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A formação

inicial de
professores
para a educação
básica: as
licenciaturas
Bernardete A. Gatti
Dossiê Educação

RESUMO ABSTRACT

Este artigo aborda, com fundamento em Grounded on researches, this paper addres-
pesquisas, a questão da formação inicial ses the issue of the initial training provided to
de professores para a educação básica undergraduate students for teaching in ele-
em cursos de graduação. São apresen- mentary, middle and high school education.
tados dados quantitativos sobre as ca- We present quantitative data concerning the
racterísticas desses cursos no Brasil. Evi- characteristics of those courses in Brazil. The
dencia-se a pouca procura de algumas results demonstrate low interest in some
formações e a migração dessa formação knowledge areas and the migration of tho-
para propostas EAD, sobretudo no setor se areas to programs of distance learning,
privado, que é responsável pela maioria mainly in the private sector, which is res-
das matrículas nesses cursos. Discutem- ponsible for most of university enrollments
-se análises qualitativas dos currículos in those courses. This paper also discusses
das licenciaturas, as quais mostram a qualitative analyses of curriculums offered
fragmentação entre a formação em área in those programs, which show a gap be-
de conhecimento e a formação em edu- tween the training in the knowledge field
cação e práticas de ensino, estas ofere- and the training in education and teaching
cidas de modo insuficiente para formar practices, which is insufficient for training
professores. Abordam-se algumas inicia- teachers. It addresses some governmental
tivas governamentais intervenientes no initiatives regarding academic internships.
âmbito dos estágios curriculares. O pa- The scenario is worrisome due to the
norama é preocupante dada a insuficiên-
cia da formação oferecida para subsidiar Keywords: teacher training; teaching
a atuação de um profissional docente na programs; pedagogy; curriculum; distance
educação básica. learning.

Palavras-chave: formação de professo-


res; licenciatura; pedagogia; currículo;
EAD.

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N
o Brasil, país de escolariza- científica. Na era da comunicação, nada mais es-
ção tardia, a necessidade de sencial do que as capacidades de decodificar e in-
incluir nas redes de ensino as terpretar informação, o que permite criação. Essas
crianças e jovens de segmen- capacidades, para seu desenvolvimento, dependem
tos sociais que até poucas da iniciação e do domínio da palavra e da escrita,
décadas atrás não eram aten- do domínio cultural de áreas diversas de saberes,
didas pela educação básica do desenvolvimento de lógicas e capacidade de
colocou grandes desafios, um relacionar, comparar, distinguir, agregar saberes,
deles a formação de professo- o que nos reporta imediatamente à educação, em
res. Com a grande expansão especial aquela que inicia as novas gerações nos
das redes de ensino em curto conhecimentos que foram sistematizados no de-
espaço de tempo e a amplia- correr da história humano-social. A chave para o
ção consequente da necessi- desenvolvimento pleno das capacidades humanas
dade de docentes, a formação destes não logrou, está nos processos educativos. Quem faz educação,
pelos estudos e avaliações disponíveis, prover o en- e como, torna-se questão central nesses processos.
sino com profissionais com qualificação adequada. A formação dos professores tem sido um gran-
Pesam nessa condição não só a urgência formativa, de desafio para as políticas educacionais. Inúme-
mas também nossa tradição bacharelesca, que leva ros países vêm desenvolvendo políticas e ações
a não considerar com o devido valor os aspectos agressivas na área educacional cuidando, sobretu-
didático-pedagógicos necessários ao desempe- do, dos formadores, ou seja, dos professores, que
nho do trabalho docente com crianças e jovens. são os personagens centrais e mais importantes
O crescimento populacional, confrontado com na disseminação do conhecimento e de elementos
o desenvolvimento e a paz sociais, coloca desafios substanciais da cultura. Da Tailândia à França, do
contundentes às sociedades humanas, e a educa- Chile aos Estados Unidos, Inglaterra, Colômbia,
ção, por meio dos professores, certamente tem Suécia, Finlândia, Nigéria, Argentina, Equador,
papel decisivo a desempenhar nesse cenário – o entre tantos outros, medidas vêm sendo tomadas
da possibilidade de ajudar na construção de uma nas duas últimas décadas no sentido de formar de
civilização humana de bem-estar para todos. Isso modo mais consistente professores em todos os ní-
coloca um peso considerável na responsabilidade
das instituições formadoras de professores – uni-
versidades, faculdades ou institutos. No âmbito dos
movimentos das transformações societárias atuais,
BERNARDETE A. GATTI é diretora
a informação e a comunicação ocupam papel cen- do Departamento de Pesquisas Educacionais
tral na vida diária, no trabalho em geral e na vida da Fundação Carlos Chagas.

