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O Arminianismo é uma Teologia centrada no homem?

Uma antropologia otimista é contrária ao verdadeiro Arminianismo, que é plenamente centrado em


Deus. A teologia arminiana confessa a depravação humana, incluindo a escravidão da vontade.
UM DOS EQUÍVOCOS MAIS PREDOMINANTES E prejudiciais acerca do arminianismo é que ele seja
centrado no homem, pois acredita na habilidade inata dos humanos em exercitar boa vontade para com
Deus e de contribuir com a salvação, mesmo após a queda de Adão. Outra forma de expressar o mito é
que o arminianismo não acredita que as conseqüências da queda da humanidade sejam verdadeiramente
devastadoras; portanto, acredita que, na esfera morai e espiritual, o livre-arbítrio humano sobreviveu à
Queda, e que, na pior das situações, os humanos são mercadorias estragadas, mas não totalmente
depravadas. Ainda que esta visão elevada da humanidade e sua liberdade moral e poder (e, às vezes até
esmo bondade) seja uma marca da maioria da sociedade ocidental contemporânea, incluindo muito da
cristandade, tal não é a visão do arminianismo clássico. O arminianismo clássico trata a Queda e as suas
conseqüências com muita seriedade.
A antropologia pessimista de Armínio
Contrário a muito da opinião popular e erudita, Armínio não acreditava na habilidade moral
humana natural após a Queda de Adão; ele acreditava na depravação total, incluindo a escravidão da
vontade para o pecado.
William Witt, especialista em Armínio, corretamente diz: "Independente do que seja verdadeiro
acerca dos sucessores da teologia arminiana, ele mesmo mantinha a doutrina da escravidão da vontade,
que é, em todos os aspectos, tão incisiva quanto qualquer coisa em Lutero ou em Calvino”.
Witt demonstra conclusivamente a partir dos próprios escritos de Armínio que, embora ele tenha
sido influenciado por Tomás de Aquino em algumas áreas de seu pensamento, ele não seguiu Aquino ou a
tradição católica em manter ligeiramente a doutrina da depravação herdada. Armínio acreditava
fortemente no pecado original como corrupção herdada, que afeta cada aspecto da natureza e
personalidade humanas, e apresenta os seres humanos como incapazes de qualquer coisa boa fora da
graça sobrenatural.
Witt acertadamente observa que a teologia de Armínio não era pelagiana ou semipelagiana em
qualquer sentido, pois Armínio apoiava tudo o que é bom na vida humana, incluindo a habilidade de
responder ao evangelho com fé, na graça preveniente que restaura o livre-arbítrio. O livre-arbítrio dos
seres humanos, na teologia de Armínio e no arminianismo clássico, significa mais propriamente arbítrio
libertado{h graça liberta a vontade da escravidão ao pecado e ao mal, e lhe dá a habilidade de cooperar
com a graça salvífica ao não resistir a ela. (Que não é a mesma coisa que contribuir com algo ao seu
trabalho!
Witt contradiz Boice acerca da habilidade dos arminianos em se gabar no céu; para Armínio a
pessoa salva não pode se gabar, pois até mesmo a fé é um dom de Deus'.
Armínio deixa claro que a condição caída do homem, que pode certamente ser chamada de
depravação total, se origina da deserção de Adão da vontade de Deus.
Ele negou que Deus é de qualquer forma a causa deste primeiro pecado e acreditava que o
calvinismo rígido não pode evitar imputar tal ato a Deus em virtude da alegação da predestinação e
retirada da graça necessária. Antes, a causa eficaz da queda da humanidade é a própria humanidade
conforme incentivada pelo diabo.
Deus meramente permitiu o pecado e não é, de forma alguma, culpado, pois “Ele não negou nem
retirou qualquer coisa que fosse necessária para evitar este pecado e o cumprimento da lei, mas Ele o
havia dotado (Adão) de maneira suficiente com todas as coisas indispensáveis para este fim e o preservou
após ele ter, desta maneira, sido equipado".
Armínio concordava com Agostinho e o calvinismo que um resultado da queda de Adão é a queda
de sua posteridade; conforme os Puritanos disseram: "na queda de Adão, todos nós pecamos":
A totalidade deste pecado... não é privilégio de nossos primeiros pais, mas comum à raça inteira e
a toda sua posteridade, que, na época em que este pecado foi cometido, estavam em seus lombos,
e que tem desde então herdado deles pelo modo natural de propagação, de acordo com a bendição
primitiva: pois em Adão "todos nós pecamos" (Rm 5.12). Por conseguinte, qualquer punição que
foi infligida a nossos primeiros pais, tem, da mesma forma, sido impregnada e ainda prossegue em
toda sua posteridade: de maneira que todos os homens "são, por natureza, filhos da
desobediência" (Ef 2.3), merecedores da condenação e da morte temporal e eterna; eles são
também desprovidos da retidão e santidade originais (Rm 5.12, 18, 19). Com estas maldades eles
permaneceriam oprimidos para sempre, a menos que fossem libertos por Cristo Jesus; a quem
seja a glória para todo o sempre Glória para quem? A Deus, não aos homens. Esta confissão
transparente de Armínio põe por terra todas as opiniões de que ele era pelagiano ou
semipelagiano, ou que ele possuía uma visão otimista da humanidade. Se os humanos têm
qualquer livre-arbítrio em assuntos espirituais, é uma vontade liberta em virtude de Jesus Cristo e
não em decorrência de quaisquer remanescentes de bondade neles.

[Roger Olson. Teologia Arminiana: mitos e realidades, 2015, pgs; 181-183]

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