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Governo do Estado do Rio Grande do Norte

UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

Pró-Reitoria de Ensino de Graduação – PROEG

Faculdade de Direito – Departamento de Direito –DED- Campus Natal

Disciplina: Seguridade Social

Professor: Bruno Azevedo

COMPONENTES DO GRUPO: Alicia Oliveira da Silva, Felipe Cesar da Silva


Lopes, Joyciane de Lima Firmo, Leticia Celina da Silva Martins, Maria Beatriz
de Medeiros Gomes e Renan Moura de Souza

ANALISE OS CASOS ABAIXO E RESPONDA FUNDAMENTADAMENTE.

CASOS :

1.MARCO AURÉLIO, COM 60 ANOS IDOSO, E EM ESTADO DE


MISERABILIDADE, FAZ JUS AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA LOAS?

Constam os autos a cerca do pedido do benefício assistencial da LOAS


em favor do Senhor Marcos Aurélio, Brasileiro Nato, com 60 anos e idade,
vivendo em estado de miserabilidade.

O assunto em questão é disciplinado na Lei 8.742 de 1992, onde à


assistência social compões o sistema de seguridade social. Contudo,
diferentemente da previdência social, não depende de contribuição para o seu
gozo.

O artigo 1º da citada lei nos diz que a assistência social constitui direito do
cidadão e dever do Estado. Já o seu artigo 2º define que um dos objetivos da
assistência social é a proteção ao idoso, senão vejamos:
Art. 2º A assistência social tem por objetivos: (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)

I -a proteção social, que visa à garantia da vida, à redução de danos e à


prevenção da incidência de riscos, especialmente: (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011)

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à


velhice; (Incluído pela Lei nº 12.435, de 2011) (grifos nossos)

(…)

O benefício assistencial da LOAS trata-se de um benefício de prestação


continuada concedido ao idoso e à pessoa com deficiência que comprovem
não possuir meios de prover sua própria manutenção ou de tê-la provida por
sua família, conforme prevê o inciso I, alínea e da elucidada lei, observe:

(…)

e) a garantia de 1 (um) salário-mínimo de benefício mensal à pessoa com


deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família; (Incluído pela Lei nº 12.435,
de2011)

(…)

Para tanto, o art. 20, §1º, da Lei nº 8.742/93, estabelece que a família é
composta pelo requerente, o cônjuge ou companheiro, os pais e, na ausência
de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos solteiros, os filhos e
enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o mesmo teto.

Contudo, conforme previsão legal do artigo 20, O benefício de prestação


continuada da LOAS apenas é concedido aos idosos que tenham SESSENTA
E CINCO anos de idade ou mais, observe:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-


mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e
cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria
manutenção nem de tê-la provida por sua família. (Redação dada pela Lei nº
12.435, de 2011) (Vide Lei nº 13.985, de 2020) (grifos nossos).

Diante de todos os motivos expostos, a concessão do Benefício


Assistencial da LOAS ao senhor Marcos Aurélio deve ser negada em função
de não possuir a idade mínima exigida por lei para ser favorecido com o
benefício.

2.RICARDO MELO, PORTADOR DO VIRUS HIV JÁ MANIFESTADO, MAS


CONTROLADO, TÉCNICO DE ENFERMAGEM INFORMAL, COM 58 ANOS
DE IDADE, E EM SITUAÇÃO DE MISERABIILIDADE, FAZ JUS AO
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA LOAS?

Sim. Por diversos fatores relacionados ao seu diagnóstico de ser


portador do vírus HIV, Ricardo Melo tem direito de receber o benefício
assistencial da LOAS. É necessário observar que a situação vivenciada por
uma pessoa portadora do vírus HIV possui diversas questões que merecem
atenção e precisam ser analisadas, contexto esse que vai muito além do
diagnóstico positivo para o vírus.

O benefício assistencial da LOAS se refere à: “Art. 20. O benefício de


prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com
deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem
não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por
sua família.” (Lei nº 8.742/1993).