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veis e de propiciar a esses profissionais carreiras nais professores. Novos caminhos para a forma-
atrativas. Podemos dizer que essa preocupação se ção inicial de docentes ficam na dependência de
tornou mundial. No entanto, quanto à formação atuações em política educacional de modo mais
inicial de professores no ensino superior no Brasil, coerente e integrado, e, na condição de executivos
não tivemos até aqui iniciativa nacional forte o e legisladores, de basear-se em pesquisas para a
suficiente para adequar o currículo às demandas tomada de decisões, dentro de uma visão mais
do ensino, iniciativa que levasse a rever a estrutura ampla de contexto educacional e social. Ficam
dessa formação nas licenciaturas e a sua dinâmica, ainda associados às possibilidades criativas das
em que pesem algumas resoluções do Conselho instituições e pessoas que proveem essa formação.
Nacional de Educação a partir do ano 2000. Os
dados de pesquisa que exporemos abaixo justifi- Demografia das licenciaturas
cariam uma política bem diferente para as licen-
ciaturas no âmbito de seu objetivo, que é formar Conforme os dados apresentados nos resumos
profissionais para o trabalho docente na educação técnicos do Censo da Educação Superior de 2009,
básica, ou seja, formar professores, o que é muito 2010 e 2011 disponibilizados pelo MEC/Inep (Bra-
diferente de formar especialistas disciplinares. sil, 2013a, b e c – últimos dados mais detalhados
disponíveis), observa-se que a grande maioria dos
PANORAMA DA FORMAÇÃO INICIAL DE cursos e das matrículas em licenciaturas está nas
PROFESSORES – AS LICENCIATURAS instituições privadas de ensino superior, e que o
crescimento das matrículas nos cursos que formam
Quando se tece o panorama sobre a formação professores vem sendo proporcionalmente muito
dos professores para a educação básica, através menor do que o crescimento constatado nos de-
de dados de pesquisa disponíveis, verificamos mais cursos de graduação. No relatório técnico de
que o cenário geral não é muito animador (Gat- 2011, lê-se, na página 57, que, em relação a 2010,
ti, Barretto & André, 2011; Diniz-Pereira, 2011; as matrículas presenciais em 2011, no que se refere
Libâneo, 2010; Gatti & Barretto, 2009; Freitas, às licenciaturas, mostram decréscimo de 0,2% e
2007). Há um acúmulo de impasses e problemas aumento de 0,8% para licenciatura a distância, en-
historicamente construídos e acumulados na for- quanto os demais cursos de graduação cresceram
mação de professores em nível superior no Brasil em torno de 12% (Brasil, 2013c).
que precisa ser enfrentado. No foco das licenciatu- Na sequência temporal 2001-2011 há uma
ras, esse enfrentamento não poderá ser feito apenas visível migração dos cursos de licenciatura para
em nível de decretos e normas, o que também é o regime a distância, o que não ocorre na mesma
importante, mas é processo que deve ser feito tam- proporção com outros cursos de graduação. Por
bém no cotidiano da vida universitária. Para isso, exemplo, entre os cursos de bacharelado, 73%
é necessário poder superar conceitos arraigados e eram de oferta presencial em 2011, enquanto ape-
hábitos perpetuados secularmente e ter condições nas 17% das licenciaturas assim se caracterizavam.
de inovar. Aqui, a criatividade das instituições, As licenciaturas a distância oferecidas por institui-
dos gestores e professores do ensino superior está ções privadas detêm 78% das matrículas em cursos
sendo desafiada. O desafio não é pequeno quando de formação de professores. Esse dado é notável,
se tem tanto uma cultura acadêmica acomodada e uma vez que, em 2001, havia apenas matrículas
num jogo de pequenos poderes, como interesses em licenciaturas a distância em instituições pú-
de mercado de grandes corporações. blicas, e, em 2002, a proporção era de 84% de
De um lado, alguns dados da demografia matriculados em EAD nessas instituições, e 16%
educacional podem sustentar reflexões que per- nas instituições privadas. A inversão nesses dados,
mitem a tomada de decisões para esse cenário em oito anos, está certamente associada a políticas
e, de outro, análises da qualidade dos currículos que favorecem a expansão da EAD nesse segmento
oferecidos nos cursos de licenciatura podem ser de instituições. A reordenação do campo da edu-
tomadas como ponto de partida para uma reno- cação a distância por parte do poder público, a
vação formativa no que se refere aos profissio- partir de 2005, criou condições para o crescimen-

