e (4) destemor
diante da perspectiva de mudanças. De acordo com Ellen White
(Life sketches, p. 196) "nada temos a temer em relação ao futuro..."
■■■■ H ete rodox:i

O capítulo 6, "The disappearance of paradise" ("0


desaparecimento do paraíso", p. 137-153), escrito por Fritz Guy,
professor de teologia na Universidade Adventista de La Sierra, na
Califórnia, propõe uma releitura imparcial dos capítulos iniciais de
Gênesis a fim de compreender sua significância teológica. Ele
percebe dois pontos culminantes nos dois relatos da criação, em
Gênesis, a criação do sábado para a comunhão entre o ser humano e
Deus e a criação do primeiro casal para a comunhão dos seres
humanos entre si. Ele analisa que a queda trouxe inúmeras conse-
qüências para a raça humana: (1) vergonha e culpa, (2) alienação, (3)
evasão e tendências para racionalizar, isto é, jogar a culpa uns no
outros, (4) aumento das exigências de trabalho, (5) corrupção da
natureza humana, (6) desequilíbrio nas relações entre Deus, ho-
mem, mulher, animais e vegetais, (7) interdição da árvore da vida e

(8) morte. Segundo ele, no entanto, a idéia equivocada de que as


dores de parto deveriam intensificar-se após a queda se deve a uma
tradução equivocada do termo hebraico issabon, aplicado à mulher
em Gn 3:16 e ao homem em 3:17. Sua interpretação é de que a queda
trouxe mais trabalho para homens e mulheres, e um aumento na
freqüência da gravidez. Além disso, a natureza humana é corrom -

pida de tal forma que a mulher se vê degradada a uma condição de


subordinação e o homem se vê degradado a uma condição de se-
nhor da mulher. O autor afirma que ambos os fardos são pesados e
recorda que a exigência de o homem estar sempre em controle da
situação é tão desumana quanto a de se exigis que a mulher aceite
passivamente a sua sorte. A queda trouxe uma outra conseqüência
desagradável: quando uma mulher não aceita a dominação masca
A •11±Hernr.,:ào 4414

una, pensa-se que ela está tentando dominar o homem. No entanto,


em todo o relato de Gênesis, Deus nunca a repreende por ter
tomado a iniciativa, mesmo em relação ao diálogo com a serpente, e
o homem nunca é repreendido por não ter exercido autoridade
sobre a mulher a fim de evitar a queda. Os papéis sexuais são,
portanto, pouco significativos nesse relato. A "maldição" proferida
por Deus é um catálogo de problemas a serem resolvidos e não de
soluções a serem perpehiadas.

O capítulo 7, "Inclusive redemption" ("Redenção inclusiva",


p. 155-171), escrito por Edwin Zackrison, professor de teologia na
Universidade Adventista de I.,a Sierra, na Gilifórnia, estuda os
diferentes sentidos teológicos da palavra "redenção": (1) libertação;
(2) resgate; (3) livramento da morte (por meio da ressurreição). O
autor declara que o conceito pressupõe a seqüência perfeição
/queda/restauração (história da salvação) e cristocentriciclade. Tra-
ta-se, segundo ele, de um brilhante simbolismo (comprar escravos a
fim de libertá-los) com duas dimensões: vertical (relacionamento com
Deus) e horizontal (relacionamento com os se-melhantes). Zackrison
nos adverte, então, que nossa compreensão teológica já esteve errada
a nível popular: a idéia de que a raça negra participara da maldição de
Cão predominou entre muitos adventistas até recentemente. Hoje,
nenhum de nós defende a inferioridade dos negros e esse pensa-
mento chega a parecer absurdo. Por essa razão, não devemos confun-
dir autoridade bíblica com interpretação bíblica. Segundo ele, a reli-
gião, às vezes, pode ser mesmo um ópio para o povo, especialmente
quando tratamos de estruturas de poder (p. 170-171). Assim, preci-
■ > ■■ Heterodoxii

samos aprender a diferençar entre "balela religiosa" (godtalk) e .1

expressa vontade de Deus, pois esta inclui a redenção do ser humack


a partir de agora, em sua vida na terra.

O capítulo 8, "The forgotten disciples: the empowering ( cl


love vs. the love of power" ("Os discípulos esquecidos: o poder (Ic
amor versus o amor ao poder", p. 179-195), escrito por Halcyo 11
Westphal Wilson, pastora de uma igreja adventista nas imediaçõe.
da Universidade de La Sierra, enaltece as mulheres que foram dis
cípulas de Jesus, seguindo-o e apoiando financeiramente o seu
ministério (Lc 8:1-3). Ela chama a atenção para o fato de que as m
lheres foram as primeiras companhias na vida de Jesus e as última
em sua morte. Embora Jesus procurasse trabalhar dentro dos parà
metros culturais de sua época, Ele ignorou as limitações que tinha ri i

sido impostas sobre as mulheres (que não eram contadas na lista de


membros das sinagogas, eram igi ioradas pelos rabis na vida públi
ca, eram impedidas de freqüentar os cultos quando menstruadas e
não eram admitidas às cortes judiciais como testemunhas) e libe
rou-as para participarem ativamente de seu ministério. Wilson
afirma que as barreiras entre homens e mulheres ruíram no Pente- •
coste (Cl 3:28), Rrn 16 tornando - se uma verdadeira sala da fama de
mulheres cristãs: Febe, Prisca, Maria, Narcisa, Trifena, Trifosa,
Perse e júnia (que é chamada de "apóstola" em 16:7). Assim, a su-
gestão da autora é que homens e mulheres parem de competir por
prioridade (ser o primeiro) e busquem unidade (ser um).

O capítulo 9, "Who's in charge of the family?" ("Quem


manda na família?", p. 197-221), escrito por Sheryll Prinz
A Ordcn:içotIc Mulheit) •444

McMillan, professora de religião na Universidade Adventista de


Lama Linda e pastora de unia igreja adventista nas imediações
daquela universidade, analisa as principais passagens bíblicas
geralmente apresentadas contra a ordenação de mulheres. Antes
disso, ele mostra corno a doutrina do homem como cabeça tem sido
correlacionada pelas estatísticas com a violência familiar, estabele-
cendo uma hierarquia homem/mulher/criança. A autora analisa,
primeiramente, o texto de 1 Co 11. Segundo ela, a temática dessa
passagem não é uma teologia da feminilidade, mas urna discussão
acerca de estilos de penteado. Nessa passagem o sentido do termo
grego kepluilè ("cabeça") teria sido mal compreendido pelos estu-
diosos que imaginaram que a palavra teria a mesma conotação
metafórica dos nossos dias, isto é, a de liderança. Um estudo do
termo em suas ocorrências na Antigüidade deu início a uma batalha
dos léxicos e sugere que seu sentido básico é o de fonte e não o de
líder. Assim, o homem seria a fonte da mulher (por ter sido criado
primeiro) e não o líder da mulher. É, por isso, que Jesus é chamado
de cabeça da Igreja, a primicia dos mortos (Co 1:18). De fato, o termo
nunca é usado na Septuaginta para traduzir uma palavra hebraica
que signifique autoridade. Além disso, os pais da Igreja, principal-
mente Basílio e Atanásio, deram essa interpretação de fonte a
keplialë.1 Co 11:5 esclarece que as mulheres cristãs estavam partici-
pando ativamente na adoração. Como judeus e gregos não estavam
acostumados a isso, Paulo age de maneira comedida para dar - lhes
tempo de se acostumar a essa nova realidade. A segunda passagem
analisada pela autora é 1 Co 14, cujo terna básico não é o relaciona-
mento entre homem e mulher, mas a ordem no culto. A passagem
104,4-> 1 leterodoxO

pode estar simplesmente proibindo as mulheres de adotarem


comportamento desordenado durante o culto, uma vez que dir.
tampouco estavam acostumadas a participar da adoração. I:
provável que a lei à qual se refere Paulo seja a lei romana que proibi.]
o comportamento desordenado das mulheres em reu_nioc.
públicas. Os romanos desconfiavam especialmente das mênado!.
(ou bacanais), as adoradoras do deus (e não deusa, como afin -na LI

autora, p. 208) Dionísio ou Baco. A terceira passagem analisada é 1.:


5 que faz uso de uma forma literária conhecida como "código
doméstico". Esses códigos eram geralmente propostos por filósofot;
antigos para nortear o comportamento das famílias greco-romano!:
(mas, ao contrário do que afirma a autora na p. 210, não tinha]
valor legislativo). Paulo faz, porém, subverte sutilmente o formato
do código que propõe: ele substitui submissão unilateral por sul
missão mútua e, surpreendentemente, encoraja o amor e não o
governo. Essa sutileza é necessária porque, do contrário, o apostoi(i
poderia acabar violando as convenções sociais de sua época
Finalmente, a autora analisa o texto de 1 Tm 2, propondo que sei
tema básico é uma discussão sobre o celibato, e reconhece que a
passagem parece em desarmonia com outros textos paulinos. No
entanto, ela aponta para o fato de que a palavra hésuchia pode não
significar "silêncio" (mas comportamento ordenado) e que o verbo
authenteõ ("dominar") pode se referir ao comportamento permis
sivo das hetairai (ou "cortesãs") gregas que eram convidadas ao ,.
banquetes com a finalidade de entreter os homens com música,
discussões filosóficas e sexo. Assim, 1 Tm 2 pode ter o propósito
duplo de reprovar um comportamento por parte das mulhere,:
A ordet m , ; :ri o Ác Mulheres .414

cristãs que, de alguma forma, faça lembrar o comportamento das


cortesãs e desabonar o ensinamento gnóstico
- de que a mulher é a
mediadora cio conhecimento.

