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COMISSÃO NACIONAL DE EFETIVIDADE DA EXECUCÃO TRABALHISTA (CNEET)

IMPRESSÕES ACERCA DO PROJETO DE LEI N. 3.146/2015, DO SENADO FEDERAL


(PLS 606/2011) – REFORMA DA EXECUÇÃO TRABALHISTA

A presente manifestação tem por escopo apresentar apontamentos acerca das


disposições constantes do Projeto de Lei 3.146/2015, originário do Senado Federal, ora em
tramitação junto à Câmara dos Deputados, que trata de expressiva reforma da Consolidação
das Leis do Trabalho, especificamente quanto à fase executiva do processo do trabalho. As
impressões passadas têm como pano de fundo a prática forense cotidiana, tendo em conta o
valor da lei processual como instrumento de regulação e dinamização das relações sociais,
a par do inolvidável papel da execução trabalhista como ferramenta de garantia dos direitos
fundamentais dos trabalhadores brasileiros.

Em ordem a cumprir tal mister, serão realçados os dispositivos do projeto,


observado o texto que atualmente tramita junto à Câmara dos Deputados, que merecem
maior ênfase pela potencial repercussão que teriam frente à atividade executiva.

Nesta linha, merecem relevo os seguintes dispositivos:

Art. 876-B. Serão executadas de ofício as contribuições sociais devidas em


decorrência de decisão proferida pela justiça do trabalho, resultantes de
condenação ou de homologação de acordo, inclusive sobre os salários pagos
durante o período contratual reconhecido.

§ 1o Os recolhimentos das importâncias devidas, referentes às contribuições


sociais, serão efetuados nas agências locais da Caixa Econômica Federal ou do
Banco do Brasil S.A., mediante documento de arrecadação da Previdência Social,
dele se fazendo constar o número do processo.

§ 2o Concedido parcelamento pela Secretaria da Receita Federal do Brasil, o


devedor juntará aos autos a comprovação do ajuste, ficando a execução da
contribuição social correspondente suspensa até a quitação de todas as
parcelas.

§ 3o As varas do trabalho encaminharão mensalmente à Secretaria da Receita


Federal do Brasil informações sobre os recolhimentos efetivados nos autos, salvo
se outro prazo for estabelecido em regulamento.

§ 4o A União será intimada da decisão referida no caput deste artigo e poderá se


manifestar no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 5o A execução das certidões de dívida ativa seguirá o procedimento da Lei de
Execução Fiscal.”

O dispositivo em realce, atinente à execução das contribuições previdenciárias


pela Justiça do Trabalho, trata da possibilidade de parcelamento do devedor junto à Receita
Federal, estipulando a suspensão da exceção “até a quitação de todas as parcelas”.
Considerando a prática judiciária, revela-se bastante corriqueira a situação na qual o
devedor já possui bens ou valores constritos nos autos, o que, no mais das vezes é
precisamente o que o impulsiona o devedor ao parcelamento junto ao Poder Público.

Entretanto, a norma do parágrafo 2º, em destaque, não dispõe expressamente


qual seria a repercussão sobre tal patrimônio penhorado após a comprovação do
parcelamento. Como medida a trazer mais efetividade e garantia à execução, notadamente
frente àqueles que usam do expediente do parcelamento como mera forma de se evadir aos
atos executórios, efetuando alienação de patrimônio após a liberação dos bens, seria curial
que a legislação condicionasse o levantamento da penhora ao efetivo pagamento do
parcelamento, ou, no caso de penhora de dinheiro, à apresentação de bens que garantam a
execução.

“Art. 878-B. O título extrajudicial será executado mediante prévia citação do


devedor, prosseguindo-se na forma prevista para o cumprimento de sentença.

Parágrafo único. São títulos extrajudiciais, além de outros definidos em lei:

I – o termo de ajuste de conduta firmado com o Ministério Público do Trabalho;

II – o termo de conciliação firmado perante comissão de conciliação prévia;

III – a certidão de dívida ativa.”