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to acelerado do ensino superior nessa modalidade. funções diversas e estão procurando alterar sua
A equiparação da graduação EAD presencial, a condição de emprego. Sua proveniência são as
nova legislação para esses cursos e a instituição escolas públicas, em maioria. Quanto às conclu-
da Universidade Aberta do Brasil abrem novas sões nesses cursos, observa-se uma evasão média
perspectivas de expansão da oferta desses cursos em torno de 80%. Grande parte dos estudos em
(Brasil, 2005; 2006). Mas o monitoramento das EAD é solitária e demanda proficiência em leitura
condições de oferta, que estão bem definidas nos e interpretação de textos, que contatos virtuais ou
instrumentos normativos federais (Brasil, 2007), tutorias fragilizadas não favorecem. Entram tam-
não tem sido realizado com a eficácia necessária bém as dificuldades com as linguagens de áreas
(Gatti & Barretto, 2009). específicas, como sociologia, filosofia e ciências.
Por outro lado, há muitos indícios de que a Também, nessa modalidade, exigem-se hábitos de
multiplicação de consórcios e polos para a oferta estudo que, para os estudantes tardios, já foram
de cursos de licenciatura a distância ocorre sem esmaecidos, demandando um esforço razoável
que um projeto político-pedagógico de formação para sua recuperação. Essas condições são aspec-
docente mais adensado no âmbito de sua articu- tos apontados para as desistências.
lação nacional e local tenha sido desenvolvido e Também os estudantes a distância não são fa-
compartilhado e sem que as estruturas operacio- vorecidos com um convívio em cultura acadêmica,
nais básicas estejam funcionando adequadamente. como o diálogo direto com colegas de sua área e de
A crítica sobre a qualidade dos projetos pedagó- outras, com professores no dia a dia, com a partici-
gicos desses cursos também cabe, como veremos, pação em movimentos estudantis, debates, e com
aos cursos presenciais, mas a questão das estrutu- vivências diversas que a vida universitária oferece
ras operacionais básicas, a dos materiais específi- de modo mais intenso. Ou seja, ficam os futuros
cos que a EAD requer e a dos ambientes virtuais professores carentes de uma socialização cultural
de aprendizagem que são necessários reportam a não desprezível. Evidentemente essas caracterís-
essa modalidade de curso. Barreto (2008), anali- ticas estão associadas à forma como as propostas
sando o portal da Universidade Aberta do Brasil, de EAD para a formação de professores se apre-
evidencia que a arquitetura do programa simples- sentam, em sua maioria, no país. A necessidade
mente remete ao cumprimento das metas estabe- de suportes fortes aos estudantes em cursos a dis-
lecidas no Plano Nacional de Educação quanto ao tância requer cuidados especiais, e o custo de um
número de vagas oferecidas na educação superior, projeto bem formatado, qualificado e consistente é
mas a fundamentação pedagógica da proposta alto. A inquietação que vem se revelando entre os
não é explicitada, limitando-se à referência vaga educadores diante desse quadro é que a inserção,
da metodologia de EAD. Fica-se restrito à dimen- nos moldes propostos, de uma modalidade de for-
são operacional das formulações. Dourado (2008) mação docente que é oferecida ainda de maneira
lembra que é preciso que a centralidade do projeto mais precária que a dos cursos presenciais, em vez
político-pedagógico seja estabelecida e atenção de contribuir para a solução da crise dos processos
maior seja dada às condições efetivas de ensino- de formação de professores, poderá torná-los mais
-aprendizagem nesses cursos, de forma a romper frágeis e desestabilizar uma larga experiência acu-
com a prioridade conferida ao aparato tecnológico mulada de formação através dessa modalidade, já
e ao seu uso, subsumidos como responsáveis dire- experimentada no país em iniciativas públicas di-
tos pela qualidade do ensino ofertada ou pela sua versas, por exemplo, nos estados de Mato Grosso,
falta, o que é um falso conceito. Minas Gerais e São Paulo (Gatti & Barretto, 2009,
Nota-se pelos dados dos Censos, acima refe- cap. VI). Essa modalidade, rica em possibilidades,
ridos, que os alunos de EAD são, em média, dez a despeito das críticas que lhe são devidas, requer
anos mais velhos do que os dos cursos presenciais, alternativas que contribuam para fortalecê-la e
o que sinaliza que a formação a distância nas licen- consolidá-la. Para tanto, os caminhos atuais têm
ciaturas é procurada tardiamente pelos segmentos que ser alterados.
sociais que demandam por esses cursos, os quais, Essas preocupações têm fundamento no exame
em geral, já se acham no mercado de trabalho em dos dados dos Censos citados. Setenta por cento