O capítulo 10, "Spiritual gi.fts and the good news" ("Os dons
espirituais e as boas novas", p. 223-236), escrito por Joyce H. Lorntz,
PhD em serviço social e pastora auxiliar de uma igreja adventista na
Carolina do Norte, apresenta evidências de que Deus concedeu os
dons de ministério também às mulheres. Segundo ela, isso se
percebe pela metáfora do corpo articulado (em Rm 12:4-5) e pelo
precedente do ministério das mulheres na Bíblia (as filhas de Filipe,
Minam, Débora, Fluida, a esposa de Isaías, Ana, Febe, Priscila, etc).
Além disso, Deus não é limitado por preconceitos culturais. Por
essa razão, ninguém proporia, hoje, deixar fora do ministério os
castrados, os bastardos e os moabi tas (embora esses fossem banidos
da assembléia em Dt 23:1-3). Segundo a autora, os principais textos
bíblicos sobre os dons espirituais (Rm12:3-8; 1 Co 12; Ef 4:1143) não
fazem restrições às mulheres. As mulheres também são chamadas a
pregar o evangelho sob a premissa do sacerdócio de todos os
crentes (1 Pe 2:440). Para resolver o dilema entre hierarquia e mutu-
alidade, é necessário procurar uma solução que se fundamente na
vontade de Deus, que ajude a Igreja a cumprir a missão que lhe foi
confiada e que permita que os membros façam pleno uso de seus
dons (1 Pe 4:10). Uma teologia que reflita uma cadeia de comando
nada mais seria do que a repetição do desejo de Satanás de se tornar
como Deus ou o pedido dos discípulos de terem posições privilegia-
das no reino de Deus. Ordenar mulheres enviaria ao mundo a
■■■ • f--1 ete rOCIOX Ia

mensagem de que valorizamos a reconciliação, a igualdade, ti


serviço e a humildade. Dizer que uma mulher não pode usar cri
dons que lhe foram concedidos pelo Espírito Santo desonra ti
Distribuidor Divino de dons (p. 232).

O capítulo 11, "Ministry: a place for men and women"


ministério: um lugar para homens e mulheres", p. 237-250), escrilç
por V. Norskov Olsen, ex-diretor geral da Universidade Advent is i al
de Loma Linda, analisa os tipos de ministérios existentes na igreja s
cristã primitiva. Olsen parte da observação de Hans Kting de que,
ao falar de ministérios, os autores do Novo Testamento evitaram
usar expressões gregas que sugerissem autoridade em favor de
expressões que enfatizavam serviço. O autor apresenta, então, of,
tipos de ministério, começando pelo ministério apostolar, cuja
existência ele restringe unicamente à igreja primitiva, uma vez que
o apóstolo é aquele que é chamado e treinado pelo próprio Cristo
Depois, Olsen faz referência ao ministério carismático, que ele
define como sendo o ministério oriundo da distribuição de don,,
pelo Espírito Santo cujas modalidades estão incluídas nas lista',
paulinas (1 Co 2:28 e E 4:11), de conotação missionária, admin is
trativa e litárgica. Finalmente, o autor faz referência ao ministério
formal, iniciado pela escolha por parte da congregação e •1
subseqüente imposição de mãos (At 14:23; F11:1;1 Tm 3:843; TI 1:5)
O autor trata, então, das palavras gregas usadas em relação ao
ministério das mulheres no Novo Testamento: dialonos (Rin 16:1 2),
inconsistentemente traduzida como "ministro" no contexto da ato
ação dos homens, mas traduzida como "diaconisa" quando usada
A OFtlench:ào cH .MILJ hef- e5 .444

em referência a urna mulher (1 Tm 3:17; 5:9-10); prastátis (Rm 16:2),


patronesse „ ; e kopiõso "obreira" (Rm 16:6, 12). Sua conclusão é de
que o Novo Testamento apresenta as mulheres como ativamente
envolvidas no ministério cristão.
O capitulo 12, "Ordination among Lhe people of God" ("A
ordenação dentre o povo de Deus", p. 251-268), escrito por Ralph E.
Neall, ex-professor de religião do Union College, instituição adven-
tista localizada em Nebraska, trata da história da prática da
ordenação ao ministério. Segundo ele, o Novo Testamento não
possui uma palavra para ordenação e essa prática pouco acrescenta
à capacitação já provida pelo Espírito Santo (ID. 251). O autor
procura demonstrar que há uma diferença qualitativa entre o
ministério do Antigo e do Novo Testamento: atrair as nações x ir até
as nações; sacerdócio levítico x sacerdócio de todos os crentes;
ingresso pelo nascimento x ingresso pelo novo nascimento; admis-
são pela circuncisão x admissão pelo batismo; e segregação das
mulheres x inclusão das mulheres. Para ele, a ordenação não era
importante na igreja primitiva, tendo assumido certa obrigatorie-
dade unicamente a partir de Cipriano de Cartago (146-258 A.D.),
quando os bispos passaram a ser vistos como sacerdotes (p. 258).
lautero lutou para reverter essa situação e Calvin° chegou a rejeitar
completamente a cerimônia da ordenação. Os primeiros pastores
adventistas a serem ordenados (J . N. Andrews; A. S. Hutchins e C.
W. Sperry) só o foram, em 1853, a fim de serem diferenciados
daqueles que estavam pregando falsas doutrinas. Para terminar o
capitulo, o autor propõe um reestudo de 1 Tm 2:11-15 à luz das
■ ■■ • H eterodoxia

descobertas de Richard e Catherine Kroeger de que a igreja de Éfe , ,k ■


(onde se encontrava Timóteo) tinha um problema crônico com •

doutrina grióstica de que a mulher era uma mediadora de corthet


mento para o homem. Dessa forma, a recomendação de que
mulher ficasse em silêncio na igreja pode ser simplesmente uma
tentativa de lidar com um problema local.

O capítulo 13, "Women and mission" ("As mulheres e ,1


missão", p. 269-288), escrito por Ginger H. Harwood, professora Ile
ética e religião na Universidade Adventista de La Sierra e na Uni
versidade Adventista de Loma Linda, ambas na Califórnia, sal len 1,1
que o debate sobre a ordenação de mulheres na IASD não é um
resultado do movimento feminista (p. 269). Segundo ela, quatro
grupos participam desse debate: um grupo decepcionado com a
morosidade com que a igreja responde às questões de injustiça e
discriminação e que pensa que a igreja deve estar na vanguarda da
luta contra a violência e a tirania, um segundo grupo que enxerga o
debate como uma evidência da chegada da secularização à igreja e
da contaminação de nossos princípios com valores mundanos, um
terceiro grupo que se ressente do fato de que as mulheres estejam
preocupadas com sua situação social em vez de simplesmente se
envolverem na pregação do evangelho e um último grupo que
defende que a mulher foi criada inferior ao homem e, por isso, não
deve ter acesso à mesma posição hierárquica que este. Após obser-
var o debate, a autora chegou a quatro conclusões: (1) a Bíblia não e
explícita a esse respeito; (2) o assunto exige exame cuidadoso; (3) o
tema requer o estudo da ordenação de modo amplo; e (4) o tema
A Orclena..,:âo dc N'41.11heres •44 4

envolve mais o lado emocional do que o intelectual (p. 273). Para a


autora, a ordenação de mulheres será decisiva para o cumprimento
da Grande Comissão, pois (1) 60% dos membros da igreja mundial
são do sexo feminino; (2) o trabalho harmonioso de homens e
mulheres tem mais poder; e (3) as mulheres podem alcançar, com
mais facilidade, outras mulheres, tornando-se seus modelos,
especialmente no caso de mulheres que sofreram abusos ou vivem
em partes do mundo onde há intensa segregação. Segundo Ellen
White, "se houvesse vinte mulheres onde há apenas uma, que
fizessem dessa sagrada missão a sua obra almejada, veríamos
muitos mais convertidos à verdade" (Review & Herald, 2/1/1879).
Por que, então, ordenar mulheres: (1) para que façamos uma
declaração pública de que as mulheres podem exercer o ministério;
(2) para que reconheçamos publicamente que seu ministério é útil
para a igreja; e (3) para que elas sejam submetidas às mesmas
exigências de capacitação que são requeridas dos homens. A autora
termina o capítulo com o poema de Chuck Lathrop (minha versão):
Em busca de uma mesa redonda
Quando indagamos por que, corno e quem há de ministrar,
Só uma imagem fica aparecendo:
uma mesa redonda!
Ela vai precisar ser serrada,
e arredondada.
O serrote vai trazer dores
para as pessoas e para as mesas
Mas assim também foi com a cruz,
uma mesa esquisita,
■ 1,4 , H e te ro d ox ia

para dar e, é claro, para morrer.