O presente dispositivo busca explicitar os documentos que teriam força de título


executivo extrajudicial junto à Justiça do Trabalho. A matéria é atualmente regulada pelo art.
876 consolidado, o qual menciona tão somente os termos de ajuste de conduta firmados
junto ao Parquet Laboral e o termo de conciliação ajustado perante as Comissões de
Conciliação Prévia. Na regulamentação proposta, as duas figuras anteriores são mantidas,
acrescendo-se a “certidão de dívida ativa”, o que vem somente corroborar com a
competência desta especializada para o processamento das execuções fiscais, a par haver
exposição expressa acerca do caráter não exaustivo do rol proposto, que poderia ser
acrescido de “outros definidos em lei”.

No entanto, o dispositivo perde uma oportunidade importante para acrescentar


expressamente ao rol executivo os termos de rescisão contratual com confissão de dívida
pela empresa, devidamente chancelados pelo sindicato obreiro. É comum a situação na qual
uma empresa encerra suas atividades e, por não dispor de recursos, deixa de efetuar os
pagamentos rescisórios de seus empregados, realizando tão somente a homologação das
rescisões junto ao sindicato profissional, com vistas a possibilitar o levantamento dos
depósitos fundiários e habilitação dos trabalhadores junto ao programa do seguro-
desemprego.

Nestes casos, mesmo estando o trabalhador munido de um termo rescisório,


devidamente homologado pelo sindicato de sua categoria profissional, do qual consta uma
confissão de dívida por seu empregador, deverá o obreiro se sujeitar a todo o trâmite de
uma regular ação de conhecimento, ainda que postule tão somente os valores descritos no
já aludido termo rescisório. Tal situação claramente depõe contra a razoável duração do
processo (art. 5º, LXXVIII, da CF) e à efetividade do crédito trabalhista, já que
necessariamente estaria sujeito a todo um rito de conhecimento, de forma desnecessária.

Afigura-se igualmente viável a estipulação expressa do cabimento das ações


monitórias no âmbito da Justiça do Trabalho, relativamente àqueles documentos
representativos de dívida referente ao contrato de trabalho, mas que não foram legalmente
elevados à condição de títulos executivos, seguindo-se o procedimento descrito nos arts.
700 a 702 do Código de Processo Civil, o que paralelamente serviria a conferir maior
dinamicidade à persecução do crédito trabalhistas, quando fundado em prova documental
expressa.

Por fim, vale ressaltar que o §5º do art. 700 do CPC dispõe expressamente que
“havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o juiz
intimá-lo-á para, querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento
comum”, o que representaria inequívoco instrumento ao magistrado para coibir eventuais
excessos na utilização da via monitória.

“Art. 878-D. Havendo mais de uma forma de cumprimento da sentença ou de


execução do título extrajudicial, o juiz adotará sempre a que atenda à
especificidade da tutela, à duração razoável do processo e ao interesse do
exequente, devendo ser observada a forma menos onerosa para o
executado.

Parágrafo único. A satisfação do crédito tributário, inclusive o previdenciário, não


prejudicará a do trabalhista.”

Referido texto legal representa inequívoca exposição dos princípios que


nortearão a atividade executiva no âmbito da Justiça do Trabalho. Preciosas as menções à
“especificidade da tutela”, à “duração razoável do processo” e ao “interesse do exequente”.
Apesar de igualmente importante, a alusão a uma “forma menos onerosa para o executado”
pode gerar incompreensões, caso não temperada a necessária adequação aos demais
princípios norteadores da atividade executiva.

Deste modo, deve ser observada a forma menos onerosa para o executado,
desde que tal medida não implique em prejuízo à “especificidade da tutela”, à “duração
razoável do processo” e ao “interesse do exequente”. Interpretação estanque do princípio
pode conduzir à compreensão de um suposto “direito fundamental” do executado a não ser
incomodado pela execução, quando, em verdade, a tônica da fase executiva deve ser a da
máxima efetividade, não somente pelo caráter alimentar do crédito trabalhista como pela
autoridade das decisões judiciais qualificadas pela coisa julgada.

