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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDONÓPOLIS

FACAP – FACULDADE DE CIÊNCIAS APLICADAS E POLITICAS


CURSO DE CIÊNCIAS CONTÁBEIS
Disciplina: Contabilidade de Cooperativas - Facilitadores: Prefº. Florentino e
Prefº. César

CONTABILIDADE DE COOPERATIVAS

Operações entre Cooperados e Cooperativas

Para delimitar com segurança as distinções existentes entre as cooperativas e


outras sociedades, faz-se necessário apontar elementos que lhes sejam próprios e que
lhes configuram singularidade em relação às demais sociedades.
Muitos desses elementos diferenciadores afiguram-se extremamente particulares
às cooperativas e não encontram paralelo ou mesmo semelhança em qualquer outra
sociedade.
Assim sendo, passaremos ao exame de alguns desses elementos diferenciadores:

Formação do Quadro Social

É regra em matéria de direito societário que nenhuma sociedade poderá ser


constituída sem determinado número de sócios participantes.
Tal regra aplica-se também às sociedades cooperativas com determinadas
peculiaridades.
A adesão do associado é voluntária e não existe número máximo de associados.
Entretanto, no que respeita ao número mínimo de associados para a constituição
da cooperativa, determina o inciso I do art. 6º da Lei n º 5.764/71 que será de 20 (vinte)
associados pessoas físicas para as cooperativas singulares, com exceção das
cooperativas de Trabalho, que segundo art. 6º da Lei 12.690 de 19/07/2012 poderão ser
constituídas com um número mínimo de 07 (sete) sócios.
Sua constituição, como veremos adiante, far-se-á mediante deliberação em
assembleia geral.

Capital Social

As sociedades de finalidade lucrativa, como regra, determinam no ato de sua


constituição o valor de seu capital social, bem como sua divisão em cotas ou ações,
valorando unitariamente cada parcela do capital.
Nessas sociedades, o capital social será alterado mediante deliberação dos sócios,
representando, ditas alterações, aumento ou redução do capital original, conforme o
caso.
Nas sociedades cooperativas ocorre o inverso, de vez que seu capital social é
variável, aumentando ou diminuindo na proporção do número de associados.
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Outra característica relevante a ser observada quanto ao capital social é a


impossibilidade de cessão, por parte do associado, de suas cotas-partes a terceiros,
restringindo-se, ainda, a distribuição de cotas-partes a cada associado, devendo o
estatuto limitar a participação de cada um.

Representatividade

A sociedade cooperativa é administrada com base no princípio de decisão


assemblear.
O quórum para funcionamento da assembleia geral e para a tomada de decisões é
baseado no número de associados e não na representatividade do capital social, o que a
distingue das sociedades por ações, onde o quórum das deliberações, e instalação da
assembleia geral é baseado no percentual do capital votante presente.
Esta característica da sociedade cooperativa objetiva nivelar a força decisória de
cada associado, não só pela forma de contagem do quórum de deliberações mas
também em razão da restrição do número de cotas-partes do capital que podem ser
detidas por associado, como examinamos no item anterior.

Sobras Líquidas Resultantes das Operações

As operações de sociedades cooperativas podem produzir sobras líquidas ou superávits de


caixa, ou seja, uma sobra líquida que nas sociedades de objeto mercantil teriam o tratamento de
lucro.
Nas sociedades mercantis ou civis de finalidade lucrativa, os sócios decidiriam a destinação
a ser dada ao lucro verificado no período, ao passo que, nas sociedades cooperativas, as sobras
líquidas resultantes do exercício da atividade retornam, proporcionalmente às operações
realizadas, ao associado. Como já visto, como os sócios recebem pela produção obtida através da
cooperativa, como se sabe também, que desta produção um percentual acordado em assembleia é
deixado na cooperativa para pagamentos das despesas, fazendo com que os que mais produzem
paguem mais pelas despesas do que os de produção inferiores. Desta forma, se os valores deixados
na cooperativa foram suficientes para pagamento das despesas e ainda sobraram, a proporção do
retorno destas sobras deverá ser proporcional aos valores deixados para pagamento delas, ou seja,
quem deu mais recebe mais e assim por diante.

Objeto Social

As sociedades, como regra, possuem um objeto social definido, em que fica


consignada a atividade que a mesma irá exercer.
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A sociedade cooperativa distingue-se, assim, das demais, porque sua


característica principal é o fato de sua estrutura estar voltada ao atendimento
e à viabilização da atividade de seus associados sem que ela própria,
enquanto estrutura organizacional, vise lucro.
Seu objeto, portanto, é viabilizar a atividade de seus associados, sem que seja
voltada à exploração de atividade econômica específica.
Essa distinção, fortemente impregnada no texto da Lei nº 5.764/71, torna a
sociedade cooperativa, como já frisamos, uma modalidade societária à parte no sistema
jurídico positivo.