No caso de portador do vírus HIV, não há como se falar em deficiência,


mas sim uma incapacidade laborativa, ou de conseguir sustentar a si mesmo
e/ou seus dependentes, situações que podem ocorrer tanto pela debilidade
física causada pela manifestação da doença, quanto pela dificuldade de se
conseguir um emprego devido às condições estigmatizantes que o portador do
vírus sofre. Aliado a isso, o entendimento do tema 70 da TNU nos diz que: “Na
concessão do benefício de prestação continuada ao portador do vírus HIV
assintomático, devem ser observadas, além da incapacidade de prover a
própria subsistência, as condições socioculturais estigmatizantes da doença.
Vide Súmula 78 da TNU”
No referido caso, mesmo após laudo da perícia comprovando que o
vírus se encontra sob controle em Ricardo, e que este possuiria capacidade
laborativa suficiente para adentrar no mercado de trabalho, esta não deve ser a
única variável a ser considerada, posto que, outras circunstâncias
substancialmente relevantes coexistem para que o benefício possa ser
concedido. Principalmente que o § 10 do Art. 20 da Lei 8.742/93 dispõe sobre
esses impedimentos de prover a própria subsistência ou tê-la provida pela
família, segundo sua redação: “Art. 20, § 10. Considera-se impedimento de
longo prazo, para os fins do § 2o deste artigo, aquele que produza efeitos pelo
prazo mínimo de 2 (dois) anos.”(Lei nº 8.742/1993). Como o HIV não tem cura,
quaisquer impedimentos decorrentes dele são de caráter contínuo, que
acompanham o portador durante toda a sua vida.

Tomando de fundamento a seguinte jurisprudência

PREVIDENCIÁRIO. EMBARGOS INFRINGENTES. BENEFÍCIO


ASSISTENCIAL. LOAS. PESSOA PORTADORA DO VÍRUS HIV.
INCAPACIDADE. CONDIÇÕES PESSOAIS DO AUTOR. Ainda que a perícia
tenha atestado a capacidade laborativa do autor, portador do vírus do HIV,
poderá ser deferido o benefício previsto no LOAS se a sua recolocação no
mercado de trabalho mostrar-se improvável, considerando-se as suas
condições pessoais e o estigma social da doença, capaz de diminuir
consideravelmente as suas chances de obter ou de manter um emprego
formal. Precedentes desta Corte. (TRF-4 - EINF: 130928120144049999 PR
0013092-81.2014.404.9999, Relator: ROGERIO FAVRETO, Data de
Julgamento: 16/04/2015, TERCEIRA SEÇÃO, Data de Publicação: D.E.
30/04/2015).

Ademais, para corroborar com o supracitado, o disposto na Súmula 78


da TNU também se mostra de basilar relevância para demonstrar que é preciso
o julgador analisar todo o contexto no qual Ricardo Melo vive:

Súmula 78/ TNU: “Comprovado que o requerente de benefício é


portador do vírus HIV, cabe ao julgador verificar as condições pessoais,
sociais, econômicas e culturais, de forma a analisar a incapacidade em sentido
amplo, em face da elevada estigmatização social da doença.”

Por conta disso, os outros aspectos da condição de vida de Ricardo


devem e necessitam ser considerados, para que haja uma efetiva avaliação de
como é a realidade enfrentada por ele. Em primeira análise, é preciso perceber
que Ricardo não possui emprego com carteira assinada, portanto, sua renda
não é fixa, e justamente por não estar formalmente empregado, não lhe é
assegurado nenhum benefício que possa suprir as suas necessidades ou
prover-lhe o mínimo de segurança financeira capaz de permitir o acesso aos
insumos mais básicos e necessários para se manter.

Por meio de uma avaliação para observar as condições de vida do


requerente, realizada pela assistência social com intuito de averiguar a
situação no caso concreto. Foi confirmado que Ricardo se encontra em
situação de miserabilidade social, e a falta de renda é causadora de inúmeros
transtornos que acabam levando-o a estar incessantemente buscando algum
serviço laborativo. Porém, outro fator muito importante de ser percebido, é a
idade de Ricardo, que já de encontra com 58 (cinquenta e oito) anos, esse fator
por si só já torna muito mais difícil uma pessoa com tal idade adentrar
novamente no mercado de trabalho, e averiguando-se também o estigma
provocado pelo diagnóstico positivo do vírus HIV, essa sua realidade se mostra
como uma dificuldade a mais para que Ricardo possa conseguir um vínculo
empregatício com todos os benefícios assegurados e uma renda fixa advinda
de seu próprio trabalho.

