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Organizações e Recursos Humanos e Especialista em por meio de um caso aplicado no Governo do Estado do Rio Grande do
Planejamento de Marketing pela European University, Norte. Diante das dificuldades relacionadas à utilização das práticas
Secretário de Estado do Planejamento e das Finanças do Rio
Grande do Norte. Natal, RN [Brasil]. gmfnogueira@gmail.com tradicionais de gerenciamento de projetos, considera-se necessário avaliar
o uso de modelos visuais como alternativas de gestão de projetos. Para isto,
foi realizado um estudo de caso, com a utilização de grupo focal, sendo
feita observação participante com análise qualitativa. Os resultados obtidos
demonstraram que o modelo LCC se mostrou aderente ao contexto do setor
público, gerando maior dinamicidade do processo de gerenciamento entre
as etapas de iniciação e planejamento. Identificou-se também nesta pesquisa
implicações gerenciais como forma de contribuir para uma reflexão sobre a
necessidade de buscar novos modelos para projetos públicos.
Palavras-chave: Complexidade em projetos. Life Cycle Canvas (LCC).
Planejamento de projetos. Setor público.
Abstract
The aim of this article is to understand the process of building a public
project plan by using a visual project management model known as Life
Cycle Canvas (LCC) for a case study at the State Government of Rio Grande
do Norte. Given the difficulties related to traditional project management
practices, it is necessary to evaluate the use of visual models as alternatives
for project management. In order to do this, we conducted a case study
using a focus group and participant observation with qualitative analysis.
The results we obtained demonstrated that the LCC model proved to be
suitable to the public sector context, generating greater dynamism of the
management process between the initiation and planning steps. The study
also identified managerial implications as a way of contributing to reflection
on the need to seek new models for public projects.
Keywords: Complexity in projects. Life Cycle Canvas (LCC). Project
planning. Public sector.
Institute [PMI] (2013) define cinco grandes gru- falta de uma flexibilidade necessária para ajustes
pos ou etapas de gerenciamento: iniciação, plane- e mudanças.
jamento, execução, monitoramento e controle e Mesmo com estas questões, há avanços cien-
encerramento. O planejamento consiste em pro- tíficos associados às tentativas de redução da com-
cessos relativos ao desenvolvimento de um plano plexidade no planejamento de projetos, seja com
de gerenciamento e aos documentos que serão usa- modelos de estimativa de custos e cronograma de
dos para executá-lo (PMI, 2013, Vargas, 2009), projetos (Chen, Chen, & Lin, 2016), ou com es-
sendo uma etapa crucial para obter o sucesso em clarecimento sobre estes aspectos relacionados à
projetos (Dvir, Raz & Shenhar, 2003, D. M. V. esfera pública (Giezen, 2012, Yanwen, 2012).
Vargas, & Patah, 2013), e dependente da etapa de Outra situação importante a ser observa-
iniciação, já que as atividades devem ser planeja- da que pode potencializar a complexidade para
das considerando-se o escopo definido na etapa de planejar projetos é quando não se tem um co-
iniciação (Veras, 2014). nhecimento ou uma cultura estabelecidos sobre
as melhores práticas e métodos de gerenciamento
As questões relacionadas à globalização e à
de projetos, comuns ao setor público em que se
integração dos mercados, aliadas ao avanço tec-
tem casos de projetos com escopos complexos e de
nológico, sobretudo na tecnologia da informação
grande escala. Nestes casos, Muriithi e Crawford
(TI), trouxeram um cenário complexo e dinâmico
(2003) sugerem que é importante começar com
para as organizações, que sentiram a necessidade
um projeto piloto, de complexidade menor e que
de serem mais efetivas em relação às suas ações do
seja mais seguro, evitando grandes mudanças es-
ponto de vista estratégico e operacional. Assim, o
truturais.
planejamento de projetos também se tornou mais
complexo sob diferentes aspectos. Um dos aspec-
tos mais importantes trata das definições e do
3 Modelos baseados em
envolvimento das partes interessadas, conhecidas
Canvas e o Life Cycle
como stakeholders do projeto (Veras, 2016).
