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ESPA Ç O NA
ANTIGUIDADE
Cibele Elisa Viegas Aldrovandi
Maria Cristina Nicolau Kormikiari
Elaine Farias Veloso Hirata
(orgs.)
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t. [Lanosa.
|edusP * JAPESP
Modelos Imagéticos Urbanos e a
Compreensão da Sociomorfogenese
da Cidade Antiga
m o mun - -
C
OMPREENDHR A DIN Á MICA QUE PERMEIA A EMER
icionar, o Gé NCIA E O DESENVOLVIMENTO DOS ORGANISMOS URBANOS
m NÃO é U M P R O C E S S O S I M P L E S O U D I R E T O, A I N D A M A I S S E C O N -
S I D E R A R M O S O S ASPECTOS Q U E E N V O L V E M A SOCIOMORFOG È NESE
das cidades antigas, cujos vestígios muitas vezes se resumem a algumas poucas
análise e a fileiras de pedras
interpretação da Pensar a polis grega ou qualquer outra cidade antiga por meio de seu am -
morfologia espacial
das cidades antigas:
biente constru ído suscita inú meras questões, e suas respostas exigem, conse -
fundamentadas na quentemente, escolhas teóricas e metodológicas, A partir disso, o Grupo de
conceituação e Teoria e Método do Labeca procurou discutir algumas das abordagens que
2
compreensão dos envolvem a análise e a interpretação da morfologia espacial das cidades antigas,
esquemas formais
que concebem a
em particular aquelas fundamentadas na conceituação e compreensão dos es -
cidade como um quemas formais que concebem a cidade como um elemento imagético,
elemento imagético Nesse sentido, a formação e o desenvolvimento das cidades antigas podem
ser analisados por meio de um modelo de planificação ou desenho do ambien -
te construído que inclui, por exemplo, seus elementos arquitetônicos, padrões
espaciais de orientação, acesso e visibilidade, nos quais diferentes n íveis de
modelo de planificação significado estão impressos ( cfi Amos Rapoport, 1982; 1990; Parker, Pearson
ou desenho do ambiente
construído, inclui: e Richards, 1994), Podemos pensar, a partir da í, de que maneira a variedade de de que maneira a
seus elementos arranjos formais de edifícios reflete o planejamento urbano, que, por sua vez, variedade de
arranjos formais
arquitetônicos, padrões
de edifícios reflete
espaciais de orientação, 1, - - -
Pós doutoranda MAE USP, bolsista Fapesp; mestranda MAE USP, bolsista Capes; doutorando o planejamento
acesso e visibilidade, -
FFLCH USP; bolsista TT Labeca, Fapesp.
urbano
nos quais diferentes 2. Este artigo é o resultado das reflexões acerca das leituras e discussões realizadas durante o ano
níveis de significado de 2009 pelo Grupo de Pesquisa intitulado ' Teoria e Mé todo em Arqueologia do Espaço ," do
estão impressos - -
Labeca MAE USP, do qual participaram e colaboraram, além dos próprios autores, Patrícia Pon
tin, Juliana da Hora, Marcos Vanin e Scheda Koch,
-
ios
formalização, inclui formaliza ção, centralizaçã o, interação ( Renfrew, 1986; Rowlands, 1987;
centralização, Earle, 1991), monumentalização (cf. Trigger, 1990; Hodder, 1994; Bintliff, 1999 ),
interação
monumentalização,
grades ortogonais e outras formas de organização espacial.
grades ortogonais O espaço construído, pensado como imagem ( cf.Tambiah, 1977; Kemp, 2000;
e outras formas de Cari, 2000 ) revela, inicialmente, a tradicional dicotomia entre a malha urbana da
organização cidade planejada e da cidade orgâ nica (cf. Smith, 2007). Embora uma grade or-
espacial
togonal seja aquilo que primeiro se costuma procurar ao observar a morfologia
de uma cidade antiga, muitas sã o as variáveis e as dinâ micas - quer endógenas
ou exógenas - a que estão sujeitas as paisagens constru ídas. Muitas vezes, como
vemos nas cidades atuais, existem nuances intermediá rias que se sobrepõem à
dicotomia ortogonal / orgâ nica. Na verdade, a distribuição espacial das cidades
pode ser observada como uma sobreposiçã o ou bricolagem, ou como os palimp -
-
sestos de Thomas ( 2001, pp. 165 166 ) , ou mesmo como imagens caleidoscópicas
ou formações fractais que escapam, nesse caso, da geometria euclidiana.
