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Curso: LICENCIATURA EM LETRAS PORTUGUÊS-ESPANHOL

PORTUGUÊS
Disciplina: LÍNGUA PORTUGUESA VIII
Unidade 2

AULA 2

POTENCIAL EXPRESSIVO DAS PALAVRAS NO DISCURSO I

Conteúdo da Aula:

Caros (as) alunos (as),

Com esta unidade, objetivamos:

 Reconhecer o potencial expressivo das palavras em diferentes contextos;


contextos
 Compreender os seguintes conceitos: inferências,
nferências, implícitos, pressupostos,
ambiguidade,
idade, polifonia e polissemia.

Na última aula, refletimos sobre como a significação depende


depende de uma série de
fatores – indo muito além dos aspectos gramaticais do texto. Além disso, precisamos
entender que os sentidos do texto não são construídos apenas por aquilo que é
explicitamente dito, pois, muitas vezes, produzimos textos que, em determinados
cenários e contextos, permitem diferentes interpretações.
Vejamos exemplos trazidos por Ferrarezi (2008):

Numa cerimônia de formatura de uma escola pública municipal, com a


presença do prefeito e do secretário municipal da educação, o orador da
turma diz: ‘Se o dinheiro destinado à educação não fosse desviado, como
constata o relatório do Tribunal de Contas, nossa escola poderia oferecer
uma melhor qualidade de ensino’.
ensino’ (FERRAREZI, 2008, p.. 174).

Nesse exemplo, trata-se


trata de uma declarativa simples,
mples, porém, devido ao
contexto em que se dá a enunciação, a frase pode ser entendida como uma
insinuação. Há também implícitos mais complexos, como em:

Um casal de namorados está em um piano-bar,


piano bar, ouvindo uma música
romântica e conversando, quando um amigo
amigo dos dois chega e pede para
sentar com eles. Pensando que o sujeito vai se tocar logo e ir embora, eles
permitem e começam uma conversa, que fica cada vez mais irritante. Num
dado momento, já irritada, a moça se vira para o namorado e diz: ‘Esse é o
melhor
or piano-bar
piano bar para casais apaixonados que eu conheço’. (FERRAREZI,
2008, p. 175).

Ela claramente estava dizendo que a presença do amigo estava atrapalhando,


mas fez isso por meio de um elogio ao bar. Nós apenas conseguimos interpretar
essa sentença desse modo porque dispomos de informações do cenário e
informações culturais. Realizamos, portanto, a inferência quando analisamos um
texto.
Vale ressaltar que há diferentes tipos de informação implícita. Abordaremos os
pressupostos.
Os pressupostos são implícitos que podem ser depreendidos de alguma
informação posta no texto (uma palavra ou expressão). Por exemplo, na frase:
“Quando você voltará para casa?”, podemos inferir que o interlocutor saiu de casa.
No texto seguinte, temos alguns pressupostos que devem ser assumidos como
verdadeiros para que o texto tenha sentido:

A ex-paquita
paquita Roberta
Roberta Cipriani desmente rumores do final de seu
noivado com Diogo Boni, filho do atual consultor da Rede Globo de
Televisão, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho. Ela me garantiu que
está muito bem com o rapaz, e que passaram o Carnaval juntinhos
em Angra dos Reis.
R (Jornal de Jundiaí).
). (ILARI, 2001, p. 86).

O marcador linguístico “ex-paquita”


“ex paquita” traz o pressuposto de que, em algum
momento do passado, Roberta já foi paquita. O marcador linguístico “atual” também
traz o pressuposto de que Diogo Boni ainda vive.
Outro exemplo1 que mostra como os pressupostos são tomados como
verdadeiros ocorre na seguinte situação: em um julgamento, o advogado de
acusação pergunta ao réu “O senhor parou de cometer roubos?”. O pressuposto do
marcador linguístico “parou” é que o réu cometia roubos.
roubos. Independentemente de o
réu responder “sim” ou “não”, o pressuposto se mantém.
Outro tópico abordado nesta unidade é a ambiguidade,
ambig idade, que é a “possibilidade
de um mesmo falante atribuir, a uma mesma sentença, em um mesmo contexto e
em um mesmo cenário, mais
mais de um sentido” (FERRAREZI, 2008, p. 179). A

1
Adaptado de: SAE. Língua Portuguesa, Redação e Literatura, 2ª série: Livro 4, Ensino Médio.
Curitiba: SAE DIGITAL S/A, 2019.
ambiguidade geralmente está mais presente em textos escritos do que em texto
textos
orais, uma vez que naqueles as informações de cenário são mais escassas, há
ausência de informações extras, já nos contextos
contexto orais as
s informações contextuais
podem contribuir para uma melhor interpretação (FERRAREZI, 2008).
Vale ressaltar que nem sempre a ambiguidade é algo negativo em um texto,
muitas vezes, ela é um recurso expressivo, como no anúncio publicitário abaixo:

Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2016.