Ademais, cabe salientar que a profissional exercida informalmente de


técnico de enfermagem por Ricardo, apesar de não requerer um imenso
esforço físico, pode lhe trazer alguns riscos. Por ele estar e ficar em contato
com ambientes hospitalares e/ou com pessoas doentes, e devido ele já possuir
uma suscetibilidade a fragilidades no seu sistema imunológico, se encontrar em
ambientes propícios a infecções e doenças não é o local mais adequado, posto
que a qualquer descuido ou imprevisibilidade, sua saúde poderá estar
comprometida.
Mediante o exposto, é notório compreender que o benefício
assistencial da LOAS e os seus requisitos necessários abarcam a realidade
vivenciada por Ricardo Melo. Não apenas a condição de saúde por conta do
diagnóstico positivo do vírus HIV deve ser considerada, posto que, além do
estado médico deve-se apurar todas as circunstâncias nas quais o indivíduo se
encontra, como no caso de Ricardo, o HIV lhe impõe barreiras para conseguir
adentrar no mercado de trabalho, também influencia no possível risco à saúde
advinda de sua atividade laborativa informal, e principalmente tudo isso
colabora para dar continuidade a situação de miserabilidade, marginalização e
desamparo que se encontra. Dessa forma, também é possível perceber que
esse benefício se faz muito necessário para auxiliar com as despesas e trazer
o mínimo de dignidade e proteção a Ricardo Melo, que tem de conviver com a
situação de vulnerabilidade e dificuldades financeiras e sociais.

3.PAULO SÉRGIO, DEFICIENTE FÍSICO, PORTADOR DE VISÃO


MONOCULAR, AGRICULTOR, COM 65 ANOS DE IDADE, EM SITUAÇÃO
DE MISERABILIDADE, FAZ JUS AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA
LOAS?

Sim, o Sr. Paulo Sérgio se enquadra nos requisitos do benefício


assistencial previsto no Artigo 203, inciso V, da Carta Magna que assegura a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de
deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria
manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser a lei e no
Artigo 20 da Lei 8.742/93, que pressupõe a pessoa idosa, deficiente que não
apresenta meio de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua
família, no caso, o Sr. Paulo, deficiente físico, portador de visão monocular,
com idade de 65 anos, em situação de miserabilidade a assistência social será
prestada.

Vale enfatizar ainda que o requerente portador de deficiência visual


grave, o mesma se enquadra no conceito de deficiência previsto no art.  4º, III,
do Decreto nº 3.298/99, que regulamentou a Lei 7.853, de 24/10/1989 (dispõe
sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência), mostrando-se, que o Sr.
Paulo tenha consignado sua incapacidade para atividades laborativas como
agricultor. A condição do Sr. Paulo, retratada no recorrido, por si só, já
representa um quadro de incapacidade, inclusive, com grandes dificuldades
para competir no mercado normal de trabalho, ainda em tempos como estes,
nos quais as pessoas com sentidos favoráveis já padecem para conseguir um
emprego para sua sobrevivência

Nessa esteira, a Súmula 29 desta Corte afirma que, para os efeitos do


art. 20, § 2º, da Lei n. 8.742, de 1993, a incapacidade para a vida
independente não é só aquela que impede as atividades mais elementares da
pessoa, mas também a que a impossibilita de prover ao próprio sustento.
Além disso, o portador de visão monocular faz jus ao benefício assistencial
(LOAS deficiente). Aduz ainda que a Súmula 377 do STJ reconhece a
condição incapacitante do portador de visão monocular.

Portanto, o idoso hoje com 65 anos, poderá requerer e ser assegurado


pelo Benefício Assistencial da LOAS, benefício este que deverá ser atualizado
a cada dois anos.

4. LEVI SOUSA, MENOR, PORTADOR DE DOENÇA DEGENERATIVA


GRAVE, COM GENITORES PERCEBENDO 2.200,00 POR MÊS, EM
CONJUNTO, COM FAMILIA COMPOSTA POR TRÊS PESSOAS, FAZ JUS
AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA LOAS?

O caso em tela merece uma análise zetética por parte do julgador, devendo
este apoiar-se essencialmente em três pontos para que seja obtida uma
resposta adequada, coerente e justa, seja para o demandante, seja para o
demandado.