Se queremos pensar a cidade antiga como organismo vivo e, portanto, di -
nâ mico, não basta somente estabelecer a grade urbana original, mas observar
suas mutações sincró nicas e diacrô nicas, sua prá xis, sua monumentalidade, suas
aparentes contradições e idiossincrasias.
107
import â ncia do parentesco, ele passou a n ã o ser mais o crité rio principal so -
bre o qual a sociedade se organizava 4. No caso grego, o marco dessa transi çã o
encontra - se no deslocamento da identidade familiar do grupo para a identidade
da comunidade nas futuras poleis .
As constru ções monumentais nas civilizaçõ es antigas exigiam habilidade
para planejar em larga escala, um alto n ível de engenharia , o recrutamento e
gerenciamento de uma força substancial de trabalho, assim como padr ões art ís -
ticos e arquitetô nicos. Entretanto, a monumentalidade n ã o pode ser explicada
pelo viés pr á tico ou pelo ' princípio do m í nimo esforço" cunhado por G. K , Zipf
(1949 ) , Pelo contr á rio, como observou Trigger (1990 ), ela se estabelece no prin -
c ípio do ' consumo conspícuo" de Veblen (1899 ) , ou seja , no gasto realizado para
intensificar prest ígio social e poder.
Para Trigger, o gasto de energia, principalmente na forma de trabalho alheio
e de modo n ão utilitá rio, é universalmente reconhecido como uma expressã o de
poder. Assim, a arquitetura monumental e os objetos de prestígio simbolizam
a habilidade e a força daqueles que controlam a m ã o de obra. Nesse sentido, o
poder pol í tico, principalmente no que se refere a prop ósitos nã o funcionais, é
materializado e permanece impresso nas paisagens urbanas na forma de cons-
tru çõ es monumentais.
Parece haver evid ê ncias de que a necessidade de expressar poder por meio
da arquitetura monumental é maior durante os est ágios de formação das civili-
zaçõ es antigas, ou em tempos em que o grau de poder centralizado est á aumen -
tando, Imageticamente, isso significa que, se a emergê ncia da polis apresenta um
consumo consp ícuo mais elevado, ele deve estar visualmente aparente na pai-
sagem, Ou seja, na imagem da polis podem ser observadas sobreposiçõ es dessa
monumentalização; a pr ó pria planta da cidade, os edif ícios c ívicos, sagrados, as
portas e as muralhas evidenciam tal morfogê nese* Pensemos, por exemplo, na
monumentalização do templo, a primeira edificação a apresentar esse tratamen -
to diferenciado que é, como vimos, concomitante ao surgimento da pòlis. Isto é,
a materialização em grande escala dos templos é, se pensada de forma imagéti -
ca, o ponto de partida para uma apreensão do poder da comunidade impresso
nessa paisagem. Materialmente, é possível dizer que a pò lis grega encerra em si
discursos monumentais.
No entanto, que condições de interações regionais podem se tornar uma
força guia no processo de transforma ção social ? Os diferentes tipos de edif ícios
podem indicar processos sociais, Weathley (1971), por exemplo, observa que a
4, Embora tamb é m presente nas sociedades igualitárias, a arquitetura monumental aparece em es-
cala mais modesta . Já nas sociedades com chefias mais complexas ou nos antigos Estados, as
fortalezas, santu á rios e tumbas sã o mais elaborados, e as casas daqueles que as comandam se di -
ferenciam das demais , Por sua vez, quanto mais estratificada, maior a quantidade de constru ções
monumentais (cf. Trigger, 1990, p. 120).
nimental aparece em es- A ê nfase nas abordagens funcionais sobre a cidade antiga precisa ser ponderada,
nos antigos Estados, as
que as comandam se di -
pois, na maioria dos casos, ela transforma o discurso sobre a cidade num dis -
curso circunscrito à pr á xis urbana. Podemos considerar que os assentamentos
antidade de construções
foram concebidos, constru ídos e podem, portanto, ser visualizados como inta-
109
gens O conceito de cidade como imagem, de acordo com Carl ( 2000, p. 328),
.
invoca essa dicotomia cuja ê nfase se alterna entre uma vis ão material - funcional,
ligada à prá xis, e uma simbólico - representacional, associada ao ideal de cidade.