Canvas (LCC)
Neste caso, especificamente no setor públi-
co, o desafio se torna ainda maior e mais com-
É necessário considerar que com este au-
plexo, devido ao envolvimento de várias partes e mento da complexidade que envolve o ambiente
à necessidade de gerenciar vários relacionamentos de planejamento de projetos nas organizações,
(Patanakul, 2014), como comprovado na pesquisa as próprias ferramentas e os métodos de geren-
de Giezen (2012). ciamento de projetos também se tornaram mais
Outro ponto relevante levantado pelos estu- complexos, gerando dificuldades de compre-
dos se refere à configuração do plano dos projetos, ensão e definição de qual é a melhor forma de
pelo qual os documentos referentes ao projeto são planejar e gerenciar projetos nas organizações
integrados e desenvolvidos. Neste sentido, Ruiz- (Bomfin, Nunes, & Hastenreiter, 2012), como,
Martin e Poza (2015) propuseram um modelo por exemplo, o guia Project Management Body of
mais complexo de configuração de projetos à luz Knowledge (PMBOK), considerado uma referên-
da teoria da rede. Já o estudo de Ali e Kidd (2014) cia global em termos de boas práticas de gerencia-
traz estes elementos complexos associados ao ge- mento de projetos, que contempla 47 processos de
renciamento da configuração do projeto, como a gerenciamento de projetos recomendados. Isso, de
fato, se traduz em um gerenciamento complexo, uma base conceitual construída a partir do guia
delicado e difícil, principalmente quando se lida PMBOK, contemplando aspectos associados às
com diversas realidades (Whitty & Maylor, 2009, grandes áreas de conhecimento; da metodologia
Whitney & Daniels, 2013). Projects in Controlled Environments (PRINCE2),
Contudo, existem técnicas e ferramentas vi- com questões relacionadas ao controle de entregas
suais, geralmente baseadas em telas (canvas) que e estruturas; e do Project Model Canvas (PMC),
estão surgindo com o propósito de gerar maior trazendo a lógica de gerenciamento de projetos em
flexibilidade e simplicidade às práticas de geren- uma tela, e permitindo construir os projetos por
ciamento de projetos. A abordagem canvas pode meio de um fluxo de trabalho sequencial (Figura 1):
ajudar a apresentar uma visão
integrativa e holística da organi-
zação, além de trazer informa-
ções objetivas e relevantes, me-
lhorando a comunicação entre os
envolvidos (Gloria & Gonçalves,
2016).
Neste sentido, Finocchio
(2013) elaborou uma metodo-
logia para o gerenciamento de
projetos, baseada no modelo
Business Model Canvas (BMC),
de Osterwalder e Pigneur (2011),
que propõe uma lógica de apre-
sentação geral e construção de
Figura 1: Life Cycle Canvas (LCC)
um projeto em uma tela, apre- Fonte: Veras, M. (2016). Gestão dinâmica de projetos: Life Cycle Canvas. Rio de Janeiro:
Brasport.
sentando pontos essenciais rela-
cionados ao plano de um projeto.
Ferramentas como esta já se tornaram objeto de No modelo LCC, percebe-se que as grandes
pesquisa em outros contextos na área, como no áreas de conhecimento em gerenciamento de pro-
gerenciamento de portfólio (Santos & Barbosa, jetos sugeridas pelo guia PMBOK são contempla-
2014). Contudo, há alguns desafios que ainda pre- das de forma direta, como tempo, custos, riscos,
cisam ser superados, principalmente relacionados compras, comunicações e partes interessadas, ou
às limitações das ferramentas atuais em abranger indiretamente, como premissas, entregas e restri-
a dinâmica inerente ao ciclo de vida de projetos e o ções (escopo), equipe (recursos humanos), e pro-
registro das mudanças ocorridas (Geraldi, Maylor, dutos e requisitos (qualidade). A área de conhe-
& Williams, 2011, Parker, Charlton, Ribeiro, & cimento relativa à integração é considerada por
Pathak, 2013). meio da integração entre os cinco grandes blocos
Dentre os modelos de gerenciamento de pro- diferenciados por cores e que devem ser constru-
jetos surgidos recentemente na literatura, tem-se o ídos sequencialmente, explicando o projeto em
modelo brasileiro denominado Life Cycle Canvas cinco perguntas básicas, seguindo a estrutura do
(LCC), proposto por Veras (2016), que contém modelo 5W2H da área de gestão da qualidade:
• Por quê?/Why? – define a razão de existência dar uma maior dinamicidade aos processos de ge-
do projeto, por meio dos campos de justifica- renciamento de projetos em relação às ferramen-
tiva, objetivos e benefícios. tas de canvas propostas para este campo, fazendo
• O quê?/What? – descreve o que é o projeto com que a tela de projetos seja modificada ao lon-
de fato, por meio do produto do projeto, seus go do ciclo de vida.