Objeto

Como examinamos no subitem anterior, as sociedades cooperativas caracterizam-


se pelo fato de possuírem estrutura voltada ao atendimento de seus associados, sem
objeto social próprio, assim entendido aquele ao qual as sociedades usualmente se
dedicam com desígnio de lucro.
Poderão, entretanto, com o fim de viabilizar a atividade de seus associados, adotar
qualquer objeto, respeitadas as limitações legais, no sentido de não exercerem
atividades ilícitas ou proibidas em lei.
Seu objeto poderá ser qualquer gênero de serviço ou comércio. Por gênero de
serviço ou comércio entenda-se, neste caso, a atividade de seus cooperados que, dada
sua característica de estrutura organizacional viabilizadora dessa atividade, passa a ficar
impregnada em sua atividade estrutural.

Denominação

As sociedades cooperativas, como toda sociedade, adotarão uma denominação


que as individualize no universo jurídico.
Assim sendo, cuidou a legislação de determinar que sempre será obrigatória a
adoção da expressão “cooperativa” na sua nominação.
Desse modo, poderá ser formada a denominação de variadas formas e, em
qualquer caso, fica impedida a utilização do termo “banco”, o que poderia induzir a erro
quem com ela se relacionasse.

SÓCIOS

A questão relativa aos sócios das sociedades cooperativas é da maior importância


e possui aspecto de real interesse para o assunto em tela.
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De plano, merece ser comentada a expressão da lei que define a cooperativa como
“sociedade de pessoas”, o que poderia levar a crer que do quadro social somente
poderiam participar pessoas naturais.
Com efeito, a essência das sociedades cooperativas é a composição de seu quadro
social por pessoas naturais.
Não obstante, é da própria lei que emana a permissão, ainda que excepcional, de
admissão de pessoas jurídicas aos quadros sociais de sociedades cooperativas.
Entretanto, para que uma pessoa jurídica seja admitida a participar de uma
sociedade cooperativa deverá preencher, alternativamente, um dos seguintes requisitos:
1) ter por objeto atividade idêntica ou correlata à das pessoas físicas que a
compõem; ou
2) não possuir finalidade lucrativa.
Deve ser esclarecido que, mesmo havendo participação de pessoas jurídicas,
excepcionalmente admitidas nas condições acima mencionadas, sua natureza jurídica
será de sociedade de pessoas, que se caracteriza pelo estreito vínculo e relacionamento
entre os sócios.

FORMA CONSTITUTIVA

A legislação relativa às sociedades cooperativas consagrou para sua constituição o


princípio assemblear.
Assim sendo, e por força do disposto no art. 14 da Lei nº 5.764/71, a sociedade
cooperativa será constituída por deliberação da assembléia-geral de seus fundadores.
Quanto ao instrumento a ser utilizado na constituição, poderá ser a ata da
assembléia-geral, quando se poderá adotar o instrumento particular, ou público, se a
constituição for regulamentada mediante lavratura em Tabelionato de Notas de escritura
de constituição.
Nos termos do art. 15 do mesmo diploma e sob pena de nulidade, a ata deverá
declarar a denominação da entidade, local de sua sede e objeto, nome, nacionalidade,
idade, estado civil, profissão e residência dos associados, fundadores que a assinam,
valor e número de cotas-partes de cada um, aprovação do estatuto da sociedade e
nome, nacionalidade, estado civil, profissão e residência dos associados eleitos para os
órgãos de administração, fiscalização e outros.
O ato constitutivo da sociedade será assinado pelos fundadores, bem como seus
estatutos, quando não transcritos na ata de constituição.
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Além da eventual necessidade que tenham os associados quanto ao número de


vias do ato constitutivo e do estatuto da sociedade, o número mínimo de vias que de
ambos deverão ser extraídos é de 4 (quatro), já que esta é a regra do art. 17 da Lei nº
5.764/71.