Nele, há uma expressão ambígua: lavar as mãos, a qual pode ser entendida de
forma denotativa (literal) ou conotativa (figurada). A torneira com uma gota de água e
a frase “Aproveita enquanto tem água” apontam para o sentido literal, porém vemos
que o anúncio
io ganha expressividade por a expressão “lavar as mãos”, no sentido
figurado, fazer menção à atitude de descaso de muitos para o meio ambiente.
A ambiguidade
idade também é um recurso muito utilizado em músicas populares,
piadas, anedotas etc. Muitos usos exploram
explo a ambiguidade
idade para fins de humor,
como na tirinha abaixo:
Fonte: CEREJA; MAGALHÃES, 2016.

Nessa tira, vemos uma vitrine possivelmente de uma clínica para tratamento de
pessoas com dificuldade para do
dormir.
rmir. Porém, pela fala do personagem, vemos que a
atividade da clínica foi mal interpretada. Em vez de “aprendizagem para o sono”, o
letreiro foi lido como “aprendizagem durante o sono”, abrindo espaço para o
comentário sobre ele ter
er sido um aluno que dormia durante as aulas e que, por isso,
não ia tão bem na escola.
Porém, quando a ambig
ambiguidade
idade não é proposital, sendo o resultado da má
organização das ideias ou do uso de palavras inadequadas ao texto, por exemplo,
ela provocará falhas de comunicação.
comunicaçã
Um exemplo retirado da pesquisa de Oliveira e Oliveira (2017) é: “Marcelo
condecora Miguel Portas no dia de seu aniversário” (Jornal de Notícias). Nessa
frase, o uso do pronome “seu” é o gerador de uma ambiguidade,
ambig idade, pois gera o
questionamento:: “de quem é o aniversário?”. As autorass propõem formas de deixar a
frase mais clara:
- Marcelo, no dia do seu aniversário, condecora Miguel Portas.
- Marcelo condecora o aniversariante Miguel Portas.
- Marcelo, no dia do aniversário de Miguel Portas, o condecora.
- O aniversariante Marcelo condecora Miguel Portas.
Outro exemplo de ambiguidade
ambigu sintática pode ser encontrado em: A
convivência só acabou depois que Olacyr e Edna se separaram. (Veja, 04/12/96,
p.63). Nessa frase, “não se consegue definir se eles se separaram
separaram um do outro ou
se separaram de seus cônjuges respectivamente”. (SEARA, 1997, p. 62).
Seara (1997) cita ainda uma ambiguidade gerada pela polissemia:
lissemia: “Entre 1948,
quando iniciou uma transportadora em companhia do pai (...), Olacyr viveu urna
epopéia de
e quase meio século. (Veja, 04/12/96, p. 63)”, em que companhia
ompanhia pode
significar junto com o pai ou pode significar na empresa do pai.

Espero que esta aula tenha complementado o material obrigatório da disciplina,


apresentando mais exemplos do potencial expressivo das palavras, de modo que
nós, como professores, estejamos cada vez mais atentos a como se dá a construção
dos sentidos nos diferentes textos que lemos.

Bons estudos!

Referências:

CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens.


São Paulo: Saraiva, 2016.

FERRAREZI Jr., Celso. Semântica para a educação básica.


básica. São Paulo: Parábola
Editorial, 2008.

ILARI, Rodolfo. Introdução à semântica:


semântica: brincando com a gramática. São Paulo:
Contexto, 2001.

OLIVEIRA, Kelly Cesário; OLIVEIRA, Bruna Gabriele. Análise sintática: um estudo


sobre a ambiguidade estrutural em manchetes. Revista do Instituto de Ciências
Humanas – vol. 13, nº 18, 2017.

SEARA, Izabel Christine. Ambiguidade? Um olhar sobre textos jorna


jornalísticos.
Working Papers em Linguística,
Linguística UFSC, n. 1, jul./dez. 1997.

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