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dos cursos de pedagogia são a distância: a pro- modalidade em si, que, como já dissemos, é rica
porção para as licenciaturas em matemática é de em possibilidades, mas quanto à forma como ela
61%; em letras, 55%. Verifica-se que entre os con- vem sendo desenvolvida no país, e quanto à sua
cluintes, em 2009, já se constatava que 58% dos pertinência para tipos diferenciados de formação.
formados em pedagogia e 45% dos formados em Cursos a distância demandam: equipes docen-
normal superior fizeram seus cursos a distância. tes com boa formação na área e também quanto
Esses professores trabalharão com crianças em a aspectos específicos do ensino nessa modali-
tenra idade e com a alfabetização, o que exige uma dade; tecnologias sofisticadas e ágeis; materiais
formação delicada, um aprendizado de relações bem produzidos e testados; polos bem instalados;
pessoais, pedagógicas, didáticas, de formas de monitores ou tutores bem formados, tanto nos co-
linguagem específicas. A modalidade a distância nhecimentos de áreas como no uso de tecnologias
não favorece de forma cabal esse tipo de formação, educacionais, apoiados e acompanhados sistemati-
que implica aspectos psicossociais relacionais. O camente; sistemas de controle bem delineados com
próprio currículo desses cursos emula o dos cursos pessoal adequado; avaliação da aprendizagem em
presenciais, que não oferecem formação suficiente formas consistentes, entre outros cuidados. São
quanto a metodologias de alfabetização e ao traba- aspectos nem sempre encontrados na oferta dos
lho na educação infantil, como adiante se verá por cursos EAD no país. Aspecto frágil, e nevrálgico,
dados de pesquisa. que vem sendo apontado em estudos é o exercício
Temos problemas com a alfabetização de crian- da tutoria tal como vem se realizando, tanto do
ças no país, como mostram as avaliações nacionais ponto de vista da seleção dos tutores e sua compe-
e regionais, e como se evidencia pela preocupação tência, como do ponto de vista de sua precariedade
do governo federal lançando a política de “alfabe- contratual (Jorge & Antonine, 2011).
tização na idade certa”. Não temos coerência entre Ainda, comparando os dados relativos ao nú-
a política de formação inicial de professores e as mero de concluintes das licenciaturas, presenciais
necessidades da educação escolar e sua qualidade, e a distância, verifica-se que nos cursos de pedago-
especialmente em seus níveis iniciais. gia o número de concluintes, em cinco anos, caiu
As demais licenciaturas, que formam os cha- pela metade e, nas demais licenciaturas, em torno
mados professores especialistas, mostram percen- de 17%. São perdas que, de um lado, põem em
tuais mais baixos de concluintes do que nos cursos questão o acompanhamento dos cursos formadores
de pedagogia. A oferta de cursos de licenciatura de professores pelos órgãos responsáveis e, de
nessas áreas específicas é bem menor. Pode-se outro, levantam o problema das estruturas insti-
pensar que algumas são disciplinas consideradas tucionais e dos currículos que esses estudantes
“difíceis” ou que têm baixa atribuição de aulas, encontram, ao lado do fator atratividade da car-
o que afeta a remuneração, e esses fatores deter- reira do profissional docente (Gatti et al., 2010).
minam a baixa demanda para algumas licenciatu-
ras. Ou, ainda, considerando que a maior parte da Currículos da formação inicial
oferta de cursos é feita pelas instituições privadas, de professores em nível superior
estas não oferecem aquelas licenciaturas que não
propiciam cobertura dos custos ou lucratividade. Não contamos no Brasil, nas instituições de
Encontram-se nesse caso licenciaturas como física, ensino superior, com uma faculdade, centro ou
química, biologia, geografia, sociologia, filosofia. instituto que centralize a formação desses profis-
Fica evidente, pelos relatórios técnicos dos sionais, de modo integrado, com perfil próprio,
Censos da Educação Superior do Inep, anterior- como observado em outras profissões (engenharia,
mente referidos, que há mudança de modalidade medicina, direito, etc.) e, também, como ocorre
de oferta não só na distribuição dos cursos, mas, em outros países, onde há unidades ou centros de
também, na matrícula dos estudantes: diminuem formação de professores englobando todas as es-
as matrículas em cursos presenciais e aumentam pecialidades, com estudos, pesquisas e extensão
nos cursos a distância. A preocupação dos educa- relativos à educação, à atividade didática e às refle-
dores e pesquisadores com a EAD não é quanto à xões e teorias a ela associadas, nos diversos ramos