requisitos e suas restrições.
• Quem?/Who? – apresenta os principais gru-
pos de agentes envolvidos no projeto, bem 4 Metodologia
como os meios de comunicação entre eles,
tendo como campos principais as partes in- Neste artigo, teve-se como objetivo compre-
teressadas, as comunicações e a equipe do ender o processo de construção do planejamento
projeto. de um projeto público com a utilização do modelo
• Como?/How? – explica as condições necessá- LCC. Para tanto, foi adotado um enfoque analíti-
rias, etapas a serem entregues e as limitações co qualitativo, por meio de um estudo de caso, que
do projeto, representadas pelos campos de envolve uma situação tecnicamente única de um
premissas, entregas e restrições. fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto
• Quando?/When? e Quanto?/How much? – de vida real (Yin, 2010). O governo do estado do
define os riscos, as datas limites das entregas RN, objeto de investigação, foi escolhido por ser
e os custos principais dos projetos, descritos considerado um caso relevante dentro de um con-
nos campos de riscos, tempo e custos. texto de gerenciamento de projetos, como parte
da operacionalização de um planejamento estra-
O modelo também traz consigo os principais tégico real.
grupos de processos do ciclo de vida de um pro- Quanto à tipologia da pesquisa, este traba-
jeto, como etapas, em que em cada etapa se tem lho se caracteriza como exploratório, por tratar
uma tela do projeto, com possíveis modificações de uma área em que se tem pouco conhecimento
nas áreas de gerenciamento. Contudo, ao con- sistematizado e acumulado (Vergara, 2014). As in-
trário do que se tem no PMBOK, no atual mo- vestigações que tratam de modelos e ferramentas
delo há uma divisão clara de início e fim de cada baseadas em canvas para a área de gerenciamento
grupo ou etapa de gerenciamento, delimitando de projetos ainda são incipientes, tendo, portanto,
de forma sequenciada, com exceção das fases de um campo a ser explorado.
execução e monitoramento e controle, que ocor- Em relação à pesquisa bibliográfica, procu-
rem simultaneamente. Outro ponto importante rou-se construir um arcabouço teórico seguindo
a destacar se refere ao que se chama de “artefa- as recomendações propostas por Creswell (2010),
tos”, que são os principais documentos que devem com algumas adaptações, sendo realizadas em três
ser elaborados ao longo do ciclo de vida, como etapas, a saber: pesquisa livre; resumos e ficha-
Termo de Abertura do Projeto (TAP), Plano de mentos do material coletado; e revisão da litera-
Gerenciamento do Projeto (PGP), importantes na tura com a estruturação dos principais conceitos e
concepção e no planejamento do projeto. resultados de outros estudos.