“Art. 879. Sendo ilíquida a sentença, ordenar-se-á sua liquidação, bem como das
contribuições previdenciárias devidas.

§ 1º Na liquidação, não se poderá modificar ou inovar a sentença nem discutir


matéria pertinente à fase de conhecimento.

§ 1º-A. (Revogado).

§ 1º-B. (Revogado).

§ 2º Se a liquidação não for realizada de ofício, o juiz estabelecerá contraditório


sobre a conta oferecida por qualquer das partes, observando o prazo de 10 (dez)
dias para manifestação, sob pena de preclusão.

§ 3º A impugnação do executado será acompanhada de comprovação do


pagamento do valor não impugnado, sob pena de multa de 10 % (dez por
cento) desse importe.

§ 4º Oferecida impugnação aos cálculos, o juiz homologará os que


representarem a sentença liquidanda.

§ 5º O Ministro de Estado da Fazenda poderá, mediante ato fundamentado,


dispensar a manifestação da União quando o valor total das verbas que integram
o salário-de-contribuição, na forma do art. 28 da Lei nº 8.212, de 24 de julho de
1991, ocasionar perda de escala decorrente da atuação do órgão jurídico.”

Na espécie, mais uma vez em consonância com o direito fundamental à razoável


duração do processo e com a efetividade da execução trabalhista, seria fundamental que a
disposição legal já contivesse determinação expressa de que o valor pago pelo executado,
nos moldes do §3º em destaque, seria, incontinenti, liberado à parte exequente,
prosseguindo a discussão e a execução tão somente quanto ao valor controvertido.

Tal medida se justifica na medida em que evitaria uma postura eventualmente


mais conservadora do condutor do processo, postergando a liberação dos valores
incontroversos até o pagamento integral, dado que o próprio texto legal consagraria o direito
do exequente à liberação, o que representaria até mesmo um maior respaldo ao magistrado
na decisão pelo levantamento dos valores, a par de uma maior compatibilidade intrínseca do
dispositivo, que estipula, in casu, o pagamento por parte do executado, e não meramente o
depósito da quantia respectiva para garantia da execução.

“Art. 879-A. As obrigações de pagar devem ser satisfeitas no prazo de 8 (oito)


dias, com os acréscimos de correção monetária e de juros de mora, estes desde
o ajuizamento da ação, sob pena de multa de 10% (dez por cento).

§ 1º A multa prevista no caput não poderá ser acumulada com a multa


prevista no § 3º do art. 879.

§ 2º O prazo de 8 (oito) dias de que trata o caput é contado da publicação da


decisão que homologou a conta de liquidação.

§ 3º Excepcionalmente, observado o prazo fixado no caput, poderá o


devedor, reconhecendo o débito e comprovando o depósito de 30% (trinta
por cento) de seu valor, requerer o pagamento do restante em até 6 (seis)
parcelas mensais, com correção monetária e juros.

§ 4º No cumprimento forçado de acordo judicial, o devedor será intimado


previamente.

§ 5º A inclusão de corresponsáveis, nos termos da lei, será precedida de


decisão fundamentada e realizada por meio de citação postal.

§ 6º São provisórios o cumprimento de sentença e a execução impugnados por


recurso a que não foi atribuído efeito suspensivo.

§ 7º O cumprimento de sentença e a execução provisórios far-se-ão, no que


couber, do mesmo modo que a execução definitiva.

§ 8º O levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem


alienação de propriedade ou dos quais possa resultar grave dano ao executado
na fase provisória do cumprimento de sentença ou da execução dependem de
caução idônea, prestada nos próprios autos.

§ 9º A caução poderá ser dispensada nos casos de crédito decorrente de ato


ilícito, até o limite de 10 (dez) vezes o valor do salário-mínimo, se o credor
demonstrar situação de necessidade.

