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Autos: XXXXXXXXXXXXX
Recorrente: XXXXXXXXXXXXX
Recorrida: XXXXXXXXXXXXX
Informa desde já a Recorrente que o preparo não foi recolhido, pois o indeferimento dos
benefícios da assistência judiciária gratuita pela r. sentença recorrida é também objeto
deste recurso.
Pede deferimento.
XXXXXXXXXXXX/UF
OAB/MG 131.717
Autos: XXXXXXXXXXXXXXXX
Recorrente: XXXXXXXXXXXXXXXX
Recorrida: XXXXXXXXXXXXXXXX
Eméritos Julgadores,
A r. sentença proferida nestes autos às fls. XX/XX deve ser reformada pelas razões de
fato e de direito que este recurso passa a expor:
I.a – Do preparo
Neste sentido, pela primazia da celeridade e da economia processual e pelo fato de que a
presente questão compõe o mérito destas razões recursais, pede-se vênia para remeter a
leitura ao tópico “III.a – Dos benefícios da Assistência Judiciária Gratuita”, em que
tal ponto foi devidamente abordado.
I.b – Da tempestividade
A Recorrente, outrora Autora, ajuizou ação de indenização por danos materiais e morais
em face da Recorrida, em razão de ter tido sua bagagem por esta extraviada durante uma
viagem realizada do XXXXXXXXXXX/UF a XXXXXXXX/UF, em XXXXXXXX de
XXXX.
Apesar do fato, a Recorrida manteve-se inerte, não indenizando a Recorrente em valor
compatível com os danos por ela suportados.
Não obstante todo o respeito devido ao citado provimento judicial, entende a Recorrente
pela necessidade de sua reforma, não podendo se conformar com os termos prolatados,
sob pena de ver indevidamente crucificado seu direito e, ainda, em termos amplos, ver
distorcido o direito consumerista pátrio, consoante se verá adiante.
A Recorrente é pessoa idosa, aposentada, não possui fonte de renda considerável, vive
cuidando do esposo, pessoa idosa e enferma já há vários anos.
Não é necessário muito para ver que a defesa ignora completamente a letra e o espírito
da Lei 1060/50. E vai além: ignora cabalmente o princípio do acesso à Justiça,
constitucionalmente consagrado.
Outra bastante distinta é especular acerca das condições financeiras da Recorrente, sem
apresentar, para tanto, sequer indícios de provas a respeito.
Então, faz-se necessário um questionamento: qual a relação lógica e direta entre o fato
de a Recorrente vir a juízo postular a reparação de um prejuízo causado pela própria
Recorrida (seja ele de qual monta for) e a sua capacidade financeira de arcar ou não com
as custas e despesas do processo?
Eméritos Julgadores: como pode subsistir uma decisão que, com a devida vênia, é
baseada numa mera e simples presunção? Como pode prevalecer um provimento
judicial que, lastreado em suposição, sequer instrui o processo acerca deste ponto
específico e, assim, presume sobre as condições financeiras da parte, para
prejudicá-la?
Para tanto e, considerando que ali passaria aproximadamente uma semana, resolveu
colocar na bagagem seus bens mais valiosos, que lhe levantariam a autoestima e que
causassem boa impressão e até mesmo respeito por parte de seus familiares, que veriam
que a Recorrente, embora humilde e de cidade longínqua do interior de Minas Gerais,
valoriza as confraternizações familiares e sua família, fazendo questão de se apresentar
com o que de melhor possuia para tal.
No entanto, jamais se pode dizer que os bens levados na viagem indicam que a
Recorrente possui condição financeira sólida e tranquila, apta a arcar com os custos
processuais.
Tais bens foram adquiridos ao longo da vida, em locais distintos. Ou seja, diluindo-se o
seu valor total durante um período de tempo espaçado, jamais a r. decisão poderia
presumir que a Recorrente tem condições financeiras diversas das por ela alegadas.
Caso distinto seria se os bens extraviados tivessem sido adquiridos numa compra única,
em data próxima aos dias atuais, ou mesmo tivessem sido adquiridos durante a viagem.
Aí, talvez, a citada presunção judicial fizesse sentido. Não é o caso dos autos.
Por fim, uma lamentável contradição irônica que se constata: adiante se verá que, noutro
ponto, a r. decisão recorrida condenou a Recorrida ao pagamento da quantia de
R$XXXXX à Recorrente a título de indenização por danos materiais.