Dessa morte veio vida,
dessa vida veio o levantar-se da mesa
para seu arredondamento
O que é essa mesa redonda na igreja?
É não guardar lugar,
não separar a primeira da última fileira,
não deixar o estrado dos pés para os menores
Mesa redonda significa
fazer parte do todo
em unidade
Significa reservar lugar...
para o Espirito
e seus dons...
Significa perturbar a paz profunda de todos
Nós preparamos, no presente, a argamassa dofuturo
pois não podemos mais nos preparar para o passado!
O capítulo 14, "A table prepared" ("Uma mesa preparada"
p. 291-298), escrito por his M. Yob, PhD em educação pela Univer-
sidade de Harvard, é uma reflexão recapitulativa do conteúdo d e
todo o livro. Segundo a autora, dada a natureza inclusiva do chama-
do para todos nos sentarmos à mesa do banquete do Cordeiro, não
deveríamos imaginar que o chamado de Jesus para que sirvamos, à
mesa, seja menos inclusivo (p. 292). Nossos pioneiros, especial-
mente Uriah Smith, J. N. Andrews, James White, G. C. Tenney
Ellen White, foram fervorosos defensores da idéia de que as mulhe
res adventistas deveriam receber credenciais pastorais para o mi-
A Ottlerijção cle PALitheres 1144

nistério, sendo que 53 mulheres receberam tais credenciais até 1975


(p. 297), a autora solicita, portanto, que essa tradição seja respeitada
e mantida.
O livro contém, ainda, um apêndice sobre as declarações de
Ellen White sobre o ministério (p. 301-308), uma explicação sobre a
teologia da ordenação como esta constava da edição de 1992 do
manual para ministros acIventistas (p. 309-312), uma declaração
com as bases bíblicas para a ordenação de mulheres (p. 313-315), um
conjunto de testemunhos favoráveis à ordenação de mulheres da
parte de influentes líderes da IASD (p. 316-333) e um esboço
cronológico da história do debate sobre a ordenação de mulheres na
IASD (p. 334-358). Finalmente, o livro oferece uma lista cronológica
seleta de 150 mulheres adventistas que se envolveram no ministério
pastoral, acompanhada de pequenas biografias (p. 359-381), as 200
perguntas mais freqüentes sobre a ordenação de mulheres na IASD
e respostas sugestivas para essas perguntas (p. 382-398) e urna
bibliografia recomendada sobre o tema (399408).
Autoritarismo ou Autoridade

PHILLIPS, Max Gordon. The chorei]: leave it and love it? Adventist
Today, v. 4, n. 2,p. 12-13, Mar.-Apr, .1996. Disponível em:
ittlps://www.atoday.com/ magazine/ 1996/03/ehurch-leave-it-and-iove-it-0.
AlTSSO em 25 OU t 2007.

artigo The church: leave it and love li? ("A igreja: deixe-a
e ame-a?") constitui talvez um dos mais atípicos entre
aqueles que são analisados neste livro. Trata-se, de fato,
hie uma carta endereçada a Walter Rea, ex-pastor adventista e autor
lie A mentira branca, a propósito de sua remoção do rol de
Intim bros da IASD. O artigo é escrito por Max Gordon Phillips, um
¡taro ministro adventista que, à época, se mostrava incerto quanto
Mia condição de membro da IASD. Phillips diz, logo no prólogo,
mirar a coragem e a franqueza de Rea. Segundo Phillips, Rea
ti
. xou a IASD pela porta da frente, ao pedir para ser eliminado do
de membros. Saiu, mas não como vítima.

Phillips diz que, em seu próprio caso, optou por tornar-se


ro ala carte. Isto significa que escolheu continuar a freqüentar
tia, mas passou a ser seletivo quanto aos ensinamentos da
o, optando por itens que, de fato, o ajudassem em seu cresci-
tu espiritual e no desenvolvimento de seu ministério.
■■■ fr Hctewidoxii

O autor analisa inicialmente se é possível freqüentar a 1A'


se alguém tem alguma restrição quanto a algum dos posicionar] c .1
tos da Igreja e como lidar com a questão da autoridade da Igrel,
nesse caso. Para Phillips, a IASD é mais do que uma instituição. 1, h

também ecc lesia e, por isso, ela se torna capaz de prover certo es I
ço para que mesmo os detractores possam se beneficiar de .c.cci
ministério. Quanto à questão da autoridade eclesiástica, decl.
ções como aquela feita por Kenneth Wood e publicada na Rev
Adventista, em inglês, tem, esssencialmente, um grave tom papa l.

Qualquer um que professe ser adventista do sétimo


deveria ser capaz de afirmar, sem qualquer reserva 011

desculpa mental: - creio em todas as doutrinas ensinai


pela Igreja

Para Phillips, essas palavras aterrorizadoras e engessame


se pronunciadas em um culto, na manhã de sábado, terão o efeito de'
fazer com que a congregação se torne "fria como a pedra, vatre
como a pedra e morta como a pedra". O pregador, nesse caso, soa
COMO o "homem oco" do poema de T. S. Eliot. Essa autoridade.,
segundo o autor, não vem de Deus, pois "Deus não se deixa ema r,
nhar, nem sucumbe às armadilhas, nem tampouco se deixa pren (i
em sepulcros ou se deixa limitar por quaisquer pontos de crenç.R.
fundamentais, quer 27 ou qualquer outro número". Phillips crê q (
Deus "não apenas está vivo, mas livre e ativo". É ele que retém teci, e
autoridade, mas ele faz isso piscando-nos os olhos enquanto avan
çarnos em nossa odisséia espiritual.

Phillips passa, então, a analisar as doutrinas rejeitadas pee


Walter Rea e que causaram sua demissão do ministério adventiste
,A (..it(1)Er t4[15; f20 LLi ALI tuildd ite 41141

Phillips considera a doutrina do santuário, por exemplo, como


destrutiva para os membros da 1ASD. Segundo ele, essa doutrina
foi criada para salvar o ego dos pioneiros diante do desaponta-
mento como se Deus fosse o culpado por ter-lhes dado o bolo. Por
essa razão, ele propõe uma nova doutrina do santuário que possa
ministrar às verdadeiras necessidades da Igreja. Quanto a Ellen
White, que Rea havia rejeitado como profetisa falsa, Phillips res-
ponde: - claro que ela era uma profetisa verdadeira! Apesar disso,
ela copiou sem permissão, errou ao interpretar porções da Bíblia e
cometeu grandes equívocos teológicos como, por exemplo, esposar
a assim-chamada "doutrina da porta fechada". Phillips também
insere entre os erros de Ellen White o fato de ela ter dito (e depois
desdito) que as decisões da Associação Geral representam a voz de
Deus para a IAS). No entanto, ela foi, para aqueles a quem ela
ministrou, unia profetisa de tanto valor quanto Martin Luther King
ou madre Teresa de Calcutá. Nas palavras de Phillips, o mais
importante é que "ela é minha profetisa". E a prova de seu caráter de
profetisa é que dela exsudava a espiritualidade própria de quem
tinha urna inquebrantável proximidade com Deus.

Em seguida, Phillips expõe a situação ocorrida logo após


seu desligamento da IASD. Segundo ele, ele simplesmente enviou ik
Igreja Adventista de Mountain View um pedido de transferência
para a Igreja Presbiteriana de Sunnyvale. Como nunca recebeu
resposta para esse pedido, ele supõe que seu nome ainda conste do
rol de membros daquela igreja adventista ou, então, que, após mais
de dez anos, o nome tenha sido removido sem que tivesse ciência
disso. Por dez anos, ele frequentou a igreja adventista (no sábado) e
1"... ■ Ele t erocloxia

a igreja presbiteriana (no domingo). Depois disso, passou ,1


freqüentar exclusivamente duas igrejas adventistas, indo a um.'
igreja que lhe dava liberdade de se manifestar na Escola Sabatina e •
outra que o inspirava com seus cultos.

Após lamentar que, às vezes, é ainda discriminado,


manifestando-se favorável à ordenação das mulheres, o autor
despede, serenamente, dizendo que não se arrepende (Lr,
escolhas que fez.
A Pança / o Álcool e as )(51as

CASE, Steve (Ed.). Shall we dance?: rediscovering Christ-centered


standards. Riverside, CA: Ist Sierra University Press, 1996. 414 p.

E
sta obra editada por Steve Case inclui a contribuição de
vinte pensadores adventistas e é o resultado da análise dos
dados coletados por meio do projeto Valuegenesis. O livro
foi patrocinado conjuntamente pelo Departamento de Educação da
Divisão Norte-americana da IASD, o Cento John Hanock de
Ministério Jovem e a Universidade Adventista de La Sierra. Apesar
desse maciço apoio de instituições adventistas, os autores reconhe-
cem que sua obra não é o pronunciamento oficia! da IASD, mas
apenas um convite à discussão de temas relevantes para a juven-
tude adventista .

O livro inclui quatro capítulos dedicados à dança no con-


texto religioso. Um desses capítulos, intitulado "llancing with a
user-friendly concordance" ("Dançando com uma concordância
amiga do usuário"), escrito pelo próprio editor, simplesmente lista
vinte e sete referências bíblicas à dança, mas não as discute, alegan-
do que são todas elas referências evidentemente favoráveis à dança
l■• ■■■• Heterodoxia

religiosa O autor conclui o capítulo com a indagação: "como pot


ríamos dançar diante do Senhor hoje? que tipo de dança lhe seri.,
aceitável? por que as pessoas dançam hoje em dia?" (p. 101).

Outro capítulo, intitulado "Shall we dance?" ("Va In.


dançar?") e escrito por Bill Knott, afirma (p. 69) que não apenas
declarações bíblicas sobre a dança não são proibitivas, mas cheg,1111
a ser prescritivas (SI 150:34). O capítulo termina com o (II lu
Bacchiocchi (2000) considera um "surpreendente desafio" à IAKI
Knott incentiva (p. 75) os adventistas a estudarem o tema na Bíbli,i
fim de que percebam que a dança era parte do culto judaico ti

tempos do Antigo Testamento. A implicação velada de seu racin


cínio é que, se ficar provado que a dança fazia parte da liturgia L
templo judaico, então ela não deveria ser considerada uma fortim
pecaminosa de entretenimento.
O capítulo, "Dancing to the Lord" ("Dançando ao Senhor"),
escrito por Timothy Gillespie, propõe (p. 94) que "podemos dant,.,i
ao Senhor como Davi" ou, ao contrário, "podemos interiorizar mu,
sa alegria de modo introspectivo, concentrando-nos em nós nu-.
mos e em nossos desejos egoístas". Aqui o autor pressupõe que .1
dança é uma necessária forma de expressar nossa espiritualida til' 4'

contentamento.
Uma declaração controversa do livro é a afirmação (p.
do próprio editor, em um capítulo intitulado "Thinking abolir
jewelry: what the Bible (really) says" ("Refletindo sobre as joix„ is
que a Bíblia realmente diz"), de que não é a opinião da Bíblia (
determina a posição de uma pessoa sobre o uso de jóias, iniu,
A hwa, o Amo! e is )0115 4444

método de interpretação usado por essa pessoa. Segundo Case,


uma pessoa que se tomou adventista, nos Estados Unidos, antes de
1970 provavelmente preferira uma metodologia literaliza_nte de
interpretação bíblica que o levará a rejeitar o uso de jóias. Por outro
lado, uma pessoa que se tornou adventista após essa data
(especialmente se tem pós-graduação) preferirá uma metodologia
contextuai de interpretação bíblica que a levará a pensar que o uso
de jóia ou não é uma questão cultural e não doutrinária. Case (p. 185,
n. 1 e 2) comete, então, o descuido de identificar exemplos de pes-
soas que usam o método literalizante, mas inclui, entre elas, o
apóstolo Paulo.