§ 10. Quando a execução provisória for em desfavor de pessoa jurídica definida


por lei como microempreendedor individual, microempresa ou empresa de
pequeno porte, o limite previsto no § 9º será de 3 (três) salários-mínimos.
§ 11. Das decisões de liberação de valores, em qualquer fase do
cumprimento de sentença ou da execução, o juiz deverá intimar o
executado no prazo de 5 (cinco) dias.

§ 12. Sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da


execução, fica sem efeito a execução provisória, restituindo-se as partes ao
estado anterior e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos.

§ 13. Havendo pagamento parcial do valor exequendo fora da hipótese prevista


no § 3º, mas dentro do prazo fixado no caput, a multa de 10% (dez por cento)
incidirá somente sobre a quantia bruta não adimplida.”

O artigo em comento busca equiparar o regime de execução no âmbito da


Justiça do Trabalho ao procedimento de cumprimento de sentença que reconhece a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, estipulado pelos artigos 523 a 527 do
CPC.

Em seu §1º, ele estatui que a multa exposta em seu caput “não poderá ser
acumulada com a multa prevista no § 3º do art. 879”, que trata da ausência de pagamento
do valor incontroverso na fase de liquidação.

Todavia, não se vislumbra qualquer razão de cunho prático ou jurídico a


autorizar tal exclusão. No caso tratado pelo §3º do art. 879, o devedor, ao fazer a
impugnação dos cálculos de liquidação apresentados pelo exequente, não comprovou o
pagamento da parte incontroversa da dívida, o que seguramente implica em retardamento
da fruição do direito pelo exequente, sendo justa a imposição da penalidade. Já no §1º do
dispositivo ora sob análise, o devedor, já liquidada a sentença judicial qualificada pelo
trânsito em julgado (art. 879-A, §2º, da CLT), queda-se mais uma vez inerte em sua
obrigação de dar cumprimento à coisa julgada. São claramente dois fatos diversos, ambos
qualificados pela omissão do executado na obediência à coisa julgada, mas em momentos
claramente estanques no desenrolar processual. São duas condutas específicas, ambas
contrárias à efetividade processual, não havendo, portanto, sob qualquer análise possível,
ferimento ao princípio do non bis in idem.

Já o parágrafo 3º do art. 879-A do projeto ora sob estudo trata de trazer ao


âmbito processual trabalhista o instituto da moratória, nos moldes já existentes no processo
civil (art. 745-A do CPC/73 e art. 916 do CPC/2015). Porém, diversamente do que ocorre
com o art. 916 do CPC, o texto proposto não traz qual seria o patamar de juros a incidir no
caso, tampouco identificando o índice de correção monetária aplicável à espécie. A
indicação de tais parâmetros seguramente traria segurança às relações processuais, ambos
os envolvidos tendo consciência das repercussões do instituto. A título sugestivo, poderia
ser proposta a incidência dos mesmo critérios aplicáveis à correção do crédito trabalhista, na
forma do art. 39 e parágrafo 1º da Lei 8.177/91.
O parágrafo 4º do art. 879-A traz legítima preocupação quanto à ciência dos atos
executivos decorrentes de acordo judicial descumprido; todavia, em homenagem à
celeridade processual, efetividade da execução e até mesmo por medida de lealdade
processual, caberia inserir ressalva no dispositivo para constar ressalva àqueles casos nos
quais houver cláusula expressa no termo conciliatório, dispensando a ciência prévia para
sua execução, em caso de descumprimento.

Preocupação eminentemente de índole redacional emerge do parágrafo 5º do


mesmo artigo, para ressaltar que tal se aplicaria tão somente àqueles corresponsáveis não
constantes no título judicial objeto de cumprimento, de modo a afastar interpretação que
abranja todo e qualquer tipo de devedor indireto.