Estatuto Social

As sociedades cooperativas serão regidas por um estatuto social. Isso ocorre


porque, sendo regida através de decisões em assembleia, não poderá ser regida por
contrato social.
O estatuto social é o resultado da decisão da assembleia geral dos associados no
momento de sua abertura, contendo as normas gerais de administração, operação,
objeto e outras tantas do interesse social.
Entretanto, o estatuto das sociedades cooperativas deverá atender aos requisitos
da Lei nº 5.764/71, contidos no seu art. 21. Do estatuto social, sob a égide do dispositivo
citado, constarão obrigatoriamente os seguintes elementos:
a) denominação, sede, prazo de duração, área de ação, objeto da sociedade,
fixação do exercício social e da data do levantamento do balanço geral;
b) os direitos e deveres dos associados, natureza de suas responsabilidades e as
condições de admissão, demissão, eliminação e exclusão e as normas para
sua representação nas assembleias gerais;
c) o capital mínimo, valor da cota-parte, o número de cotas-partes a ser subscrito
pelo associado, o modo de integralização, bem como as condições de sua
retirada;
d) a forma de devolução das sobras registradas ou o rateio das perdas apuradas
por insuficiência de contribuição para cobertura de despesas da sociedade;
e) o modo de administração e fiscalização, estabelecendo os respectivos órgãos e
definindo suas atribuições, a representação ativa e passiva da sociedade em
juízo e fora dele, o prazo do mandato, bem como o processo de substituição
dos administradores e conselheiros fiscais;
f) as formalidades de convocação das assembleias e a maioria necessária para
sua instalação e validade de deliberações, vedando o direito de voto daqueles
que tenham interesse particular em pauta, sem privá-los da participação nos
debates;
g) os casos de dissolução voluntária da sociedade;
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h) o modo e o processo de alienação ou exoneração de bens imóveis da


sociedade;
i) o modo de reforma do estatuto;
j) o número mínimo de associados.
Naturalmente, esses requisitos obrigatórios que deverão constar do estatuto social
não excluem eventuais ajustes entre os associados, desde que sejam os mesmos
compatíveis com aqueles obrigatórios ou, pelo menos, não-contraditórios.

Livros

Para controle e escrituração, sem prejuízo da adoção de outros, impostos pela


legislação fiscal, previdenciária ou trabalhista a que se sujeitem, as cooperativas
manterão os seguintes livros:
a) de matrícula;
b) de atas de assembleias gerais;
c) de atas dos órgãos de administração;
d) de atas do conselho;
e) de presença de associados às assembleias gerais.

Capital Social

As sociedades cooperativas, como já dito, terão capital social fixado pelos


estatutos.
Será o capital social dividido em cotas-partes e o valor unitário de cada cota não
poderá ser superior ao maior salário mínimo vigente no País, nos termos do disposto no
art. 24 da Lei nº 5.764/71.
No tocante à subscrição do capital social, o diploma legal limita a cada associado a
quantia de 1/3 (um terço) do total de cotas-partes.
Excetuam-se de tal limitação as sociedades em que a subscrição deva ser
diretamente proporcional ao movimento financeiro do cooperado ou quantitativo dos
produtos a serem negociados ou em relação à área cultivada ou ao número de plantas e
animais em exploração.
A forma de integralização das cotas-partes poderá ocorrer em pagamentos
periódicos, em bens, desde que avaliados previamente e homologados pela assembleia
geral.
Deve a sociedade cooperativa manter capital mínimo, fixado no estatuto social,
como verificou-se no exame dos requisitos do estatuto social.
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Administração

A administração da sociedade cooperativa, como já consignamos, é regida pelo


princípio assemblear. Daí decorre que a assembleia geral é o órgão máximo de
administração da sociedade e decisão dos negócios sociais.
Toda a sistemática de convocação, instalação e quórum das decisões nas
assembleias gerais está descrita no art. 38 e seguintes da Lei nº 5.764/71.
As assembleias poderão ser ordinárias ou extraordinárias, conforme matéria que
lhes incumbe decidir.
Anualmente, nos 3 (três) primeiros meses que se seguem ao término do exercício
social, será realizada uma assembleia geral ordinária, nos termos do art. 44 do diploma
legal citado, para a prestação de contas dos órgãos de administração, deliberar sobre a
destinação das sobras, eleição dos membros dos órgãos de administração e do
conselho fiscal, fixação dos honorários dos membros do conselho fiscal, conselho de
administração ou diretoria.
A assembleia geral extraordinária será realizada sempre que se faça necessária e
poderá deliberar sobre qualquer assunto de interesse da sociedade, desde que
mencionado no edital de convocação.
Executivamente, a sociedade cooperativa é administrada por uma diretoria ou por
um conselho de administração, conforme determinar seu estatuto social.
Poderão compor a diretoria ou o conselho de administração exclusivamente
associados eleitos na assembleia geral, cujo mandato será de no máximo 4 (quatro)
anos.
É obrigatória a renovação mínima de 1/3 (um terço) do conselho de administração,
ao termo de cada mandato, regra esta elencada na citada Lei nº 5.764/71, e aplicável,
também, à diretoria.
Além dos órgãos citados na legislação, poderá o estatuto criar outros órgãos
necessários à administração da sociedade, como facultado no § 1º do multicitado
diploma legal.