Em primeiro ponto, o questionamento que deve ser feito é o seguinte: a


demanda atende os requisitos legais principiológicos? A resposta, apesar de
sucinta, se faz necessária para que fundamentam-se os dois pontos futuros.
Para tanto, há de se observar o que dispõe o artigo 203 e incisos I, II e IV da
Constituição Federal de 1988

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar,


independentemente de contribuição à seguridade social, e tem por
objetivos:
I - a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à
velhice;

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes; [...]

[...] IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de


deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; [...]
(BRASIL, 1988)

Com os devidos apontamentos legais em mente, vislumbra-se que o


requerente, por ser menor de idade, encaixa-se inquestionavelmente no que
dispõem os incisos I e II dispostos no artigo 203 da CF/88. Devendo haver
olhar especial ao inciso IV daquele diploma legal, que também resguarda o
demandante por este comprovar ser acometido por doença degenerativa grave,
necessitando assim da habilitação e assistência que o benefício pode lhe
proporcionar.

Em segundo ponto tem-se então a seguinte indagação: o requerente do


benefício encontra-se em situação de miserabilidade e sem meios para prover
suas necessidades? O solicitante, como já mencionado, atesta possuir doença
degenerativa grave, e o que deve ser analisado para responder à pergunta são
as necessidades do menor em virtude da sua condição de saúde.

De tal modo que, uma criança com saúde plena é para os pais uma
responsabilidade ímpar, os quais devem garantir: alimentação, moradia,
educação - pois em muitos casos a oferta de vagas no setor público é pequena
- e outros. As despesas para garantir o básico àquela criança sadia é vista
como bastante onerosa, o que leva muitos casais a optarem por um
planejamento familiar extremo, havendo inclusive casos em que não se cogita
a possibilidade de ter um filho.

Imagine então uma família composta por três membros, sendo um deles uma
criança acometida por doença degenerativa grave. As custas para assegurar o
básico àquele menor com problemas de saúde certamente são bem
divergentes das despesas com uma criança sadia. Isso porque além da
alimentação, educação, moradia e outros, os pais ainda tem que responder, na
maioria dos casos, por medicamentos, tratamentos, consultas, exames e afins,
gerando para essa família um gasto bem maior.
E em convergência a tais apontamentos, o entendimento firmado pelo Tribunal
Regional da 5a Região - TRF-5

CONSTITUCIONAL. SEGURIDADE SOCIAL. BENEFÍCIO DE


PRESTAÇÃO CONTINUADA (BPC). DEFERIDO. MENOR DE IDADE
(4 ANOS) PORTADOR DE EPILEPSIA FOCAL SIMPLES E
HIPERATIVIDADE. INCAPACIDADE DO PONTO DE VISTA DO
CONJUNTO PROBATÓRIO/CONTEXTO SOCIAL EM QUE ESTÁ
INSERIDO A AUTORA. REQUISITO DA HIPOSSUFICIÊNCIA
PREENCHIDO. LAUDO SOCIAL FAVORÁVEL. IN DUBIO PRO
MISERO. PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. RECURSO DA
PARTE AUTORA CONHECIDO E PROVIDO.

(TRF-5 - Recursos: 05027010420174058503, Relator: EDMILSON DA


SILVA PIMENTA, Data de Julgamento: 20/03/2019, Primeira Turma,
Data de Publicação: Creta 21/03/2019 PP-)