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do conhecimento. Pelas pesquisas abaixo citadas, p. 7), ao analisar experiências formativas de do-
no Brasil, os cursos de licenciatura mostram-se centes, assinala que as formações clássicas vol-
estanques entre si e, também, segregam a formação tadas à preparação individual para o trabalho
na área específica dos conhecimentos pedagógicos, têm se revelado ineficazes, ou seja, a concepção
dedicando parte exígua de seu currículo às práticas tradicional de formação inicial de profissionais
profissionais docentes, às questões da escola, da apenas como propedêutica, em forma teórica dis-
didática e da aprendizagem escolar. Isso denota sociada de experiências e conhecimentos adqui-
desconsideração da Resolução no 01/2002 do Con- ridos pela experiência de trabalho, não responde
selho Nacional de Educação (Brasil, 2002). às necessidades de reconversão profissional que
A formação para a prática da alfabetização a contemporaneidade coloca. A formação inicial
e iniciação à matemática e às ciências naturais de um profissional, além da formação acadêmica,
e humanas é precária, como também é precária “requer uma permanente mobilização dos saberes
a formação para o trabalho docente nos anos fi- adquiridos em situações de trabalho, que se cons-
nais do ensino fundamental e no ensino médio. tituirão em subsídios para situações de formação,
Há quase ausência nesses cursos de formação em e dessas para novas situações de trabalho”. Tal
conhecimentos sobre o desenvolvimento cognitivo como é comumente pensada, a formação inicial
e socioafetivo de crianças, adolescentes e jovens, não inclui referências às experiências do exercício
suas culturas e motivações. De modo geral, nas profissional e dos sujeitos, quando sua função seria
ementas dos currículos das licenciaturas encon- exatamente a de orientar a aquisição da experiên-
tram-se, nos fundamentos educacionais, proposi- cia desejável. Como coloca Silva Júnior (2010, p.
ções genéricas que passam ao largo de oferecer 6), “os contextos de trabalho se credenciam como
uma formação mais sólida. Há muito descompasso ambientes de formação, pelo reconhecimento de
entre os projetos pedagógicos desses cursos e a seu valor formativo”.
estrutura curricular realmente oferecida. Nesta, O histórico legal e institucional dos cursos for-
observa-se claramente a ausência de integração madores de professores por mais de um século nos
formativa na direção de um perfil profissional de permite avaliar a força de uma tradição e de uma
professor para atuar na educação básica (Gatti & visão sobre um modelo formativo de professores
Nunes, 2009; Gatti et al., 2010a; Libâneo, 2010; que se petrificou no início do século XX, com ins-
Gatti, 2012; Pimenta & Lima, 2007). Observe-se piração na concepção de ciências do século XIX, e
que os dados dos estudos nacionais, quanto aos que mostra dificuldades de inovar-se. O esquema
currículos e ementas das disciplinas oferecidas, de formação híbrido que se consolidou historica-
incorporam instituições públicas e privadas, pro- mente no país, desde as origens das licenciaturas
porcionalmente. no início do século passado, postas como adendo
Conforme as pesquisas citadas, embora a maio- dos bacharelados, mostra-se quase impermeável
ria dos projetos pedagógicos dos cursos de licen- à construção de concepções específicas para a
ciatura, seja de pedagogia ou de outras áreas do formação de professores tendo a educação e seus
conhecimento, coloque um perfil abstrato do pro- aspectos fundamentais como eixo curricular bá-
fissional a formar, seu campo de trabalho não é tra- sico. A questão importante, no entanto, é que se
tado, não sendo, então, tomado como referência da oferece nesses cursos apenas um verniz superficial
estruturação do currículo e das disciplinas. Com de formação pedagógica e de seus fundamentos
isso se constata uma dissonância entre o exposto que não pode ser considerado como realmente uma
nos projetos pedagógicos e o conjunto de discipli- formação de profissionais para atuar em escolas
nas oferecidas, e suas ementas. As ideias não se na contemporaneidade. É observada uma redução
concretizam na formação realmente oferecida, bem da carga horária útil dos cursos de licenciatura –
como teorias e práticas não se mostram integradas. voltada a processos formativos profissionais, teó-
Seria desejável que o campo de trabalho real ricos e práticos, de fundamentos e metodologias –,
de profissionais professores fosse referência para redução que se faz via um conjunto de atividades
sua formação, não como constrição, mas como vagamente descritas nos currículos, como: ativi-
foco de inspiração concreta. Silva Júnior (2010, dades culturais, estudos independentes, ativida-

