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PROVAS EM ESPÉCIE

João Marcos Mariani Junior1

1. INTRODUÇÃO

O estudo das provas em espécie costuma ser dividido em algumas


sequencias clássicas. Definem-se como instrumento probatório destinado ao
convencimento do espírito do juiz, propiciando o juízo de certeza no magistrado
findando, por conseguinte, na prolação da sentença resolvendo o mérito. Em
caso das partes não promoverem as provas necessárias, caberá de ofício ao
juiz, de forma suplementar, determinar a produção de tais provas necessárias à
uma sentença.

Dentre as provas em espécie analisadas neste trabalho, discorrer-se-á


sobre: a) prova pericial; b) do interrogatório do acusado; c) da prova
testemunhal; d) da prova documental; e, por fim, e) da busca e apreensão.

2. PROVA PERICIAL

A perícia, por meio da legislação penal, é vista como um meio de prova,


aponta CAPEZ (2020, n.p.), “à qual se atribui um valor especial (está em uma
posição intermediária entre a prova e a sentença)”. É entendida por perícia o
meio probatório que consiste em exame elaborado por pessoa, em regra um
profissional, dotado de formação e conhecimentos técnicos específicos.

Diante do artigo 159 do Código de Processo Penal “o exame de corpo


de delito e outras perícias serão realizadas por perito oficial, portador de
diploma de curso superior” (BRASIL, 1941). Dispõe ainda sobre tal questão os
parágrafos do mesmo artigo:

§ 1o  Na falta de perito oficial, o exame será realizado por


2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de
curso superior preferencialmente na área específica,

1
Acadêmico de Direito – 3º Ano C – R. A. 16.5297 – Faculdade Maringá. Especialista em Docência no
Ensino Superior – UNICESUMAR; Graduado em História – UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ.
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada
com a natureza do exame.
§ 2o  Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de
bem e fielmente desempenhar o encargo.
(BRASIL, 1941)

Ainda que a prova pericial seja realizada por peritos, é válido destacar
que a mesma não está imune a erros. Podem ser determinadas as perícias
pela autoridade policial (art. 6, VII, CPP) ou pelo juiz, seja de ofício ou
requerimento das partes.

O procedimento pericial se dá a partir da iniciativa, partida da autoridade


policial, por meio do inquérito ou por meio da autoridade judiciária, se já
instaurada a ação; decorre em seguida da realização, quanto a sua realização
(da perícia), diz respeito a formulação de quesitos (perguntas a serem
respondidas pelo perito), seus requisitos se dão pelo artigo 159, §3º e 5º do
CPP; por fim corporifica-se a perícia, materializa-se, por uma peça técnica
chamada laudo pericial. Nela toda a peça escrita, na qual os peritos lançam o
resultado do exame efetivado, com suas conclusões.

3. DO INTERROGATÓRIO DO ACUSADO

Entende-se por interrogar o mesmo que fazer-lhe perguntas, sua


finalidade é apurar algo. Conceitua-se como o ato em que o juiz pergunta ao
acusado sobre sua qualificação e questões de sua vida e formação, assim
como a imputação em que lhe é feita, relacionada com a prática de um fato
tipificado como delito.

É tratado o interrogatório do acusado no capitulo concernente às provas


no Código de Processo Penal. De acordo com a doutrina, há quatro coisas a
saber sobre o interrogatório:

“1ª) o interrogatório é meio de prova;


2ª) o interrogatório é meio de defesa;
3ª) o interrogatório é meio de prova e de defesa;
4ª) o interrogatório é meio de defesa e eventualmente
meio de prova”
(MARCÃO, 2020, n.p.)
O interrogatório, pode ser visto como um meio de defesa do acusado,
para tal, deve se verificar algumas linhas a respeito de tal direito de defesa.
Antes de qualquer questão, o direito à defesa é assegurado de forma
constitucional, tratado no artigo 5º, LV “aos litigantes, em processo judicial ou
administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e
ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (BRASIL, 1988).
Entende-se que, o interrogatório é o momento processual no qual, por
excelência, o sujeito da defesa, o acusado, tem o direito de materializar o seu
direito de defesa, contando a sua versão dos fatos, tornando a natureza do
interrogatório, evidentemente, um meio de defesa.

Como características, o interrogatório apresenta-se como um ato


processual personalíssimo, sendo o réu, o único quem pode ser interrogado e
sendo este um ato público; ato privativo do juiz, somente o juiz pode interrogar
o acusado, sendo tal ato vedado ao defensor e também ao Ministério Público,
sendo necessária a presença do defensor no interrogatório de acordo com o
art. 185 do CPP em seu caput e §1º, sob efeito de nulidade. É o interrogatório
também um ato oral, admitindo-se exceções nos casos de surdos e mudos;
sendo por fim, um ato não preclusivo, podendo ser realizado a qualquer
momento

4. DA PROVA TESTEMUNHAL

Pensar no conceito de testemunha, se dá a ideia de que toda prova é


uma testemunha, pois, esta atesta o fato (CAPEZ, 2020). No seu sentido
estrito, é todo indivíduo estranho ao feito, sem correlação com as partes, que é
chamado ao processo para falar sobre os fatos perceptíveis a seus sentidos e
relativos ao objeto do litígio.