A Legislação da Cooperativa no Brasil

As cooperativas são, na verdade, uma forma CIVIL (não trabalhista), conforme


peculiaridade definida na Lei 5.764/71, para o fornecimento de serviços especializados,
executados por profissionais autônomos cooperados, para o tomador de serviços da
cooperativa, geridos por ela e não colocados à disposição do tomador.
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O art. 174 da Constituição de 1988, em seu parágrafo 2, diz que “o governo


estimulará a criação e o desenvolvimento de cooperativas e outras formas de
associativismo” (BRASIL, 1999, p.102).
As cooperativas independem de autorização, sendo vedada a interferência
estatal em seu funcionamento (art. 5º, inciso XVIII da Constituição Federal).
O art. 442 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, parágrafo único, diz que,
“independente do ramo de atividade da cooperativa, não se estabelece o vínculo
empregatício entre o cooperado e a cooperativa e nem entre o cooperado e o tomador
de serviços desta.” (BRASIL, 1999, p.131).
O art. 4º da Lei nº 5.764/71 disciplina a formação das cooperativas nos incisos de I
a XI.
O art. 90 da mesma Lei disciplina não haver vínculo empregatício entre o
cooperado e a cooperativa.
Já o Regulamento da Previdência Social, ou seja, o Decreto 611/92, em seu art. 6º,
item IV, 4, considera o cooperado como:
Art. 6 - são segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas
físicas:
[...]
IV - como trabalhador autônomo
[...]
4 - o trabalhador associado a Cooperativa de Trabalho, que nesta qualidade
presta serviços a terceiros.

O ato cooperativo e o ato não cooperativo

O artigo 79 da Lei nº 5.764/71 estabelece que:


Denomina-se atos cooperativos os praticados entre as cooperativas e seus
associados, entre estes e aquelas e pelas cooperativas entre si quando
associadas, para a consecução dos objetivos sociais.
Parágrafo Único – O ato cooperativo não implica operação de mercado, nem
contrato de compra e venda de produto ou mercadoria.
A determinação legal está estreitamente ligada com o princípio da auto
responsabilidade, tendo as cooperativas a incumbência de prestar serviços aos
associados, fornecendo-lhes produtos ou serviços ou comercializando produtos em
nome dos associados, no entanto a responsabilidade por estas operações é do próprio
associado.
Segundo Michels (2000, p.12), o ato cooperativo é a forma legal que regulamenta
as relações entre associado e cooperativa, ou entre esta e aquele, não caracterizando
contrato de compra e venda de produto ou mercadoria, ou ainda o compromisso na
assinatura de um contrato de prestação de serviço em nome do cooperado não significa
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prestação de serviço pela cooperativa. A responsabilidade pelos atos praticados pela


cooperativa é do próprio associado. A cooperativa age em nome dele.
Quando a cooperativa recebe produtos dos associados para venda ou utilização
em produção, no caso de cooperativa de produção, não está adquirindo esses produtos,
mas sim recebendo-os em consignação, para posterior venda em nome dos associados.
Já Lima (1999, p.7), descrevendo sobre a atuação da sociedade cooperativa nos
atos direcionados à operacionalização das atividades conjuntas de seus cooperados,
definiu “ato cooperativo” como:
Compreende todo relacionamento do cooperado com a cooperativa, na obtenção
dos serviços indispensáveis à materialização e coletivização da atividade
econômica que constitui o seu objeto. Para a consecução desses fins, têm as
cooperativas um complexo de competência, que não se resume num singelo
relacionamento com seus sócios, mas na relação com os interessados em obter
o produto da atividade econômica de seus cooperados (usuários, no caso), e
também na relação inerente à aquisição de recursos (bens ou serviços) para que
a atividade-objeto dos cooperados se complementem.
Acha-se necessário, para o entendimento da definição do autor acima citado, a
distinção entre os fins (finalidades) da sociedade cooperativa e o seu objeto. Enquanto
os fins da cooperativa se realizam na associação de seus associados, que contribuem
com bens e serviços para o exercício de sua atividade econômica de interesse comum,
sem intuito de lucro (art. 3º da Lei 5764/71), o objeto da sociedade é determinado pela
atividade de seus associados (art. 5º da Lei 5764/71).
Os estatutos das cooperativas refletem essa realidade nos dispositivos que regem
os “fins sociais e o objeto da sociedade”, constando no seu texto as classes de
operações pertinentes à realização completa dos atos cooperativos.
Portanto, as cooperativas prestam serviços, em regra, exclusivamente aos
associados, praticando os atos inerentes a sua finalidade (atos cooperativos). Dentro
dessa atuação, Lima (1999, p.7) classifica os atos cooperativos, dentro de suas
características particulares de agrupamento, em três tipos: a) Atos Principais: que se
circunscrevem à realização final da atividade econômica dos sócios, ou seja, do objeto
da cooperativa; b) Atos Auxiliares: pelos quais os associados obtêm, por intermédio da
cooperativa, as condições para que possam realizar o trabalho inerente à atividade
econômica composta pela cooperativa. Exemplo: bens, serviços e demais instrumentos
indispensáveis colocados pela cooperativa à disposição dos cooperados para a
execução dos atos principais; c) Atos Acessórios: pelos quais a sociedade,
indiretamente, atinge a sua finalidade, ou seja, a prática de atos, pela cooperativa, que
indiretamente viabilizam sua atuação. Exemplo: as locações, contratações de serviços e
outros atos direcionados à administração da sociedade. O autor, ao fazer esta
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classificação dos atos cooperativos, se justifica através da aplicação do artigo 4º, inciso
VII, com o artigo 80, da Lei nº 5.764/71.
Com a finalidade de entendimento do funcionamento de uma cooperativa de
trabalho, e mais analiticamente o funcionamento dos atos cooperativos, é de nossa
opinião que se deve explicar como seria a transação entre os profissionais autônomos
e os tomadores de serviços, sem a existência da figura da cooperativa de trabalho,
pois só assim pode-se ver as duas situações (ver figura 1 abaixo).