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des complementares, etc. Pode-se perguntar se a práticas efetivas e fonte de reflexão sobre ações
formação panorâmica e fragmentada, reduzida, pedagógicas para os estagiários. Sobre a orienta-
encontrada nos currículos dessas licenciaturas é ção e a validação deles, não se encontra, na grande
suficiente para o futuro professor vir a planejar, maioria dos casos, referência clara. Os efeitos des-
ministrar, avaliar ou orientar atividades de ensino se descaso com os estágios supervisionados pre-
na educação básica, lidando adequadamente com cisam ser considerados sob uma perspectiva ética
os aspectos de desenvolvimento humano de crian- e moral (Fazenda & Piconez, 2005; Silva, 2011;
ças, adolescentes e jovens, oriundos de contextos Calderano, 2012; Gatti & Nunes, 2009).
diferenciados, com interesses e motivações hetero-
gêneos, comportamentos e hábitos diversos. Uma Iniciativas e inovações nos estágios
vez que esses alunos não são seres abstratos, mas
pessoas que partilham sua constituição com ambi- Há esforços em outra direção, embora poucos.
ências sociais cada vez mais complexas, o trabalho São raras as referências encontradas sobre dife-
dos professores demanda uma compreensão mais renciais em iniciativas de trabalho com estágios se
real sobre eles e sobre a própria instituição escola, considerarmos o universo dos cursos de licencia-
em uma formação que lhes permita lidar com as tura. Tratar de algumas delas pode servir de con-
condições concretas de aprendizagem nas ambiên- traponto à penosa situação encontrada na maioria
cias das salas de aula. A constatação das pesquisas desses cursos. Em algumas universidades públicas,
referidas é de que há uma insuficiência formativa presentemente, encontram-se propostas aqui e ali
evidente nas licenciaturas para o desenvolvimento de transformação dos estágios curriculares para
desse trabalho. a docência em atividade mais bem planejada e
Agreguem-se a isso as condições em que os orientada, com perspectivas inovadoras, como se
estágios curriculares são realizados. Lembramos pode observar em alguns relatos de experiências
que o número de horas de estágio obrigatório visa apresentados em eventos científicos da área, como,
proporcionar aos licenciandos um contato mais por exemplo, nos anais do X Congresso Estadu-
aprofundado com as escolas de educação básica, al Paulista de Formação de Professores (Unesp,
de forma planejada, orientada e acompanhada de 2009); do XI Congresso Estadual Paulista de For-
um professor-supervisor de estágio. Embora, em mação de Professores e do I Congresso Nacional
princípio, os estágios constituam espaços privile- de Formação de Professores (Unesp, 2011); do XVI
giados para a aprendizagem das práticas docentes, Endipe – Encontro Nacional de Didática e Práti-
não se obtiveram evidências, nos estudos a que nos ca de Ensino (Endipe, 2012). Essas iniciativas são
referimos, sobre como esses estágios vêm sendo pontuais, encontradas em alguns cursos de uni-
de fato realizados, pois os dados referentes a eles versidades públicas ou comunitárias/filantrópicas,
padecem de uma série de imprecisões, que prati- mas não representam forte tendência no conjunto
camente inviabilizam uma análise do que acontece das licenciaturas ofertadas.
realmente nesses espaços de formação a partir ape- Questão trazida frequentemente é a da invia-
nas dos currículos documentados. Apesar disso, as bilidade institucional de se desenvolver o estágio
observações largamente difundidas sobre o fun- supervisionado de modo mais programado e acom-
cionamento das licenciaturas e estudos específicos panhado. Há, no entanto, testemunhos da viabili-
publicados nos autorizam a sugerir que a maior dade de formas planejadas e também inovadoras
parte dos estágios envolve atividades de observa- de se realizar esses estágios, por exemplo, entre
ção, os estudantes procuram por conta própria as outros, o trabalho relatado por Manrique (2012),
escolas, sem plano de trabalho e sem articulação que coordena iniciativa diferenciada de estágio
entre instituição de ensino superior e escolas, e sua supervisionado com licenciandos em matemática
supervisão acaba tendo um caráter mais genérico, e física, em que planejadamente se estruturam e
ou apenas burocrático, muitas vezes, em função do desenvolvem intervenções pedagógicas em esco-
número de licenciandos a serem supervisionados las da rede de ensino pública. As intervenções são
por um só docente da instituição de ensino supe- realizadas pelos estagiários a partir de uma inser-
rior. Esses estágios acabam não se constituindo em ção inicial nas salas de aula e discussões com os