Por fim, chama a atenção a disposição do §11º, ao estatuir que “das decisões de
liberação de valores, em qualquer fase do cumprimento de sentença ou da execução, o juiz
deverá intimar o executado no prazo de 5 (cinco) dias”. Malgrado aparentemente se destine
à execução provisória, recebeu redação de ordem de caráter excessivamente genérica, que
poderá trazer retardamento ao recebimento de valores pelo exequente, indo claramente de
encontro ao direito fundamental à razoável duração do processo, bem como celeridade
necessária ao processo que busca garantir o crédito alimentar do trabalhador. De modo a
afastar tais ponderações, o dispositivo poderia ser simplesmente retirado do texto, ou ao
menos limitá-la aos casos de execução provisória, tipo executório regulado nos parágrafos
§7º a §11º e §12º do art. 879-A do projeto.

“Art. 889-B. Esgotado o prazo previsto no caput do art. 879-A, a constrição de


bens será realizada pelos meios disponíveis, observadas a gradação legal e a
forma menos gravosa para o devedor.”

Incidem neste tópico as mesmas razões já expostas por ocasião do art. 878-D
do projeto, acima expostas. Na qualidade de princípios gerais para condução da atividade
executiva trabalhista, os parâmetros trazidos pelo art. 878-D devem ser espraiados para
toda a atividade executiva, incluída a constrição de bens do devedor, seguramente um de
suas vias essenciais. Neste sentido, deveriam ser observados “a especificidade da tutela”,
“a duração razoável do processo”, “o interesse do exequente” e “a forma menos onerosa
para o executado”, em consonância com o disposto no art. 878-D do projeto.

“Art. 889-F. Os bens penhorados serão expropriados preferencialmente por meio


eletrônico.

§ 1º Os credores terão preferência para a adjudicação pelo valor da avaliação,


desde que a requeiram antes da arrematação, da remição da dívida ou da
alienação do bem por iniciativa particular.
§ 2º A qualquer momento o devedor poderá proceder ao pagamento da dívida, o
qual deverá ser comprovado até o deferimento da arrematação, da adjudicação
ou da alienação por iniciativa particular.

§ 3º Antes da arrematação, da adjudicação ou da alienação por iniciativa


particular, o devedor poderá requerer o parcelamento da dívida, na forma do §
3º do art. 879-A, mediante o depósito prévio de 50% (cinquenta por cento) do
valor total do débito.

§ 4º As praças e os leilões poderão ser unificados, de modo a abranger bens de


diferentes execuções, ainda que de tribunais distintos.

§ 5º Em caso de bem constrito por mais de um credor, o produto


arrecadado será distribuído de forma proporcional aos créditos
trabalhistas.

§ 6º O Conselho Superior da Justiça do Trabalho e os tribunais do trabalho, no


âmbito de suas competências, regulamentarão a alienação eletrônica e a
unificação de praças e de leilões no âmbito da justiça do trabalho, atendendo
aos requisitos do devido processo legal, do contraditório, da ampla defesa, da
autenticidade e da segurança, observadas as regras estabelecidas na
legislação, inclusive sobre certificação digital.”

O verbete legal em análise trata do regime de expropriação aplicável aos bens


penhorados em sede de execução trabalhista. O dispositivo não desce a minúcias, sobre os
ritos dos procedimentos de adjudicação, arrematação ou alienação por iniciativa particular, o
que sugere a opção pelo trâmite disposto no código de processo civil. A opção parece
absolutamente acertada, não sendo necessário adotar, no rito juslaboral, procedimento
diverso daquele marcado para o processo civil, tendo o dispositivo assentado regulações
específicas ao processo do trabalho, a adequar o trâmite à natureza de tal ramo processual.