Em um capítulo intitulado "Mixing alcohol, abstinence


and the Bible" ("Misturando álcool, abstinência e a Bíblia"), o
próprio editor (p. 313) diz investigar além dos óbvios textos
bíblicos sobre o vinho na tentativa de descobrir princípios bíblicos
que possam jus-tificar um consumo moderado de álcool pelos
membros da IASD. Segundo ele, nessa questão, os adventistas
deveriam ser guiados por quatro princípios básicos: (i) a
abstenção é aceitável em todas as circunstâncias (mas não
necessária); (ii) o consumo de álcool em ambientes de risco deve
ser desencorajado (ou seja, beba em casa ou em restaurantes); (iii)
deve se opor a qualquer consumo excessivo; (iv) consumo
-

moderado, em ambientes seguros, pode ser permitido.

Em outro capítulo sobre o consumo de álcool, intitulado


"What those outside lhe church say" ("O que as pessoas fora da
igreja dizem"), Case sugere que o consumo de dois a três "drinks"
iletC.irOcIOXIa

por dia seria tolerável e mais saudável do que a abstinência totti I


(p. 316-317).
A tônica geral do livro é a de que a IASD deve deixar de se
concentrar no comportamento das pessoas. Segundo seu edito'
(p. 11), "os adventistas se concentram tanto em regras de compor
tamento que o impacto do evangelho se perde".
A Compatibilidade entre o
Criacionismo e o Evoiucionismo
HAYWARD, James L. The rnany faces of Adventist creationism: 1980-
1995. Spectrurn, v. 25, n. 3, p. 16-34, 1996.

uando Hayward escreveu seu artigo sobre as muitas


faces do criacionismo na IASD, ele era professor de bio-
logia da Universidade Andrews, tendo um PhD nessa
área obtido na Universidade Estadual de Washington. Segundo ele,
foi a partir de 1980 que alguns cientistas adventistas começaram a
criticar, de forma mais severa, a posição oficial da Igreja em relação
à doutrina da criação. Como os líderes denominacionais estavam,
naquele momento, muito ocupados com os questionamentos de
Ford, Davenport e Rey, eles nomearam Anel Roth (diretor do
Instituto de Geociência) e Gerhard Hasel (diretor do Seminário
Teológico Adventista, na Universidade Andrews) para respon-
derem a esses questionamentos. A atuação de Roth e Hasel deu um
equilíbrio precário à situação por mais 15 anos. No entanto, o
inesperado falecimento de Nasci e a aposentadoria de Roth, ambos
em 1994, puseram fim a esse período de relativa calma.
Roth tinha sido nomeado para o Instituto de Geociência, em
ib.)» H eterocioxia

1980, em substituição a seu predecessor, Richard Ritland. Roth, que


tem um PhD em parasitologia, se opôs às idéias geológicas de
Ritla-nd, que propunham urna idade muito mais velha para a vitt r
na terra do que a defendida pelos principais teólogos adventistas. A
partir daí, Roth se tornou bastante envolvido no momento em Jay< ir
do ensino do criacionismo nas escolas públicas norte-americanas.
Em 1981, Roth e dois outros obreiros adventistas (Harold Coffin
Robert V. Gentry) testemunharam diante da corte do Arkansas em
favor da inclusão do criacionismo no currículo das escolas claque l i
estado. Seu testemunho não foi suficiente, contudo, para que
causa fosse ganha. Vários cientistas adventistas começaram a
opor a Roth, perto de sua aposentadoria, alegando que o Institui
de Geociência estava manipulando pesquisas com a finalidade de
manter uma interpretação literalista do livro de Gênesis. Na me' li

da em que os cientistas se afastavam do Instituto de Geociência,


passou a ter mais apoio dos teólogos a dventistas.
Segundo Hayvvard, é impossível superestimar a influêni r.
de Gerhard Hasel desde sua chegada à Universidade And rews, rui
1967. Hasel defendeu muitas causas, mas nenhuma lhe foi tdç
importante quanto o criacionismo conservador, tendo sido o ma ir ir
contribuidor do periódico Origens até a sua morte, no qual ele
argumentou em favor da interpretação literal do dilúvio e dai,
genealogias de Gênesis. Em 1989, Hasel fundou a Sociedade
Teológica Adventista que exigia que novos membros fossem i nd
ados por dois outros membros e que assinassem uma declaraçao Ir
fé em sete princípios conservadores, dentre eles a criação em s vi r
dias literais e a universalidade do dilúvio. Rasei exerceu taml
A Comp.ttibiikille entre o CricÉonb.mo c:. o NoicicionNimo 1141

urna poderosa influência sobre John T. Baldwin, professor de teolo-


gia da Universidade Andrews, que deu continuidade à defesa do
criacionismo literal.

Quando Ritland, formado em Harvard, renunciou ao cargo


de diretor do ['Istituto de Geociência por causa de sua posição
favorável a uma longa cronologia, ele foi transferido para a Univer-
sidade Andrews, onde passou a lecionar biologia para os alunos do
curso superior. Preocupado com sua influência sobre os alunos,
Roth sugeriu que a Universidade contratasse W. William Hughes,
formado em Loma Linda, para contrabalançar a impacto das idéias
de Ritland. Logo, porém, Hughes cedeu aos argumentos de Ritland
e Andrews passou a ter dois paleontólogos que criam numa crono-
logia longa. Hughes se tornou ainda mais eloqüente acerca de sua
nova posição e, como conseqüência, acabou se desligando da
Universidade.

Um departamento de geologia tinha sido organizado em


1980 em Loma Linda. Como conseqüência disso, o Instituto de
Geociência foi transferido da Universidade Andrews para lá em
1981. No entanto, Loma Linda não conseguiu atrair alunos suficien-
tes para o programa. Como resultado disso, o departamento foi
fechado em 1989. Enquanto isso, na Universidade Andrews, Bald-
win e um jovem arqueólogo chamado Randall Younker organiza-
ram um curso sobre origens para os alunos do mestrado em teo-
logia. O principal problema em aceitar a idéia de que a vida no
planeta havia existido por um tempo muito mais longo do que o
estimado pelos teólogos adventistas era que, segundo eles, isso
comprometeria o entendimento tradicional dos adventistas em
Fleter-ock.)x0

relação à doutrina do pecado. Como explicar que a morte hav ia


existido na Terra antes da queda? Jack Provonsha fez uma tentativ,i
de aproximação das duas posições, ressuscitando a antiga teoria d,i
ruína e restauração (CHARTIER, 1985, p. 1, 4, 8). Segundo ele,
teriam havido duas criações, a primeira empreendida por Lúcif /
(que resultou em seres humanoides simiescos) e a segunda empre
endida por Deus (que resultou na criação do homem). Sua 1.-)ropost,
não agradou nem a gregos nem a troianos.
Enquanto uma crise ocorria na Universidade And rews pui
causa da tese de doutorado de Colin House, um australiano, que
negava que a genealogia de Gn 5-11 tinha validade históricd,
cientistas adventistas não empregados denominacionalmente pa:,
saram a adotar posturas menos convencionais: Ervin Taylor (1987),
um especialista adventista em cronologia radiocarbônica d
Universidade da Califórnia, e P. Edgar Hare, especialista a dven t s
em datação de aminoácidos do Laboratório Geofísico de Carnegie
(MARSHALL, 1990, p. 799), fizeram publicações que contrariava],
a posição adventista tradicional.
O período que se seguiu foi intensamente marcado pela
realização de conferências por parte dos conservador
(especialmente Gerhard Hasel e William Shea ) e dos liberais. 1.)t.
particular interesse foram as discussões sobre os sedimentos do!,
lagos no sul de Wyoming. H. Paul Buchheim, geólogo de Loniti
Linda, e Arthur W. Chadwick, biólogo de Keene (Southwestern
Adventist College) polarizaram as discussões, o primeiro reivind i
cando que os referidos sedimentos apresentavam evidência de vário:,
dilúvios, e o segundo defendendo a idéia de que, ao contrário, Cl ,
apresentavam evidência dos movimentos de maré ocasionados pelt
A Cornr.ritibilicj..vie er -dre o Criacior-,L)r-nc) c o F'xioluoic)ni5rno 4444

dilúvio universal. Nesse período, o Instituto de Geociência também


patrocinou excursões de pastores, administradores e professores
secundários de ciência a sítios que pudessem fortalecer sua crença na
literalidade do relato do dilúvio. Em uma reunião realizada, em 1991,
com a presença dos presidentes das uniões e universidades da
Divisão Norte-americana, também freqüentada pelo recém eleito
presidente da Associação Geral, membros do Instituto de Geociência
anunciaram sua preocupação de que inúmeros cientistas adventistas
haviam se tornado ev olucionis ta s. Tratava-se, talvez, de urna reação a
urna conferência realizada nas montanhas rochosas do Wyoming, em
1985, com a presença de 105 adventistas que propuseram revisões na
compreensão adventis ta do criacionismo.