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professores da rede e o orientador de estágio, com seus profissionais como alternativa no preparo para
a geração de sequências didáticas em perspectiva sua inserção profissional”. E, ainda, que ele pode
interdisciplinar, balizadas por um diagnóstico e ser eixo da formação de docentes na medida em
por avaliação final quanto às aprendizagens, per- que se coloque “a partir da análise, da crítica e da
mitindo adequar as propostas didáticas às condi- proposição de novas maneiras de fazer educação”
ções do alunado. O amadurecimento dos licencian- (Pimenta & Lima, 2007, p. 44).
dos quanto às realidades escolares e às atividades
docentes é muito satisfatório, sendo um processo INICIATIVAS INTERVENIENTES
interessante de conscientização. Outra proposta-
-exemplo, a de Mercado e Mercado (2012), vale Alguns programas foram recentemente imple-
ser citada, mostrando que mudar as condições dos mentados como política que pretende incidir na
estágios supervisionados é possível quando há in- qualidade da formação inicial de docentes, tais
vestimento profissional no ensino superior nessa como, em nível nacional, o Programa Institucional
direção. Esses autores propõem e realizam um de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid), em níveis
projeto de estágio para estudantes de pedagogia estaduais, o Programa Especial de Formação de
baseando-se em uma orientação pedagógica que Professores da Zona Rural (Profir) do estado do
toma por base a construção de blogs para comu- Acre, o Programa Bolsa Estágio Formação Do-
nicar, explicitar, supervisionar e orientar ações de cente do estado do Espírito Santo, e o programa
estagiários nas escolas, no imediato das ações, Bolsa Formação – Escola Pública e Universidade,
com fundamento na perspectiva da problematiza- do estado de São Paulo. O surgimento dessas ini-
ção como eixo para reflexão das práticas. Como ciativas, pelos documentos que as fundamentam,
os autores explicam em seu texto, ao utilizarem o deve-se à constatação da necessidade de melhor
blog como ferramenta pedagógica e investigarem qualificar a formação inicial de professores para a
as suas possibilidades educacionais – no coletivo educação básica e, em última instância, de ajudar
de professores da universidade e dos estagiários –, na melhor qualidade da educação escolar de crian-
houve um intenso repensar não só das práticas pe- ças e jovens. São programas sinalizadores de que
dagógicas, mas também da construção-reconstru- as licenciaturas não estão oferecendo formação
ção do próprio processo de ensino-aprendizagem. adequada aos futuros docentes.
Não vamos nos estender em outros relatos O Pibid, criado pelo Decreto no 7.219, de 24
sobre essas iniciativas. Apenas sinalizamos que de junho de 2010 (Brasil, 2010), expõe claramente
elas mostram, pelas análises trazidas, a neces- que sua finalidade é fomentar a iniciação à docên-
sidade de repensar e redirecionar os estágios cia e melhor qualificá-la, visando à melhoria do
curriculares na formação de professores, e que desempenho da educação básica. Visando incen-
há viabilidade para tanto. Isso demanda, sem tivar a formação docente em nível superior para a
dúvida, um investimento profissional por parte educação básica e contribuir para a valorização do
dos docentes das instituições de ensino superior, magistério, tem por objetivos: inserir os licencian-
mas demanda também um esforço das próprias dos no cotidiano das escolas das redes públicas de
instituições para criar condições para a concreti- ensino, propiciando “oportunidades de criação e
zação desses projetos. Para as instituições priva- participação em experiências metodológicas, tec-
das, essa renovação significa também custos que nológicas e práticas docentes de caráter inovador
devem se propor a assumir. Na EAD a questão e interdisciplinar que busquem a superação de pro-
é mais crucial e necessita cuidados específicos. blemas identificados no processo de ensino-apren-
Não é trivial a proposição, realização e super- dizagem” (inciso IV, art. 3o); incentivar as próprias
visão de estágios curriculares qualificados. Lem- escolas através da mobilização de seus professores,
bramos, então, com Pimenta e Lima (2004, p. 43) que assumem a função de coformadores dos licen-
que, ao “[…] estágio dos cursos de formação de ciandos; contribuir para a melhor articulação entre
professores, compete possibilitar que os futuros teoria e prática, “elevando a qualidade das ações
professores compreendam a complexidade das acadêmicas nos cursos de licenciatura” (inciso
práticas institucionais e das ações praticadas por VI, art. 3o). O programa conta hoje com aproxi-

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Dossiê Educação

madamente 50 mil bolsistas, entre licenciandos, grama de bolsas destinado a estudantes dos cursos
professores coordenadores de área, professores de licenciatura que, sob supervisão de professores
supervisores (coformadores) e coordenadores ins- universitários, devem atuar nas classes e no horário
titucionais. As instituições públicas e comunitárias de aula da rede estadual de ensino ou em projetos
de ensino superior, a quem o programa se destina, de recuperação e apoio à aprendizagem. Seus obje-
devem fazer suas propostas configurando plano de tivos principais são: possibilitar que as escolas pú-
ações, dentro dos objetivos do Pibid, ao MEC, nos blicas da rede estadual de ensino constituam-se em
prazos anualmente estipulados em edital, devendo campi de pesquisa e desenvolvimento profissional
os licenciandos bolsistas exercer atividades peda- para futuros docentes; propiciar a integração entre
gógicas em escolas públicas de educação básica. os saberes desenvolvidos nas instituições de ensino
Configura-se como um programa de fomento. Es- superior e o perfil profissional necessário ao aten-
tudos têm mostrado vários efeitos positivos desse dimento qualificado dos alunos da rede estadual de
programa (André, 2012; Bergamaschi & Almeida, ensino; permitir que os educadores da rede pública
2013; Fetzner & Souza, 2012). estadual, em colaboração com os alunos/pesquisa-
O estado do Acre desenvolveu programa pró- dores das instituições de ensino superior, desen-
prio de formação de professores – o Programa Es- volvam ações que contribuam para a melhoria da
pecial de Formação de Professores da Zona Rural qualidade de ensino (art. 2o, incisos I a III). A atua-
(Profir) – que visa atuar, de modo dinâmico e atua- ção desse programa é na esfera da alfabetização,
lizado, diretamente na formação inicial de profes- comportando licenciandos em pedagogia e letras.
sores. Ele é realizado por parceria do governo do Essas iniciativas com atuação focalizada na
Estado com a Universidade Federal do Acre e as formação inicial de professores sinalizam os des-
prefeituras municipais, com currículo desenhado confortos por parte de órgãos governamentais com
especialmente para atender às situações contex- a dinâmica e os resultados das formações ofereci-
tuais e de ensino em várias regiões do estado, das nas licenciaturas. Reverter um quadro de for-
configurando-se dentro dos objetivos e políticas mação inadequada de professores não é processo
da rede de ensino estadual do Acre (Silva, 2013). para um dia ou alguns meses. Não se faz milagre
Os dois outros programas estaduais acima ci- com a formação humana mesmo com toda a tecno-
tados visam ao aperfeiçoamento dos estágios nos logia disponível. Não dá para implantar um chip de
cursos de licenciaturas, em função de diagnósticos sabedoria no homem. Esta tem que ser desenvolvi-
que evidenciam grandes problemas nesse compo- da em longo processo de maturação, como é longo
nente curricular na formação inicial de profes- nosso processo de crescimento físico-fisiológico.
sores. No estado do Espírito Santo, o Programa
Bolsa Estágio Formação Docente é destinado a CONSIDERAÇÕES FINAIS
estudantes de cursos de licenciatura em estabele-
cimentos públicos estaduais de ensino. Foi insti- O debate sobre toda essa situação na forma-
tuído pelo Decreto no 2.563-R, de 11 de agosto ção inicial de professores para a educação básica
de 2010 (Governo do Estado do Espírito Santo, tem mobilizado os profissionais da educação, bem
2010). O programa tem o objetivo de “contribuir como os gestores estaduais e municipais que res-
para a formação profissional dos futuros professo- pondem diretamente pelas escolas. O que se neces-
res, estreitando as relações entre teoria e prática, sita é, a partir da situação mapeada, do conjunto de
de modo a associar o conhecimento do conteúdo ideias e ideais postulados, criar condições concre-
com os conhecimentos didáticos e metodológicos tas para um novo tipo de formação inicial, no en-
necessários à educação básica” (art. 3o). O governo sino superior, para a docência na educação básica.
do estado de São Paulo, através de sua Secretaria Há necessidade de melhor estruturar, qualificar e
Estadual de Educação (SEE), criou o programa avaliar o trabalho desenvolvido nas licenciaturas,
Bolsa Formação – Escola Pública e Universidade, na formação inicial de docentes para a educação
mais conhecido como Bolsa Alfabetização, através básica. É tarefa de ontem, mas ousar mudar de
do Decreto no 51.627, de 1o de março de 2007 (Go- fato não é uma questão simples nos contextos de
verno do Estado de São Paulo, 2007). É um pro- nossas instituições e das normatizações. Os inte-

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resses são diversos e, sem uma política nacional a serem dedicadas às práticas de ensino. Mas há
firme, com foco na qualidade formativa de no- um outro lado: algumas dessas DCNs ainda não
vos professores, continuamos patinando quanto deixam claras as orientações formativas dirigidas
a possibilidades de uma renovação educacional a um perfil de professor, mostrando muito mais
necessária ao país e seus cidadãos. Expandiu-se ênfase nos conhecimentos disciplinares de área de
o atendimento educacional numericamente, mas conhecimento específica e não com vistas à forma-
não se está garantindo uma formação adequada ção de educadores (Gatti, 2012; Gatti et al., 2010a).
para as novas gerações, mesmo com os grandes Os professores desenvolvem sua condição de
investimentos em reformas educacionais, curricu- profissionais tanto pela sua formação básica na
lares e em tecnologias, etc. Educação se concretiza graduação, como por suas experiências com a prá-
com pessoas – nas relações de, em tese, “alguém tica docente, iniciada na graduação e concretizada
que sabe mais, e que sabe comunicar-se com al- no trabalho das redes de ensino. Mas é preciso
guém que quer aprender”. Reformas ou inovações ressaltar que esse desenvolvimento profissional
na educação escolar básica não ganham fôlego, parece, nos tempos atuais, configurar-se com
não se realizam, sem a participação qualificada condições que vão além das competências ope-
de professores. Avaliações sistêmicas, por si, não rativas e técnicas associadas ao seu trabalho no
mudam o desempenho dos estudantes. Elas podem ensino, tornando-se uma integração de modos de
informar. Mas o que favorece aprendizagens mais agir e pensar, implicando um saber que inclui a
ricas é o trabalho educacional qualificado dentro mobilização não só de conhecimentos e métodos
de cada escola, em cada sala de aula. Observa-se de trabalho, como também de intenções, valores
nos estudos citados neste artigo que as Diretrizes individuais e grupais, da cultura da escola; inclui
Curriculares Nacionais (DCNs) para as diferentes confrontar ideias, crenças, práticas, rotinas, obje-
licenciaturas não têm sido suficientes para criar tivos e papéis, no contexto do agir cotidiano, com
uma nova ordenação curricular para o conjunto as crianças e jovens, com os colegas, com os ges-
dos cursos, seja nas instituições públicas, seja nas tores, na busca de melhor formar os alunos, e a
privadas. Muitas das disposições dessas diretrizes si mesmos. Aprendizagens iniciais, básicas, para
não são observadas nos currículos, como mostram a concretização dessa configuração deveriam ser
as pesquisas, por exemplo, no que respeita às horas propiciadas pelas licenciaturas, em sua graduação.

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