[...] 5. Ressalte-se que a autora é uma criança de 4 anos e, no que se


refere à incapacidade a justificar a concessão do LOAS, a
jurisprudência tem se encaminhado para considerar que a criança
que faz jus ao benefício é aquela que seja portadora de deficiência
capaz de comprometer a sua família de forma diferente do que
ocorreria com uma criança sadia.
O legislador considerou que uma criança saudável, mesmo que a
família se encontre em situação precária, não cria óbice
intransponível para os pais trabalharem para sustentá-la. Nesses
casos, utiliza-se dos recursos por todos conhecidos: creches, escolas
infantis, revezamento de familiares no cuidado dos filhos etc.
Ao contrário, uma criança deficiente exige cuidados dos pais bem
maiores. Frequentemente um dos pais, ou ambos, veem-se obrigados
a se afastarem do trabalho, mesmo contra a vontade, para se
dedicarem pessoalmente ao seu cuidado. Noutros termos, a criança
deficiente acaba por reduzir, muitas vezes, a própria capacidade
laboral de sua família, comprometendo por consequência, a renda
familiar.
6. No caso em apreço, em que pese a conclusão do perito judicial de
que a enfermidade que acomete a menor não desenvolve uma
deficiência/incapacidade, é de se ressaltar que a incapacidade deve
ser interpretada sob a ótica da universalidade da cobertura e o
princípio da dignidade da pessoa humana, devendo-se levar em
consideração, portanto, as peculiaridades do caso concreto. [...]
[...] 8. Analisando-se o contexto em que está inserida a autora e seu
núcleo familiar, não há como negar àquela o benefício pleiteado, na
medida em que ele se mostra indispensável à preservação da
dignidade humana, de modo que proporcionará condições para que
os genitores possam dedicar maiores cuidados à menor, que
necessita de constante acompanhamento médico.
9. Ademais, diante do caso concreto adota-se o princípio in dubio pro
misero, através do qual, no direito previdenciário, a interpretação da
norma deverá ser feita de modo a proteger socialmente o indivíduo do
estado de indigência, garantindo-lhe uma subsistência digna, isto é,
“a solução pro misero deve ser aplicada quando, em uma
perspectiva formal qualquer dos resultados dispostos pela
sentença pareça razoável. Na dúvida, decide-se casuisticamente
evitando-se o sacrifício de direito fundamental”.[1]
10. Destarte, resta demonstrado a incapacidade do autor, motivo pelo
qual o mesmo deverá ser amparado pelo BPC - Benefício de
Prestação Continuada.

11. Dispositivo: Pelo exposto, CONHEÇO e DOU PROVIMENTO ao


recurso para:
a) reconhecer a prescrição quinquenal em relação às parcelas
vencidas anteriormente ao quinquênio do ajuizamento da presente
ação;
b) o INSS a conceder o benefício assistencial de prestação
continuada à parte autora desde a data do requerimento
administrativo (30/05/2017 – anexo 20, fl. 1), quando já preenchidos
os requisitos autorizadores do benefício, e o pagamento das parcelas
vencidas, devendo ser apurada as parcelas vencidas no Juízo de
origem.
Sucumbência: Sem condenação em custas. Sem honorários, uma
vez que somente é cabível quando se tratar de recorrente-vencido
(art. 55 da Lei n.º 9.099/95 e Enunciado 57 do FONAJEF).
É como voto.
Em complementação ao entendimento mencionado o artigo 20, caput, da Lei
8.742/93 - Lei Orgânica da Assistência Social, cita

Art. 20 - O benefício de prestação continuada é a garantia de um


salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65
(sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios
de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família.
(Redação dada pela Lei nº 12.435, de 2011) (Vide Lei nº 13.985, de
2020). (BRASIL, 1993).

A redação dada pelo artigo é taxativa quanto aos critérios para a percepção do
benefício de prestação continuada - BPC, porém, como dito no que entendeu o
TRF-5 sobre a pauta, a interpretação que deve ser feita pelo julgador é
extensiva visando o cumprimento do princípio da universalidade de cobertura e
atendimento, tal como orienta a CF/88 em seu artigo 194, parágrafo único,
inciso I.

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de


ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas
a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à
assistência social.

Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei,


organizar a seguridade social, com base nos seguintes objetivos:

I - universalidade da cobertura e do atendimento; [...] (BRASIL, 1988).

Com a perquirição dos fundamentos legais e jurisprudencial supracitados


adentra-se então no terceiro e último ponto inquiritivo sobre a pauta: a renda
familiar per capita do solicitante é então inferior a ¼ (um quarto) do salário
mínimo?

Antes da resposta, vale aqui citar o que ressalva o artigo 20-A, caput, da Lei
8.742/93, a saber

Art. 20-A. Em razão do estado de calamidade pública reconhecido


pelo Decreto Legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, e da
emergência de saúde pública de importância internacional decorrente
do coronavírus (Covid-19), o critério de aferição da renda familiar
mensal per capita previsto no inciso I do § 3º do art. 20 poderá ser
ampliado para até 1/2 (meio) salário-mínimo. (Incluído pela Lei nº
13.982, de 2020)

Logo, em regra o critério original para aferição da renda mensal familiar per
capita antes da emergência de saúde pública, a qual decorre da propagação
em escala mundial do coronavírus (Covid-19), estava fixada em ¼ do salário-
mínimo praticado no país, havendo agora base legal para que este piso seja
elevado a ½ (meio) salário-mínimo. Assim, com a devida ressalva, seguem-se
os fatos necessários à resposta da indagação exposta pelo ponto três.