A revista Origens foi criada, em 1971, para defender a


crença tradicional adventista no criacionismo. No entanto, Hay-
ward afirma que é possível traçar, a partir da leitura dessa revista
denominacional, como essa crença tem sofrido ligeiras, alterações
ao longo dos anos, ao abrirem mão os editores de algumas decla-
rações conservadoras, mas infundadas. A revista também contri-
buiu para a inclusão de debates na área de biologia, urna vez que o
Instituto de Geociência havia se dedicado mais à área de geologia,
paleontologia e cronologia. A. revista ajudou até mesmo a criar uma
concepção teológica que justificasse a aceitação da seleção natural
como fato científico.

A revista Spectrum., que tinha demonstrado pouco inte-


resse em assuntos ligados ao criacionismo, passou a publicar mais
sobre o tema a partir de 1990, reivindicando urna postura mais
cientifica. Com o sucesso comercial do filme O parque dos dinos-
sauros, mesmo a Revista Adventista, órgão oficial da IA51.) dedicou
um de seus números ao assunto do criacionismo, em 1993. Nessii
época, Richard L. Harmnill, um obreiro de formação pastoral v
científica, com uma ficha de 44 anos de serviço à IASD (inclusive II»
função de diretor geral da Universidade Andrews), e que havia st
aposentado como vice-presidente da Associação Geral, declarou
que havia chegado à conclusão de que a Terra era habitada put
animais há milhões de anos.

Em 2 de abril de 1994, a Universidade de Lona Linda sed hm]


um debate de três horas de duração entre Richard L. Harnm i I I,
Raymond Cottrell, Ervin Taylor e P. Edgar Hare com
representantes do Instituto de Geociência: Anel Roth, Robert Brow ri(.
Clyde Webster. rilaylor acusou o Instituto de Geociência de manipulgt
os resultados de sua pesquisa da mesma forma que as companhias Ei

cigarro manipulam os resultados de suas pesquisas sobre a relac»L


enixe tabagismo e câncer. Harnmill, Cottrell, Taylor e E lare defen
deram a idéia de que os fósseis e a atividade geológica não pode riain
ser o resultado de um único evento cataclismico. O presidente
Folkenberg reagiu imediatamente, enviando uma carta aberLd .1
IASD, em 4/4/94, lamentando, especificamente, as posições torna di
por Ham_mill e Cottrell, dois obreiros aposentados.

O autor encerra suas considerações afirmando que, et H


vista da diversidade de opinião ora existente em relação ao tema k [t I

criacionismo, a ; ASD pode tomar uma de duas medidas: tenta


intimidação pela força para calar as vozes dissidentes ou incen ti vai
a discussão aberta dessas divergências. Para Hayward, o ideal é qui.
a Igreja caminhe para a segunda alternativa, uma Ve7 que
ad ventis tas sempre creram que a verdade resiste ao escrutínio.
A Inspiração Verbal

KORANTENG-PIPIM, Samuel. Receiving lhe Word: hovv new


approaches to Lhe Bible impact our faith and Iifestyle. Berrien Springs, MI:
13erean Books,1996. 368p.

livro Receiving Lhe Word é endossado por importantes


nomes da comunidade teológica adventista como, por
exemplo, Raoul Dederen, Clifford Goldstein, William
Shea e Alberto Timm. Trata-se de importante contribuição de um
probo estudioso adventista com respeito à premente questão de
como muitos teólogos adventistas agora compreendem a inspira-
ção e a revelação.

No capitulo 1, "Crisis over the Word" ("A crise acerca da


Palavra", p. 2541), o autor apresenta as três razões por que a IASD
parece estar passando por uma crise de identidade: (i) as contro-
vérsias doutrinárias; (ii) as incertezas quanto à sua missão; e (iii) os
desafios agora comumente feitos a sua unidade organizacional.
Para o autor, os liberais são aqueles que (i) atuam dentro da orga-
nização, (ii) assumem um comportamento esquerdista, (iii)
recebem do dizimo, (iv) enfatizam o amor, (v) não recebem oposi-
•.», E1ctero1ox a

çào formal da organização, (vi) defendem um estilo de vida dc.:


compromissado e, finalmente, (vii) são os mais perigosos advers.1
rios da Igreja. Os independentes, por outro lado, são aqueles que (1)
atuam fora da organização, (ii) assumem um comportamento c li
direita, (iii) retêm o dízimo, (iv) enfatizam o perfeccionismo, (v)
recebem oposição formal da organização e (vi) adotam um estilo (1( i
vida conservador.
O capítulo 2, "Trusting the Word" ("Confiando na Pala
vra", p. 43-56), apresenta a Bíblia como um livro singular que
sobreviveu de forma miraculosa aos azares da história, garantind
a confiabilidade da revelação sob três pontos de vista: (i) a sai.)
origem, (ii) o seu processo e (iii) o seu produto.

O capítulo 3, "Doubting the Word" ("Duvidando da Pala


vra", p. 57-72), propõe uma mudança de terminologia segundo .1
qual os liberais radicais passem a ser chamados de "aqueles qt ie
rejeitam a Bíblia"; os liberais moderados, "aqueles que duvidam t.1,1
Bíblia"; e os conservadores, "aqueles que crêem na Bíblia". O capi
tulo conclui com a apresentação do conceito de que o verdadei Et

desafio para a IASD é enfrentar o liberalismo moderado.

O capítulo 4, "Quarreling over the Word" ("Brigando peli


Palavra", p. 75-99), apresenta as três principais conseqüências di
disputa ora existente entre liberais e conservadores na IASD: (i )
uma crise de identidade, (ii) uma incerteza quanto à missão (1.1
Igreja e (iii) uma apreciação ambígua dos escritos de Ellen Whitt.
autor identifica os liberais adventistas como aqueles que adotam t
A I nspiKlçã o Verba 1 4444

método histórico-crítico, especialmente teólogos e editores que


defendem a ordenação das mulheres.

O capítulo 5, "Departing from the Word" ("Afastando-nos


da Palavra", p. 101-194), o mais longo do livro, apresenta as dez
letras "s" que definem a religião adventista: (i) sola scriptura; (ii)
substitucionalismo (Cristo morreu no lugar do pecador arrepen-
dido); (iii) salvação pela graça; (iv) santuário celestial; (v) segunda
vinda de Cristo; (vi) sábado; (vii) sono da morte; (viii) senhora
White; (ix) serviço (mordomia); e (x) santificação (critérios espiritu-
ais na escolha seletiva de vestuário, dieta, entretenimento, relacio-
namentos, etc). Dividido em seis seções, o capítulo trata, ainda, das
diferenças entre (i) a Bíblia ser uma única autoridade ou uma
autoridade primária; (ii) a Bíblia ser plena ou parcialmente inspi-
rada; (iii) a Bíblia ser parcial ou plenamente confiável; (iv) a Bíblia
ser o fruto da revelação progressiva ou de idéias progressivas; e (v)
estudar a Bíblia com uma abordagem literal ou uma abordagem
baseada em princípios. O capítulo termina com uma crítica enfática
à obra de Daily (1994 [1992]), reprovando-a por (i) sua ênfase
excessiva na experiência pessoal; (ii) sua nova moralidade; (iii) sua
ênfase ecumênica; (iv) e sua renúncia à identidade adventista.

O capítulo 6, "Contending for the Word" ("Lutando pela


Palavra", p. 195-206), pretende apresentar o plano de Satanás
como sendo suscitar dúvidas: (i) no Espírito de Profecia; (ii) nas
crenças fundamentais da IASD; e (iii) na Bíblia. O autor apresenta
o exemplo de Enoque de Oliveira como sendo o de um líder
adventista que dedicou a sua vida a lutar pela Palavra.
»w H e ic oLioxi.i

O capítulo 7, "Upholding the Word" ("Levantando .1

Palavra", p. 209-223), apresenta o que o autor chama de "a arma


dilha da mente aberta" corno sendo a própria mentira contada pela
serpente ao casal edênico e chama a atenção para as soluções a( r
ataques liberais à IASD: (i) a subordinação da experiência pessoal ,)
Bíblia; (ii) a compreensão de que a maioria não estabelece a verdade,
(iii) a subordinação da ética à Bíblia; e (iv) a necessidade de se
defender a convicção da verdade bíblica.

O capítulo 8, "Liberating the Word" ("Liberando a Pala


vra", p. 225-253), aborda questões diversas como (i) as pequeno , .
discrepâncias bíblicas oriundas dos erros dos copistas (em ),
sonoros, visuais e intencionais), atribuindo-lhes à pouca educação
ou à pressa; (ii) os problemas das distorções resultantes da tra.duçal 1
do texto sagrado. O autor defende (p. 235), então, a insustentável
posição de que o Textus Receptus e a Ki.ng James Version são texto,
bíblicos tão confiáveis quanto os textos gregos que servem de
padrão para as traduções atuais. O autor fecha o capítulo com uni,
defesa dos princípios adventistas de hermenêutica bíblica.

