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Aborto e Política Presidencial

Já que as eleições se aproximam - tenho uma pergunta a respeito do aborto - a maioria da minha
família é católica - todos sabemos da posição da igreja sobre aborto assim como a da Bíblia para
os protestantes - como alguém pode defender os candidatos que são pró-escolha? Isso me deixa
maluco quando analiso esta situação! Eu sei que esta é apenas uma das questões que devem ser
levadas em consideração na hora de escolher o candidato, mas, ao mesmo tempo, é uma questão
extremamente importante! Apreciaria seus comentários, pois valorizo muito o seu julgamento.

Garry

United States
Para responder sua pergunta, Garry, primeiro precisamos determinar nossa visão sobre a ética do
aborto. Parece-me que entre todos os argumentos a favor e contra a questão do aborto, existem
duas perguntas centrais que são decisivas:

(1) Seres humanos possuem valor moral intrínseco?

(2) O feto em desenvolvimento é um ser humano?

Pense a respeito da primeira pergunta: seres humanos possuem valor moral intrínseco? Algo
possui valor intrínseco se é um fim em si mesmo e não um meio para algum fim. Coisas que são
valiosas somente como meios para algum fim tem apenas valor extrínseco. Por exemplo, dinheiro
não tem valor intrínseco, em si mesmo. Ele tem, na realidade, valor extrínseco enquanto for um
meio útil de comércio para seres humanos e, portanto, é valioso para nós pelo fim que nos ajuda a
realizar. Mas por si mesmo é intrinsecamente sem valor. É somente papel.

Agora a pergunta é, seres humanos são assim? Ou são intrinsecamente valiosos? Estou certo de
que a maioria das pessoas, ao pensarem a respeito disso, reconhece que seres humanos têm valor
intrínseco. Pessoas não têm valor apenas como meios para um fim; pessoas são um fim em si
mesmas. É por isso, como falou Agostinho, que nós devemos amar pessoas e usar coisas, e não o
contrário. Aqueles que usam as pessoas e amam coisas estão fazendo algo profundamente imoral
porque não estão reconhecendo o valor e a dignidade que são inerentes às outras pessoas, que não
são meramente coisas para serem usadas.

A comunidade internacional reconhece o valor moral intrínseco de seres humanos em sua


declaração dos direitos humanos. A noção que pessoas têm direitos intrínsecos apenas pelo fato de
que elas são seres humanos, independente de raça, classe social, religião, casta ou posição é
baseada no valor moral inerente aos seres humanos. Esta verdade é reconhecida também em nossa
Declaração de Independência, na parte que afirma que todos os homens possuem certos direitos
inalienáveis, como o direito a vida, a liberdade e a busca da felicidade. A maioria de nós, quando
reflete sobre a questão, chegaria a uma conclusão parecida: Sim, seres humanos possuem, de fato,
valor moral intrínseco.

Agora, o que isso implica é que se o feto em desenvolvimento é um ser humano, então ele ou ela
possui valor moral intrínseco e, portanto, possui direitos humanos inerentes, incluindo o direito a
vida. Aborto seria uma forma de homicídio, e contra tais ataques o feto inocente e indefeso teria
todos os direitos à proteção da lei.

Assim, chegamos a segunda pergunta que devemos abordar: O feto em desenvolvimento é um ser
humano? Aqui me parece que é virtualmente inegável cientificamente e medicamente que o feto é,
em cada estágio de seu desenvolvimento, um ser humano. Afinal, o feto não é canino, ou felino,
ou bovino; é um feto humano. Do momento de concepção em diante, existe um organismo vivo
que é um ser humano completo geneticamente e que, se deixado para desenvolver-se
naturalmente, crescerá para ser um membro adulto de sua espécie.

Compare um embrião humano completo com um espermatozóide ou um óvulo não fertilizado.


Nem o espermatozóide nem o óvulo sozinhos constituem um ser humano: cada um é
geneticamente incompleto, tendo apenas metade dos cromossomos necessários para fazer um ser
humano completo. Se deixados sozinhos, eles não irão desenvolver-se: o esperma morre em
alguns dias, e o óvulo não fertilizado é expelido pelo ciclo mensal da mulher. Mas se eles se
unirem, formam uma célula viva para constituir um indivíduo único, o qual nunca existiu antes.

Já naquele momento de concepção, aquele indivíduo é ou macho ou fêmea, dependendo se ele ou


ela recebeu um cromossomo X ou Y do esperma. O desenvolvimento posterior de órgãos sexuais e
outras características sexuais secundárias são apenas evidência de uma diferença na sexualidade
que estava lá desde o início. Além disso, todos os traços individuais como tipo de corpo, cor dos
olhos e cabelo, características faciais e assim por diante são todos determinados no momento da
concepção e estão apenas esperando para aparecer. Desde o momento da concepção temos um ser
humano geneticamente completo e único; na realidade, você começou no momento da sua
concepção.

Além do mais, o desenvolvimento desse indivíduo é um contínuo suave e ininterrupto. Não existe
nenhum ponto não arbitrário que te permita dizer que, antes dele, o feto não é humano, mas depois
dele ele ou ela são humanos. A divisão tradicional da gravidez em três trimestres não tem base
científica ou médica; é um dispositivo puramente arbitrário utilizado por mera conveniência. É
provavelmente devido ao fato que a gravidez dura nove meses. Se o ser humano tivesse uma
gestação de oito meses, ninguém falaria de trimestres. Provavelmente dividiríamos a gravidez em
quatro partes. O fato é que qualquer tentativa de fazer uma divisão e dizer “não humano antes
deste ponto, mas humano depois” é completamente arbitrária e sem fundamento biológico.

Portanto, como eu disse, parece-me virtualmente inegável que o feto - que é somente latim para
“pequeno” - é um ser humano nos estágios iniciais de seu desenvolvimento. Quer alguém seja um
“pequeno,” um recém-nascido, um adolescente, ou um adulto, ele é em cada ponto um ser humano
em diferentes fases de seu desenvolvimento. Aqueles que negam que o pequeno ser no útero é um
ser humano tipicamente confundem ser humano com ser em um estágio posterior de
desenvolvimento. Por exemplo, alguns que advogam pelos direitos de aborto dizem que, como um
embrião não é um bebê, não é ser humano, e, portanto, o aborto é moralmente aceitável.
Este argumento me parece completamente falacioso. Neste raciocínio, poderíamos com igual
justiça dizer que porque uma criança não é um adulto, ela não é ser humano; ou porque um bebê
não é uma criança, ele não é ser humano. Claro, um embrião não é um bebê, mas isso não quer
dizer que um embrião não é um ser humano. Todos estes são diversos estágios no
desenvolvimento do ser humano, e é arbitrário cortar um estágio e dizer que, por não ser um
estágio posterior, não é um ser humano.

Além disso, é simplesmente falso que a maioria dos abortos são feitos em embriões. Quando a
mulher percebe que está grávida (aproximadamente dois meses após a concepção), o embrião já se
tornou um feto, um “pequeno”. Não estamos lidando nesse ponto com um aglomerado de células,
mas com - a palavra é inevitável - um bebê, um bebê pequenino com rosto e características, com
pequenos braços e pernas, com pequenos pés e mãos. Todos os órgãos do corpo já estão presentes,
e os sistemas muscular e circulatório estão completos. Até mesmo atividade cerebral está presente.
Quando chega na décima segunda semana, seus dedos da mão e do pé estão totalmente
desenvolvidos, completos, com delicadas digitais e com pequenas unhas da mão e do pé
formando-se. O bebê já é bastante móvel, chutando e movendo-se, abrindo e fechando seu
pequeno punho e enrolando seus dedos do pé. Atrás de suas pálpebras fechadas seus olhos estão
quase inteiramente desenvolvidos. Inacreditavelmente, já nesse ponto, as características faciais
começam a assemelhar-se àquelas de seus pais!

Fotos intrauterinas desses pequenos nos revelaram quão lindas e delicadas maravilhas da criação
eles são. Um médico descreve sua experiência ao ver em primeira mão um desses pequenos de
oito semanas de idade:

Anos atrás, ao anestesiar uma gestação tubária rota (aos dois meses), eu me vi diante do que
acreditei ser o menor ser humano já visto. O saco gestacional estava intacto e transparente. Dentro
dele estava um pequeno ser humano do sexo masculino nadando vigorosamente dentro do líquido
amniótico, enquanto preso à parede pelo cordão umbilical. Este pequeno ser humano estava
perfeitamente desenvolvido, tinha pés com todos os dedos e longos e finos dedos nas mãos. Tinha
pele praticamente transparente e as delicadas artérias e veias eram proeminentes até a ponta dos
dedos. O bebê estava extremamente vivo e não parecia nenhum pouco com as fotos e desenhos
dos 'embriões' que eu havia visto. Quando o saco foi aberto, o pequeno ser humano imediatamente
perdeu sua vida e tomou a aparência do que é tido como a aparência de um embrião neste estágio,
extremidades disformes, etc.

Ninguém que já viu fotos de bebês no ventre entre 8-12 semanas pode honestamente negar que ali
temos um ser humano.

A vasta maioria dos abortos ocorre nesta época, entre a décima e a décima segunda semana de
gravidez e, portanto, estão claramente destruindo um bebê humano. Nem mesmo vou falar do
horror de abortos no segundo e terceiro trimestres, 150,000 dos quais ocorrem anualmente nos
EUA apenas, ou de abortos de nascimento parcial em que o bebê é parcialmente retirado antes de
ser brutalmente morto. Não se engane: aborto é matar bebês. O único motivo pelo qual isso
continua é que esses pequenos sem sorte normalmente não podem ser vistos. Como meu antigo
pastor disse uma vez: “Se ventres tivessem janelas, não existiriam abortos”.

O fato é que desde a concepção até a velhice nós temos diversos estágios de desenvolvimento na
vida de um ser humano. Parece-me, portanto, que os fatos científicos e médicos fazem com que
seja virtualmente inegável que um feto em desenvolvimento é um ser humano.

Portanto, se respondermos “sim” para ambas as perguntas que nos fizemos, segue-se que aborto
voluntário é um ultraje moral, a destruição de uma vida humana inocente e indefesa. Agora você
irá notar que eu não apelei em nenhum momento para a Bíblia. Isso porque, contrário a impressão
popular, aborto não é, em si, uma questão religiosa. A primeira pergunta que fizemos é filosófica:
seres humanos possuem valor moral intrínseco? A segunda pergunta é científica e médica: o feto
em desenvolvimento é um ser humano? Nenhuma destas perguntas são questões religiosas.

Dadas as nossas respostas para as duas perguntas acima, o que se segue é que aborto voluntário é a
questão moral transcendente dos nossos tempos. Desde a legislação do aborto voluntário em 1973,
temos testemunhado um Holocausto Americano que tem ceifado a vida de milhões de seres
humanos inocentes. Outras questões ficam pequenas em comparação a esta. Certamente devemos
nos importar com a posição de candidatos sobre outras políticas domésticas e externas. Ainda
assim, onde existem candidatos pró-vida, a condição necessária para votarmos em qualquer
candidato deve ser a disposição dele em defender a reversão da decisão Roe vs. Wade que
legalizou o aborto voluntário.

William Lane Craig

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http://www.reasonablefaith.org/portuguese/AbortoePolíticaPresidencial#ixzz3QTXLK8mg

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