Ficou comprovado que os genitores do demandante tem renda familiar bruta de


R$ 2.200,00 por mês, valor este que se dividido pelo número de integrantes da
família, que compõem-se em três pessoas incluindo o menor requerente, o que
resulta em uma renda mensal per capita de R$ 733,33; valor este que
inicialmente não corresponde a ½ do salário mínimo.

Porém, em consonância à jurisprudência firmada pelo TRF-5 no caso


mencionado, o inciso IV do artigo 20-A cita que deve também ser levado em
conta o seguinte critério para aferição da renda familiar per capita

IV - o comprometimento do orçamento do núcleo familiar de que trata


o § 3º do art. 20 exclusivamente com gastos com tratamentos de
saúde, médicos, fraldas, alimentos especiais e medicamentos do
idoso ou da pessoa com deficiência não disponibilizados
gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ou com serviços
não prestados pelo Serviço Único de Assistência Social (Suas), desde
que comprovadamente necessários à preservação da saúde e da
vida. (Incluído pela Lei nº 13.982, de 2020)
Logo, seguindo o que orienta a legislação e a jurisprudência, no caso do
demandante há a comprovação de despesas referentes a doença do menor, as
quais não podem ser prestadas pelo Sistema Único de Saúde e somam o valor
de R$ 1.200,00 mensais, que descontados da renda familiar bruta retornam um
valor real de R$ 1.000,00, o qual então será efetivamente dividido pelos
membros da família e resultará numa renda mensal per capita de R$ 250,00;
garantindo a percepção do benefício de prestação continuada.

Dadas as circunstâncias do caso do menor Levi Sousa, o qual, representado


por seus genitores, demanda o Instituto Nacional de Seguridade Social pela
concessão do benefício assistencial fixado pelo artigo 20, caput, da Lei
8.742/93 - Lei Orgânica da Assistência Social, bem como observando o
cumprimento dos requisitos fixados pela legislação em questão e pela
jurisprudência correlata, o requerente então faz jus a percepção do benefício.

5. RAFAELA DOS SANTOS, PORTADORA DE ESQUIZOFRENIA


PARANOIDE, COM 65 ANOS IDADE, POSSUINDO COMPANHEIRO DE 67
ANOS QUE POSSUI BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DE R$ 1.100,00,
TENDO AINDA FILHO CASADO QUE GANHA R$ 1.500,00, RESIDINDO NA
CASA VIZINHA, FAZ JUS AO BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA LOAS?

Em um primeiro momento é necessário fazer certos apontamento do caso


de Rafaela dos Santos, a requerente, e a Lei 8.742 de 07 de dezembro de
1993 que Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras
providências. Rafaela dos Santos possui a idade adequada para tentar o
Beneficio assistencial da LOAS, como disposto no Art. 20 da Lei 8.742/93, visto
que Rafaela tem 65 anos(Sessenta e Cinco anos). De acordo também com o
mesmo artigo, § 1°, seguindo os efeitos do disposto no caput, a família é
composta pela requente, Rafaela dos Santos, e seu marido, o filho não é
colocado como membro da família (segundo as exigência do parágrafo) pois
não mora sob o mesmo teto que a requerente, mesmo que seja em casa
vizinha.

Ademais, segundo o § 2° do Art.20 da Lei 8.742/93, Rafaela dos Santos é


portadora de doença mental que não possui cura (Esquizofrenia Paranoide) e
precisa de tratamento e cuidados, sendo assim é coerente firmar que segundo
o §2° do Art. 20, Rafaela possui uma deficiência que obstruir sua participação
plena e efetiva na sociedade.

Observando agora o § 3° do Art. 20 referente a renda mensal é posto que


a renda precisa ser inferior a um quarto do salário mínimo per capita, sabendo
que o salário do filho, de R$ 1.500,00 reais, não conta para o calculo, visto que
este não atende as exigências do §1° do Art.20 (morar sob o mesmo teto que a
requerente) o único dinheiro da família é proveniente do Beneficio
previdenciário do marido de R$ 1.100,00 (mil e cem reais), fazendo um calculo
básico é visto que a renda per capita é maior que um quarto do salário
mínimo, entretanto, segundo o § 14 do art.20 é visto que benefício de
prestação continuada ou beneficio previdenciário(que é o recebido pelo marido
de Rafaela dos Santos) no valor de até 1 salário mínimo concedido a idoso
acima de 65 anos ou pessoa com deficiência não será computado para fins de
concessão do benefício de prestação continuada a outro idoso ou pessoa com
deficiência da mesma família no cálculo da renda referido no §3° do art.20.