AUTÔNOMO AUTÔNOMO AUTÔNOMO

TOMADOR DOS SERVIÇOS

LEGENDA:

CONTRATO DE TRABALHO

PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS

PAGAMENTO DOS SERVIÇOS

FIGURA: Transação de Profissionais Autônomos com um Tomador de


Serviços sem a existência da Cooperativa de Trabalho
A figura apresentada mostra o funcionamento do relacionamento entre o Prestador
de Serviços Autônomo com o Tomador dos Serviços sem a existência da cooperativa de
trabalho. Como se pode observar, cada prestador de serviços terá que, além da
obrigação de prestar serviços para o tomador, administrar seu contrato, suportar-se
tecnicamente para execução dos serviços, gerenciar a questão monetária de seu
contrato etc. Por outro lado, o Tomador dos Serviços terá que realizar um contrato de
prestação de serviços para cada autônomo, controle para pagamento individual de cada
um etc.
Assim, ao se observar a figura 1 e confrontá-la com a figura 2, pode-se dizer que o
que exceder na figura 2 é o ato cooperativo, ou seja, na figura 2 quem mantém o
relacionamento no momento do contrato com o tomador dos serviços em nome dos
cooperados é a cooperativa, quem administra a questão de recebimentos por prestação
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de serviços para os cooperados é a cooperativa e quem dá o suporte técnico para que


os cooperados prestem serviços de qualidade também é a cooperativa. Logo o que
aparece como novo na figura 2 em relação à figura 1 nada mais é do que a pessoa da
cooperativa prestando serviços aos cooperados.
Analisando a questão do funcionamento das cooperativas de trabalho, assim como
cooperativas de outros ramos, tal prestação de serviços realizada a cooperados torna-se
difícil, pois a função é colocá-los no mercado de trabalho com a qualidade dos serviços
que o mercado exige, além de terem remuneração, tanto quanto o mercado remunera
profissionais da mesma categoria, pois só assim se justifica a sua existência.

2
COOPERADO COOPERATIVA

6
3 1 4

TOMADOR DOS SERVIÇOS

LEGENDA:
ATO COOPERATIVO
1. CONTRATAÇÃO DOS SERVIÇOS 4. PAGAMENTO PELO TOMADOR
2.SUPORTE DA COOPERAT. P/ COOPERADO 5. COBRANÇA TX DE ADM. PELA COOPERATIVA
3.PRESTAÇÃO SERVIÇO P/ COOPERADO 6. REPASSE DA COOPERATIVA PARA O COOPERADO

FIGURA: Funcionamento do Ato Cooperativo em uma Cooperativa de


Trabalho
Pode-se verificar de forma resumida, através da figura apresentada, o
funcionamento de uma transação envolvendo uma cooperativa de trabalho, seus
cooperados e o tomador dos serviços. O relacionamento para a contratação dos serviços
junto ao tomador dos serviços (1) é feito pela cooperativa de trabalho, em nome de seus
cooperados. Ela aproxima a fonte de trabalho do executor do trabalho, ou seja, o
tomador, do profissional autônomo cooperado. Organiza, orienta, representa o
cooperado, além de gerenciar os recursos para suportar (2) o trabalho dos mesmos (3).
Tendo o cooperado prestado o serviço, a cooperativa de trabalho novamente o estará
intermediando no recebimento dos recursos (4), fazendo com que este chegue ao
cooperado (6) subtraído do valor de uma taxa (5), cobrada pela cooperativa para cobrir
os gastos necessários para execução dos serviços prestados no suporte aos
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cooperados.