O detalhe a chamar a atenção é o disposto no §5 o do artigo em comento. Em


primeira análise, o artigo parece irreprochável, ao trazer disposição específica para a área
trabalhista, frente àquela constante do art. 908 do CPC (antigo art. 711 do CPC/73), que
dispunha que no caso de pluralidade de credores ou exequentes sobre o produto da
execução, o pagamento se faria obedecida a anterioridade da penhora. Não são necessárias
maiores digressões para se concluir pela inaplicabilidade de tal regra no âmbito do Processo
do Trabalho. Sua aplicação, nos casos em que o produto da execução sobre os bens da
empresa e seus sócios não satisfaz (às vezes nem ao longe) o total da dívida trabalhista da
empresa, relativa muitas vezes a centenas de empregados, claramente gerará injustiças.
Obedecida a mera anterioridade da penhora e efetuado o pagamento integral das execuções
dos primeiros a efetuarem o registro, certamente o numerário constrito não chegaria ao
pagamento dos outros trabalhadores que, por alguma contingência processual, não se
habilitaram mais rapidamente junto aos autos da execução principal. Tal lógica aleatória, se
pode ser adequada no âmbito do processo civil, que tem por objeto um direito meramente
patrimonial, revela-se claramente destacada da realidade da Justiça do Trabalho, que
persegue o respeito aos direitos fundamentais sociais dos trabalhadores, de índole
estritamente alimentar.

Entretanto, mesmo entendendo valiosa a inovação legislativa proposta, ainda


assim cabem algumas considerações quanto à utilização genérica do disposto no §5 o.
Inobstante encerre regra de indiscutida razoabilidade, sua aplicação à totalidade dos casos
pode igualmente produzir situações anacrônicas e injustas.

Senão, vejamos.

É corriqueira a situação na qual uma empresa encerra suas atividades e não


deixa, à primeira vista, bens suficientes ao adimplemento de toda uma coletividade de
trabalhadores. Nas ocasiões nas quais há, em uma das execuções individuais, a penhora de
um bem de valor da empresa, no mais das vezes o imóvel que lhe servia de sede, correm
aos autos inúmeras habilitações de crédito, fazendo emergir o problema do expressivo
montante da dívida frente ao numerário disponível após a venda.

Há alguns casos nos quais o produto da venda atinge 60%, 70% da dívida
consolidada, parecendo razoável que seja distribuído proporcionalmente aos trabalhadores
habilitados, já que todos receberão parcela considerável de seu crédito, prosseguindo a
execução. Nenhuma ressalva a aplicação da regra nestes casos.

Entretanto, é bastante comum, diria até majoritário, que num primeiro momento
a venda do imóvel não atinja 50% da dívida, por vezes não chegando a 30% do montante
devido. Nestes casos, a aplicação da regra encerra clara injustiça, dado que alguns
exequentes, que possuem valores altíssimos de execução (no mais das vezes, exatamente
aqueles que possuem um melhor padrão de vida, por sempre terem auferido faixa salarial
superior), vão receber, obedecida a cega proporcionalidade parcela majoritária do crédito
disponível, ao passo que aqueles cuja execução é de menor valor, geralmente por terem se
limitado a cobra as parcelas resilitórias estritas, sob uma base de cálculo salarial mais
singela, não chegariam a receber sequer o valor de 1 salário contratual.

Tal construção não se afigura descompassada com o conjunto do Ordenamento


Jurídico brasileiro, sendo induvidoso que nosso sistema processual é claramente voltado
para a solução mais rápida daqueles casos de menor complexidade. Nesta esteira, pode-se
exemplificar a instituição dos Juizados Especiais Estaduais e Federais e o rito sumaríssimo,
que estabelecem ritos diferenciados e até mesmo restrição recursal para demandas de
menor valor, ou, de maneira mais próxima à problemática proposta, o Regime de
Precatórios, com as requisições de pequeno valor, por meio do qual são estabelecidos
expressamente patamares legais para pagamento dos valores valores fruto de condenações
do poder público, independentemente da submissão à ordem cronológica dos precatórios,
adstrita às condenações de maior valor.

A estipulação de critérios diversos do da mera proporcionalidade, quando o


produto da alienação do bem se afigura abaixo dos 50% do total da dívida consolidada, ao
revés de gerar desigualdade, promove claramente a isonomia entre os habilitados, na
esteira dos princípios que inequivocamente norteiam nossa Ordem Processual, a par de
possibilitar a quitação imediata de um maior número de demanda, precisamente aquelas de
menor monta, prosseguindo-se a execução somente nos casos de valor mais expressivo.

Importante ressaltar que não se advoga a utilização de critério que envolva o


pagamento apenas dos processos de menor valor, mas sim um rateio que privilegie a
solução do problema de um maior número de pessoas, não obstante todos recebam até o
limite estipulado, não sendo ocioso lembrar ser princípio da legislação trabalhista o privilégio
das soluções que atendam o interesse público sobre o interesse meramente particular (art.
8o da CLT).

“Art. 889-G. Assinado o auto de arrematação ou de adjudicação, os atos de


expropriação serão impugnáveis, inclusive por terceiro, por ação anulatória.”

Neste ponto, o dispositivo aparentemente se olvidou em mencionar o auto ou


“termo” de alienação (art. 880, §2 o, do CPC), omissão que contrasta com a previsão
expressa da alienação por iniciativa particular, por ocasião do art. 889-F do projeto.

Importa ainda expressar que caberia ao artigo esclarecer se a ação anulatória


seria, doravante, o único meio de impugnação das alienações judiciais, de modo a atrair ou
não a incidência do art. 903, §2 o, do CPC, que trata da impugnação à arrematação na seara
do processo civil. Seria igualmente valioso à segurança jurídica se o artigo estipulasse,
desde já, um prazo para o ajuizamento de tal demanda, bem como que após assinado o
auto de alienação judicial, qual seria o prazo a ser aguardado para o pagamento ao credor,
que não poderia restar no aguardo ou não do ajuizamento de tal ação anulatória para
receber seu crédito.

“Art. 892-B. As condenações genéricas impostas em sentenças coletivas


poderão ser executadas em ações autônomas, promovidas pelo próprio
substituto processual – desde que com outorga de poderes individuais e
observado o número mínimo de 10 (dez) substituídos – ou promovidas de forma
individual ou plúrima.

§ 1º O pagamento fundado em execução de sentença coletiva promovida pelo


substituto processual far-se-á sempre à pessoa do substituído ou em conta
corrente de sua titularidade, reservados ao substituto o direito de liberação da
parcela dos honorários assistenciais e ao advogado o destaque dos honorários
contratuais, devidamente comprovados nos autos.
§ 2º A controvérsia de natureza jurídica comum às ações autônomas será
decidida em um só feito, com o sobrestamento dos demais, e o julgamento
definitivo será estendido a todas as partes alcançadas pela sentença
condenatória.”

Neste ponto, razões atreladas à segurança jurídica imporiam que o dispositivo


do parágrafo 2o dispusesse qual seria o critério a eleger o feito no qual seria decidida
“controvérsia de natureza jurídica comum às ações autônomas”, o que seguramente evitaria
maiores discussões judiciais a respeito.

CONCLUSÃO

Em linhas gerais, o projeto de lei 3.146/2015 (PLS 606/2011), mesmo na forma


em que se encontra atualmente, representa um avanço ao regime de execução trabalhista,
reiteradamente prejudicado pela falta de segurança em seu trâmite, dada a ausência de
regulamentação de várias controvérsias apresentadas atualmente, o que tem gerado uma
plêiade de decisões antagônicas, ora aplicando dispositivos do processo civil, ora sendo-lhe
refratárias.

Com algumas alterações, sobretudo atinentes à prática forense trabalhista e ao


objeto do processo laboral, qual seja, a busca pela observância da legislação social do
trabalho, o texto consolidado somente tem a ganhar em dinamicidade e adequação às
demandas da sociedade.

ANDRÉ BRAGA BARRETO

Gestor Regional da Execução Trabalhista – TRT 7 a Região

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