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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA DA UNIÃO NO ESTADO DE MINAS GERAIS

EXMO(A). JUIZ(A) FEDERAL DA 30ª V A RA D O J U IZAD O E S PE CIAL F E D E RAL D A S E Ç ÃO


JUDICIÁRIA DE MINAS GERAIS

PROCESSO ELETRÔNICO

UNIÃO, representada pela Procuradoria da União no Estado de


Minas Gerais, por intermédio do Advogado da União que esta subscreve, nos termos da
Lei Complementar nº 73/93, vem apresentar CONTESTAÇÃO face às alegações da parte
autora, pelos motivos de fato e de direito a seguir aduzidos.

I. SÍNTESE DO PEDIDO

Trata-se de ação ajuizada sob o rito dos Juizados Especiais


Federais, por meio da qual a parte autora pretende o recebimento do seguro-
desemprego.

No entanto, conforme será demonstrado a seguir, razão não lhe


assiste.

II. FUNDAMENTOS JURÍDICOS

II.1. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS NECESSÁRIO S P AR A O R E C EBIM ENTO D O


SEGURO-DESEMPREGO

A parte autora, em 01/04/2019, foi demitida sem justa causa da


empresa MAXXI EDUCACIONAL LTDA, razão pela qual pleiteou o recebimento do seguro-
desemprego.

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Ao realizar o cruzamento dos dados da parte autora com aqueles


constantes nos bancos de dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados –
CAGED/MTE, da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS/MTE, do Cadastro Nacional
de Informações Sociais – CNIS/INSS e da Caixa Econômica Federal, verificou-se que ela é
sócia da empresa ADRYANO LOCAÇÃO E TRANSPORTES LTDA, que se encontra ati va na
Receita Federal, como comprovam os documentos em anexo.

Desse modo, contata-se que a parte autora não f az j us a o s egu ro-


desemprego, na m edida em que o benefício só é devido ao trabalhador di spe nsad o s em
j usta causa que, dentre o u tr os r e qui si tos, c om p rove n ão p ossu i r r e nd a p r óp ri a d e
qual quer natureza suficiente a sua m anutenção e de sua f amíli a , conf orm e precei tua o
art. 3º, V, da Lei nº 7.998/90, e o art. 3º, IV, da Resolução CODEFAT nº 467, de 21 de
setembro de 2005, in verbis:

Lei nº 7.998/90

“Art. 3º Terá direito à percepção do seguro-desemprego o


trabalhador dispensado sem justa causa que comprove:
I - ter recebido salários de pessoa jurídica ou pessoa física a ela
equiparada, relativos a cada um dos 6 (seis) meses imediatamente
anteriores à data da dispensa;
II - ter sido empregado de pessoa jurídica ou pessoa física a ela
equiparada ou ter exercido atividade legalmente reconhecida como
autônoma, durante pelo menos 15 (quinze) meses nos últimos 24
(vinte e quatro) meses;
III - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de
prestação continuada, previsto no Regulamento dos Benefícios da
Previdência Social, excetuado o auxílio-acidente e o auxílio
suplementar previstos na Lei nº 6.367, de 19 de outubro de 1976,
bem como o abono de permanência em serviço previsto na Lei nº
5.890, de 8 de junho de 1973;
IV - não estar em gozo do auxílio-desemprego; e
V - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente à s u a
manutenção e de sua f amília.”

Resolução CODEFAT nº 467

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“Art. 3º Terá direito a perceber o Seguro-Desemprego o trabalhador


dispensado sem justa causa, inclusive a indireta, que comprove:
I - ter recebido salários consecutivos no período de 6 (seis) meses
imediatamente anteriores à data da dispensa, de uma ou mais
pessoas jurídicas ou físicas equiparadas às jurídicas;
II - ter sido empregado de pessoa jurídica ou pessoa física
equiparada à jurídica durante, pelo menos, 06 (seis) meses nos
últimos 36 (trinta e seis) meses que antecederam a data de
dispensa que deu origem ao requerimento do Seguro-Desemprego;
III - não estar em gozo de qualquer benefício previdenciário de
prestação continuada, previsto no Regulamento de Benefícios da
Previdência Social, excetuando o auxílio-acidente e a pensão por
morte; e
IV - não possuir renda própria de qualquer natureza suficiente a sua
manutenção e de sua f amília.”