Diante das informações expostas e coerente afirmar que Rafaela dos


Santos tem o direito de receber o benefício da LOAS, em função de ter idade
adequada(Sessenta e Cinco anos), possuir doença (Esquizofrenia Paranoide)
que prejudica sua participação plena da sociedade e que não possui cura e é
necessário tratamento para o controle efetivo da doença. Salienta-se também
que a concessão do benefício será sujeita à avaliação da deficiência e do grau
de impedimento de que trata o § 2 o, composta por avaliação médica e
avaliação social realizadas por médicos peritos e por assistentes sociais do
Instituto Nacional de Seguro Social – INSS, como estabelecido pelo § 6° do Art.
20.

6. PAULA CAMPOS, 38 ANOS, PORTADORA DE EPILEPSIA, VENDEDORA


AMBULANTE – POSSUI CARRINHO DE CACHORRO QUENTE, COM
CINCO FILHOS E RENDA DE R$ 1.100,00, POSSUI DIREITO AO
BENEFÍCIO ASSISTENCIAL DA LOAS?

Sim, Paula possui direito ao beneficio, visto que é portadora de doença


epilética, tem 5 filhos, possui um emprego para tentar suprir seu sustento e de
seus filhos, recebe a quantia de R$ 1.100,00 (mil e cem reais) para
manutenção de 6 pessoas, ademais, contando com sua situação de saúde a
qual não há cura e será acometida por toda a vida, nesse viés, é possível
verificar que Paula, prover a própria manutenção da família, mas por motivos
de necessidades se submete a situação de trabalho exaustivo para sua
condição, podendo assim a qualquer momento ser abalada por crises epiléticas
frente a uma doença de difícil controle a qual Paula deve ser submetida a
tomar dosagens altas de medicamentos que comprometem sua aptidão sendo
necessário descanso mediante tarefas as quais exerce atualmente, ao qual já é
claro que não está veemente apta se em tratamento adequado, entretanto, não
o faz por meio de necessidade de manutenção de si própria e de seus 5 filhos,
posto que é mãe solteira e não tem a quem recorrer se não a si própria e nesse
viés a ajuda legal, ademais, é necessário atentar a renda mensal de Paula, que
não ultrapassa ¼ do salário mínimo, ficando em uma quantia exata de R$
183,33 reais (cento e oitenta e três reais e trinta e três centavos) por pessoa.

A respeito a constituição federal de 1998 em seu Art. 203. A assistência


social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de
contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

V - a garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa


portadora de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de
prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme
dispuser a lei.

Ademais a lei n° 8.742 de 07 de Dezembro de 1993, que dispõe a


organização da Assistência Social e dá outras providências, trata:

Art. 20. § 3° Considera-se incapaz de prover a manutenção da pessoa


com deficiência ou idosa a família cuja renda mensal per capita seja inferior a
1/4 (um quarto) do salário-mínimo.

Paula, nesse sentido possui direito ao benefício social do LOAS por


questão da deficiência acarretada pela doença que a impede de exercer plena
capacidade em suas atividades sem que corram riscos ao seu bem está.
Entretanto, a TNU frisa que para obtenção do beneficio assistencial devesse
reparar não tão somente na condição de incapacidade do individuo, mas sua
situação social como condição pessoal, familiar e cultural para que prove
realmente incapacidade, nesse sentindo, foi possível verificar a vulnerabilidade
social de Paula, mãe solteira de 5 filhos, acometida por uma doença que
necessita de tratamento constante porque não há cura, nem melhora
progressiva, somente controle por meio de tratamento ao qual a deixa
indisposta para atividades em sociedade, sendo uma dessas a que exerce
atualmente para o sustento da família, Paula deve ser beneficiada pela LOAS
para que possa ter uma vida digna mediante sua situação de vulnerabilidade
social e falta de aptidão de tarefas laborativas por questões de saúde, nesse
caso epilepsia.

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