Por sua natureza jurídica, a prova testemunhal é entendida como um


meio de prova. A prova testemunhal é utilizada em larga escala, sendo raros os
casos em que não há a sua produção. É mais raro ainda deparar-se com ação
penal que tenha sido julgada procedente, sem que o autor tenha se utilizado de
testemunha para a prova de suas alegações. De acordo com o artigo 202 do
Código de Processo Penal, toda pessoa pode ser testemunha, desde que a
mesma tenha informações relevantes e pertinentes relacionadas à questão de
provar.

Tecnicamente, só é prova testemunhal aquela produzida em juízo; tendo


por outra característica a oralidade, uma vez em que a prova testemunhal deve
ser colhida por meio de narrativa oral (art. 204, CPP), prestada de forma direta
ao juiz e as partes e seus representantes, havendo exceções nos casos de
surdos e mudos. Por fim, outra característica fundamental, dá-se a
objetividade, uma vez em que as testemunhas devem depor sobre os fatos
sem externar opiniões ou emitir juízos de valores. Só é admitido o juízo de
valor, em caso de caráter opinativo.

É valido destacar que, a testemunha não poderá se eximir da obrigação


de depor, devendo comparecer em local determinado, no dia e hora
designados; identificar-se com qualificações e dizer a verdade, sob pena de
falso testemunho.

5. DA PROVA DOCUMENTAL

De acordo com o artigo 232 do Código de Processo Penal, “consideram-


se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papeis, públicos ou
particulares” (BRASIL, 1941). “O documento é a coisa que representa um fato,
destinado a fixa-lo de modo permanente e idôneo e em juízo” (CAPEZ, 2020,
n.p.).

Deve-se entender que, os documentos tem sua natureza jurídica como


meio de prova, não correspondendo os mesmos somente aos escritos, mas
qualquer forma corporificada de expressão do sentimento ou pensamento
humano, como, fotografias, filmagens, gravação, pintura entre outros. Em
sentido estrito, tal documento deve provar um fato ou a realização de algum ato
de relevância jurídica.

A produção documental, salvo casos expressos em lei, pode ser feita a


qualquer momento, ou seja, em qualquer fase do processo, como dispõe o
artigo 231 do Código de Processo Penal (MARCÃO, 2020). Tal produção pode
ser feita em dois aspectos: a) espontânea, com a exibição juntada ou leitura
pela parte; b) provocada ou coacta, que se faz na forma do artigo 234, do CPP
(CAPEZ, 2020). É valido destacar que a prova possui um tríplice aspecto,
dispositivo, quando necessário e indispensável para a existência do ato
jurídico; constitutivo, essencial para a formação e validade do ato; e probatório,
quando sua função é natureza processual.

É válido destacar, que o juiz não pode admitir, de forma alguma, provas
admitidas de forma por meios criminosos, seja por interceptação, como dispõe
o artigo 223, caput, do Código de Processo Penal. Por outro lado, deve se
fazer válida a autenticidade da prova, a certeza de que o documento, provém
do autor nele indicado. Diz-se documentos autênticos, os documentos públicos,
quando particulares, provados sua autenticidade, fala-se em documento
autenticado.

6. BUSCA E APREENSÃO

A busca e apreensão pode ser entendida como uma medida cautelar


que tem por finalidade colher provas para o processo penal, afim de se chegar
à verdade material. Em linhas gerais, objetiva encontrar pessoas procuradas ou
objetos a serem apreendidos, garantindo ao processo elementos de autoria e
materialidade.

Busca significa o movimento desencadeado pelos agentes do Estado


para investigação, descoberta e pesquisa de algo interessante para o processo
penal, realizando-se em pessoas ou lugares, por sua vez, Apreensão é medida
assecuratória que toma algo de alguém ou de algum lugar, com a finalidade de
produzir prova ou preservar direitos.

Cabe esclarecer que não é sempre que a busca gera apreensão, tendo
em vista que, durante a procura dos agentes, nada pode ser encontrado, bem
como nem sempre a apreensão decorre da busca, pois pode haver a entrega
voluntária do bem. Ademais, este instituto só poderá se realizar mediante
mandado judicial, do contrário, a autoridade policial estará incorrendo no delito
de abuso de autoridade (Lei nº 4.898/65), e seus resultados serão
considerados provas ilícitas, conforme já explanado.
Todavia, a exceção à regra está nos crimes em flagrante, onde não será
preciso mandado judicial para tal, em primeiro momento, tendo em vista que o
crime está na sua plena ocorrência e é preciso que seja observado o princípio
do “in dubio pro societate”.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil (1988). Disponível em:


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em:
17 nov. 2020.

BRASIL. Decreto Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941. Código de Processo


Penal. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/del3689.htm. Acesso em: 18 nov. 2020.

CAPEZ, F. Curso de processo penal. 27. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. E-


book.

CAPRIGLIONI, Gustavo Henrique Dorigo; FILHO, Edvaldo Araújo de Miranda.


As prova em espécie na esfera penal. Jusbrasil. Disponível em:
https://ghcapriglioni.jusbrasil.com.br/artigos/517963163/as-provas-em-especie-
na-esfera-penal. Acesso em:18 de nov. 2020.

MARCÃO, R. Curso de Processo Penal. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2020. E-


book.

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