Importante frisar que, assim como a constituição de uma empresa,


sua baixa possui normas que devem ser seguidas. A empresa da parte autora se encontra
ativa, o que pressupõe a auferição de renda, pois, caso contrário, não haveria razão para
a parte autora mantê-la em atividade.

Assim, uma vez que a condição de sócio de empresa é incompatível


com a condição de desempregado, os pedidos autorais não merecem prosperar.

II.2. IMPOSSIBILIDADE DE CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA

Há de se considerar que a Lei nº 9.494/97 estabeleceu restrições à


concessão da tutela de urgência contra as pessoas de direito público, consoante se infere
do disposto no seu artigo 1º, que se transcreve na sequência, in verbis:

“Art. 1º Aplica-se à tutela antecipada p r e vist a n o s a rti g os 2 7 3 e


461 do Código de P r ocesso C i vil o d i spost o n o s a r ts. 5 º e s e u
parágrafo único e 7º da Lei 4.348, de 26 de j unho de 1964, n o a r t .
1º e seu § 4º da Lei 5.021, de 9 de j unho de 19 66, e nos arts.. 1º, 3º
e 4º da Lei 8.437, de 30 de j unho de 1992.”

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Cabe então notar que, entre os dispositivos citados no artigo 1º da


Lei nº 9.494/97, está o artigo 1º da Lei nº 8.437/92, cuja transcrição parcial tem o
seguinte teor:

“Art. 1º. Não será cabível medida liminar contra os atos do Poder
Público, no procedimento cautelar, ou em quaisquer outras ações
de natureza cautelar ou preventiva, toda vez que providência
semelhante não puder ser concedida em ações de mandado de
segurança, em virtude de vedação legal.
..................................................................................... ........
§ 3º Não será cabível medida l iminar que e s got e, n o t o do o u e m
parte, o objeto da ação.”

Nesse ponto, note-se que a concessão da tutela de urgência


requerida pela parte autora significa o esgotamento total do objeto da presente ação.

Não há dificuldade, portanto, para enquadrar o caso dos autos na


vedação imposta pelo supramencionado artigo no 1º da Lei nº 9.494/97 combinado com o
artigo 1º, § 3º, da Lei nº 8.437/92.

Ademais, o art. 2º-B, da Lei nº 9.494/97, a seguir transcrito,


também configura óbice para o deferimento da tutela de urgência no caso em análise, na
medida em que o pagamento de seguro-desemprego enseja a liberação de recurso:

“Art. 2o -B. A sentença que tenha por objeto a liberação de rec ur so,
inclusão em folha de pagamento, reclassificação, equiparação,
concessão de aumento ou extensão de vantagens a servidores da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, inclusive
de suas autarquias e fundações, somente poderá ser executada
após seu trânsito em j ulgado.”

É de se ressaltar, ainda, que o deferimento da medida de urgência


desvirtua a sistemática prevista no art. 100 da CF/88, relativa aos pagamentos devidos
pela Fazenda Pública sujeitos à ordem cronológica da apresentação dos precatórios/RPVs .
Com efeito, o pagamento de valores retroativos só pode ser oponível a este ente público
após o trânsito em julgado de eventual sentença de procedência do pedido autoral:

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Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal,


Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária,
far-se-ão excl usi vamente na ordem cronológica de apresentação
dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a
designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e
nos créditos adicionais abertos para este fim.
(...)
§ 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de
precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas
em leis como de pequeno valor que as Fazendas re f eri d as d e vam
f azer em virtude de s entença j udicial transitada em j ulgado.

Além disso, diante da irreversibilidade da medida antecipatória,


uma vez que os valores referentes ao seguro-desemprego possuem caráter alimentar, o
que impede a União de reavê-las na hipótese de improcedência dos pedidos, a tutela de
urgência não pode ser concedida.

Por fim, como já demonstrado nesta contestação, o requisito da


probabilidade do direito alegado, previsto no art. 300, do NCPC, não se encontra presente,
do mesmo modo que o perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo,
especialmente se considerarmos o recebimento pela parte autora de verbas rescisórias e
o saque dos valores depositados em sua conta do FGTS, suficientes para sua subsistência.

III. PEDIDO

Em vista de todo o exposto, pugna a Uni ão seja julgado


improcedente o pedido.

Protesta provar o alegado por todos os meios em Direito admitidos,


notadamente a juntada da documentação em anexo.

Pede deferimento.
Belo Horizonte/MG, data do envio.

JOÃO GOMES DUTRA NETO


Advogado da União

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