Observa-se ainda, na figura 2, que fica claro o acontecimento do ato cooperativo


(setas vermelhas), como inclusive já citado: é o relacionamento da cooperativa com o
seu cooperado, ou seja, o serviço é prestado pelos cooperados, quem é beneficiado
economicamente é o cooperado, a cooperativa pratica o ato cooperativo, ou ainda, ela
dá suporte ao cooperado para a execução do ato.

A execução dos objetivos sociais faz com que as cooperativas de trabalho recorram
ao mercado, relacionando-se com pessoas físicas ou jurídicas. Uma cooperativa de
trabalho contrata serviços para seus cooperados junto a tomadores de serviços, sejam
eles pessoas físicas ou jurídicas, tal transação está complementando o ato cooperativo.

A cooperativa de trabalho que contrata um advogado, para utilizar os seus serviços


na defesa dos interesses sociais, também está complementando o ato cooperativo. Tais
operações fazem parte do ato cooperativo, portanto não significam negócios com
terceiros.

Para Irion (1997, p.102), o conceito de terceiros no cooperativismo é pouco


explorado em se considerando sua relevância, pois é do relacionamento das
cooperativas de trabalho com terceiros que surge o conceito de atos não-cooperativos,
fazendo com que tais cooperativas produzam lucros, em vez de sobras.

Visando o melhor entendimento, o mesmo autor nos traz que terceiros são:
“pessoas físicas que operam no mesmo campo de atuação do quadro social e que por
isso têm, tecnicamente, condições de se tornarem associados.”

Assim, existem duas circunstâncias nas quais as cooperativas de trabalho praticam


atos não-cooperativos. A primeira envolve a cooperativa e pessoas físicas não
cooperadas. Por exemplo: utilização dos trabalhos profissionais de um auditor não-
cooperado por uma cooperativa de auditores. As operações com terceiros são permitidas
por lei, mas não podem ser rotineiras.

A segunda circunstância diz respeito a operações da cooperativa de trabalho com o


mercado, realizada fora dos objetivos sociais.

Os lucros dos atos não-cooperativos se refletem diretamente na economia da


sociedade e não na dos sócios. Assim sendo, são tributáveis, sendo a cooperativa a
contribuinte e os saldos, destinados ao RATES, das cooperativas de trabalho.
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Natureza Jurídica dos atos cooperativos e não cooperativos

