DOENÇA DA VÁLVULA AÓRTICA

E COVID-19
ATÉ QUANDO DEVO ESPERAR PARA TRATAR UMA
VÁLVULA CARDÍACA?

A pandemia da COVID-19 afetou a capacidade de atendimento

hospitalar, tanto para os infectados pelo vírus, quanto para
pessoas com outras condições de saúde que ainda necessitam
de atendimento e tratamento cirúrgico. É o caso de pacientes
com a Doença da Válvula Aórtica.
E é que, no início do confinamento, diversos procedimentos
cirúrgicos considerados "eletivos" foram adiados como medida
preventiva para evitar o contágio e ampliar a infraestrutura para
o atendimento aos pacientes da COVID-19.
A doença da válvula aórtica não é estática e
piora com o tempo.
De todas as valvopatias, a chamada estenose aórtica é uma das
mais comuns e também a mais grave. Estima-se que esteja
presente em pelo menos 5% da população com mais de 65 anos
e que a prevalência aumenta com o aumento da idade. [1]

Dr. Luis Alberto Pérez Pino, Cardiologista Intervencionista do

Hospital Clínico Regional de Concepción e Dr. Guillermo Grant
Benavente , do Chile, explicam que além das primeiras
restrições, alguns pacientes não puderam concluir seus exames
pré-operatórios porque os serviços ambulatoriais foram
suspensos, o que também atrasou a realização dos
procedimentos.
Válvula normal Válvula estenótica
Hoje, o cenário mudou e as cirurgias como a troca da válvula aórtica Fig. 1 Diferença entre uma válvula aórtica saudável e uma com estenose aórtica
não devem ser sistematicamente adiadas. Os riscos e benefícios
do adiamento ou continuidade do tratamento devem ser avaliados Embora algumas pessoas não apresentem sintomas, eles
seguindo uma série de protocolos adaptados à realidade local e a tendem a piorar com o passar dos anos, sendo os três mais
cada paciente. comuns falta de ar, dor no peito e desmaios ou perda súbita de
consciência. Esses sintomas limitam a atividade física das
Talvez o maior desafio agora seja a resistência de um grupo de pessoas. Em casos mais avançados, os pacientes tendem a se
pacientes que deixaram de comparecer às consultas devido a um cansar até mesmo para realizar as tarefas mais básicas: comer,
fenômeno conhecido como COVIDfobia. “São pacientes que já vestir-se, levantar-se.
apresentavam sintomas de valvopatia e dizem espontaneamente
que se sentem bem, mas há claramente um medo”, diz o Dr. Pérez.

O diagnóstico precoce e o tratamento da

doença da válvuva aórtica são
importantes, pois a condição pode ser
fatal caso a descoberta seja demorada.

O que é doença da válvula aórtica?

Esta doença é caracterizada por uma deterioração ou
endurecimento da válvula aórtica, que conecta o coração
à artéria principal (aorta) e permite que o sangue oxigenado
flua por todo o corpo. Um coração saudável abre e fecha
suas válvulas para manter o fluxo sanguíneo na direção
certa. Quando a válvula aórtica fica doente, a
capacidade de bombeamento do coração é limitada, o
que pode levar à insuficiência cardíaca ou até morte súbita.
Fig. 2 Sintomas de doença da válvula aórtica
“Explicamos aos nossos pacientes que se trata de uma doença
degenerativa que na maioria dos casos tem a ver com a idade e o
envelhecimento e, embora possa ser tolerada por algum tempo,
quando os sintomas aparecem, significa que o coração precisa
de um reparo". Dr. Oscar Mendiz, Cardiologista Intervencionista
da Fundação Favaloro da Argentina.

INOVAÇÃO SIGNIFICATIVA - DOENÇA DA VÁLVULA AÓRTICA E COVID-19 1 DE 3

Dr. Oscar Mendiz, cardiologista intervencionista da Fundação
Favaloro, na Argentina, ressalta que o tratamento da valvopatia
requer, além de medicamentos, a adoção de hábitos
saudáveis, como redução do consumo de sódio e manutenção
do peso saudável. Isso vai ajudar o paciente até certo ponto,
mas o prognóstico não mudará “uma vez que o paciente tenha
sintomas, a indicação é o reparo ou troca dessa válvula”,
enfatiza.
No ambiente COVID-19 de hoje, existem
opções de tratamentos minimamente
invasivos cujos tempos de hospitalização e
recuperação geral são muito mais curtos do
que os da cirurgia convencional.
Tradicionalmente, o tratamento da estenose aórtica consiste
na sua retirada e implante de válvula artificial por meio de
cirurgia cardíaca a céu aberto, o que envolve internação
hospitalar de pelo menos 4 a 5 dias.
Para o Dr. Henrique Ribeiro, Cardiologista Intervencionista do
Instituto do Coração da Universidade de São Paulo, Brasil, a
idade avançada dos pacientes e suas comorbidades podem
colocá-los em risco durante uma cirurgia cardíaca.
Felizmente, há mais de dez anos existe uma alternativa muito
menos invasiva conhecida como TAVI, por sua sigla em inglês,
Transcatheter Aortic Valve Implantation, que torna mais fácil
para os pacientes voltarem para casa em menos de três dias.
Válvula Transcateter Implantável
“A grande vantagem desse tratamento é que ele não exige
a abertura do tórax do paciente nem a parada cardíaca”,
afirma Ribeiro. Em vez disso, a artéria femoral próxima à
virilha é usada como um ponto de acesso para inserir um
tubo (cateter) por até o coração. Uma vez posicionada
próxima à válvula aórtica, o médico libera a nova válvula
em sua posição funcionante e a expande de forma
controlada até que esteja ancorada e funcional, conforme
mostrado na Figura 3.
O benefício de tal procedimento também é para os
hospitais. “Ter o paciente por menor tempo,
INOVAÇÃO SIGNIFICATIVA - DOENÇA DA VÁLVULA AÓRTICA E COVID-19 2 DE 3
O tempo reduz custos, libera espaço em Unidade de Terapia
Intensiva (UTI) e limita a exposição à COVID-19 tanto para
o paciente quanto para o profissional de saúde ”, afirma o Dr.
Mendiz.
1. O médico geralmente insere o
cateter através da artéria femoral
até a válvula doente.
2. Uma vez posicionada, a nova
válvula se expande de maneira precisa
e controlada.
3. A nova válvula passa a cumprir a
função da válvula danificada e o
cateter é retirado.
Fig. 3
Embora a TAVI tenha recebido inicialmente a aprovação do
FDA (entidade reguladora dos Estados Unidos) para
pacientes cirúrgicos inoperáveis e de alto risco com
estenose aórtica severa , vários estudos mostraram que
pacientes com risco intermediário e baixo também
podem se beneficiar dessa alternativa.
“Hoje a TAVI deve ser indicada em todos os pacientes
considerados de alto risco cirúrgico ou inoperáveis para
cirurgia cardíaca, e pode ser considerada para pacientes de risco
intermediário”, afirma o Dr. Pérez.
Para o Dr. Oscar Mendiz existe uma divergência entre as
evidências científicas, a preferência dos pacientes, as opiniões
dos médicos e a cobertura do procedimento. "Não há estudo
clínico que mostre que a cirurgia é melhor do que o
procedimento de cateter." No entanto, esse procedimento
não é para todos os pacientes, ainda existem limitações para
sua ampla utilização. “Devemos levar em consideração a
anatomia favorável do paciente, sua idade e a existência ou
não de cobertura pública ou privada”, afirma.
Seja cirúrgico ou percutâneo ou percutânea,
os médicos concordam que o tratamento da
estenose aórtica não deve esperar, pois
metade dos pacientes que não recebem
tratamento não sobrevive por mais de 24
meses após o início dos sintomas. [2]
Como a estenose aórtica é diagnosticada e quando o
médico deve ser consultado?
O diagnóstico de uma válvula aórtica doente é feito por
ausculta cardíaca. Geralmente, um histórico médico e um
estetoscópio são suficientes para diagnosticar. Hoje também
existem outros métodos de confirmação e o mais frequente
para essa patologia é a ultrassonografia cardíaca ou
ecocardiograma, disponível na maioria dos hospitais.
Ao perguntar sobre quando consultar o médico, a resposta é
simples: ao primeiro sintoma.
“Minha recomendação é que, na dúvida, consulte o
médico, porque se você tem sintomas, eles estão
acontecendo com um mínimo de esforço. Atualmente, as
pessoas estão mais em casa e um atraso pode ser catastrófico”,
diz o Dr. Mendiz.
Por sua vez, o Dr. Ribeiro, do Brasil, cita que, neste momento, a
consulta virtual tem sido fundamental para afastar emergências e
manter o controle médico e o monitoramento dos sintomas.
“Em pacientes de risco intermediário e baixo e com menos
sintomas, deve-se fazer um balanço entre as condições do
hospital, o número de casos na região onde você está (porque o
Brasil é um país muito grande), e se o paciente está
apresentando sintomas ”, esclarece Dr. Ribeiro. "Se você tem as
condições e o paciente apresenta sintomas, em geral
começamos a realizar esses procedimentos."
A comunicação é o caminho para a confiança do paciente
Não há dúvida de que os pacientes podem temer um
procedimento cardíaco, principalmente no contexto em que
nos encontramos.
“São pessoas cuja única opção de melhorar é ter essa
intervenção. Portanto, o medo deve ser controlado,
mostrando-nos muito próximos dos pacientes. Temos uma
enfermeira responsável pelo programa que está em contato
com os pacientes até o dia da sua internação ”, afirma o Dr.
Pérez. "O principal preparo que esse paciente pode fazer é se
informar."
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Cada vez mais hospitais na América Latina têm protocolos de
segurança em vigor para proteger os pacientes e seus
funcionários. Algumas recomendações da American Heart
Association [3] para aqueles que aguardam este procedimento
são:
• Mantenha uma boa nutrição e sono adequado. Quanto
mais saudável você estiver antes da cirurgia ou
procedimento, mais rápida será sua recuperação. Isso pode
significar menos complicações, menos tempo no hospital e
uma recuperação mais rápida depois que você voltar para
casa.
• Monitore seus sintomas de estenose aórtica, mantenha
contato com seu médico cardiologista e relate quaisquer
alterações. Sua equipe de saúde coordenará as consultas
virtuaisde saúde conforme necessário.
• Verifique sua temperatura todos os dias e informe ao
médico se estiver acima de 38 graus. Seu hospital pode
solicitar um teste de COVID-19 antes de ser submetido a
esse procedimento
• Continue com seus exames médicos. Não deixe que o
medo o impeça de procurar atendimento médico.
• Contate o seu médico ou centro de saúde para saber mais
sobre os protocolos de segurança e as precauções que
estão a tomar para tratar doentes com estenose aórtica
durante a pandemia da COVID-19.
REFERÊNCIAS:
1. Roberta Ancona (2020). Epidemiology of aortic valve stenosis (AS)
and of aortic valve incompetence (AI): is the prevalence of AS/AI
similar in different parts of the world.
2. Lester SJ, Heilbron B, Gin K, Dodek A, Jue J. The natural history and
rate of progression of aortic stenosis. Chest. April 1998;113(4):1109-
1114.
3. American Heart Association (2020). Heart Valve Disease and COVID
https://www.heart.org/-/media/files/health-topics/heart-valve-dis-
ease/as-and-covid.pdf?la=en
Saiba mais sobre inovação na Medtronic
https://www.medtronic.com/br-pt/index.html