Se a Recorrente pleiteia uma indenização neste importe e este fato, por si só, indica
que ela tenha boas condições financeiras, então, que no mérito, a decisão, partindo
da mesma presunção, reconheça todo o dano material por ela sofrido para que,
então, consolidada sua situação econômica a partir do ressarcimento financeiro,
tenha ela condições reais de arcar com as custas e despesas processuais.
Consoante a jurisprudência:
Eventualmente, caso assim não entenda esta Egrégia Turma, acaso mantida a r. sentença
neste ponto, requer seja a Recorrente intimada para que, em tempo hábil, recolha o
preparo (Ag. XXXXXXX. Rel. Des. XXXXXXXX. XXª Câmara Cível).
O caso dos autos é típico daqueles que clamam a incidência do direito do consumidor,
conforme detalhado na peça inicial, a partir do enquadramento da Recorrente como
consumidora dos serviços de transporte prestados pela Recorrida (arts. 2º e 3º do CDC).
Por sua vez, a hipossuficiência da Recorrente sequer foi analisada pela r. sentença que,
no único parágrafo dedicado a tratar dos danos materiais, limitou-se a dizer que a
Recorrente “não juntou aos autos documento que comprove a propriedade dos bens,
tampouco restou comprovado que os objetos citados estariam em sua mala quando do
extravio”.
Desse modo, o conceito de hipossuficiência vai além do sentido literal das expressões
pobre ou sem recursos (…). O conceito de hipossuficiência consumerista é mais amplo,
devendo ser apreciado pelo aplicador do direito caso a caso (…).
Ou lado outro, não seria a Recorrida a responsável por trazer aos autos prova técnica
acerca do extravio, seus motivos, suas particularidades, o momento e o local do
ocorrido? Também entendemos que não.
Portanto, vê-se que a r. sentença recorrida falhou ao não analisar o pedido de inversão
do ônus da prova expressamente feito pela Recorrente em sua peça inicial.
No que toca aos danos materiais, retome-se o que afirmou a r. decisão (fls. XX):
Não obstante ter iniciado bem a análise deste ponto, a r. sentença incorreu em falsa pista
ao deixar de ponderar todos os aspectos necessários à completa elucidação da questão.
Não seria razoável que, numa viagem de aproximadamente uma semana, para um outro
estado, a Recorrente amealhasse aqueles bens tabelados na inicial, para levá-los
consigo, com o fim de comparecer às ocasiões para as quais fora convidada?
Ora, como pode a Recorrida querer discutir e impugnar os bens extraviados arrolados
pela petição inicial se, no momento da viagem da Recorrente, a empresa sequer se deu
ao trabalho de recolher a declaração do valor da bagagem despachada (que, certamente,
conteria a descrição de bens e seus valores)?
Não bastasse a presunção já por ela carreada, a peça de contestação vai além e,
lamentavelmente, afirma: “O Boletim de Ocorrência de fls. XX a XX, não tem o condão
de comprovar que os bens descritos realmente estavam no interior da mala. Ressalta,
ainda, que o Boletim de Ocorrência não tem qualquer valor comprobatório dos fatos
alegados pela Autora, uma vez que trata-se de documento produzido unilateralmente
por este (sic), que narra os fatos como mais lhe convier, para o escrivão da Delegacia
de Polícia, de forma que tal documento não tem fé pública e por tal motivo a Empresa
Ré o impugna veementemente”.
Totalmente descabida a afirmação de que o citado Boletim não possui valor algum. Ora,
a lavratura do ato policial é um direito posto à disposição de todo cidadão em ocasião de
lesão ou ameaça de lesão a direitos e interesses. Numa comparação, quer a Recorrida
fazer crer que seus “expedientes e procedimentos internos” seriam, então, mais
“judicialmente valiosos” do que o documento relatado pela autoridade policial?
Como pode, então, a Recorrente se conformar com a r. decisão prolatada nos autos,
sendo que, ao que tudo indica, o provimento acolheu (ainda que sutil e indiretamente) os
argumentos empresariais?
Em defesa (fls. XX), a Recorrida afirmou que “entrou em contato com a autora e
informou o valor do teto do decreto 2521/98, sendo de R$XXXXXXXX” e,
posteriormente, que “melhorou a proposta até o importe de R$XXXXXXXXX”.
Mais à frente (fls. XX), para justificar o valor oferecido, a Recorrida conclamou o art.
74, §2º do citado decreto (trazido em excerto anexo), que afirma: “O valor da
indenização será calculado tendo como referência o coeficiente tarifário do vigente
(sic) para o serviço convencional com sanitário, em piso pavimentado, de acordo com
o seguinte critério: a) até três mil vezes o coeficiente tarifário, no caso de danos; e b)
até dez mil vezes o coeficiente tarifário, no caso de extravio”.