As sociedades cooperativas, visando atender suas necessidades sociais, realizam


diversas atividades, interagindo ora com o associado cooperado, ora com terceiros,
isoladamente, ou com ambos, em um mesmo ciclo operacional.
Tem-se nas cooperativas, segundo Walmor Franke, negócio-fim aquele realizado
entre associado e a cooperativa e negócio-meio o realizado entre está e o mercado.
Assim, a aquisição de produto no mercado, numa cooperativa de consumo, é o negócio-
meio. A entrega desses produtos aos cooperados caracteriza o negócio-fim. Já na
cooperativa de produtores, a entrega dos produtos dos cooperados à cooperativa
constitui o negócio-fim e a sua posterior vendas no mercado, o negócio-meio.
Servindo-nos desses conceitos, juntamos o negócio-meio ao negócio-fim para
denominá-lo ciclo operacional.
Os principais ciclos operacionais realizados pelas sociedades cooperativas podem
ser assim resumidos: I – “aquisição/produção/venda”, na cooperativa de produção; II –
“aquisição/venda”, na cooperativa de consumo ou na de produtores; III – “captação de
recursos/concessão de empréstimos”, na cooperativa de crédito; e IV –
“contratação/prestação de serviços”, na cooperativa de trabalho. Nos demais tipos de
cooperativas, para outras classificações que eventualmente se queira adotar, esses
ciclos operacionais certamente estarão presentes.
A presença dos associados em um dos polos desses ciclos operacionais,
caracterizando o negócio-fim, é de importância capital para a conceituação de
determinada atividade como ato cooperativo. Ao contrário, ou seja, a ausência do
associado de forma direta, como parte das relações jurídicas decorrentes de quaisquer
dos ciclos operacionais supra, caracteriza a operação, de plano, como ato não
cooperativo. Seria a realização do negócio-fim com terceiros.
Como apresentado anteriormente, o art. 79 da Lei 5764/71 definiu ato cooperativo.
Em termos claros, o legislador definiu, no caput do artigo o ato cooperativo
esclarecendo, em seu parágrafo único, que este não se trata de operações de mercado
ou contrato de compra e venda.
De fato, as operações realizadas pela sociedade cooperativa com seus associados
não se tratam de operações mercantis, mas tão-somente de transferências de
mercadorias e recursos entre eles – cooperativa e associados – com o objetivo de
fomentar as atividades daquela em benefício destes, ou transferir o resultado de suas
atividades para os associados, sempre buscando os seus interesses.
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Assim, quando a cooperativa recebe produtos dos seus associados para produção
e venda, não os está comprando, mas apenas recebendo esses produtos em
consignação, para posterior venda em nome destes, revestindo-se, dessa forma, do
legitimo ato cooperativo. Esclarecendo a natureza dessas operações dispõe o art. 83, da
Lei 5764/71, assim:
“Art. 83. A entrega da produção do associado à sua cooperativa significa a
outorga a esta de plenos poderes para a sua livre disposição, inclusive para
gravá-la e dá-la em garantia de operações de crédito realizadas pela sociedade,
salvo se, tendo em vista os usos e costumes relativos à comercialização de
determinados produtos, sendo de interesse do produtor, os estatutos dispuserem
de outro modo. ”
Os esclarecimentos prestados pelo artigo 83 podem ser estendidos aos demais
atos realizados entre os associados cooperados e a cooperativa. Entre outros, é o caso
da operação que consiste na entrega de recursos pelos associados à cooperativa de
consumo, para que esta efetue as aquisições de produtos de consumo de interesse
daqueles.
Com as definições ora apresentadas, seria lícito dizer que as operações que a
sociedade cooperativa realiza com o mercado seriam atos não cooperativos?
A resposta é, certamente, pela negativa, eis que os atos mercantis que uma
sociedade cooperativa realiza com terceiros, relativamente aos produtos recebidos dos
associados, são feitos em nome destes. Assim, não podem ser classificados como atos
cooperativos ou não cooperativos, pois tratam-se de operações dos cooperados que
estão sendo realizadas pela cooperativa como mera intermediária representante.
O ato cooperativo está presente nas atividades (realizadas pela sociedade
cooperativa) consistentes na prestação de serviços de representação de seus
associados.
A classificação das operações em atos cooperativos e não cooperativos, portanto,
somente faz sentido em relação aos atos praticados pela sociedade cooperativa em seu
próprio nome. Os primeiros (atos cooperativos) correspondem às atividades de
prestação de serviços pela cooperativa aos seus associados. Os atos não cooperativos,
por outro lado, são as operações mercantis efetuadas pela sociedade cooperativa, em
seu próprio nome, por óbvio, e sem participação dos cooperados. É a realização do
negócio-fim com não associado, como já frisamos linhas atrás.
Outra conclusão a que se pode chegar, a partir dos dispositivos legais analisados, é
que as atividades caracterizadas como atos cooperativos devem, necessariamente,
constar nos estatutos sociais das cooperativas como seu objeto social. Não atendendo a
esse requisito, a atividade, certamente, será ato não cooperativo, o quem não significa
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que todas as atividades abarcadas pelo objeto social da cooperativa são atos
cooperativos.