Em linhas gerais, o modelo LCC tenta con- No que se refere aos sujeitos da pesquisa, par-
templar as questões inerentes às boas práticas re- ticiparam do processo de construção do planeja-
comendadas pelo PMBOK, e, ao mesmo tempo, mento do projeto dois representantes do governo
do estado do RN, sendo um prestador de serviços Além destas estratégias, nesta pesquisa, uti-
na área de gerenciamento de projetos e um dos téc- lizou-se de dados secundários, oriundos de docu-
nicos envolvidos diretamente com o projeto de go- mentos institucionais relativos ao novo planeja-
vernança inovadora, no qual foram estabelecidas as mento estratégico do governo do estado do RN,
bases do planejamento estratégico e do mapa estra- os quais serviram de base para a construção do
tégico do governo do estado. Além destes sujeitos, planejamento do projeto de recuperação da ma-
também participaram da pesquisa quatro especia- lha rodoviária, objeto deste estudo. Estes dados
listas em gerenciamento de projetos, sendo três de- estão disponíveis no portal Governança Inovadora
les profissionais com experiência em projetos de TI. (2016), com documentos que detalham o mapa es-
A amostra total de seis participantes foi defi- tratégico, cadeias de valor de processos internos e
nida a priori, levando em consideração dois crité- contratos de gestão até então firmados.
rios de escolha: em primeiro lugar, era necessário Como procedimento para a interpretação dos
que os sujeitos tivessem conhecimento ou experiên- dados, foi utilizada a análise de conteúdo proposta
cia sobre as práticas de gerenciamento de projetos e
por Bardin (2011), seguindo três etapas, são elas: a
sobre o modelo utilizado na pesquisa; em segundo,
pré-análise, a exploração do material e o tratamen-
era preciso que representantes do governo partici-
to dos resultados. A etapa de pré-análise envolveu
passem do estudo, por terem melhor conhecimen-
uma leitura preliminar e a organização do material
to da realidade atual da organização, tratando-se,
coletado. Ao todo, foram coletados dados de duas
portanto, de uma amostra por conveniência.
telas que representaram, sequencialmente, as eta-
Os dados da pesquisa foram coletados entre
pas de iniciação e planejamento do projeto de re-
os dias 28 e 30 de abril de 2016, com encontros
cuperação da malha rodoviária, além de seis docu-
de duração média de três horas, em que os profis-
mentos auxiliares que ajudaram a complementar o
sionais puderam discutir e construir em conjunto
planejamento do projeto: matriz de responsabili-
o planejamento do projeto. Para isto, foram esta-
dades (RACI), a matriz de gerenciamento de riscos
belecidos como estratégias de coleta o grupo fo-
identificados no projeto, a matriz de engajamento
cal e a observação participante. O grupo focal foi
das partes interessadas (stakeholders), a planilha
constituído seguindo-se as recomendações de Flick
de aquisições, a planilha de indicadores e a plani-
(2009), ao compor um grupo com profissionais he-
terogêneos e com conhecimentos distintos às práti- lha com os métodos de comunicação.
cas e à experiência em gerenciamento de projetos. A etapa de exploração do material consistiu
Já a observação participante foi utilizada na descrição analítica dos dados, sendo o material
como estratégia de coleta para que os pesquisa- coletado submetido a um processo de análise apro-
dores pudessem observar, a partir de uma pers- fundada. Neste caso, o material coletado, que foi
pectiva de membros, podendo também influenciar produzido “à mão” durante a realização do grupo
o que é observado pela sua participação (Flick, focal, e, posteriormente, transcrito no software
2009). Assim, dois dos autores desta pesquisa do modelo LCC. Neste caso, foram considerados
participaram como membros do grupo focal para como unidades de registro os 13 campos centrais
observarem as reações dos demais integrantes e estabelecidos no modelo LCC que correspondem
o desenvolvimento do planejamento do projeto, às dez áreas de conhecimento em gerenciamento
podendo, também, estes opinar sobre o preenchi- de projetos, e três relacionadas ao business case
mento dos campos do modelo LCC. do projeto.