A pró pria cidade, como conceito, é considerada uma tradu çã o da cidade como
imagem que, por sua vez, frequentemente simboliza a ordem humana como um
todo indissociável.
De acordo com Erickson e Lloyd-Jones (1997, p. 906, apud Kemp, 2000, p,
342 ) , " h á sempre uma consist ê ncia clara na forma e na estrutura urbana que
varia de lugar para lugar" e que, por sua vez, deriva das rela ções entre estas e os
processos sociais, que são retroalimentados por sua morfologia As modifica - .
çõ es na malha urbana revelam també m as importantes transições sociais que
o assentamento apresentou, assim como o papel da paisagem e da mem ó ria
compartilhada entre seus habitantes.
Como vemos, a discussã o sobre o planejamento urbano perpassa questões
sobre idealismo e pr á xis, assim como acerca das tensões geradas a partir da in -
tera çã o dos mesmos. A idealizaçã o da cidade reflete, por sua vez, uma inten ção
de tornar o ambiente vivido algo que transcende as necessidades cotidianas das
sociedades urbanas. Ela expressa uma ordenação simbólica - por vezes, na for -
ma de uma cosmografia —, cuja ideologia fundamenta e permeia as diferentes
esferas dessa sociedade.
Imagem urbana, nesse sentido, envolve n ã o somente a distribuiçã o espacial,
mas um projeto cultural de ordem topogr á fica. Muitos dos primeiros estudos
sobre esse assunto partiram de sociedades do sul e sudeste asi á tico ( cf. Wheatley,
1971; Tambiah, 1977 ). Neles, a cosmologia era incorporada de modo inequ ívo -
co à malha urbana, não apenas como ideal ou conceito, mas no aspecto fí sico
propriamente dito ( Figura 7.2 ). Algo que, por sua vez, reforçava o equil í brio
necessá rio à governabilidade daquelas sociedades ( cf. Duncan, 1990 ) .
5
5, As cidades cosmogramas são consideradas mais raras que as orgâ nicas ( cf. Cari, 2000, p. 328;
Kemp, 2000, p. 345) . Na Á sia, a maneira apropriada de erigir uma cidade é descrita sistematica -
mente em tratados como o Kao - kung-Chi ( chinês), o Arthasbastra e o Vastusbastra (indianos), a
partir dos quais muitas das cidades histó ricas asi á ticas foram configuradas ( cf, Wheatley, 1971).
Nesse sentido, Cari ( 2000 , p , 328 ) menciona que a 'dinguagem presentiva das técnicas construti -
vas deve ser vista como um motivo figurativo" isto é, aquilo que os tratados definem a ser seguido
é observado no ambiente constru í do como um desenho, uma figuração. Em sua obra, Wheatley
(1971) trabalhou inicialmente com as fontes textuais e visuais chinesas a fim de estabelecer o tipo
ideal de cidade antiga na qual alguns temas recorrentes eram expressos no planejamento, na ar -
quitetura e no ritual. Para Kemp ( 2000, p. 338), a ideia subjacente era reproduzir na terra uma ver-
sã o reduzida do cosmos no qual as cidades principais eram , como havia descrito Wheatley (1971,
-
pp. 414 417 ),"constru ídas como um itnago mundi , com a cosmologia como modelo paradigm á tico
ideal
"
celestial
,
que por sua vez , refletia um modo de pensar que pressup õe um paralelismo entre o
e o ritmo da terra. Do ponto de vista imagé tico, essa cidade possui um ponto axial ( axis mundi )
concebido em relação aos pontos cardeais e a partir do qual ruas, quarteirõ es, muros e portas s ão
dispostos. Alé m disso, eram necessá rios estudos sobre conceitos que envolvem a harmonia topo -
gr áfica do local em que a cidade iria ser constru ída.
m humana como um
o perpassa questões
aradas a partir da in -
ía vez, uma inten ção
dades cotidianas das Fig. 7.2. Vista a é rea de uma cidade cosmograma, Angkor. A capital do Impé rio Khmer
L - por vezes, na for - -
durante os s é culos ix xiv chegou a ocupar cerca de 3.000 km . Fonte : © Google Earth
1
iistribuição espacial, Pensamos que essa questão merece ser melhor investigada em relação às po -
) S primeiros estudos ids, pois parece ter existido, ou pelos menos a historiografia enfatiza, um prag-
siático (cf, Wheatley, matismo acentuado na escolha do territó rio para sua fundação ( Malkin, 1987;
i de modo inequ í vo - 2001; 2002) , justificado pela figura do oikista. Entretanto, essa perspectiva vem
Las no aspecto f ísico sendo reavaliada por alguns autores, que chegam mesmo a questionar a real exis-
dorçava o equil íbrio
ran , 1990 ) 5.
tência desse personagem capaz de dar forma à realidade material do assentamen
to ( Osborne, 1998) , Parece existir uma discrepâ ncia entre aqueles que seriam os
-
-
pré requisitos aventados por um oikista, segundo a tradiçã o, para a fundaçã o
as ( cf. Cari, 2000, p. 328;
de uma pòlis e aquilo que se observa nos estudos arqueológicos ( ex. Selinonte,
ide é descrita sistematica- segundo Vallet, 1990, p 12,8 ) , A necessidade de um rio, de uma á rea elevada para
*
Vastushastra ( indianos ), a a constru ção da acrópole e de uma á rea fértil ou estrategicamente posicionada
•
adas ( cf. Wheatley, 1971) . em relação às comunidades vizinhas, entre outros elementos que propiciariam
iva das técnicas construti-
dos definem a ser seguido o bom desenvolvimento da comunidade, nem sempre esteve dispon ível, e as es-
). Em sua obra , Wheatley colhas tinham que lidar com esses imperativos. Nesse sentido, faz -se necess ária
1 fim de estabelecer o tipo uma comparação das plantas de vá rias dessas cidades para a verifica ção da recor-
s no planejamento, na ar-
rência de determinados padrões topográficos frente às escolhas empreendidas.
iroduzir 11a terra uma ver-
1 descrito Wheatley (1971, Da í a importâ ncia de abordagens teóricas que ampliem o escopo dessas análises,
10 modelo paradigm á tico” como parece ser o caso da arqueologia fractal, que veremos adiante.
smo entre o ideal celestial Um outro aspecto que envolve a imagem das cidades diz respeito à sua in-
i ponto axial ( axis mundi )
óes, muros e portas são
sir
serção na paisagem, a partir de uma descri ção sistem á tica da estruturação do
.volvem a harmonia topo - espaço geográfico baseada na atraçã o dos centros sobre a á rea ao redor, com
uma forma mais ou menos circular, em diferentes escalas de an álise (cf. Tannier
e Pumain, 2005, pp 6 7 ) * - *
randes leis da geo - Para Tambiah, o ideal entre unidade e fragmentação, ordem divina e rebe -
nforme aumenta a lião, constitui lados diferentes da mesma moeda, e é responsável pela dinâ mica
interna do sistema Ele demonstra que elementos aparentemente paradoxais
e
1, esse modelo gra - *
3 redor dos centros contraditó rios, como ritual e violê ncia, ordem e desordem, concepções cosmo -
1 determinado tipo lógicas e práxis social, podem ser combinados numa totalidade din â mica, fluida
lelhantes, cercados e contingente* Com isso, procurou superar o determinismo ecofuncional que
ama superfície ho- ignorava as especificidades histó ricas e culturais, e analisou esse tipo de forma-
> 93, p* 214; Tannier çã o sociopolí tica como um epifenomeno *
Nesse sentido, no caso grego, as pesquisas das últimas décadas sobre a ' co -
tentos hierá rquicos lonização grega ' do per íodo arcaico, apesar de n ão abordarem a cosmologia,
' lity unidades so -
- também buscam um tipo de análise mais abrangente, qual seja, compreender os
ni termo utilizado assentamentos em sua totalidade, també m minimizando a ê nfase dada aos fa
,
-
itico em formações tores ecofuncionais ( De Angelis e Tsetskhladze, 1994; De Angelis, 2003; Owen
tes 6 * 2005; Tsetskhladze, 2006 ) *
padr ã o de satélites Tambiah (1977 ) concebeu os fenô menos sociais de forma integral; portanto,
nas um padrão de eles n ão podem ser descritos a partir da tradição analí tica ocidental, que tende
ic í pios formais dos a separar cada um dos elementos que comp õem as forma ções sociopol í ticas em
;nifica, na verdade, arquipélagos isolados Sua proposta envolve uma narrativa integrada , sem a pre-
*
o os diferentes ele - ponderâ ncia de nenhum dos diferentes dom í nios dessas forma ções e na qual a
multidimensional, esfera sagrada não pode ser distinguida do domínio secular *
/erso às estruturas Assim como Tambiah, Cari ( 2000, p 329 ) acredita que a dependência de
*