Definição de Sobras

Segundo a International Cooperative Alliance (n.d.) uma cooperativa é uma


associação autônoma de pessoas unidas voluntariamente para satisfazer suas
necessidades e aspirações comuns: econômicas, sociais e culturais; por meio de uma
empresa democraticamente por eles controlada.
Em relação aos lucros, o artigo terceiro da lei do cooperativismo (Lei 5.764/1971),
elucida que, “celebram contrato de sociedade cooperativa as pessoas que
reciprocamente se obrigam a contribuir com bens ou serviços para o exercício de uma
atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo de lucro”.
Assim, as cooperativas são organizações de pessoas, democraticamente geridas
que se unem para satisfazer um ou mais objetivos comuns. A cooperativa existe
essencialmente e necessariamente para prestar serviços a seus associados. Esta
prestação de serviço varia de acordo com o ramo da cooperativa: uma cooperativa
agropecuária pode ter o objetivo de comercializar a produção dos cooperados, por
exemplo, ou uma cooperativa de crédito pode prestar serviços aos associados através
do fornecimento de crédito. Cada ramo da cooperativa tem a sua especificidade, e
cooperativas do mesmo ramo também podem variar em relação ao objeto ou produto
comercializado. O cooperativismo atua em diversos setores, sempre no intuito de evitar o
atravessador e aproximar o cooperado do consumidor ou facilitar o consumo do próprio
cooperado.
Porém, a cooperativa enquanto organização tem custos de manutenção (aluguel,
energia elétrica, manutenção de equipamentos, dentre outros) e estes custos devem ser
cobertos pelos associados. Isto acontece com a cobrança de uma Taxa de
Administração, que pode ser fixa (quando há dificuldade de se calcular o quanto cada
cooperado usou os serviços da cooperativa) ou proporcional à utilização da cooperativa
pelo cooperado, dependendo da cooperativa e de seu ramo. A Taxa de Administração é
a fonte de receitas da cooperativa para fazer frente a suas despesas. O importante é
que, quem decide como e quanto será cobrado de Taxa de Administração são os
próprios cooperados (em Assembleia Geral ou no próprio estatuto/regimento interno), se
não for assim, a cooperativa não estará de acordo com os princípios cooperativistas e a
legislação. Em outras palavras, o cooperado decide (obviamente baseado em
informações) as condições de cobrança da Taxa de Administração que ele irá pagar para
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que a cooperativa possa prestar-lhe seus serviços. Quem está pagando, o cooperado,
decide como e quanto será pago, isto é extremamente relevante. Cabe ressaltar que a
cooperativa é uma organização de pessoas, onde cada cooperado tem direito a um voto
nas Assembleias Gerais, independentemente do tempo que o cooperado já está na
cooperativa ou do capital investido na organização (quota-parte). A Taxa de
Administração é cobrada durante o ano (ou exercício social) e é utilizada para
financiar a existência da cooperativa e realizar as decisões tomadas pelos cooperados
na Assembleia Geral. Ao final do ano (ou exercício social) faz-se o fechamento das
contas, que de maneira simplificada poderia ser descrito da seguinte forma: o total
arrecadado (Taxa de Administração) menos o total gasto (custo de funcionamento da
cooperativa) é igual ao resultado do período. Se o montante cobrado a título de Taxa de
Administração exceder o valor gasto pela cooperativa no período, significa que sobraram
recursos. Daí a nomenclatura “sobras”, que segundo Gawlack & Ratzke, “são os
resultados dos ingressos, menos os dispêndios realizados na cooperativa” (2004, p.66).
Caso o montante de Taxa de Administração seja inferior aos gastos a cooperativas
sofrerá Perdas (e não prejuízo).
O artigo 4, parágrafo VII, da lei cooperativista (Lei 5764/1971) pontua que uma das
características do empreendimento cooperativista reside no “retorno das sobras líquidas
do exercício, proporcionalmente às operações realizadas pelo associado (...)”, permitidas
destinações a fundos específicos, conforme as deliberações da Assembleia Geral.
As sobras, como o próprio nome sugere, são recursos não utilizados pela
sociedade, os quais devem retornar aos associados, na proporção de utilização de cada
um, dos serviços da cooperativa. Nada impede, todavia, que tal valor sejam
capitalizados, se assim deliberarem os associados. O que nos parece importante ter em
mente é que as sobras, nesses termos, não representam acréscimo patrimonial para os
associados que as recebem, mas devolução de recursos não utilizados e, portanto, não
tipificadas como fato gerador de qualquer espécie tributária.

Aplicações Financeiras

Às operações de aplicações financeiras de recursos disponíveis no mercado


financeiro não se pode aplicar a literalidade dos conceitos de atos cooperativos e não
cooperativos estudados até aqui. Há que se considerar, de início, o objetivo finalístico de
tais operações dentro do sistema cooperativista. É que as aplicações financeiras podem
ser efetuadas, e as são na maioria das vezes, com o mero objetivo de proteger o poder
aquisitivo dos recursos dos cooperados, em poder da sociedade cooperativa, bem como
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de obter o ganho adicional pago pelo mercado financeiro. Esse ganho adicional,
conhecido como stread, no jargão “economês”, e como “ganho real” no ordenamento
jurídico-tributário, é o mesmo ganho que seria obtido pelo cooperado caso os recursos
estivessem em se34u caixa, em vez\ de estarem sob a administração temporária da
sociedade cooperativa. Assim a aplicação de tais recursos no mercado financeira é
efetuada em nome dos associados cooperados, não beneficiando a sociedade
cooperativas, como se poderia concluir numa interpretação apressada e incauta.
Reveste-se, portanto, da natureza de atos cooperativos.
Releva observar, entretanto, que os recursos aplicados pela cooperativa no
mercado financeiro devem pertencer ao associado para que a operação se revista da
natureza de ato cooperativo. Esses recursos são denominados de recursos livres,
gerados pelas operações que as cooperativas realizam com terceiros em nome do
cooperado, e gerados pelos atos cooperativos. Pertencem, portanto, aos associados e a
eles serão distribuídos.
Contrário sensu, recursos de não associados, originados por atos não cooperativos,
quando aplicados no mercado financeiro, revestem-se da mesma natureza. Esse
entendimento decorre do fato de que os recursos originados por atos não cooperativos
não podem, por imposição legal, ser distribuídos aos cooperados. Ora se esses recursos
não podem ser distribuídos aos cooperados, torna-se forçoso concluir que os resultados
de suas aplicações, como acessório, revestem-se da mesma natureza do principal, ou
sejas, resultado de atos não cooperativo (lucro).

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