Para sistematizar estes dados, foi utilizada a Assim, foram realizadas oficinas e palestras
técnica de codificação, tendo como base as reco- sobre modelos de governança com os participan-
mendações de Gibbs (2009), que envolveu a iden- tes do grupo responsável, com vistas à elaboração
tificação e o registro das observações e aspectos dos insumos para a estratégia do governo do RN,
definidos em cada campo do canvas registrados com a formulação do mapa e dos indicadores es-
com termos chamados códigos, realizados em tratégicos, e a definição da carteira prioritária de
duas etapas. Na primeira etapa, utilizou-se o pro- projetos. O grupo focal, ao receber a carteira de
cesso de codificação aberta e baseada em dados e projetos, priorizou um dos projetos relacionados
criaram-se códigos com termos que representavam à diretriz de infraestrutura, denominado “Novo
as questões relativas a cada campo de gerencia- padrão RN de estradas”, em que se tem como ob-
mento durante a concepção do projeto na etapa de jetivo principal melhorar a qualidade da malha ro-
iniciação. Na segunda, conforme foram discutidas doviária do estado do Rio Grande do Norte, con-
Definida a razão da existência do projeto, fo- Uma das questões tratadas durante a cons-
ram especificados o produto, os requisitos e as res- trução desse terceiro bloco foi a identificação de
trições do projeto. O produto se refere à adequa- órgãos de controle importantes que podem inter-
ção de 10% da malha rodoviária do Estado. Para ferir em algumas etapas do projeto. Um dos parti-
isso, foram definidos cinco requisitos principais: cipantes do grupo que representava o governo do
estrada com 7 metros de largura; estrada com estado comentou que problemas da licitação, tão
base de solo brita; estrada com espessura apro- comuns em obras públicas, podem ser evitados
priada do pavimento; sinalização horizontal e ver- quando se tem uma assessoria técnica vinda des-
tical; e pavimento com material reciclado. Neste ses órgãos que pode ajudar no esclarecimento de
bloco, o grupo teve algumas dificuldades para pontos importantes do projeto.
especificar os requisitos, uma vez que envolviam Na construção do quarto bloco, foram de-
aspectos técnicos relacionados ao setor de obras finidas as premissas, os grupos de entregas e as
e de infraestrutura, sendo necessário consultar a principais aquisições do projeto. As premissas en-
ficha de informação básica do projeto, contida no volvem os pressupostos assumidos que não estão
plano estratégico. sob o controle do gerente de projetos. Neste caso,
As restrições são apontadas como limitações foram estabelecidas quatro premissas: que o cli-
ao trabalho da equipe envolvida no projeto. ma seja favorável às obras (poucas chuvas), que a
Nesse projeto piloto, duas restrições foram obra seja licenciada pelos órgãos de controle, que
apontadas: a primeira define que o trabalho de re- a licitação para as contratações com as empresas
cuperação e padronização do trecho determinado seja realizada, e que haja a liberação dos recursos
no projeto seja em período diurno, por questões necessários ao projeto como um todo.
de segurança e visibilidade; e o segundo trata de As entregas representam os grandes marcos
atendimento às condições socioambientais, isto é, ou etapas de entregas do projeto, divididas em
que o projeto não interfira em áreas de proteção cinco: projeto de engenharia, licença ambiental,
ambiental ou que desaproprie indevidamente co- licitação, assinatura do contrato e realização
munidades locais sem a devida negociação. da obra. O projeto de engenharia e o serviço de
O terceiro bloco a ser preenchido se refere construção também são aquisições a serem reali-
às partes interessadas, à equipe do projeto e aos zadas para operacionalizar o projeto, em conjun-
meios de comunicações. Foram identificadas sete to com a aquisição de veículo e do material para
partes interessadas no projeto piloto: órgãos am- o escritório da obra. A etapa de desenvolvimento
bientais, empresas de transporte e logística, agên- do projeto de engenharia poderia ser desenvolvi-
cias de turismo, órgãos de controle, condutores de da internamente. Contudo, os representantes do
veículos, produtores da indústria de agronegócios governo e os especialistas em gerenciamento de
e o próprio governo do estado do RN. A comuni- projetos consideraram que seria mais viável con-
cação com essas partes interessadas ficou defini- tratar esse serviço pela pouca disponibilidade de
da em quatro principais canais: site do governo, engenheiros para realizar o projeto, o que pode-
ofícios, e-mails e diário oficial. No que se refere ria acarretar atrasos.
