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Esta seção tem o objetivo de atualizar o leitor em relação à nutrição e saúde alimentar. A alimentação saudável e segura, baseada
em informações atuais, pode se refletir na qualidade de vida dos indivíduos e nos tratamentos de saúde a ela associados. Nutrição
clínica, segurança e higiene alimentar, gastronomia e saúde pública serão tópicos desta seção.
Harvel et al.(4) conduziram um estudo clínico cujo estudo, que ainda continuou por mais onze semanas. A
resultado demonstrou que a frutose não causa um ní- proteinúria e ureia foram significativamente aumentadas
vel de saciedade equivalente à refeição baseada em e o clearance de creatinina diminuído no grupo que rece-
glicose. O mecanismo responsável seria a inabilidade beu frutose em comparação aos grupos que receberam
da frutose em estimular agudamente a secreção de in- dextrose e carboidratos complexos. Esclerose glomeru-
sulina e leptina e suprimir a grelina, fatores conhecidos lar, atrofia tubular, dilatação tubular e infiltração celular
por afetarem a saciedade no sistema nervoso central(3). foram marcadamente piores nos rins dos ratos que rece-
Ao contrário da glicose, a frutose entra nas células via beram frutose. As proteínas quimiotáxicas para monóci-
transportador GLUT-5, que não depende da estimula- tos (MCP-1) mensuradas no tecido renal homogeneiza-
ção pela insulina e não está presente nas células β do do estavam elevadas nos ratos alimentados com frutose.
pâncreas e no cérebro, limitando a entrada da frutose Esses autores concluíram que, em modelo experimental,
nesses tecidos(6). No fígado, a frutose é metabolizada dieta com alto teor de frutose acelera marcadamente a
em gliceraldeído e diidroxiacetona-fosfato. Particular- progressão da doença renal crônica.
mente esses produtos finais do metabolismo da fruto- O aumento alarmante no consumo de frutose pode
se podem convergir prontamente na via glicolítica(5). ser um importante contribuinte para o desenvolvimen-
A importância está na habilidade da frutose em “by- to de obesidade, hipertensão, resistência à insulina,
passar” o principal passo regulatório da glicólise, a diabetes e doença renal crônica(1-6). Mais pesquisas são
conversão da glicose-6-fosfato à frutose 1,6 bifosfato, necessárias para um melhor entendimento dos efeitos
pela enzima fosfofrutocinase. Desse modo, enquanto o do consumo da frutose. Enquanto isso, recomendações
metabolismo da glicose é negativamente regulado pela prudentes quanto à ingestão de frutose devem ser con-
fosfofrutocinase, a frutose pode entrar continuamente sideradas. A adição de frutose (na forma de sacarose
na via glicolítica. Então, a frutose pode produzir des- ou amido de milho com alto teor de frutose) não parece
controladamente glicose, glicogênio, lactato e piruva- ser uma boa escolha de carboidratos a serem consumi-
to, fornecendo tanto porções acil quanto glicerol das dos na alimentação. Pequenas quantidades de frutose
moléculas de triacilglicerol. Esses substratos em par- adicional provavelmente têm um aspecto benigno, com
ticular e o excesso de fluxo energético em decorrência efeitos possivelmente favoráveis. Com base nas infor-
do metabolismo desregulado da frutose promoverão a mações relativas aos efeitos metabólicos e endócrinos
super produção de triglicerídeos(5). quanto ao consumo de grandes quantidades de frutose,
A frutose é o único açúcar capaz de elevar as con- é preferível que o consumo primário de carboidratos
centrações de ácido úrico, fato demonstrado em huma- seja na forma de glicose (simples ou complexa). O con-
nos e roedores pela degradação do ATP em AMP, um sumo de frutas e vegetais deve continuar a ser encoraja-
precursor do ácido úrico(3,5). Quando a frutose entra no do devido ao seu fornecimento de fibras, micronutrien-
hepatócito e em outras células, onde é completamente tes e antioxidantes.
metabolizada pela frutocinase com consumo de ATP, ao Essas medidas talvez favoreçam indivíduos com
contrário do metabolismo da glicose, não há nenhum maior pré-disposição aos efeitos adversos da frutose(1).
mecanismo regulatório que previna a depleção de ATP.
Como consequência, ácido lático e ácido úrico são ge-
rados nesse processo e as concentrações de ácido úrico REFERÊNCIAS
podem se elevar em 1-4 mg/dl após a ingestão de uma 1. Elliott SS, Keim NL, Stern JS, Teff K, Havel PJ. Fructose, weight gain, and the
grande refeição baseada em frutose(3). Embora a eleva- insulin resistance syndrome. Am J Clin Nutr. 2002;76(5):911-22.
ção nas concentrações de ácido úrico seja vista como 2. Gersch MS, Mu W, Cirillo P, Reungjui S, Zhang L, Roncal C, et al. Fructose, but
not dextrose, accelerates the progression of chronic kidney disease. Am J
um simples risco potencial para indução da gota, tem Physiol Renal Physiol. 2007;293(4):F1256-61.
sido sugerido que possa ser um mecanismo-chave para
3. Johnson RJ, Segal MS, Sautin Y, Nakagawa T, Feig DI, Kang DH, et al. Potential
explicar como a frutose pode causar doença cardiovas- role of sugar (fructose) in the epidemic of hypertension, obesity and the
cular. O ácido úrico vem sendo apontado como um pre- metabolic syndrome, diabetes, kidney disease, and cardiovascular disease.
ditor independente para hipertensão, obesidade, hipe- Am J Clin Nutr. 2007;86(4):899-906.
rinsulinemia e doença renal(3). 4. Havel PJ. Dietary fructose: implications for dysregulation of energy homeostasis
Gersch et al.(2), avaliaram ratos com doença renal and lipid/carbohydrate metabolism. Nutr Rev. 2005;63(5):133-57.
crônica dividindo-os em três grupos: um alimentado com 5. Basciano H, Federico L, Adeli K. Fructose, insulin resistance, and metabolic
dyslipidemia. Nutr Metab (Lond). 2005;2(1):5.
uma dieta contendo 60% de frutose, outro alimentado
6. Bray GA, Nielsen SJ, Popkin BM. Consumption of high-fructose corn syrup
com dieta contendo 60% de dextrose e um terceiro ali- in beverages may play a role in the epidemic of obesity. Am J Clin Nutr.
mentado com dieta à base de carboidratos complexos. 2004;79(4):537-43. Review. Erratum in: Am J Clin Nutr. 2004;80(4):
A nefrectomia ocorreu após seis semanas do início do 1090.