O capítulo 9, "Rightly dividing the Word" ("Manuseand(


bem a Palavra", p. 255-278), apresenta as principais fontes cl,n,
dúvidas sobre a Bíblia e conclui que os simplices entendem a
Bíblia com mais clareza do que os eruditos (p. 258), embora reco
nheça que a melhor versão seja a das língua originais (p. 262). (
autor apresenta, então, o que chama de decálogo hermenêutico da
IASD e prepara o terreno para defender uma teoria de inspiraçã
verbal da Bíblia.
A Inspiração Verbal 41411

O capítulo 10, "Wrestling with lhe Word" ("Lutando com


a Palavra", p. 279-304), admite que a Bíblia tem dificuldades e
sugere meios para lidar com tais dificuldades. O autor (p. 297)
reclama do que chama de hipervalorização das discrepâncias
bíblicas e se opõe à deificação da razão.
No capítulo 11, "Testifying about the Word" ("Testificando
sobre a Palavra", p. 305-321), o autor adverte que o liberalismo não é
homogêneo. Ele apresenta, porém, a idéia de que a Bíblia é literatura
gloriosa e cheia de sabedoria como sendo o mantra dos liberais, pois
isso equivale a dizer que a Bíblia não é mais relevante para ohomem
ocidental (p. 307). Em seguida, o autor defende a idéia de que a
teologia feminista seja a mais danosa abordagem liberal (p. 309),
comparando o liberalismo com o beijo de Judas (p. 311). Para ele, a
pior alternativa ao avanço liberal seria uma tentativa de acomodar
seus ideais às doutrinas da Igreja.
O capítulo 12, "Living by the Word" ("Vivendo pela
Palavra", p. 323-340), defende a idéia de que o liberalismo adven-
tista já havia sido predito por Ellen White (p. 326) e condena a
inércia da Igreja em responder às incursões liberais como sendo
uma espécie de "avestruzismo" (p. 333). O autor conclui o capítulo
com a afirmação de que a Bíblia é um leão na jaula. Segundo ele, a
melhor forma de defender um leão sob ataque seria soltar o leão.
A obra apresenta, ainda um glossário e três apêndices: O) a
autoridade da Bíblia; (ii) o uso das Escrituras; e (iii) métodos de
estudo da Bíblia. As preocupações do autor são todas elas justas e
oportunas. Sua maior apreensão, no entanto, é que o liberalismo
114 » Fleteroc1oxL1

exerça urna influência tão poderosa sobre a teologia adventista


que a Igreja acabe perdendo sua identidade, seu urgente senso de
missão, sua apreciação pelo dom de profecia e sua relevância para
nossa época (p. 75-77). Por causa disso, o Dr. Pipim invoca, ad
nauseam, exemplos do que ele considera urna hermenêutica
defeituosa praticada por pensadores adventistas de diversos back
grounds e funções: pastores, capelães, administradores, educado-
res, escritores e editores. Para o autor, tais pensadores se distan-
ciaram de uma linha interpreta tiva adequada porque se deixaram
influenciar pelas premissas anti-supernaturalistas do método
histórico-critico. Em face disso, concebe-se uma panacéia ao ri.
verso. Isto é, as diferentes posições teológicas de esquerda,
existentes hoje na Igreja Adventista, são, para ele, todas elas ori-
undas do método histórico-critico a serviço de seu mentor, o libe
ralismo. Além disso, segundo ele, os grandes males da igreja
(apostasia, diminuição de freqüência aos cultos, redução das ma-
triculas nas escolas adventistas, diminuição dos dízimos e ofertas,
diminuição na venda de livros denominacionais, etc.) podem sei
todos ligados ao liberalismo (p. 200-201).

Exceto por um breve disclaimer no final do livro (p. 305), o


autor tende a apresentar o liberalismo corno um esforço coeso e
homogêneo, empreendido por teólogos imaturos, ocupados no afil
de tornar a mensagem adventista palatável às inclinações mun
danas de nossa época e, com isso, conquistar o respeito da com
nidade acadêmica secularizada (p. 241). Assim, o Dr. Pipim conde
na a criação de um novo jargão liberal para ocultar as premissas d
movimento (p. 212). O interessante, no entanto, é que ele acaba
A in5piraçào Verbal * 1 41

sucumbindo ao uso de muitos dos mecanismos censurados por ele


em relação aos procedimentos liberais. Dessa forma, ele propõe
uma reinterpretação para o conceito de inspiração verbal que ele
assevera ser a crença ortodoxa da Igreja, cria o que ele chama de
"princípio cósmico" para explicar o sentido metanarrativo do tema
do grande conflito (p. 272) e encoraja que novos rótulos sejam
aplicados àqueles envolvidos com as discussões teológicas na Igreja
e fora dela (p. 58-59): os que rejeitam a Bíblia (liberais radicais), os
que duvidam da Bíblia (liberais moderados) e os que crêem na
Bíblia (conservadores). Além disso, ao enquadrar algumas discus-
sões teológicas no âmbito exclusivo da discussão de métodos, o
autor se torna culpado do mesmo pecado que ele mais critica nos
liberais: adotar premissas que impeçam a visualização do outro
lado da questão. Isso se dá, por exemplo, com a questão da ordena-
ção da mulher, que ele limita a dois aspectos básicos: a influência do
método histórico-crítico e o desejo de evadir ao imposto de renda
norte-americano (p. 120-140). Ao fazer isso, o Dr. Pipirn adota uma
posição simplista e reducionista que garante, desde o começo da
discussão, que crer na Bíblia equivale à rejeição da possibilidade de
ordenar mulheres.

Os açoites intelectuais do autor são geralmente precisos,


havendo pouca incorreção perceptível em seu texto. Ele os dire-
ciona principalmente para os estudiosos que apóiam a publicação
dos periódicos Spectrum e Adventist Today, derivando seu
arsenal dos artigos oriundos de periódicos conservadores corno
Adventists Affirm, Perspective Digest e, principalmente, o
Journal of the Adventist Theological Society, e reservando seus
•o.* r o ci oN H

comentários mais cáusticos para Jerry Gladson (1988), Aldel


Thompson (1991), Steve Case (1996), Max Gordon Phillips (19€)(0.,
Rayrnond Cottrell (1987; 1995), Jack Provonsha (1982), Grallim
Max-well (1992), Steve Daily (1994), Glen Greenwalt (1994), Char li

Scriven (1993), Richard Rice (1980), J. David Newman (199')).


Reinder 13ruitisrna (1994), Pat -ricia Habada e Rebecca Bri1ihii 1
(1995). Na tentativa de evitar expor aqueles que são o alvo de st Lu ,
repreensões (e como se adiantasse), Pipim adota o incômodo
procedimento de não mencionar os nomes dos autores a não ser
notas no fim do capitulo, o que nos obriga ao exercício mental di
constantes referências a essas notas.

Voltando às questão das incorreções do texto, os pouco.,


deslizes ali perceptíveis se limitam ao raciocínio equivocado de qtit:
uma obra que mencione as virtudes e os defeitos de um personage cii

histórico seja, por necessidade, inspirada (p. 53) e à idéia de que


massoretas representam o único caso em que uma cultura anil:»
tenha se dado o trabalho de contar as letras e sílabas de seus antigo:.
escritos na tentativa de preserva-los (p. 46). Ora, a obra Vidas
paralelas, do filósofo grego Plutaxco (um contemporâneo de
Paulo), notabilizou-se justamente por sua capacidade de descreve t -
personagens históricos a partir de suas virtudes e falhas morais ou
por meio da comparação das virtudes de uni personagem com tv
defeitos de outro, técnica helenistica de narração conhecida como
sincrise. Além disso, tanto os copistas alexandrinos contavam ci. ,
sílabas dos poemas épicos de Homero (e de muitos outros), a fim d i

preservá-los, quanto esse fenômeno é também atribuído à tentati vil


A inspiração Verbal 4141

de preservação de antigos textos religiosos escritos em sânscrito.

Apesar dessas limitações, a obra do Dr. Pipim deverá ser,


nos próximos anos, bibliografia essencial para qualquer estudo cui-
dadoso das questões de inspiração e revelação na Ig,reja Adventista.
Sua erudição e profunda convicção de sua própria posição desa-
fiam o leitor a inteirar-se cada vez mais dos problemas levantados
por ele. Além disso, os defeitos no tratamento do tema se devem
mais às dificuldades inerentes ao mesmo do que às limitações do
autor. Afinal de contas, não é tarefa fácil criticar a posição religiosa
de um estudioso, estimando quais sejam as conseqüências práticas
da mesma. Apesar disso, o Dr. Pipim consegue ser bem sucedido no
uso que faz da metodologia critica por ele adotada em relação a seus
detratores. Pelo menos nesse caso, é improvável que o Dr. Pipim
desabone o criticismo. Deve-se cuidar, entretant,n, para que, como
afirma o Dr. Am_i_n Rodor (1998), em um artigo sobre a inerrância
bíblica, um extremo não provoque outro, como costuma acontecer
na história da teologia. O livro de Pipim me parece, em muitos
sentidos, exatamente isso: uma reação extrema.
A Reorganização Estrutural
da IASP
KNIGHT, C-;eorge. Organizing to beat lhe devil. Hagerstown: Review
•SE Herald, 2001.

N
a época em que foi publicado, o livro de George
Knight, professor da Universidade Andrews, prova-
velmente não seria categorizado como defendendo
uma posição heterodoxa e, talvez, ele ainda não o seja nos Estados
Unidos. Contudo, diante da opinião agora popular no Brasil de
que a IASD não deveria preocupar-se em promover uma
reestruturação de seu sistema administrativo, parece que a obra
de Knight passou a defender, pelo menos em um sentido restrito,
um posicionamento heterodoxo.

O titulo do livro ("Organizando-nos para derrotar o


diabo") parece sugerir que a reestruturação administrativa é uma
necessidade premente da IASD. Apesar disso, o autor afirma (p.
178-181) que ele não questiona que o sistema organizacional,
desenvolvido pelos administradores da Igreja entre 1901 e 1903,
apresente uma estrutura administrativa eficiente. Para ele, no en-
tanto, essa não é a organização estrural mais eficiente. Adotando
1 1■ 1». neterOda`d4

uma postura cautelosa, o autor advoga que o que deve ser feito
seguir precisamente a mesma linha de reforma ocorrido em 1901
1903, quando houve pequenas reformulações do modelo ante
riorm ente adotado em 1861-1863.
Knight propõe que três princípios básicos devem sei
seguidos, para a implantação de uma nova estrutura: (i) seu
propósito deve ser facilitar as missões mundiais; (ii) deve trans
cender o localismo do congregacionalismo, mas evitar o peso
esmagador do hiperinstitucionalismo; e (iii) deve permitir
concentração de esforços, mas ser flexível a fim de permitir que
cada parte da Igreja mundial possa usar as melhores estratégias
que tenha a sua disposição.
O autor porpõe três níveis organizacionais: (i) a Asso
ciação Geral em uma versão muito mais enxuta que a atual (com
as tarefas de coordenar, aconselhar e facilitar a promoção de
unidade na diversidade); (ii) as divisões (que passariam a desern
penhar também as funções antes atribuídas às uniões); e (iii) as
associações locais, que deveriam ser inteiramente reformuladas a
fim de prover uma participação maior das assembléias consti
tuintes.
Esse tipo de organização teria, segundo o autor, os benc
tidos de liberar mais orçamento para a contratação de pastore,
distritais e liberar mais pastores (que hoje realizam trabalho de
escritório) para a obra pastoral. Alguns membros pensam, hoje,
que ajudaram a subsidiar, por um período longo demais, unia
A Reorganiz.jção Estrutuhli IASP 14440

estrutura que é extremamente burocrática. Dessa forma, seria


necessário que a nova estrutura custasse pelo menos 30% menos.

Para o autor, uma estrutura em três níveis tem o benefício


de limitar o poder tanto do nível mais baixo quanto do nível mais
elevado (uma opção que a própria Igreja Católica fez ao longo dos
anos), evitando que feudos eclesiásticos se formem e, ao mesmo
tempo, satisfaz as exigências de um orçamento mais econômico.
As divisões deveriam continuar diretamente vinculadas à Asso-
ciação Geral para evitar que uma personalidade mais forte possa
desviar toda uma divisão. A permanência do nível da divisão
ainda teria o benefício adicional de garantir unidade mundial e
flexibilidade regional, pois os delegados teriam origem local, mas
estariam supervisionados pela Igreja mundial.

Para levar avante tais alterações, o autor sugere que três


elementos devem ser levados em conta: (i) a sabedoria coletiva da
Igreja mundial; (ii) uma obediência aos princípios de uma
eclesiologia saudável; e (iii) uma boa compreensão da história
organizacional da IASD. O autor lembra, ainda, que os dois
processos organizativos da IASD demoraram pelo menos uma
década até que fossem efetivamente implantados. Ao estudar a
história da IASD, o autor chega à conclusão que reformas admi-
nistrativas somente são discutidas durante as crises financeiras da
Igreja. Se isso é verdade, o autor recomenda que essa discussão
aconteça em breve diante do fato de que os indicadores finan-
ceiros estão assinalando a possibilidade de uma iminente crise.
O autor se demonstra absolutamente convencido de que .1
IASD necessita de uma reformulação admininstrativa. Dian ir

disso, seu questionamento é se essa reforma será o resultado


apressado e acidental de uma conjuntura inevitável ou se homem.,
de ação santificada tomarão a frente para planejar como realizar
essas mudanças.(6)

6. O trecho da obra de Katight aqui resenhado encontra-se à disposição em


, /0 -1/modest-proposal-structo r
h ttp:// ww sv.a todav.com/rnagazi ne/ 200 4
chang,e-ad ventist-churc h.
Obteções ã Psicologia

MAXWELL, C. Mervyn. Jesus, the true psychologist. Adventists Affirm


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/ar ticle.php? it.1;11(1 Acesso em 25 out 2007.

artigo "Jesus, o verdadeiro psicólogo" originou-se de


um sermão pregado pelo autor, em 1996, na Igreja Ad-
ventista de Faiiplain, no Michigan. O autor usa Mt
11:28-30 para sugerir que, em grego, "buscar descanso para as
almas" pode significar o que hoje é equivalente a ter necessidades
de acompanhamento psicológico. Em seguida, o autor defende a
idéia de que Is 9:6 indica que Jesus é um ótimo conselheiro e, por
essa razão, os cristãos deveriam se aconselhar com ele e não com os
profissionais da área da psicologia.

Na primeira parte do artigo, o autor procura estabelecer


por que os cristãos não podem confiar em psicólogos.
Apresentando quatro razões básicas para isso: (i) dado o fato de
que os psicólogos têm geralmente uma atitude anti-religiosa, eles
se tornam incapazes de prover aconselhamento adequado (2 Pe
1:9); (ii) experiências insatisfatórias de pessoas a quem o autor
»- E letei-odoxia

conhece em relação a profissionais da área da psicologia; (iii) os


resultados benéficos da terapia só duram temporariamente; e (iv)
falta de unanimidade entre os defensores das diferentes linhas da
psicologia: a psicanálise de Freud, a psicologia individual de
Adler, a psicologia analítica de jung, a vegetoterapia de Reich, a
terapia da vontade de Ran.k, a terapia cultural de Horney, as
relações interpessoais de Sullivan, a terapia centrada no cliente de
Rogers, a terapia bioenergética de Janov e a terapia emotivo-
racional de Bilis, entre outras. Segundo ele, se alguma dessas
terapias funcionasse, já haveria consenso entre os profissionais da
área. Além disso, o autor afirma que 70% das pessoas conseguem
resolver seus conflitos interiores mesmo sem ajuda profissional.

O autor atenua sua evidente antipatia pelo trabalho do


psicólogo, reconhecendo que há pessoas (a quem ele chama de
conselheiros) capazes de prover orientação adequada àqueles que
necessitam de ajuda psicológica. No entanto, para que o conse-
lheiro seja eficiente nesse trabalho, é necessário que ele ou ela
demonstre as seguintes características: (i) conversão; (ii) capa-
cidade de colocar o foco do aconselhamento no futuro e não no
passado (F13:13-14); e (iii) compreensão de que a expressão da ira,
contrário ao que ensinam os psicólogos, é mais prejudicial do que
benéfica (Ef 4:31 - 32).

A nota final do artigo é que as pessoas simplesmente


desperdiçam seu tempo e dinheiro com psicólogos quando há
tantos bons e úteis conselhos na Bíblia.
A Refeição da Enf-ase no Espirite

MOSTERT, Thomas. Hidden heresy: is spiritualism invading Lhe


Ad v enti st church? Mountain View, CA: Pacific Press, 2005.

uando publicou o livro Hidden heresy ("Heresia

Q oculta: o espiritualismo está invadindo a Igreja Ad-


ventista?"), Thomas J. Mostert Jr era presidente da
Associação União do Pacífico, nos Estados Unidos. A tese central
do livro é a de que as igrejas adventistas que estejam seguindo o
atrativo formato litúrgico de Willowcreek, Saddleback e Crystal
Cathedral estejam se tomando fortes no amor, mas fracas na
obediência. O autor teme que os pastores adventistas que se dei-
xem influenciar por esses modelos deixem de enfatizar a obediên-
cia à lei como um elemento significativo da fé adventista.

Os adventistas geralmente não endossam a formação de


grandes congregações: a maior igreja adventista, na América do
Norte, é a igreja de Loma Linda, com seis mil membros. Apesar
disso, o autor (p. 31-36) demonstra a preocupação de que os
pastores adventistas que estudam e visitam as igrejas de Willow-
creek e Saddleback passem a defender a criação de mega-igrejas
com milhares de membros.
O autor explica o crescimento de igrejas Corno
Willowcreek com base na idéia de que essas igrejas pregam urna
religião fácil e que não exige sacrifícios. Newman (2005) reagiu
recentemente a esse posicionamento, questionando se isso não
coloca a IASD no outro extremo: será que a Igreja Adventista
cresce tão pouco porque apresenta uma religião tão centrada na
lei que não consegue atrair as pessoas?

Uma outra preocupação do autor, que tem causado a reação


de pastores em diversas partes dos Estados Unidos (TALBOT,
2007), é a idéia de que a ênfase dada por essas mega-igrejas na
atuação do Espírito Santo em relação à conversão das pessoas possa
ter origem demoníaca. O autor sugere que a adoção das práticas
litúrgicas e evangelisticas dessas igrejas possa ser uma forma sutil
para a introdução de idéias espiritualistas na IASD. De fato, o que o
autor considera a "heresia oculta" pode ser nada mais do que a
atuação do Espírito Santo no coração das pessoas.
As Obteções ao Evangelismo

WEL, William F. eiEstá el evangelismo atrofiando a la iglesia?