à equipe do projeto, ela é composta pelo gerente O último bloco de processos de iniciação do
do projeto, engenheiros de fiscalização, gerente do projeto incluiu a identificação de riscos, a estima-
contrato, equipe de fiscalização, equipe da empre- tiva inicial de custos e o tempo de realização. Os
sa de obras e técnicos do DER. riscos foram identificados com base na possibili-
dade das premissas, definidas no bloco anterior, os campos, o grupo entendeu que dois grupos de
não serem atendidas. A princípio, foram consi- partes interessadas eram críticos em relação às
derados quatro riscos, seguindo a lógica da pos- entregas estabelecidas pelo projeto: os órgãos am-
sibilidade de não atendimento às premissas. As bientais e os órgãos de controle. Atualmente, eles
estruturas de custos e prazos foram estabelecidas estariam em uma posição neutra de engajamen-
considerando-se os principais grupos de entregas to, mas imaginou-se que estes órgãos poderiam
do projeto. Com isso, foi determinada uma previ- apoiar o projeto em uma situação futura, no mo-
são de gastos na ordem de R$ 1.600.000,00 com mento da sua execução.
o projeto, com um prazo total de 30 meses para De acordo com o grupo focal, os órgãos
a sua realização. ambientais são importantes, pois eles podem in-
Após ser definido o canvas que simboliza a fluenciar no andamento do projeto em casos de
etapa de iniciação e o artefato TAP, foi iniciada descumprimento em relação às normas ambientais
a etapa de planejamento do projeto, com a cons- vigentes, gerando impacto no prazo de aquisição da
trução do seu Plano de Gerenciamento (PGP). licença ambiental para dar prosseguimento ao pro-
Nesta etapa, o grupo focal revisou os campos de jeto. Os órgãos de controle, por sua vez, poderiam
preenchimento do canvas anterior, e utilizou al- influenciar na continuidade do projeto em situações
gumas planilhas de apoio para avaliar pontos im- de irregularidade no processo licitatório e de con-
portantes do projeto. Um dos pontos principais tratação das empresas envolvidas. Essas duas entre-
revisados envolveu as partes interessadas. Neste gas foram consideradas críticas para a continuidade
contexto, foram utilizadas a matriz de engaja- das demais atividades e que poderiam potencializar
mento, para identificar o grau de envolvimento os riscos de embargo da obra e de não conclusão
atual dos stakeholders e a situação desejada de da licitação. Para isso, na matriz de comunicação
envolvimento, e a matriz de comunicação, para foi estabelecido que o processo de comunicação se-
traçar o perfil comunicativo de cada parte inte- ria “interativo”, estabelecendo uma comunicação
ressada. A matriz de encerramento está apresen- contínua de ambos os órgãos com a equipe interna
tada na Figura 3, a seguir: do projeto, para que todas as dúvidas fossem escla-
recidas e os procedimentos fossem
Não realizados de acordo com a legisla-
Parte interessada Resistente Neutro Dá apoio Lidera
informado
ção em vigor.
Órgãos ambientais A D
Empresas de transporte Outro aspecto importan-
A, D
e logística te revisado na etapa de plane-
Agências de turismo A, D
jamento foi o papel de cada um
Órgãos de controle A D
dos componentes da equipe du-
Condutores de veículos A, D
rante as atividades ou entregas
Governo do Estado A, D
Produtores da indústria
do projeto. Para verificar estas
A, D
e do agronegócio relações, foi construída a matriz
Figura 3: Matriz de Engajamento das Partes Interessadas RACI com o intuito de definir
Nota. A – Engajamento Atual. D – Engajamento Desejado.
