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RESUMO ABSTRACT
O propósito deste artigo é compreender as rela- This paper aims to understand the relation-
ções existentes entre a linguagem e a tradição em ship between language and tradition in Hans
Hans G. Gadamer a partir das obras Verdades e G. Gadamer from the works Truth and Meth-
Métodos I e II. A compreensão ou a incompreen- od I and II. The understanding or misunder-
são, segundo Gadamer, consistem um fenôme- standing, according to Gadamer, consist in a
no de linguagem. A linguagem é autônoma, e a language phenomenon. The language is au-
língua é desenvolvida em contextos e culturas tonomous, and the language is developed in
diferentes. Cada cultura cultiva suas tradições, e different contexts and cultures. Each culture
a linguagem não está desvinculada da tradição cultivates its traditions, and language is not
cultural humana e histórica. A linguagem que te- disconnected from the human and historical
mos é também limitada quando nos deparamos cultural tradition. The language we have is
com algum tipo de fenômeno que nos causa ad- also limited when we face some kind of phe-
miração, que nos deixa “mudos” ou estupefatos, nomenon that makes us wonder, “dumb” or
isto é, sem palavras. Diante desse fenômeno, a stupefied, that is, without words. Given this
linguagem nos falta, pois não haveria palavras phenomenon, we lack the language, because
para explicar aquilo que apreendemos. Ficar sem there would be no words to explain what we
fala, segundo Gadamer, é um modo pelo qual learn. To be speechless, according to Gadam-
estamos apenas começando a dizer e não finali- er, is one way in which we are just beginning
zando nossa fala. to say and not finishing our speech.
Palavras-chave: Gadamer; Linguagem; Tradi- Keywords: Gadamer; Language; Tradition;
ção; Língua e Cultura. Language and Culture
1 Pós-graduando em Filosofia pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Brasil. E-mail: pedro.rvmangole@hotmail.com.
símbolo matemático. É verdade que pode ser dizível e expressado por um ra-
o falar lança mão de termos. Mas ciocínio matemático, sem extrapolar os
isso significa que esses termos se limites gramaticais e da razão.
incorporam constantemente no pro- Para Wittgenstein, compreender
cesso de entendimento, recendo sua uma linguagem é dominar uma técnica,
função própria de linguagem no seio
desse processo. [...] O uso filosófi-
o que é possível por meio da observa-
co da linguagem, como vimos, não ção dos jogos de linguagem específi-
possui outra credencial a não ser que cos. Gadamer não está interessado em
se dá na linguagem (GADAMER, técnicas para compreender, dominar e
2002. p. 102). conhecer, pois compreender não signifi-
ca para ele dominar uma técnica ou um
É evidente, assim, que Gadamer conjunto de regras; o Ser que pode ser
rejeita o conceito de linguagem ou de compreendido é linguagem. Ou seja, a
língua wittgensteiniana, aliás, daquilo linguagem não é só aquela que falamos,
que se denomina o 1º Wittegenstein – existem possibilidades de extrapolar-
o da linguagem matemática. Gadamer mos os limites da razão para comuni-
compreende a linguagem como perten- carmos aquilo que ainda está por vir!
cente ao Ser, sem barreiras linguísticas
e sem delimitar o próprio Ser. Estamos Acredita-se que o aprendizado da
de acordo que não podemos delimitar linguagem consiste no fato de se
o próprio Ser! Porém, é pertinente per- dá nomes aos objetos: homens, for-
mas, cores, dores, estado de espirito,
guntar se o Ser a que Gadamer se refere
numero, etc. (WITTEGENSTEIN,
em Verdade e Método inclui também os 1999, p. 26).
animais que possuem um tipo de “ca-
pacidade racional” e cognitiva. A ques- Wittegenstein, na obra Investiga-
tão que se instaura é: o Ser é um tipo de ção Filosófica, parece mudar o curso de
“animal racional e cognoscente”? seu pensamento filosófico no que con-
Para Wittgenstein, em sua obra cerne aos signos linguísticos, outrora
Investigação Filosófica, a análise da rejeitados no Tractatus Philosophicus.
linguagem decorre da necessidade de Na Investigação Filosófica, a lingua-
observar seus diferentes usos e seus di- gem é prática e objetiva. O homem
ferentes jogos linguísticos, de modo que racional pode nomear coisas, ao passo
os homens e os filósofos devem apenas que os animais são desprovidos de tais
ver e deixar tudo como é, ou seja, não capacidades racionais, isto é, de nomear
extrapolar a linguagem, pois esta deve e fazer o uso da língua, assim como de
ser sempre comunicável. A nós, que fa- dominar a própria linguagem!
zemos parte da comunidade linguística, Para o filósofo:
não cabe inventar ou reinventar a própria
linguagem, mas apenas observar o que a palavra “este” no jogo da linguagem,
já está dado. Disso decorre que a lingua- ou a palavra “isto” na elucidação abste-
gem é estática: não sofre mudanças ou nha “isto” chama... Se se quiser evitar
transformações. No entanto, a lingua- confusão, é melhor não dizer que essas
gem é uma construção humana, de for- denominaram algo. E, estranhamen-
ma que cada grupo da comunidade lin- te, já foi dito que a palavra “este” é o
guística têm seus códigos e suas formas nome específico. Tudo que chamamos
conceptuais de comunicar. A divergência sem mais de “nome” é dito apenas num
entre Gadamer e Wittegenstein é que sentido inexato, aproximativo (WIT-
TEGENSTEIN, 1999, p. 26).
para aquele a linguagem pode extrapo-
lar os limites do Ser, enquanto que para
este a linguagem limita o Ser, ou seja, a Enquanto que para um a lingua-
linguagem é restrita apenas àquilo que gem é o próprio Ser arraigado na tradi-