Spectrum v. 4, n. 34, 2006. Tradução: I Ierold Weiss. Versão em espanhol
disponível em: httpl / www.spectrummagazine.org/eafehispano/features
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O
artigo de Noel, publicado originalmente em inglês,
lamenta que a concepção tradicional de evangelismo
na 1ASD é simplesmente a de reuniões públicas com
pregadores dinâmicos falando a respeito de profecias com base
em diagramas temporais. Ele adverte que, cada vez que uma
pessoa se torna membro da IASD nos Estados Unidos ou Canadá,
esses países ganham um acréscimo de quarenta e seis novos
habitantes. NoeI lamenta também que, embora no passado os
adventistas fossem nacionalmente conhecidos por causa de seus
hábitos alimentares vegetarianos, hoje em dia as pesquisas
mostram que a IASD se tornou praticamente desconhecida, nos
Estados Unidos, chegando à beira da irrelevância. Para ele, dizer
que nossos métodos de evangelismo são efetivos equivale a dar
um novo significado à palavra "absurdo".
! etc )-(:).:1 0xL4

A razão apresentada por Noel para o fracasso


evangelístico da IASD na América do Norte é incompreensão dos
adventistas quanto ao que significa, de fato, fazer evangelismo.
Segundo ele, apenas dois personagens bíblicos são identificados
como evangelistas: Filipe (At 21:8) e Timóteo (1 Tm 4:5). Apesar
disso, o autor sugere que o melhor exemplo de evangelista bíblico
é o apóstolo Paulo. Este pregava, convertia, despertava os dons
espirituais nas pessoas, visitava essas pessoas e escrevia-lhes car-
tas. Por causa de sua compreensão equivocada de Rm 12:14, os ael-
ventistas têm a idéia de que a melhor forma de pregar o evangelho
são as exposições orais das Escrituras no contexto das reuniões
públicas. Para ele, a palavra kêrygma tem um sentido muito mais
amplo do que sermões racionais e convincentes apresentados
com uma oratória exuberante.

Segundo o autor, Jesus pouca vezes pregava sermões no


sentido estrito da palavra. As pessoas se sentiam atraídas a ele p )1
causa de seus milagres e de sua autoridade que emanava de L H
conhecimento profundo das Escrituras, mas também de sim
comunhão íntima com Deus (Mt 7:29). Da mesma forma, i.

pessoas prestaram atenção no poderoso sermão pregado pot


Pedro no Pentecoste não porque se sentiram atraídas pe
panfletos de propaganda com representações das bestas de
Daniel e Apocalipse, mas porque Pedro tinha a lhes oferecei • •
poderoso testemunho de sua experiência pessoal com Jesus.

Para o autor, o modo mais eficaz de evangelismo é rn istl, • .11


nos, de várias maneiras, com as pessoas (Mt 4:13). A idéia de q 1) 11.1
Obl e y)e; ,110 EV aH e lIS ITI O 1.0414

uma maneira específica de fazer evangebsmo é contraproducente


porque demonstra falta de fé no poder do Espírito Santo em usar-
nos conforme a sua vontade. Noel alega que mobilizar a igreja local
para o evangelismo público acaba desestabilizando a atuação dos
ministérios da igreja, sendo estes muito mais eficientes na realiza-
ção da obra do evangelismo, pois permite que os membros se
envolvam nessa tarefa conforme seus dons.

A idéia de que devemos dar ênfase aos programas que


conseguem levar pessoas à decisão em poucas semanas não é bí-
blica. Jesus passou a maior parte de seu tempo curando e se
relacionando com as pessoas. iH isso o que realmente salva almas.
Não se tern notícia de que Jesus lenha batizado. Ora, se Jesus não se
preocupava e tu contar batismo, por que deve sua Igreja fazer isso?
A matemática da Igreja está equivocada. Não deveríamos contar
quantas pessoas batizamos, mas qu a ntas pessoas discipul a mos
para ministérios que atraiam o utras pessoas a Cristo.

Nue] desafia, portanto. a IAS') para alguns grandes


passos de fé: H realizar evaivelismo público apenas onde não
haja igreja local estabelecido; (ii) todos os esforços empreendidos
na igreja local devem voltar-se para o discipulado e desen-
volvimento dos d ons espirituais a fim de que cada membro possa
realizar sua parte na obra da evangelização.
Conclusão

C
orno se percebe, nenhuma das posições defendidas pelas
obras aqui resenhadas reflete, de forma incontestável, o
pensamento oficial da IASD. Trata-se da contribuição de
pensadores adventistas e ex-adventistas na discussão de temas de
considerável importância para a Igreja hoje. Era preferível que,
em vez de discussão, tivéssemos diálogo. E, historicamente, foi
exatamente isso o que aconteceu em alguns casos. Em outros,
porém, o que ainda há, de fato, são apaixonadas discussões.

Talvez alguém confunda a minha intenção de escrever


essas resenhas com um desejo de agitar as águas. Não se trata
disso. A intenção por trás deste livro é a de instigar à pesquisa c ao
diálogo, em um contexto de abertura e tolerância. O futuro da
organização adventista precisa ser marcado por mais transpa-
rência e humildade. E é justamente por acreditar que estamos
mais próximos desse futuro do que de qualquer outro que tomo a
liberdade de demonstrar minha confiança na maturidade
espiritual da IASD, trazendo os assuntos aqui tratados para o
holofote do diálogo acadêmico.
».0. , H eterocloxIi

Algumas pessoas se impressionam com a força e a pu-


jança; de minha parte, sou mais facilmente tocado pela humil-
dade e a fragilidade. O que mais me chama à atenção é a constân-
cia diante da adversidade: a tenacidade. Como não amar a esta
igreja que se iluminou de esperança, desceu aos calabouços da
decepção e ressurgiu de mansinho: o primeiro alento do mori-
bundo que se restaura?

Como não amar a esta igreja que cuida da minha saúde, se


interessa por minha sanidade e se preocupa com a minha fé? Como
não amar a esta família típica, com todas as suas discussões
apaixonadas, atos desvairados de amor e a liberdade resultante
proximidade intima dos que se amam? Como não amar a esta igreja
que acalenta os sonhos da eternidade e me propõe ruas de ouro,
mares de vidro e céus de esmeralda? Como me fazer de surdo a seu..
convites para gozos além de qualquer descrição, como ser indi I e
rente a tanta expectativa, tanta certeza e confiança?

Como não amar a esta igreja que abraça a ricos e pohnn,,


que transpõe as barreiras de raça e cultura para proclamar ij I•

não existe jugo desigual na partilha da vida, na comunhão da Ik , e


no junto caminhar em direção ao Alvo? Corno não amar a ela
igreja que, diante da confusão rnistificadora dos sons de
época, fala um único idioma, a linguagem universal do amor, k 11
tolerância e da hospitalidade? Como não amar a esta igreja tiiii
apresenta, com clareza, sua vocação para a missão e seu amor n .1.1
Palavra de Deus, procurando ser-lhe fiel em cada um de
ensinamentos e doutrinas?
COnCiti5.50 4444

Como não amar a esta igreja que me amou primeiro?


Como negar que foram seus apelos suaves, sua insistência santa,
sua visão de quão melhor e maior o ser humano pode ser quando
se deixa tocar por Deus que me atraíram, irresistivelmente, para o
receptivo seio das águas batismais? Como negar que dessas águas
nasci rejuvenescido, leve e cheio do poder do amor?

Como não amar a esta igreja que me educou, me fez


crescer, me mostrou o mundo e me ofereceu o céu? Como não
amar a esta igreja que me deu filhos na fé e que foi minha mãe,
minha companheira e meu grande amor? Como não ceder a suas
necessidades, como recusar-me a satisfazê-las? Por acaso pode o
filho virar as costas para a mãe que dele necessita para alguma
tarefa sem importância ou mesmo para salvá-la do leito do
hospital ou da horrenda solidão de seus últimos dias? Como me
calar, quando é a minha voz que ela quer ouvir?
Como não amar a esta igreja que tem o mais perfeito e
mais suave de todos os Senhores, capaz de um extremo e
derradeiro sacrifício simplesmente para me mostrar o meu valor e
o meu lugar? Como não corresponder a esse amor?

Eu pergunto ao leitor: - como não amar a esta igreja?

Demorei cerca de quatro meses para escrever este livro.


Meus compromissos profissionais me impediram de fazer mais
do que meramente apresentar resenhas informativas acerca dos
ternas aqui apresentados. O desejável teria sido desenvolver um
posicionamento crítico diante de cada um deles. No entanto, uma
tarefa dessa magnitude teria exigido um esforço hercúleo, talvez
dez vezes maior do que o necessário para escrever estas poucas
páginas. Deixo, portanto, essa tarefa àqueles que se sentirem o
objeto de uma convocação divina para responder, à altura, as
indagações levantadas pelos autores aqui apresentados. Desejo
aos que aceitarem tal desafio a serenidade e a clarividência
geralmente peculiares aos homens a quem Deus chama.
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nammeeinine 1
E
ste livro é uma tentativa de apresentar, de maneira infor-
mativa, as principais publicações, nos Estados Unidos, nos
últimos vinte e cinco anos, de teólogos adventistas ou ex-
adventistas, tratando de aspectos controversos relacionados às
principais doutrinas da Igreja Adventista do Sétimo Dia.

Nenhuma das idéias apresentadas aqui reflete a posição


oficial da IASD ou o pensamento do autor. No entanto, a espe-
rança do autor é que a familiaridade com a recente discussão
teológica na IASD dos Estados Unidos possa permitir que os
teólogos adventistas do Brasil se inteirem da situação e dêem a
sua contribuição para a construção de uma teologia que tenha, ao
mesmo tempo, uma sólida base bíblica e um profundo respeito
pela diferença.
O autor deposita sua confiança na maturidade espiritual
dos líderes adventistas e espera que este livro os motive a um
estudo imparcial, reverente e minucioso dos temas por ele trata-
dos. Afinal de contas, somos todos responsáveis por nossas
crenças.
Entre outros, o propósito deste livro é lembrar-nos da
advertência de Tertuliano (De idolatria 6): "você consegue negar,
com a língua, o que faz com as mãos? destruir, com a palavra, o que
faz com as ações? pregar um único Deus, quem cria tantos? pregar o
Deus verdadeiro, quem constrói os falsos?" O dever de cada estu-
dante das Escrituras é, portanto, examiná-las exaustivamente a fim
de que não seja achado em falta.

ISBN 85-99421-15-4

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