esses papéis, explicada na Figura
4, a seguir:
Ao observar o canvas que representava o TAP Na Figura 4, percebe-se que os grupos pos-
e verificar de uma forma ampla a integração entre suem diversos papéis, de acordo com cada ativi-
projeto piloto, sendo este considerado uma fase de utilização de planilhas e documentos auxiliares
um projeto maior, porém, com todos os grupos de foi útil durante o desenvolvimento do PGP, que
processos do ciclo de vida de um projeto (Veras, culminou no planejamento de engajamento e na
2014). Esta ideia seguiu a recomendação proposta forma de comunicação com os stakeholders, aju-
por Muriithi e Crawford (2003), ao começar por dando em uma melhor compreensão do papel de
um projeto mais simples, já que a ideia do projeto cada parte interessada no projeto, defendida por
original, estabelecida no planejamento estratégico Ruiz-Martin e Poza (2015). No entanto, mesmo
do governo do estado, define a sua duração em com a participação de representantes do governo
vinte anos, o que tornaria difícil o seu gerencia- do estado durante a construção do planejamento
mento, por considerar que as possibilidades de do projeto, houve algumas dificuldades em rela-
mudanças e incertezas do ambiente, como o as- ção à definição de aspectos técnicos importantes
pecto político e adequações no próprio projeto se- a serem considerados, mais especificamente nos
riam maiores e complicadas de lidar com o escopo campos de definição do escopo e de aquisições.
original constituído. Com relação à configuração do plano do pro-
Ao considerar o planejamento do projeto em jeto, ao contrário de Ruiz-Martin e Poza (2015),
si, uma das questões mais importantes considera- que sugeriram um modelo mais complexo para
das na complexidade em planejar projetos envolve realizar o planejamento de um projeto, nesta pes-
a relação com os stakeholders, sendo por meio da quisa, utilizou-se um modelo mais simples, em
sua identificação e compreensão (Giezen, 2012, consonância com o estudo de Gloria e Gonçalves
Heravi et al., 2015) ou na necessidade de envolvê- (2016), para transmitir uma linguagem acessível
los (Kloppenborg et al., 2011, Patanakul, 2014, e comum aos participantes da investigação, sem
Rahmat & Ali, 2010). Em relação a este aspecto, abrir mão das melhores práticas propostas pelo
a identificação das partes interessadas foi facili- guia PMBOK em relação às áreas de gerenciamen-
tada quando se pensou no projeto de uma forma to; porém, tratando o ciclo de vida com etapas cla-
ampla, levando em conta não apenas a execução ramente divididas e não sobrepostas. Neste senti-
da obra em si de recuperação e de padronização do, verificou-se que os participantes não tiveram
do trecho piloto da estrada, mas também outras maiores dificuldades em entender a lógica do mo-
atividades que antecediam a esta etapa. Isso se delo e as atividades a serem realizadas durante as
deu pela utilização do canvas proposto pelo mo- duas etapas iniciais de gerenciamento do projeto e
delo LCC, considerando que ele traz uma visão que houve uma facilidade na compreensão sobre a
integrada das áreas de gerenciamento de projetos necessidade de mudança em alguns campos, como
(Veras, 2016). no campo da equipe envolvida no projeto, bem
Além disso, com a ideia do modelo LCC em como no das entregas principais.
utilizar telas diferentes para representar as fases Outro ponto no trabalho refere-se às carac-
distintas do ciclo de vida, a identificação e defini- terísticas inerentes aos projetos do setor público,
ção dos stakeholders a serem envolvidos no proje- levantadas por Yanwen (2012). Uma das recomen-
to trouxe consigo uma complexidade em relação dações sugeridas pelo autor, e que são próprias do
à presença de grupos distintos de partes interes- modelo LCC, envolve a necessidade de redução de
sadas que precisavam ser envolvidas e gerencia- riscos e ameaças que podem interferir no proje-
das, como foi percebido também nas pesquisas de to. Com a utilização da planilha de probabilidade
Giezen (2012) e Patanakul (2014). Deste modo, a e impacto para priorizar e definir respostas aos
riscos mais importantes, os participantes tiveram tivos, como o LCC, que possam ser aplicáveis,
uma maior clareza sobre estes aspectos, e que, de como forma de reduzir as dificuldades de utiliza-
alguma forma, influenciaram na mudança de ou- ção e modernizar tais práticas de gerenciamento,
tros campos, como o da equipe do projeto. fomentando uma gestão eficiente e eficaz, que seja
alinhada ao novo modelo de gestão pública.
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