E a contestação afirmou que o coeficiente tarifário seria, atualmente, de XXXXX.
Mas, reparem, que o citado parágrafo segundo do art. 74, que define o referido
teto, foi revogado pelo artigo 2º, inciso XII, Decreto 8.083 de 2013 (trazido em
anexo neste excerto particular)!
Logo, a r. sentença não poderia ter utilizado o frágil critério posto pela Recorrida para
estipular o montante indenizatório.
Além disso, vejam mais um equívoco perpetrado pela r. decisão atacada, data venia: a
Recorrida confessou que a ofereceu à Recorrente a quantia de R$XXXXXX para
resolver administrativamente o extravio da mala.
Ora, então, visto isso, como poderia a r. decisão determinar uma indenização por danos
materiais num valor inferior àquele oferecido pelo próprio agente causador do dano?
Voltando aos fatos: caso a Recorrente apresentasse, com a inicial, comprovantes fiscais
de produtos que ela tivesse listado como se fossem os extraviados, estaria provado que
estes bens “documentados” estivessem, de fato, na mala? Qual a relação lógico-
probatória entre uma coisa e outra? Onde reside a lógica instrutório-processual que
fecha os olhos à realidade e abre espaço para que a parte, em juízo, fraude documentos
para que, então, consiga comprovar suas alegações?
Repita-se: os bens extraviados listados na inicial foram adquiridos pela Recorrente
ao longo de vários anos, comprados em ocasiões diferentes, em locais distintos:
como poderia ela guardar documentos fiscais de todos eles com o único intuito de,
na ocasião em que tivesse sua mala extraviada numa viagem, apresentá-los em
juízo para, então, heroicamente, se sentir aliviada por ter “comprovado a
propriedade” dos bens?
A defesa (fls. XX) distorceu os fatos e afirmou que, no momento de preencher o RDE, a
Recorrente não teria listado os bens de maneira integral e que só em juízo teria ela
relacionado à exaustão os bens extraviados: flagrante mentira!
Fechar os olhos para estes fatos é forjar uma realidade processual inaceitável e
desvirtuada do mínimo de verossimilhança.
Mas vejam, Excelências, que quando passam ao largo desta faculdade, tais
empresas são beneficiadas, pois, em casos como dos autos, o consumidor,
vulnerável e hipossuficiente, vê jogado e invertido contra si o ônus probatório
destinado às empresas, qual seja, aquele que decorre da faculdade dada às
empresas de solicitar a declaração de bens e valores das bagagens transportadas.
Logo, o consumidor sequer é questionado sobre tal declaração e, em caso de
extravio, ainda é obrigado a suportar o prejuízo por ele próprio não causado.
Assim, as empresas do setor “lucram” duas vezes: não se importam em exigir a citada
declaração e, assim, não possuem expediente neste sentido, nem funcionário
responsável pela tarefa e, ainda, em casos de extravio, se defendem alegando que a
relação de bens apresentada pela outra parte não é verdadeira ou completa, escapando,
ardilosamente, do dever legal de indenizar.
Noutro ponto a própria r. decisão (fls. XX), ao pontificar sobre o dano moral,
afirmou que os bens extraviados “certamente foram escolhidos e comprados em
locais e momentos diferentes”. Fica cada vez mais claro a abusividade de se exigir
da Recorrente a apresentação de documentos ou notas fiscais sobre a propriedade
dos bens, para que assim, fosse “provado” o prejuízo material a ela imposto.
Pois bem, conforme se lê, o acórdão em muito se alinha com a tese defendida pela
própria Recorrente desde o início deste feito. Por isso, resolveu a Recorrente estudar a
fundo os argumentos jurídicos trazidos pelo e. Desembargador Relator em seu voto.
E para sua curiosa surpresa, a Recorrente percebeu que, os fatos ocorridos naqueles
autos e os fundamentos trazidos pelo i. acórdão, quanto aos danos materiais, são deveras
semelhantes (senão, idênticos) ao caso deste feito.
(…)
Alega a segunda apelante que há total carência de provas quanto aos danos materiais
acolhidos pelo Julgador a quo; que a recorrida não apresentou uma única prova do
prejuízo material, limitando-se à sua declaração unilateral, relacionando
superficialmente os bens que espera sejam aceitos como incontroversos; que não há
prova quanto ao valor apontado pela recorrida dos bens mencionados na referida
relação; que não foi decretada a inversão do ônus probatório, sendo ônus exclusivo da
recorrida firmar o convencimento do Julgador com documentos e provas.