3 mesmo padrão é categorias conceituais dicotômicas - como material c simbólico -, acaba por
æ tendem a repro - induzir a uma cegueira ontológica , uma vez que n ã o h á ruptura entre pr á xis
omo desenhos cos - e simbologia elas est ã o imbricadas uma na outra . Nesse sentido, a cidade
-
luo - um chefe ou congrega o simbolismo do todo em termos cie uma distâ ncia mediada entre a
uma configuração cidade real e a almejada *
içã o hier á rquica de Na arte e na arquitetura, Kemp ( 2000, p, 342) acredita que a visão da cidade
era idealizada como um esquema geom étrico, mas, uma vez constru í da, exem -
io e replicação que plificava um tipo de ordem muito diferente. O tipo de design de cidade modela-
> or outro existe um do pelo uso implica uma ordem social preexistente que ditou a ordem informal
nstante de fissão e dos edifícios Esses assentamentos orgânicos se articulam e se adaptam ao ca
*
-
; ob um poder rival, r á ter da vida daquela comunidade e às conveniê ncias de seu próprio contexto
forças de expansã o social Nesse caso, existe també m uma certa subordinação das ideias cósmicas
*
A natureza se apresenta como um caos [...] a cena real que está diante dos nossos olhos ,
com seus jragmentos caleidoscó picos e suas dist â ncias vagas, é uma confus ã o. N ã o h á nada
que lembre os objetos que nos circundam, e que n ós criamos [ ..] mas 0 esp í rito que anima a
*
* *
Fractal .
Fig. 7.3. Fractal quadrado ou de Vicsek , com 0 padrã o inicial e as interaçõ es subsequentes
diante dos nossos olhos , tossemelhança . Assim, os fractais trabalham as dimensões intermediá rias e a
confusão. N ão há nada complexidade das superfícies - as formas espaciais irregulares que a geometria
is 0 esp í rito que anima a
euclidiana não consegue alcan çar. Um fractal é uma figura geomé trica que inclui
os isso.
em si mesma as condições para sua autorrepetição e autoestruturação; sua natu -
reza é descrita por um padr ão autor replicante em escalas variadas.
Na matemática, por exemplo, um fractal é um objeto gerado a partir de
ctiva de uma imagem uma fó rmula com fun çõ es simples ou complexas, mas que, quando aplicadas de
lver uma abordagem modo interativo, produzem formas geomé tricas abstratas, com padrõ es com -
nas paisagens urba - plexos que se repetem infinitamente ( Figura 7.3) . Os fractais podem ser de tipo
s promissoras para a
geométrico ( que derivam da geometria euclidiana tradicional) ou aleatório, ge -
rados por programas computacionais como resultado de intera çõ es operadas
ições verificados nas num sistema n ã o linear de forma recorrente. Nas ú ltimas décadas, os fractais
rões de assentamen -
foram muito utilizados, por exemplo, na arte multim ídia, gerados a partir de
tos, parecem revelar processos aleató rios em programas de computação, que produzem tanto resul -
que revela as forças tados imagé ticos como sonoros - m úsica.
;
Estamos, aqui, novamente diante de questões que envolvem a cidade teó rica
-
ideal e, portanto, “euclidiana”, e aquela real orgâ nica e, nesse caso, provavelmente
fractal Isso se deve ao car á ter poligênico da maioria das cidades, que nunca re-
*
fletem um conceito ú nico e homogé neo na sua constru ção, uma vez que ' mesmo
o plano diretor mais geomé trico termina com partes inacabadas e irregulares,
ou fica inserido em um padr ão espacial diferente que foi reconstru ído nos perío -
dos seguintes" ( Tannier e Pumain, 2005, p. 4 ) *
dem ser observados por meio da geometria dos sistemas complexos não linea -
res. Como lembrou Brown:
Qi -l.i-
:
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3
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i
]
EE
Fig. y.6 , Exemplo do aumento da complexidade de uma malha urbana em trê s est ágios
de desenvolvimento. Fonte: adaptado de Helie , 2009 , p. 4 .
hexágono inicial a partir
11 e que , por sua vez , d ã o
ptado de De Colla , 1985, Em outro estudo, Cavanagh e Laxton (1994 ) verificaram que a dimensão
fractal dos sistemas de assentamento na Laconia, o territó rio da antiga Esparta,
variou ao longo do tempo e refletia mudanças importantes na distribuição da
população entre assentamentos de tamanhos diferentes * Essa é uma técnica que
disso,
tet áis e, a partir pode e deve ser aplicada a muitos outros conjuntos de dados existentes A for - *
r padrões no registro autossimilaridade inerente da relação fractal significa que uma amostra regional
ção desses padrões e, pode ser extrapolada a todo um sistema de assentamentos 1 Isto é particular-
'
- social que os produ- mente ú til nos casos arqueológicos, porque a maioria dos levantamentos n ão
irais n ã o são apenas abrange regiões inteiras ou sistemas de assentamento *
mte que criou os pá - Alé m disso, a estrutura intraurbana ( Figura 7*6 ) de alguns assentamentos
lmente n ão lineares, tradicionais també m pode ser analisada por meio da geometria fractal ( Eglash
) lineares ' ( Brown et
et al , 1994; Eglash, 1999, pp* 20 - 38 ) Essas estruturas apresentam dimensões
*
.e , da sua população,
* os sistemas sociais complexos podem surgir sem qualquer estí mulo externo, e
ica nas sé ries criadas seus padrões podem ser o resultado exclusivo da din â mica interna do sistema *
; Brown et al , 2005,
* Entretanto, como os mesmos autores observaram ( pp. 60 61), nem todos os
-
î tria dos lugares cen - padrõ es de assentamento são fractais Os pesquisadores citam, por exemplo,
*
oso fractal por repli - que a grade ortogonal de uma tí pica cidade romana tende a ser euclidiana em
:entrais ( Figura 7.5) * vez de fractal, embora sua fractalidade dependa dos detalhes das quadras dessa
) edecem à regra hie
- grade. Assim, embora a grade seja autossimilar, ela não é fractal, porque a di -
î rpretadas pela geo - mensão é uma í ntegra e n ã o uma fra ção*
: Witschey, 2003) O * Um estudo de geometria fractal aplicado às cidades egípcias feito por Lehner
s é a distribuiçã o es- -
( 2000, pp 275 353) evidenciou a modelagem dos processos sociais e espaciais a
*
as, que caracterizan! partir da imagem mapeada que essa sociedade produziu * Em outro exemplo,
terogeneidade ( con - Brown e Witschey ( 2003) observaram que, embora a grade interna da planta
-
o periferia ( Tannier de Teotihuacan, no México, não seja fractal, seus limites irregulares talvez o
sejam * Nesse sentido, o estudo das aparentes similaridades nas malhas urbanas
tal são altamente dependentes dos métodos de geração dos mapas que repre-
sentam as superfícies constru ídas utilizados para medição da dimensã o fractal *
Consideraçõ es Finais
No in ício das atividades do Grupo de Teoria e Método, nossa intenção era am-
pliar o conhecimento de diferentes modelos teó ricos que pudessem contribuir
para o estudo da cidade antiga, a fim de que fossem aplicados nas pesquisas
realizadas pelos membros do Labeca Entre os temas tratados ao longo das reu
* -
ni ões estiveram os levantamentos de campo, a arquitetura, a monumentalidade,
a intera ção sociopolí tica, a emergê ncia da polis, a cidade como imagem e a ar -
queologia fractal*
Neste trabalho, optamos por centrar nossa discussão nos enfoques que
concebem a cidade como um elemento imagé tico Assim, foi dado destaque à s
*
dos pela análise frac - Embora as condições da interação espacial das cidades no passado sejam
los mapas que repre - muito diferentes das atuais, especialmente em termos de variedade e extensão,
da dimensão fractal de hierarquia e diferenciação, a comparação das estruturas espaciais de eras pas -
a das supostas estru - sadas com as atuais pode ajudar a identificar os processos sociais que estão por
lo e bem identificado trás de sua morfogênese.
inte, mas a tecnologia Afinal, se na antiguidade a cidade era entre outras coisas uma resposta do
evantamento e trata
tnto remoto do solo,
- homem ao caos da natureza e ao medo do desconhecido, hoje as grandes aglo -
merações urbanas parecem refletir exatamente o oposto daquilo que no passado
modelos de elevação elas buscaram evitar: o caos, a desordem e o medo Talvez por isso o retorno à »
s assentamentos aju - natureza hoje seja associado à ordem, à tranquilidade e ao equilíbrio, algo que
lo disso, aplicado ao as metrópoles não parecem mais capazes de oferecer »
ue empreende um le -
diar uma abordagem
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