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A gente notou que tinha alguma coisa diferente quando ele tinha 4 ou 5 anos de idade.

Mas
era difícil ter certeza... Ele ainda estava nas cores primárias, que não são um problema tão
sério assim. Mesmo assim, pedimos as professoras da época que investigassem. As respostas
vieram negativas e hoje compreendemos que a rapidez do aprendizado dele impediu que o
diagnóstico fosse confirmado. Mas há alguns meses atrás veio um chororô na prova de
Matemática: porque ele não tirou 12 se ele pintou certo de azul? Chegou a pedir lápis mas
forte para a professora enxergar. E a prova estava efetivamente pintada...de roxo!

Nós não tínhamos mais dúvida: o Rapha é daltônico! Para completar o diagnóstico, recorremos
primeiro ao Google. E descobrimos um teste que deveria ser obrigatório em todas as escolas: o
teste de Ishihara. É um teste simples, de 10 minutos. Mas se você está perto de um daltônico,
não tem como não se surpreender.

Pra quem não sabe o Daltonismo é bem curioso. Não que você não enxergue as cores. Você
não enxerga as tonalidades. Portanto, rosa e cinza podem ser exatamente a mesma coisa...

Nossas reações foram diversas. A Márcia começou a chorar, eu, enxerguei um universo de
possibilidades. Pensa só, um código diferenciado de cores que só um daltônico pode enxergar!
Até hoje tenho uma foto dos Power Rangers representados com as cores visíveis por um
daltônico. Só um daltônico consegue enxergar duas figuras iguais!!!

Figura do power rangers

Mas o mundo não foi construído assim... Se você pensar, existe acessibilidade pra quem não
enxerga, pra que não ouve, mas pouco existe para aqueles que não enxergam cores. Os sinais
de trânsito, por exemplo, são verdes e vermelhos. Ou seja, iguais. E um mapa de metrô então?
Porque fizeram tantas linhas iguais?

Na prática, as dificuldades começam na escola. Temos a sorte de ter as crianças matriculadas


em uma escola cujos dirigentes são profissionais experientes de educação. O corpo docente foi
avisado do diagnóstico e agora o Rapha tem ajuda em todas as questões de cores. O Super-
homem roxo e vermelho ganhou nota máxima da professora de inglês que entendeu que
aquilo era o blue dele. Mas ficamos preocupados até pelos outros. Ficamos assustados com
relatos na Internet de professores arrastando crianças pelo braço e as ridicularizando em
público pela sua incapacidade nata de ver cores.

Daltonismo não tem cura. O máximo que você consegue são óculos de algumas centenas de
dólares que vão apenas minimizar o problema. Mas, se a informação for difundida, também
não será um problema. Hoje existem sites especializados em orientar códigos de cores levando
em consideração o daltonismo. Existem informações diversas para quando um daltônico lhe
perguntar qual é o vermelho você não olhar pra ele pensando que é um idiota...

Porque, então, um gene estranho desse, recessivo ainda por cima, sobreviveu tanto tempo?
Para nossos antepassados caçadores, o daltonismo era uma vantagem competitiva. A
camuflagem, mesmo na natureza, se baseia em semelhança de cores. Ao tirarmos uma das
componentes cores, as diferenças são realçadas ao invés de se assemelharem. A noite o
daltônico leva a vantagem, pois é capaz de ver com mais contraste. Aliás, apesar de enxergar
pouco mais de 500 cores, o daltônico é capaz de identificar uma gama maior no espectro
violeta.
Não que a gente não possa se divertir com isso. A Márcia deve ter mais de 1000 vídeos
pedindo pro Rapha dizer as cores dos lápis de cor. Aliás, a identificação por número de lápis é
uma das melhores maneiras de se ajudar um daltônico. Mas não se empolgue com caixas
multicoloridas. Ele vai achar que é sacanagem... Daltônicos geram muitas histórias engraçadas,
nos links abaixo com certeza você dará muitas risadas.

O que estamos fazendo então? A gente não deixa a disfunção prevalecer. Com o problema
identificado, vamos acompanhando o Raphael em toda sua caminhada escolar. Esperamos que
ele cresça levando o daltonismo com bastante humor e que as pessoas passem a entender de
uma vez por todas que combinar roupas não é a coisa mais simples do Universo.

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