(…)
Em primeiro lugar, deve-se ressaltar que a relação travada entre as partes se trata de
típica relação de consumo, enquadrando-se a empresa aérea no conceito de fornecedor
e A. C. M. no de consumidora.
(…)
Destarte, para ser possível a inversão do ônus da prova, exige-se a presença de pelo
menos um dos requisitos elencados. No caso, tenho que está evidente a
verossimilhança das alegações da primeira apelante. Em momento algum a segunda
recorrente contestou o extravio da bagagem, sendo tal fato, portanto, incontroverso.
O MM. Juiz de primeiro grau, em sua sentença, inverteu o ônus probatório (f. 125-
126). Verifica-se que a primeira apelante requereu a inversão do ônus da prova na
petição inicial (f. 10). Em sua contestação, a segunda recorrente não impugnou tal
pedido. A primeira apelante juntou aos autos um rol de objetos que estariam em sua
bagagem extraviada e não encontrada. A segunda apelante não produziu nenhuma
prova contrária, restringindo-se a alegar que a primeira recorrente não teria
produzido prova constitutiva de seu direito. Ora, é absolutamente provável que uma
pessoa que viaja para o exterior, na estação do inverno, leve em sua bagagem uma
quantidade razoável de roupas, como a constante no rol apresentado pela primeira
apelante às f. 14. Também é provável que uma pessoa em viagem a passeio leve
máquina fotográfica, com os devidos acessórios (carregador e cartão de memória),
conforme orçamento de f. 15. E, finalmente, é também absolutamente provável que
uma mulher carregue em sua bagagem os produtos de higiene enumerados às f. 16.
Assim, não há porque não considerar o rol de objetos perdidos apresentados pela
primeira recorrente como verossímeis. Assim, presente o requisito legalmente exigido,
viável e devida se mostra a inversão do ônus da prova, restando afastado o argumento
de inobservância pela autora dos ditames do artigo 333, I, do CPC.
(…)
Entende a segunda apelante ser indevida a reparação por danos materiais. Alega que o
MM. Juiz singular ultrapassou os limites da legalidade, com o afastamento da
aplicação do Pacto de Varsóvia. Além disso, diz que não há provas de que os bens
narrados na exordial estavam efetivamente dentro da bagagem extraviada. Entendo
correta a decisão do MM. Juiz sentenciante. Como salientado acima, ocorreu a
inversão do ônus da prova. Assim, cabia à segunda recorrente provar que os bens
listados na petição inicial não se encontravam na bagagem extraviada, ou seja, que o
dano material sofrido não era aquele alegado. No entanto, não se desincumbiu a
segunda apelante do referido ônus, não restando outra alternativa senão considerar
como válida a listagem de f. 14-16. Conforme dito supra, demonstra a experiência
ordinária a probabilidade de que uma pessoa que viaja para o exterior a passeio, em
época de inverno europeu, coloque em sua bagagem a quantidade de roupas listada,
leve máquina fotográfica e acessórios e produtos de higiene pessoal.
(…)
Vejam, então, Ínclitos Julgadores, que o acórdão trazido pela i. sentença recorrida como
baliza para os danos morais é, na verdade, fundamento para sua própria reforma, no
tocante aos danos de ordem material.
Como dito alhures, deveria ter sido invertido o ônus da prova, para que então, facilitado
o direito da Recorrente em razão da presença dos requisitos legais, fosse a Recorrida
impelida a desconstituir a pretensão ressarcitória, de forma robusta, com provas e
argumentos razoáveis, não a partir de meras e frágeis presunções e suposições, como
fez.
Isso posto, mediante todos os sólidos argumentos apresentados, deve ser reformada a r.
sentença para que, a partir da inversão do ônus da prova e dos elementos já presentes
nos autos, seja a Recorrida condenada ao pagamento da quantia de R$XXXXXXXX a
título de indenização por danos materiais à Recorrente.
III.d – Dos danos morais
“No que se refere à fixação do valor dos danos morais, considerando os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade, observando-se ainda que o autor não concorreu
em momento algum para o dano, bem como o fato de que sua bagagem não foi
ressarcida posteriormente, entendo como razoável o arbitramento da quantia de R$
XXXXXX como indenização pelos danos morais experimentados pela requerente.”
IV – DOS PEDIDOS
Por todo exposto, a Recorrente requer seja o presente recurso conhecido e provido, com
a consequente reforma da r. sentença atacada, determinando-se: